New IMAGEM, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE: UM OLHAR...
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FUNDACcedilAtildeO OSWALDO ARANHA
CENTRO UNIVERSITAacuteRIO DE VOLTA REDONDA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE E DO MEIO
AMBIENTE
ANTONIO BARTOLOMEU FERREIRA FILHO
IMAGEM REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E SAUacuteDE UM OLHAR
SOBRE O RIO DE JANEIRO DO FIM DO IMPEacuteRIO AO ALVORECER
DA REPUacuteBLICA
VOLTA REDONDA ndash RJ
2013
FUNDACcedilAtildeO OSWALDO ARANHA
CENTRO UNIVERSITAacuteRIO DE VOLTA REDONDA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE E DO MEIO
AMBIENTE
IMAGEM REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E SAUacuteDE UM OLHAR
SOBRE O RIO DE JANEIRO DO FIM DO IMPEacuteRIO AO ALVORECER
DA REPUacuteBLICA
Texto dissertativo apresentado agrave Banca de
Defesa do Curso de Mestrado Profissional
em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio
Ambiente da UniFOA como requisito agrave
obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre
Aluno Antonio Bartolomeu Ferreira Filho
Orientadora Prof Drordf Cristina Novikoff
VOLTA REDONDA ndash RJ
2013
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Ficha catalograacutefica elaborada pela bibliotecaacuteria
Gabriela Leite Ferreira -- CRB 7RJ - 5521
F383i Ferreira Filho Antonio Bartolomeu Imagem representaccedilotildees sociais e sauacutede um olhar sobre o Rio de Janeiro do fim do impeacuterio ao alvorecer da repuacuteblica Antonio Bartolomeu Ferreira Filho ndash Volta Redonda RJ UniFOA 2013
66 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional) ndash Centro Universitaacuterio de Volta Redonda Mestrado Profissional em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio Ambiente
Orientadora Profordf Drordf Cristina Novikoff
1 Sauacutede ndash Ensino e estudo 2 Educaccedilatildeo para a sauacutede
I Novikoff Cristina II Tiacutetulo CDD 37881
Dedico este trabalho primeiramente aos
meus pais que de forma incondicional
estiveram sempre ao meu lado em todos
os bons e maus momentos de minha vida
A minha amada esposa que de uma
maneira uacutenica tem sempre me apoiado
em minhas empreitadas acadecircmicas
sendo o meu porto seguro e incentivando-
me maravilhosamente quando o
desacircnimo nos seus diversos e sutis
momentos quis sorrateiramente se
abater sobre a minha pessoa
AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter
me concedido a daacutediva da vida
A minha professora-orientadora a
estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que
aos meus olhos eacute no sentido maior da
palavra uma verdadeira mestra que tem
entre suas diversas e maravilhosas
caracteriacutesticas a excelecircncia da
humanidade
Ao corpo docente do MECSMA aos meus
amigos de turma e em especial ao grupo
da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia
Maria Aparecida e Angeacutelica) que se
tornou uma segunda famiacutelia
Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr
Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel
e do Chefe do Departamento de Ensino
CC Marcos Veiga sempre
compreensiacuteveis quando precisei me
ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos
Aos amigos do CN em especial ao Prof
Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo
Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees
acadecircmicas
Aos professores do CN e em especial ao
Victor pela amizade e apoio
A professora Eloiacutesa que me apresentou
ao mestrado do MECSMA
E por fim a professora Shirlane um
grande ser humano que de forma
incondicional em muito colaborou na
organizaccedilatildeo deste trabalho
RESUMO
Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas
como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem
alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto
estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos
citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem
ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente
com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir
Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de
sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do
recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de
criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no
ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees
Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de
estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal
pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais
Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais
ABSTRACT
There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative
tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of
a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we
can mention the technological advances in the areas of communication and media
that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of
information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the
objective of this work is to understand the social representations of health contained
in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in
order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in
teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions
(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of
iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the
perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within
the temporary period defined with their social economic political religious and
cultural
Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13
21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26
24 Imagem 35
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41
31 Produto 57
4 CONCLUSAtildeO 59
5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61
6 ANEXOS 65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-
CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff
65
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
66
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
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alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
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aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
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No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
FUNDACcedilAtildeO OSWALDO ARANHA
CENTRO UNIVERSITAacuteRIO DE VOLTA REDONDA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE E DO MEIO
AMBIENTE
IMAGEM REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E SAUacuteDE UM OLHAR
SOBRE O RIO DE JANEIRO DO FIM DO IMPEacuteRIO AO ALVORECER
DA REPUacuteBLICA
Texto dissertativo apresentado agrave Banca de
Defesa do Curso de Mestrado Profissional
em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio
Ambiente da UniFOA como requisito agrave
obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre
Aluno Antonio Bartolomeu Ferreira Filho
Orientadora Prof Drordf Cristina Novikoff
VOLTA REDONDA ndash RJ
2013
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Ficha catalograacutefica elaborada pela bibliotecaacuteria
Gabriela Leite Ferreira -- CRB 7RJ - 5521
F383i Ferreira Filho Antonio Bartolomeu Imagem representaccedilotildees sociais e sauacutede um olhar sobre o Rio de Janeiro do fim do impeacuterio ao alvorecer da repuacuteblica Antonio Bartolomeu Ferreira Filho ndash Volta Redonda RJ UniFOA 2013
66 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional) ndash Centro Universitaacuterio de Volta Redonda Mestrado Profissional em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio Ambiente
Orientadora Profordf Drordf Cristina Novikoff
1 Sauacutede ndash Ensino e estudo 2 Educaccedilatildeo para a sauacutede
I Novikoff Cristina II Tiacutetulo CDD 37881
Dedico este trabalho primeiramente aos
meus pais que de forma incondicional
estiveram sempre ao meu lado em todos
os bons e maus momentos de minha vida
A minha amada esposa que de uma
maneira uacutenica tem sempre me apoiado
em minhas empreitadas acadecircmicas
sendo o meu porto seguro e incentivando-
me maravilhosamente quando o
desacircnimo nos seus diversos e sutis
momentos quis sorrateiramente se
abater sobre a minha pessoa
AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter
me concedido a daacutediva da vida
A minha professora-orientadora a
estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que
aos meus olhos eacute no sentido maior da
palavra uma verdadeira mestra que tem
entre suas diversas e maravilhosas
caracteriacutesticas a excelecircncia da
humanidade
Ao corpo docente do MECSMA aos meus
amigos de turma e em especial ao grupo
da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia
Maria Aparecida e Angeacutelica) que se
tornou uma segunda famiacutelia
Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr
Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel
e do Chefe do Departamento de Ensino
CC Marcos Veiga sempre
compreensiacuteveis quando precisei me
ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos
Aos amigos do CN em especial ao Prof
Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo
Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees
acadecircmicas
Aos professores do CN e em especial ao
Victor pela amizade e apoio
A professora Eloiacutesa que me apresentou
ao mestrado do MECSMA
E por fim a professora Shirlane um
grande ser humano que de forma
incondicional em muito colaborou na
organizaccedilatildeo deste trabalho
RESUMO
Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas
como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem
alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto
estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos
citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem
ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente
com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir
Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de
sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do
recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de
criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no
ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees
Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de
estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal
pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais
Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais
ABSTRACT
There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative
tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of
a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we
can mention the technological advances in the areas of communication and media
that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of
information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the
objective of this work is to understand the social representations of health contained
in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in
order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in
teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions
(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of
iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the
perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within
the temporary period defined with their social economic political religious and
cultural
Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13
21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26
24 Imagem 35
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41
31 Produto 57
4 CONCLUSAtildeO 59
5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61
6 ANEXOS 65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-
CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff
65
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
66
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
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alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
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aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
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VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Ficha catalograacutefica elaborada pela bibliotecaacuteria
Gabriela Leite Ferreira -- CRB 7RJ - 5521
F383i Ferreira Filho Antonio Bartolomeu Imagem representaccedilotildees sociais e sauacutede um olhar sobre o Rio de Janeiro do fim do impeacuterio ao alvorecer da repuacuteblica Antonio Bartolomeu Ferreira Filho ndash Volta Redonda RJ UniFOA 2013
66 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional) ndash Centro Universitaacuterio de Volta Redonda Mestrado Profissional em Ensino em Ciecircncias da Sauacutede e Meio Ambiente
Orientadora Profordf Drordf Cristina Novikoff
1 Sauacutede ndash Ensino e estudo 2 Educaccedilatildeo para a sauacutede
I Novikoff Cristina II Tiacutetulo CDD 37881
Dedico este trabalho primeiramente aos
meus pais que de forma incondicional
estiveram sempre ao meu lado em todos
os bons e maus momentos de minha vida
A minha amada esposa que de uma
maneira uacutenica tem sempre me apoiado
em minhas empreitadas acadecircmicas
sendo o meu porto seguro e incentivando-
me maravilhosamente quando o
desacircnimo nos seus diversos e sutis
momentos quis sorrateiramente se
abater sobre a minha pessoa
AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter
me concedido a daacutediva da vida
A minha professora-orientadora a
estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que
aos meus olhos eacute no sentido maior da
palavra uma verdadeira mestra que tem
entre suas diversas e maravilhosas
caracteriacutesticas a excelecircncia da
humanidade
Ao corpo docente do MECSMA aos meus
amigos de turma e em especial ao grupo
da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia
Maria Aparecida e Angeacutelica) que se
tornou uma segunda famiacutelia
Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr
Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel
e do Chefe do Departamento de Ensino
CC Marcos Veiga sempre
compreensiacuteveis quando precisei me
ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos
Aos amigos do CN em especial ao Prof
Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo
Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees
acadecircmicas
Aos professores do CN e em especial ao
Victor pela amizade e apoio
A professora Eloiacutesa que me apresentou
ao mestrado do MECSMA
E por fim a professora Shirlane um
grande ser humano que de forma
incondicional em muito colaborou na
organizaccedilatildeo deste trabalho
RESUMO
Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas
como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem
alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto
estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos
citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem
ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente
com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir
Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de
sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do
recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de
criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no
ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees
Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de
estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal
pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais
Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais
ABSTRACT
There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative
tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of
a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we
can mention the technological advances in the areas of communication and media
that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of
information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the
objective of this work is to understand the social representations of health contained
in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in
order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in
teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions
(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of
iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the
perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within
the temporary period defined with their social economic political religious and
cultural
Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13
21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26
24 Imagem 35
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41
31 Produto 57
4 CONCLUSAtildeO 59
5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61
6 ANEXOS 65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-
CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff
65
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
66
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
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no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
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Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
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Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
Dedico este trabalho primeiramente aos
meus pais que de forma incondicional
estiveram sempre ao meu lado em todos
os bons e maus momentos de minha vida
A minha amada esposa que de uma
maneira uacutenica tem sempre me apoiado
em minhas empreitadas acadecircmicas
sendo o meu porto seguro e incentivando-
me maravilhosamente quando o
desacircnimo nos seus diversos e sutis
momentos quis sorrateiramente se
abater sobre a minha pessoa
AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter
me concedido a daacutediva da vida
A minha professora-orientadora a
estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que
aos meus olhos eacute no sentido maior da
palavra uma verdadeira mestra que tem
entre suas diversas e maravilhosas
caracteriacutesticas a excelecircncia da
humanidade
Ao corpo docente do MECSMA aos meus
amigos de turma e em especial ao grupo
da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia
Maria Aparecida e Angeacutelica) que se
tornou uma segunda famiacutelia
Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr
Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel
e do Chefe do Departamento de Ensino
CC Marcos Veiga sempre
compreensiacuteveis quando precisei me
ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos
Aos amigos do CN em especial ao Prof
Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo
Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees
acadecircmicas
Aos professores do CN e em especial ao
Victor pela amizade e apoio
A professora Eloiacutesa que me apresentou
ao mestrado do MECSMA
E por fim a professora Shirlane um
grande ser humano que de forma
incondicional em muito colaborou na
organizaccedilatildeo deste trabalho
RESUMO
Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas
como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem
alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto
estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos
citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem
ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente
com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir
Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de
sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do
recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de
criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no
ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees
Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de
estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal
pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais
Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais
ABSTRACT
There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative
tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of
a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we
can mention the technological advances in the areas of communication and media
that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of
information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the
objective of this work is to understand the social representations of health contained
in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in
order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in
teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions
(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of
iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the
perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within
the temporary period defined with their social economic political religious and
cultural
Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13
21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26
24 Imagem 35
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41
31 Produto 57
4 CONCLUSAtildeO 59
5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61
6 ANEXOS 65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-
CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff
65
