New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR...

68
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE ANTONIO BARTOLOMEU FERREIRA FILHO IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O RIO DE JANEIRO DO FIM DO IMPÉRIO AO ALVORECER DA REPÚBLICA VOLTA REDONDA RJ 2013

Transcript of New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR...

Page 1: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

FUNDACcedilAtildeO OSWALDO ARANHA

CENTRO UNIVERSITAacuteRIO DE VOLTA REDONDA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE E DO MEIO

AMBIENTE

ANTONIO BARTOLOMEU FERREIRA FILHO

IMAGEM REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E SAUacuteDE UM OLHAR

SOBRE O RIO DE JANEIRO DO FIM DO IMPEacuteRIO AO ALVORECER

DA REPUacuteBLICA

VOLTA REDONDA ndash RJ

2013

FUNDACcedilAtildeO OSWALDO ARANHA

CENTRO UNIVERSITAacuteRIO DE VOLTA REDONDA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE E DO MEIO

AMBIENTE

IMAGEM REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E SAUacuteDE UM OLHAR

SOBRE O RIO DE JANEIRO DO FIM DO IMPEacuteRIO AO ALVORECER

DA REPUacuteBLICA

Texto dissertativo apresentado agrave Banca de

Defesa do Curso de Mestrado Profissional

em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio

Ambiente da UniFOA como requisito agrave

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Aluno Antonio Bartolomeu Ferreira Filho

Orientadora Prof Drordf Cristina Novikoff

VOLTA REDONDA ndash RJ

2013

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Ficha catalograacutefica elaborada pela bibliotecaacuteria

Gabriela Leite Ferreira -- CRB 7RJ - 5521

F383i Ferreira Filho Antonio Bartolomeu Imagem representaccedilotildees sociais e sauacutede um olhar sobre o Rio de Janeiro do fim do impeacuterio ao alvorecer da repuacuteblica Antonio Bartolomeu Ferreira Filho ndash Volta Redonda RJ UniFOA 2013

66 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional) ndash Centro Universitaacuterio de Volta Redonda Mestrado Profissional em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio Ambiente

Orientadora Profordf Drordf Cristina Novikoff

1 Sauacutede ndash Ensino e estudo 2 Educaccedilatildeo para a sauacutede

I Novikoff Cristina II Tiacutetulo CDD 37881

Dedico este trabalho primeiramente aos

meus pais que de forma incondicional

estiveram sempre ao meu lado em todos

os bons e maus momentos de minha vida

A minha amada esposa que de uma

maneira uacutenica tem sempre me apoiado

em minhas empreitadas acadecircmicas

sendo o meu porto seguro e incentivando-

me maravilhosamente quando o

desacircnimo nos seus diversos e sutis

momentos quis sorrateiramente se

abater sobre a minha pessoa

AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter

me concedido a daacutediva da vida

A minha professora-orientadora a

estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que

aos meus olhos eacute no sentido maior da

palavra uma verdadeira mestra que tem

entre suas diversas e maravilhosas

caracteriacutesticas a excelecircncia da

humanidade

Ao corpo docente do MECSMA aos meus

amigos de turma e em especial ao grupo

da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia

Maria Aparecida e Angeacutelica) que se

tornou uma segunda famiacutelia

Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr

Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel

e do Chefe do Departamento de Ensino

CC Marcos Veiga sempre

compreensiacuteveis quando precisei me

ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos

Aos amigos do CN em especial ao Prof

Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo

Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees

acadecircmicas

Aos professores do CN e em especial ao

Victor pela amizade e apoio

A professora Eloiacutesa que me apresentou

ao mestrado do MECSMA

E por fim a professora Shirlane um

grande ser humano que de forma

incondicional em muito colaborou na

organizaccedilatildeo deste trabalho

RESUMO

Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas

como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem

alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto

estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos

citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem

ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente

com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir

Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de

sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do

recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de

criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no

ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees

Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de

estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal

pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais

Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais

ABSTRACT

There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative

tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of

a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we

can mention the technological advances in the areas of communication and media

that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of

information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the

objective of this work is to understand the social representations of health contained

in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in

order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in

teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions

(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of

iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the

perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within

the temporary period defined with their social economic political religious and

cultural

Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9

2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26

24 Imagem 35

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41

31 Produto 57

4 CONCLUSAtildeO 59

5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61

6 ANEXOS 65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-

CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff

65

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

66

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 2: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

