Nº 381 Edição Brasil
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ESPECIAIS: CLÍNICAS MÉDICAS E EDUCAÇÃO EXECUTIVA
BRASIL www.americaeconomia.com.br
No 381 NOV./2009 R$ 10,90
BNDE
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BNDESAVANÇA
BANCO ESTATAL CRESCE NA AMÉRICA LATINA. FAZ SENTIDO?
Luciano Coutinho, presidente do BNDES
LATINOS NA BOVESPA
EXPORTAÇÕES PARA O MÉXICO PETROBRAS NO CHILE
AE_CAPA.indd 1 10/27/09 6:30 PM



4 AméricaEconomia Novembro, 2009
NESTA EDIÇÃO
Seções Portal
Cartas
Índice de empresas
Carta ao leitor
Da redação
Pistas
Negócio fechado
Movimentos
I-biz
Clics & chips
Opinião - John Edmunds
Linha direta
61313141518202178808182
60
62
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BNDES Crescimento internacional26
CAPA
Negócios Petrobras
Planos com etanol no Chile
Stefanini
Avanço no México
Buscapé
Capital para expandir
Avianca e Taca
Aposta de Efromovich
Iveco
Caminhões para os Andes
Entrevista
Jaime Troiano
323638404446
ESPECIAL Clínicas Turismo médico
Oportunidade para a América Latina
Os melhores hospitais
O primeiro ranking da região
6264
Debates Comércio exterior
Brasil e México negociam
Argentina
A salvação está na lavoura
Sendero Luminoso
Mãos dadas com o tráfi co
545860
Finanças Latinos na Bovespa
Mais investidores no Brasil
Aposentadoria
Previdência para os latinos
Seguros
Apólices para executivos
485152
ESPECIAL Educação Executiva A luta pelos CEOs
As escolas que se destacam72
FUNERAL MILITAR NO PERU:
COMBATE AO SENDERO LUMINOSO


LEIA NO PORTALEDIÇÃO: MARCELO GALLI ([email protected])
Publicidade espontânea gerada por estrelas do mundo do entre-
tenimento ao adotarem as sandálias Havaianas contribuiu para a
expansão da marca no exterior e solidifi cou a imagem de artigo
de moda desejado, explica Dominique Turpin, professor da esco-
la suíça de negócios IMD. Segundo Turpin, os importadores foram
cuidadosos ao adaptar as campanhas de marketing para cada país
específi co. Na França, o grande momento de exportação de Havaia-
nas ocorreu durante a Copa do Mundo de 1998, mas a marca só
deslanchou mesmo quando os importadores franceses começaram
a associar a sandália a estilistas famosos como Jean Paul Gaultier e
John Galliano, da Dior.
EXPANSÃO REGIONAL A fabricante de cabos Furukawa e a Universidad Del Cono Sur De Las Américas (UCSA) do Paraguai, em Assunção, fecharam uma parceria para oferecer cursos com base nas normas internacionais para profi ssionais que atuam no mercado de cabeamento. De acordo com a empresa, a iniciativa faz parte da estratégia de internacionalização na região do fabricante de origem japonesa que está no Brasil há 35 anos.
APRENDER NO EXTERIOREstudos sobre internacionalização apontam que as multinacionais de países emergentes, como as brasileiras, precisam competir de maneira di-ferente fora dos seus mercados de origem, ex-plica Felipe M. Borini, professor do Mestrado em Gestão Internacional da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). “Isso quer dizer que, em vez de somente levar seu conhecimento da matriz para as subsidiárias, ela precisa aprender com as subsidiárias em um ritmo mais rápido e intenso”, acrescenta. A necessidade deve-se ao fato de as empresas brasileiras estarem atrasadas no processo de internacionalização em relação às companhias de economias desenvolvidas.
www.americaeconomia.com.br
PEGADAS DE CARBONO O aquecimento global faz parte das preocupações das maiores empresas do mundo, e a América Latina não é ex-ceção. Por isso, AméricaEconomia quer conhecer as empresas que voluntariamente tomam medidas para reduzir suas emissões de gases que causam o efeito estufa. Sua empresa realiza essa medição? Se a resposta for afi rmati-va, contate-nos para participar do ranking de empresas latino-americanas que mais contribuem para reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa. ESCREVA PARA [email protected]
A MARCA GLOBAL
Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil
PORTAL
6 AméricaEconomia Novembro, 2009







Novembro, 2009 AméricaEconomia 13
CARTAS ÍNDICE DE EMPRESAS
Os números referem-se à primeira vez que as empresas são citadas.
“Em um momento em que o Brasil amplifi ca sua inserção
econômica na América Latina, é muito bom saber que há
no mercado uma publicação que se destina a acompanhar,
em detalhe, as iniciativas das empresas, do governo e da
concorrência nas diversas facetas da atividade empresa-
rial.” ADALBERTO SAVIOLI – PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE FINANCIAMENTO E CRÉDITO – ACREFI
“É com orgulho que
acompanhamos a re-
formulação da revista
AméricaEconomia, que
agora traz um novo
visual, mais atraente,
e um conteúdo ainda
mais relevante para o
segmento empresarial,
sob a batuta do editor
chefe Cláudio Gradilone.
A publicação contribui
para ampliar o debate
em torno do desenvol-
vimento não apenas do
Brasil, mas de toda a América Latina. Nós, do Itaú Unibanco,
parabenizamos esta iniciativa, bastante oportuna e neces-
sária para o fortalecimento da imprensa latino-americana.”
ZECA RUDGE – VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO, ITAÚ UNIBANCO
“Foi com muita satisfação que soubemos que a Spring
Editora será, a partir de agora, responsável pelo conteúdo
editorial da AméricaEconomia no Brasil. Nossos votos para
que ela repita, na área do jornalismo econômico e de negó-
cios, o sucesso conseguido com as revistas Rolling Stone e
AeroMagazine.” MARCELO MENA BARRETO, GERENTE DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DA CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉ-TRICA – CCEE
“Desejamos cumprimentar a revista AméricaEconomia
pelo ranking dos melhores bancos da América Latina, que
fornece ao mercado fi nanceiro uma visão abrangente e em
profundidade das movimentações no sistema fi nancei-
ro continental, felizmente cada vez mais integrado a um
mercado global e regional.” LUIS SERGIO TAMER – PRESIDENTE DA TAMER COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL
NOVA AMÉRICAECONOMIA
ESPECIAL: OS MAIORES BANCOS DA AMÉRICA LATINA
E MAIS: BRASKEM + QUATTOR ATAQUE À IMPRENSA IMPOSTOS EM ALTABRASIL www.americaeconomia.com.br
No 380 OUT/2009 R$ 10,90
A RETOMADACRÉDITODO
Acciones & Valores 50Adidas 21Aerogal 41Aeroméxico 20Aetna 63Airbus 41Albanesi 27Allianz 53Alpargatas 21, 47Amazon 80Ambev 20Anglo American 78Antofagasta Minerals 78Aon 53Aracruz 52Armetec Tec. Robótica 79Avianca 40AviancaCargo 42Backus y Johnston 20Bancolombia 20Banif 50Bombardier 29Bradesco Dental 20Bradesco 20Braskem 18Buscapé 38Cammesa 27Capital Airlines 41Case 44CCR 50Celfi n Asset Management 50Cemex 20Cerx 59Chevrolet 23Citi Colfondos 20Citigroup 20, 41Codelco 78Codensa 20Colinversiones 20Conocophilips 20Consulting House 22Copa Airlines 42Cyrela 50Dior 6EBX 18Ecolatina 59Econsult 32Editora Globo 46EDS 37Eletrobrás 22Embraer 29, 50Emgesa 20Empresa Energía de Bogotá 20Endesa 20EPSA 20Exxon 32Fiat 44Furukawa 6Gas Energy 32Gas Natural 20General Motors 23, 78GOL 20Grupo Cafetero 40Grupo Colpatria 20Grupo Romero 20Grupo Santo Domingo 40GVT 18Helicol 41High Services 78Holcim 20HP 37, 80Hypermarcas 20Hyundai 23IDC 24, 38
IMD 6Inal 20Inversiones Argos 20InvestorsTrust 51Itaú Seguros 53Itaú Unibanco 50Iveco 44JBS Friboi 29Johnson&Johnson 20Jontex 20Juan Valdéz 47Kuka Roboter 78LAN 41Linzor Capital Partners 20Lojas Americanas 50Lojas Renner 50Mapfre 53MedRetreat 63MercadoLivre 38Microsoft Robotics 79Microsoft 24Mirs 78Molymet 78Moody’s Economy 48Morgan Stanley 41Mothiers 20MRV 50Naspers 38Nestlé 46New Holland 44Nike 21Nippon Mining & Metals 78Nissan 23Nokia 80Novartis 65OceanAir 41Odebrecht 18, 27Odontoprev 20OGX 18Oi 18Palmfund Management 20Pão de Açúcar 50PDVSA 20Petrobras 18, 32, 36 PipeWay 79Quattor 18RIM 80Rinker 20Rio Tinto 79Rossi 50SAB Miller 20Sadia 52Saic 44SAM 41Santander Investiment 41Santander 20Sigdotek 44Sinergy 40Souza Barros 50Stefanini IT Solutions 36Swift Armour 29Taca 40Tampa Cargo 42Telefônica 18Tito 54TS Group 64Unipar 18Vale 18, 50Varig 42VarigLog 42VIP Airlines 41Vivendi 18Vivo 80Worldwide Medical Partners 63
Cartas para a redação: [email protected]

14 AméricaEconomia Novembro, 2009
CARTA AO LEITOR
GIGANTE EM EXPANSÃO
Nesta segunda edição da AméricaEconomia Brasil produzida
pela Spring Editora, elegemos como tema de nossa reportagem
de capa uma discussão que julgamos fundamental para enten-
der como o Brasil quer se mostrar e interagir com seus vizinhos: o
decisivo e imponente papel do BNDES (Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico e Social) na América Latina.
Com atuação equivalente à de tradicionais fi nanciadores do
desenvolvimento na região, como o Banco Interamericano de De-
senvolvimento (BID) e a Corporação Andina de Fomento (CAF), o
BNDES é hoje determinante para a expansão latino-americana
das empresas brasileiras. Apenas para se ter uma ideia da dimen-
são da cruzada empreendida pela instituição, os projetos aprova-
dos e em análise para exportações na região já somam US$ 15,6
bilhões, e as empresas de capital nacional que prestam serviços
aos países latino-americanos receberam US$ 600 milhões nos
primeiros oito meses deste ano. Além disso, os desembolsos para
a América Latina duplicaram em 2007 e 2008.
Que países mais receberam fi nanciamento? Quais são as
vantagens e os riscos que o crescimento além das fronteiras pode
representar para o Brasil? Poderia a atuação soberana do BNDES
inibir o crédito privado? As respostas para essas e muitas outras
questões, além da palavra do banco e a opinião de analistas bra-
sileiros e internacionais, estão em nossa reportagem.
Neste mês, falamos também sobre o estratégico desembar-
que da Petrobras no Chile; a colheita recorde de soja na Argen-
tina, que pode representar crescimento de 1,7% para o país; a
fusão das companhias aéreas Avianca e TACA; o acordo comer-
cial entre Brasil e México; a volta à cena peruana da organização
criminosa Sendero Luminoso; e publicamos os especiais sobre
educação executiva e clínicas médicas, elaborados por América-
Economia Intelligence.
Aproveite a leitura.
José Roberto MalufPublisher
PUBLISHERJosé Roberto Maluf
CONTEÚDODiretora de Redação Tatiana EngelbrechtEditor-Chefe Cláudio GradiloneEditora-Executiva Solange MonteiroDiretora de Arte/Projeto Gráfi co Janaína DinizEditor do Site Marcelo GalliRevisão Daltony Nóbrega e Bia PeineProdução Gráfi ca Eduardo KepplerInfografi a Rodrigo Damati
COMERCIALIZAÇÃO Gerente de Publicidade Sidney EspósitoExecutivas de Contas Andrea Vieira - andreavieir[email protected] Priscila Ferreira - [email protected]
MARKETINGElisangela Silva, Rafael Borsanelli, Marcia Leonardi
ADMINISTRATIVO/FINANCEIRODiretor Executivo Eduardo ColturatoGerente Financeiro Sidney Gironda
Pré-impressão First PressPeriodicidade Mensal (Novembro de 2009)CTP, impressão e acabamento IBEP Gráfi ca
Circulação auditada por
SPRING EDITORA-PRODUTORARua Ferreira de Araújo, 202, 7º andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666Site: www.springcom.com.brE-mail: [email protected]
AMÉRICAECONOMIA INTERNACIONALDiretor Elias Selman CarranzaVice-Presidente Executiva Gloria Landabur C.Diretora Internacional de Marketing Mica Selman Diretor Editorial Felipe Aldunate M.Editor Adjunto Rodrigo LaraEditores Adriana Méndez (Cidade do México), Antonio María Delgado (Miami), Eduardo Thomson (Santiago), Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco (Santiago), Karen Correa (Guaiaquil)Diretor de Arte Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografi a Miguel CandiaDiretor de Projetos, MBA.americaeconomia.com.br Marcelo Silva SymmesDiretor de Circulação Marcial DelcortoGerente de Produção Constanza del Río Moreno
AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais)Diretor Jaime Contreras SoriaCoordenadora Geral Daniela GonzálezPesquisador Sênior Andrés AlmeidaAnalista Paulina Saavedra
AMÉRICAECONOMIA.COMDiretor de Estratégia Digital Rodrigo GuaiquilEditor Lino Solis de OvandoWebmaster José Fuentes
ESCRITÓRIOSBuenos Aires +5411 4383-8410 Cidade do México +5255 5254-2400 Costa Rica +506 225 6861Lima +511 610-7272 Miami +305 648-9071 Panamá +507 271 5327Santiago +562 290-9400 Uruguai +5982 901 9052
Chairman Robert R. Paradise
BRASIL
ASSINATURAS Central de Atendimento
Tel. 55 11 3038-1493, de 2ª a 6ª feira, das 8 às 20 hE-mail: [email protected] Cartas: Rua Butantã, 500 – 2º andar – CEP 05424-000 – São Paulo/SP
Valor da Assinatura Anual: R$ 108,00*, pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora Ltda. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em Real, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigido monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.
www.americaeconomia.com.br

34 AméricaEconomia Novembro, 2009
DA REDAÇÃO
A AméricaEconomia Brasil foi um dos destaques da
5ª edição do Maximídia, o maior evento do setor de
marketing e comunicação da América Latina, realizado
em São Paulo, no último mês de outubro. Durante o
evento, a Spring Editora fez ações especiais para a di-
vulgação da revista. Profi ssionais das principais agên-
cias de publicidade e dos departamentos de marketing
das maiores empresas do Brasil que visitaram o estande
da Spring foram presenteados com exemplares da pri-
meira edição da AméricaEconomia editada pela Spring
Editora. A revista, que chegou às bancas em outubro e
teve seu projeto gráfi co e editorial reformulado, tam-
bém sorteou passagens aéreas para diversos destinos
turísticos do país.
VISITANTES CONHECEM
A NOVA REVISTA E
CONCORREM A
PASSAGENS AÉREAS
AMÉRICAECONOMIA NO MAXIMÍDIA



18 AméricaEconomia Novembro, 2009
PISTAS
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O FIEL DA BALANÇA PUBLICAMOS A união da Braskem com a Quattor representaria a criação de uma Vale do Rio Doce da petroquímica (...). A ques-tão societária deve ser crucial. Ambas têm um sócio em comum – a estatal Petrobras possui 30% do capital votante da Braskem e 40% do da Quattor. Como fortalecer as empresas brasileiras faz parte da estratégia de Brasília, os analistas acreditam que a Petrobras vai se envolver para que o negócio decole. (“A Vale da Petroquímica”, AméricaEconomia Nº 380, outubro, 2009)
O NOVO Apesar de a Petrobras ser o principal elo de união entre a Braskem, controlada pelo grupo Odebrecht, e a Quattor, pelo Unipar, o presidente da estatal, Sérgio Ga-brielli, andou esquivando-se de fazer comentários. “Não comentamos qualquer negociação, mas é sabido que os dois grupos têm problemas societários e fi nanceiros.”
SEM COMÉRCIO, SEM EMPREGO PUBLICAMOS Em Honduras, 250 mil metros quadrados de maquiadoras foram esva-ziados entre fevereiro e maio. O economista nicaraguense Oscar René lembra que o colapso dos EUA “tem um efeito duplo: o comércio entre países centro-americanos também caiu”. (“Tormenta à Vista”, AméricaEconomia Nº 378, agosto, 2009)
O NOVO Estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) afi rma que os países centro-americanos (com exceção da Guatemala) e a República Dominicana perderão 470 mil empregos este ano devido ao impacto da crise econômica mundial. O relatório também indica que as economias da região deixarão de gerar 290 mil novos empregos.
VALE TUDO PUBLICAMOS A Telefônica está buscando caminhos para com-petir com o mesmo tipo de oferta integrada que a Oi. O certo é que, independentemente da estratégia escolhida, o crescimento requeri-do para que a Oi rentabilize suas aquisições levará ao choque direto com os pesos pesados do México e da Espanha, inicialmente no Brasil e, em breve, na América Latina. (“Li-nha Cruzada”, AméricaEconomia Nº 372, fevereiro, 2009)
O NOVO A fi lial da espanhola no Brasil mostrou que não quer mais concorrentes em sua área. Em outubro, fez uma oferta pública para comprar a paranaense GVT, com uma oferta por ação 14,3% acima do que a francesa Vivendi ti-nha negociado pela empresa em setembro, em um investi-mento total de US$ 6,5 bilhões. Caso a aquisição se concretize – depende da aprovação de acionistas – , o presidente da Telefônica no Brasil, Antonio Carlos Valente, afirmou que o modelo de negócio da GVT poderá ser exportado para outros países em que o grupo espanhol tem operação.
OURO NEGRO PUBLICAMOS Em junho, a subsidiária de ex-ploração de petróleo e gás do grupo EBX, do empresário Eike Batista (à esquerda), a OGX, bateu novo recorde no mercado nacional ao concluir uma captação primária de R$ 6,7 bilhões. Detalhe: sem um único barril de óleo extraído, a empresa já tinha recebido uma injeção de US$ 1 bilhão de grandes investi-dores. (...) E a previsão é de que os primeiros poços da OGX serão furados apenas no se-gundo semestre de 2009. (“Toque de Midas”, AméricaEconomia Nº 362, agosto, 2008)
O NOVO Em outubro, a OGX fi nalmente anunciou ter encontrado petróleo em um de seus poços, o OGX1, na parte sul da bacia de Campos, do qual detém 100% de participação. Segundo a empresa, o volume estimado de óleo recu-perável do poço está entre 500 milhões e 1,5 bilhão de barris.
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20 AméricaEconomia Novembro, 2009
NEGÓCIO FECHADOFo
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CEMEX A empresa cimenteira me-xicana continua vendendo suas fi liais. A transação mais recente foi a venda de ativos na Austrália por US$ 1,7 bilhão para sua concorrente suíça Holcim. Os ativos vendidos eram parte da produtora de cimento australiana Rinker, que havia sido comprada pela Cemex em 2007. A Cemex informou que a venda faz parte de um acordo de renegociação de suas dívidas de US$ 15 bilhões, fechado com seus credores em agosto deste ano. VALOR: US$ 1,7 BILHÃO
________________________________
CITIGROUP O grupo fi nanceiro ame-ricano também continua vendendo seus ativos para pagar dívidas. Desta vez, a transação envolveu a empresa colombia-na Citi Colfondos, vendida para um con-sórcio de empresas privadas formado pe-lo Grupo Colpatria, Linzor Capital Partners do Chile e Palmfund Management, dos Estados Unidos. A Citi Colfondos tem 2,1 milhões de clientes e US$ 5,6 bilhões em ativos sob administração na Colômbia e havia sido adquirida pelo Citi da própria Colpatria em 2006.VALOR: NÃO REVELADO
CONOCOPHILIPS A disputa da empresa petrolífera americana com a concorrente venezuelana PDVSA perma-nece aquecida. Depois de a Conoco ter anunciado que exerceria uma opção de compra das ações que a PDVSA possui na refi naria texana Merey Sweeny, como parte de um processo contra a Venezuela pela nacionalização dos ativos petrolíferos em 2007, a PDVSA respondeu anunciando que comprou a participação da Conoco em um bloco de gás natural off-shore na plataforma do Delta da Venezuela.VALOR: NÃO REVELADO
________________________________
ENDESA O grupo energético espanhol decidiu vender sua participação de 7,2% na Empresa de Energia de Bogotá (EEB) por US$ 248 milhões. A EEB é controlada pelo município de Bogotá, que possui 81,5% das ações. A venda não signifi ca que a Endesa está deixando a Colômbia, pois ela mantém sua participação na ge-radora de energia Emgesa e na comercia-lizadora de energia Codensa. A empresa espanhola permanece como a maior ge-radora de eletricidade da Colômbia.VALOR: US$ 248 MILHÕES
EPSA As colombianas Colinversiones, Inversiones Argos e Bancolombia com-praram da espanhola Gas Natural sua par-ticipação de 66,1% na Empresa de Energia do Pacífi co (EPSA) por US$ 1,1 bilhão. VALOR: US$ 1,1 BILHÃO
________________________________
GOL A companhia aérea brasileira anunciou um acordo de compartilhamen-to (code-share) com a mexicana Aeromé-xico. Pelo acordo, a companhia mexicana incorporou seu código aos voos ofereci-dos pela Gol saindo de São Paulo e com destino a seis cidades: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Brasília e Salvador. VALOR: NÃO REVELADO
________________________________
GRUPO ROMERO O Grupo peruano anunciou a venda de sua participação de 30% na cervejaria Ambev Perú para a Mon-thiers, subsidiária da Ambev no Uruguai, por US$ 16 milhões. A Ambev tem 10% do mercado peruano e, com a aquisição, terá 100% das ações de sua subsidiária no Pe-ru. A líder peruana é a Backus y Johnston, controlada pela SAB Miller.VALOR: US$ 16 MILHÕES
________________________________
HYPERMARCAS A empresa brasileira de bens de consumo anunciou a compra de duas produtoras de preservativos. A Jontex foi adquirida da americana John-son & Johnson por US$ 101 milhões e a brasileira Indústria Nacional de Artefatos de Látex (Inal), que produz Olla e Lovetex, foi adquirida por US$ 120 milhões.VALOR: US$ 221 MILHÕES
________________________________
ODONTOPREV O banco brasileiro Bradesco informou que vai fundir a Bra-desco Dental, sua operação de planos de saúde odontológicos, com a Odontoprev, adquirindo o controle da companhia, com 43,5% das ações. Cerca de 7,5% perma-necerão com os atuais controladores da Odontoprev e os 49% restantes permane-cerão no mercado. VALOR: US$ 378 MILHÕES
SANTANDER O banco espanhol abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo em um processo pelo qual captou o equivalente a US$ 8 bilhões. Foi a maior Initial Public Offering (IPO) da história do mercado de capitais brasileiro e até agora o maior lançamento em 2009. O Santander informou que usará os recursos para ampliar suas atividades, abrindo 600 novas agências no Brasil.VALOR: US$ 8 BILHÕES

Novembro, 2009 AméricaEconomia 21
MOVIMENTOS
Ganhar musculatura para ampliar sua participação no mer-
cado de artigos esportivos e roupas esporte na América
Latina, além de obter sinergias e, de quebra, evitar disputas
tarifárias. Tantas vantagens justifi caram a decisão da Alpar-
gatas brasileira de comprar a totalidade do capital da Alpar-
gatas argentina, integrando as operações. “Teremos mais
vantagens ao integrar as duas empresas”, diz Márcio Utsch,
presidente da Alpargatas.
Com oito fábricas e cerca de 4.000 funcionários, a unidade
argentina é forte na produção de denim, o tecido para o
jeans, e calçados – foram fabricados 4,6 milhões de pares
no primeiro semestre deste ano. A integração societária das
duas empresas permitirá, por exemplo, fortalecer algumas
de suas linhas de produto, como os itens da marca Topper,
que a Alpargatas quer transformar em uma linha regional
capaz de concorrer com marcas como Nike e Adidas.
Outra vantagem é que as empresas podem se desviar do con-
tencioso tarifário entre Brasil e Argentina, que frequentemen-
te sobe de tom e envolve tecidos e calçados. A incorporação
pode livrar a Alpargatas desse problema. “As barreiras não se
aplicam às empresas se o saldo de exportação e importação
entre as duas unidades for zero”, diz Utsch.
CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO
EVITAR AS BARREIRAS
UTSCH: VANTAGENS
NA INTEGRAÇÃO
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22 AméricaEconomia Novembro, 2009
A UNIÃO POUPA A ENERGIA Os latino-americanos poderiam
economizar US$ 1 bilhão em ener-
gia elétrica se houvesse maior
integração energética na região,
segundo um estudo do Comitê
Nacional Brasileiro da Comissão
de Integração Energética (Cier).
“Se as diferentes fontes comple-
mentares hoje existentes estives-
sem conectadas, seria possível
postergar investimentos de mais
de US$ 9,6 bilhões”, diz Synval Zai-
dan Gama, superintendente de
Operações no Exterior da Eletro-
brás e vice-presidente do Comitê.
“Levando em conta que a remu-
neração desse investimento é de
10%, o repasse nas tarifas a ser
evitado seria algo como US$ 1
bilhão.” Gama afi rma que alguns
países já têm iniciativas assim há
décadas, “mas temos de pensar
em um sistema que considere a
região e não seja apenas bilateral”.
Segundo ele, esse tipo de projeto
levaria investimentos para países
como a Guiana, “que tem um po-
tencial de geração hidroelétrica
de 7,5 mil MW que hoje é subuti-
lizado, porque o mercado local só
demanda 400 MW”.
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
SEM MEDO DAS URNAS Um país em crescimento, com juros e dólar
sob controle e, principalmente, pouco afetado pelo calendário eleitoral.
Essas foram as conclusões dos executivos presentes no Executive Mee-
ting Brasil, realizado entre 4 e 6 de outubro no Guarujá. Promovido pela
empresa de relacionamento corporativo Consulting House e com apoio
editorial de AméricaEconomia, o encontro reuniu cerca de 100 executi-
vos. Segundo os entrevistados, as perspectivas são positivas. Os prognós-
ticos para 2010 são de um avanço do Produto Interno Bruto (PIB) superior
a 4%. Cerca de 93% dos entrevistados disseram achar que o faturamento
vai crescer no ano que vem e, melhor do que isso, 77% disseram acreditar
que suas empresas vão contratar mais gente em 2010 (veja tabela). O fato
mais positivo, porém, aparece nas expectativas em relação à eleição presi-
dencial. Apenas um em cada cinco executivos presentes no evento acre-
dita que o calendário eleitoral poderá prejudicar os negócios em 2010. A
grande maioria considera que as eleições terão pouca infl uência sobre os
negócios – sinal de que o amadurecimento institucional do Brasil já é uma
realidade. CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO
MOVIMENTOS
AS EXPECTATIVAS DOS EXECUTIVOS
2009 2010
PIB
Juros em 31 de dezembro
Dólar em 31 de dezembro
0,4% 4,3%
8,75% 9,37%
R$ 1,775 R$ 1,793
%
SIM
NÃO
O faturamentovai aumentarem 2010
93
7
SIM
NÃO
As contrataçõesvão aumentarem 2010
%
77
23
SIM
NÃOAs eleiçõesvão atrapalharem 2010
%19
81