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
66
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
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As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
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Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
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Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
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No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
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Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
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alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
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aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
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No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
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E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeccedilo a Deus por ter
me concedido a daacutediva da vida
A minha professora-orientadora a
estimada ldquoSinhardquo Cristina Novikoff que
aos meus olhos eacute no sentido maior da
palavra uma verdadeira mestra que tem
entre suas diversas e maravilhosas
caracteriacutesticas a excelecircncia da
humanidade
Ao corpo docente do MECSMA aos meus
amigos de turma e em especial ao grupo
da orientaccedilatildeo (Adelmo Rhanica Socircnia
Maria Aparecida e Angeacutelica) que se
tornou uma segunda famiacutelia
Ao Coleacutegio Naval (CN) na figura do Sr
Comandante CMG Maacutercio Pereira Rippel
e do Chefe do Departamento de Ensino
CC Marcos Veiga sempre
compreensiacuteveis quando precisei me
ausentar em funccedilatildeo dos meus estudos
Aos amigos do CN em especial ao Prof
Jules meu imediato na Coordenaccedilatildeo
Geral e ao Prof Duarte pelas orientaccedilotildees
acadecircmicas
Aos professores do CN e em especial ao
Victor pela amizade e apoio
A professora Eloiacutesa que me apresentou
ao mestrado do MECSMA
E por fim a professora Shirlane um
grande ser humano que de forma
incondicional em muito colaborou na
organizaccedilatildeo deste trabalho
RESUMO
Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas
como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem
alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto
estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos
citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem
ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente
com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir
Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de
sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do
recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de
criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no
ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees
Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de
estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal
pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais
Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais
ABSTRACT
There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative
tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of
a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we
can mention the technological advances in the areas of communication and media
that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of
information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the
objective of this work is to understand the social representations of health contained
in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in
order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in
teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions
(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of
iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the
perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within
the temporary period defined with their social economic political religious and
cultural
Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13
21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26
24 Imagem 35
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41
31 Produto 57
4 CONCLUSAtildeO 59
5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61
6 ANEXOS 65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-
CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff
65
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
66
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
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As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
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Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
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Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
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No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
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Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
RESUMO
Cada vez mais tem aumentado o uso de imagens em sala de aula natildeo apenas
como instrumento ilustrativo mas tambeacutem como uma forma de linguagem
alternativa com a finalidade de ampliar a percepccedilatildeo de um determinado assunto
estudado Entre os fatores que muito tecircm colaborado para tal processo podemos
citar os avanccedilos tecnoloacutegicos nas aacutereas de comunicaccedilatildeo e de miacutedia que permitem
ao ser humano em qualquer lugar e a qualquer momento interagir imageticamente
com um mundo de informaccedilotildees que fazem pensar sorrir chorar questionar sentir
Para tanto o objetivo deste trabalho foi compreender as representaccedilotildees sociais de
sauacutede contidas nas imagens mais precisamente charges analisando aleacutem do
recorte temporal pretendido as suas racionalidades e valores com a finalidade de
criar uma estrateacutegia educativa em forma de livreto para professores interessados no
ensino da sauacutede A metodologia de natureza qualitativa ancora-se nas Dimensotildees
Novikoff com revisatildeo bibliograacutefica A fim de dimensionar as percepccedilotildees do objeto de
estudo buscamos como caminho a leitura imageacutetica dentro do espaccedilo temporal
pretendido com suas funccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas religiosas e culturais
Palavras-chave Imagem Sauacutede Ensino Aprendizagem Representaccedilotildees Sociais
ABSTRACT
There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative
tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of
a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we
can mention the technological advances in the areas of communication and media
that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of
information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the
objective of this work is to understand the social representations of health contained
in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in
order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in
teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions
(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of
iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the
perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within
the temporary period defined with their social economic political religious and
cultural
Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13
21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26
24 Imagem 35
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41
31 Produto 57
4 CONCLUSAtildeO 59
5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61
6 ANEXOS 65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-
CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff
65
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
66
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
0
10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
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62
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
ABSTRACT
There has been increasing the use of images in the classroom not only as illustrative
tool but also as a form of alternative language in order to broaden the perception of
a particular subject studied Among the factors that have greatly to this process we
can mention the technological advances in the areas of communication and media
that allow humans anywere and anytime imagetical interact with a word of
information that makes us think laugh cry question at last feel Therefore the
objective of this work is to understand the social representations of health contained
in the images in addition to analyzing temporary period rationalities and values in
order to create a teaching strategy in the form of booklet for teachers interested in
teaching health The qualitative methodology is anchored in Novikoffrsquos Dimensions
(2010) with literature review Our product is a booklet with teaching strategy of
iconographic reading to help professionals in health education And to gauge the
perceptions of the object of study we will seek as a way the imagetic reading within
the temporary period defined with their social economic political religious and
cultural
Keywords Image Health Teaching and Learning Process Social Representation
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13
21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26
24 Imagem 35
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41
31 Produto 57
4 CONCLUSAtildeO 59
5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61
6 ANEXOS 65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-
CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff
65
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
66
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
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grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
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alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
2 A DIMENSAtildeO TEOacuteRICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13
21 Teoria Das Representaccedilotildees Sociais 13
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede 23
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica 26
24 Imagem 35
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 41
31 Produto 57
4 CONCLUSAtildeO 59
5 REFEREcircNCIAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 61
6 ANEXOS 65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-
CIENTIacuteFICOS segundo as Dimensotildees Novikoff
65
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
66
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
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no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
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Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
LISTA DE IMAGENS
GRAacuteFICO 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos do banco da CAPES (2000 ndash
2011)
41
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de
Bohnsack (2010)
42
FIGURA 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 48
FIGURA 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 49
FIGURA 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876 50
FIGURA 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 51
FIGURA 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de
29 de outubro de 1904
52
FIGURA 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903 53
FIGURA 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904 54
FIGURA 8 ndash Oswaldo Cruz 55
FIGURA 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904 56
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
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As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
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Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
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Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
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No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
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Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Quando pensamos comunicaccedilatildeo a partir de imagens a primeira
observaccedilatildeo dentro do campo do Ensino eacute a de que estamos tratando de uma
maneira de informaccedilatildeo direta em que a apuraccedilatildeo do que se eacute visto deve exigir uma
anaacutelise intelectual mais complexa natildeo limitando-se de forma simplista a deduzir o
que se percebe com o olhar
Neste sentido quando uma imagem eacute construiacuteda para comunicar algo a
sua codificaccedilatildeo pode ser (e natildeo raro eacute) tatildeo complexa quanto o significado de uma
palavra Acreditamos que a diferenccedila entre a imagem e a palavra eacute que a linguagem
imageacutetica eacute percebida tanto por quem tem o conhecimento da escrita como por
quem natildeo o tem
Ao apresentar a(s) imagem(s) o observador infere as relaccedilotildees que estatildeo
contidas nela(s) Por isso desde os tempos primoacuterdios as representaccedilotildees
imageacuteticas vecircm sendo utilizadas como meio de se comunicar algo ou transmitir uma
ideia
Basta lembrar que entre os textos informativos mais antigos encontram-
se os desenhos das cavernas de Lascaux na Franccedila que datam de mais de 10000
aC
Para demonstrar a riqueza eacute feito um recorte temporal considerando
estarmos pensando este objeto dentro de um mestrado profissional na aacuterea da
sauacutede e educaccedilatildeo ambiental Por questotildees pragmaacuteticas fizemos a delimitaccedilatildeo no
tema sauacutede
O objeto de pesquisa satildeo imagens mais precisamente charges que se
relacionem agrave sauacutede E desse objeto espera-se apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica atualmente uma tarefa para todos os docentes pois como professor de
Histoacuteria do Coleacutegio Naval situado na cidade de Angra dos Reis no Estado do Rio
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
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No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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20
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40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
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ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
10
de Janeiro percebo o valor dos recursos iconograacuteficos na construccedilatildeo do
conhecimento
Dai questionarmos como buacutessola a nos guiar por este estudo as
seguintes questotildees norteadoras
Como se apresentam as imagens (charges) que evocam aspectos
relacionados a questotildees de sauacutede referentes ao periacuteodo do final do Impeacuterio
ao alvorecer da Repuacuteblica
Quais satildeo as representaccedilotildees sociais contidas nas charges relacionadas agrave
sauacutede Quais satildeo os valores contidos nestas representaccedilotildees
De que forma um material didaacutetico pode auxiliar o professor a trabalhar com
imagens contribuindo para a formaccedilatildeo critica dos estudantes frente agrave sauacutede
Assim nosso objetivo seraacute compreender o lugar da linguagem visual no
ensino meacutedio dialogando de modo interdisciplinar a temaacutetica sauacutede com a finalidade
de criar um livreto norteador aos professores na leitura de charges
Para ilustrar as estrateacutegias de ensino na perspectiva critica e criativa
analisamos diferentes questotildees levantadas por chargistas a partir do olhar das
representaccedilotildees sociais pela forma como ao proferir uma comunicaccedilatildeo imageacutetica
eles contribuiacuteram no meio em que manifestavam suas percepccedilotildees para a
socializaccedilatildeo da construccedilatildeo da criacutetica sobre as praacuteticas de sauacutede observadas num
contexto especiacutefico
A ideia eacute possibilitar aos docentes levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens em especial das charges correlatas a sauacutede a fim de entender a
aplicabilidade de um instrumento praacutexico
As charges podem ter a funccedilatildeo de comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas
Para sustentar nossa discussatildeo trazemos a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais de Serge Moscovici pelo fato de nos permitir compreender o pensamento
social ou seja as representaccedilotildees sociais ou senso comum de um determinado
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
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As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
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Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
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Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
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No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
11
grupo social Assim a sua investigaccedilatildeo possibilita a identificaccedilatildeo da forma como o
grupo social compreende um determinado objetotema sendo que no caso deste
estudo a preocupaccedilatildeo estaacute na leitura indireta destas representaccedilotildees a partir da
interpretaccedilatildeo de imagens acerca da sauacutede
Em siacutentese as representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos merecem
ser estudadas uma vez que possibilitam dois processos primeiro compreender a
subjetividade segundo pensar formas de intervenccedilatildeo
Destacamos tambeacutem o uso da Semioacutetica que pesquisa todas as formas
de possiacuteveis de linguagem ou seja eacute a ciecircncia geral de todas as linguagens
(SANTAELLA 1983 p10)
Eacute importante lembrar que todas as manifestaccedilotildees ocorridas
independente do momento histoacuterico em que aconteceram vecircm da interaccedilatildeo dos
indiviacuteduos inseridos no processo das transformaccedilotildees
A abordagem seraacute atraveacutes da pesquisa qualitativa tendo por base
metodoloacutegica a anaacutelise bibliograacutefica e a utilizaccedilatildeo das Dimensotildees Novikoff como
instrumento de planejamento do trabalho para a construccedilatildeo do conhecimento
Vale destacar em relaccedilatildeo aos fatos que ocorrem no Brasil do final do
Impeacuterio ao advento da Repuacuteblica ateacute o periacuteodo histoacuterico atual que devemos nos
lembrar que toda a dinacircmica social poliacutetica e econocircmica vem a ser fruto dos
interesses de diversos segmentos sociais envolvidos e de como os indiviacuteduos de
cada grupo distinto interagem dentro do processo
Aleacutem dos acontecimentos em andamento natildeo podemos esquecer os
olhares que testemunham o momento de tais transformaccedilotildees Eles de certa forma
tornam-se a janela para o futuro entender o processo ocorrido a passagem do
Impeacuterio para a Repuacuteblica e os diversos aspectos que balizaram esse momento Em
especial neste trabalho as questotildees ligadas agrave aacuterea de sauacutede
Eacute dentro das Representaccedilotildees Sociais que podemos entender as
percepccedilotildees desses olhares pelas interaccedilotildees vivenciadas pelas pessoas da eacutepoca
Como produto desenvolvido apresentamos um livreto que tem por
finalidade indicar o valor do ensino da linguagem imageacutetica em especial as
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
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Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
0
10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
12
charges enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo de grande abrangecircncia ou seja o
alcance independe da condiccedilatildeo social cultural ou mesmo intelectual
Uma vez que a imagem eacute um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os docentes para desenvolver juntamente
com os seus respectivos estudantes o debate de representaccedilotildees com suas
ideologias valores e pensamentos contidos nas charges
As estrateacutegias do livreto constituem uma praacutexis para a utilizaccedilatildeo de
imagens no cotidiano dos espaccedilos em que ocorrem as praacuteticas de ensino
destacando a finalidade de instigar os docentes e outros profissionais interessados
na charge como forma de linguagem para atingir determinados fins com
campanhas alertas esclarecimentos etc
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar as
formas de leitura de imagens nas salas de aula no Brasil pois tal situaccedilatildeo como
nos ensina Maria Emilia Sardelich no seu trabalho Leitura de Imagens cultura visual
e praacutetica educativa (2006) ainda seguem padrotildees europeus e estadunidenses O
desafio eacute romper com este paradigma criando estrateacutegias brasileiras
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
13
2 DIMENSAtildeO TEOacuteRICA
21 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais um breve olhar
As Representaccedilotildees Sociais que tem sua primeira base teoacuterica a partir de