FUNDACcedilAtildeO OSWALDO ARANHA

CENTRO UNIVERSITAacuteRIO DE VOLTA REDONDA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE E DO MEIO

AMBIENTE

IMAGEM REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E SAUacuteDE UM OLHAR

SOBRE O RIO DE JANEIRO DO FIM DO IMPEacuteRIO AO ALVORECER

DA REPUacuteBLICA

Texto dissertativo apresentado agrave Banca de

Defesa do Curso de Mestrado Profissional

em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio

Ambiente da UniFOA como requisito agrave

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Aluno Antonio Bartolomeu Ferreira Filho

Orientadora Prof Drordf Cristina Novikoff

VOLTA REDONDA ndash RJ

2013

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Ficha catalograacutefica elaborada pela bibliotecaacuteria

Gabriela Leite Ferreira -- CRB 7RJ - 5521

F383i Ferreira Filho Antonio Bartolomeu Imagem representaccedilotildees sociais e sauacutede um olhar sobre o Rio de Janeiro do fim do impeacuterio ao alvorecer da repuacuteblica Antonio Bartolomeu Ferreira Filho ndash Volta Redonda RJ UniFOA 2013

66 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional) ndash Centro Universitaacuterio de Volta Redonda Mestrado Profissional em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio Ambiente

Orientadora Profordf Drordf Cristina Novikoff

1 Sauacutede ndash Ensino e estudo 2 Educaccedilatildeo para a sauacutede

I Novikoff Cristina II Tiacutetulo CDD 37881

Dedico este trabalho primeiramente aos

meus pais que de forma incondicional

estiveram sempre ao meu lado em todos

os bons e maus momentos de minha vida

A minha amada esposa que de uma

maneira uacutenica tem sempre me apoiado

em minhas empreitadas acadecircmicas

sendo o meu porto seguro e incentivando-

me maravilhosamente quando o

desacircnimo nos seus diversos e sutis

momentos quis sorrateiramente se

abater sobre a minha pessoa

AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter

me concedido a daacutediva da vida

A minha professora-orientadora a

estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que

aos meus olhos eacute no sentido maior da

palavra uma verdadeira mestra que tem

entre suas diversas e maravilhosas

caracteriacutesticas a excelecircncia da

humanidade

Ao corpo docente do MECSMA aos meus

amigos de turma e em especial ao grupo

da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia

Maria Aparecida e Angeacutelica) que se

tornou uma segunda famiacutelia

Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr

Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel

e do Chefe do Departamento de Ensino

CC Marcos Veiga sempre

compreensiacuteveis quando precisei me

ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos

Aos amigos do CN em especial ao Prof

Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo

Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees

acadecircmicas

Aos professores do CN e em especial ao

Victor pela amizade e apoio

A professora Eloiacutesa que me apresentou

ao mestrado do MECSMA

E por fim a professora Shirlane um

grande ser humano que de forma

incondicional em muito colaborou na

organizaccedilatildeo deste trabalho

RESUMO

Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas

como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem

alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto

estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos

citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem

ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente

com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir

Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de

sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do

recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de

criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no

ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees

Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de

estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal

pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais

Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais

ABSTRACT

There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative

tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of

a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we

can mention the technological advances in the areas of communication and media

that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of

information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the

objective of this work is to understand the social representations of health contained

in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in

order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in

teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions

(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of

iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the

perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within

the temporary period defined with their social economic political religious and

cultural

Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9

2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26

24 Imagem 35

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41

31 Produto 57

4 CONCLUSAtildeO 59

5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61

6 ANEXOS 65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-

CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff

65

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

66

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 3: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Ficha catalograacutefica elaborada pela bibliotecaacuteria