New Shareholder Capitalization or, Sale of 100% of the Shares in Banco de Comercio
INTERNATIONAL PUBLIC TENDER NOTICE
Lima - Peru, October 2009
Attention : Carlos A. García Director del Proyecto Consorcio SUMMA-IM Trust
Telephone number : (511) 446-5252Fax number : (511) 446-7272Address : Av. José Pardo 513 Oficina 1001 – Miraflores, Lima 18, PerúE-mail : [email protected]
Banco de Comercio (the “Bank”) is a private commercial bank in Perú with over US$ 290 million in loans as of July 2009, whose existing shareholder La Caja de Pensiones Militar Policial, has decided to either incorporate a new partner or sell the Bank thru an international public tender.
The Consortium made up by Summa Asesores Financieros S.A. and IM Trust International S.A., as advisors acting on behalf of La Caja de Pensiones Militar Policial invites Peruvian and International Investors to participate in a competitive tender for the incorporation of a new shareholder in Banco de Comercio (the “Project”).
The Project allows investors to choose between two alternatives to incorporate themselves into the ownership of Banco de Comercio:
i) Incorporation of a new shareholder thru the subscription and payment in cash of a capital increase, that will be equivalent to 60% of the existing total shares of Banco de Comercio.
ii) Acquisition of 100% of the shares of Banco de Comercio, to be paid directly and in cash to La Caja de Pensiones Militar Policial.
Interested Parties should acquire the Bidding Rules and (i) deposit US$ 1,000 (one thousand United States dollars) in the account number 210020326093 of Banco de Comercio (SWIFT: BDCMPEPL, Correspondent bank: HSBC USA, NYC - SWIFT: MRMDUS33) (ii) send the deposit receipt to [email protected] and provide detailed information of the Party: including name or corporate name of the Interested Party, address and RUC (only for Peruvian companies), for purposes of sending the payment receipt; additionally Parties should provide an electronic mail to receive the non disclosure agreement; and, (iii) send a signed copy of the non disclosure agreement to the contact person described below.
The Bidding Rules (“Bases”) which contains the technical, economic and legal requirements to participate in the International Public Tender, will be available for purchase until de 7thof December 2009 and will be sent by e-mail to the Interested Parties that fulfill the above mentioned requirements.
The specific calendar for the reception of proposals, will be included in the Appendix of the Bidding Rules.
Any additional information about this process may be requested either by e-mail or letter to the following contact:
CRESCENDO NO RETROVISOR Apesar da crise, as montadoras asiáticas puseram
o pé no acelerador no mercado latino-americano, reduzindo a vantagem da General
Motors (GM). Diferentemente do que ocorreu com a GM, “as marcas corea-
nas foram favorecidas pela crise econômica”, diz Iván
Silva, assessor da Associação Nacional Auto-
motiva do Chile (Anac). O fenômeno
pode ser explicado por fl utuações
no câmbio e pelos problemas da
própria GM. No México, a japo-
nesa Nissan destronou a GM,
e a coreana Hyundai está
quase alcançando a Che-
vrolet no Chile, apesar de
a divisão da montadora
americana ainda ser a líder
de mercado. A exceção
regional é o Brasil, onde a
GM permanece em tercei-
ro lugar, mas conseguiu um
aumento de 20% nas vendas.
FERNANDA ARAYA, DE SANTIAGO
MOVIMENTOSIlu
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24 AméricaEconomia Novembro, 2009
TRABALHO NÃO FALTARÁVagas em TI que serão criadas nos próximos quatro anos
VAGAS CRESCIMENTO
No mundo 5.786.804 16,2%
América Latina 697.281 27,9%
Brasil 382.245 31,4%
México 143.939 23,5%
Argentina 53.536 22,1%
Colômbia 47.994 32,9%
Chile 28.532 26,4%
Peru 20.972 35,8%
Venezuela 20.063 17,6%
Participações
Fonte IDC
Brasil / América Latina
54,8%
América Latina / mundo
12,0%
MOVIMENTOS
LATINOS CONTRATAM “As contratações não ocor-
rerão no mesmo ritmo de antes da crise, mas a re-
gião é uma fonte de crescimento das vagas.” A ava-
liação é de Hernán Rincón, presidente da Microsoft
América Latina, ao apresentar um informe sobre o
impacto da tecnologia da informação (TI) na recupera-
ção da economia. O seminário foi patrocinado pela Microsoft e
realizado pela consultoria especializada em informática IDC. Se seus cálculos
estiverem corretos, em quatro anos os investimentos latinos em informática
crescerão 37%, frente a uma média mundial de 20%. Esse crescimento se tra-
duziria em quase 700 mil novos postos de trabalho vinculados a TI. Mais da me-
tade dessas vagas seriam abertas no Brasil, que concentra, ao lado do México,
75% dessa projeção. “A maioria desses postos absorveria profi ssionais em novas
funções, que serão informatizadas”, diz Rincón. “Profi ssionais de software e servi-
ços de TI só representariam 30% do total.” O estudo ainda estima a criação
de 5.835 novas empresas, a maioria pequenas, dedicadas a captar serviços
relacionados a novas implementações. JUAN PABLO DALMASSO, DE BUENOS AIRES
O CEO QUER CORTAR CUSTOS A crise fi nanceira de 2008 provocou uma forte mudança no estado
de espírito dos Chief Executive Offi cers (CEOs). No ano passado, a maior preocupação dos principais
executivos das companhias era a pressão da competição. Em 2009, o que tira o sono é a recessão. Pre-
ocupações como a difi culdade de levantar capital e o temor de que surja uma tecnologia disruptiva
em algum ponto da concorrência passaram para segundo plano. Essas são algumas das conclusões
de uma pesquisa da consultoria americana Frost & Sullivan, conduzida com mais de 1.000 CEOs nos
dois primeiros trimestres do ano e obtida com exclusividade por AméricaEconomia. “A crise fez com
que os presidentes de empresa concentrassem seus esforços nos resultados de curto prazo”, diz Brian
Dencker, vice-presidente da consultoria. Os principais executivos elegeram o corte de custos como
sua primeira prioridade. A Frost & Sullivan vai discutir as estratégias de crescimento das empresas em
um seminário no dia 3 de dezembro, em São Paulo. CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO
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PARECE MÁGICA, MAS É SEDEX.

26 AméricaEconomia Novembro, 2009
EXPANSÃOREGIONALO BNDES está emprestando dinheiro como nunca e quer elevar a inserção das empresas brasileiras na América Latina
SOLANGE MONTEIRO E CLÁUDIO GRADILONE,
DE SÃO PAULO
METRÔ DE CARACAS: UMA DAS OBRAS INTERNACIONAIS REALIZADAS POR EMPRESAS BRASILEIRAS E QUE CONTAM COM O APOIO DO BNDES
NEGÓCIOS CAPA
Quando o presidente do Banco Nacional de Desenvol-
vimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho,
inaugurou um escritório em Montevidéu em agosto, o ato foi
muito mais do que simbólico. A representação do BNDES no
país-sede do Mercosul e da Associação Latino-Americana de
Integração (Aladi) é o corolário de um esforço recente do banco
para ampliar sua relevância no crédito na América Latina.
Hoje, o banco de desenvolvimento criado para estimular a
economia brasileira, e que conta com recursos direcionados e
fartos, tornou-se um dos atores mais relevantes no processo de
expansão latino-americana das empresas brasileiras.
O recém-adquirido protagonismo vem por meio de com-
prometimentos fi nanceiros cada vez mais amplos, em sua
maioria apoiados pelo Convênio de Crédito Recíproco (CCR) da
Aladi, que reúne os bancos centrais da região em um sistema
de garantia contra risco de calote dos governos. Para se ter
uma ideia de quão profundamente o BNDES está mergulhado
em sua nova política, os projetos aprovados e em análise para
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Novembro, 2009 AméricaEconomia 27
PAÍS PRINCIPAIS OPERAÇÕES
Gasodutos Albanesi e Cammesa, bens de capitalArgentina
Sistema de ônibus Transantiago e Metrô de SantiagoChile
Autopista Nacional, bens de capitalCuba
Rede de Gás Montevidéu, bens de capitalUruguai
Bens de capitalEquador
Bens de capitalMéxico
Bens de capitalHonduras
Hidrelétricas Pinalito, Palomino e Las PlacetasRepública Dominicana
Hidrelétrica La Vueltosa e Metrô de CaracasVenezuela
Bens de capitalEl Salvador
Bens de capitalParaguai
Bens de capitalPeru
Bens de capitalCosta Rica
Fonte BNDES
VIZINHOS PREFERIDOSO mapa mostra os países latino-americanos que maisreceberam desembolsos do BNDES entre 2007 e 2009
VENEZUELA9,8%
OUTROS4,7%
CHILE10,0%
ARGENTINA55,6%
REPÚBLICADOMINICANA
19,9%
o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Cor-
poración Andina de Fomento (CAF). O BID, a mais conhecida
e multilateral das instituições que atuam na região, terá um
desembolso previsto para este ano de até US$ 16 bilhões. O
grosso da atuação do BNDES concentra-se no Brasil, mas seu
tamanho é visto com inveja pelos especialistas da região,
especialmente na Argentina. O país vizinho recebeu cerca de
60% dos desembolsos internacionais acumulados no primeiro
semestre. Exemplo disso é o projeto de ampliação de gasodutos
das empresas Albanesi e Cammesa, para o qual foi contrata-
da a construtora Odebrecht. Neles, o BNDES arcará com um
fi nanciamento total de US$ 882 milhões.
CARÊNCIA DE RECURSOSO acesso a recursos tão grandes é fundamental para o de-
senvolvimento argentino, especialmente depois que o país
perdeu acesso aos fi nanciamentos internacionais. Depois
da renegociação compulsória imposta por Buenos Aires aos
credores em 2002, os recursos de fora minguaram. Para com-
pensar essa difi culdade, há pouco o governo Kirchner declarou
a intenção de criar sua própria versão do BNDES, ressucitando
um banco de desenvolvimento que foi extinto pelo governo
Carlos Menem em 1990.
O economista argentino Gabriel Basaluzzo, diretor do
mestrado em Finanças da Universidade de San Andres, em
Buenos Aires, reconhece que ter uma instituição desse tipo
é essencial para sanar a grave carência de investimentos
em infraestrutura do país, sobretudo a energética. Será uma
tarefa árdua. “Não há, na Argentina, nenhuma instituição
que tenha tanto dinheiro e tanto conhecimento técnico”, diz
Basaluzzo. “Os fundos de pensão têm um patrimônio total de
US$ 30 bilhões, a quarta parte dos ativos totais do BNDES.”
exportações na América Latina já somam US$ 15,6 bilhões. Os
desembolsos para a região duplicaram em 2007 e 2008 em
comparação com os dois anos anteriores, e devem continuar
crescendo. Nos primeiros oito meses de 2009, foram desem-
bolsados US$ 600 milhões apenas para o fi nanciamento das
empresas de capital nacional que prestam serviços aos países
latino-americanos. Durante os 12 meses de 2008, esse valor
foi de US$ 650 milhões. Na hipótese de o ritmo dos primeiros
meses do ano permanecer inalterado até dezembro, o desem-
bolso será de US$ 900 milhões, um crescimento de 38% em
relação a 2008.
Essa cifra pode parecer pequena dentro do oceano de
cerca de US$ 60 bilhões previstos para serem desembolsados
pelo BNDES em 2009. Mesmo assim, o porte do banco esta-
tal brasileiro o coloca em pé de igualdade com tradicionais
fi nanciadores do desenvolvimento na América Latina, como

28 AméricaEconomia Novembro, 2009
DINHEIRO PARA A AMÉRICA LATINA
Fonte BNDES(a) Linhas BNDES-Exim, América Latina e Caribe / (b) Janeiro a Agosto
Desembolsos para a América Latina (em US$ milhões) (a)
2001
194,6
2002
201,4
2003
222,4
2004
331,5
2005
466,0
2006
388,5
2007
490,0
2008
650,7
2009 (b)
600,0
A necessidade argentina é um bom retrato da situação
fi nanceira latino-americana como um todo. Henrique García,
presidente da Corporação Andina de Fomento (CAF), diz que a
carência de recursos é intensa na região. A medida tradicional
da folga ou do aperto fi nanceiro de um país na hora de pagar
seus investimentos é a taxa de poupança, que representa
quanto da renda nacional pode ser investido para obter resul-
tados no médio ou no longo prazo.
Essa taxa é medida em um percentual do Produto Interno
Bruto (PIB). “Para crescer 5% ao ano de forma sustentável, os
países da América Latina precisam investir 26% de seu PIB”, diz
García. “O problema é que a poupança desses países disponível
para investimentos é de apenas 21% do PIB.” Os cinco pontos
percentuais que faltam representam de US$ 150 bilhões a US$
200 bilhões, que têm de vir de empréstimos externos. “Daí a
importância do BNDES, cujo tamanho e relevância na região
são inquestionáveis”, diz ele.
O Brasil também tem fraquezas e necessidades nessa área,
pois sua taxa de poupança é inferior às suas necessidades
de investimento, como qualquer pessoa que trafegue pelas
estradas ou fi que retida nos aeroportos pode notar. Segundo
Coutinho, no início de 2008 a projeção do percentual do PIB
destinado à poupança e aos investimentos era de 20%. No
entanto, a crise abateu esses prognósticos. “O grande desafi o
brasileiro é incentivar a poupança interna de longo prazo.
Precisamos estruturar um tratamento tributário favorável
a essa poupança e facilitar o funding bancário privado, para
não depender estritamente da poupança externa para nossos
novos investimentos”, diz ele. Coutinho estima que, para o
país crescer 6% ao ano, seria necessário aumentar a taxa de
poupança para 25% do PIB.
Sustentar o crescimento requer dinheiro, muito dinheiro.
As instituições já tradicionais na região reconhecem o impac-
to da crise e a retração dos mercados fi nanceiros tradicionais,
por isso estão em busca dos recursos adicionais que sabem
ser necessários. O BID, por exemplo, está em plena corrida
por aumento de capital. “Nossa média de aprovações anuais
desde 1994 era de US$ 7,5 bilhões, subiu para US$ 11 bilhões em
2008 e poderá chegar aos US$ 16 bilhões em 2009”, diz Koldo
Echebarría, gerente-geral de planejamento e estratégia do BID.
“No entanto, em 2011 teremos de trabalhar com um máximo
de US$ 10 bilhões.”
Na tentativa de aumentar a oferta de crédito,
os países da América Latina poderão contar em
breve com outra instituição fi nanceira de fomento,
o Banco do Sul, iniciativa lançada em 2007 pelo
presidente venezuelano Hugo Chávez e cujo acordo
de criação foi assinado em setembro deste ano por
Venezuela, Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e
Uruguai, tendo o Chile como membro observador.
“Será uma iniciativa importante para reduzir o
desequilíbrio da estrutura fi nanceira dos países da
região para projetos de infraestrutura e integração
comercial”, diz o economista André Biancarelli, da
Unicamp. “O capital inicial de US$ 20 bilhões não é
grande, mas será um passo importante, pois fará
com que as decisões de projetos binacionais ou plu-
rinacionais no continente americano sejam feitas
num órgão sul-americano e não brasileiro”, afi rma
o economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES
e um dos antecessores recentes de Coutinho.
60%dos desembolsos
internacionais do banco vão
para projetos na Argentina
CRISTINA KIRCHNER E LUCIANO COUTINHO: ELA QUER UM BNDES SÓ PARA ELA
NEGÓCIOS CAPA
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Novembro, 2009 AméricaEconomia 29
EXPANSÃO DAS EMPRESASA atuação do banco não se restringe à infraestrutura. Não há
um grande negócio fechado no Brasil que não tenha passado,
em um momento ou outro, pelos gabinetes da diretoria ou
pelos departamentos técnicos do BNDES (veja quadro na pági-
na 27). Hoje, essa atuação atravessou as fronteiras nacionais.
Sustentar a internacionalização das empresas brasileiras está
no topo da agenda de Coutinho, fi nanciando exportações e
fornecendo capital abundante para custear aquisições.
Esse papel vai ao encontro do de instituições semelhantes
em países desenvolvidos. Na acirrada disputa por mercados,
ganha não apenas quem tem as melhores tecnologias, produ-
tos e campanhas de marketing. O peso das fi nanças é decisivo.
Um bom exemplo são os aviões da Embraer, que este ano pode
ter um terço de suas vendas fi nanciadas pelo BNDES. Seus
jatos de médio porte são razoavelmente comparáveis aos
de sua principal concorrente, a canadense Bombardier, em
termos de qualidade, segurança e desempenho. Os critérios
de desempate na hora de os compradores fecharem negócio
são o preço e a facilidade de pagamento.
A melhor demonstração da importância
do BNDES nesse modelo de negócios
vem da concorrência: a Bombardier é
recorrente em denunciar a Embraer por
práticas anticompetitivas na Organiza-
ção Mundial de Comércio (OMC).
Sem o apoio do BNDES, a atuação
internacional das empresas brasileiras
seria muito menos expressiva do que é
hoje. As companhias teriam muito mais
difi culdade em, por exemplo, fazer aquisições no exterior.
Uma das premissas do crescimento de qualquer país é ter
corporações capazes de competir. A competitividade depende
da expansão, que permite ganhar escala e reduzir custos. É
preciso ganhar mercado para produzir e exportar mais. “Se
não for assim, companhias brasileiras com alto potencial de
crescimento acabam sendo adquiridas por grandes multina-
cionais”, diz o argentino Basaluzzo.
Nos últimos anos, o economista viu essa afi rmação acon-
tecer na prática. Ele acompanhou a marcha das empresas
brasileiras que adentraram a Argentina como clientes em
um shopping center. A aquisição da Swift Armour Argenti-
na pela então Friboi em 2005, por exemplo, foi a primeira a
receber fi nanciamento do BNDES. A operação contou com
empréstimos de US$ 80 milhões, no âmbito de uma linha de
internacionalização criada pelo banco em 2002.
Outro exemplo é a Odebrecht, cuja atuação vai muito além
da Argentina. Basta perguntar a Luiz Antonio Mameri, vice-
presidente da construtora para a América Latina e Angola.
Uma das maiores empresas do setor
no Brasil, há três décadas a Odebrecht
vem espalhando seus canteiros de obra
pelo mundo, e uma parcela substancial
desses esforços – cerca de 20% de toda
a carteira internacional – depende do
apoio fi nanceiro do BNDES. Hoje são
80 obras fora do Brasil, das quais 30 na
América Latina. A região responde por
metade dos R$ 17,5 bilhões que repre-
sentam a operação internacional da
AVIÕES DA EMBRAER: NA PONTA DO LÁPIS, O APOIO DO BNDES É ESSENCIAL PARA AS EXPORTAÇÕES DA EMPRESA BRASILEIRA
26%
A fatia do PIB que os países latinos têm de investir todos os anos
para crescer é
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30 AméricaEconomia Novembro, 2009
construtora. Algumas de suas maiores
obras internacionais estão na Venezue-
la, como a segunda ponte sobre o rio
Orinoco e o metrô de Caracas.
Iniciada em meados da década de 90,
a construção da ponte sempre teve apoio
do BNDES. “Naquele momento, era es-
sencial garantir recursos para a Odebre-
cht poder investir na Venezuela sem que as obras fi cassem no
meio do caminho”, diz um ex-ministro do Desenvolvimento,
a quem o BNDES já esteve subordinado. “Decisões como esses
fi nanciamentos passavam todos os dias pela minha mesa”, diz
ele. “Sabíamos que era uma das poucas maneiras de romper as
barreiras internacionais para nossas empresas.”
O apoio do BNDES tem um efeito multiplicador sobre a eco-
nomia. “Cerca de 60% do que é usado nas obras internacionais
é produzido no Brasil”, diz Mameri. São máquinas, ferramen-
tas, peças de reposição, aço e lubrifi cantes. Um número mostra
bem o tamanho desse negócio: entre maio de 2008 e abril de
2009, a obra da Odebrecht justifi cou a exportação de 145 mil
itens que lotaram 12 mil contêineres. Isso sem contar serviços
como consultoria, fretes e seguros.
MÉTRICAS A importância do BNDES como fi nanciador do desenvolvi-
mento é inquestionável, mas seu papel na sustentação inter-
nacional das empresas brasileiras tem sido alvo de críticas. O
economista Márcio Garcia, professor da PUC do Rio de Janeiro,
afi rma que é aceitável que as decisões do banco não conside-
rem apenas a lógica empresarial, mas também levem em conta
uma estratégia de ampliar a importância geopolítica do Brasil.
Ou seja, o crescimento da participação
brasileira no mercado externo justifi ca
que o BNDES corra riscos maiores do
que um banco privado, como ocorre nos
países desenvolvidos, onde instituições
públicas usam dinheiro do contribuinte
para apoiar as empresas nacionais. No
entanto, o economista – que já traba-
lhou no BNDES como funcionário concursado – avalia que há
alguns pontos problemáticos no caso brasileiro.
O mais grave, diz ele, é a ausência de uma métrica clara
e transparente sobre os riscos corridos pelo banco e sua con-
trapartida, o retorno para a economia brasileira em termos
de geração de emprego e crescimento econômico. “Não sa-
bemos o que está acontecendo, sem
transparência nem métrica, tanto
no BNDES quanto nas demais ins-
tituições públicas que fi nanciam a
atividade privada”, diz Garcia. Não é
uma crítica nova. Em entrevista con-
cedida a AméricaEconomia há mais
de dez anos, em novembro de 2008, o
ministro da Fazenda Guido Mantega,
então economista da Fundação Ge-
tulio Vargas (FGV), reclamava que “a
informação sobre fi nanciamento (no
caso, para pequenas e médias empre-
sas) é difícil de ser obtida devido à
falta de transparência do BNDES”.
Para Márcio Garcia, a principal
crítica ao discurso do banco hoje é
que o BNDES usa a ampliação dos
desembolsos como a maior prova
da efi ciência de sua atuação. Aqui,
quantidade não é necessariamente
qualidade. “Para um banco público
que oferece crédito com recursos subsidiados, comemorar o
aumento de desembolsos é o mesmo que celebrar venda de
notas de R$ 100 por R$ 90.”
Avaliar o retorno do capital investido é essencial para
qualquer instituição fi nanceira. No caso do BID, por exemplo,
esse assunto está permanentemente sendo analisado. O
banco tem ampliado seus desembolsos e está em busca de
capital para emprestar mais ainda. Esse processo vem sendo
acompanhado de uma profunda discussão interna. No fi m de
2008, depois de mais de dois anos de trabalho, o BID aprovou
uma matriz para calcular com mais precisão o impacto de seus
investimentos, tornar a concessão de empréstimos mais ágil e
melhorar o retorno dos fi nanciamentos. Os técnicos do banco
reconhecem que há um razoável grau de incerteza envolvido
nesse processo. “Há coisas que são fáceis de medir, mas difí-
ceis de contar”, diz Koldo Echebarría, do BID. “Mesmo assim é
preciso sempre procurar melhorar nossos padrões.”
PECUÁRIA BRASILEIRA: EXPANSÃO INTERNACIONAL DOS FRIGORÍFICOS NÃO EXISTIRIA SEM O BANCO
A então Friboi recebeu o primeiro
crédito para uma aquisição
internacional em 2005
NEGÓCIOS CAPA
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Novembro, 2009 AméricaEconomia 31
Nesse aspecto, transparência é fundamental. Aqui, o
BNDES não tem tirado a nota máxima. Coutinho afi rma que
as métricas existem, mas há controvérsias dentro do banco.
“Hoje não temos um conjunto de projetos ou metas em foco.
Os recursos totais de desembolso do BNDES cresceram ab-
surdamente, o movimento das empresas brasileiras nessa
região também, e o que queremos é gerar emprego e divisas
ao Brasil”, diz Leonardo Botelho, chefe de um dos departa-
mentos da divisão internacional do Banco, em entrevista a
AméricaEconomia.
O banco também não comentou quanto o apoio a uma
obra na Argentina ou na Venezuela pode representar em ter-
mos de exportação de bens e serviços e qual o impacto positivo
na economia nacional. São problemas, mas que não chegam
a tornar inviável a atuação do BNDES como um todo, pois o
fi nanciamento à internacionalização de empresas hoje não
chega a 20% do desembolso total. “Apesar do crescimento, os
empréstimos externos até hoje representaram um montante
limitado – de US$ 5 bilhões em 2008, contra um desembolso
total de R$ 92,2 bilhões – de modo que
ainda é difícil ver essa linha de ação mais
além do que uma atividade complemen-
tar”, diz o economista Carlos de Passos,
consultor do Banco Mundial e da FGV,
em São Paulo.
O TAMANHO DO RISCOA incerteza em relação às métricas não
é um problema apenas da atuação in-
ternacional do banco. “Essa não pode ser
considerada uma medida de desempe-
nho para um banco de desenvolvimento”, diz Garcia. “Existem
metodologias de avaliação muito boas na academia e cabe
ao BNDES implementá-las, sobretudo em um momento de
expansão.” Para ele, tanto quanto a necessidade de métricas
especiais para avaliar o crédito à internacionalização, o BNDES
precisa de limites no âmbito doméstico. “Sempre é preciso
lembrar que o BNDES existe para suprir uma falha de mer-
cado, e não para tomar o lugar do sistema bancário privado.”
Essa crítica, aliás, não é apenas de Garcia. Armínio Fraga, ex-
presidente do Banco Central, comentou em um evento no Rio
de Janeiro em maio, que a atuação do BNDES estaria tornando
mais difícil a atuação do setor privado no fi nanciamento de
longo prazo das empresas.
É bom que o Brasil tenha um BNDES que possa servir para
fi nanciar as empresas e manter a economia respirando em
momentos de crise. A ausência de estruturas semelhantes
teve um impacto devastador sobre a Argentina, por exemplo.
O grande perigo, diz Garcia, é usar a crise como justifi cativa
para uma expansão descontrolada. “Se tentar fi nanciar tudo,
o BNDES só conseguirá piorar as fi nanças públicas e inibir
o fortalecimento do sistema de crédito privado, que já está
voltando ao normal e é mais efi ciente. Isso oneraria o Estado,
que não tem capacidade de fazer isso porque tributa muito,
tributa mal e gasta mal.”
Coutinho discorda. Ele diz que o BNDES tem tido um papel
complementar em relação ao mercado
e não tenta substituí-lo. “Sabemos que
os bancos privados brasileiros têm di-
fi culdades em conceder empréstimos
de longo prazo devido à estrutura de
seu funding”, diz ele. “No entanto, não
acreditamos que a atuação do BNDES
deva expelir os bancos privados do
sistema, mas sim permitir a entrada
deles.” Coutinho afi rma que, como o
BNDES tem sido um dos principais
sustentáculos para o estabelecimento
do mercado de capitais brasileiro, é sua função estimular um
mercado de crédito de longo prazo no Brasil. “O grande desa-
fi o para a economia brasileira é poupar mais e investir mais,
para que o BNDES concentre-se nos projetos de maturação
mais longa e risco mais elevado, o papel típico de um banco
de desenvolvimento.”
EMPRESA VALOR OPERAÇÃO DATA
R$ 2,15 bilhões Financiamento para investimentos
R$ 2,4 bilhões Apoio à VCP na aquisição da Aracruz
US$ 595 milhões Crédito para compra de 20 aviões - Austral (a)
R$ 253 milhões Crédito para compra de 4 aviões
N.D. Apoio na associação com a Bertin
R$ 2,57 bilhões Apoio à reestruturação societária (b)
R$ 7,3 bilhões Linha de crédito rotativo
ALL
Aracruz / VCP
Embraer
Embraer
JBS – Friboi
OI / Brasil Telecom
Vale
PRIMEIRO TIMEO BNDES participou de alguns dos maiores negócios já fechados no Brasil. O quadro mostra os mais recentes
Junho de 2009
Janeiro de 2009
Março de 2009
Maio de 2009
Setembro de 2009
Maio de 2008
Abril de 2008
Fonte BNDES, empresas, analistas de mercado(a) Empresa vinculada à Aerolineas Argentinas, (b) O Banco do Brasil aportou mais R$ 4,3 bilhões, N.D. = Não Disponível
38%
Os desembolsos internacionais neste ano devem crescer