1961 com o psicoacutelogo social Serge Moscovici pode ser inicialmente apresentada
como o conjunto de explicaccedilotildees diversas relacionadas ao indiviacuteduo dentro de um
espaccedilo social em que o mesmo se encontra onde a partir das interaccedilotildees
vicenciadas enquanto ser social eacute construiacutedo e auxilia na construccedilatildeo da mesma
Quando pensamos Representaccedilotildees Sociais temos que levar em conta
que estamos buscando interpretar um objeto ou lugar de acordo com as
experiecircncias que movem os interesses predominantes que se encontram no
momento
Podemos usar como exemplo a localizaccedilatildeo de um objeto que pode ser
interpretado aleacutem da visatildeo geograacutefica e espacial tambeacutem a partir de uma leitura
politica econocircmica social e cultural com isso passando a ter uma existecircncia
totalmente diferenciada de acordo com o olhar temporal lanccedilado sobre o mesmo ou
seja em cada periacuteodo de sua existecircncia a sua significaccedilatildeo varia de acordo com a
realidade do momento
Em outras palavras noacutes percebemos o mundo tal como eacute e todas as nossas percepccedilotildees ideias e atribuiccedilotildees satildeo respostas a estiacutemulos do ambiente fiacutesico ou quase fiacutesico em que noacutes vivemos (MOSCOVICI 2003 p30)
Tambeacutem como exemplo podemos dizer que um determinado reloacutegio
fabricado hoje daqui a duzentos anos teraacute um significado totalmente diferente sobre
o que tinha no momento pois iratildeo somar-se a valorizaccedilatildeo histoacuterica que aleacutem da
funccedilatildeo de marcar o tempo iraacute dar ao mesmo o papel de ser a prova material sobre
uma eacutepoca passada relatando costumes e experiecircncias ou seja um elo de ligaccedilatildeo
entre o hoje e o amanhatilde
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
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ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
14
As Representaccedilotildees Sociais podem ser expressas pela miacutedia que atraveacutes
de seus instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo interagem nas decisotildees e
interpretaccedilotildees de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
Outra visatildeo a respeito de Representaccedilatildeo Social pode ser vista a partir do
trabalho de Rafael Augustus Secircga - O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas obras
de Denise Jodelet e Serge Moscovici (2000) que entre outros aspectos afirma que
As representaccedilotildees sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indiviacuteduos e pelos grupos para fixar suas posiccedilotildees em relaccedilatildeo a situaccedilotildees eventos objetos e comunicaccedilotildees que lhes concernem (SEcircGA 2000 p128)
Natildeo podemos deixar de afirmar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo
auxiliadas pela Psicologia Social que estuda entre outros aspectos como as
pessoas ao partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam as
mesmas em atividades praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade se materializam no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
E claro que natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o
materializar no final apresentam caracteriacutesticas a margem natildeo esperadas que
proporcionam novas ideias e consequentemente novas praacuteticas cotidianas
Com isso podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
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No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
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Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
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no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
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Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
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Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
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Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
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Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
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Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
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Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
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Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
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O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
15
Antes de avanccedilar mais na discussatildeo da funcionalidade das
Representaccedilotildees Sociais acreditamos que devamos fazer uma discreta anaacutelise
histoacuterica para situar tal modelo no espaccedilo e acima de tudo no tempo
O conceito de Representaccedilotildees foi criado por Sergei Moscovici em 1961
onde o autor busca interpretar os diversos aspectos que envolvem o homem no
meio em que se situa tendo como eixo as relaccedilotildees coletivas influenciando o
indiviacuteduo paralelamente sendo influenciado por ele ou seja Moscovici faz uma
leitura das relaccedilotildees coletivas sem deixar de lado o particularismo individual de cada
um
Acreditamos que o proacuteprio Moscovici foi estimulado a pensar desta forma
para entender o que acontecera na Europa durante a sua juventude quando a
mesma foi assolada pelo nazismo que havia convertido milhotildees de pessoas dentro
e fora da Alemanha a uma barbaacuterie que incompreensivelmente negava o que se
achava toda uma evoluccedilatildeo humanista a qual na teoria natildeo concebia tal
pensamento principalmente com suas caracteriacutesticas de intoleracircncia destacando-se
a eugenia
A decisatildeo formal de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferecircncia de Wannsee realizada em janeiro de 1942 Nela foi estabelecida a Soluccedilatildeo Final (grifo dos autores) para o problema judaico o genociacutedio Pouco a pouco os guetos foram desativados e os judeus enviados a campos de extermiacutenio como o de Auschwitz na Polocircnia o mais conhecido deles Ao chegar nos campos apoacutes dias de viagem em vagotildees de trens de carga infectados eram selecionados os judeus que ainda tinham condiccedilotildees de trabalhar para a maacutequina de guerra alematilde inclusive nas faacutebricas de municcedilotildees Os demais eram enviados agraves cacircmaras de gaacutes e seus corpos eram incinerados em crematoacuterios Na tentativa de iludir os condenados os campos tinham um letreiro grande no portatildeo principal onde se lia ldquoO trabalho libertardquo (Arbeit macht frei) (VAINFAS et al 2010 p665)
A partir deste princiacutepio podemos dizer que o pensar um determinado
modelo soacutecio cultural e na verdade e acima de tudo fruto das praacuteticas cotidianas e
vice versa no que se refere aos interesses que permeiam a interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos circunscritos a um determinado meio
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
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alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
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No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
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no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
16
Com isso seria correto dizer que as Representaccedilotildees Sociais em nada
estaria apresentando de novidade pois todas as formas de pensamento nascem
motivadas pelas praacuteticas cotidianas de um determinado momento temporal
Como exemplo podemos citar o Socialismo Cientiacutefico na figura de Karl
Marx e Friedrich Engels que apoacutes observar a evoluccedilatildeo da humanidade a partir de
uma visatildeo materialista histoacuterica e dialeacutetica perceberam durante o seacuteculo XIX que a
sociedade iria passar por transformaccedilotildees as quais possibilitariam finalmente que os
oprimidos na figura da classe operaacuteria chegariam ao poder
[] Segue-se que todas as lutas no interior do Estado a luta pelo direito de voto etc etc satildeo apenas as formas ilusoacuterias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes () segue-se aleacutem disso que toda classe que aspira agrave dominaccedilatildeo mesmo que essa dominaccedilatildeo como no caso do proletariado exija a superaccedilatildeo de toda a antiga forma de sociedade e de dominaccedilatildeo em geral deve conquistar primeiro o poder poliacutetico para apresentar seu interesse como interesse geral ao que estaacute obrigado no primeiro momento (MARX ENGELS 1984 p48-49)
De fato revoluccedilotildees neste sentido ocorreram principalmente ao longo do
seacuteculo XX no entanto ao seu final apresentaram particularismos que natildeo foram
demasiadamente explorados tanto por Marx quanto por Engels ou seja as
variantes que satildeo captadas pelas Representaccedilotildees Sociais pelo fato de buscar
entender as relaccedilotildees cotidianas natildeo apenas em niacutevel de grupo social mas tambeacutem
a partir da forma como cada indiviacuteduo interage dentro do grupo a partir das
experiecircncias adquiridas e como as comunicam dentro do proacuteprio grupo ou
influecircncias que se sobrepotildee a este grupo
A atribuiccedilatildeo natildeo eacute aqui tomada portanto como algo definitivo ou indiferenciado mas como intrinsecamente processual assim o homem relaciona e integra informaccedilotildees e experiecircncias assim estruturam-se e associam-se conceitos imagens valores normas siacutembolos e crenccedilas numa explicaccedilatildeo do real e de suas partes Neste sentido o real torna-se concreto para o homem que desta forma se insere e se (re)produz ao produzi-lo e ao ser por ele produzido (MADEIRA 1991 P130)
O surgimento do conceito de Representaccedilotildees Sociais surge na Franccedila
em 1961 a partir da publicaccedilatildeo de Psychanalyse son image et son public com
Serge Moscovici
17
No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
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alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
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No entanto natildeo podemos deixar de lembrar que as Representaccedilotildees
Sociais de Moscovici tem uma certa similaridade com as Relaccedilotildees Coletivas de
Durkheim que em seus objetivos eacute apresentado por Roseana Xavier da seguinte
forma
Nas suas elaboraccedilotildees teoacutericas a principal meta de Durkheim eacute encontrar e explicar aquilo que fornece unidade agrave vida social o elo entre as diversas formas como as sensaccedilotildees individuais (entendendo o indiviacuteduo como produto da realidade social) satildeo representadas sua causa ldquoobjetivardquo ldquouniversalrdquo e ldquoeternardquo (XAVIER 2002 p21)
Neste aspecto observamos que Moscovici no choque entre cultura e
razatildeo demonstra um contrassenso pelo fato de atraveacutes da ciecircncia buscar
desenvolver a Psicologia Social a qual na visatildeo de Durkhein eacute estaacutetica ou seja as
concepccedilotildees que se emanam nas chamadas Representaccedilotildees Coletivas satildeo fixas e
com isso limitando-se as flexibilidades diferentemente de Moscovici que ao abordar
a sociedade identifica as constantes e incessantes mudanccedilas dentro da mesma a
partir das interaccedilotildees ocorridas Neste aspecto remetemo-nos a Maria Laura Puglisi
Barbosa Franco em seu trabalho Representaccedilotildees Sociais Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia (2004) que entre outros aspectos as apresenta
como
[hellip] categoria analiacutetica nas aacutereas da educaccedilatildeo e da psicologia da educaccedilatildeo baseia-se na crenccedila de que essa valorizaccedilatildeo representa um avanccedilo significa efetuar um corte epistemoloacutegico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e jaacute desgastados paradigmas das ciecircncias psicossociais Aleacutem disso natildeo apenas para a educaccedilatildeo mas de uma maneira mais ampla para a sociedade do conhecimento a abordagem e a realizaccedilatildeo de pesquisas sobre representaccedilotildees sociais podem ser consideradas ingredientes indispensaacuteveis para a melhor compreensatildeo dessa sociedade (FRANCO 2004 p170)
Podemos entatildeo afirmar que Moscovici enxerga as Representaccedilotildees
Sociais como um fenocircmeno devido ao processo de construccedilotildees internas dentro de
um determinado grupo por exemplo No caso de conceito limita-se apenas a
descrever e explicar sem tentar entender o mecanismo que gera as
Representaccedilotildees no caso a diversidade de interaccedilotildees
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Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
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grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
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A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
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Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
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alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
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Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
18
Os grupos que interagem ente si buscam a legitimaccedilatildeo de seu espaccedilo de
poder diante de outros indiviacuteduos ou seja satildeo transformaccedilotildees sociais descritas por
Moscovici
Neste aspecto observamos com Angela Arruda a partir do seu estudo
Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero (2002) em que faz uma
breve anaacutelise da obra La Psychanalyse son image son public de Moscovici Ela
afirma que
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais TRS operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinacircmica e em sua diversidade Partia da premissa de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar guiadas por objetivos diferentes formas que satildeo moacuteveis e define duas delas pregnantes nas nossas sociedades a consensual e a cientiacutefica cada uma gerando seu proacuteprio universo A diferenccedila no caso natildeo significa hierarquia nem isolamento entre elas apenas propoacutesitos diversos (ARRUDA 2002 p129-130)
As Representaccedilotildees Sociais se relacionam entre processo e estruturaccedilatildeo
sendo a consequecircncia do equiliacutebrio ou desequiliacutebrio gerado a partir das influecircncias
sociais
A partir desta visatildeo podemos dizer que as impressotildees apresentadas
pelas Representaccedilotildees Sociais em muito vem auxiliar o recorte temporal pretendido
pois passamos a entender as relaccedilotildees sociais existentes dentro deste periacuteodo natildeo
mais apenas pela visatildeo ideoloacutegica de conceitos preacute-concebidos e inflexiacuteveis
A crenccedila de que a ideologia eacute uma forma esquemaacutetica e inflexiacutevel de se ver o mundo em oposiccedilatildeo a alguma sabedoria mais simples gradual e pragmaacutetica foi elevada no poacutes-guerra da condiccedilatildeo de uma peccedila de sabedoria popular agrave posiccedilatildeo de uma elaborada teoria socioloacutegica Para o teoacuterico poliacutetico norte-americano Edward Shils as ideologias satildeo expliacutecitas fechadas resistentes a inovaccedilotildees promulgadas com uma grande dose de afetividade e requerem a total adesatildeo de seus devotos (EAGLETON 1997 p17)
Entender a sociedade brasileira no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo
XX dentro de um conceito ideoloacutegico inflexiacutevel seria limitar as percepccedilotildees a partir de
um olhar tendencioso sem levar em conta as variantes que existem dentro de um
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
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Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
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Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
0
10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
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novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
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BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
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Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
19
grupo e que fazem o mesmo ter caracteriacutesticas construiacutedas por todo um arcabouccedilo
que vai do cultural ao politico social econocircmico e psicoloacutegico
E como a proposta estaacute ancorada em um olhar temporal sobre as praacuteticas
de sauacutede no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX eacute correto afirmar que as
Representaccedilotildees Sociais contribuem para uma leitura imageacutetica de como o olhar do
indiviacuteduo captava as praacuteticas de sauacutede a partir da sua realidade social e temporal E
como exemplo podemos citar Margot Campos Madeira que diz
[hellip] A racionalidade tanto quanto a afetividade e a emotividade se vincula e opera no concreto como siacutentese possiacutevel e dinacircmica de um processo histoacuterico que a extrapola Todas estas dimensotildees articulam-se agrave especificidade da parte pela qual o sujeito se integra em determinada totalidade social (MADEIRA 1991 p132)
Tal situaccedilatildeo tem que ser relevada pelo fato de o universo que nos cerca
de forma incessante estaacute a transmitir informaccedilotildees que se transformam em
experiecircncias coletivas que influencia o individuo o qual por sua vez retransmite
dentro de suas percepccedilotildees suas interpretaccedilotildees e questionamentos que ao
interagirem dentro do meio em que se situa contribui para transformar o mesmo
Podemos afirmar que a respectiva relaccedilatildeo eacute como uma estrada de matildeo
dupla que flui de forma incessante levando do coletivo para o indiviacuteduo e vice versa
Impressionisticamente cada um de noacutes estaacute obviamente cercado tanto individualmente como coletivamente por palavras ideias e imagens que penetram nossos olhos nossos ouvidos e nossa mente quer queiramos quer natildeo e que nos atingem sem que o saibamos do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagneacuteticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone ou se tornam imagens na tela de televisatildeo (MOSCOVICI 2003 p33)
Tambeacutem natildeo podemos deixar de levar em conta o fato de as
Representaccedilotildees Sociais serem importantes para se trabalhar com o imageacutetico que
tambeacutem faz parte do universo que auxilia nas experiecircncias adquiridas dentro de um
determinado meio e que de acordo com as carateriacutesticas existentes dentro deste
meio tornam-se o que denominamos de senso comum
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
0
10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
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novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
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BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
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Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
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Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
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ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
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______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
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Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
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SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
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SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
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SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
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TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
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poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
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ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
20
Com isso eacute correto afirmar que a partir das Representaccedilotildees Sociais a
imagem auxilia na codificaccedilatildeo de uma ideia e de certa forma a ideia colabora na
decodificaccedilatildeo de outras imagens
As representaccedilotildees soacutecias devem ser vistas como uma maneira especiacutefica de compreender e comunicar o que noacutes jaacute sabemos Elas ocupam com efeito uma posiccedilatildeo curiosa em algum ponto entre conceitos que tecircm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepccedilotildees que reproduzem o mundo de uma forma significativa Elas sempre possuem duas faces que satildeo interdependentes como duas faces de uma folha de papel a face icocircnica e a face simboacutelica Noacutes sabemos que representaccedilatildeo = imagemsignificaccedilatildeo em outras palavras a representaccedilatildeo iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem (MOSCOVICI 2003 p46)