Gabriela Leite Ferreira -- CRB 7RJ - 5521

F383i Ferreira Filho Antonio Bartolomeu Imagem representaccedilotildees sociais e sauacutede um olhar sobre o Rio de Janeiro do fim do impeacuterio ao alvorecer da repuacuteblica Antonio Bartolomeu Ferreira Filho ndash Volta Redonda RJ UniFOA 2013

66 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional) ndash Centro Universitaacuterio de Volta Redonda Mestrado Profissional em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio Ambiente

Orientadora Profordf Drordf Cristina Novikoff

1 Sauacutede ndash Ensino e estudo 2 Educaccedilatildeo para a sauacutede

I Novikoff Cristina II Tiacutetulo CDD 37881

Dedico este trabalho primeiramente aos

meus pais que de forma incondicional

estiveram sempre ao meu lado em todos

os bons e maus momentos de minha vida

A minha amada esposa que de uma

maneira uacutenica tem sempre me apoiado

em minhas empreitadas acadecircmicas

sendo o meu porto seguro e incentivando-

me maravilhosamente quando o

desacircnimo nos seus diversos e sutis

momentos quis sorrateiramente se

abater sobre a minha pessoa

AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter

me concedido a daacutediva da vida

A minha professora-orientadora a

estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que

aos meus olhos eacute no sentido maior da

palavra uma verdadeira mestra que tem

entre suas diversas e maravilhosas

caracteriacutesticas a excelecircncia da

humanidade

Ao corpo docente do MECSMA aos meus

amigos de turma e em especial ao grupo

da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia

Maria Aparecida e Angeacutelica) que se

tornou uma segunda famiacutelia

Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr

Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel

e do Chefe do Departamento de Ensino

CC Marcos Veiga sempre

compreensiacuteveis quando precisei me

ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos

Aos amigos do CN em especial ao Prof

Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo

Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees

acadecircmicas

Aos professores do CN e em especial ao

Victor pela amizade e apoio

A professora Eloiacutesa que me apresentou

ao mestrado do MECSMA

E por fim a professora Shirlane um

grande ser humano que de forma

incondicional em muito colaborou na

organizaccedilatildeo deste trabalho

RESUMO

Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas

como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem

alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto

estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos

citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem

ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente

com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir

Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de

sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do

recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de

criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no

ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees

Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de

estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal

pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais

Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais

ABSTRACT

There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative

tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of

a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we

can mention the technological advances in the areas of communication and media

that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of

information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the

objective of this work is to understand the social representations of health contained

in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in

order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in

teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions

(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of

iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the

perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within

the temporary period defined with their social economic political religious and

cultural

Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9

2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26

24 Imagem 35

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41

31 Produto 57

4 CONCLUSAtildeO 59

5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61

6 ANEXOS 65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-

CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff

65

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

66

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 4: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

Dedico este trabalho primeiramente aos

meus pais que de forma incondicional

estiveram sempre ao meu lado em todos

os bons e maus momentos de minha vida

A minha amada esposa que de uma

maneira uacutenica tem sempre me apoiado

em minhas empreitadas acadecircmicas

sendo o meu porto seguro e incentivando-

me maravilhosamente quando o

desacircnimo nos seus diversos e sutis

momentos quis sorrateiramente se

abater sobre a minha pessoa

AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter

me concedido a daacutediva da vida

A minha professora-orientadora a

estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que

aos meus olhos eacute no sentido maior da

palavra uma verdadeira mestra que tem

entre suas diversas e maravilhosas

caracteriacutesticas a excelecircncia da

humanidade

Ao corpo docente do MECSMA aos meus

amigos de turma e em especial ao grupo

da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia

Maria Aparecida e Angeacutelica) que se

tornou uma segunda famiacutelia

Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr

Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel

e do Chefe do Departamento de Ensino

CC Marcos Veiga sempre

compreensiacuteveis quando precisei me

ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos

Aos amigos do CN em especial ao Prof

Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo

Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees

acadecircmicas

Aos professores do CN e em especial ao

Victor pela amizade e apoio

A professora Eloiacutesa que me apresentou

ao mestrado do MECSMA

E por fim a professora Shirlane um

grande ser humano que de forma

incondicional em muito colaborou na

organizaccedilatildeo deste trabalho

RESUMO

Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas

como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem

alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto

estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos

citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem

ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente

com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir

Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de

sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do

recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de

criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no

ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees

Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de

estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal

pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais

Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais

ABSTRACT

There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative

tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of

a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we

can mention the technological advances in the areas of communication and media

that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of

information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the

objective of this work is to understand the social representations of health contained

