no espaço das artes plásticas da Festa - ulisboa.pt · que outras são móveis: um elevador ou...

4
Qualidade e ousadia no espaço das artes plásticas da Festa do Avante! D I V E RS I DA D E O espaço das artes plásticas da Festa do Avante! recebe, este ano, três exposições: uma de medalhística, assinalando os 40 anos de actividade do escultor João Duarte; uma colectiva de pintura e escultura de artistas de reconhecida qualidade; e outra do projecto Galdéria, assente na técnica de serigrafia. Pintura, escultura, desenho, gravura, instalação, multimédia: na Festa do Avante! todas as expressões artísticas são para ser fruídas por todos

Transcript of no espaço das artes plásticas da Festa - ulisboa.pt · que outras são móveis: um elevador ou...

Qualidade e ousadia

no espaço das artes

plásticas da Festado Avante!

D I V E RS I DA D E O espaço das artes plásticas da Festa do Avante! recebe, este ano, trêsexposições: uma de medalhística, assinalando os 40 anos de actividade do escultor JoãoDuarte; uma colectiva de pintura e escultura de artistas de reconhecida qualidade;e outra do projecto Galdéria, assente na técnica de serigrafia.

Pintura, escultura, desenho, gravura, instalação, multimédia:na Festa do Avante! todas as expressões artísticas são para serfruídas por todos

Anoapós ano é cada

vez mais evidente

que a Festa do

Avante! faz mais peladivulgação das artes plásticase pela valorização dos artistas

portugueses do que muitasdas instituições públicas quetêm (ou deveriam ter)precisamente esse propósito.Desde logo pelo públicoamplo e diversificado quevisita anualmente este

espaço, a contrastar com oelitismo que marca a maioriadas exposições. Mas tambémpela centralidade que dá adiferentes expressõesartísticas (clara nos anos maisrecentes nas mostras de

gravura, desenho ou streetart) e a vários artistas e

projectos de qualidadereconhecida pelo meioartístico em que se inserem.

Na Festa do Avante!as artes plásticasestão ao alcancede todosA edição deste ano é

paradigmática destarealidade, ao acolher umaexposição colectiva depintura e escultura ondepontificam nomes comoAcácio Malhador, AlfredoLuz, Ana Lima Neto, AnaTeixeira, Sérgio Vicente e

Virgínia Froes. À semelhançado que sucedeu há uns anos,com artistas oriundos dodistrito do Porto, nesta

edição privilegia-se artistasprovenientes de Setúbal e

Palmeia, conta FranciscoPalma, da Comissão

Organizadora, que destaca

igualmente o que se pretendevalorizar: a profundidade,solidez e qualidade dotrabalho artístico e não umaqualquer «legitimação

comercial» que tenha porbase o chamado mercado daarte.

Actualmente, realçaFrancisco Palma, o quevaloriza comercialmente umdeterminado artista é, maisdo que o valor estético da suaobra, o seu pedigree, e este émensurável pelas colecçõespúblicas ou privadas queintegra, as exposições em queparticipa e as leiloeiras em

que os seus trabalhos são

vendidos: «O que dá

importância às obras é a sua

circulação, por onde elas

andaram, onde foi vendida

por quem foi adquirida.»Os curadores são a peçacentral deste negócio, quemovimenta milhões, e háartistas que pagam a estes

curadores para introduziremobras suas em determinadascolecções. Esta lógica«perverte tudo», criticaFrancisco Palma. O facto dehaver muitas instituiçõespúblicas e autarquias que se

tornaram veículos destescircuitos «artísticos» é, para omembro da Comissão

Organizadora,particularmente grave.Ora, no Espaço das ArtesPlásticas da Festa do Avante!

dá-se destaque a quem, «emtermos desta legitimação, nãoestá a ser privilegiado». O seureconhecimento foi forjadono meio artístico, entre os

seus pares, e não no chamadomercado da arte. «Nada temoscontra os artistas que estãonesse mercado, mas

queremos privilegiar quemtem mérito e não tem acessoa ele, que é a grandemaioria.»