Dentro deste contexto o estudo de imagens torna-se importante pois
como percebemos a partir do proacuteprio Moscovici a significaccedilatildeo do texto imageacutetico
auxilia na compreensatildeo das ideias que permeiam um grupo social e os fatores que
impulsionam os mesmos dentro das convulsotildees sofridas em seu interior
Por isso acreditamos que a partir do choque entre as praacuteticas de sauacutede
existentes sobre as massas urbanas do Rio de Janeiro dentro do recorte temporal
pretendido e tendo as representaccedilotildees sociais como instrumento de interpretaccedilatildeo
das particularidades inseridas nos diversos grupos sociais que povoavam o espaccedilo
temporal em questatildeo podemos reafirmar a importacircncia das imagens enquanto
instrumento de diaacutelogo naquele momento decodificando de forma democraacutetica as
informaccedilotildees que auxiliavam na construccedilatildeo das ideias sobre a maneira como
ocorriam as praacuteticas de sauacutede na eacutepoca Neste aspecto temos o estudo de Gil
Sevalho - Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de Sauacutede e
Doenccedila (1993) o qual afirma que
Ao trafegar numa ambientaccedilatildeo histoacuterica onde as representaccedilotildees sociais envolvem a sauacutede e a doenccedila faccedilo-o atraveacutes de projetos e propostas mais recentes ligadas a uma conformaccedilatildeo determinada da Ciecircncia da Histoacuteria Refiro-me entatildeo agrave ordem simboacutelica que eacute o que daacute vida agrave realidade pois eacute onde se movimentam os corpos e as imagens onde se expressam as ambiguidades humanas os pensamentos sensaccedilotildees accedilotildees e atitudes que refletem as representaccedilotildees coletivas (SEVALHO 1993 p349)
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
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SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
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ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
21
Com isso as charges que satildeo ilustraccedilotildees humoriacutesticas que envolvem a
caricatura de um ou mais personagens ou acontecimento feita com o objetivo de
satirizar tambeacutem auxiliavam a identificar de forma quase que instantacircnea na
interpretaccedilatildeo das dinacircmicas sociais e poliacuteticas existentes
Quando pensamos as praacuteticas de sauacutede na cidade do Rio de Janeiro no
final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX temos que levar em conta que as classes
detentoras dos instrumentos do estado predominante possuiacuteam bem definidas seus
posicionamentos sobre os grupos que estavam subordinados a este estado como
seraacute visto mais adiante
No que se refere as comunidades colocadas a margem da sociedade
pelo estado excludente da eacutepoca as mesmas desenvolviam mecanismos de
proliferaccedilatildeo do conhecimento a partir de interaccedilotildees que iam desde conversas
informais ateacute a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees a partir da miacutedia escrita e imageacutetica
Neste contexto eacute que pretendemos demonstrar a importacircncia da imagem
enquanto instrumento que vinha auxiliar na construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre
as questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais que se abatiam sobre os grupos
marginalizados dentro do espaccedilo urbano em que existiam no caso a cidade do Rio
de Janeiro
Tambeacutem a partir das representaccedilotildees sociais entender a importacircncia dos
textos imageacuteticos que demonstravam de forma extremamente objetiva ou caricata
as convulsotildees motivadas pelas praacuteticas de sauacutede dentro do recorte temporal
pretendido e como os grupos marginalizados se interagiam para enfrentar tais
questotildees
A modernidade em contraste se caracteriza por centros mais diversos de poder que exigem autoridade e legitimaccedilatildeo de tal modo que a regulaccedilatildeo do conhecimento e da crenccedila natildeo eacute mais exercida do mesmo modo O fenocircmeno das representaccedilotildees sociais pode neste sentido ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condiccedilotildees descentradas de legitimaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p17)
Lembrando que as representaccedilotildees sociais natildeo observam a luta de
classes da mesma forma que o pensamento marxista por exemplo mas
principalmente como as classes interagem com o estado vigente
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
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nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
22
A legitimaccedilatildeo natildeo eacute mais garantida pela intervenccedilatildeo divina mas se torna parte de uma dinacircmica social mais complexa e contestada em que as representaccedilotildees dos diferentes grupos na sociedade procuram estabelecer uma hegemonia (MOSCOVICI 2003 p17)
Desta forma podemos afirmar que as representaccedilotildees sociais no que se
refere ao papel da imagem enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo auxiliam a
compreender a construccedilatildeo das praacuteticas que levaram ao desenvolvimento das
caracteriacutesticas que iratildeo constituir as relaccedilotildees entre o estado predominante da eacutepoca
e os grupos sociais marginalizados na cidade do Rio de Janeiro natildeo apenas pelo
vieacutes poliacutetico social e econocircmico mas tambeacutem pelo psicoloacutegico
Lembrando que Moscovici no que se refere a difusatildeo do conhecimento a
partir de certas formas de comunicaccedilatildeo dentro de um determinado grupo afirma
[] Moscovici mostrou como a propagaccedilatildeo propaganda e difusatildeo foram do modo que foram porque os diferentes grupos sociais representam a psicanaacutelise de diferentes modos e procuram estruturar diferentes tipos de comunicaccedilatildeo sobre esse objeto atraveacutes dessas diferentes formas Cada uma dessas formas procura estender sua influecircncia na construccedilatildeo duma representaccedilatildeo especiacutefica e cada uma delas tambeacutem reivindica sua proacutepria legitimaccedilatildeo para a representaccedilatildeo que ela promove (MOSCOVICI 2003 p17)
Por isso acredita-se que a finalidade do uso das representaccedilotildees sociais
neste trabalho estrutura-se a partir da ideia de fazer com que um instrumento de
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees em que o indiviacuteduo esteja inserido seja capaz de dar
uma concreta compreensatildeo sobre as praacuteticas de sauacutede a partir de leitura visual no
recorte temporal proposto
Tal visatildeo tem por finalidade auxiliar docentes e discentes em niacutevel de
Ensino Meacutedio levantar discussotildees sobre a importacircncia dos textos imageacuteticos como
meio de comunicaccedilatildeo de significativa abrangecircncia social natildeo apenas como objetos
de mera composiccedilatildeo do espaccedilo em que exercem seu cotidiano mas enquanto
profissionais da educaccedilatildeo tratar a problemaacutetica que cerca a sauacutede no Brasil
A partir das percepccedilotildees citadas acreditamos poder atingir o objetivo que
eacute aleacutem de analisar o papel das charges a respeito das praacuteticas de sauacutede no final do
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
23
Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica conseguir demonstrar as dinacircmicas sociais em que
tais textos estavam inseridos a partir dos sujeitos que estavam por traacutes dos olhares
testemunhais do momento temporal analisado
22 Ensino de Ciecircncias e Sauacutede
Embora o presente trabalho caracterize-se por ser uma pesquisa que
apresenta leitura imageacutetica em um determinado corte temporal ele tem por objetivo
auxiliar docentes e discentes do Ensino Meacutedio
Para tanto nos remetemos como os alunos de Ensino Meacutedio entendem
ciecircncia e concomitantemente enfrentam o saber das ciecircncias de modo critico
Noutras palavras o ensino que levanta as representaccedilotildees sociais ou seja os
pensamentos valores e ideologias contidas nas imagens de sauacutede
Por isso com a finalidade de entender ciecircncia entre outros trabalhos
adotamos o estudo de Jairo Dias de Freitas e Silvia Barreiros dos Reis ndash Ensino de
Ciecircncias e Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees
Sociais e Visotildees de Ciecircncias (2011)
Nele os autores remetem ao fato de que os professores ainda passam
uma visatildeo miacutetica a respeito da ciecircncia descompartimentando-a de uma accedilatildeo mais
efetiva e limitando-se basicamente agrave reproduccedilatildeo do conhecimento para manter a
ciecircncia e a tecnologia neutra em relaccedilatildeo agrave sociedade e suas dinacircmicas (FREITAS
REIS 2011 p694)
Diante desta apresentaccedilatildeo pode-se afirmar que a ciecircncia ainda eacute vista
como o fator primordial de realizaccedilotildees tecnoloacutegicas ou o instrumento de
salvacionismo da humanidade (FREITAS REIS 2011 p700)
Eacute importante ressaltar que como a ciecircncia sempre carrega consigo a
esperanccedila de cura de doenccedilas ateacute entatildeo vistas como incuraacuteveis acaba por se
tornar um agente estimulador do sentimento otimista da humanidade
Este sentimento eacute de faacutecil percepccedilatildeo a partir das representaccedilotildees sociais
atraveacutes de metaacuteforas julgamentos de valor e crenccedilas figurativas pois temos que
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
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Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
24
nos remeter ao que o conhecimento emana a partir das praacuteticas cotidianas das
relaccedilotildees entre os indiviacuteduos
Destarte natildeo podemos esquecer que a produccedilatildeo das representaccedilotildees
sociais eacute dinacircmica alimentada e realimentada construiacuteda e reconstruiacuteda no
cotidiano das relaccedilotildees sociais Os elementos presentes no imaginaacuterio social diferem
segundo o seu espaccedilo de produccedilatildeo e significaccedilatildeo e dentro deste segundo a
realizaccedilatildeo individual na apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do discurso (FREITAS REIS
2011 p695)
Entre outros autores que trabalham o ensino da Ciecircncia e da Sauacutede
podemos citar Maria Flaacutevia Gazzinelli Andreacutea Gazzinelli Dener Carlos dos Reis e
Claacuteudia Maria de Mattos Penna no trabalho intitulado Educaccedilatildeo em sauacutede
conhecimentos representaccedilotildees sociais e experiecircncias da doenccedila (2005) em que
analisam o saber ciecircncia e sauacutede Neste trabalho eles afirmam que
O princiacutepio de se educar para sauacutede e para o ambiente parte da hipoacutetese de que vaacuterios problemas de sauacutede satildeo resultantes da precaacuteria situaccedilatildeo educacional da populaccedilatildeo carecendo portanto de medidas ldquocorretivasrdquo eou educativas Tal hipoacutetese levou agrave utilizaccedilatildeo na praacutetica pedagoacutegica em sauacutede de estrateacutegias ligadas agrave ideia de que a apreensatildeo de saber instituiacutedo sempre leva agrave aquisiccedilatildeo de novos comportamentos e praacuteticas Assim comportamentos inadequados do ponto de vista da promoccedilatildeo da sauacutede satildeo entatildeo explicados como decorrentes de um deacuteficit cognitivo e cultural cuja superaccedilatildeo pode se dar por meio de informaccedilotildees cientiacuteficas e saberes provenientes do exterior (GAZZINELLI GAZZINELLI REIS e PENNA 2005 p201)
Tais profissionais podem ser considerados referenciais da
representatividade social da situaccedilatildeo da sauacutede em contextos especiacuteficos visto que
em numa sociedade encontramos elementos de diversos matizes sociais
econocircmicos e culturais Logo visotildees heterogecircneas natildeo satildeo exceccedilatildeo mas sim a
proacutepria regra reforccedilando a relaccedilatildeo de trocas entre o indiviacuteduo e o seu meio e vice-
versa
Ao partir de uma experiecircncia em que se formam grupos e aos quais se
apresentam trecircs perguntas como opccedilatildeo de anaacutelise percebe-se que ao final os
resultados satildeo inteiramente diacutespares entre um grupo e outro pois temos que levar
em consideraccedilatildeo o perfil psicossocial de cada grupo
25
Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
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Os grupos acabam por variar entre o otimismo e o cientificismo
tecnoloacutegico E como este trabalho se refere a alunos do ensino meacutedio fase de
criticidade acentuada reforccedila-se a necessidade de educar esta capacidade
ampliando o olhar para a sauacutede que se encontra em crise no Brasil
Vale destacar que esta crise eacute fruto de outras externas e que devem ser
pensadas nos bancos escolares desde cedo para o sufraacutegio ser volitivo e
consciente Assim o uso de charges pode ajudar nesta visatildeo ampliada dos
discursos acerca de um determinado problema
Nesta perspectiva assinalamos com Mendes (2011 p 343) que o
[] discurso de crise na sauacutede escamoteia o fato de que esta natildeo ocorre em funccedilatildeo do modelo de sistema mas ao contraacuterio eacute fruto dos fatores ldquoextra sauacutederdquo relacionados agraves poliacuteticas macroeconocircmicas (UGAacute MARQUES 2005) Vivemos um momento marcado por mudanccedilas impostas pelos ideaacuterios neoliberais que exigem cada vez mais o comprometimento e apoio de toda a sociedade para assegurar a superaccedilatildeo dos desafios e garantir o ecircxito deste que eacute o sistema de sauacutede de todos os cidadatildeos brasileiros
Neste aspecto para entendermos como a sauacutede estaacute sendo administrada
nas escolas utiliza-se o estudo de Maria Cristina do Amaral Moreira Amanda Lima
Marco Antonio Rocha Silva e Isabel Martins ndash A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise (2009) que trabalha a problematizaccedilatildeo dos
conceitos de sauacutede e como estes satildeo vistos
Os autores ao discutirem tal aspecto demonstram a importacircncia da
escola enquanto agente formativo de indiviacuteduos voltados para as praacuteticas de sauacutede
Nos Paracircmetros Curriculares Nacionais Ciecircncias Naturais (1998 p66-67) a sauacutede eacute descrita como relacionada ao tipo de vida de cada indiviacuteduo e concedida em consonacircncia com a discussatildeo atual sobre a necessidade de estimular e viabilizar estrateacutegias para sua promoccedilatildeo [] A escola aparece ocupando um papel importante na tarefa de formar indiviacuteduos com capacidade de autocuidado entendo a sauacutede como um direito e responsabilidade pessoal e social (MOREIRA M C A AMANDA L SILVA M A R MARTINS I 2009 p6)
Como a escola natildeo eacute um espaccedilo homogecircneo eacute possiacutevel perceber a
dificuldade de fazer ciecircncia em uma sociedade muacuteltipla - aqui representada por
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
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Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
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impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
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No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
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A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
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Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
26
alunos na aacuterea de sauacutede - e entender de forma heterogecircnea um conceito que ainda
eacute apresentado de forma homogecircnea
Posteriormente estes mesmos alunos enfrentaratildeo situaccedilatildeo semelhante
ao terem que interagir com uma multiplicidade de caracteriacutesticas sociais pois as
representaccedilotildees dentro deste aspecto satildeo fluidas (FREITAS REIS 2011 p703)
No que se refere a leitura visual que eacute a proposta pretendida por este
trabalho pode-se afirmar que ela auxilia o discente quando dentro das dinacircmicas
sociais em que estaacute inserido tem em matildeos instrumentos de linguagem mais
abrangentes do que o vivenciado na linguagem escrita
Para finalizar natildeo podemos deixar de citar a evoluccedilatildeo temporal de como
se interpreta sauacutede e doenccedila e como elas devem ser tratadas
Com esse fim utilizaremos o estudo de Maria Ameacutelia de Campos Oliveira
e Emiko Yoshikawa Egry no trabalho A Historicidade das Teorias Interpretativas do
Processo Sauacutede-Doenccedila (2000) em que concebem as diversas formas como foram
sentidas e consequentemente interpretadas as doenccedilas ao longo da Histoacuteria da
humanidade
Ao longo da histoacuteria foram sendo forjadas diferentes teorias interpretativas sobre o processo sauacutede-doenccedila como consequecircncia da atividade racional humana na busca de inferecircncias causais para a doenccedila (OLIVEIRA e EGRY 2000 p10)
Com isso acreditamos poder a partir desta breve leitura a respeito do
material supracitado criar um estudo que seja uacutetil para os docentes ensinar os seus
estudantes a analisar criticamente as questotildees da sauacutede no Brasil
23 Do fim do Impeacuterio a chegada da Repuacuteblica
O recorte temporal adotado remete a um momento de significativas
transformaccedilotildees poliacuteticas no Brasil pois se encerrava o periacuteodo monaacuterquico e
iniciava-se a Repuacuteblica que se apresentava estranha a uma populaccedilatildeo que na sua
maioria natildeo sabia ler e escrever
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
27
Neste contexto as representaccedilotildees imageacuteticas tem um papel fundamental
como afirmam Thiago Vasconcellos Modenesi e Ediacutelson Fernandes de Souza em As
Charges Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro (2011) pois
acreditamos que mesmo de forma subjetiva executavam o trabalho de comunicar o
que a escrita natildeo conseguia devido ao analfabetismo da populaccedilatildeo que alcanccedilava
no final do impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica a taxa de 823 (FERRARO e KREIDLOW
2004 p183)
Neste cenaacuterio como professor de Histoacuteria nos despertou o interesse em
discutir esta temaacutetica circunscrita no recorte temporal pois sempre fui fascinado
como as respectivas transformaccedilotildees eram vistas pelos chargistas da eacutepoca os
quais de forma cocircmica captavam o importante momento que estava ocorrer no paiacutes
informando tanto aqueles que dominavam a linguagem escrita quanto os que natildeo a
dominavam
No Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro a educaccedilatildeo era voltada para poucos e com informaccedilotildees restritas ao permitido pelo Imperador Em 1854 houve a elaboraccedilatildeo de algumas leis sobre a educaccedilatildeo embora existisse essa iniciativa a maioria da populaccedilatildeo continuava analfabeta poucos estudantes chegavam ao equivalente do ensino meacutedio daquela eacutepoca as universidades eram um privileacutegio da elite Soacute ocorreratildeo mudanccedilas expressivas na Repuacuteblica na aacuterea educacional Enxergamos o contraponto a isso nas publicaccedilotildees com preccedilo acessiacutevel e com riqueza de imagens aqui se destaca a Revista Illustrada Isso se deu nos perioacutedicos mas nas revistas que veiculavam ilustraccedilotildees combinadas nas suas paacuteginas com criacuteticas literaacuterias e textos que se faziam atrativos para os que sabiam ler pouco ou nada (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Tal momento no entanto carrega no seu bojo a expectativa de que
transformaccedilotildees sociais haacute muito ambicionadas pelas classes alienadas das decisotildees
poliacuteticas no Brasil fossem colocadas em praacutetica Isso natildeo ocorreu pois o instante
descrito embora capitaneado pelos militares foi dominado na sua raiz e na sua
consolidaccedilatildeo por latifundiaacuterios os chamados ldquocoroneacuteisrdquo que insistiam na
manutenccedilatildeo de praacuteticas sociais e econocircmicas herdadas do periacuteodo colonial
[] O coronelismo representou uma variante de uma relaccedilatildeo sociopoliacutetica mais geral ndash o clientelismo - existente tanto no campo como nas cidades Essa relaccedilatildeo resultava da desigualdade social da impossibilidade de os cidadatildeos efetivarem os seus direitos da precariedade ou inexistecircncia de serviccedilos assistenciais do Estado da inexistecircncia de uma carreira no serviccedilo puacuteblico
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
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Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
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Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
28
Todas essas caracteriacutesticas vinham dos tempos da Colocircnia mas a Repuacuteblica criou condiccedilotildees para que os chefes poliacuteticos locais concentrassem maior soma de poder (FAUSTO 2003 p263)
Como o recorte temporal adotado estaacute ambientado na cidade do Rio de
Janeiro o presente trabalho baseou-se em autores que procuraram descrever o