32 AméricaEconomia Novembro, 2009
CORDILHEIRAALÉM DA
Chegada da Petrobras ao Chile pode abrir as portas para a exportação de gás e etanol
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
Marcelo Tokman, ministro de Ener-
gia do Chile, não escondia o sorriso no
fi m de agosto. Um ano depois de com-
prar 230 postos de gasolina da Exxon por
US$ 400 milhões, a Petrobras inaugurou
o primeiro posto com sua bandeira. A
aquisição dos ativos da Exxon garantiu-
lhe 9% de um mercado de US$ 12 bilhões
em vendas por ano. É pouco perto dos
65% da líder Copec, mas é um começo.
Até agora, os analistas comparti-
lham o otimismo de Tokman. “A Petro-
bras pode trazer alternativas para suprir
a carência energética do Chile”, diz Mi-
chelle Labbé, da Econsult, em Santiago.
Michelle conta que o Chile tem
avançado pouco para reduzir sua vul-
nerabilidade energética. O primeiro
NEGÓCIOS COMBUSTÍVEIS
susto veio quando a Argentina, que
fornece 100% do gás consumido pelo
país, cortou o fornecimento em 2002. A
situação piorou desde 2004, deixando o
Chile à beira de um apagão industrial
e muito mais dependente do diesel. A
alta no preço do petróleo também feriu
as fi nanças do país, que importa mais
de 90% do que consome. “A Petrobras
vende biocombustível e pode trazer a
diversifi cação que precisamos, além de
novas tecnologias de refi no”, diz Sidney
Houston, da Associação de Distribuido-
res de Combustível do Chile.
MUDANÇA DE FOCOÀ primeira vista, o Chile não parece um
mercado atraente. “A margem bruta dos
SORRISO LARGO:
OTIMISMO DO MINISTRO
TOKMAN (À ESQUERDA)
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postos chega no máximo a 2% e não há
leis para combater a informalidade”, diz
Houston. “Os postos funcionam mais
como arrecadadores de impostos do que
como distribuidores de combustíveis.”
Além do IVA de 19%, o setor paga uma
taxa “provisória” instituída em 1985
para ajudar na reconstrução de ruas
depois de um terremoto – e que ainda
é cobrada.
Onde está a vantagem da Petrobras?
Marcus Tavares, diretor da consultoria
Gas Energy, lembra que a estatal bra-
sileira poderá ter de gastar US$ 111
bilhões até 2020 para explorar o pré-
sal. “Isso vai obrigá-la a reduzir o ritmo
da expansão em outros continentes e
buscar negócios geografi camente mais
próximos”, diz. E essas oportunidades
estão no gás e no etanol. “O Chile já che-
gou a exportar 25 milhões de metros
cúbicos por dia”, diz ele. “Não é pouco, é o
mesmo que o Brasil compra da Bolívia.”
Além do gás do pré-sal, que pode estar
disponível em cinco anos, a Petrobras
prospecta gás em Camisea, no Peru.
Nos últimos anos, o Chile tem in-
vestido no gás natural líquido (GNL),
com a inauguração de uma planta em
Quinteros, perto de Valparaíso, e outra
em construção em Mejillones, no norte.
Essa última é um consórcio liderado
pela estatal Empresa Nacional de Petro-
leos, no qual a Petrobras negociaria uma
participação. Procurada, a Petrobras não
respondeu ao pedido de entrevista.
No caso do etanol, a expectativa é
que governo chileno acelere a regula-
ção que permitiria misturar o produto
à gasolina, dando espaço à exportação
em grande escala. Os primeiros galões
de etanol devem chegar ao Chile ainda
este ano, para que a indústria auto-
mobilística faça testes. A necessidade
chilena deve antecipar uma regulação
que a Petrobras quer ver implantada em
vários países “São mercados atrasados,
que ainda usam chumbo na gasolina”,
diz Tavares. Já se verificam algumas
conquistas. Em 2010, por exemplo, a Ar-
gentina vai misturar 5% de etanol à ga-
solina. Gota a gota, essas iniciativas vão
elevar o fl uxo de caixa da Petrobras.

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36 AméricaEconomia Novembro, 2009
COMPRASFOME DE
Líder em serviços de TI, a Stefanini tem US$ 50 milhões no caixa para adquirir empresas na América Latina
ANNA LÚCIA FRANÇA, DE SÃO PAULO
MARCO STEFANINI: GRATIDÃO À CRISE, QUE BARATEOU AS AQUISIÇÕES
Toda vez que o presidente da Petro-
bras, José Sergio Gabrielli, liga seu com-
putador, alguns centavos caem na conta
de Marco Stefanini. Não, o micro sobre
a mesa de Gabrielli não foi invadido por
um hacker. A Petrobras é um dos milha-
res de clientes da Stefanini IT Solutions,
maior consultoria brasileira em serviços
de tecnologia da informação e que está
preparando uma ambiciosa estratégia
de expansão na América Latina.
Fundada em 1987 em um cômodo
da casa de Marco, a empresa hoje é uma
das 20 maiores empresas transnacio-
nais brasileiras, segundo um estudo
da Fundação Dom Cabral deste ano. A
Stefanini faturou R$ 510 milhões em
2008, suas receitas vêm aumentando
42% ao ano e a meta é crescer além
das fronteiras nacionais. “Hoje, 22% de
nossas receitas vêm do exterior”, diz o
fundador. “Nossa meta é que esse per-
centual chegue a 50% até 2012.”
O empresário está disputando um
mercado concorrido, mas gigantesco
e, o que é melhor, crescente. Segundo
a Associação Brasileira de Empresas
de Tecnologia da Informação e Comu-
nicação (Brasscom), entidade de classe
que representa o setor, o faturamento
mundial das empresas dos serviços
de tecnologia e desenvolvimento de
software é de US$ 84 bilhões por ano.
As estimativas são de que essa cifra
chegue a US$ 150 bilhões em 2012, diz
o diretor de marketing e exportação da
Brasscom, Ricardo Asse.
NEGÓCIOS INFORMÁTICA
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Novembro, 2009 AméricaEconomia 37
42%é o crescimento
médio do faturamento desde a fundação
Metade desse apetitoso bolo fica
nas mãos de agressivas companhias
indianas. Além de contarem com mão-
de-obra mais barata que a dos países
desenvolvidos, elas têm a vantagem de
encontrar facilmente trabalhadores que
falam inglês, mais aptos para atender
o mercado americano, principal con-
sumidor de software. A outra metade
deverá ser disputada principalmente
por empresas de países emergentes
como Brasil, China, Rússia e Filipinas.
Caso da Stefanini, que ganha dinheiro
adaptando programas de gestão e nas-
ceu concorrendo com gigantes globais
da área de serviços de tecnologia, como
EDS e HP, entre outras.
Para competir com as grandes do
setor, a Stefanini tem de oferecer ser-
viços mais adaptados a cada caso. Isso
requer proximidade com o cliente e
conhecimento do mercado local, o que
vem justifi cando o crescimento além-
fronteiras desde o princípio de suas
atividades. A primeira unidade fora do
Brasil foi aberta em Buenos Aires, em
1996. Seguiram-se escritórios no Chile e
no México, inaugurados no ano 2000, e
fi liais nos Estados Unidos, na Colômbia e
no Peru em 2001. As iniciativas interna-
cionais mais recentes foram a abertura,
no início deste ano, de uma unidade no
México para realizar as adaptações dos
programas dos clientes. Hoje, 1.500 dos
cerca de 8.000 funcionários da empresa
atuam fora do Brasil.
A nova unidade mexicana é o pri-
meiro grande centro de desenvolvimen-
to da Stefanini fora do Brasil, e a meta é
não só atuar localmente como também
atender clientes localizados nos Estados
Unidos, na Europa e na América Lati-
na. “Alguns anos
atrás, atuar no Mé-
xico era mais caro
do que no Brasil,
mas agora ter uma
empresa lá é um
bom negócio”, diz
Marco. Uma das
alavancas para o
crescimento são as
compras no exterior. “Estamos
negociando uma aquisição na
Europa que deve ser anunciada
até o fi m do ano e pretendemos
aumentar rapidamente nossa
participação no mercado mexi-
cano”, diz o empresário.
A hora é boa, pois os preços
baixaram. “Tenho de agradecer
à crise , que facilitou a minha vi-
da”, brinca Marco. As aquisições
previstas para 2008 não ocorre-
ram devido à turbulência fi nan-
ceira. Como resultado da crise, os
preços da empresas adequadas à
compra caíram sensivelmente.
A Stefanini tem US$ 50 milhões
destinados a aquisições fora do
País nos próximos meses. A me-
ta é adquirir companhias com
foco em serviços e faturamento
acima de US$ 30 milhões.
Para Asse, da Brasscom, o
foco no México é acertado, prin-
cipalmente pela proximidade
com o mercado americano. “As
tecnologias são complementa-
res e há muito espaço para a
oferta de produtos e serviços”,
diz. Asse cita como exemplo o
setor de transações por meio de cartões
de crédito. É um setor muito desenvol-
vido no Brasil, que conta com diversas
soluções que o México não tem. “A troca
de conhecimento dessa tecnologia pode
ajudar a defi nir projetos conjuntos.”
As exportações brasileiras de soft-
ware deram um salto nos últimos anos,
passando de US$ 800 milhões em 2007
para US$ 2,2 bilhões em 2008. A meta
agora é chegar a 2011 com vendas de
US$ 5 bilhões. Quase 70% disso é obtido
com serviços de
TI, diz Asse. “Pode-
mos mudar essa
proporção se sou-
bermos unir soft-
ware e serviços no
mesmo pacote.”
A única ameaça
ao crescimento
das exportações
É uma das maiores prestadoras de serviços de informática do Brasil
Foi criada em 1987 pelo geólogo Marco Stefanini
Emprega 8.000 pessoas, 1.500 fora do Brasil
Faturou R$ 510 milhões em 2008, 22% fora do Brasil
Possui 21 escritórios em 14 países
Instalou 14 escritórios para adaptar software na América Latina
Reservou US$ 50 milhões para aquisições na Europa e no México
Fonte: empresa
PERFIL Stefanini IT Solutions
é a posição confortável das empresas
brasileiras. “Há grupos muito fortes no
País, o que reduz a necessidade de buscar
clientes lá fora.”
Segundo a Brasscom, o mercado
brasileiro representa 60% da América
Latina, seguido pela Argentina e pelo
México. Em 2008, a indústria brasileira
de TI movimentou US$ 59,1 bilhões, in-
cluindo exportações. Somando-se ainda
o setor de comunicações, a cifra atingiu
US$ 139,1 bilhões. Tudo isso coloca o
Brasil como o oitavo maior mercado de
TI no mundo. Para Marco Stefanini, o
Brasil tem excelentes possibilidades de
ganhar mais relevância internacional
se construir marcas fortes, melhorar
o inglês de seus profi ssionais de TI e, o
mais difícil de tudo, reduzir a tributação
interna. “Com isso, sairemos na frente
porque o brasileiro é muito criativo e re-
solve problemas como ninguém”, diz.

38 AméricaEconomia Novembro, 2009
ALÉM-FRONTEIRASBuscaPé quer crescer na América Latina e nos países de língua portuguesa
RODRIGO LARA, DE BUENOS AIRES, E SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
consultoria especializada em internet
IDC Brasil, o comércio eletrônico tem
muito espaço no mercado brasileiro.
“O Brasil já é o quinto maior mercado
de computadores pessoais no mundo.
O brasileiro é um dos que passam mais
tempo conectados e é um dos que me-
lhor aceitam os serviços bancários por
meios eletrônicos”, diz Roveri.
Os consumidores de renda mais
baixa que passam a ter acesso fácil às
transações online usam os meios eletrô-
nicos para procurar preços, mesmo que
a princípio não comprem pela internet.
“Isso eleva a efi ciência e a velocidade da
pesquisa, reduz custos e é uma ferra-
menta importante”, diz Samuel Carva-
lho, analista de software do IDC.
A expansão geográfica não quer
dizer que as oportunidades estejam
se esgotando no Brasil. O valor médio
unitário das compras subiu, apesar da
crise, e chegou a R$ 340 em setembro,
um recorde para o mercado brasileiro.
As metas de expansão são amplas.
“Queremos operar na África, na Ásia, em
qualquer país onde se fale português”,
diz Rodrigues. Na América Latina, Ar-
gentina, México e Chile, nessa ordem,
são os países mais importantes para a
estratégia de crescimento do conglome-
rado. “Com os novos recursos, podere-
mos fazer já o que estávamos esperando
para dezembro de 2011.”
O portal de comércio eletrônico Bus-
caPé vai usar parte dos US$ 342 milhões
recebidos de seu novo sócio, o grupo sul-
africano Naspers, para ampliar suas ati-
vidades na América Latina e nos países
de língua portuguesa. A meta é que, nos
próximos cinco anos, pelo menos 50%
da receita dos nove sites do grupo venha
de países fora do Brasil. Em 2008, esse
percentual foi de apenas 18%. O Naspers
anunciou, no fi m de setembro, a compra
de 91% das ações do BuscaPé.
Além da diversifi cação geográfi ca,
o BuscaPé quer integrar o comércio
eletrônico às redes sociais. “Hoje a per-
cepção de confi ança do consumidor é
determinante na decisão de compra, é
o que chamamos de comércio social”,
diz Romero Rodrigues, principal execu-
tivo do BuscaPé. “Posso encontrar 700
comentários sobre um produto em um
site qualquer, mas o impacto será muito
maior se um deles for do amigo de um
amigo”, diz ele. “Percorremos apenas 2%
desse caminho.”
Uma das estratégias de Rodrigues
para elevar o faturamento é impul-
sionar o crescimento de sua página de
classifi cados gratuitos, o QueBarato!, o
que poderia levar o BuscaPé a concorrer
diretamente com o MercadoLivre, uma
das principais ferramentas de comér-
cio eletrônico na América Latina. O
executivo diz acreditar que há muitas
oportunidades na região. “A América
Latina tem 550 milhões de habitantes,
e o número de compras feitas pela In-
ternet ainda é muito baixo”, diz. “Um
internauta brasileiro compra entre 1,5
e 2 vezes por ano via internet, ao passo
que a média americana varia entre 11 e
12 compras anuais.”
Seu otimismo é justifi cado. Segundo
Reinaldo Roveri, gerente de pesquisa da
NEGÓCIOS INTERNET
50%da receita deve
vir de fora do Brasil em cinco anos
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RODRIGUES: VALOR MÉDIO DAS COMPRAS VIA INTERNET VEM CRESCENDO


40 AméricaEconomia Novembro, 2009
GIGANTEEM FORMAÇÃO
A fusão da Avianca com a Taca mostra o império que o boliviano naturalizado brasileiro Germán Efromovich quer construir
FELIPE ALDUNATE M., DE SANTIAGO
Um boliviano naturalizado brasilei-
ro deixa seu país, compra uma empresa
aérea colombiana para reestruturá-la
e fundi-la com uma concorrente sal-
vadorenha e disputar o mercado de
transporte aéreo... brasileiro.
A trajetória do empresário Ger-
mán Efromovich, dono da colombiana
Avianca, parece demasiado ilógica para
ser verdadeira. Não obstante, uma das
grandes opções que se abrem com a
fusão de sua companhia com a Taca é
de aumentar a presença nas rotas inter-
nacionais brasileiras e, eventualmente,
entrar no mercado de voos de carga e
passageiros no Brasil.
A escolha do caminho mais longo
é justifi cável. “O mercado brasileiro é
enorme, muito competitivo e difícil. Há
um excesso de oferta no Brasil hoje, mas
há um grande potencial de crescimento
da demanda que o torna atraente”, diz
Fabio Villegas, presidente da Avianca.
Ele será o principal executivo do gigante
aéreo que deve ser formado pela fusão
da Avianca com a Taca.
A crescente importância das rotas
ligando o Brasil a diversos pontos na
América Latina esteve por trás da criação
da nova companhia, que tem dois terços
de suas ações nas mãos do grupo Sinergy,
de Efromovich, e os outros 33% com os
acionistas da Taca. “Até pouco tempo
atrás, só havia quatro voos semanais li-
gando Bogotá ao Rio de Janeiro, em uma
rota basicamente turística”, diz Villegas.
“Hoje temos um voo diário entre Bogotá
e São Paulo, e a maior parte dos passagei-
NEGÓCIOS AVIAÇÃO
Ilust
raçã
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LVA
RO A
RAYA
URQ
UIZ
A
ros viaja a negócios.” Com a integração da
Taca, explica Villegas, a Avianca poderá
oferecer aos colombianos mais alterna-
tivas de rotas e frequências ao Brasil, por
meio do hub (centro de conexões) que a
Taca opera em Lima, no Peru.
A fusão entre as duas companhias
aéreas é atraente por si só. A Taca já
havia tentado comprar a Avianca há
quatro anos, quando esta foi colocada à
venda pelo grupo Santo Domingo e seus
sócios do grupo Cafetero. No entanto,
o martelo foi batido a favor da Sinergy,
que ofereceu US$ 45 milhões e assumiu
uma dívida de US$ 300 milhões. Entre
os 90 destinos oferecidos por ambas as
companhias, apenas 20 se sobrepõem. E
só há competição direta em dois deles: as
rotas Bogotá-Lima e Bogotá-San José.

Novembro, 2009 AméricaEconomia 41
VILLEGAS: DE OLHO NO ENORME
POTENCIAL DO MERCADO BRASILEIRO
A FROTA DE EFROMOVICHO quadro mostra as companhias aéreas do empresário na América Latina e na África
País
TOTAL 139
Empresa Rotas Aviões
Brasil Ocean Air
VarigLog
Colômbia Avianca e AviancaCargo
SAM
Tampa Cargo
Helicol
El Salvador Taca
Equador Aerogal
VIP Airlines
Nigéria Capital Airlines
14
4
58
ND
4
6
37
9
3
4
Domésticas, passageiros
Domésticas, carga
Internacionais, carga e passageiros
Regionais, passageiros (a)
Regionais, carga
Helicópteros, atende indústria petrolífera
Internacionais, passageiros (b)
Regionais, carga e passageiros (c)
Táxi aéreo
Domésticas e charters, passageiros
(a) Em processo de fusão com a Avianca, (b) A fusão depende da aprovação das autoridades reguladoras, (c) Inclui opções de compra de até 40 aeronaves. ND = Não Disponível
Fonte Empresa
mento da chilena LAN, que foi de US$
4,6 bilhões em 2008. A melhor parte
da operação do grupo Sinergy é a que
virá depois da integração da Taca com
a Avianca, bem como as alternativas
de crescimento que vão surgir com a
consolidação do negócio internacional
de transporte de passageiros. “Há op-
ções interessantes, como a de comprar
80% da Aerogal do Equador, e a Avianca
comprar a OceanAir”, diz Villegas, CEO
da companhia colombiana de proprie-
dade brasileira. “O mais provável é que
esses dois negócios ocorram.”
No caso da OceanAir, uma peque-
na companhia que oferece voos do-
mésticos no Brasil, já
existem avanços. “A
diretoria da Avianca
disse que levou exe-
cutivos colombianos
de alto nível ao Brasil
que poderiam super-
visionar as operações
da OceanAir”, afi rma
Stephen Trent, analis-
ta da área de estudos do Citi, em Nova
York. É fato: o presidente da OceanAir é
o colombiano Santiago Diago, ex-vice-
presidente de operações da Avianca. Isso
sem contar que os aviões da OceanAir
têm as mesmas cores corporativas da
Avianca e que já é sabido que Efromo-
vich quer rebatizar a OceanAir como
Avianca Brasil, e só espera a permissão
das autoridades brasileiras para isso.
Isso tudo faz os números crescerem.
“Taca e Avianca têm 129 aviões. Com os
operados pela OceanAir, a frota fi ca em
143 aeronaves controladas pelo grupo
Sinergy”, afi rma um relatório de Carlos
Eduardo Lucato, analista do Santander In-
vestment, de São Pau-
lo, cujo os números di-
ferem dos da Avianca.
“Além das vantagens
dessa integração, a
Ocean Air poderá con-
quistar passageiros
do Brasil para os voos
internacionais da Taca
e da Avianca.”
O potencial de complementarida-
de é alto. O novo grupo aéreo, que ini-
cialmente manterá as duas marcas,
consegue oferecer uma cobertura in-
vejável, com hubs em Bogotá, Lima, San
Salvador e San José, na Costa Rica. Isso
sem contar as oportunidades de buscar
sinergias, economias de escala e mais
poder de negociação com provedores
como a Airbus, que fornece os aviões da
Taca e de quem a Avianca tem aumenta-
do suas encomendas. Alguns analistas
consideram essas sinergias o principal
atrativo da fusão. “As companhias se
complementam justamente pelos pro-
blemas fi nanceiros que tiveram devido
à compra de aviões A320 da Airbus”,
diz Nicolai Sebrell, analista da Morgan
Stanley em São Paulo.
A operação, que ainda depende
de aprovação dos órgãos reguladores,
não converterá a nova companhia na
maior da região. Somadas, ambas as
empresas aéreas faturam cerca de US$
3 bilhões ao ano, abaixo do fatura-
Rotas aéreas operadas somam
cidades90
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42 AméricaEconomia Novembro, 2009
PLENA CARGAOs planos de Efromovich não se limi-
tam ao transporte de passageiros. Um
empresário que fez fortuna servindo a
indústrias pesadas como as de petróleo
e de energia sabe que há muito dinheiro
no transporte de carga. “Essa ativida-
de representa de US$ 200 milhões a
US$ 300 milhões no faturamento do
grupo”, diz Villegas. Parte desse fatura-
NEGÓCIOS AVIAÇÃO
EFROMOVICH: SEM MEDO DE LEVANTAR CAPITAL PARA INVESTIR EM EMPRESAS AÉREAS
mento vem por meio da Tampa Cargo,
uma linha aérea de carga criada por
um consórcio colombiano-holandês e
comprada pela Sinergy em 2007. Com a
Tampa, a AviancaCargo controla 32% do
mercado de carga da Colômbia e já sente
a concorrência feroz da LAN. A empresa
chilena tem cerca de 12% desse merca-
do, que é dominado pela exportação de
fl ores para os Estados Unidos.
Os avanços vão além da Colômbia.
Efromovich, que tem seu irmão José co-
mo sócio principal, fez a Sinergy assinar
em julho uma opção de controle da Va-
rigLog. A empresa de carga era da Varig,
hoje é administrada pela OceanAir e se
encontra em processo de recuperação
judicial desde março.
É por isso que os analistas afi rmam
que, se bem-sucedida, a integração da
Avianca com a Taca não apenas deve
preocupar os concorrentes diretos como
a panamenha Copa e a chilena LAN,
como também algumas empresas bra-
sileiras. “O grupo Sinergy não se assusta
na hora de colocar dinheiro na mesa”,
diz Trent, do Citi. “Eles têm demonstra-
do muita disposição para conseguir o
capital necessário para corrigir a rota
de suas empresas aéreas.” O melhor
exemplo disso vem da própria Avianca,
que há cinco anos estava à beira de falir.
Com uma boa administração operacio-
nal e fi nanceira, Efromovich a trans-
formou em uma companhia saudável e
lucrativa, apesar da crise fi nanceira. Por
isso, poucos se surpreenderam quando
ele – que também tem nacionalidade
colombiana – manifestou o interesse
de comprar uma fatia da LAN, parti-
cipando do pacote de aquisições que o
empresário Sebastián Piñera poderá
colocar à venda se for eleito presidente
do Chile. Seja como for, fi ca claro que
a fusão da Avianca com a Taca não é o
fi nal da história.
Faturamento pode chegar
a US$
bilhões após a fusão
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46 AméricaEconomia Novembro, 2009
Para construir uma marca na América Latina é preciso saber que os consumidores
locais são parecidos, diz o consultor Jaime Troiano
CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO
TROIANO: O CONSUMIDOR LATINO GOSTA DE ESTAR EM DIA COM O QUE ACONTECE LÁ FORA
NEGÓCIOS ENTREVISTA
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ARQ
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O M
&M
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AméricaEconomia Por que é tão difí-cil atribuir valor a uma marca?Jaime Troiano Os profissionais de
fi nanças e contabilidade costumam ver
a marca do ponto de vista das despesas.
Para construir uma marca a partir do
zero, a empresa tem de investir dinheiro
em marketing e publicidade. Isso apa-
rece como despesa nos demonstrativos
contábeis, mas o valor da marca criada
não aparece no balanço.
AE Marcas são ativos intangíveis?Troiano São, mas não no sentido clás-
sico do termo. Um ativo intangível foi,
durante muito tempo, classifi cado como
algo cujo valor não poderia ser precisa-
do. Hoje sabemos que o valor de uma
marca pode ser medido.
AE Como?Troiano Defi nir o valor de uma marca,
hoje, é saber que percentual ela repre-
senta no resultado fi nal da empresa. No
caso de companhias que atuam fora dos
bens de consumo, o chamado business to
business, cerca de 10% a 15% do seu valor
total pode depender da marca. No caso
da maioria dos bens de consumo, esse
percentual chega a 30%. Em produtos
aspiracionais e que representam status,
como automóveis de luxo, canetas e
DE OLHO NOPRIMEIROMUNDO
relógios, o valor da marca pode chegar
a 50% do valor total patrimonial. Sabe-
mos que em alguns itens de luxo o que
importa é a marca, pois as característi-
cas do produto são secundárias.
AE É por isso, no caso dos bens de con-sumo, que muitas vezes as empresas compram marcas, não operações?Troiano Exatamente. Vejamos, por
exemplo, o caso da Nestlé, que comprou
a Perrier. A Nestlé, à primeira vista, es-
tava gastando dinheiro para comprar
água, mas a Perrier não é apenas água,
ela tem toda uma imagem de sofi stica-
ção. Isso é insubstituível.
A empresa que quiser ter uma marca vencedora na América Latina terá de levar em conta as características
da região, e não se pautar por modelos americanos ou europeus. O latino-americano gosta de marcas que são
bem-sucedidas no mercado internacional e lida melhor com a sensualidade e com o corpo do que os consu-
midores de outras regiões. Essas são algumas das conclusões do publicitário, empresário e consultor Jaime
Troiano, que publicou recentemente o livro As Marcas no Divã (2009, Editora Globo, 376 páginas, R$ 39,90).