in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in

order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in

teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions

(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of

iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the

perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within

the temporary period defined with their social economic political religious and

cultural

Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9

2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26

24 Imagem 35

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41

31 Produto 57

4 CONCLUSAtildeO 59

5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61

6 ANEXOS 65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-

CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff

65

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

66

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 5: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter

me concedido a daacutediva da vida

A minha professora-orientadora a

estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que

aos meus olhos eacute no sentido maior da

palavra uma verdadeira mestra que tem

entre suas diversas e maravilhosas

caracteriacutesticas a excelecircncia da

humanidade

Ao corpo docente do MECSMA aos meus

amigos de turma e em especial ao grupo

da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia

Maria Aparecida e Angeacutelica) que se

tornou uma segunda famiacutelia

Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr

Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel

e do Chefe do Departamento de Ensino

CC Marcos Veiga sempre

compreensiacuteveis quando precisei me

ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos

Aos amigos do CN em especial ao Prof

Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo

Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees

acadecircmicas

Aos professores do CN e em especial ao

Victor pela amizade e apoio

A professora Eloiacutesa que me apresentou

ao mestrado do MECSMA

E por fim a professora Shirlane um

grande ser humano que de forma

incondicional em muito colaborou na

organizaccedilatildeo deste trabalho

RESUMO

Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas

como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem

alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto

estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos

citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem

ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente

com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir

Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de

sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do

recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de

criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no

ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees

Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de

estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal

pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais

Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais

ABSTRACT

There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative

tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of

a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we

can mention the technological advances in the areas of communication and media

that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of

information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the

objective of this work is to understand the social representations of health contained

in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in

order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in

teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions

(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of

iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the

perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within

the temporary period defined with their social economic political religious and

cultural

Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9

2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26

24 Imagem 35

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41

31 Produto 57

4 CONCLUSAtildeO 59

5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61

6 ANEXOS 65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-

CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff

65

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

66

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 6: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

RESUMO

Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas

como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem

alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto

estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos

citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem

ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente

com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir

Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de

sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do

recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de

criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no

ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees

Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de

estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal

pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais

Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais

ABSTRACT

There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative

tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of

a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we

can mention the technological advances in the areas of communication and media

that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of

information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the

objective of this work is to understand the social representations of health contained

in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in

order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in

teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions

(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of

iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the

perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within

the temporary period defined with their social economic political religious and

cultural

Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9

2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26

24 Imagem 35

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41

31 Produto 57

4 CONCLUSAtildeO 59

5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61

6 ANEXOS 65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-

CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff

65

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

66

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 7: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

ABSTRACT

There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative

tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of

a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we

can mention the technological advances in the areas of communication and media

that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of

information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the

objective of this work is to understand the social representations of health contained

in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in

order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in

teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions

(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of

iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the

perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within

the temporary period defined with their social economic political religious and

cultural

Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9

2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26

24 Imagem 35

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41

31 Produto 57

4 CONCLUSAtildeO 59

5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61

6 ANEXOS 65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-

CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff

65

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

66

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 8: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9

2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26

24 Imagem 35

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41

31 Produto 57

4 CONCLUSAtildeO 59

5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61

6 ANEXOS 65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-

CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff

65

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

66

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 9: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

LISTA DE IMAGENS

GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash

2011)

41

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de

Bohnsack (2010)