cotidiano da sociedade carioca deste periacuteodo tendo como anaacutelise os conflitos que
enfrentavam os quais eram frutos das frustraccedilotildees inicialmente de um Impeacuterio
distante das profundas contradiccedilotildees sociais existentes assim como posteriormente
de uma Repuacuteblica que no seu nascedouro prometia-se puacuteblica mas que na praacutetica
era privativa de poucos (FAUSTO 2003 p261)
Para tratar os conflitos sociais advindos do impacto entre mudanccedila
poliacutetica e manutenccedilatildeo socioeconocircmica selecionamos diversos autores que abordam
principalmente a visatildeo da cidade do Rio de Janeiro no periacuteodo citado
Sidney Challoub em sua obra Trabalho Lar e Botequim o cotidiano de
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Eacutepoque (1986) descreve a partir da
situaccedilatildeo de indiviacuteduos oriundos dos diversos segmentos sociais e dos aparelhos
reguladores do Estado os problemas enfrentados por setores da populaccedilatildeo que
embora estivessem inseridos em uma ldquonovardquo realidade poliacutetica que se colocava
como de domiacutenio puacuteblico na praacutetica era excludente negando a condiccedilatildeo de
cidadania para aqueles considerados agrave margem da sociedade
Tal visatildeo eacute apontada pelo autor entre outros aspectos na forma como as
elites do periacuteodo temporal pretendido buscavam apresentar a nova sociedade que
iria caracterizar a nascedora Repuacuteblica
Entre os exemplos podemos citar as novas concepccedilotildees referentes ao
trabalho lembrando que no final do Impeacuterio ainda perdurava a escravidatildeo vigente
desde quando os portugueses chegaram ao Brasil
Assim a perspectiva do fim da escravidatildeo colocava para os detentores do capital a questatildeo de garantir a continuaccedilatildeo do suprimento da matildeo-de-obra e tal objetivo soacute poderia ser alcanccedilado caso houvesse uma mudanccedila radical no conceito de trabalho vigente numa sociedade escravista Era necessaacuterio que o conceito de trabalho ganhasse uma valoraccedilatildeo positiva articulando-se entatildeo com conceitos vizinhos como o de ldquoordemrdquo e ldquoprogressordquo para
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
29
impulsionar o paiacutes no sentido do ldquonovordquo da ldquocivilizaccedilatildeordquo isto eacute no sentido da constituccedilatildeo de uma ordem social burguesa (CHALLOUB 1986 p29)
Tambeacutem com Sidney Challoub tratamos da situaccedilatildeo social e questotildees
ligadas a problemaacutetica das praacuteticas de sauacutede no fim do Impeacuterio a partir do seu
estudo intitulado Cidade febril corticcedilos e epidemias na Corte Imperial (1999) em
que ele aborda a construccedilatildeo da ideia referente aos conceitos de classes pobres e
classes perigosas na eacutepoca vistos como sinocircnimos
Por isso dentro desta interpretaccedilatildeo a repressatildeo do Estado sobre as
populaccedilotildees que viviam agrave margem da sociedade torna-se uma necessidade
justificaacutevel assim como as praacuteticas de sauacutede que comeccedilam a se delinear
Neste caso nos referimos ao modelo sanitarista Campanhista
desenvolvido no iniacutecio do seacuteculo XX e que tinha por base a erradicaccedilatildeo de doenccedilas
a partir de uma accedilatildeo praticamente militarista caracterizada portanto no uso da forccedila
para fazer valer as poliacuteticas de sauacutede do Estado Oligaacuterquico da eacutepoca (MERHY
MALTA e SANTOS p 5)
Para corroborar as consequecircncias de tal modelo remetemos a Nicolau
Sevcenko que ao falar da reforma urbana do Rio de Janeiro e da poliacutetica de
saneamento na mesma cidade durante o governo do presidente Rodrigues Alves
em seu trabalho A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos Rebeldes
descortina o quadro onde a repressatildeo do Estado de Direito sobre as massas era
levado a extremos caracterizada na insensibilidade para com os problemas sociais
que surgem como consequecircncia justamente pelas poliacuteticas intolerantes que tinham
por finalidade fazer valer suas accedilotildees de saneamento e melhoria da cidade do Rio de
Janeiro como vemos no seguinte trecho
Os alvos da perseguiccedilatildeo policial natildeo eram aqueles indiviacuteduos que se poderia comprovar terem tido alguma participaccedilatildeo nos distuacuterbios mas sim genericamente todos os miseraacuteveis carentes de moradia emprego e documentos que eram milhares e cuja uacutenica culpa era viverem numa sociedade caoacutetica e serem viacutetimas de uma situaccedilatildeo crocircnica de desemprego e crise habitacional que a proacutepria administraccedilatildeo havia desencadeado A rigor no contexto do processo de Regeneraccedilatildeo tratava-se de livrar a cidade desse entulho humano como uma extensatildeo da poliacutetica de saneamento e profilaxia definida pelo projeto de reurbanizaccedilatildeo
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
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VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
30
Os aspectos observados estatildeo relacionados a forma como as relaccedilotildees
sociais vatildeo sendo construiacutedas apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Neste ponto
remetemos a Sidney Challoub em sua obra Cidade Febril (1999) que demonstra a
relaccedilatildeo entre o estado e as classes pobres a partir de um arcabouccedilo de
informaccedilotildees os quais permitem fazer uma ligaccedilatildeo com os acontecimentos que iratildeo
ocorrer em 1904 caracterizados no movimento que ficou denominado de Revolta da
Vacina
[] Assim eacute que a noccedilatildeo de que a pobreza de um indiviacuteduo era fato suficiente para torna-lo um malfeitor em potencial teve enormes consequecircncias para a histoacuteria subsequente de nosso paiacutes Este eacute por exemplo um dos fundamentos teoacutericos da estrateacutegia de atuaccedilatildeo da poliacutecia nas grandes cidades brasileiras desde pelo menos as primeira deacutecadas do seacuteculo XX A poliacutecia age a partir do pressuposto da suspeiccedilatildeo generalizada da premissa de que todo cidadatildeo eacute suspeito de alguma coisa ateacute prova em contraacuterio e eacute loacutegico alguns cidadatildeos satildeo mais suspeitos do que outros (CHALLOUB 1999 p23)
Eacute importante enfatizar que as poliacuteticas de sauacutede da eacutepoca eram
conduzidas por um estado de direito excludente que via nas camadas
marginalizadas um problema a ser eliminado
Tambeacutem em Cidade Febril temos outro exemplo da forma de pensar as
classes pobres que diz
Os debates parlamentares natildeo respondem agrave questatildeo com clareza mas eacute possiacutevel perceber uma tendecircncia para os nobres deputados a principal virtude do bom cidadatildeo eacute o gosto pelo trabalho e este leva necessariamente ao haacutebito da poupanccedila que por sua vez se reverte em conforto para o cidadatildeo Desta forma o indiviacuteduo que natildeo consegue acumular que vive na pobreza torna-se imediatamente suspeito de natildeo ser um bom trabalhado Finalmente e como o maior viacutecio possiacutevel em um ser humano eacute o natildeo trabalho a ociosidade segue-se que aos pobres falta a virtude social mais essencial em cidadatildeos nos quais natildeo abunda a virtude grassam os viacutecios e logo dada a expressatildeo ldquoclasses pobres e viciosasrdquo vemos que as palavras ldquopobres e ldquoviciosasrdquo significam a mesma coisa para os parlamentares (CHALLOUB 1999 p22)
Para tratar dos siacutembolos que norteavam a Repuacuteblica que estava surgindo
e com eles a identidade da nova ordem poliacutetica eram vistos pelo povo remetemos
a Joseacute Murilo de Carvalho em A Formaccedilatildeo das Almas (2005) que entre outros
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
32
No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
31
aspectos demonstra a importacircncia de uma leitura imageacutetica simboacutelica deste
periacuteodo quando diz
O extravasamento das visotildees da Repuacuteblica para o mundo extra elite ou as tentativas de operar tal extravasamento eacute que me interessaratildeo diretamente Ele natildeo poderia ser feito por meio do discurso inacessiacutevel a um puacuteblico com baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais de leitura mais faacutecil como as imagens as alegorias os siacutembolos os mitos (CARVALHO 2005 p10)
Acreditamos que as visotildees apresentadas em muito colaboram com a
compreensatildeo das dinacircmicas sociais existentes no corte temporal pretendido
Tambeacutem com Joseacute Murilo de Carvalho em Os Bestializados - O Rio de
Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi (1987) demonstramos como a populaccedilatildeo da
cidade carioca que era a capital do paiacutes da eacutepoca posiciona-se sobre questotildees
poliacuteticas no final do Impeacuterio e iniacutecio da Repuacuteblica
O autor aborda a questatildeo de como os indiviacuteduos seratildeo vistos enquanto
cidadatildeos logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica ou seja dependendo da sua
condiccedilatildeo social a Repuacuteblica que ora se apresentava como ldquocoisa puacuteblicardquo a que
todos teriam acesso na verdade a partir dos aparelhos poliacuteticos que vatildeo se
constituindo demonstra ter accedilotildees tatildeo excludentes em niacutevel social quanto o que
ocorria no ldquofalecidordquo Impeacuterio (CARVALHO 2011 p 18)
No que se refere a Revolta da Vacina Joseacute Murilo de Carvalho demonstra
o impacto da poliacutetica de sauacutede implementada no governo republicano de Rodrigues
Alves ao afirmar
Em 1904 a lei da vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria teve exatamente o mesmo espiacuterito de despotismo ilustrado apesar de votada pelo Congresso Desta vez a interferecircncia do poder puacuteblico foi levada para dentro da casa dos cidadatildeos seu uacuteltimo e sagrado reduto de privacidade Na percepccedilatildeo da populaccedilatildeo pobre a lei ameaccedilava a proacutepria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braccedilos e as coxas de suas mulheres e filhas (CARVALHO 2011 p37)
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No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
33
E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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50
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70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
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ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
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No entanto natildeo podemos nos furtar a demonstrar que as forccedilas poliacuteticas
que se gestaram logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo se encontravam
inteiramente insensiacuteveis aos problemas da populaccedilatildeo que vivia na Capital que era
do Impeacuterio e a partir de 1889 passou a ser Repuacuteblica Com a finalidade de
apresentar o pensamento poliacutetico no recorte temporal pretendido analisamos o
trabalho de Rosane dos Santos Torres Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e
cotidiano poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX (2008) onde a
autora analisa os embates poliacuteticos que ocorriam na capital do Impeacuterio e
posteriormente da Repuacuteblica no iniacutecio do seacuteculo XIX
Mas se para o conjunto a cidade do Rio de Janeiro nesses primeiros anos republicanos continuava a ser uma referecircncia nacional internamente o quadro social que dela emergia era aquele que apontava para um quantitativo populacional denso e que ainda convivia com a presenccedila do analfabetismo com problemas habitacionais de higiene de alimentaccedilatildeo e de salubridade Dificuldades que afetavam a vida da populaccedilatildeo e que tantas vezes foram transformadas em demandas formais para os representantes do poder puacuteblico (TORRES 2008 p5)
Por ser Capital Federal o Rio de Janeiro vai ser observado por diversas
instacircncias de poder sendo elas a Presidecircncia da Repuacuteblica o Senado Federal a
Prefeitura e o Conselho de Intendecircncia Municipal (TORRES 2008 p3)
Dentro destas quatro esferas de poder surgidas logo apoacutes a Proclamaccedilatildeo
da Repuacuteblica observamos que havia um debate intenso sobre as questotildees sociais
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro motivadas por interesses poliacuteticos que se
voltavam para as necessidades da populaccedilatildeo objetivando se fortalecerem
politicamente com a finalidade de garantirem a sustentaccedilatildeo nos seus respectivos
quadros de poder (TORRES 2008 p3)
Esta situaccedilatildeo contrastava no Rio de Janeiro com o avanccedilo das camadas
meacutedias urbanas e sobretudo o surgimento da classe operaacuteria (FAUSTO 2003
p295) ou seja como as dinacircmicas destas classes eram observadas pelos
aparelhos de poder da eacutepoca destacando-se o Conselho de Intendecircncia Municipal
onde se observava intenso debate sobre os problemas da populaccedilatildeo (TORRES
2008 p11)
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E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
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A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
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24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
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Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
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Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
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no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
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Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
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E eacute neste contexto poliacutetico em que ocorre a atuaccedilatildeo de Pereira Passos na
reforma urbana da cidade que era a capital da Repuacuteblica e suas consequecircncias ou
seja os aspectos que envolveram os trabalhos de engenharia e seus principais
impactos na paisagem urbana da eacutepoca materializadas nas grandes obras que
mudaram a face da cidade (AZEVEDO 2003 p43-44)
A partir do trabalho de Andreacute Azevedo (2003) entendemos que a questatildeo
econocircmica sobrepotildee-se as sociais determinando com isso as poliacuteticas reformistas
da cidade tanto eacute que na Reforma de Pereira Passos o porto situava-se como foco
inicial das accedilotildees reformistas sendo integrado pelas demais obras urbanas e pelas
poliacuteticas sanitaristas que viriam como complementaccedilatildeo deste foco principal
(AZEVEDO 2003 p43)
No que se refere aos confrontos poliacuteticos entre os donos do poder e os
grupos marginalizados da eacutepoca Nicolau Sevcenko a partir do seu estudo A
Revolta da Vacina mentes insanas em corpos rebeldes (1993) que trata das raiacutezes
da revolta quando diz
Comeccedilava por adiar por seis meses as eleiccedilotildees para a Cacircmara Municipal o que vinha deixar ao prefeito desde logo as matildeos livres de qualquer algema oposicionista [] o artigo 23 completava a disposiccedilatildeo pois segundo ele quando se tratasse de demoliccedilatildeo despejo interdiccedilatildeo e outras medidas haveria apenas um auto afixado no local que previa penalidades contra as desobediecircncias Daiacute vieram os numerosos casos de demoliccedilatildeo com famiacutelias recalcitrantes ainda dentro dos preacutediosrdquo (SEVCENKO 2001 p 46)
Com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas de sauacutede ocorridas no Brasil dentro do recorte
temporal citado natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar o trabalho de Acircngela Porto e
Carlos Fidelis Ponte intitulado Vacinas e campanhas as imagens de uma histoacuteria a
ser contada (2003)
O respectivo trabalho demonstra a importacircncia da iconografia nas
campanhas de vacinaccedilatildeo no nosso paiacutes tanto como forma de conscientizar a
necessidade de se submeter agrave vacinaccedilatildeo natildeo como prevenccedilatildeo mas como cura
para um mal que estaria por vir assim como critica aos meacutetodos de como se
aplicava as vacinas
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A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
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24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
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Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
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Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
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no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
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Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
34
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinaccedilatildeo constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temaacutetica das poliacuteticas de imunizaccedilatildeo Nela muitas vezes estatildeo presentes diversas representaccedilotildees sobre as vacinas e as doenccedilas por elas combatidas os ambientes onde as vacinaccedilotildees eram postas em praacutetica os veiacuteculos e as estrateacutegias de convencimento e comunicaccedilatildeo de massa bem como o conhecimento que se tinha a respeito das doenccedilas e das vacinas utilizadas para combatecirc-las (PORTO PONTE 2003 p1)
E sobre as visotildees mais criacuteticas a respeito das questotildees poliacuteticas dos
diversos setores da sociedade nos prenderemos ao eixo central do trabalho que eacute
o papel das charges como um olhar sobre o Rio de Janeiro dentro do corte temporal
pretendido
Neste caso atentaremos para o estudo de Luiz Guilherme Sodreacute Teixeira -
O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930 (2001)
que faz um estudo sobre o papel das charges no Brasil desde meados do seacuteculo
XIX ateacute a primeira metade do seacuteculo XX a partir de um levantamento dos diversos
chargistas que atuaram dentro do periacuteodo estudado suas posiccedilotildees e como seus
olhares percebiam o que estava agrave volta
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
35
24 Imagens
O presente trabalho busca tambeacutem formalizar a leitura visual de modo a
possibilitar aos docentes da aacuterea de sauacutede levantar questotildees sobre o atual papel
das imagens nas diversas praacuteticas de sauacutede e entender se estas satildeo um
instrumento uacutetil quando haacute necessidade de se comunicar em larga escala atingindo
de imediato toda uma comunidade independente das diversidades sociais
econocircmicas religiosas e culturais apresentadas por ela
Entre os autores que analisam o assunto adotamos Luacutecia Santaella que
trabalha dentro do estudo da imagem a Semioacutetica
A importacircncia da Semioacutetica neste estudo adveacutem do fato de ser a ciecircncia
que analisa toda e qualquer linguagem principalmente a imageacutetica em suas diversas
formas
Entre os estudos de Luacutecia Santaella utilizamos O que eacute Semioacutetica (1983)
no qual faz um breve resumo sobre o assunto abordando entre outros aspectos o
trabalho do criador de tal ciecircncia Charles Sanders Pierce
Luacutecia Santaella demonstra em todos os seus estudos a importacircncia da
imagem enquanto significativo recurso da comunicaccedilatildeo como afirma em O que eacute
Semioacutetica (1983)
[] em todos os tempos grupos humanos constituiacutedos sempre recorreram a modos de expressatildeo de manifestaccedilatildeo de sentido e de comunicaccedilatildeo sociais outros e diversos da linguagem verbal desde os desenhos nas grutas de Lascaux os rituais de tribos ldquoprimitivasrdquo danccedilas muacutesicas cerimocircnias e jogos ateacute as produccedilotildees de arquitetura e de objetos aleacutem das formas e criaccedilatildeo de linguagem que viemos a chamar de arte desenhos pinturas esculturas poeacutetica cenografia etc (SANTAELLA 1983 p15)
No seu estudo Semioacutetica Aplicada (2002) Luacutecia Santaella aprofunda sua
visatildeo sobre Semioacutetica e como essa ciecircncia pode ser aplicada A partir deste estudo
eacute possiacutevel compreender a interpretaccedilatildeo das leituras visuais e particularmente como
o individuo interage com elas ou seja decodificar os objetos ou mais
apropriadamente os signos a que se referem e a forma como ele existe
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
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Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
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TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
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WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
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ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
36
Para tanto em relaccedilatildeo aos signos Luacutecia Santaella em Semiotica Aplicada (2002) demonstra no item em que analisa fenomenologia e semioacutetica que diz