46 AméricaEconomia Novembro, 2009
Para construir uma marca na América Latina é preciso saber que os consumidores
locais são parecidos, diz o consultor Jaime Troiano
CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO
TROIANO: O CONSUMIDOR LATINO GOSTA DE ESTAR EM DIA COM O QUE ACONTECE LÁ FORA
NEGÓCIOS ENTREVISTA
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AméricaEconomia Por que é tão difí-cil atribuir valor a uma marca?Jaime Troiano Os profissionais de
fi nanças e contabilidade costumam ver
a marca do ponto de vista das despesas.
Para construir uma marca a partir do
zero, a empresa tem de investir dinheiro
em marketing e publicidade. Isso apa-
rece como despesa nos demonstrativos
contábeis, mas o valor da marca criada
não aparece no balanço.
AE Marcas são ativos intangíveis?Troiano São, mas não no sentido clás-
sico do termo. Um ativo intangível foi,
durante muito tempo, classifi cado como
algo cujo valor não poderia ser precisa-
do. Hoje sabemos que o valor de uma
marca pode ser medido.
AE Como?Troiano Defi nir o valor de uma marca,
hoje, é saber que percentual ela repre-
senta no resultado fi nal da empresa. No
caso de companhias que atuam fora dos
bens de consumo, o chamado business to
business, cerca de 10% a 15% do seu valor
total pode depender da marca. No caso
da maioria dos bens de consumo, esse
percentual chega a 30%. Em produtos
aspiracionais e que representam status,
como automóveis de luxo, canetas e
DE OLHO NOPRIMEIROMUNDO
relógios, o valor da marca pode chegar
a 50% do valor total patrimonial. Sabe-
mos que em alguns itens de luxo o que
importa é a marca, pois as característi-
cas do produto são secundárias.
AE É por isso, no caso dos bens de con-sumo, que muitas vezes as empresas compram marcas, não operações?Troiano Exatamente. Vejamos, por
exemplo, o caso da Nestlé, que comprou
a Perrier. A Nestlé, à primeira vista, es-
tava gastando dinheiro para comprar
água, mas a Perrier não é apenas água,
ela tem toda uma imagem de sofi stica-
ção. Isso é insubstituível.
A empresa que quiser ter uma marca vencedora na América Latina terá de levar em conta as características
da região, e não se pautar por modelos americanos ou europeus. O latino-americano gosta de marcas que são
bem-sucedidas no mercado internacional e lida melhor com a sensualidade e com o corpo do que os consu-
midores de outras regiões. Essas são algumas das conclusões do publicitário, empresário e consultor Jaime
Troiano, que publicou recentemente o livro As Marcas no Divã (2009, Editora Globo, 376 páginas, R$ 39,90).

Novembro, 2009 AméricaEconomia 47
AE Por quê?Troiano Hoje, os produtos são muito
parecidos entre si. As características
técnicas e físicas são muito semelhan-
tes. Basta olhar para o mercado de auto-
móveis. Se você tirar as marcas, é difícil
diferenciar os veículos à primeira vista.
Como o que diferencia um produto do
outro é a capacidade de provocar uma
emoção no consumidor, a importância
da marca é cada vez maior. Não pode-
mos nos esquecer de que 90% dos produ-
tos lançados são retirados do mercado
antes do segundo ano. Isso acontece
até mesmo com as extensões de marca,
quando não são bem planejadas.
AE Como está a construção de mar-cas no Brasil?Troiano Os profi ssionais estão em um
momento de transição. Para fazer um pa-
ralelo com a música, podemos dizer que
os profi ssionais brasileiros são excelen-
tes solistas, mas o Brasil tem uma grande
falta de orquestradores, que sejam capa-
zes de integrar os diversos esforços da
empresa para falar com muitos públicos
diferentes ao mesmo tempo.
AE O público mudou?Troiano Não apenas mudou, como
também está muito mais específi co e
com necessidades e desejos muito mais
segmentados. Além disso, o consumidor
sabe o que quer com mais clareza. Hoje,
temos de ver o que motiva, agrada e
desestimula o consumidor. O melhor
exemplo é a mudança no perfi l da con-
sumidora. Cerca de 75% das decisões de
compras são tomadas ou infl uenciadas
pelas mulheres, o que provocou uma
forte mudança na propaganda.
AE Para a propaganda, como é a nova consumidora?
Troiano O comportamento e a posição
social da mulher mudaram bastante,
e a publicidade refl ete isso fi elmente.
Podemos dizer que a mulher saiu da co-
zinha. Hoje, 45% do mercado de trabalho
pertence às mulheres, o que garantiu à
consumidora mais autonomia fi nancei-
ra e poder de decisão.
AE Como essas mudanças se refl eti-ram na publicidade?Troiano Se olharmos a publicidade dos
anos 60, vemos que a mulher está ou em
uma posição de submissão ao marido
ou no papel de mãe. Nos anos 80, ela
passou a ser a executiva bem-sucedida
e vitoriosa, mas perdeu bastante de sua
feminilidade. Já a propaganda atual
tenta ver a mulher de maneira mais in-
tegrada, atuando bem em vários papéis.
Eu costumo dizer que, há alguns anos, a
mulher era vista pela publicidade como
um pêssego em calda, ou seja, em peda-
ços. A mãe de família não era a mulher
sensual, que também não era a mulher
profissional. Hoje, essa consumidora
pode ter todos esses atributos – ser bem-
sucedida profi ssionalmente, ter fortes
relações familiares e também sentir-se
bonita e desejada.
AE É possível falar de uma publici-dade latino-americana?Troiano Até há pouco tempo não era
possível, mas hoje podemos dizer que
sim, pois a publicidade está mais cons-
ciente de que a mentalidade latino-
americana tem valores únicos, que não
valem para outras regiões. Esses fatores
decorrem do clima mais quente, da
formação religiosa católica e sincrética
e da miscigenação, que são elementos
presentes em maior ou menor grau em
todos os países da região. Isso faz com
que a mentalidade latino-americana
tenha características únicas.
AE Quais, por exemplo?Troiano A primeira é o que chamo de
“malinchismo”, referente a Malinche,
que foi uma índia mexicana, a primeira
amante de Hernán Cortez quando ele
chegou da Espanha para conquistar o
México. Malinche aderiu e absorveu
rapidamente a cultura do, na época,
Primeiro Mundo. Esse é um traço latino-
americano muito típico, valorizar o que
ocorre nos países desenvolvidos. Uma
marca que quiser ser bem-sucedida na
América Latina tem de mostrar que está
em linha com o que acontece lá fora.
AE Como isso afeta as marcas?Troiano Uma decorrência do “malin-
chismo” é que as marcas, para serem de
fato bem-sucedidas na América Latina,
têm de mostrar que podem ser bem-
sucedidas no exterior. Por exemplo, a
Alpargatas, com as sandálias Havaia-
nas. O calçado sempre foi um sucesso
no Brasil, vendia milhões de unidades
todos os anos, mas era considerado um
produto popular. Quando celebridades
de Hollywood passaram a usar as Ha-
vaianas, os brasileiros promoveram os
chinelos à categoria de objeto de desejo. O
mesmo vale para a rede colombiana Juan
Valdez, de pontos de venda de café.
AE Há mais características latinas?Troiano Os latinos têm uma relação
com seus corpos muito diferente da dos
americanos e europeus. Mesmo se você
observar os países latinos da Europa,
verá que tudo é muito mais coberto e
contido. Na América Latina, as pessoas
são mais voluptuosas e sensuais, e uma
pessoa pode mostrar o corpo e não ser
vulgar. Isso é menos verdade em países
como o Chile, por exemplo, mas vale em
todos os outros países da região.
As empresas brasileiras precisam de profi ssionais que saibam orquestrar
esforços para fazer a marca falar com diferentes públicos

48 AméricaEconomia Novembro, 2009
DINHEIROLATINO
Rentabilidade das empresas e liquidez das ações brasileiras atraem investimentos dos países vizinhos
ANA BORGES, DE SÃO PAULO
O Brasil está no topo da agenda dos investidores latino-
americanos. O volume de recursos da América Latina que
ingressou no mercado de capitais brasileiro cresceu exponen-
cialmente em 2009. Esse movimento deverá continuar em
2010, apesar das medidas recentes para conter a entrada de
dólares por meio do estabelecimento de uma alíquota de 2% no
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos investimentos
em ações. Não há estatísticas ofi ciais sobre o dinheiro que che-
ga, mas estimativas dos profi ssionais de mercado mostram
que o Brasil recebeu cerca de US$ 3 bilhões de investidores
latino-americanos até meados de outubro de 2009, sem con-
siderar o investimento direto. Hoje, segundo cálculos desses
profi ssionais, quase metade do dinheiro latino-americano
investido no exterior vem para o Brasil.
O grande atrativo é a combinação entre a rentabilidade das
empresas e a liquidez das ações. Tradicionalmente, esses dois
elementos vinham estimulando a participação de investido-
res americanos e europeus. Agora, as qualidades do mercado
brasileiro também atraem os endinheirados dos países da Amé-
rica Latina. Outro apelo é a segurança: a obtenção do grau de
investimento, que possibilita o ingresso de recursos de fundos
institucionais. “O Brasil está na rota dos fl uxos internacionais de
capital, e isso inclui outros países latino-americanos”, diz Alfre-
do Coutino, diretor para América Latina da Moody’s Economy.
O Brasil vem recebendo investimentos estrangeiros de US$
30 bilhões por ano em média nos últimos três anos. “Com o
novo apelo dado pelas perspectivas econômicas e pelo grau de
investimento, os fl uxos de capital podem aumentar entre 15%
e 20% nos próximos anos”, estima Coutino. Os investidores de
países vizinhos, em especial México, Chile, Argentina e Vene-
zuela, estão interessados principalmente nos setores de energia
e construção civil, bastante fortes em seus países de origem e
com boas perspectivas por aqui. O grosso do dinheiro ainda virá
de países desenvolvidos, tanto sob a forma de investimento
direto quanto de ações, mas o capital latino é o que tem mais
possibilidades de crescimento no curto prazo.
FINANÇAS BOLSA
Foto
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Novembro, 2009 AméricaEconomia 49
USINA DE ITAIPU: SETOR DE ENERGIA
É O PREFERIDO DOS INVESTIDORES
LATINO-AMERICANOS
HERMANOS AQUIA fatia dos investimentos latinos no Brasil cresce... (Percentual dos investimentos externos latino-americanos no Brasil em % do total estimado)
... Seguindo o bom desempenho do Índice Bovespa
EUA (Dow Jones)
12,6
EUA (S&P 500)
19,1
EUA (Nasdaq)
35,6
México (IPC)
42,5
Venezuela (ICCAS)
48,4
Chile (IPSA)
66,2
Colômbia (IGBC)
76,6
Argentina (Merval)
81,1
Brasil (Ibovespa)
129,3
Peru (IGBVL)
141,6
(Variação % em US$) (a)
Fonte Economática
Fonte Corretoras
(a) Acumulado no ano até 12 de outubro
2004
95
5 2009
52 48
Recursos para o Brasil
Recursos para outros países
INTEGRAÇÃO DAS BOLSASDe olho na força da América Latina, a BM&FBovespa está bus-
cando a integração entre os mercados acionários locais. “A ideia
é estabelecer uma rede de interconexão entre as bolsas de ou-
tros países”, diz João Lauro Amaral, diretor da área internacional
da BM&FBovespa. As negociações mais avançadas são as com
as bolsas de Santiago, Lima e Bogotá, e devem se materializar
a partir de 2010. “Não pretendemos adquirir outras bolsas. As
alianças são mais importantes”, diz ele.
Estabelecer vínculos fortes com outros mercados latino-
americanos está no topo da agenda de Edemir Pinto, presidente
da BM&FBovespa. Pelos acordos que estão sendo negociados,
os investidores tanto no Brasil quanto em outros países da
América Latina poderão visualizar o comportamento dos
papéis de empresas listadas nas diversas bolsas. Além disso, a
BM&FBovespa vai estimular companhias de países vizinhos a
captar recursos no mercado brasileiro, por meio do lançamento
de Brazilian Depositary Receipts (BDR). “A América Latina é um
mercado importante”, disse Pinto, ao anunciar os resultados do
primeiro semestre. “Estamos levando propostas de serviços e
parcerias , e para cada país há um desenho específi co, de acordo
com suas necessidades.”
O grande atrativo do mercado brasileiro é a alta rentabili-
dade oferecida pelas ações. Em 2009, até meados de outubro, o
Índice Bovespa acumulou uma rentabilidade de mais de 129%
em dólares, o segundo melhor desempenho na região, perdendo
apenas para a bolsa do Peru (veja quadro). As diferenças a favor
do mercado brasileiro são a diversidade dos setores negociados
e a maior liquidez, que garante mais facilidade na hora de
comprar e vender ações. Segundo Luis Scaglianti, diretor da
corretora Banif Securities, a diversifi cação na bolsa refl ete a
complexidade e a sofi sticação da economia brasileira, apesar da
relevância de setores básicos como petróleo e mineração.

50 AméricaEconomia Novembro, 2009
APETITE PELO RISCOOs investidores latino-americanos sempre foram tímidos em
seus investimentos no Brasil, apesar da proximidade geográfi -
ca. Tradicionalmente, a preferência era por papéis americanos e
europeus. No entanto, a crise fi nanceira do ano passado mudou
esse comportamento. “O interesse dos investidores chilenos
no Brasil cresce cada vez mais. No início do ano, o volume era
pequeno, mas com a recuperação do mercado a partir de abril,
as pessoas físicas também passaram a ver o mercado brasileiro
como alternativa de investimento”, diz Simon Rosinsky, gestor
do Celfi n Asset Management do Chile. Os ativos aplicados nos
fundos destinados à América Latina passaram de US$ 250 mi-
lhões no início do ano para US$ 600 milhões no fi m de setembro.
Desse total, mais de 60% foram aplicados no Brasil, algo inédito.
O interesse é tanto que o Celfi n criou um fundo dedicado apenas
a investimentos no Brasil. Lançado no início do ano, o fundo já
acumula US$ 60 milhões.
O interesse dos investidores latinos pelo Brasil não apenas
cresceu, mas também mudou de forma e agora exibe um apetite
muito maior pelo risco. As primeiras aplicações destinavam-se
ao mercado de renda fi xa, buscando aproveitar as exuberantes
taxas de juros brasileiras, seja nos títulos públicos, seja em pa-
péis de renda fi xa das empresas. Nos últimos meses, entretanto,
o fl uxo para investimentos em ações aumentou. Os investidores
colombianos e chilenos estão entre os que entraram na partici-
pação do Santander, realizada no início de outubro.
Segundo Mauricio Barreto, vice-presidente de negócios
internacionais da corretora colombiana Ações e Valores, o
apetite dos investidores latinos cresceu devido à resiliência
da economia brasileira em relação à crise internacional. “As
economias brasileira e de outros países emergentes foram
menos golpeadas do que as dos países desenvolvidos. Por isso,
mais investidores vieram para o Brasil”, afi rma. Ele explica que,
no mercado acionário, a preferência é por papéis de grandes
empresas, como Vale, Petrobras e Embraer. “As empresas novas
inspiram menos confi ança e são menos conhecidas, pois nunca
fi zeram uma apresentação na Colômbia”, lembra.
Segundo Rosinsky, do Chile, parte dos investimentos chile-
nos já era, há algum tempo, destinada às grandes companhias,
como Vale, Itaú Unibanco e Petrobras, mas cresce o interesse por
setores ligados à infraestrutura, como a Companhia de Conces-
sões Rodoviárias (CCR). Além disso, as ações do setor imobiliário
também ganham peso por meio de fundos que investem em pa-
péis como MRV, Cyrela e Rossi. O interesse por empresas do setor
de consumo, como Lojas Renner, Pão de Açúcar e Americanas
também aumentou. No setor fi nanceiro, ganham peso tanto
os bancos grandes quanto os médios. “A busca é por ações de
empresas de elevado crescimento e que dependem da economia
doméstica”, afi rma. A Celfi n conta com equipe especializada em
analisar as companhias brasileiras.
O fl uxo de investimentos para o Brasil tenderá a crescer
se os acordos em negociação pelas bolsas forem fechados. No
entanto, os bancos também terão de formar parcerias. “Vamos
estimular o acordo entre os intermediários”, ressalta Amaral.
Tais parcerias já fazem parte da realidade dos mercados locais.
A Banif Securities, ligada ao banco português Banif, atua há
tempos junto com o mercado latino-americano e notou um
aumento do interesse. “Mais e mais clientes pessoas físicas, cor-
retoras e family offi ces latinos nos procuram para abrir contas
no Brasil”, diz Scaglianti. A busca vem de países como o México,
Chile, Argentina e Uruguai.
Já a corretora Souza Barros, por exemplo, abriu recentemen-
te um escritório em Miami para atender clientes no Panamá, na
Colômbia, no Uruguai, no Equador e no Chile. “O conhecimento
deles sobre o Brasil nos surpreendeu, e a demanda por ações é
elevada”, diz Carlos Alberto Souza Barros, diretor-presidente
da corretora, que já fechou dez parcerias na América Latina.
“Temos de deixar de olhar para o próprio umbigo.” EDEMIR PINTO, DA BM&FBOVESPA: FOCO NA AMÉRICA LATINA
20%
Em 2010, o investimento internacional no
Brasil pode crescer
Foto
WIL
SON
DIA
S/A
BR

Novembro, 2009 AméricaEconomia 51
EU PAGONo refl uxo da concorrência, a Investors Trust oferece annuities na América Latina
ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI
WILLIAM ZELAYA: DIVERSIFICAR OS
INVESTIMENTOS É A MELHOR DEFESA
CONTRA A TURBULÊNCIA
Ao lado de uma tela de plasma, sem-
pre sintonizada na Bloomberg TV ou no
canal CNBC, e com uma impressionante
vista do último andar do Bank of Ame-
rica Building, no coração fi nanceiro de
Miami, o americano William Zelaya,
presidente da Investors Trust, explica
que as maiores empresas fi nanceiras
mundiais estão andando na contramão
na América Latina. “Antes de 2001, era
muito fácil obter serviços fi nanceiros
na região”, diz ele. “No entanto, depois
do 11 de setembro e da crise argentina,
americanos e europeus reduziram sua
atuação na América Latina e nos mer-
cados emergentes.”
Zelaya não está reclamando. Ao con-
trário, ele acha esse movimento ótimo.
Foi graças a esse refl uxo que ele e o irmão,
John Zelaya, puderam criar uma empre-
sa nos Estados Unidos dedicada à venda
de annuities na América Latina, com
produtos que concorrem com os grandes
nomes dessa indústria.
Venda do quê? Uma annuity é um
produto de previdência privada, desti-
nado a garantir renda para quem deixa
de receber salário quando se aposenta, e
que representa um compromisso entre a
empresa fi nanceira e o cliente. A empresa
garante um fluxo constante de paga-
mentos em troca de um investimento
inicial do cliente, que pode ser realizado
de uma só vez ou aos poucos, durante
um período de capitalização. Há vários
tipos de annuities. Uma de suas formas
mais conhecidas é a renda vitalícia, em
que as empresas de seguros oferecem
rendimentos aos clientes quando se
aposentam, em troca das economias que
eles acumularam ao longo da vida profi s-
sional, nos planos de previdência.
500A Investors Trust administra US$
milhões em annuities
FINANÇAS PENSÕES
Produto padrão em países desenvol-
vidos, as annuities sempre tiveram um
problema sério na América Latina: a falta
de estabilidade nas regras. Um compro-
misso de longo prazo não combina com
infl ação elevada, solavancos no câmbio,
juros estratosféricos e mudanças de di-
reção da economia. Por isso, com a esta-
bilização das economias, abre-se uma
enorme oportunidade nos mercados
latino-americanos. O negócio com as an-
nuities pode chegar a dezenas de bilhões
de dólares. Segundo o especialista Rober-
to Rezende Rocha, países com mercados
de capital mais sofi sticados, como Chile
e Brasil, têm maior potencial.
O problema, diz Zelaya, é que defen-
der-se das ameaças que ainda pairam
sobre os investidores requer cuidados
especiais. “Nos mercados emergentes,
sempre se busca diversifi car a poupança
para administrar melhor o risco”, diz
Zelaya. “Se você é um médico que vive
em Caracas ou um advogado de Buenos
Aires, é natural que queira proteger parte
de sua poupança de longo prazo apli-
cando em euros ou dólares, porque não
sabe o que pode ocorrer em seu país no
futuro”, afi rma.
Zelaya diz que uma das alternativas
para o investidor é optar por aplicações
com a chamada “arquitetura aberta”,
que oferecem diversas opções, de títulos
negociados no mercado à vista a fundos
dedicados aos mercados emergentes. “O
cliente pode adquirir papéis em qual-
quer parte do mundo e fazer isso apli-
cando em um só produto.”
É essa fl exibilidade que tem permiti-
do à indústria de annuities crescer tanto
nos últimos anos. No entanto, diz Zelaya,
as companhias grandes estão deixando
espaços no mercado. “A retirada das em-
presas americanas e europeias chegou
a tal ponto que elas só trabalham com
clientes com patrimônios de US$ 1 mi-
lhão e, em alguns casos, US$ 2 milhões”,
diz. “Isso cria um grande vazio. E onde há
um vazio, há oportunidades.”

52 AméricaEconomia Novembro, 2009
SEGUROCONTRA PROCESSOS
Crise fi nanceira e internacionalização das empresas brasileiras aumentam demanda por apólices para executivos
ANA BORGES, DE SÃO PAULO
FESTA DOS JOGOS PANAMERICANOS NO RIO: EXECUTIVOS QUEREM PROTEÇÃO PENSANDO NAS OBRAS PARA A OLIMPÍADA DE 2016
Os acionistas da Sadia e da empresa
de celulose Aracruz vão demorar para
esquecer a crise de 2008. As duas em-
presas sofreram prejuízos bilionários.
Seus gestores fi nanceiros foram pegos
desprevenidos pela alta inesperada
do dólar no segundo semestre do ano
passado. Como resultado, o controle
acionário de ambas mudou. Não foi uma
transição tranquila. Vários acionistas
contestaram os termos das vendas na
Justiça e muitos diretores foram proces-
sados, o que colocou em risco seus patri-
mônios pessoais. Os processos alertaram
os executivos para o fato de que um erro
de gestão pode falir uma empresa – e os
acionistas não vão aceitar o fato de bra-
ços cruzados. A preocupação maior com
o patrimônio pessoal elevou a demanda
por seguros de responsabilidade civil de
executivos. Mais conhecido como apóli-
ces para directors & offi cers, ou D&O, esse
tipo de seguro viu sua demanda crescer
consideravelmente no ano passado.
FINANÇAS RISCOS
Foto
RIC
ARD
O S
TUC
KERT
/PR
No primeiro semestre de 2008, o real
se apreciava continuamente em relação
ao dólar, o que afetou o caixa de muitas
empresas e aguçou a cobiça de algumas.
Os especialistas de mercado estimam
que, nesse período, pelo menos 300 com-
panhias recorreram aos derivativos cam-
biais para se protegerem da valorização
do real – ou para especular com ela.
Quando a tendência se inverteu a partir
do terceiro trimestre, o que era proteção
virou pesadelo.