42

FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48

FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49

FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50

FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51

FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de

29 de outubro de 1904

52

FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53

FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54

FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55

FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 10: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira

observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma

maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma

anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o

que se percebe com o olhar

Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a

sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma

palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem

imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por

quem natildeo o tem

Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo

contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees

imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma

ideia

Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-

se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000

aC

Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando

estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da

sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no

tema sauacutede

O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se

relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de

Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 11: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

10

de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do

conhecimento

Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as

seguintes questotildees norteadoras

Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos

relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio

ao alvorecer da Repuacuteblica

Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave

sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees

De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com

imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede

Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no

ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade

de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges

Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa

analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das

representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica

eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a

socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num

contexto especiacutefico

A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a

aplicabilidade de um instrumento praacutexico

As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas

Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento

social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 12: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

11

grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o

grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste

estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da

interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede

Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem

ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a

subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas

de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens

(SANTAELLA 1983 p10)

Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas

independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees

A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base

metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como

instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento

Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do

Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos

lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos

interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de

cada grupo distinto interagem dentro do processo

Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os

olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma

tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do

Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em

especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede

Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as

percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca

Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por

finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 13: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

12

charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o

alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual

Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente

com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas

ideologias valores e pensamentos contidos nas charges

As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de

imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino

destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados

na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com

campanhas alertas esclarecimentos etc

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as

formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como

nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual

e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O

desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 14: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

13

2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA

21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar

As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de

1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada

como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um

espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees

vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma

Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta

que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as

experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no

momento

Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser

interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura

politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia

totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou

seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a

realidade do momento

Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)

Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio

fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre

o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da

funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre

uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo

entre o hoje e o amanhatilde

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 15: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

14

As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes

de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e

interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do

trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras

de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que

As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)

Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo

auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as

pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as

mesmas em atividades praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o

materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que

proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas

Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 16: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

15

Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das

Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise

histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo

O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961

onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no

meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o

indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma

leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada

um

Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma

para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a

mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro

e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se

achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal

pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se

a eugenia

A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)

A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado

modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e

vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 17: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

16

Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada

estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem

motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal

Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl

Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de

uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a

sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os

oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder

[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)

De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do

seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram

demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as

variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar

entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem

a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das

experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou

influecircncias que se sobrepotildee a este grupo

A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)

O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila

em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com

Serge Moscovici

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 18: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

17

No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees

Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de

Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte

forma

Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)

Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e

razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar

desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as

concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e

com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar

a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a

partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi

Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta

como

[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)

Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees

Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de

um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a

descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as

Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 19: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

18

Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de

poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por

Moscovici

Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo

Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma

breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela

afirma que

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)

As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo

sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias

sociais

A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas

pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido

pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo

mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis

A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)

Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de

um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 20: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

19

grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo

que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico

E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas

de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as

Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do

indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E

como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz

[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)

Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca

de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em

experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite

dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao

interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo

Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo

dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa

Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)

Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as

Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que

tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um

determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste

meio tornam-se o que denominamos de senso comum

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 21: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

20

Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a

imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na

decodificaccedilatildeo de outras imagens

As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)

Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois

como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico

auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que

impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior

Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede

existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal

pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo

das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo

temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto

instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as

informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como

ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil

Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e

Doenccedila (1993) o qual afirma que

Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 22: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

21

Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a

caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de

satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na

interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes

Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no

final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes

detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus

posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como

seraacute visto mais adiante

No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade

pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de

proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas

informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica

Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem

enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre

as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos

marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio

de Janeiro

Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos

textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata

as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal

pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais

questotildees

A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)

Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de

classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas

principalmente como as classes interagem com o estado vigente

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 23: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

22

A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)

Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se

refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a

compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das

caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca

e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo

vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico

Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a

partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma

[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)

Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais

neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar

uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no

recorte temporal proposto

Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de

Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como

meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos

de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto

profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil

A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que

eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 24: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

23

Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que

tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares

testemunhais do momento temporal analisado

22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede

Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que

apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo

auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio

Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem

ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico

Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os

pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede

Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos

adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de

Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees

Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)

Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam

uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais

efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a

ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS

REIS 2011 p694)

Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista

como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de

salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)

Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a

esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se

tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade

Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais

atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 25: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

24

nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das

relaccedilotildees entre os indiviacuteduos

Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees

sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no

cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem

segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a

realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS

2011 p695)

Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede

podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e

Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede

conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que

analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que

O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)

Tais profissionais podem ser considerados referenciais da

representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que

em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais

econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a

proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-

versa

Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se

apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os

resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar

em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 26: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

25

Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo

tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de

criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade

ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil

Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser

pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e

consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos

discursos acerca de um determinado problema

Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o

[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros

Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada

nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima

Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos

conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos

Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da

escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede

Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)

Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a

dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 27: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

26

alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda

eacute apresentado de forma homogecircnea

Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante

ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as

representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)

No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este

trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas

sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais

abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita

Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como

se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas

Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira

e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do

Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram

sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da

humanidade

Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)

Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do

material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus

estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil

23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica

O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas

transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e

iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua

maioria natildeo sabia ler e escrever

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 28: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

27

Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental

como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As

Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois

acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o

que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava

no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW

2004 p183)

Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em

discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado

como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os

quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes

informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a

dominavam

No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que

transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees

poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante

descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua

consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na

manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial

[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 29: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

28

Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)

Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de

Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o

cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que

enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio

distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente

de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica

era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)

Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila

poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam

principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado

Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de

trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da

situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos

reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que

embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava

como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de

cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade

Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as

elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que

iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica

Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao

trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente

desde quando os portugueses chegaram ao Brasil

Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 30: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

29

impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)

Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees

ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu

estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em

que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e

classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos

Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as

populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade

justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear

Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista

desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas

a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila

para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY

MALTA e SANTOS p 5)

Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau

Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de

saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves

em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes

descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era

levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais

que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham

por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de

Janeiro como vemos no seguinte trecho

Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 31: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

30

Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees

sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto

remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a

relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de

informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo

ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da

Vacina

[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)

Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram

conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas

marginalizadas um problema a ser eliminado

Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as

classes pobres que diz

Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)

Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo

e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos

a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 32: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

31

aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste

periacuteodo quando diz

O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)

Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a

compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido

Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de

Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da

cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees

poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica

O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto

cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua

condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que

todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se

constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que

ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)

No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra

o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues

Alves ao afirmar

Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 33: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

32

No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas

que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam

inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era

do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de

apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o

trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e

cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a

autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e

posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX

Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)

Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas

instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a

Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)

Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais

ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se

voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem

politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos

quadros de poder (TORRES 2008 p3)

Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas

meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003

p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos

aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal

onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES

2008 p11)

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 34: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

33

E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na

reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou

seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais

impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que

mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)

A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo

econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas

da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco

inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas

poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal

(AZEVEDO 2003 p43)

No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os

grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A

Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes

da revolta quando diz

Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)

Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte

temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e

Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a

ser contada (2003)

O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas

campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a

necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura

para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se

aplicava as vacinas

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 35: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

34

A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)

E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos

diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute

o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal

pretendido

Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -

O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)

que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo

XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos

chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus

olhares percebiam o que estava agrave volta

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 36: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

35

24 Imagens

O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a

possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel

das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um

instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo

de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais

econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela

Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que

trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica

A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia

que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas

formas

Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)

no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o

trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce

Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da

imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute

Semioacutetica (1983)

[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)

No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua

visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo

eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como

o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais

apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 37: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

36

Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz

Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)

Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado

pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual

a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada

A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo

ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)

E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)

Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos

a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado

de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio

construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)

No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das

paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar

Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 38: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

37

A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois

prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por

exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas

tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos

visuais

Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como

Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)

tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no

ensino da Histoacuteria

Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu

trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do

seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei

metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas

salas de aula

O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria

do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura

iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas

ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria

da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo

visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ

2008 p2)

Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 39: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

38

Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados

para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de

se fazer uma leitura de Imagens

Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho

Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a

necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que

fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais

teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a

partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um

universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se

possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)

Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou

de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas

relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de

Ensino Meacutedio

Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de

Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)

uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros

didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem

em cada uma dessas coleccedilotildees

Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores

do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de

ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo

raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na

verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um

instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute

vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)

Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se

necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise

situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus

respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 40: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

39

no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes

profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem

para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros

aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas

atividades ligadas a sauacutede

Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a

ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em

sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio

No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs

charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado

de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico

As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas

a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais

apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)

Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de

temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam

uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as

ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico

As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade

e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas

(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc

Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos

comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se

adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo

que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as

sociais (MOSCOVICI 1979)

As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de

comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar

com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas

representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 41: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

40

Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do

simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e

visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo

O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o

pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o

surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou

menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo

fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que

ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)

Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo

[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)

Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar

de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino

especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 42: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

41

0

10

20

30

40

50

60

70

3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA

O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de

natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos

dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo

no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao

tema

Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de

estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da

exigecircncia do m estrado profissionalizante

No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na

CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os

anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como

consta no graacutefico1

Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)

O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea

dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante

1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras

chave Imagem e Sauacutede

Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede

Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas

Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de

forma especifica o uso de imagem

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 43: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

42

Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso

da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho

Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a

sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como

professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de

imagens

A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise

de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)

Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda

a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os

seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem

representa um determinado tema

Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a

iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a

forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir

qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia

como para complementar um texto escrito

Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do

significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1

Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack

(2010)

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)

- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social

Conhecimento comunicativo

- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras

Continuaccedilatildeo

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 44: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

43

Cont

DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS

Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam

Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica

Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)

- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem

Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)

- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo

Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010

Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura

iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos

cursos de formaccedilatildeo de professores

Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento

ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta

de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem

a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)

Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees

Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas

dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus

instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees

de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)

A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na

pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para

professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los

metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos

a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo

visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das

representaccedilotildees sociais ali contidas

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 45: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

44

Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a

experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia

iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo

poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais

nesta pesquisa

Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela

Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao

partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades

praacuteticas

A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)

Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da

racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que

de forma incessante ocorrem entre as pessoas

Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no

final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e

consequentemente novas praacuteticas cotidianas

A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana

Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo

podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens

segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o

crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem

e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se

preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou

seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 46: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

45

Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se

relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo

que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela

Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)

Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor

desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento

e situaccedilotildees

Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo

icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de

forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta

De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)

Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges

originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que

possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra

Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos

professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir

da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de

dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 47: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

46

Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o

sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais

produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua

vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)

A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a

uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo

um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha

Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das

experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)

As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo

temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em

outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a

diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios

meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e

psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem

No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o

elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado

ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais

direta

Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)

O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)

Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de

uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores

ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por

objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer

para manter o que jaacute eacute conhecido

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 48: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

47

Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em

metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam

romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que

limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de

saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na

sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um

experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar

(NOVIKOFF 2010 p215)

A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se

uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de

conhecimentos

De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode

desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas

dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se

interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e

analiacutetico-conclusiva

Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila

pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010

p239)

A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar

estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de

imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os

discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo

vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede

As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como

representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais

utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo

a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)

Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio

do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do

Rio de Janeiro

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 49: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

48

Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que

publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que

circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees

relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)

Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a

fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e

sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)

Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs

primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos

vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX

Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais

festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack

denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)

podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de

contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente

independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o

produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma

discussatildeo sobre as possibilidades

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 50: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

49

Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois

se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado

Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)

Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml

Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na

cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado

na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte

o francecircs Aleixo Gary

Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da

epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro

Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a

quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo

Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo

da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom

amistoso

Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos

cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 51: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

50

como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado

pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas

diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc

Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876

Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml

Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre

um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da

morte

FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa

Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de

interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 52: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