Em uma definiccedilatildeo mais detalhada o signo eacute qualquer coisa de qualquer espeacutecie (uma palavra um livro uma biblioteca um grito uma pintura um museu uma pessoa uma mancha de tinta um viacutedeo etc) que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial efeito este que eacute chamado de interpretante do signo (SANTAELLA 2002 p8)
Eacute importante lembrar que imagem eacute praticamente tudo o que se eacute captado
pelos sentidos e a partir desta premissa pode-se afirmar que a comunicaccedilatildeo visual
a qual observamos a partir da Semioacutetica apresenta-se de forma mais dimensionada
A proacutepria codificaccedilatildeo da escrita natildeo se limita ao alfabeto surgido no mundo
ocidental como diz Luacutecia Santaella em O que eacute Semioacutetica(1983)
E quando consideramos a linguagem verbal escrita esta tambeacutem natildeo conheceu apenas o modo de codificaccedilatildeo alfabeacutetica criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos Haacute outras formas de codificaccedilatildeo escrita diferentes da linguagem alfabeticamente articulada tais como hieroacuteglifos pictogramas ideogramas formas estas que se limitam com o desenho (SANTAELLA 1983 p15-16)
Ainda em relaccedilatildeo ao estudo das imagens a partir da Semioacutetica buscamos
a ponte entre essa forma de estudo e a sala de aula com a dissertaccedilatildeo de mestrado
de Erica Juliana Santos Rocha que tem como tema Multimodalidade Soacutecio
construccedilatildeo do conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel (2008)
No seu estudo Rocha discute que a leitura imageacutetica vai para aleacutem das
paacuteginas de um livro Ela se encontra em todo o ambiente do espaccedilo escolar
Se observarmos o ambiente escolar perceberemos quantos modos de representaccedilatildeo existem nesse espaccedilo Os alunos apesar do uso de uniformes sempre procuram expressar no seu visual algo que lhes atribua uma marca particular A proacutepria escola eacute recheada de cartazes e informativos entre outros que expressam vaacuterias semioacuteticas presentes ali (ROCHA 2008 p34)
37
A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
0
10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
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Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
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FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
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Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
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FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
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14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
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Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
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MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
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educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
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Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
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das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
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ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
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conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
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SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
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poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
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ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
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ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
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A importacircncia do estudo da utilizaccedilatildeo de imagens tem sido relevante pois
prova disso eacute a diversidade de obras literaacuterias que tratam do uso das imagens por
exemplo nos livros didaacuteticos de Histoacuteria identificando natildeo soacute a importacircncia mas
tambeacutem a metodologia utilizada para uma melhor aplicabilidade de tais instrumentos
visuais
Para tanto como exemplificaccedilatildeo enfocamos tambeacutem autores como
Valesca Giordano Litz cujo estudo O Uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria (2009)
tem por objetivo pensar a relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica do uso da imagem no
ensino da Histoacuteria
Eacute importante salientar que em seu estudo Valesca Giordano Litz com seu
trabalho auxilia a capacitar o educador como melhor utilizar a imagem no caso do
seu trabalho especificamente no ensino da Histoacuteria Consequentemente constroacutei
metodologias que auxiliem de forma mais eficiente para se trabalhar imagens nas
salas de aula
O objeto de pesquisa de Litz eacute a imagem nos livros didaacuteticos de Histoacuteria
do Ensino Meacutedio E deste objeto Litz buscou apreender a anaacutelise da leitura
iconograacutefica a qual nos uacuteltimos anos deixou de ser um tema exclusivo de aacutereas
ligadas agraves artes ou a disciplinas relacionadas ao tema como a disciplina de Histoacuteria
da Arte aplicada em algumas escolas de Ensino Meacutedio Eacute algo que jaacute vem sendo
visto como necessaacuterio em algumas disciplinas escolares como a Histoacuteria (LITZ
2008 p2)
Quando se trabalha com a anaacutelise de uma imagem alguns procedimentos satildeo necessaacuterios no processo de ensino e aprendizagem para que natildeo se perca a intencionalidade usar imagens sempre como forma de aprendizado e conhecimento Por isso qualquer imagem precisa ser bem utilizada e bem explorada e quando necessaacuterio articulada a um texto passiacutevel de ser interpretada pois representa uma determinada eacutepoca Dessa forma se constituiraacute em uma autecircntica fonte de informaccedilatildeo de pesquisa e de conhecimento a partir da qual o aluno pode perceber diferenccedilas e semelhanccedilas entre eacutepocas culturas e lugares distintos (LITZ 2008 p6)
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Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
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no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
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Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
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Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
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Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
38
Ao tratar do estudo de imagens alguns autores usam termos variados
para a mesma finalidade o que natildeo raro causa certa dificuldade no entendimento de
se fazer uma leitura de Imagens
Tais conceitos satildeo tratados por Maria Emiacutelia Sardelich no seu trabalho
Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica Educativa (2006) que discute a
necessidade de uma alfabetizaccedilatildeo visual apresentando os conceitos que
fundamentam propostas de leitura de imagem e cultura visual utilizando referenciais
teoacutericos nas aacutereas de Antropologia Arte Educaccedilatildeo Histoacuteria e Sociologia ou seja a
partir do momento em que a imagem enquanto signo passa a demonstrar um
universo de significados faz-se necessaacuterio um conhecimento preacutevio para que se
possa de forma condizente interpretar a mesma (SARDELICH 2006 p453)
Com isso percebemos que a leitura iconograacutefica nos uacuteltimos anos deixou
de ser um tema exclusivo de aacutereas ligadas exclusivamente as artes ou disciplinas
relacionadas ao tema como a de Histoacuteria da Arte aplicada em algumas escolas de
Ensino Meacutedio
Para tanto tambeacutem como exemplificaccedilatildeo temos em Baacuterbara Barros de
Olim o estudo Imagens em Livros Didaacuteticos de Histoacuteria da Seacuteries Iniciais (2010)
uma anaacutelise comparativa e avaliadora feita atraveacutes de trecircs coleccedilotildees de livros
didaacuteticos de 1ordf a 4ordf seacuteries em que avalia os meacutetodos aplicados no uso de imagem
em cada uma dessas coleccedilotildees
Em seu trabalho Olim conclui a necessidade de auxiliar os multiplicadores
do conhecimento de ciecircncias nos cursos de formaccedilatildeo de profissionais da aacuterea de
ensino estabelecendo um melhor direcionamento do uso das imagens que natildeo
raro satildeo citadas como mera ilustraccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento quando na
verdade para um melhor aproveitamento deveriam ser utilizadas como mais um
instrumento de comunicaccedilatildeo para aprimorar o estudo na aacuterea de ciecircncias como jaacute
vem ocorrendo em outros segmentos do conhecimento (OLIM 2010 p95)
Sendo a imagem um importante recurso da comunicaccedilatildeo faz-se
necessaacuterio criar uma oportunidade para os professores atraveacutes de uma anaacutelise
situada dentro do corte temporal proposto desenvolver juntamente com os seus
respectivos estudantes o debate de estrateacutegias para a utilizaccedilatildeo de imagens seja
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
39
no cotidiano dos espaccedilos escolares com a finalidade de conscientizar tanto estes
profissionais como os seus estudantes o valor da charge como forma de linguagem
para atingir determinados fins como campanhas alertas esclarecimentos ou outros
aspectos ou seja apenas para repensar o espaccedilo imageacutetico onde exerce suas
atividades ligadas a sauacutede
Acreditamos que ao trabalhar o respectivo material poderemos fazer a
ponte entre o estudo das charges no periacuteodo histoacuterico pretendido e o uso destas em
sala de aula sobre a sauacutede no niacutevel de Ensino Meacutedio
No dicionaacuterio Priberam da Liacutengua Portuguesa a charge do francecircs
charger significa carga portanto eacute um traccedilado pictograacutefico exagerado e satirizado
de fatos pessoas acontecimentos geralmente de caraacuteter politico
As charges foram criadas no princiacutepio do seacuteculo XIX por pessoas opostas
a governos ou criacuteticos poliacuteticos que queriam se expressar de forma jamais
apresentada inusitada (FONSECA 1999 p 26)
Enquanto gecircnero discursivo de caracteriacutestica proacutepria de produccedilotildees de
temas contextualizados (ABAURRE ABAURRE 2007) as charges representam
uma arte carregada de esteacutetica que expressam os sentimentos os valores as
ideologias as crenccedilas e as esperanccedilas da sociedade em um contexto especiacutefico
As charges satildeo as formas de linguagem visual exagerada de comicidade
e ridicularizada que permite aos sujeitos expressar a sua compreensatildeo das coisas
(HEIDEGGER 2002) ou seja de tudo que se vecirc e o que natildeo se vecirc
Assim as charges como forma de linguagem visual satildeo instrumentos
comunicativos que tecircm forccedila de moldagem do pensamento por quem a ela se
adapta (VIGOTSKI 2003) As charges satildeo portanto o fenocircmeno de comunicaccedilatildeo
que eacute estabelecido e sempre carregam muacuteltiplas representaccedilotildees em especial as
sociais (MOSCOVICI 1979)
As representaccedilotildees sociais como vimos anteriormente satildeo formas de
comunicaccedilatildeo que os grupos sociais e seus integrantes elaboram para se familiarizar
com os fatos os conhecimentos as pessoas de modo a sustentar condutas Estas
representaccedilotildees satildeo visivelmente encontradas nas charges
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
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40
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70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
40
Moraes (2013 p1) explica que sendo ldquorepresentaccedilatildeo graacutefica da esfera do
simboacutelico a charge eacute antes de tudo fragmento de uma determinada conjuntura e
visatildeo acerca de um acontecimentosituaccedilatildeopersonagemrdquo
O signo que segundo Santaella (2004) eacute responsaacutevel por moldar o
pensamento e a sensibilidade dos seres humanos e tambeacutem por propiciar o
surgimento de novos ambientes socioculturais Para ela ldquotodo signo eacute em maior ou
menor medida uma espeacutecie de imagem especular o signo natildeo eacute apenas um corpo
fiacutesico que habita a realidade mas tambeacutem eacute capaz de refletir essa realidade de que
ele eacute parte e que estaacute fora delerdquo (SANTAELLA 1996 p)
Com Raslam e Guimaratildees (2013 p12) percebemos que as charges satildeo
[] ldquomuito utilizadas para retratar o futebol e criticar a poliacutetica brasileira as charges foram criadas por pessoas com o objetivo de expressar a oposiccedilatildeo ao governo e realizar criacuteticas poliacuteticas de maneira jamais apresentada Foram reprimidas por governos e impeacuterios por se tornarem populares fato que acarretou na sua existecircncia ateacute os dias de hojerdquo (RASLAM GUIMARAtildeES 2013 p12)
Enfim como forma de comunicaccedilatildeo ajustada a um tempo para manifestar
de modo luacutedico uma critica faz-se um importante instrumento pedagoacutegico no ensino
especialmente junto aos jovens em formaccedilatildeo da habilidade de criticar as coisas
41
0
10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
41
0
10
20
30
40
50
60
70
3 DIMENSAtildeO TEacuteCNICA
O trabalho utilizou como base de estudo as dimensotildees Novikoff (2010) de
natureza qualitativa e tendo por objetivo fazer uma abordagem indutiva a partir dos
dados coletados na pesquisa bibliograacutefica em trecircs etapas A primeira foi a revisatildeo
no banco de tese da CAPES a segunda a revisatildeo de artigos e obras correlatas ao
tema
Neste capiacutetulo satildeo discorridas as estrateacutegicas de montagem do corpus de
estudo a sua anaacutelise e a apresentaccedilatildeo do produto desta dissertaccedilatildeo como parte da
exigecircncia do m estrado profissionalizante
No que se refere a trabalhos correlatos ao tema apoacutes pesquisa feita na
CAPES1 no banco de trabalhos de ordem profissionalizante encontramos entre os
anos de 2002 e 2011 um total geral de 61 trabalhos distribuiacutedos nos itens como
consta no graacutefico1
Graacutefico 1 ndash Distribuiccedilatildeo de trabalhos levantados na CAPES (2002-2011)
O presente graacutefico limitou-se a pesquisar dissertaccedilotildees voltadas para aacuterea
dos cursos strictu sensu a niacutevel profissionalizante
1 Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras
chave Imagem e Sauacutede
Dissertaccedilotildees contendo as seguintes palavras chave Representaccedilotildees Sociais e Sauacutede
Total geral de dissertaccedilotildees pesquisadas
Total de dissertaccedilotildees que abordam cada qual de
forma especifica o uso de imagem
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
42
Do total de dissertaccedilotildees pesquisadas apenas cinco (5) tratavam do uso
da imagem sendo que natildeo se assemelham agrave proposta feita por este trabalho
Cabe destacar que as charges tendo como tema questotildees relacionadas a
sauacutede satildeo escolhas feitas em razatildeo da experiecircncia vivenciada pelo autor como
professor de Histoacuteria sendo o produto um livro sobre estrateacutegia de anaacutelise de
imagens
A revisatildeo bibliograacutefica para as etapas 1 e 2 tratada na Tabela de Anaacutelise
de texto das Dimensotildees Novikoff (Anexo 1)
Para tratamento das charges utilizamos a leitura iconograacutefica que estuda
a origem das imagens como instrumento de percepccedilatildeo visual apresentando os
seus significados ou seja uma linguagem visual que a partir de uma imagem
representa um determinado tema
Neste aspecto para entender o significado do tema imageacutetico a
iconografia busca a partir da constituiccedilatildeo deste identificar entre outros aspectos a
forma como o texto visual foi produzido para a partir de tal entendimento definir
qual a melhor aplicabilidade da respectiva imagem tanto para comunicar uma ideia
como para complementar um texto escrito
Na busca de uma organizaccedilatildeo da anaacutelise seguiremos as dimensotildees do
significado e interpretaccedilatildeo de imagens de Bohnsack (2010) conforme o quadro 1
Quadro 1- Dimensotildees do Significado e Interpretaccedilatildeo de Imagens de Bohnsack
(2010)
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Interpretaccedilatildeo documentaacuteria (interpretaccedilatildeo icocircnico-iconoloacutegica)
- Esta ligada ao habitus que se relaciona ao modus operandi ou seja agrave apresentaccedilatildeo de um contexto ao ser produzida a partir de fenocircmenos individuais ou coletivos relativos ao meio social
Conhecimento comunicativo
- Tem a ver com o conhecimento generalizado de instituiccedilotildees e regras
Continuaccedilatildeo
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
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2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
43
Cont
DIMENSOtildeES CARACTERIacuteSTICAS
Conhecimento conjuntivo - Relacionado ao conhecimento de motivaccedilotildees concretas a partir de atores concretos Questatildeo Que histoacuterias concretas as imagens nos contam
Composiccedilatildeo formal - Refere-se agrave composiccedilatildeo planimeacutetrica projeccedilatildeo perspectiva e coreografia cecircnica
Interpretaccedilatildeo iconograacutefica (mensagem conotativa)
- Interpreta o tema ou mensagem de um determinado assunto Exemplo Uma accedilatildeo que esteja representada em uma determinada imagem
Niacutevel preacute-iconograacutefico de significado (mensagem denotativa)
- Refere-se agraves primeiras intepretaccedilotildees comuns agrave vida cotidiana Exemplo Um gesto simples como a accedilatildeo de apontar o dedo em direccedilatildeo a algo
Fonte WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo 2010
Em siacutentese acreditamos ser necessaacuterio cada vez mais aprimorar a leitura
iconograacutefica por se observar natildeo haver uma orientaccedilatildeo especiacutefica dentro dos
cursos de formaccedilatildeo de professores
Observa-se que o uso de imagens em diversos ramos do conhecimento
ainda segue padrotildees da Europa e Estados Unidos limitando-se com isso agrave oferta
de ferramentas que auxiliem profissionais das escolas de Niacutevel Meacutedio a trabalharem
a leitura imageacutetica em sala de aula (SARDELICH 2006 p464)
Com isso natildeo podemos deixar de citar que a Teoria das Representaccedilotildees
Sociais que eacute o instrumento utilizado para se compreender as relaccedilotildees propostas
dentro do corte histoacuterico podem ser expressas pela miacutedia atraveacutes de seus
instrumentos diversos de comunicaccedilatildeo que interagem nas decisotildees e interpretaccedilotildees
de nossas vidas cotidianas (MOSCOVICI 2003 p8)
A relaccedilatildeo que pretendemos fazer com a abordagem que foi dada na
pesquisa eacute o fato de que neste aspecto por ser um trabalho voltado para
professores do Ensino Meacutedio visa propor uma forma de instrumentaacute-los
metodologicamente com a aplicabilidade das imagens enquanto agentes midiaacuteticos
a oferecer informaccedilotildees que tecircm como primeiro passo de interpretaccedilatildeo a percepccedilatildeo
visual Para tanto adotou-se as charges como disparador da linguagem critica das
representaccedilotildees sociais ali contidas
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
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novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
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BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
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SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
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ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
44
Eacute claro que dentro deste aspecto torna-se relevante destacar a
experiecircncia pessoal do sujeito a partir do meio em que se situa pois a sua vivecircncia
iraacute determinar a compreensatildeo ou natildeo do que visualmente eacute percebido Portanto natildeo
poderiacuteamos deixar de ressaltar a importacircncia do estudo das representaccedilotildees sociais
nesta pesquisa
Eacute importante salientar que as Representaccedilotildees Sociais satildeo auxiliadas pela
Psicologia Social a qual estuda entre outros aspectos como as pessoas ao
partilharem as ideias que satildeo de senso comum transformam-nas em atividades
praacuteticas
A revoluccedilatildeo cognitiva na psicologia iniciada na deacutecada de 1950 legitimou a introduccedilatildeo de conceitos mentalistas que tinham sido proscritos pelas formas mais militantes do comportamentalismo que dominou a primeira metade do seacuteculo vinte e subsequentemente as ideias de representaccedilotildees foram o elemento central na emergecircncia da ciecircncia cognitiva nas duas uacuteltimas deacutecadas (MOSCOVICI 2003 p19)
Podemos afirmar que as ideias ao saiacuterem do plano imageacutetico e da
racionalidade materializam-se no mundo real auxiliando nas transformaccedilotildees que
de forma incessante ocorrem entre as pessoas