Novembro, 2009 AméricaEconomia 53
Os prejuízos foram pesadíssimos.
No caso da Aracruz, o rombo chegou a
US$ 2 bilhões. De 2003 até a crise, o lucro
com os derivativos havia somado US$
350 milhões. O erro estratégico colocou
os diretores na mira dos processos dos
acionistas, o que deixou outros executi-
vos em alerta. “As empresas contrataram
mais apólices D&O ou aumentaram as
coberturas existentes”, diz Edson Togu-
chi, executivo da seguradora Allianz.
A crise internacional foi um divisor
de águas para o D&O. O mercado tornou-
se muito mais avesso ao risco e, por isso,
os resseguros escassearam. “A crise foi
muito profunda, o que retraiu a oferta e
elevou os preços”, diz Antonio Trindade,
da Itaú Seguros. “Essa situação deve du-
rar dois ou três anos.”
AMÉRICA LATINAO aumento da busca por seguros para
executivos brasileiros também vem
crescendo devido à internacio-
nalização da economia. Em-
presas que operam em países
vizinhos estão mais sujeitas a
sofrer processos devido ao des-
conhecimento do mercado e
a atitudes protecionistas. Da
mesma forma, executivos bra-
sileiros de empresas internacio-
nais podem ser envolvidos em
problemas ocorridos nos países
de origem. Outro fator é a disse-
minação das práticas de gover-
nança corporativa nos países
latino-americanos. “A América
Latina é a menina dos olhos dos
investidores internacionais”,
diz Octávio Luiz Bromatti, di-
retor de Riscos Industriais da
seguradora espanhola Mapfre.
Como o D&O é um pré-re-
quisito para todos estes passos,
ao fi nal de 2009 o mercado terá
acumulado um crescimento de
85% em seis anos. Em 2004, o
volume de prêmios era de R$ 76
milhões e, segundo a Aon, deve
atingir R$ 140 milhões ao fi nal
do terceiro trimestre. A Aon é
uma das maiores corretoras de
seguros atuantes no Brasil, com cerca de
30% do mercado de D&O nacional.
O único ano em que o mercado não
mostrou crescimento foi em 2008, quan-
do o número de sinistros bateu recordes,
mas o volume de prêmios caiu 3% em
relação a 2007. “O crescimento vai con-
tinuar por conta da internacionalização
das empresas brasileiras”, diz Trindade.
MAIS SINISTROSO aumento dos riscos fez o gasto das
seguradoras com indenizações dispa-
rar. O aumento em 2007 foi de 468%,
seguido por 198% em 2008. A estimativa
para 2009 é a de que os sinistros atinjam
R$ 15 milhões, um crescimento de 67%
em relação a 2008. “O risco aumentou,
principalmente com as despesas com
advogados. Ainda há pouca indenização.
Os custos dos processos são elevados”,
diz o diretor de produtos fi nanceiros da
Aon, Guilherme Mendes. Ele ressalta que
a corretora raramente registrava algum
sinistro no passado, mas agora recebe
de três a quatro reclamações por mês. Os
setores mais afetados são o fi nanceiro e
o de telecomunicações.
Um dos motivos de o setor fi nanceiro
ser alvo de rejeição está relacionado ao
fato de que, quando um terceiro entra
com um processo, um número maior de
executivos é mencionado, o que encarece
a defesa. “No Brasil, ainda há uma boa
avaliação das instituições fi nanceiras,
devido à solidez do sistema, mas como
as contestações abrangem todos os di-
retores estatutários, o seguro fi ca mais
caro”, diz Toguchi, da Allianz. “No caso
das telecomunicações, a sinistralidade é
elevada demais.”
A demanda mais recente vem do
setor de construção civil, consequência
do crescimento acelerado das empresas
e das perspectivas de aumento de ne-
gócios por conta dos eventos esportivos
agendados para o Rio de Janeiro.
Com as obras da Copa do Mundo
de 2014 e os trabalhos das Olim-
píadas previstos para se encer-
rarem em 2016, as construtoras
têm investido na tranquilida-
de jurídica de seus executivos.
Obras tão grandes, em geral,
colocam seus responsáveis na
posição de vítimas de acusações
de superfaturamento de obras
ou má gestão dos processos. As
apólices, porém, não cobrem
acusações do primeiro tipo.
Ter ou não seguro D&O faz
parte da gestão de risco das
companhias, mas proporcionar
essa segurança ao alto escalão
ainda não é visto como um di-
ferencial pelos profi ssionais que
atuam no Brasil. “Os executivos
não descartam uma companhia
porque ela não oferece o segu-
ro”, diz o presidente do Instituto
Brasileiro de Relações com In-
vestidores (Ibri), Geraldo Soares.
“O D&O não reduz a responsabi-
lidade do executivo, porém dá
mais tranquilidade para atuar”,
ressalta Soares.
EM BUSCA DE PROTEÇÃOOs gráficos mostram o crescimento das vendas de seguros do tipo Directors & Officers (D&O) no Brasil e o percentual gasto com indenizações
As vendas de apólices crescem...
... E as indenizações também
2004 2005 2006 2007 2008 2009
2004 2005 2006 2007 2008 2009
(Prêmios em R$ milhões)
(Indenizações em % do prêmio)
Fonte Susep, Aon Corretora
76,1
84,988,3
96,493,1
140,7
1,150,71 0,60
3,11
9,5810,45

54 AméricaEconomia Novembro, 2009
Brasil quer acelerar um acordo comercial com o México, mas tudo indica que o fi lé mignon vai fi car de fora
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
DEBATES EXPORTAÇÃO
Até 2008, a empresa brasileira Tito, especializada em lo-
gística, via o México como um paraíso. Sua operação de seis
anos no país oferecendo serviços de entrega porta a porta e
assessoria de comércio exterior registrava crescimentos de
14% ao ano em média. “Em 2009, devido à crise, tivemos 20%
de queda no movimento total”, conta Walter Ferreira, gestor
de desenvolvimento de negócios da Tito.
A opção para a empresa – que já importou uma fábrica
inteira do México e também já exportou celulares e peças
de reposição brasileiras – foi buscar projetos alternativos.
“Estamos prestando serviços para construtoras mexicanas
que trabalham na América Central, diversifi cando nosso raio
de ação”, diz Ferreira.
Nem só de diversifi cação vive Ferreira, porém. O executivo
se entusiasma com a possível ampliação da lista de produtos
que são negociados entre Brasil e México com tarifas de im-
portação e exportação mais baixas, as chamadas preferên-
cias tarifárias. Os dois países assinaram dois acordos de com-
plementação econômica em 2002, o ACE 53 e o ACE 55, especí-
fi co para o setor automotivo. O primeiro acordo, que engloba
796 produtos, poderá ser estendido ou substituído por um
tratado comercial. Mais do que mera burocracia diplomática,
a mudança de termos faz toda a diferença.
Foto
RIC
ARD
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ZOU
RY/I
STO
CKP
HO
TO
EMPERRADASENGRENAGENS
As negociações que começaram no fi m de outubro po-
dem facilitar as exportações do agronegócio brasileiro para o
México e, em contrapartida, ajudar a competitiva indústria
petroquímica mexicana a vender seus produtos por aqui,
só para fi car em alguns exemplos. “As negociações podem
envolver empresas metalúrgicas, de autopeças e varejistas”,
diz Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do departamento de
relações internacionais e comércio exterior da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O sonho de exportadores experientes como Fonseca e
de empresários visionários como Ferreira é poder levar pro-
dutos agroindustriais, eletroeletrônicos, têxteis, plásticos,
farmacêuticos ao México sem enfrentar as pesadas barreiras
comerciais entre os dois países. Apesar de o comércio bilateral
ter mais que duplicado depois dos ACEs – de US$ 2,9 bilhões
em 2002 para US$ 7,4 bilhões em 2008 –, ainda é pouco di-
versifi cado e muito tímido quando se trata das duas maiores
economias latino-americanas. “Nem o México nem o Brasil
entenderam a importância de ampliar os acordos fechados em
2002, porque o intercâmbio comercial sempre esteve muito
concentrado em fi liais de empresas multinacionais nos dois
países, e essa corrente não foi ameaçada”, diz Jorge Navarrete,
embaixador do México no Brasil de 1997 a 2000.

Novembro, 2009 AméricaEconomia 55
6,1%
Tarifas de importação vão cair à metade até 2013, chegando a
Hoje, porém, do posto de pesquisador da Universidade
Nacional Autônoma do México (Unam), Navarrete observa a
urgência de seu país para diversifi car a pauta comercial. Afi -
nal, apesar de ter se tornado um especialista em negociações
de acordos comerciais, o México ainda concentra 90% de seu
comércio exterior com os Estados Unidos. “Mesmo antes da
crise, notava-se que todo o crescimento que o Nafta poderia
trazer – com os Estados Unidos, já que com o Canadá não avan-
çamos – já tinha sido explorado e se estava estagnando”, diz
o ex-embaixador. Com os dois países fi gurando entre os mais
castigados pela crise, o México trata agora de buscar oxigênio
novo em outros territórios. “Se conseguirmos reduzir essa con-
centração de comércio para 75%, já seria um passo importante.
E, na região, não há nenhum parceiro melhor que o Brasil.”
SEM RECEIOSem avançar em negociações comerciais de peso nos últimos
anos, o governo brasileiro também lançou uma corrente pró-
acordo. Ao visitar o Brasil em agosto, o presidente mexicano,
Felipe Calderón, ratifi cou o compromisso de reiniciar tais ne-
gociações, recebendo o apoio de diversas entidades empresa-
riais. Entre elas estava a Confederação Nacional das Indústrias
(CNI), que assinou um documento conjunto com o Conselho
Empresarial Mexicano de Comércio Exterior (Comce), pressio-
nando por um acordo até junho de 2010.
Muito se avançou desde as primeiras reclamações contra
as “maquiadoras”, unidades mexicanas de empresas dos
Estados Unidos que apenas montavam produtos para apro-
veitar os custos menores nesse país. “No começo da década,
tínhamos medo da política de incentivo às maquiadoras e
da proposta de abertura comercial com muitos países que o
México defendia”, diz Lucia Maduro, da unidade de Negocia-
ções Internacionais da CNI. “No entanto, a indústria brasileira
ganhou competitividade e em 2007 começamos a retomar
esse contato.”
Esse ritmo, porém, é considerado lento demais por muitos
analistas. “O Brasil quis jogar todas as fi chas na OMC e na
Rodada de Doha e, com a estagnação desta, agora corre para
ressuscitar os acordos bilaterais com o México e a União Eu-
ropéia”, diz Christian Lobauer, professor do Gacint-USP e atual
presidente-executivo da Citrus, associação de exportadores
brasileiros de suco de laranja.
RITMO LENTOO resultado dessa lentidão se refl etiu nos números. Apesar
de o Brasil ainda ser superavitário, a diferença na balança
comercial entre os países se reduziu fortemente nos últimos
três anos (ver gráfi co na próxima página), com a importação
brasileira crescendo a taxas médias de mais de 50% ao ano,
enquanto suas vendas estagnaram. Resultado que, segundo
analistas, não é justifi cado apenas pela crise econômica. Se-
gundo dados da CNI, a participação dos produtos brasileiros
no mercado mexicano caiu em 2008, enquanto a fatia chinesa
não para de crescer. Em 2002, a presença da China não chegava
ao dobro da brasileira; em 2008, foi seis vezes maior.
A concorrência em setores menos sensíveis poderá tornar-
se ainda mais acirrada caso o cronograma da revisão tarifária
implementada unilateralmente pelo México no fi m do ano
passado se cumpra. A iniciativa do país em meio à explosão da
crise, recebida com surpresa pelo mercado, contempla 70% dos
produtos negociados pelo México. As tarifas de importação
dessa lista, que em 2008 estava em 11% e caíram para 9,7%
este ano, poderão ser gradualmente reduzidas para 6,1% até
2013. “Por isso, não podemos mais nos atrasar e temos que nos
esforçar para chegar a um acordo que envolva ao menos 80%
das tarifas substanciais”, diz Lucia.
MONTADORA BRASILEIRA: O SEGMENTO
AUTOMOTIVO É O MAIS IMPORTANTE NO
COMÉRCIO ENTRE BRASIL E MÉXICO

56 AméricaEconomia Novembro, 2009
A possibilidade de ampliar o acesso ao mercado mexicano
anima até quem teria, a princípio, razões para perder o sono
com a chegada dos mexicanos. “Tivemos que repensar nosso
acordo depois disso, mas ainda assim apoiamos uma proposta,
no nosso caso, com proteção, entre outros, à cadeia de poliéster,
em que eles são competitivos”, afi rma Renato Endres, gerente
de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria
Química (Abiquim).
Para Bernardo Silva, gestor de mercados regionais da agên-
cia de promoção de exportações Apex-Brasil, “o melhor seria
concentrar-se nos setores sensíveis que mais nos interessam”,
referindo-se especialmente ao de carnes. “Dos 70 projetos que
temos em andamento hoje, 55 elegeram o México como um
dos países-alvo, mas, mesmo assim, o país recebeu apenas
0,9% das exportações dessas empresas em 2008”, afi rma.
Aí mora o principal problema: convencer o México a baixar
a resistência em setores onde é menos competitivo, como o
têxtil, certos segmentos eletroeletrônicos e, sobretudo, o agro-
negócio, mercado em que os empresários brasileiros querem
cravar os dentes com gosto e apetite. “Não persistimos em
negociar e até hoje há distorções impressionantes”, diz Chris-
tian Lobauer, que até o começo do ano foi diretor executivo da
Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos
(Abef). “Como é possível que o Brasil, maior exportador mun-
dial de frango, não venda para um país que importa 500 mil
toneladas por ano e compra até da Argentina e do Chile?”
Para ele, ainda que o México demonstre querer ampliar
sua corrente de comércio com o Brasil, a possibilidade de nego-
ciar um espaço no setor agropecuário é pequena. “O Nafta já
exerce muita pressão, pois o México depende, entre outros, do
trigo e do milho americanos e não deve querer abrir seu mer-
cado para outro gigante competitivo”, diz Lobauer. “Até pode-
remos conseguir ampliar a lista de produtos comercializados,
mas não haverá espaço para um acordo ambicioso, pois uma
coisa é vontade política e outra é relevância econômica.”
CETICISMO“Infelizmente, o México está estancado, não sabemos quando
poderá se recuperar plenamente, e os investimento sempre se
movem para países dinâmicos”, diz Navarrete, que tampouco
acredita em grandes vantagens para o Brasil em um futuro
acordo. “Hoje o Brasil deve estar olhando para a China. Essa
iniciativa me parece se basear mais em intenções políticas que
em realidades comerciais”, diz. “Ao menos no curto prazo.”
Gianetti da Fonseca é mais otimista. “Há boas chances nas
negociações, e isso poderá impulsionar inclusive a atividade
das empresas brasileiras que já estão instaladas no México”, diz,
lembrando ainda a possibilidade de desenvolvimento de novos
negócios, como o interesse do governo mexicano pelo etanol.
“Ainda que, nesse caso, o país tenha de resolver problemas fun-
diários antes de iniciar uma produção em larga escala.”
Laura, da CNI, também defende o esforço para chegar a
um acordo, apesar das difi culdades. “Há muito o que liberar.
Os 796 produtos contemplados no primeiro ACE não repre-
sentam sequer 10% dos produtos que podem ser negociados
com o México”, afi rma. “Devemos defender a redução tarifária
automática dos produtos que não são sensíveis e exigir que
os sensíveis estejam contemplados. Afi nal, não são todos os
produtos do agronegócio ou do setor têxtil que podem ser
considerados sensíveis.” Ferreira, da empresa Tito, faz coro.
“Não é hora de desmerecer nenhum avanço.”
BALANÇA DESFAVORÁVEL Saldo comercial doBrasil com o México vem piorando ano a ano
(em US$ milhões)
Fonte Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio(a) acumulado de janeiro a agosto
0
-57
2009 (a)
2000
958
2001
1.176
2002
1.765
2003
2.214
2004
3.254
2005
3.230
2006
3.148
2007
2.281
2008
1.156
GIANETTI DA FONSECA: NEGOCIAÇÕES SERÃO DURAS
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DEBATES EXPORTAÇÃO


58 AméricaEconomia Novembro, 2009
LAVOURAA SALVAÇÃO NA
Uma colheita recorde de soja pode dar novo fôlego à Argentina em 2010, mas há outros problemas de longo prazo no horizonte
RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
PLANTAÇÃO DE SOJA: ÁREA CULTIVADA NA ARGENTINA PODERÁ AUMENTAR EM 19 MILHÕES DE HECTARES
DEBATES ECONOMIA
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Novembro, 2009 AméricaEconomia 59
A banda chamada Soja Stereo – em
alusão ao grupo de rock argentino Soda
Stereo, liderado pelo cantor Gustavo
Ceratti – é um dos quadros de maior su-
cesso entre os programas humorísticos
da TV argentina atualmente. “Transgê-
nico! Um químico que dá mais rendi-
mento!”, é o refrão pegajoso que virou
mania nacional.
Para os argentinos, porém, a soja
não é piada. Ao contrário, pode ser a
salvação para sua economia. Os plan-
tadores esperam colher 79 milhões de
toneladas de grãos nesta safra, sendo 53
milhões só de soja. Essa colheita farta,
que deverá gerar exportações de US$
15 bilhões, poderá responder por um
crescimento de 1,7% do Produto Interno
Bruto (PIB) do país.
Os prognósticos são ainda melhores
quando à prosperidade da soja somam-
se o retorno da Argentina ao mercado
de dívida e a rápida recuperação da
economia brasileira. Esses três fatores
podem fazer o avanço do PIB no ano que
vem ser de animadores 5,5%, muito me-
lhores que os anêmicos 2,5% previstos
há apenas três meses. Nesse cenário de
crescimento, os principais fantasmas
que assombram os argentinos se esva-
em. Desaparecem os temores de calote
da dívida, de problemas fi scais, de fuga
de dólares e de desvalorização cambial.
BENDITA CHUVA“A principal notícia econômica é a chuva
e seu impacto sobre a próxima colheita”,
afi rma o economista Miguel Bein em
suas projeções para 2010. “Apesar de
a precipitação prevista para 2010 ser
menor que a de 2007-2008, deverá cho-
ver 37% mais do que em 2009, quando
houve uma seca brutal”, escreveu Bein.
Segundo ele, há mais razões para o
otimismo. O aumento das exportações
agrícolas compensará a alta das impor-
tações provocada pelo crescimento eco-
nômico. “Sem isso, haveria escassez de
divisas”, diz. O comércio exterior mais
parrudo também “permitirá a recompo-
sição da arrecadação aduaneira no ano
que vem, que sofreu queda de 30% em
2008 e poderá crescer 40% em 2010”.
A área cultivada na Argentina só
vai crescer na próxima safra devido
à expansão da soja, cuja área deverá
aumentar em 19 milhões de hectares.
“A colheita de 2007 foi a melhor da his-
tória, mas a de 2010 vai superá-la em
seis milhões de toneladas”, diz Javier
Bujan, presidente da Câmara Arbitral
de Cereais. “Nas demais culturas ha-
verá estabilidade ou redução da área
plantada.” Os produtores rurais ainda
se ressentem do confl ito com o governo,
cuja memória traz incerteza.
INFLAÇÃONo entanto, a pujança da soja e a expor-
tação de automóveis para o Brasil, que
está em franca expansão, não podem
resolver sozinhos todos os males que
afetam a Argentina. Rodrigo Álvarez,
economista da Ecolatina, diz estar pre-
ocupado com a dinâmica dos mercados
internos. “O consumo está muito preju-
dicado pela infl ação, que é de 14%”, diz.
“A receita dos excedentes das exporta-
ções não vai se transferir diretamente
para o consumo
e para o mercado,
como ocorreu en-
tre 2003 e 2007.”
A infl ação é uma
ameaça que não
se dissipa, pois a
Argentina conti-
nua com diversos
problemas estru-
turais, tanto os
relevantes quanto
os imperdoáveis –
como a necessidade de uma reforma tri-
butária geral –, questões que ninguém
parece disposto a enfrentar.
Victoria Ghiarrizo, titular do Centro
de Economia Regional e Experimental
(Cerx), também está no grupo dos cau-
telosos. “O cenários não é bom, as pes-
soas continuam controlando gastos, e o
governo não tem margem para realizar
políticas ativas. Por isso, estou menos
otimista que o restante.” A analista
também questiona a recuperação da de-
manda externa. Nos mercados globais,
diz ela, há uma conduta de especulação
da qual os operadores gostam. É como
uma pessoa que vai ao cassino mesmo
sabendo que vai perder na maioria das
vezes. “A irracionalidade ainda prevale-
ce”, completa.
A soja faz parte desse cassino. Ape-
sar de os preços internacionais terem
subido recentemente devido à deman-
da da China e a questões internas dos
Estados Unidos, “os fundamentos do
mercado da soja são de baixa”, diz Bu-
ján. “Parte da alta está relacionada aos
fundos que apostaram nas commodi-
ties.” A soja é usada para apostas muito
arriscadas, que incluem combinações
entre ela, o dólar, o euro e o petróleo.
“Hoje, o que se vê nesse mercado é um
eletrocardiograma. Não são as especu-
lações de longo prazo, como as de outros
tempos”, diz Buján.
Mesmo com essas ressalvas, o prog-
nóstico de Bein é de uma melhora con-
sistente na economia. “Nosso cenário
básico é um crescimento de 4,2%, com
15,5% de infl ação. Isso se não houver
abertura ao crédito externo”, diz ele. Na
caso de haver es-
sa abertura, o eco-
nomista estima
que o crescimen-
to pode ser de até
6%, mas com 17%
de infl ação.”
No entanto,
há outros pro-
blemas que des-
pontam no ho-
rizonte. A atual
capacidade ocio-
sa permitirá sustentar a recuperação
por 15 ou 18 meses sem a necessidade
de investimentos relevantes. E depois?
“Na Argentina, a questão institucional
é terrível. Isso gera permanentes crises
de confi ança” diz Victoria. “Além disso,
se o país não defender uma reforma
tributária, não haverá estratégia viável
para nada.” Segundo a analista, “aqui
a propensão a sonegar é tão alta que,
quando se oferece a possibilidade de
sonegar dois pesos que sejam, todos o
fazem”, diz ela. E, o que é pior, sentem-se
orgulhosos disso.
1,7%
Isoladamente, a soja pode trazer um crescimento
do PIB de

60 AméricaEconomia Novembro, 2009
CRIMESÓCIOS NO
Remanescentes do Sendero Luminoso prosperam na economia ilegal – e crescente – da cocaCECILIA NIEZEN, DE LIMA
FUNERAL MILITAR NO PERU: REPRESSÃO ARMADA É APENAS UMA DAS FACETAS DO COMBATE AO NARCOTRÁFICO
Os mortos-vivos não aparecem ape-
nas nos fi lmes de Hollywood. O Sendero
Luminoso, grupo guerrilheiro de inspi-
ração maoísta que semeou o terror no
Peru nos anos 80 e 90 e foi o responsável
por milhares de mortes, já não é mais o
cadáver que os peruanos imaginavam
ter enterrado. No entanto, o Sendero
que ressurgiu da tumba é, se possível,
pior que sua encarnação anterior. Se
antes os radicais saíam do seio de uni-
versidades, hoje seus remanescentes se
aliaram ao narcotráfi co e recrutam sua
massa entre os pobres das áreas rurais
que dependem do cultivo da coca. O
novo Sendero mostra que o Peru conti-
nua em dívida com a integração e com
o desenvolvimento das regiões mais
pobres do país.
O ressurgimento do Sendero é uma
preocupação que vem se intensifi can-
do diariamente nos últimos 15 me-
ses. O grupo já assassinou mais de 40
policiais e militares em sucessivas
emboscadas na região do vale dos Rios
Apurímac e Ene, conhecida como Vrae.
Trata-se de uma área montanhosa de
difícil acesso, coberta de bosques e o
principal centro de produção da folha
de coca no Peru. Paralelamente a esse
DEBATES NARCOTRÁFICO
ressurgimento, os assassinatos por
acerto de contas de narcotrafi cantes em
diferentes cidades do país passaram a
ser cada vez mais frequentes.
Apesar de os dois tipos de violência
responderem a lógicas e interesses dife-
rentes, os especialistas concordam em
dizer que hoje o Sendero Luminoso e o
narcotráfi co trabalham mais próximos
do que nunca. Fabián Novak, ex-vice-
ministro do Ministério de Defesa do Pe-
ru, diz que o crescimento dessa aliança
poderia “levar o país a um cenário como
o das Farc na Colômbia”, caso não sejam
adotadas políticas adequadas.