Ousadia, parceriae inclusãoDa exposição mais«tradicional», com obras depintura, desenho e escultura,passa-se, no Espaço das ArtesPlásticas da Festa do Avante!

para a exposição-instalaçãodo projecto Galdéria. Onome é tão provocadorquanto é ousado o projecto,nascido há 18 anos no CentroCultural e Juvenil de SantoAmaro, em Almada,influenciado pelo movimentodas fanzines. Actualmente,encontra-se sediado naEscola Superior de Arte e

Design das Caldas daRainha.Tendo como base a serigrafia,Galdéria apresenta diferentespropostas de vários artistas,com uma forte componentede ilustração. Pretende tornarvisíveis diferentes

abordagens relacionadas coma linguagem visual de novoscriadores e assume-se comoum ponto de encontro devários jovens artistas compercursos diferenciados.Assume-se ainda como umprojecto que estabelece umarelação entre os artistas e o

público e é acessível a todos,«sem qualquerdiscriminação».Como se lê no texto oficial de

divulgação do projecto

Galdéria, ele tem chegado adiferentes públicos e diversasfaixas etárias e os seus

projectos tanto estãorelacionados com artistas

emergentes e consagrados,bem como com pessoas quenão têm relação alguma comartes. Tem desenvolvidotrabalhos com um conteúdode inserção social, lúdica e

artística, bem como adiferentes grausacadémicos.A sua apresentação «resultanuma caixa», que inclui umaexposição, preparada para ser

exposta «em qualquer lugar,facilitando o lado prático dasua apresentação». É dentrodeste conceito, acrescenta-se,que surge a proposta deluxe,«mais elaborada e maisreduzida em termos de

exemplares, sendo realizados

por cada projecto 15

exemplares, correspondendoa uma edição em serigrafialimitada». É uma destas«Galdérias deluxe» que estarápatente na Festa do Avante!.

Alguns exemplares das medalhas produzidas por João Duarte

João Duarte, a excelênciada medalha-objecto

A terceira exposição patente na edição deste ano do Espaçodas Artes Plásticas da Festa do Avante! é dedicada à obramedalhística de João Duarte, que cumpre quatro décadasde reconhecida (e premiada) actividade artística:recentemente foi galardoado com o Saltus, prémio atribuídopela Sociedade Numismática dos Estados Unidos daAmérica e mais importante consagração mundial nestadisciplina artística, e muitas das suas criações encontram-senos melhores museus do mundo, desde logo o BritishMuseum.Ao longo da sua carreira artística, que 40 anos depoisprossegue com invejável criatividade e dinâmica, JoãoDuarte integrou a Federação Internacional da Medalha(FIDEM) e participou em vários dos seus congressos, fezparte da Sculptor's Guild de Nova lorque, efectuou

exposições individuais e colectivas em diversos países erecebeu muitos outros prémios. Entre outras, concebeu em1994 a moeda de 100 escudos comemorativa dos 50 anos daFAO, Organização das Nações Unidas para a alimentação e

agricultura.Na Festa estarão expostos cerca de 150 trabalhos do escultor,produzidos ao longo dos anos a propósito de diversasocasiões e para várias entidades, entre as quais se contam o

PCP e a própria Festa do Avante!, clubes, colectividades e

associações, empresas e instituições públicas. Algunsevocam acontecimentos históricos e personalidades derelevo e outros resultaram em monumentos de arte pública,que é possível observar em diversos locais do País.

Do «currículo» de João Duarte consta ainda a qualidade dosmedalhistas que ajudou a formar: vários dos seus antigosalunos na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de

Lisboa, na qual leccionou durante 20 anos, são hoje eles

próprios conceituados criadores. E nem todos são

portugueses, pois não só restam poucos cursos demedalhística na Europa como a medalhística portuguesa é

considerada das melhores do mundo. O papel de JoãoDuarte nesta preponderância é por demais evidente ereconhecida: os seus 30 anos de carreira são evocados numlivro publicado, em 2013, pela Imprensa Nacional - Casa daMoeda.À venda na banca do Espaço das Artes Plásticas estará umaedição limitada da medalha que João Duarte criouexclusivamente para a Festa do Avante! de 2018.

Sem limites para a imaginaçãoPara João Duarte, uma medalha não é necessariamente umobjecto metálico achatado, normalmente circular,trabalhado de ambos os lados. Pode ser «apenas» isso, sim,mas também pode ter muitos outros formatos e ser

composto de materiais diversos: do metal ao acrílico, do

plástico ao papel. Além do mais, nem tem que ser uma peçaestática e imutável; pode ter movimento, dinâmica. É oconceito da medalha-objecto, que João Duarte desenvolveu edesenvolve a cada nova criação.Mesmo algumas das medalhas que aparentemente são

«apenas isso» escondem algum elemento dinâmico, ao passo

que outras são móveis: um elevador ou uma escada que sobe

e desce, um brinquedo ou uma turbina que gira, parte de uminstrumento musical que produz som, um berlinde quepercorre um determinado percurso sem nunca cair. Outrasainda desmontam-se em diversas peças.O limite é o da imaginação, pois as exigências técnicas têmsido sempre satisfeitas pela empresa metalúrgica com quetrabalha, a Gravarte: «aturam-me muita coisa, mas resolvem

sempre tudo», garantiu ao Avante!.