Natildeo podemos negar que as variaccedilotildees entre o pensar e o materializar no
final apresentam caracteriacutesticas natildeo esperadas que proporcionam novas ideias e
consequentemente novas praacuteticas cotidianas
A partir desta premissa podemos afirmar que o conhecimento eacute fruto da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo cotidiana nos diversos niacuteveis da sensibilidade humana
Com esta finalidade neste aspecto como meacutetodo de interpretaccedilatildeo
podemos citamos Ralf Bohnsack que no seu trabalho A Interpretaccedilatildeo de imagens
segundo o meacutetodo documentaacuterio (2010) inicia sua argumentaccedilatildeo apresentando o
crescimento de meacutetodos qualitativos contrastando com a marginalizaccedilatildeo da imagem
e observa que a pesquisa qualitativa dentro do campo cientiacutefico apresenta-se
preferencialmente na forma de ldquofrases observaacuteveisrdquo ou ldquofrases protocolaresrdquo ou
seja em um formato textual (BOHNSACK 2010 p 114)
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
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65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
45
Portanto metodologicamente a interpretaccedilatildeo de imagens natildeo se
relaciona apenas com a percepccedilatildeo visual mas sim dentro de todo um arcabouccedilo
que descortina as informaccedilotildees vinculadas a ela
Reconhecer que imagens tecircm status metodoloacutegico de sistemas autorreferenciais tambeacutem traz consequecircncias para as formas de entendimento de imagens como um meio de comunicaccedilatildeo (BOHNSACK 2010 p 115)
Ao buscar compreender as imagens atraveacutes delas e sobre elas o autor
desvenda a importacircncia dos textos visuais enquanto orientadores de comportamento
e situaccedilotildees
Inicialmente apresenta a percepccedilatildeo preacute-reflexiva atraveacutes da interpretaccedilatildeo
icocircnica que eacute objetiva quase automaacutetica Nela o sujeito percebe e decodifica de
forma ateoacuterica pelo fato de jaacute possuir um conhecimento impliacutecito sobre o que capta
De um lado temos ndash como eu gostaria de chamaacute-los ndash os produtores de imagens que representam por exemplo o fotoacutegrafo ou artista assim como todos que estatildeo agindo por detraacutes da cacircmera e que estatildeo participando na produccedilatildeo da imagem mesmo depois do registro da fotografia Do outro temos os produtores de imagens representados Satildeo as pessoas criaturas e cenas sociais que satildeo parte do sujeito da imagem e estatildeo agindo em frente agrave cacircmera Os problemas metodoloacutegicos que resultam nessa complexa relaccedilatildeo entre estas duas categorias diferentes de produtores de imagem podem ser facilmente resolvidos desde que as duas categorias de produtores pertenccedilam ao mesmo ambiente ao mesmo ldquoespaccedilo de experiecircnciasrdquo (BOHNSACK 2010 p 119)
Acreditamos que a partir de tal metodologia utilizando as charges
originadas dentro do periacuteodo temporal proposto poderemos ter uma leitura que
possibilite decodificar as relaccedilotildees que o texto imageacutetico demonstra
Vale ressaltar que a finalidade deste trabalho eacute oferecer um auxilio aos
professores do Ensino Meacutedio no que se refere a promover questionamentos a partir
da interpretaccedilatildeo de uma respectiva imagem associada a sauacutede com a finalidade de
dimensionar os meacutetodos de ensino e aprendizagem via charges
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
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4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
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ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
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AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
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Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
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Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
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63
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Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
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ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
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SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
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SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
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Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
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ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
46
Ao desenvolver metodologias para compreender o texto imageacutetico o
sujeito preceptor pode a partir de suas experiecircncias pessoais e de forma mais
produtiva fazer uma leitura visual que permita a ele interagir de acordo com sua
vivecircncia a partir do meio em que se localiza (BOHNSACK 2010 p 118)
A metodologia de estudo da imagem eacute complexa pois natildeo estaacute limitada a
uma leitura de identificaccedilatildeo da imagem percebida mas sim agrave observaccedilatildeo de todo
um arcabouccedilo que comunica aleacutem do seu significado aos olhos de quem olha
Comunica mensagens impliacutecitas que desvendam conhecimentos a partir das
experiecircncias pessoais de cada um (BOHNSACK 2010 p 131)
As diversas informaccedilotildees deste trabalho satildeo dadas desde o periacuteodo
temporal ateacute os diferentes valores de uma eacutepoca e sua manutenccedilatildeo ou extinccedilatildeo em
outra Assim as imagens se apresentaratildeo na forma de charges de acordo com a
diversidade que seus produtores tambeacutem variam Com isso seratildeo necessaacuterios
meacutetodos que permitam decodificar o texto visual de acordo com a realidade social e
psicoloacutegica do sujeito produtor da imagem
No caso da charge por exemplo temos que levar em conta que o
elemento que o produz o faz a partir de uma criacutetica a algo que deva ser denunciado
ou ateacute mesmo exaltado diferentemente da fotografia em que a relaccedilatildeo eacute mais
direta
Dentro deste aspecto podemos destacar o que nos diz Liebel (2011)
O papel do representado em alguns casos especiacuteficos como em desenhos animados animaccedilotildees ou em charges por exemplo deixa de ser um papel ldquoobjetivordquo ou seja de modelo real e presente e passa a ser um papel ldquosubjetivordquo (LIEBEL 2011 p177)
Com isso retorna-se agrave opccedilatildeo pelas dimensotildees Novikoff e parte-se de
uma observaccedilatildeo em que os meacutetodos comumente utilizados pelos pesquisadores
ainda conservam estruturas que embora acumulem o conhecimento natildeo tecircm por
objetivo profundo mudar o proacuteprio conhecimento ou seja no final temos o conhecer
para manter o que jaacute eacute conhecido
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
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CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
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CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
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FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
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Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
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FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
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BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
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Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
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MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
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Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
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63
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Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
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ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
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Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
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SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
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SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
47
Tal processo encontra respaldo em vaacuterios discursos engessados e em
metodologias que embora se apresentem como novos na praacutetica natildeo ousam
romper com a tradiccedilatildeo da pesquisa acadecircmica e com os seus paradigmas que
limitam as percepccedilotildees que serviriam de combustiacutevel para a gestaccedilatildeo de formas de
saberes socializados natildeo apenas na comunidade acadecircmica mas tambeacutem na
sociedade em que seratildeo aplicados tornando sua praticidade natildeo apenas um
experimento a corroborar a pesquisa mas tornaacute-la uacutetil a quem possa interessar
(NOVIKOFF 2010 p215)
A partir destes aspectos levantados pela autora citada apresentou-se
uma proposta dialeacutetica tendo por base dimensotildees que delineiam um conjunto de
conhecimentos
De acordo com Novikoff (2010) a singularidade com que se pode
desenvolver um projeto a partir da submissatildeo do objeto de pesquisa em diversas
dimensotildees de conhecimento permite a construccedilatildeo do saber a fim de que se
interprete tal objeto de maneira epistemoloacutegica teoacuterica teacutecnica morfoloacutegica e
analiacutetico-conclusiva
Com isso a proposta a partir de diversas dimensotildees permite que se faccedila
pesquisa de forma criativa criacutetica e responsaacutevel na graduaccedilatildeo (NOVIKOFF 2010
p239)
A partir deste estudo acreditamos ter condiccedilotildees de demonstrar
estrateacutegias que auxiliam docentes de Ensino Meacutedio na aplicabilidade do uso de
imagens enquanto instrumentos que possam contribuir juntamente com os
discentes na leitura visual dos objetos estudados assim como no cotidiano que iratildeo
vivenciar enquanto cidadatildeos criacuteticos acerca da sauacutede
As primeiras publicaccedilotildees de charges no Brasil procuraram retratar como
representaccedilotildees do momento em que estatildeo acontecendo questotildees nacionais
utilizando como siacutembolo de identidade nacional o iacutendio passando atraveacutes do mesmo
a riqueza natural do paiacutes a inocecircncia e a cordialidade (TEIXEIRA 2001 p8)
Para tanto selecionamos algumas charges do final do seacuteculo XIX e iniacutecio
do seacuteculo XX que retratam questotildees ligadas aos problemas estruturais da cidade do
Rio de Janeiro
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
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Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
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CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
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CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
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LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
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Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
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63
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social Rio de Janeiro Vozes 2003
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do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
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SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
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64
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Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
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TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
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Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
48
Iniciamos com Angelo Agostini famoso chargista do final do Impeacuterio que
publicou diversos trabalhos na Revista Illustrada fundada por ele em 1876 e que
circulou no Rio de Janeiro ateacute 1898 e que estava ligado nas grandes questotildees
relacionadas a crise da Monarquia e ascensatildeo da Repuacuteblica (TEIXEIRA 2001 p11)
Podemos considerar Angelo Agostini como sendo um dos primeiros a
fazer histoacuteria em quadrinhos no Brasil onde tecia uma criacutetica bem humorada e
sarcaacutestica sobre os diversos problemas do paiacutes (MODENESI e SOUZA 2011 p4)
Para tanto como exemplificaccedilatildeo utilizaremos olhar de Agostini nas trecircs
primeiras imagens (Figuras 1 2 e 3) para se ter uma ideia de alguns aspectos
vivenciados no Rio de Janeiro no final do seacuteculo XIX
Figura ndash 1 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 368 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
A presente imagem trata dos entrudos que ocorriam no seacuteculo XIX Tais
festas antecederam o atual Carnaval Em um primeiro olhar no que Bohnsack
denomina de anaacutelise preacute-iconograacutefica (mensagem denotativa) (Quadro ndash 1)
podemos perceber que o autor ou produtor da imagem faz uma espeacutecie de
contraponto entre a festa e a enchente Nesta primeira anaacutelise o docente
independente dos motivos pode indicar para os discentes que algum problema o
produtor da imagem visualizava nos entrudos e a partir da mesma abrir uma
discussatildeo sobre as possibilidades
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
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De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
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63
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SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
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64
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Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
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Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
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WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
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ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
49
Na figura 2 o produtor eacute mais especiacutefico sobre o que quer comunicar pois
se utiliza do auxiacutelio de um texto logo abaixo como pode ser observado
Figura 2 - Revista Illustrada Anno 9 nordm 373 Rio de Janeiro 1884 (p4)
Disponiacutevel em httpgibitecacomblogspotcombr201004agostini-rio-de-janeiro-e-chuvahtml
Nesta imagem fica claro que o produtor refere-se ao problema do lixo na
cidade e como o mesmo estava sendo tratado pelas autoridades no caso retratado
na Revista Illustrada nordm 237 atraveacutes da figura do responsaacutevel pela limpeza na corte
o francecircs Aleixo Gary
Na figura 3 podemos observar que Angelo Agostini aborda a questatildeo da
epidemia de febre amarela que constantemente ocorria na cidade do Rio de Janeiro
Nesta imagem ele se utilizada de texto logo abaixo a figura para deixar claro a
quem ele estaacute dirigindo o seu sarcasmo
Para os que natildeo tinham o domiacutenio da linguagem escrita fica a impactaccedilatildeo
da imagem que se refere a morte e um poliacutetico do impeacuterio conversando em tom
amistoso
Tal interpretaccedilatildeo era possiacutevel pelas representaccedilotildees vivenciadas pelos
cidadatildeos da eacutepoca que conseguiam dentro de suas vivencias sociais identificar
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
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5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
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14062013
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Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
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2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
50
como se trajava um home puacuteblico do Impeacuterio No caso da imagem especificado
pelo chapeacuteu que o mesmo carrega O restante da interpretaccedilatildeo eacute reforccedilada pelas
diversas representaccedilotildees vivenciadas no caso as doenccedilas o descaso etc
Figura 3 - Revista Illustrada em 04 de Marccedilo de 1876
Disponiacutevel em httppadumocablogspotcombr2010_09_01_archivehtml
Nesta figura Angelo Agostini de forma sarcaacutestica mostra um dialogo entre
um ministro do impeacuterio e a Febre Amarela sendo representada pela imagem da
morte
FEBRE AMARELA ndash Exmordm Sr Ministro do Impeacuterio estou-lhe muito agradecida jaacute faccedilo uma colheita de 80 a 100 por dia graccedilas a seu valioso auxiacutelio MINISTRO DO IMPEacuteRIO ndash Exmordf Sordf Febre eacute para mim lisonjeiro este seu agradecimento mas observo-lhe que natildeo de esquecer-se dos meus aliados a Ilmordf Cacircmara Municipal e a Junta de Hygiene que muito me coaduno nessa aacuterdua tarefa
Utilizando-se do meacutetodo de Bohnsack no que se refere a dimensatildeo de
interpretaccedilatildeo iconograacutefica de forma conotativa podemos perceber que era intenccedilatildeo
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
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MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
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MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
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MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
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OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
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7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
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PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
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conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
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SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
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ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
51
do produtor transmitir a partir de sua representaccedilatildeo a sua insatisfaccedilatildeo com as
autoridades governamentais da eacutepoca pela forma como lidavam com as epidemias
na capital do impeacuterio
Como estre trabalho estaacute voltado para charges que se relacionem a
questotildees relacionadas a contextos direta ou indiretamente a sauacutede temos a maior
produccedilatildeo acontecida durante a Revolta da Vacina (1904) ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro
Para tanto apresentamos a figura 4 como estrateacutegia de abertura da
discussatildeo sobre as politicas de sauacutede no Rio de Janeiro no iniacutecio da Repuacuteblica as
seguintes charges
Figura 4 ndash Charge de J Carlos publicada em 1904 ndash
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Nesta charge observamos que o produtor da imagem apresenta dois
personagens identificando os mesmos como sendo elementos ligados a sauacutede
atraveacutes da seringa e da cruz no braccedilo do personagem menor O dedo em riste indica
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
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BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
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Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
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CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
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FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
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62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
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MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
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63
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ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
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Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
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2005
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64
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SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
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WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
52
autoridade ou autoritarismo Com isso o docente pode abrir uma discussatildeo sobre a
campanha da Vacinaccedilatildeo obrigatoacuteria que se baseava no modelo Campanhista
(MERHY MALTA e SANTOS p 5)
Os sujeitos existentes dentro do recorte temporal analisado conseguiam
identificar os personagens a partir das representaccedilotildees imageacuteticas comum ao seu
periacuteodo No caso do personagem maior independente do grau cultural do indiviacuteduo
o mesmo conseguia relacionar com Oswaldo Cruz e pelo aspecto do bigode uma