Novembro, 2009 AméricaEconomia 61
ALÁN GARCIA, PRESIDENTE DO PERU:
PEDIDOS DE PACIÊNCIA
O sociólogo Jaime Antezana, espe-
cialista em segurança interna e narco-
tráfi co, concorda. “Diferentemente dos
anos 80, quando o Sendero se relacio-
nava com o tráfi co oferecendo apenas
segurança à atividade e a seus líderes,
hoje o grupo é um ator presente em vá-
rios elos da cadeia de produção da coca”,
diz. “Inclusive, pode ter se convertido
em mais uma empresa do narcotráfi -
co.” Para ele, as autoridades poderiam
estar perdendo o controle da situação,
e as consequências seriam funestas. “O
narcotráfi co está gerando um processo
de crime organizado muito mais sofi sti-
cado do que os que conhecemos.”
O presidente Alán Garcia vem pe-
dindo paciência e declarou que os úl-
timos ataques na região do Vrae não
representam “nem a décima, nem a
centésima parte do que o país viveu na
década de 80”. Mesmo assim, os especia-
listas advertem que o potencial de vio-
lência é grande. A economia baseada no
cultivo da folha de coca e na produção
de cocaína gera uma rede de corrupção
que pode corroer as frágeis instituições
democráticas peruanas. Em termos eco-
nômicos, diz Novak, a lavagem anual de
dinheiro é de aproximadamente US$ 5,7
bilhões, valor equivalente a 6% do Pro-
duto Interno Bruto (PIB) do Peru.
Para o advogado e especialista em se-
gurança nacional Rubén Vargas, não se
pode subestimar o Sendero. “Essa organi-
zação nunca foi derrotada militarmente,
e sua estrutura militar permaneceu
intacta, mesmo que a cúpula dirigente
esteja na cadeia desde 1992”, afi rma.
Os prováveis 300 homens que ope-
ram no Vrae são dissidentes do líder
Abigael Guzmán, preso em 1992 e conde-
nado à prisão perpétua, e de sua política
de recolhimento das tropas, e defendem
a continuidade da luta armada. Violento
e fortemente armado, o Sendero Lumino-
so atual adotou uma estratégia diferente
do confronto com a população nos anos
80. Agora, o grupo quer aproximar-se dos
camponeses e ganhar sua confi ança, por
exemplo, “defendendo” os agricultores
dos planos do governo de erradicação do
cultivo da folha de coca.
Se acrescentarmos a esse coquetel
um Estado ausente – cifras ofi ciais indi-
cam 70% de pobreza na zona do Vrae – o
potencial de explosão aumenta. Lorenzo
Castillo, gerente da Junta Nacional do
Café, lamenta que o Estado não tenha uma
estratégia de desenvolvimento social para
melhorar a vida dos
habitantes do Vrae.
Castillo conhe-
ce bem o problema,
pois a Junta repre-
senta 44 organiza-
ções de cafeicul-
tores, que somam
mais de 40 mil fa-
mílias produtoras.
“A miséria”, diz ele, “é uma forma de
alentar a economia ilícita.” Os cafei-
cultores peruanos, que são milhares de
pequenos agricultores, têm conseguido
se manter de pé, apesar da situação difí-
cil. Em 2008, as exportações alcançaram
US$ 650 milhões. Na região do Vrae, onde
o cultivo de café ocupa 10 mil hectares e
6%
Lavagem de dinheiro equivale a
do PIB peruano
emprega 5 mil cafeicultores, a produção
estancou por falta de investimento na
renovação das plantações.
O senso comum diz que, se o gover-
no cortar o oxigênio do narcotráfi co, os
senderistas também vão morrer asfi xia-
dos. A realidade, porém, é bem diferente.
A área cultivada com coca cresce sem
parar no Peru. Segundo cifras ofi ciais, o
cultivo cresceu de 53,7 mil hectares em
2007 para 56,1 mil hectares em 2008.
O ex-vice-ministro Novak faz um
cálculo que, se confi rmado, aumentará
ainda mais as razões para a preocu-
pação. Segundo ele, há regiões onde a
economia agrária dedicada ao cultivo
de coca – não para sua industrialização
em produtos ou mercados ilícitos, mas
para o fornecimento ao narcotráfi co –
representa 28% da economia agrária
de Cusco, 47% da de Huánuco e 70% da
de Ayacucho. “Isso mostra como está se
desenhando não uma simples atividade
ilegal, mas toda uma cadeia produtiva
bem articulada.”
Qual seria a alternativa? Segundo
Novak, a solução tem de ser integral. Há
a repressão: presença policial e militar,
controle da venda de insumos químicos
e o ataque à lavagem de dinheiro nos
níveis mais altos da rede. Há as campa-
nhas antidrogas. E,
principalmente, as
autoridades perua-
nas precisam apos-
tar no desenvolvi-
mento econômico
e social na região
do Vrae. O Sende-
ro, diz Antezana,
não crescerá como
cresceu nos anos 80, nas universidades
ou entre os estudantes radicalizados.
Hoje, ele pode crescer nos vales onde os
jovens vão trabalhar como pistoleiros
ou como pisadores de coca. “O renascer
do Sendero virá na proporção direta das
necessidades econômicas das pessoas”,
diz Antezana. Mau augúrio.
Foto
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GEN
CIA
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DIN
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62 AméricaEconomia Novembro, 2009
MÉDICOTURISMO
A medicina latino-americana surge como paliativo frente à crise do sistema de saúde dos Estados Unidos
ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI
Ves Gitchev ainda não tinha se formado em Me-
dicina quando chegou à conclusão de que exercer
sua profi ssão nos Estados Unidos não era um bom
negócio. Os custos da prática médica eram muito al-
tos. A remuneração paga pelas grandes seguradoras
era muito baixa. Essa combinação signifi caria muitos
anos de trabalho até conquistar o estilo de vida com
que sonhava ao começar a estudar Medicina. Por
isso, apesar dos esforços para se formar, Gitchev hoje
não atende nenhum paciente em seu escritório em
Miami. Seu trabalho é levar uma multidão deles para
serem consultados por doutores na América Latina.
A concorrência é enorme. Nos Estados Unidos, há
centenas de empresas e profi ssionais dedicados ao
que se pode chamar de turismo médico. Essa ativida-
de é jovem, mas vem crescendo rapidamente e pro-
mete movimentar dezenas de bilhões de dólares em
pouco tempo – boa parte deles na América Latina.
Gitchev, búlgaro que fez sua residência em Atlan-
ta e na República Dominicana, afi rma que os hospi-
tais latino-americanos e de outras regiões podem
ser a cura para um mal crônico do sistema de saúde
americano, os custos elevados e sempre crescentes,
especialmente para os pacientes que não têm plano
de saúde. Eles são obrigados a pagar do próprio bolso
por tratamentos que podem ser feitos na América
Latina a preços até 80% menores.
“Começamos a identifi car essa tendência como
uma alternativa individual para a profunda crise do
sistema de saúde nos Estados Unidos. O turismo mé-
dico pode não ser uma solução no longo prazo, mas
serve como um paliativo, pois permite que pessoas
sem acesso a cuidados médicos neste país recebam
tratamento”, diz Gitchev, diretor-executivo do Worl-
ESPECIAL CLÍNICAS

Novembro, 2009 AméricaEconomia 63
dwide Medical Partners, uma das muitas empresas
que surgiram nos Estados Unidos e que são conheci-
das como “facilitadoras” do turismo médico.
Renee-Marie Stephano, presidente da Associa-
ção de Turismo Médico dos Estados Unidos, diz que
mais de 1,6 milhão de norte-americanos viajarão ao
exterior em 2010 para se tratar de alguma doença.
“A maioria deve ir para a América Latina,” diz. Isso é
só o começo do que pode ser um negócio gigantesco.
Segundo cálculos da associação, o turismo médico
deve crescer exponencialmente na próxima década.
“Cerca de 23 milhões de norte-americanos viajarão
ao exterior para se tratar até 2017, gastando cerca
US$ 79,5 bilhões por ano, metade na América Lati-
na”, diz Jonathan Edelheit, presidente-executivo da
associação. Uma fatia vai para as empresas “facili-
tadoras”, que servem de intermediárias entre o pa-
ciente, o hospital e o médico adequado para atender
suas necessidades.
Patrick Marsek, diretor geral da MedRetreat,
afi rma que empresas como a sua têm de garantir que
os médicos e hospitais escolhidos sejam capazes de
atender às necessidades específi cas dos pacientes,
muitos dos quais mostram uma inicial e compreen-
sível resistência a viajar para fora do Primeiro Mun-
do para cuidar de sua saúde. As resistências desapa-
recem, porém, quando o facilitador demonstra ter
feito a pesquisa correta dos diferentes centros para
comprovar a qualidade do serviço e dos médicos.
Marsek decidiu apostar nesse negócio exata-
mente por descobrir que havia serviços médicos
de alta qualidade no exterior – e candidatos a usá-
los. “Vi um nicho de mercado,
pois os babyboomers estavam
envelhecendo e teriam neces-
sidade de cuidados médicos”,
diz ele. “O número de pessoas
sem seguro-saúde ou com uma
cobertura médica inadequa-
da estava crescendo.” Em seus
poucos anos de atividade, Mar-
sek viu o número de pessoas
sem seguro-saúde crescer de
40 milhões para 48 milhões.
“Esses pacientes teriam de cuidar de diversos deta-
lhes, então por que não montar uma empresa que
lhes permita fazer isso de forma segura?” Os deta-
lhes são não só o tratamento médico, mas as reservas
de passagens de avião e de quartos de hotel e a com-
pra de medicamentos, além de outros insumos que o
paciente precisar. Em troca, a empresa fi ca com uma
fatia do custo total a ser pago pelo paciente.
Os hospitais latino-americanos logo percebe-
ram essa oportunidade de negócio. Isabella Stump,
porta-voz do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo,
afi rma que o hospital recebe cerca de mil pacientes
do exterior todos os anos, muitos deles brasileiros
que moram nos Estados Unidos. “O número de pa-
cientes do exterior tem aumentado bastante nos
últimos anos, especialmente no caso de procedi-
mentos estéticos”, diz Stump. “O aumento dos preços
nos Estados Unidos faz muitos pacientes buscarem
centros capazes de realizá-los com qualidade e por
valores muito mais baixos.”
As perspectivas são tão boas que o hospital está
se preparando para fazer mais negócios. O Oswaldo
Cruz já começou a construir um novo edifício, com
inauguração prevista para 2014, e também está se
preparando para receber a certifi cação do organismo
fi scalizador desse serviço nos Estados Unidos, o Joint
Commission International, e se fi liando à Associação
de Turismo Médico dos Estados Unidos. Os procedi-
mentos administrativos estão sendo aperfeiçoados,
e o hospital está recrutando pessoal bilíngue para
atender à nova clientela.
Nem todos são tão confi antes. As grandes se-
guradoras americanas têm se mostrado resistentes
em oferecer apólices que cubram os gastos de uma
viagem ao exterior, caso da seguradora Aetna, por
exemplo. Christine Erb, porta-voz da empresa, diz
que a Aetna só tem um programa piloto com uma
companhia que oferece a opção de realizar certos
tratamentos ortopédicos fora do país.
A causa dessa resistência é o temor sobre o que
ocorreria se houvesse algum
problema durante o procedi-
mento, já que os médicos da re-
gião, em geral, não têm seguros
que os protejam contra proces-
sos. Nos Estados Unidos, essa
cobertura é obrigatória. Seu
preço elevado, que pode variar
entre US$ 150 mil e US$ 200 mil
por ano para cada médico, é um
dos motores que alimentam a
atual crise do sistema de saúde
do país e bloqueia o acesso de milhões de pessoas aos
cuidados médicos. Também é um dos motivos que
levam as pessoas a procurar tratamentos na América
Latina, diz Gitchev. “Como pagam caro pelos seguros,
os médicos têm de atender de 30 a 50 pacientes por
dia para cobrir seus custos. E se o paciente só pode ter
uma ou duas consultas antes de se submeter a uma
cirurgia, o que pensar da qualidade do serviço?”
1,6milhão de americanos
viajarão para se tratar em 2010

64 AméricaEconomia Novembro, 2009
ESPECIAL CLÍNICAS
SAÚDECHECK UP NA
Pela primeira vez, clínicas e hospitais da América Latina nos apresentam detalhes de sua gestão. O resultado? Sua qualidade está em perfeita saúde
ANDRÉS ALMEIDA FARGA, DE SANTIAGO
Nas salas de embarque dos aeroportos norte-
americanos é cada vez mais frequente a presença de
um novo tipo de viajante: aquele que vai para outro
país em busca de um tratamento médico que seja di-
ferente dos que são oferecidos nos Estados Unidos, ou
seja, caiba em seu bolso. Muitos percorrem milhares
de quilômetros até hospitais e clínicas na Ásia e na
Europa Oriental.
A América Latina ainda não se tornou um des-
tino preferencial. As grandes clínicas e hospitais da
região ainda não têm atraído muitos pacientes, tanto
dos Estados Unidos quanto do resto do mundo, mas
as perspectivas são boas. Um dos motivos é o des-
conhecimento. Ainda se sabe muito pouco sobre os
centros médicos da região. Quando se fala em saúde
na América Latina, as imagens que vêm à mente de
muitas pessoas no Primeiro Mundo são dengue ou
malária, não instituições de alto padrão.
Por isso, AméricaEconomía Intelligence impôs-se
o desafi o de conhecer melhor os grandes hospitais
da região e seus pontos fortes em gestão, qualidade
do corpo médico e serviços aos pacientes. O resulta-
do desse esforço está em suas mãos. Durante meses,
trabalhamos com um comitê de especialistas (ver
página 71) para desenvolver uma metodologia que
permitisse avaliar a qualidade dos centros médicos,
especifi camente aqueles que se classifi cam como
polivalentes – que atendem várias especialidades
médicas – ou de alta complexidade. O primeiro
passo foi reunir informações fornecidas pelos Mi-
nistérios da Saúde de dez países latinos e por outras
instituições internacionais. Cerca de 180 hospitais e
clínicas de toda a região foram convidados a partici-
par. Muitos se recusaram a fazer parte da pesquisa,
especialmente os do México, devido à epidemia de
gripe do tipo A (H1N1).

Novembro, 2009 AméricaEconomia 65
O grupo que aceitou participar, porém, fez valer
nosso esforço. As clínicas abriram suas portas e con-
versaram detalhadamente com nossos pesquisado-
res. Com isso, chegamos à lista das 20 que apresenta-
ram os melhores resultados, lideradas pelo Hospital
Albert Einstein, de São Paulo, e seguido pela Clínica
Alemana, de Santiago do Chile, em uma relação que
inclui hospitais e clínicas privados, universitários e
públicos de Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica,
Chile, México, Uruguai e Venezuela.
Cada instituição foi avaliada sob diferentes
aspectos. O primeiro foi a segurança hospitalar, defi -
nida como a capacidade da instituição de minimizar
os riscos. Para medi-la, foram solicitados indicadores
como infecção hospitalar. O índice médio entre os
hospitais certifi cados por instituições importantes,
como a International Joint Commission ou a Interna-
tional Society for Quality in Health Care, é de 5,2%. A
segurança não se mede só por resultados. Também
são relevantes os processos para diminuir riscos.
Por isso, também se avaliou a existência de proce-
dimentos como registros, gestão e transparência de
informações médicas e percepção dos pacientes (co-
mo as pesquisas de satisfação), aplicação sistemática
de boas práticas e disponibilidade de profi ssionais
nos turnos de emergências. Ainda se observou a
presença e a frequência de reuniões dos Comitês de
Ética, já que tais entidades são responsáveis por zelar
pela dignidade dos pacientes.
O segundo aspecto analisado para cada hospital
foi o fator humano. Muitos pacientes escolhem o
médico antes do hospital, pois reconhecem a impor-
tância do profi ssional no atendimento de saúde que
receberão. Foi por essa razão que AméricaEconomía
Intelligence considerou a formação dos médicos a va-
riável mais importante. Contrariando as previsões,
essa informação não estava prontamente disponível
na maioria dos hospitais e clínicas. Em muitos casos,
foi impossível obter as informações acadêmicas e as
especializações dos médicos fi xos.
A falta de conhecimento sobre as pessoas que
trabalham em uma instituição complexa como os
hospitais é uma defi ciência geral detectada neste es-
tudo. Isso não signifi ca que os hospitais e as clínicas
da América Latina não conheçam seus médicos, mas
que a investigação se limita a um padrão mínimo
de comprovação de estudo no momento da contra-
tação, sem acompanhamento posterior. O estudo
demonstrou que 91,4% dos médicos dos 20 melhores
da região têm ao menos uma especialização; 32,4%
têm, além da especialização, uma habilidade espe-
cífi ca em sua área; e apenas 1,9% tem duas ou mais
habilidades específi cas. Além disso, 9% dos médicos
com habilidades específi cas estudaram em renoma-
das universidades ou centros nos Estados Unidos e
na Europa; aqueles que têm duas habilidades espe-
cífi cas somaram 15,7%, e 84% no caso dos que têm
três especialidades.
O TAMANHO IMPORTA À medida que um hospital ou uma clínica amplia sua
quantidade de pacientes, operações, especialidades
e quantidade de exames, ou então inclui unidades
como pronto socorro ou neonatologia, sua operação
se torna mais complexa. Em termos práticos, isso
signifi ca que o hospital precisa redobrar seus esforços
Fonte AméricaEconomía Intelligence% de instituições que possuem departamentos de genética DE OLHO NO DNA
Públicos
Privados 34
Universitários
8
58
%
Fonte AméricaEconomía Intelligence
SEMPRE DE PLANTÃOEnfermeiras disponíveis por leito
0 1 2 3 4 5
H. SÍRIO-LIBANÊS (BR)
H. ALBERT EINSTEIN (BR)
P. METROPOLITANA (VE)
C. ALEMANA (CL)
H. MÉDICA SUR (MX)
SANATORIO AMERICANO (UY)
H. NOVE DE JULHO (BR)
H. UNIVERSITARIO AUSTRAL (AR)
H. ALEMÃO OSWALDO CRUZ (BR)
H. ALEMÁN (AR)
4,5
4,3
4,1
3,2
2,9
2,7
2,6
2,5
2,5
2,4

66 AméricaEconomia Novembro, 2009
ESPECIAL CLÍNICAS
para manter seus padrões gerais de qualidade. Por
isso, este estudo incluiu o aspecto Capacidade, que
permite ponderar a complexidade dessas instituições.
Se uma clínica consegue manter um bom nível com
maior complexidade, seus processos são melhores
que a média.
Também se mediu a capacidade de atendimento
dos hospitais, calculando as relações entre a quanti-
dade de médicos e pacientes ambulatoriais, e entre
enfermeiras e pacientes ambulatoriais. Foi incluída
ainda uma série de serviços extras oferecidos pelos
hospitais – em geral sua hotelaria –, que represen-
tam a capacidade de gerar conforto aos pacientes e
acompanhantes, fator igualmente importante no
turismo médico.
Outra dimensão fundamental da qualidade hos-
pitalar é a gestão do conhecimento. As fronteiras da
medicina avançam velozmente, o que obriga hospi-
tais e clínicas a se atualizarem constantemente. Não
apenas isso: muitos dos avanços médicos, tanto no
que se refere a diagnósticos quanto a tratamentos,
nascem nos hospitais. Esse aspecto avalia as contri-
buições do conhecimento de cada hospital ou clínica
(de acordo com o critério de papers ISI - Institute
for Scientifi c Information), bem como a existência
de ferramentas e meios de difusão e atualização
de conhecimentos para seu pessoal. Por exemplo,
consultou-se a quantidade de títulos e assinaturas
de revistas especializadas nas bibliotecas dos hos-
pitais. Nos 20 melhores hospitais e clínicas, a média
de títulos por biblioteca é de 1.664 e a de assinaturas
é de 1.022. Não é o padrão. Inúmeros hospitais não
têm bibliotecas nem ferramentas de atualização de
conhecimentos. Alguns sequer oferecem e-mail ou
internet para seus profi ssionais, usando provedores
gratuitos, como Hotmail, Gmail ou Yahoo.
A SAÚDE TEM PREÇO, SIM Observou-se também a efi ciência hospitalar, que é a
adequação correta entre o custo de um atendimento
médico e sua qualidade. Isso é um grande problema,
demonstrado em casos como o de uma paciente que
1 HOSPITAL ALBERT EINSTEIN . b r São Paulo Privado 1971 JCI 6.000 8* 18.400* 86.000
2 CLÍNICA ALEMANA . c l Santiago Privado 1905 JCI 671 33,2 23.713 129.343
3 HOSPITAL DAS CLÍNICAS . b r São Paulo Universitário 1944 ISO 1.400 61,3* 86.000* 352.000
4 HOSPITAL UNIVERSITARIO AUSTRAL . a r Buenos Aires Universitário 2000 JCI 528 39,39 8.057 20.000
5 HOSPITAL CLÍNICA BÍBLICA . c r San José Privado 1929 JCI 170 68,82 8.841** 26.907
6 HOSPITAL PABLO TOBÓN URIBE . c o Medellín Privado 1970 ISQUA 271 52,77 11.293 51.023
7 HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ . b r São Paulo Privado 1897 JCI 52 3,85 17.038 72.000
8 SANATORIO AMERICANO . u y Montevidéu Privado 1944 − 282 95,39 7.572 8.083
9 HOSPITAL ALEMÁN . a r Buenos Aires Privado 1867 JCI 514 100,00 12.732 28.000
10 HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS . b r São Paulo Privado 1921 JCI 2.755 5,08 14.524 99.990
11 HOSPITAL CLÍNICO U. DE CHILE . c l Santiago Universitário 1952 − 587 43,95 24.542 55.420
12 HOSPITAL DEL TRABAJADOR . c l Santiago Privado 1971 ISO 170 40,59 8.534 53.840
13 HOSP. UNIVERSITARIO SAN IGNACIO . c o Bogotá Universitário 1944 − 267 73,41 21.470 28.000
14 HOSPITAL MEDICASUR . m x C. do México Privado 1983 ISO 900 20,00 15.542 90.418
15 HOSP. SÃO VICENTE DE PAULO . b r Rio de Janeiro Privado 1968 JCI 357 96,36 4.415** 26.503
16 FUNDACIÓN VALLE DEL LILI . c o Cali Universitário 1982 ISQUA 269 88,48 14.399 43.600
17 CLÍNICA DEL OCCIDENTE . c o Bogotá Privado 1982 ISQUA 182 20,34 11.588 1.100
18 POLICLÍNICA METROPOLITANA . v e Caracas Privado 1970 − 219 − 12.463 56.000
19 HOSP. GENERAL DE MEDELLÍN . c o Medellín Público 1949 ISQUA 205 66,30 17.399 42.789
20 HOSP. SAN RAFAEL DE ALAJUELA . c r San José Público 1883 − 130 77,86 15.278 39.375
Hospital ou clínica País CidadeTipo deHospital
Ano deFundação
PrincipalCertificaçãoInternacional
MédicosNºAltas
M²ConstruídosNº PI%***RK 09
IJC = International Joint Commission / ISO = International Organization for Standardization / ISQUA = International Society for Quality in Health Care

Novembro, 2009 AméricaEconomia 67
chegou a uma clínica chilena com dor de cabeça e,
após tratamentos que custaram mais de US$ 3 mil,
recebeu a recomendação de voltar para casa e tomar
uma aspirina, sem qualquer recomendação adicio-
nal do médico que a atendeu.
Não é fácil medir efi ciência. O problema está na
difi culdade do setor médico em gerar padrões que
permitam estabelecer uma correlação aceitável
entre a racionalização de recursos e a qualidade
mínima exigida no atendimento médico. Por isso,
foram usadas variáveis muito básicas que, embora
não permitam diferenciar a complexidade dos casos
atendidos em cada hospital, ao menos fornecem
números globais. Os custos médios por paciente
ambulatorial entre as 20 instituições deste ranking é
de US$ 1.900. A taxa de ocupação de leitos é de 79,5%
e a média anual de cirurgias por sala é 1.213. Foram
incluídos também indicadores de desenvolvimento
digital e implementação de boas práticas de gestão.
Os hospitais e clínicas – pelo menos os privados
– também são empresas. Nesse sentido, foram obti-
dos dados fi nanceiros que permitem uma avaliação
de sua rentabilidade. A rentabilidade patrimonial
média (ROE) dos 20 hospitais deste ranking é de
13,5%, enquanto a rentabilidade sobre ativos (ROA)
é de 6,8%.
A última dimensão usada foi a percepção de
qualidade e a reputação das instituições, medida
por meio de uma pesquisa aplicada a 700 médicos
de todos os países onde foi realizada a pesquisa, que
opinaram sobre a qualidade de 180 instituições que
compõem o sistema terciário de atendimento de
saúde e foram incluídas na pré-seleção. Chile, Brasil
e Argentina foram os de maior destaque.
Da ponderação do fator nacional e regional, mais
o “fator país”, surgiu o indicador de prestígio deste
ranking, que defi niu o Hospital Albert Einstein, em
São Paulo, como o 1º colocado, seguido pela Clínica
Alemana, de Santiago, o Hospital das Clínicas da
Universidade de São Paulo e o Hospital Alemão
Oswaldo Cruz, ambos na capital paulista. Também
obtiveram altas pontuações o Hospital Universitario
Nº Leitos2008
Ocupaçãode Leitos Segurança Eficiência Prestígio
CapitalHumano Capacidade
Gestão doConhecimento
Índice dequalidade Página na Internet (www.) RK 09
1500 80% 96,7 88,8 66,1 64,7 58,2 82,5100,0 einstein.br
2317 72% 78,7 99,4 48,1 54,5 68,6 75,685,6 alemana.cl
32.177 80% 55,5 82,9 81,4 79,7 56,4 74,078,2 hcnet.usp.br
4109 89% 54,6 77,4 43,0 58,1 52,5 61,166,6 hospitalaustral.edu.ar
5110 55% 76,4 80,3 36,1 3,8 88,6 60,266,6 hospitalclinicabiblica.com
6286 88% 77,0 58,4 46,8 41,0 48,8 59,366,6 hptu.org.co
7273 80% 70,9 48,3 41,5 55,0 57,5 58,967,8 hospitalalemao.org.br
8148 69% 58,0 84,9 26,1 45,0 57,9 58,363,0 americano.com.uy
9160 80% 69,5 90,0 35,7 29,3 29,6 56,551,8 hospitalaleman.com
10292 83% 65,3 54,0 65,5 28,7 30,9 53,955,5 hospitalsiriolibanes.org.br
11607 64% 55,2 64,4 38,7 57,5 65,5 53,629,1 redclinica.cl
12222 75% 58,0 72,9 32,8 55,3 70,0 53,217,6 hts.cl
13301 92% 56,9 52,2 42,0 69,3 66,6 53,127,8 husi.org.co
14170 65% 54,3 62,0 36,6 45,8 80,0 52,733,3 medicasur.com.mx
15114 82% 79,4 66,5 38,9 30,6 43,7 49,38,3 hsvp.org.br
16295 91% 61,5 43,2 41,4 47,9 34,2 47,036,1 valledelili.org.co
17158 89% 66,5 50,5 39,1 3,8 100,0 45,312,4 clinicadeloccidente.com
18136 79% 46,4 56,1 36,4 14,2 57,3 44,649,9 policlinicametropolitana.com.ve
19418 91% 53,9 51,7 20,9 40,2 87,4 44,19,7 hgm.gov.co
20238 90% 51,3 67,4 32,7 30,1 49,9 42,67,3 ccss.sa.cr
* Dados estimados por AméricaEconomía Intelligence / ** Altas cirúrgicas / *** Período Integral (mais de seis horas diárias)