51

do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as

autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias

na capital do impeacuterio

Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a

questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior

produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio

de Janeiro

Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da

discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as

seguintes charges

Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois

personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede

atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 53: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

52

autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a

campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista

(MERHY MALTA e SANTOS p 5)

Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam

identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu

periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo

o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma

denotaccedilatildeo negativa

Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo

sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas

estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo

direcionadas

Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias

antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a

partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar

para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 54: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

53

A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados

pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo

XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre

recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com

as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo

Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903

Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr

Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute

querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o

Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente

da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a

insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos

transmissores da Febre Amarela

Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um

mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar

que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois

uacuteltimos versos o autor diz

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 55: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

54

O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices

Noacutes todos

Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era

observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de

erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar

questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a

partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos

Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904

Disponiacutevel em wwwfiocruzbr

Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola

Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido

reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria

charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 56: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

55

manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que

haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela

E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz

a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a

epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se

desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca

Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao

transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que

observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de

sauacutede no Brasil

Figura 8 ndash Osvaldo Cruz

Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml

Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-

iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees

No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o

que pode ser interpretado como altivez ou soberba

No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz

podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 57: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

56

o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica

higienista

O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os

personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta

imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu

(PALMA 2003 sp)

Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua

criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar

questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se

refere a linguagem imageacutetica utilizada

Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904

Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 58: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

57

Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que

aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo

Obrigatoacuteria

A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo

sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as

poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para

corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge

qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA

2011 p4)

31 Produto

O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da

CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E

SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo

Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A

estrutura do livreto eacute a seguinte

1 INTRODUCcedilAtildeO

2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo

3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS

4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES

5 ANAacuteLISE DAS CHARGES

6 E PARA FINALIZAR

7 REFEREcircNCIAS

As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do

tema

2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-

noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 59: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

58

De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os

profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de

charges

Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos

envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra

com as palavras de Nietzsche

A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da

vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida

(Friedrich Nietzsche)

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 60: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

59

4 CONCLUSAtildeO

Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor

se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o

cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as

representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma

leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu

olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo

que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio

em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das

representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)

A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso

produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere

aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel

delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas

tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas

poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido

Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento

aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir

discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais

podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo

As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como

apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo

da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural

Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a

importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da

aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de

exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 61: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

60

Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao

traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de

linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)

E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando

Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 62: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

61

5 REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos

TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia

TechnoPolitik 2011

ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero

Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147

novembro de 2002

AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de

integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de

2003

BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio

In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa

Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da

Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005

______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo

Paulo Companhia das Letras 1987

CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores

no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005

______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2006

FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003

FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e

Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em

Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 63: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

62

Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos

de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004

FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e

Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e

Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011

LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De

Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E

Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009

MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e

Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de

Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991

MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de

BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP

1984

MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje

Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma

Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt

http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em

14062013

MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges

Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX

Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de

2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01

tcompletothiag gt Acessado em 15062013

MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de

Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em

Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade

Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em

Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 64: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

63

MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia

social Rio de Janeiro Vozes 2003

NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado

da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis

educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro

Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010

OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries

Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume

7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010

OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade

das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de

Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15

PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt

httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado

em 15062013

PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a

ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003

ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do

conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008

SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning

2005

______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011

SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica

Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de

Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 65: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

64

SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de

Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de

2000

SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de

Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363

julset 1993

SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos

Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993

SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social

Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321

TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no

Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui

Barbosa Rio de Janeiro 2001

WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo

Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010

TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano

poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos

Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo

ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008

VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP

2010

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 66: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

65

ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS

segundo as Dimensotildees Novikoff

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos

Page 67: New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR …sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/... · 2013. 7. 31. · Imagem, representações sociais e saúde: um

66

ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES

APROVACcedilAtildeO)

Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes

Quinta 27 de Agosto de 2009 1624

O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a

111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para

Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de

modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que

vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010

Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade

de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de

conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na

forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo

utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros

O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES

desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e

procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros

Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram

estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees

individuais de professores pesquisadores e alunos