68 AméricaEconomia Novembro, 2009
ESPECIAL CLÍNICAS
Austral, de Buenos Aires; a Clínica Bíblica de San
José, da Costa Rica; e o Hospital Pablo Tobón Uribe,
da Colômbia. Também receberam altas pontuações
clínicas e hospitais que não puderam participar. Foi
o caso do Hospital Italiano e da Fundación Favarolo,
ambos na Argentina, assim como e da Clínica Las
Condes, de Santiago, que desfrutam de uma sólida
reputação em seus países e na região.
O EIXO BRASIL - CHILE - COLÔMBIA Os países em que a pesquisa despertou mais entu-
siasmo são os que têm melhores processos de certifi -
cação. O Brasil está um passo à frente. Seus melhores
hospitais foram acreditados pela Joint Commission
International (JCI), uma entidade exigente que certi-
fi ca, em nível mundial, a segurança e a gestão. Nove
dos melhores hospitais e clínicas deste ranking têm
Fonte AméricaEconomía Intelligence (considera 33 hospitais da amostra)
CUIDANDO DO CORAÇÃO% de cirurgias cardiovasculares do total de intervenções cirúrgicas
SANATORIO AMERICANO (UY)
C. LEÓN XIII (CO)
H. NOVE DE JULHO (BR)
H. SAN JUAN DE DIOS (CL)
H. BRASÍLIA (BR)
C. ALEMANA TEMUCO (CL)
C. INDISA (CL)
F. VALLE DEL LILI (CO)
H. BANDEIRANTES (BR)
H. CLÍNICAS CARACAS (VE)
0 5 10 15 20 25
20,3
14,6
12,6
10,9
6,4
6,3
6,1
5,2
4,7
3,4
Fonte AméricaEconomía Intelligence (considera 33 hospitais da amostra)
SÓ PARA ELAS% de cirurgias ginecológicas do total de intervenções cirúrgicas
H. GENERAL DE MEDELLÍN (CO)
H. DE CLÍNICAS CARACAS (VE)
H. CLÍNICO U. DE CHILE (CL)
C. BÍBLICA (CR)
C. INDISA (CL)
H. PASTEUR (BR)
C. INTERNACIONAL (PE)
P. METROPOLITANA (VE)
H. SAN RAFAEL DE ALAJUELA (CR)
C. RICARDO PALMA (PE)
0 5 10 15 20 25 30
28,9
24,0
18,2
18,0
17,7
16,4
16,1
15,9
12,3
10,7
Fonte AméricaEconomía Intelligence (considera 33 hospitais da amostra)
SEM TEMER AS QUEDAS% de cirurgias ortopédicas no total de intervenções cirúrgicas
H. GENERAL DE MEDELLÍN (CO)
H. UNIVERSITARIO SAN IGNACIO (CO)
F. VALLE DEL LILI (CO)
H. DEL TRABAJADOR (CL)
SANATORIO AMERICANO (UY)
H. ALEMÁN (AR)
H. PASTEUR (BR)
H. ALEMÃO OSWALDO CRUZ (BR)
C. RICARDO PALMA (PE)
H. UNIVERSITARIO AUSTRAL (AR)
0 10 20 30 40 50 60 70 80
66,5
46,4
38,4
37,9
23,8
21,9
21,2
19,9
17,5
16,4
Fonte AméricaEconomía Intelligence (considera 33 hospitais da amostra)
SINAPSES A TODO VAPOR% de neurocirurgias no total de intervenções cirúrgicas
H. PASTEUR (BR)
H. GENERAL DE MEDELLÍN (CO)
C. INDISA (CL)
H. NOVE DE JULHO (BR)
F. VALLE DEL LILI (CO)
H. UNIVERSITARIO SAN IGNACIO (CO)
SANATORIO AMERICANO (UY)
H. BANDEIRANTES (BR)
H. BRASÍLIA (BR)
H. CLÍNICO U. DE CHILE (CL)
0 2 4 6 8 10
8,3
5,7
5,6
5,5
4,9
4,3
4,2
4,2
4,1
3,8
esse selo, inclusive o número 1, o Hospital Albert
Einstein, que conta com a certificação JCI desde
1999, sendo a primeira instituição a recebê-la fora
dos Estados Unidos e da Europa.
No Chile, destacam-se a Clínica Alemana (2º), que
exibe a JCI há pouco tempo, o Hospital Clínico de la
Universidad de Chile (11º) e o Hospital del Trabajador
(12º). Parte da motivação das entidades hospitalares
chilenas nasce do processo de certifi cação nacional
pelo qual está passando todo o setor público e parte
do privado. A necessidade de certifi cação obrigou os
hospitais a divulgar seus dados e muitos tiveram de
levantá-los pela primeira vez.
O caso da Colômbia é semelhante. O país se en-
contra em pleno processo nacional de certifi cação, e
percebe-se nele uma ansiedade em comparar dados
e comemorar vitórias. Daí os bons lugares alcança-

dos por três hospitais colombianos: o Hospital Pablo
Tobón Uribe (6º), o Hospital Universitario San Ignacio
(13º) e a Fundación Valle del Lili (16º).
Guardadas as devidas proporções, também se
destacaram Costa Rica e Uruguai, países peque-
nos e, consequentemente, com poucos hospitais e
clínicas animados a participar, mas com grande
potencial de estabelecer nomes como operadores
de qualidade internacional. A Costa Rica já o fez, em
particular através da Clínica Bíblica (5º). O Uruguai
pode consegui-lo através do desenvolvimento de
entidades como o Sanatorio Americano (8º).
Casos à parte são o colombiano Hospital General
de Medellín (19º) e o costarriquenho Hospital de
Alajuela (20º), os únicos hospitais públicos incluídos
neste ranking. Eles se destacam por terem aceitado
ser comparados com o setor privado e com os hos-
pitais universitários, que reconhecidamente têm
objetivos diferentes e, portanto, modos de gestão
orientados à efi ciência sob outros parâmetros. Ape-
sar disso, exibiram indicadores melhores do que
várias entidades privadas que não alcançaram o
grupo dos 20 primeiros colocados no ranking.
Fonte AméricaEconomía Intelligence
O FATOR PAÍSNota média do sistema de saúde de cada país segundo médicos da América Latina
7,90 7,887,36 7,21 6,91 6,74
6,215,72
6,556,20
5,48
CHIL
E
BRAS
IL
MÉX
ICO
ARGE
NTIN
A
COLÔ
MBI
A
AMÉR
ICA
LATI
NA
URUG
UAI
PERU
COST
A RI
CA
CUBA
VENE
ZUEL
A

70 AméricaEconomia Novembro, 2009
ESPECIAL CLÍNICAS
Fonte AméricaEconomía Intelligence
HOSPITAL OU CLÍNICA %
BRASIL: DOMÍNIO PAULISTANO
Hospital Alemão Oswaldo Cruz1
Hospital Albert Einstein2
Hospital Sírio- Libanês3
Hospital São Luiz4
Hospital das Clínicas São Paulo5
25,1
21,1
16,5
8,2
4,4
Pesquisa com médicos brasileiros sobre prestígio dos hospitais em seu país
OS ELEMENTOS DA QUALIDADEOs itens mais relevantes na avaliação dos hospitais, segundo os médicos da América Latina
Limpezae higiene 9,24
Equipe médica altamentecapacitada 9,24
Desenvolvimento eaplicação de boas práticas 9,09
Garantia dos direitos do paciente 9,09
Excelência profissional daequipe de apoio médico 9,04
Tecnologia médica 8,94
Ampla variedade deespecialidades médicas 8,91
Infraestrutura 8,90
Satisfação dos pacientes 8,85
Controle de intercorrências 8,84
Exames de qualidade nopróprio hospital 8,70
Eficiência na administraçãodo hospital 8,61
Certificações nacionais 8,47
Existência e funcionamento decomitês de ética 8,27
Relações do hospital comredes de apoio clínico 8,21
Certificaçõesinternacionais 8,15
Pesquisa e geraçãode conhecimento 8,00
Hotelaria 7,95
Fonte AméricaEconomía Intelligence (nota máxima = 10)
Fonte AméricaEconomía Intelligence
HOSPITAL OU CLÍNICA %
Clínica Alemana1
Hospital Clínico UC2
Clínica Las Condes3
Clínica Indisa4
Hospital U. de Chile5
26,7
18,2
17,7
10,6
7,8
Pesquisa com médicos chilenos sobre prestígio dos hospitais em seu paísCHILE: PRIVADOS VERSUS UNIVERSITÁRIOS
Fonte AméricaEconomía Intelligence
HOSPITAL OU CLÍNICA %
Hospital Universitario Austral1
Hospital Italiano de Buenos Aires2
Hospital Alemán3
Hospital Británico de Buenos Aires4
Hospital Universitario Dr. René Favaloro5
25,2
23,4
18,3
13,1
7,5
Pesquisa com médicos argentinos sobre prestígio dos hospitais em seu paísARGENTINA: COMUNIDADES E UNIVERSIDADES
Fonte AméricaEconomía Intelligence
HOSPITAL OU CLÍNICA %
Hospital Pablo Tobón Uribe1
Fundación Santa Fé de Bogotá2
Fundación Valle del Lili3
Fundación Hospitalaria San Vicente de Paul4
Hospital Universitario San Ignacio5
21,9
16,2
11,9
9,7
8,8
Pesquisa com médicos colombianos sobre prestígio dos hospitais em seu paísCOLÔMBIA: NEM SÓ EM BOGOTÁ
A GRIPE A(H1N1) E CUBA A participação foi escassa no México e na Argentina,
não pela ausência de boas clínicas, mas porque a me-
dição foi realizada em plena crise da gripe A(H1N1),
que levou esses centros ao colapso. Apesar disso,
o Hospital Medicasur (14º), do México; o Hospital
Universitario Austral (4º) e o Hospital Alemán de
Buenos Aires (9º), ambos da Argentina, se predispu-
seram a participar.
Um caso à parte é o de Cuba. O país é famoso pela
qualidade de seus médicos e hospitais, e buscamos
incluir ao menos uma das instituições mais reconhe-
cidas, o Hermanos Amejeiras. Mas o entusiasmo foi
extinto pelo Ministério da Saúde, que ordenou que
o hospital não participasse, decisão que esperamos
seja revogada até a próxima edição deste estudo.
Estes são os primeiros resultados de uma pesqui-
sa inédita, em um setor que ainda está aprendendo
a divulgar seus procedimentos. Algo fundamental
para os que buscam abrir-se para o mundo.
Metodologia disponível em www.americaeconomia.com

Novembro, 2009 AméricaEconomia 71
A VOZ DOS ESPECIALISTAS
ANA MARIA MALIK FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
“O primeiro passo para uma visão integra-
da de um sistema de saúde é a possibili-
dade de estabelecer comparações entre as
unidades que o compõem. Claro que aqui
não se trata do sistema de saúde como um
todo, mas de hospitais tidos como refe-
rência em alguns países. Neste momento,
não se consegue dispor de comparações
defi nitivas. No entanto, o conhecimento
desses dados oferece pistas sobre qual o
caminho a ser seguido e cria pontes para
o diálogo. Saber se os hospitais são com-
paráveis e o que os torna únicos ajuda a ter
uma visão de conjunto. A América Latina
é muito grande e heterogênea, mas tem
aspectos que a unem. Como membro de
algumas associações latinas, posso dizer o
quanto nos enriquece dispor de uma visão
de conjunto, tanto para ver semelhanças
como diferenças.”
GABRIEL BASTÍAS UNIVERSIDADE CATÓLICA DO CHILE
“Entre as metodologias utilizadas para mo-
nitorar o desempenho hospitalar, temos a
construção de uma lista classifi catória dos
hospitais. No entanto, é necessário ter cer-
ta cautela em sua aplicação, pois as listas
classifi catórias não permitem identifi car as
causas de determinados comportamentos,
trazendo consigo apenas uma evidência
parcial para a melhoria do desempenho.
Há também controvérsias na área técnica
e na gerencial. A discussão gira em torno
de saber se os dados disponíveis permitem
comparações, se é possível realizar ajustes
adequados em função da gravidade dos
atendimentos, se os números comprome-
tidos são sufi cientes para tirar conclusões
e se os dados são adequadamente contro-
lados pelas características dos pacientes.
As reais diferenças de gravidade dos casos
são difíceis de medir e alguns estudos de-
Para desenvolver a metodologia e a estratégia de análise que deu base a este especial, a equipe de AméricaEconomía In-telligence contou com um grupo de profi ssionais em gestão e qualidade hospitalar. Veja aqui o que esse grupo - do qual ainda participaram Gonzalo Vecina, da Universidade de São Paulo, e Rafael González, da Universidade Nacional Autônoma do México - tem a dizer sobre os desafi os deste estudo.
monstraram que ajustes mais rigorosos dos
dados poderiam produzir mudanças signi-
fi cativas em tais listas de classifi cação.”
RODOLFO QUIRÓS UNIVERSIDADE CATÓLICA ARGENTINA
“Ultimamente, vem ganhando importância
o conceito de segurança no atendimento
ao paciente, sendo que os esforços da OMS
e da Comissão Conjunta Internacional têm
sido gerar protocolos de segurança para
reduzir a ocorrência de eventos adversos.
Esse monitoramento requer, ainda, a possi-
bilidade de que sejam estabelecidas com-
parações válidas entre os indicadores, tan-
to com padrões locais como internacionais.
No entanto, é difícil desenvolver compara-
ções amplamente validadas, já que muitas
variáveis poderão representar elementos
determinantes dos resultados observados.
Não basta apenas compreender que a gra-
vidade dos pacientes pode variar de uma
instituição para outra (as instituições de
maior complexidade costumam dar mais
atenção aos pacientes mais graves). É pre-
ciso entender que os indicadores podem
mostrar piores resultados nas instituições
de maior complexidade, sem que isso sig-
nifi que pior atendimento. Para evitar cair
nesse tipo de contradição, poderíamos
prescindir inicialmente da comparação
de resultados, para avançarmos na com-
paração dos processos. Nesse sentido, é
possível que melhores processos possam
garantir melhores resultados. O futuro ca-
minha nessa direção, com foco na análise
e na melhora contínua dos processos, mais
do que nos próprios resultados”.
MARCOS VERGARA UNIVERSIDADE DO CHILE
“Em matéria de gestão de organizações, a
comparação é salutar. Conhecer e compar-
tilhar melhores práticas é um requisito in-
dispensável para um bom comportamento
empresarial em ambientes competitivos.
Os hospitais não são exceção, embora sua
trajetória no mundo da gestão seja recente
e tenha se limitado a importar o desen-
volvido nos últimos 60 anos. No entanto,
quando comparamos hospitais devemos
adotar certas precauções. O consumo de
serviços hospitalares representa um risco
não existente em outras atividades. Um
hospital atende três clientes: o paciente, o
médico e as seguradoras. A ingerência do
Estado na gestão dos hospitais tem sido
mais importante do que em outras áreas,
confi gurando ambientes pouco competiti-
vos. E, por último, a infl uência das indústrias
farmacêutica e de tecnologia, cujo aparato
de marketing instala na mente do consu-
midor – e na dos médicos– padrões através
dos quais os serviços são avaliados.”
GERMÁN GONZÁLEZ UNIVERSIDADE DE ANTIOQUIA
“Não devemos confundir saúde com não
estar doente. A saúde é entendida hoje
como um estado infl uenciado pela bio-
logia humana, pelo meio ambiente, pelo
estilo de vida, pelas condutas de saúde,
bem como pelos sistemas de assistência
sanitária. Portanto, devemos reconhecer as
grandes limitações a que estamos sujeitos,
dada a diversidade dos contextos. Neste
estudo, buscou-se oferecer uma visão de
instituições hospitalares que apresentem
alto nível de complexidade, mas que ainda
não constituem uma amostra representa-
tiva do contexto geral dos países latino-
americanos. O que se pretendeu foi dar
início a um processo que permita fomen-
tar a qualidade do atendimento hospitalar
na América Latina, esperando que, com o
tempo, possamos transformá-lo em um
instrumento para incrementar um aten-
dimento humanizado de boa qualidade,
com o melhor pessoal e com a tecnologia
mais econômica disponível.”

72 AméricaEconomia Novembro, 2009
As escolas de negócios buscam levar seus programas de educação executiva ao topo do organograma empresarial
Observe o presidente de sua empresa. Você pode
achar que ele não tem mais nada a aprender. E ele
talvez ache que não tem tempo para frequentar uma
sala de aula entre tantas reuniões, apresentações da
diretoria, trabalho de campo e partidas de golfe. Nem
todos os CEOs, ou Chief Executive Offi cers, pensam
assim. Pergunte, por exemplo, a Patricio Lira, diretor
do TS Group, o que ele pensa do Programa Internacio-
nal de Diretoria (Piad), da Universidade Adolfo Ibáñez,
no Chile. “O Piad permitiu que eu me relacionasse e
compartilhasse experiências com executivos e cul-
turas empresariais locais, nacionais e internacionais,
e ampliasse nossa rede de contatos.”
Como Lira, há um crescente grupo de executivos
no topo do organograma voltando às aulas. Atendê-
los não é uma tarefa fácil para as escolas de negócios.
ESPECIAL EDUCAÇÃO EXECUTIVA
O QUE A DIRETORIA BUSCA?Percentual de cursos, por áreas, dirigidos a esse grupo
Empreendimento
Operações
Inovação
EconomiaRecursosHumanos
Marketing
Finanças
Liderança
Estratégia
Outras áreas%
5,95,1
3,6
7,6
16,9
11,1
8,6
7,8
31,1
2,6
Fonte AméricaEconomía Intelligence
Percentual de cursos, por áreas, dirigidos a esse grupo O QUE OS GERENTES BUSCAM?
Empreendimento
Operações
Inovação
Economia
Recursos Humanos
Marketing
Finanças
Liderança
Estratégia
Outras áreas
16,515,5
14,8
12,3
10,7 8,25,5
3,7
3,6
9,3
%
Fonte AméricaEconomía Intelligence
DANIELA GONZÁLEZ E EVELYN QUEZADA, DE SANTIAGO
CEOsA LUTAPELOS
Os CEOs são um público exigente, que busca o que
há de mais inovador e avançado em matéria de co-
nhecimento. Os programas de diretoria tornaram-se
um dos espaços mais competitivos entre aqueles que
aspiram formar executivos. E é um dos segmentos
que mais crescem: há três anos, apenas 12,5% das
escolas tinham programas dedicados à diretoria das
empresas. Hoje são 18,2%.
Essa é uma das conclusões desta nova edição
do ranking de Educação Executiva, elaborado pela
AméricaEconomía Intelligence todos os anos para
orientar as empresas que investem muito dinheiro
na formação de seus quadros gerenciais. Este ano, o
primeiro lugar fi cou pela primeira vez com uma uni-
versidade chilena, a Adolfo Ibáñez, que confi rmou
a escalada que vinha realizando. Supera por pouco

Novembro, 2009 AméricaEconomia 73
Empreendimento
Operações
Inovação
Economia
RecursosHumanos
MarketingFinanças
Liderança
Estratégia Outras áreas
Percentual de cursos, por áreas, dirigidos a esse grupo
O QUE OS PROFISSIONAIS BUSCAM?
%
16,115,1
14,7 11,7
13,3
10,9 8,6
4,12,92,6
Fonte AméricaEconomía Intelligence
Alta Direção Gerência Profissionais Operações
Valores em US$, por segmento/hora
PESQUISANDO PREÇOS?
Fonte AméricaEconomía Intelligence
4.839
1.110
269
2.762
811330
2.561
749170
977517
129
Valor máximo
Valor médio
Valor mínimo
a brasileira Fundação Dom Cabral, que subiu do 4º
lugar em 2008 para o 2º este ano.
As escolas são avaliadas por quatro critérios (veja
quadro à página 76). Durante a pesquisa, grande par-
te das escolas informou que seus principais esforços
visavam criar cursos para executivos. O desafi o está
em abordar as empresas de forma estratégica, dando
ênfase a temas como liderança, desenvolvimento
de novos negócios, empreendimento e inovação.
A tradicional IAE Business School, da Argentina,
mostra isso. “Trata-se de um processo de crescimento
pessoal que estimula novas ações para guiar a mu-
dança”, diz José María Corrales, diretor de Formação
de Executivos.
Tudo aponta para a formação de diretores com
novas capacidades de gestão. Nesse sentido, o papel
dos professores é fundamental. Na faculdade Kellogg,
da Northwestern University (EUA), que registra um
dos maiores índices de participação de executivos
em suas aulas, os cursos dedicados a esse segmento
são ministrados por membros sênior de seu corpo
docente. “Esses programas são importantes porque
garantem mudanças, já que a diretoria é quem lidera
esse processo e as transfere ao ambiente de traba-
lho”, afi rma Rafael Carrasco, diretor do Centro de
Educação Executiva da Universidade Adolfo Ibáñez.
“Hoje é preciso infl uenciar não apenas em conhe-
cimentos e habilidades, mas também em atitudes.
É um processo que deve ser muito bem planejado e
que depende da habilidade de nossos professores em
serem considerados referências, e não apenas fontes
de informação”, destaca Percy Marquina, diretor de
Educação Executiva da Centrum, no Peru.
DESDE O INTERIOR A autonomia e a personalização dos programas é ou-
tro ponto de destaque. As escolas pesquisadas mos-
tram grande preocupação em atender às necessida-
des das empresas. Para elas, a etapa de diagnóstico é
primordial, já que é a essência de uma universidade
corporativa: alinhar totalmente o aprendizado aos
objetivos da organização. Para a argentina IAE, o
importante é “ser uma parceira estratégica das em-
presas: procuramos criar os programas sob medida,
tendo em mente que existe uma nova realidade”,
assinala José María Corrales.
A forte concorrência que existe na região no mer-
cado de educação corporativa é o principal desafi o a
ser enfrentado pelas escolas. A ênfase está em oferecer
um produto diferenciado. “Para acertar na confi gura-
ção de um programa, é muito importante conhecer
bem a empresa cliente, as melhores práticas de seu
setor e as tendências do mercado no qual atua”, afi rma
Josep Valor, vice-reitor adjunto do Iese, escola de negó-
cios da Universidade de Navarra, na Espanha.
“Conseguir bom entendimento, tanto da realidade
da empresa quanto dos participantes do programa, e
os objetivos específi cos buscados no curso, permitem
realizar uma atividade de sucesso do ponto de vista da
empresa”, afi rma Patricio Donoso, diretor do Centro de
Desenvolvimento Diretivo da Escola de Administra-
ção da PUC no Chile.
Os programas de universidades corporativas
também exigem que escolas diferentes se alinhem.
Este é o caso do Advanced Management Program,
desenvolvido para a farmacêutica suíça Novartis, no
qual a coordenação acadêmica fi ca a cargo da norte-

74 AméricaEconomia Novembro, 2009
americana FIU, enquanto os módulos para a América
Latina fi cam a cargo da UAI, do Chile; do Itam, no Mé-
xico; e da Uniandes, na Colômbia; entre outras.
Para enfrentar um cenário comercial em muta-
ção, essa oferta internacional também se diversifi ca.
Exemplo disso é o programa Brics on Brics, desenvolvi-
do pela Fundação Dom Cabral (FDC) juntamente com a
School of Management da Fudan University (China), a
Indian School of Business (Índia) e a Moscow School of
Management – Skoljovo (Rússia), para apresentar aos
executivos as particularidades dessas economias que,
juntas, representam 40% do crescimento econômico
mundial. “A relevância de um programa como esse vai
ao encontro de uma necessidade de também fortaceler
a própria rede internacional de nossa escola”, diz Carlos
Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da FDC e
diretor executivo do recém-criado Conselho Consul-
tivo Internacional, do qual fazem parte presidentes e
CEOs de empresas como o Grupo Los Grobo (Argenti-
na), Rio Tinto (Austrália) e a Odebrecht (Brasil).
As escolas desenvolveram metodologias inova-
doras, que englobam cada uma das etapas do ciclo
de gestão de formação de executivos, como no caso
da chilena Adolfo Ibáñez que, com seu ciclo de diag-
nóstico, concepção, realização e avaliação, conseguiu
o primeiro lugar no ranking, também em função de
sua internacionalização, que aos poucos se consolida
no campus de Miami.
RK 09 RK 08 Escola País *Nº ClientesÍndice
Empresas **Percentual de cursos
Cobertura de clientes Robustez da oferta
Pequenas Médias GrandesNº Programas
1 2 U. ADOLFO IBÁÑEZ . c l 62 213 0,0% 7,4% 92,6% 94,3 23,6 40,8 29,3 6,4
2 4 FDC . b r 156 440 2,0% 3,3% 94,7% 92,1 24,8 48,2 19,7 7,3
3 1 IAE U. AUSTRAL . a r 486 251 44,9% 24,4% 30,7% 100,0 18,8 54,3 19,7 7,2
4 8 PUC CHILE . c l 80 172 5,1% 17,9% 76,9% 80,9 21,4 50,0 20,6 7,9
5 9 U. DE SAN ANDRÉS . a r 75 94 0,0% 20,5% 79,5% 86,6 23,0 46,6 21,1 9,3
6 3 ITAM . m x 124 486 5,4% 20,3% 74,3% 93,8 14,3 75,3 8,1 2,3
7 7 INSTITUTO DE EMPRESA . e s 72 183 0,0% 55,3% 44,7% 74,2 17,1 37,9 40,3 4,7
8 13 KELLOGG . u s 10 401 0,0% 0,0% 100,0% 76,8 29,3 45,7 16,4 8,6
9 16 U. TORCUATO DI TELLA . a r 55 43 1,8% 62,5% 35,7% 77,6 19,4 51,2 21,7 7,8
10 10 ESADE . e s 25 57 4,0% 8,0% 88,0% 85,0 24,8 47,3 18,6 9,3
11 5 UNIANDES . c o 27 175 0,0% 20,0% 80,0% 77,2 22,0 62,4 10,7 4,9
12 19 ESIC . e s 39 649 0,0% 12,8% 87,2% 83,5 21,1 52,2 22,7 4,0
13 12 IESE . e s 53 329 2,4% 11,9% 85,7% 61,6 35,8 44,0 12,8 7,4
14 14 CENTRUM . p e 149 1.238 22,0% 23,4% 54,6% 59,2 17,0 53,8 28,2 1,1
15 15 IBMEC SP . b r 29 180 10,3% 0,0% 89,7% 82,8 21,6 48,3 21,6 8,6
16 6 IESA . v e 28 597 3,4% 37,9% 58,6% 65,5 13,4 48,8 31,9 5,9
17 18 U. DEL PACÍFICO . p e 70 168 0,0% 0,0% 100,0% 75,2 37,9 29,2 27,7 5,1
18 11 ESAN . p e 256 928 13,8% 50,4% 35,8% 71,3 6,0 33,9 58,6 1,5
19 21 ADEN . a r 69 435 10,4% 50,7% 38,8% 53,3 11,6 57,9 27,7 2,8
20 − U. ANÁHUAC NORTE . m x 15 90 18,2% 27,3% 54,5% 54,9 24,6 50,0 17,5 7,9
21 17 U. DEL DESARROLLO . c l 41 171 13,8% 55,2% 31,0% 52,5 12,8 26,9 55,9 4,4
22 22 IDE . e c 20 69 5,0% 45,0% 50,0% 54,7 16,0 39,1 38,5 6,4
23 − U. DEL ROSARIO . c o 12 205 85,9% 7,0% 7,0% 50,1 25,0 43,1 25,0 6,9
24 23 IEDE . c l 37 73 5,4% 13,5% 81,1% 50,5 31,1 44,5 16,0 8,4
AD GER PRO OP
25 26 U. AMERICANA . p y 11 11 N.D. N.D. N.D. 44,2 23,0 46,9 19,5 10,6
26 − U. SAN FRANCISCO . e c 7 25 16,7% 50,0% 33,3% 44,3 20,5 47,9 22,2 9,4
* Nº de clientes declarados em relação ao tempo de relacionamento com a escola. **AD = Alta Diretoria; GER = Gerência; PRO = Profissionais e OP = Operacionais
ESPECIAL EDUCAÇÃO EXECUTIVA

Novembro, 2009 AméricaEconomia 75
Além de precisarem se adaptar ao nível de sofi s-
ticação de seus clientes, as escolas tiveram outros de-
safi os signifi cativos durante 2009. Muitas reconhece-
ram que neste ano sofreram redução nos orçamentos
de capacitação por parte das empresas. Apesar disso,
existem áreas estratégicas dentro das corporações
que não são deixadas de lado nem durante períodos
de crise, como fi nanças e tributação, de acordo com
Mónica Sacristán, diretora de Desenvolvimento Exe-
cutivo da mexicana Itam.
Quem tem números mais animadores é a FDC,
pois até o momento apresenta lucro em seus balan-
ços, principalmente em função do aumento de seus
programas abertos no exterior. Segundo Arruda, do
Núcleo de Inovação, a internacionalização é o resulta-
do de um pensamento estratégico maturado há anos
e que, segundo ele, não existe na maioria das escolas
brasileiras. “Esse esforço envolveu desde um forte
trabalho de marca, que resultou até na mudança do
logotipo da escola, a um processo de aproximação com
instituições e empresas estrangeiras”, afi rma.
Outra aposta que ajudou na hora da crise foi a do
centro Idea da Universidade Anáhuac Norte, no Mé-
xico, que abordou novos projetos de ordem governa-
mental, tanto em âmbito municipal quanto federal, o
que lhe permitiu ser a estreia mais importante nesta
versão 2009 do ranking, no 20º lugar, seguida pela in-
corporação da colombiana Universidade del Rosario,
Cobertura de clientes Robustez da oferta
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
PONTUAÇÃO FINALÍndiceoferta % Prof Ph.D. Experiência Índice de Professores
Qualidade de convênios Alianças
Índice de Redes Internacionais RK 09
95,9
99,7
86,5
91,1
93,3
84,5
75,3
100,0
81,5
86,9
84,2
88,1
94,9
81,4
76,6
80,7
79,1
65,1
74,1
81,2
64,8
61,2
74,1
60,0
39,0
22,8
50,0
32,6
31,0
34,5
40,8
84,0
32,3
40,4
36,0
34,1
82,2
40,2
52,6
61,1
11,1
15,8
11,9
12,2
22,1
12,0
14,0
26,2
Baixa
Média Alta
Média Baixa
Média Baixa
Baixa
Média Baixa
Média Alta
Média Baixa
Média Baixa
Média Baixa
Baixa
Alta
Alta
Média Alta
Média Baixa
Média Baixa
Baixa
Alta
Média Alta
Média Baixa
Média Baixa
Média Baixa
Baixa
Média Baixa
71,2
79,9
74,3
100,0
68,8
69,7
80,8
84,3
85,3
62,7
71,7
85,8
98,7
79,6
75,5
74,3
63,1
82,9
81,7
73,4
73,1
71,9
55,1
63,2
95,2
45,5
42,3
100,0
71,4
52,1
31,7
71,4
89,6
47,6
55,6
23,8
39,3
71,4
63,5
60,4
23,8
42,6
65,5
N.D
47,6
59,5
47,6
23,8
−
UNICON
UNICON
SUMAQ, UNICON
SUMAQ, UNICON
UNICON
SUMAQ, UNICON
UNICON
−
UNICON
SUMAQ, UNICON
−
UNICON
−
−
SUMAQ, UNICON
−
−
−
−
−
−
−
−
100,0
65,2
67,1
84,4
81,8
79,4
99,9
52,0
77,0
57,9
69,6
28,9
55,6
86,5
45,7
73,7
56,1
74,1
84,1
59,5
61,3
38,3
29,3
25,0
93,6
87,8
86,8
86,6
85,9
85,7
80,4
79,6
79,4
77,9
77,2
74,2
74,1
73,3
72,8
72,5
71,3
71,2
68,5
65,6
60,0
55,1
53,6
49,5
25
26
71,9
58,3
21,1
22,2
Média Baixa
Baixa
67,3
52,9
N.D.
N.D.
−
−
1,0
1,0
46,2
40,7
As variáveis tabuladas são representativas apenas de cada dimensão e não são as únicas que compõem cada índice.

76 AméricaEconomia Novembro, 2009
SEM SAIR DA EMPRESA Índice de qualidade de professores visitantes
U. DE SAN ANDRÉS
U. TORCUATO DI TELLA
ANÁHUAC NORTE
UDESA
FDC
IE
IDE
UNIANDES
ESIC
KELLOGG
0 20 40 60 80 100
100
63,8
56,3
56,3
44,0
40,2
39,9
38,9
37,5
37,5
ANÁH
UAC
NORT
E
U. A
DOLF
OIB
ÁNEZ
IESE
IESA
ESAN
ESAD
E
ADEN FD
C
CENT
RUM
IAE U
.AU
STRA
L
COBERTURA TOTAL Nº de cidades e países em que as universidades mantêm programas fora de suas sedes
Nº de cidades Nº de países32 32
25
9
29
12
18
1417
8
14
7 75 6
13 13 1311 10
Fonte AméricaEconomía Intelligence
Distribuição de clientes, segundo tamanho JOGO DE GRANDES
Grandes
Médias
Pequenas
%
51,5
21,1
27,4
COMO FAZEMOS O RANKING DE EDUCAÇÃO EXECUTIVA
ESPECIAL EDUCAÇÃO EXECUTIVA
na 23ª colocação, e pela Universidade San Francisco
de Quito, do Equador, na 26ª.
Com essas estratégias, as escolas de negócios não
apenas contornaram as difi culdades de um ano difícil
na área de capacitação executiva, mas também atingi-
ram um grau de sofi sticação à altura de seus clientes
mais importantes, o que permitiu que elas ofereces-
sem com segurança cursos voltados às posições mais
altas no organograma empresarial. No fi m das contas,
a experiência adquirida em seus programas corpora-
tivos lhes possibilita identifi car com grande precisão
aquilo que seus clientes precisam, fazendo com que as
demandas dos CEOs da região sejam atendidas.
Cobertura de clientes (40%): Mede o tamanho das empresas que
contratam os programas por seu volume de vendas, dividindo-
as em pequenas, médias ou grandes. A integridade dos clientes
refere-se à relação harmônica entre o tamanho destes. O índice
de fi delidade avalia os 10% de empresas clientes mais antigas, de
acordo com a antiguidade do centro de desenvolvimento execu-
tivo. A variável de crescimento refere-se à porcentagem de novos
clientes no total de programas oferecidos no último ano.
Robustez da oferta (30%): A amplitude mede a distribuição de
cursos direcionados à diretoria, gerência, profi ssionais e operações,
voltados ao topo do organograma. A customização dos programas
mede a proporção de programas abertos, fechados e universida-
des corporativas, bonifi cando os mais customizados. O índice de
personalização procura as salas de aula com menor número de alu-
nos, enquanto o índice de inovação faz uma revisão das técnicas
pedagógicas aplicadas pelas escolas em sala de aula.
Rede internacional (20%): Defi ne-se pela qualidade das univer-
sidades com as quais as escolas têm convênios para programas de
educação executiva, além do volume de operações realizadas fora
das sedes, o número de países e cidades que cobrem, sua inclusão
nas alianças de educação executiva mais importantes (Sumaq e
Unicon), e o número de representantes no exterior.
Professores (10%): A dimensão do professorado está composta
pela qualidade do corpo docente próprio, medido segundo seu
último grau acadêmico. A qualidade do faculty visitante foi medi-
da segundo o prestígio da universidade no qual o grau foi obtido.
Além disso, premiou-se a experiência em anos do corpo docente,
em suas dimensões acadêmica, empresarial e em consultoria.
A edição 2009 do Ranking de Educação Executiva da AméricaEconomía Intelligence avalia quatro dimensões principais:
Os resultados de cada dimensão foram ponderados por seu respectivo fator em uma equação linear que resulta na pontuação que deter-
mina a posição de cada escola. Todas as informações vêm de respostas dos participantes a um questionário enviado em agosto de 2009.

Leo B
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78 AméricaEconomia Novembro, 2009
I-BIZ
ROBÔSDesenvolvimentos em robótica prometem um futuro de fi cção científi ca na América Latina
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA
EDGARD HAPPKE, DA MIRS:
A ROBÓTICA VEIO PARA FICARFoto
MIG
UEL
CA
ND
IAEm 2002, o chileno Hugo Salamanca, gerente-geral da
empresa de serviços para o setor de mineração High Services,
tinha uma proposta de risco para a Codelco, maior companhia
de cobre do mundo: incorporar tecnologia robótica em suas
explorações. Apesar de já haverem passado 40 anos desde
que o primeiro robô começasse a trabalhar na linha de pro-
dução da General Motors, centros de excelência do setor de
mineração – como Carnegie Mellon – mal haviam começado
a testar seus primeiros protótipos. Para a Codelco, seria quase
como partir do zero.
No entanto, a companhia chilena aceitou a aposta. Em 2007,
na mina Radomiro Tomic, a 1.700 quilômetros de Santiago e
3.000 metros acima do nível do mar, um braço semiautomáti-
co, semelhante ao das fábricas automotivas, tapava e limpava
um forno em que a temperatura chega a 1.500 graus Celsius.
Os operários, agora mais seguros, supervisionam a operação à
distância. Entusiasmados com o primeiro resultado e decididos
a acelerar o projeto, ambas as empresas decidiram formar a
Mining Industry Robotic Solutions (Mirs), negócio formado
pela High Services (com 53% de participação), Codelco (36%) e
as japonesas Nippon Mining & Metals e Kuka Roboter (com 9%
e 2%, respectivamente). O objetivo inicial era realizar 50 projetos
em dois anos, com investimentos de US$ 11 milhões, sendo 20%
aportados pela Corfo, órgão estatal de fomento. Se tudo saísse
como o previsto, esses desembolsos retornariam rapidamente,
já que a redução de custo estimada era de 30%.
As previsões se confi rmaram. Hoje a Mirs acumula mais de
26 patentes internacionais e trabalha não apenas na automati-
zação da produção da Codelco, como já começou a desenvolver
projetos para o restante da indústria de mineração, por meio
de acordos com empresas como Anglo American, Antofagasta
Minerals e Molymet. “A robótica chegou para fi car e, em poucos
anos, será tão familiar na mineração como é em outras indús-
trias hoje”, diz Edgar Happke, gerente-geral da empresa.
A MARCHADOS

Novembro, 2009 AméricaEconomia 79
Até agora o mercado mundial parece indicar que os chilenos
tomaram a decisão certa no momento certo. Do outro lado do
Pacífi co, a gigante australiana Rio Tinto investiu US$ 21 mi-
lhões em centros de estudos na Universidade de Sidney e agora
pretende inaugurar uma mina teste operada por robôs. Nesta,
furadeiras automatizadas farão furos, nos quais outra máquina
vai inserir explosivos. Carregadores e caminhões robóticos vão
extrair e carregar o minério, que será transportado ao longo de
centenas de quilômetros por trens sem maquinista até portos
no litoral. O objetivo da Rio Tinto é triplicar a produção até
2016 sem a necessidade de empregar mais gente – o setor de
mineração australiano sofre uma constante escassez de mão
de obra –, além de conseguir efi ciência semelhante à esperada
pela Codelco.
ROBÔS ÀS ORDENSOs robôs estão se multiplicando em novos segmentos. Segun-
do a World Robotics, organização dos fabricantes com sede em
Frankfurt, o segmento de robótica industrial fechou 2008 mo-
vimentando US$ 6,2 bilhões. Mesmo de origem mais recente, os
sistemas robóticos de serviços representaram negocios de US$
11 bilhões. É possível notar a chegada de robôs de baixo custo
em atividades domésticas e educação, passando por brinquedos
e aspiradores de pó que poderiam ser comprados em qualquer
loja de departamentos. “É um mercado emergente que nos
lembra o nascimento dos PCs, migrando das grandes aplica-
ções industriais para o uso pessoal e orientado a serviços”, diz
Stathis Papaefstathiou, gerente da Microsoft Robotics, divisão
criada há três anos pela gigante de Redmond.
Por que tanta efervescência? A resposta é simples: redução
dos custos de processamento. Em 1990, o equipamento neces-
sário para processar um milhão de instruções por segundo
(Mips) custava US$ 1.000. Hoje, esse dinheiro compraria mil
Mips. E em 2015, os mesmos mil dólares comprarão um milhão
de Mips, segundo um artigo publicado por Hans Moravec,
pesquisador do Instituto de Robótica de Carnegie Mellon. Para
colocar esses números em perspectiva, os atuais robôs indus-
triais usam 100 Mips ou menos. Ou seja, com
esse aumento de capacidade de processamento,
pode-se incorporar autonomia para que os
equipamentos operem em terrenos cada vez
mais acidentados.
“A boa notícia é que, nos últimos seis anos,
foi possível ver um grande salto desse setor
na América Latina, que foi migrando da uni-
versidade para as empresas”, diz o brasileiro
Antonio Roberto Lins, diretor executivo da
Armetec Tecnología Robótica, que está entre
as líderes do setor na região. Nascida em 2004
a partir de uma tese universitária e incubada
pela Universidade de Fortaleza, a Armetec de-
senvolveu o Saci, robô de combate a incêndios
com capacidade de disparar 7,2 mil litros de
água por minuto a uma distância de 60 metros, o que permite
que os bombeiros se posicionem a 180 metros do fogo. Depois,
como parte dos estudos para a criação de um robô de defesa,
surgiu a Mulata. O robô tem capacidade para transmitir vídeos
bidirecionalmente e se comunicar com as pessoas, e passou a ser
usado para treinamentos à distância em medicina. A partir do
Saci, a empresa atraiu capital para o desenvolvimento de outro
robô, o Caipora, que é um carro autônomo com dois minirrobôs
de observação para ações em áreas de risco.
Além da área de defesa, os oleodutos têm se mostrado um
campo fértil para a aplicação da robótica. Com o objetivo de
controlar os dutos que atravessam o Amazonas sem expor a
equipe a riscos, a Petrobras desenvolveu o Chico Mendes, um
veículo anfíbio de inspeção para
todo terreno, que pode andar até
entre árvores. Outro exemplo
brasileiro é o da carioca Pi-
peWay, que desenvolveu um
sistema robotizado para o con-
trole e limpeza de dutos.
Esses projetos poderão tornar-
se competitivos? Para Roberto Lins,
pesquisador da Universidade Federal
do Espírito Santo, a chave está em apro-
veitar ao máximo os componentes já
existentes em outras in-
dústrias para então focar
no desenvolvimento da
inteligência do robô.
Para quem olha de
fora, no entanto,
a única certeza
é de que, locais
ou importados,
os robôs já vêm
marchando em
nossa direção.
ROBÔ AMBIENTAL HÍBRIDO: PERFEITO PARA FISCALIZAR OLEODUTOS
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ARMTEC: ENSINANDO MEDICINA

80 AméricaEconomia Novembro, 2009
CLICS & CHIPS
FOCO NO ÁUDIO E VÍDEO
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34 AméricaEconomia Novembro, 2009
OPINIÃO
As estimativas eram pessimistas
no início de 2009. Os especialistas ad-
vertiam que a crise fi nanceira poderia
golpear as economias latino-america-
nas e que a recuperação seria longa e
lenta. Em abril, eles reafi rmaram que
o crescimento da região este ano seria
fortemente negativo. No entanto, tudo
mudou no início de outubro.
Como explicar a rapidez dessa recu-
peração? A explicação está na maneira
como os países têm lidado com o capital.
Os prognósticos de uma recuperação de-
morada fi zeram supor que as empresas
e as pessoas obteriam empréstimos da
mesma forma que no passado, ou seja,
junto aos bancos comerciais. Essa ideia
antiquada ainda era alimentada por
muita gente. Os presságios eram de um
cenário em que os bancos enfrentariam
mais empréstimos de liquidação du-
vidosa, o que tornaria o crédito mais
escasso. E, consequentemente, a recu-
peração chegaria a passos de tartaruga
devido à falta de fi nanciamento.
O que vemos hoje é surpreendente.
As empresas conseguiram crédito com
a emissão de bônus. Aproveitaram o
surgimento de mercados notoriamente
dinâmicos em vários países da América
Latina nos últimos anos. Os pessimistas
erraram ao prever que os mercados lo-
cais se paralisariam, tal como os bancos,
e permaneceriam nessa condição até
que a crise terminasse.
O que não se considerou é que esse
ponto de vista ignora um fator-chave. Os
bancos comerciais – diferentemente dos
fundos de investimento e de pensões
– têm imperfeições em seu desenho, o
que cria um risco moral de diferentes
características. Esses defeitos são des-
cobertos apenas quando as coisas vão
mal, e novas vulnerabilidades emergem
a cada crise. Por isso, a solução tem sido
impor uma regulamentação cada vez
mais rígida e restritiva.
O elemento surpresa foi a rapidez
com que os investidores aproveitaram
a oportunidade para comprar bônus a
baixo preço devido ao pânico. Os títulos
de muitas empresas da América Latina
foram bastante procurados. Se os inves-
tidores em títulos tivessem colocado seu
dinheiro nos ban-
cos, sua disposição
para correr riscos
seria neutralizada
pela cautela dessas
instituições.
Os dados indi-
cam claramente o
que aconteceu. Co-
mo se esperava, en-
tre janeiro e março
de 2009 os bancos
comerciais do Brasil cortaram o crédito
para o setor privado e depois registra-
ram alta de 2,9% em relação ao começo
do ano. Esse aumento é de somente 1,3%
do PIB, contrastando com o que ocorreu
entre 2005 e 2008, quando o aumento
no crédito bancário foi de 25% ao ano.
É um percentual excessivamente tími-
do para impulsionar uma recuperação
econômica forte. As emissões privadas
de bônus nesse período somaram R$
24,58 bilhões (cerca de U$ 14 bilhões),
montante representativo se considerar-
mos o tamanho do mercado de bônus,
equivalente a 0,9% do PIB. Essa é uma
contribuição enorme que os especialis-
tas não levaram em conta.
No Brasil, o mercado de bônus rea-
tivou-se muito mais rapidamente que o
crédito dos bancos comerciais Os preços
desses bônus subiram, o que deu forças
à recuperação incipiente da atividade
econômica. Hoje as empresas privadas
conseguem dinheiro mais depressa que
antes. E, ao mesmo tempo, as taxas de
juros, historicamente altas, caíram.
O crescimento desse mercado re-
duziu o custo dos empréstimos para
as empresas. Os
bancos comerciais
têm de cobrar altas
taxas de juros nos
créditos para com-
pensar seu papel
como provedores
de liquidez e para
pagar os custos
de supervisão. Os
f u ndos mútuos
não en f renta m
custos tão elevados, e por isso não é
necessário cobrar margens tão altas.
As estatísticas agregadas da Améri-
ca Latina indicam um novo modelo. O
valor dos títulos de dívida privada em
2008 equivalia a 15,5% do PIB da região.
Em comparação, em 2005 a cifra era de
11,3%. E o papel dos mercados de bônus
continuará pesando no futuro. A dívida
privada continuará subindo até se apro-
ximar da média mundial, de 80,75% em
2005 e 80,1% em 2008. E esse aumento
no crescimento econômico certamente
será outra agradável surpresa.
PELA VIAEXPRESSA
O crescimento das emissões de bônus na América Latina
compensou a postura mais cautelosa
dos bancos
JOHN C. EDMUNDS é doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e coautor de Wealth by Association
Novembro, 2009 AméricaEconomia 81

82 AméricaEconomia Novembro, 2009
LINHA DIRETA
FAVELA EM NOAUKCHOTT: SOLUÇÕES
PARA OS PROBLEMAS AINDA DEMORAM
As portas do plenário do moderno Palácio de Convenções
de Noaukchott, Mauritânia, abriram-se, e os delegados inter-
nacionais ocuparam seus lugares em um simpósio internacio-
nal da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças
climáticas. Os assentos reservados à Argentina e ao México
estavam vazios. Os latino-americanos eram três: dois brasilei-
ros e eu, uma jornalista peruana que vive no Brasil.
Nossa minidelegação de emergência foi convidada de
última hora para que a ausência latino-americana não fosse
total em um evento pelo diálogo Sul-Sul. Recebemos nossas
passagens num domingo de manhã e viajamos na mesma
noite. Como boa latino-americana ignorante de África, corri ao
Google para saber algo sobre Noaukchott, capital da Mauritâ-
nia – começando por sua localização no mapa. Minha pressa
e minha ignorância me fi zeram colocar minissaias na mala
para ir a um país muçulmano. Sem comentários.
Não sabemos nada sobre a África, um continente que
esteve unido fi sicamente à América, que fez parte de nossas
entranhas, deu origem à grande parte de nossos compatriotas
e hoje está às nossas costas. Para chegar à África inalcançável
de nossa imaginação basta cruzar o Atlântico. São apenas seis
horas e meia de avião entre São Paulo e Dakar. É mais rápido
e menos cansativo do que ir a Nova York.
A vergonha da minha pobreza geográfi ca e cultural che-
gou ao auge quando um delegado mauritano desenhou na
areia um perfeito mapa da América do Sul, incluiu todos os
seus países e, para culminar, traçou nele a rota que Che Gue-
vara fez quando jovem, montado em sua motocicleta.
O simpósio de Nouakchott tenta chamar nossa atenção
para um insistente pedido de ajuda africano e procura uma
resposta para o desinteresse e para a ignorância aos quais
condenamos a África. O continente africano é o que mais
sofre – e sofrerá no futuro – com as as mudanças climáticas
e os desastres ambientais, apesar de
produzir apenas 4% das emissões de
gases que provocam o aquecimento
global. Os 34 países africanos e seus
900 milhões de habitantes necessitam
de fi nanciamentos e tecnologia para
impedir os desastres, mas os fóruns
que discutem as mudanças climáticas
e que antecipam a Conferência COP 15,
em Copenhague, em dezembro, ainda
estão longe de apresentar medidas
para a África. Os mais afetados, os afri-
canos são os menos ouvidos. O orga-
nizador do evento, Sidi Elmoctar Chei-
guer, presidente da Rede Africana de
Jornalistas Ambientais (Anej), insistiu
que a América Latina deveria apoiar
que a África seja mais escutada. Cheiguer aposta em um
movimento de jornalistas para chamar a atenção do mundo.
“Temos de unir jornalistas e negociadores para construir uma
estratégia de comunicação”, disse ele, várias vezes.
O estancamento das discussões que chegam a Cope-
nhague e não trazem grandes novidades para substituir e
revitalizar o Protocolo de Kyoto pode ser uma sentença de
morte para africanos, asiáticos e latino-americanos. Os países
desenvolvidos são pouco ambiciosos em suas propostas de
redução da emissão de gases. Suas metas de corte oscilam
entre 17% e 23%, bem menos que os 40% propostos pelo Painel
Intergovernamental de Mudança Climática. Esse percentual
é o necessário para impedir que o aquecimento global supere
dois graus Celsius. A África tem poucas propostas. A mais
interessante e audaz é a de Abdoulaye Wade, presidente do
Senegal, de criar uma muralha verde de 15 quilômetros de
largura e sobre 7 mil quilômetros de deserto na faixa sul do
Saara, para proteger o continente do avanço da areia.
A própria Nouakchott é uma das vítimas do deserto.
Fundada há 52 anos, é uma cidade que cresceu de maneira
explosiva após sua transformação em capital, nos anos 60,
quando secas causaram uma migração maciça. Há carência
de infraestrutura básica, coleta de lixo e transporte público,
sem falar no progressivo esgotamento das fontes de água po-
tável. O desgoverno é evidente. Quem pode desfi la em velhos
Mercedes movidos a diesel, quase sempre batidos e sujos, e
exibe seus celulares. Estes últimos são vendidos em merca-
dos precários, nos quais se misturam com roupas e carnes
de carneiro penduradas, entre as quais passeiam moscas. Os
celulares descartados formam um tapete sobre a areia, como
estatuetas de uma religião tecno, e jamais terão um fi m eco-
lógico. Nouakchott é tudo o que não devemos ser – e muito do
que podemos ajudar a solucionar.
ÁFRICAO GRITO DA
VERÔNICA GOYZUETA, DE NOAUKCHOTT (MAURITÂNIA)
Foto
AP

Nossa mais importante entrega? Um futuro melhor.Na atual economia global, idéias e produtos são compartilhados e as oportunidades surgem mais rápido que nunca. A FedEx ajuda a garantir
que a geração seguinte esteja pronta para um começo promissor ao conectar pessoas, bens e informação ao redor do mundo,
colocando assim, o futuro do continente em boas mãos.
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