denotaccedilatildeo negativa
Com isso o docente pode tem ferramentas para abrir uma discussatildeo
sobre mensagens imageacuteticas em campanhas de sauacutede analisando se as mesmas
estatildeo de acordo com as representaccedilotildees dos indiviacuteduos a que as mesmas satildeo
direcionadas
Figura 5 - Desenho de Leocircnidas publicado na revista O Malho de 29 de outubro de 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
A charge ilustrada na figura 5 foi produzida por Leonidas poucos dias
antes de acontecer a Revolta da Vacina (1904) O Produtor da imagem demonstra a
partir do conflito descrito imageticamente informar a aqueles que viriam a atentar
para a charge que o conflito entre autoridades oficiais e o povo era iminente
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
53
A partir desta charge o docente pode levantar os conflitos despertados
pelas poliacuteticas de sauacutede implementadas pelo estado Oligaacuterquico no iniacutecio do seacuteculo
XX e diante desta representaccedilatildeo acreditamos que eacute possiacutevel abrir discussotildees sobre
recursos imageacuteticos que previnam questotildees de interesse puacuteblico e de acordo com
as representaccedilotildees vivenciadas pelo puacuteblico alvo
Figura 6 ndash Charge do Semanaacuterio Tagarela de 16 de julho de 1903
Disponiacutevel em - wwwfiocruzbr
Na figura 6 o produtor da imagem para sedimentar a mensagem que estaacute
querendo transmitir se faz valer de um tiacutetulo no canto superior direito da mesma o
Papa-mosquito e logo a seguir retrata um dialogo entre Oswaldo Cruz e o presidente
da Repuacuteblica do periacuteodo Rodrigues Alves Neste dialogo Oswaldo Cruz comunica a
insatisfaccedilatildeo do povo com relaccedilatildeo a poliacutetica de erradicaccedilatildeo dos mosquitos
transmissores da Febre Amarela
Eacute interessante que o autor da charge retrate Oswaldo Cruz como um
mosquito a incomodar o sono do presidente como se fosse o seu objetivo informar
que a politica de erradicaccedilatildeo da febre amarela era incomoda ao povo pois nos dois
uacuteltimos versos o autor diz
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
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Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
54
O povo eacute que natildeo quer saber de histoacuterias Acha que as suas luctas e victorias Natildeo passam de pilheacutericas ratices E todas as phantasticas brigadas Contra os mosquitos - satildeo consideradas Como a maior de todas as tolices
Noacutes todos
Com esta imagem o docente apresenta um testemunho sobre como era
observada pela populaccedilatildeo atraveacutes de suas representaccedilotildees as poliacuteticas de
erradicaccedilatildeo de epidemias no caso a febre amarela e a partir da mesma levantar
questionamentos sobre o entendimento das praacuteticas de sauacutede pela populaccedilatildeo a
partir de campanhas que utilizem meios midiaacuteticos
Figura 7 ndash Charge publicada na Revista da Semana ndash 1904
Disponiacutevel em wwwfiocruzbr
Com a figura 7 o produtor comunica os problemas enfrentados pela
populaccedilatildeo do Rio de Janeiro na eacutepoca ou seja doenccedilas como Variacuteola
Eacute interessante em observar que apesar de Oswaldo Cruz jaacute ter sido
reconhecidamente bem sucedido no combate a febre amarela como a proacutepria
charge informa no canto inferior direito ndash Ao Heroe dos Mosquistos ndash ainda se
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
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Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
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BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
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http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
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2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
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Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
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NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
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educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
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SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
55
manifestam criticas ao sua pessoa principalmente com relaccedilatildeo as verbas que
haviam sido destinadas aos gastos no combate da febre amarela
E possiacutevel observar no canto inferior esquerdo a cruz onde se lecirc aqui jaz
a verba da hygiene E no alto em forma de fumaccedila o valor gasto no combate a
epidemia ou seja 5500 contos Ao lado a Variacuteola em tom jocoso como se
desafiasse o responsaacutevel pela poliacutetica sanitarista da eacutepoca
Com isso o docente pode levantar discussotildees sobre mensagens que ao
transmitirem algum acontecimento o faccedilam de forma a impactar o sujeito que
observa a mesma e iniciar uma discussatildeo a respeito dos efeitos das campanhas de
sauacutede no Brasil
Figura 8 ndash Osvaldo Cruz
Disponiacutevel em httprepublicacidadaniaguillenblogspotcombr201005charges-sobre-revolta-da-vacinahtml
Na figura 8 o produtor coloca particularismos que na interpretaccedilatildeo preacute-
iconograacutefica ou seja uma visatildeo denotativa possibilita as seguintes percepccedilotildees
No centro Oswaldo Cruz aparece de forma impertigada e solene o
que pode ser interpretado como altivez ou soberba
No caso do homem carregando a Vaca com o siacutembolo da Cruz
podemos interpretar como sendo o dito informal de A Vaca vai para
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
56
o Brejo com isso dando uma conotaccedilatildeo negativa a poliacutetica
higienista
O produtor se preocupa em diferenciar socialmente os
personagens ao apresentar o povo descalccedilo Aparecircncia esta
imortalizada por Monteiro Lobato no personagem Jeca Tatu
(PALMA 2003 sp)
Nesta imagem o autor utiliza diversas representaccedilotildees para transmitir sua
criacutetica a poliacutetica higienista da eacutepoca Com isso o docente pode levantar
questionamentos sobre a comunicabilidade entre autoridades e cidadatildeos no que se
refere a linguagem imageacutetica utilizada
Figura 9 ndash Revista Semana 2 de outubro de 1904
Disponiacutevel em httphistorianovestblogspotcombr201206revolta-da-vacina-em-chargeshtml
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
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5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
57
Na figura 9 o produtor de forma direta faz uma criacutetica ao Congresso que
aprovou a Lei apresentada por Oswaldo Cruz de nordm 1261 que instituiacutea a Vacinaccedilatildeo
Obrigatoacuteria
A partir da respectiva imagem o docente pode iniciar uma discussatildeo
sobre como a populaccedilatildeo via suas instituiccedilotildees poliacuteticas da eacutepoca no que se refere as
poliacuteticas de sauacutede e atualmente Tambeacutem eacute interessante fazer tal analise para
corroborar a importacircncia das imagens como instrumento de linguagem que atinge
qualquer indiviacuteduo independente da sua condiccedilatildeo cultural (MODENESI e SOUZA
2011 p4)
31 Produto
O produto resultante deste trabalho eacute um livreto2 segundo normas da
CAPES (ANEXO1) intitulado de ldquoIMAGENS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS E
SAUacuteDE Estrateacutegias de ensino com chargesrdquo
Sua organizaccedilatildeo se daacute em seis capiacutetulos a partir da introduccedilatildeo A
estrutura do livreto eacute a seguinte
1 INTRODUCcedilAtildeO
2 IMAGENS E REPRESENTACcedilOtildeES Charges como signo
3 SE PREPARANDO PARA A LEITURA DE IMAGENS
4 AS IMAGENS SEUS OLHARES E SUAS HIPOacuteTESES
5 ANAacuteLISE DAS CHARGES
6 E PARA FINALIZAR
7 REFEREcircNCIAS
As ilustraccedilotildees foram tratadas para dar visibilidade e realccedilar o valor do
tema
2 CAPES Aprovaccedilatildeo de livros Inlthttpwwwcapesgovbrservicossala-de-imprensa36-
noticias3081-ctc-es-aprova-roteiro-para-classificacao-de-livrosgt Acesso em 20 de outubro de 2010
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
58
De modo amplo o livreto eacute uma forma de comunicaccedilatildeo com os
profissionais interessados na aprendizagem do ensino de temas criacuteticos por meio de
charges
Enfim com o filoacutesofo da antologia do humor entregamos de matildeos
envoltas na arte e na eacutetica e a favor do ensino critico e criativo esta pequena obra
com as palavras de Nietzsche
A arte e nada mais que a arte Ela eacute a grande possibilitadora da
vida a grande aliciadora da vida o grande estimulante da vida
(Friedrich Nietzsche)
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
59
4 CONCLUSAtildeO
Em todas as charges apresentadas podemos observar o olhar do produtor
se apresentando como testemunha diante dos diversos acontecimentos que o
cercam Acreditamos dessa forma que o sujeito preceptor reproduzindo as
representaccedilotildees construiacutedas no seu respectivo momento temporal permita fazer uma
leitura visual a partir da sua vivecircncia (BOHNSACK 2010 p 118) E a partir de seu
olhar podemos concluir tendo a Teoria das Representaccedilotildees Sociais como meacutetodo
que o sujeito apresenta a partir das charges o resultado da interaccedilatildeo com o meio
em que existe auxiliando a partir de suas particularidades na construccedilatildeo das
representaccedilotildees deste respectivo meio (SEcircGA 2000 p128)
A partir destes breves exemplos apresentados construiremos o nosso
produto que seraacute um livreto contendo as experiecircncias adquiridas no que se refere
aos diferentes tipos de imagens Com isso buscamos conscientizar sobre o papel
delas enquanto instrumentos de comunicaccedilatildeo natildeo apenas a niacutevel didaacutetico mas
tambeacutem como ferramentas para interpretar as dinacircmicas sociais econocircmicas
poliacuteticas e culturais em que um indiviacuteduo estaacute inserido
Acreditamos que para os docentes de diferentes aacutereas do conhecimento
aleacutem do de sauacutede o respectivo material venha a servir como ferramenta para abrir
discussotildees sobre a importacircncia das imagens como forma de linguagem as quais
podem ser exploradas em prol de um ensino critico e criativo
As diferentes formas de orientaccedilatildeo na interpretaccedilatildeo das charges como
apresentamos tem potencial para levar o discente a compreender natildeo soacute a condiccedilatildeo
da aacuterea de sauacutede no Brasil mas apontar o contexto econocircmico social e cultural
Enquanto sujeito participante da discussatildeo o professor pode relevar a
importacircncia da linguagem imageacutetica seja a partir de um cartaz de campanha da
aacuterea de sauacutede orientaccedilatildeo sobre meacutetodos meacutedicos ou mesmo o proacuteprio espaccedilo de
exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
60
Devemos lembrar que a linguagem imageacutetica natildeo se limita apenas ao
traccedilo graacutefico ela estaacute inserida em uma enorme variedade de outras formas de
linguagem que acarreta em percepccedilotildees diversas (SANTAELLA 2011)
E eacute com Santaella que encerramos o nosso trabalho afirmando
Eacute tal a distraccedilatildeo que a aparente dominacircncia da liacutengua provoca em noacutes que na maior parte das vezes natildeo chegamos a tomar consciecircncia de que o nosso estar no mundo como indiviacuteduos sociais que somos eacute mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem isto eacute que nos comunicamos tambeacutem por meio de leitura eou produccedilatildeo de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos que somos tambeacutem leitores eou produtores de dimensotildees e direccedilotildees de linhas traccedilos cores Enfim tambeacutem nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens graacuteficos sinais setas nuacutemeros luzes Por meio de objetos sons musicais gestos expressotildees cheiro e tato atraveacutes do olhar do sentir e do apalpar Somos uma espeacutecie animal tatildeo complexa quanto satildeo complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simboacutelicos isto eacute seres de linguagem (SANTAELLA 2011)
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
61
5 REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Angela Maria de Oliveira SANTOS Maria de Faacutetima de Souza Santos
TRINDADE Zeidi Arauacutejo Teoria das Representaccedilotildees Sociais 50 anos Brasiacutelia
TechnoPolitik 2011
ARRUDA Angela Teoria das Representaccedilotildees Sociais e Teorias do Gecircnero
Universidade Federal do Rio de Janeiro Cadernos de Pesquisa nordm 117 p127-147
novembro de 2002
AZEVEDO Andreacute Nunes A reforma Pereira Passos uma tentativa de
integraccedilatildeo urbana Dossiecirc Temaacutetico Revista Rio de Janeiro nordm 10 maio-agosto de
2003
BOHNSACK R A interpretaccedilatildeo de imagens segundo o meacutetodo documentaacuterio
In WELLER Wiviam PFAFF Nicolle (orgs) Metodologias da Pesquisa
Qualitativa em Educaccedilatildeo ndash Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
CARVALHO Joseacute Murilo de Carvalho A formaccedilatildeo das Almas o imaginaacuterio da
Repuacuteblica no Brasil Cia da Letras 15ordf reimpressatildeo 2005
______ Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repuacuteblica que natildeo foi Satildeo
Paulo Companhia das Letras 1987
CHALHOUB Sidney Trabalho Lar e Botequim O cotidiano dos trabalhadores
no Rio de Janeiro da belle eacutepoque Editora Brasiliense 2005
______ Cidade Febril Corticcedilos e epidemias na corte imperial Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
FAUSTO Boris Histoacuteria do Brasil Boris Fausto 11ordf ed Editora da Universidade
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo SP 2003
FRANCO Maria Laura Puglisi Barbosa Representaccedilotildees Ideologia e
Desenvolvimento da Consciecircncia Programa de Estudos Poacutes-Graduados em
Psicologia da Educaccedilatildeo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia vol 72 p129-144 maioago 1991
MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
Sanitaacuteria Brasileira e a Potecircncia Transformadora Da Gestatildeo Disponiacutevel em lt
http wwwuffbrsaudecoletivaprofessoresmerhyindexados-30pdf gt Acessado em
14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de Histoacuteria 18 19 e 20 de abril de
2011 ndash FlorianoacutepolisSC ndash Disponiacutevel lthttp abeh org trabalhos GT01
tcompletothiag gt Acessado em 15062013
MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
Ciecircncias Um Exerciacutecio de Anaacutelise Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo Educaccedilatildeo em
Ciecircncias e Sauacutede Nuacutecleo de Tecnologia Educacional para a Sauacutede Universidade
Federal do Rio de Janeiro VII Encontro Nacional de Pesquisa com Educaccedilatildeo em
Ciecircncias Florianoacutepolis 8 de novembro de 2009
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
62
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Cadernos
de Pesquisa V 34 n 121 p169-186 janabr 2004
FREITAS Jairo Dias de REIS Silvia Barreiros dos Ensino de Ciecircncias e
Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede de Niacutevel Meacutedio Representaccedilotildees Sociais e
Visotildees de Ciecircncia Ciecircncia e Educaccedilatildeo v 17 n3 Rio de Janeiro 2011
LITZ Valesca Giordano O uso da Imagem no Ensino de Histoacuteria Secretaria De
Estado Da Educaccedilatildeo Superintendecircncia Da Educaccedilatildeo Departamento De Poliacuteticas E
Programas Educacionais Coordenaccedilatildeo Estadual Do PDE Curitiba 2009
MADEIRA Margot Campos Representaccedilotildees Sociais Pressupostos e
Implicaccedilotildees Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Revista Brasileira de
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MARX Karl ENGELS Friedrich A ideologia Alematilde (I ndash Feuerbach) Traduccedilatildeo de
BRUNI Joseacute Carlos NOGUEIRA Marco Aureacutelio Editora Hucitec Satildeo Paulo SP
1984
MERHY Emerson Elias et al Desafios para os Gestores do SUS Hoje
Compreender os Modelos de Assistecircncia aacute Sauacutede no Acircmbito da Reforma
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14062013
MODENESI Thiago Vasconcellos SOUZA Edilson Fernandes As Charges
Educando no Segundo Reinado do Impeacuterio Brasileiro Anais Eletrocircnicos do IX
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MOREIRA Maria Cristina do Amaral et al A Sauacutede no Livro Didaacutetico de
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63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
63
MOSCOVICI Serge Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia
social Rio de Janeiro Vozes 2003
NOVIKOFF C Dimensotildees Novikoff um constructo para o ensino-aprendizado
da pesquisa In ROCHA JG NOVIKOFF C (orgs) Desafios da praacutexis
educacional agrave promoccedilatildeo humana na contemporaneidade Rio de Janeiro
Espalhafato Comunicaccedilatildeo p 211-242 2010
OLIM Baacuterbara Barros de Imagens Em Livros Didaacuteticos De Histoacuteria Das Seacuteries
Iniciais uma anaacutelise comparativa e avaliadora Revista Outros Tempos Volume
7 nuacutemero 10 dezembro de 2010 - Dossiecirc Histoacuteria e Educaccedilatildeo 2010
OLIVEIRA Maria Ameacutelia de Campos EGRY Emiko Yoshikawa A Historicidade
das Teorias Interpretativas do Processo Sauacutede-Doenccedila Revista da Escola de
Enfermagem da USP v34 n1 Satildeo Paulo 2000 p9-15
PALMA Ana Monteiro Lobato e a gecircnese do Jeca Tatu Disponiacutevel em lt
httpwwwfiocruzbrccscgicgiluaexesysstarthtminfoid=20ampsid=5 gt Acessado
em 15062013
PORTO A e PONTE C F Vacinas e campanhas imagens de uma histoacuteria a
ser contada Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede Manguinhos vol 10 (suplemento 2) 2003
ROCHA Eacuterica Juliana Santos Multimodalidade Soacutecio construccedilatildeo do
conhecimento e a Sala de aula uma associaccedilatildeo possiacutevel 2008 124 f
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Faculdade de Letras da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro ndash PUCRio 2008
SANTAELLA Luacutecia Semioacutetica Aplicada Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning
2005
______ O que eacute Semioacutetica Satildeo Paulo Editora Brasiliense 31ordf reimpressatildeo 2011
SARDELICH Maria Emiacutelia Leitura de Imagens Cultura Visual e Praacutetica
Educativa Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Feira de
Santana ndash BA Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 451-472 maioago 2006
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
64
SEcircGA Rafael Augustus O Conceito de Representaccedilatildeo Social nas Obras de
Denise Jodelet e Serge Moscovici Revista Anos 90 Porto Alegre nordm 13 julho de
2000
SEVALHO Gil Uma Abordagem Histoacuterica das Representaccedilotildees Sociais de
Sauacutede e Doenccedila Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro nordm 9 (3) p 349-363
julset 1993
SEVCENKO Nicolau A Revolta da Vacina Mentes Insanas em Corpos
Rebeldes Editora Scipione Satildeo Paulo 1993
SILVA J A P Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social
Akroacutepolis Umuarama v 18 n 4 outdez 2010 p 319-321
TEIXEIRA Luiz Guilherme Sodreacute O traccedilo como texto A histoacuteria da charge no
Rio de Janeiro de 1860 a 1930 Coleccedilatildeo Papeacuteis Avulsos n38 Ediccedilotildees Casa Rui
Barbosa Rio de Janeiro 2001
WELLER W PFAFF N Metodologias da pesquisa qualitativa em Educaccedilatildeo
Teoria e Praacutetica Editora Vozes Petroacutepolis RJ 2010
TORRES Rosane dos Santos Ecos na Capital relaccedilotildees de poder e cotidiano
poliacutetico na cidade do Rio de Janeiro em fins do seacuteculo XIX Texto integrante dos
Anais do XIX Encontro Regional de Histoacuteria Poder Violecircncia e Exclusatildeo
ANPUHSP ndash USP Satildeo Paulo 08 a 12 de setembro de 2008
VAINFAS Ronaldo et al Histoacuteria ndash Volume Uacutenico Editora Saraiva Satildeo Paulo SP
2010
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ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
65
ANEXO 1 - TABELA DE ANAacuteLISE DE TEXTOS ACADEMICOS-CIENTIacuteFICOS
segundo as Dimensotildees Novikoff
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ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
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Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos
66
ANEXO 2 ROTEIRO PARA CLASSIFICACcedilAtildeO DE LIVROS (CTC-ES
APROVACcedilAtildeO)
Publicada por Assessoria de Imprensa da Capes
Quinta 27 de Agosto de 2009 1624
O Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico da Educaccedilatildeo Superior (CTC-ES) durante a
111ordf Reuniatildeo realizada em 24 de agosto de 2009 aprovou o Roteiro para
Classificaccedilatildeo de Livros O roteiro traz conceitos e definiccedilotildees comuns e sugestatildeo de
modelo de ficha de classificaccedilatildeo e serviraacute como orientaccedilatildeo para as 23 aacutereas que
vatildeo classificar livros na avaliaccedilatildeo trienal de 2010
Em vaacuterias aacutereas do conhecimento os livros constituem a principal modalidade
de veiculaccedilatildeo de produccedilatildeo artiacutestica tecnoloacutegica e cientiacutefica As outras aacutereas de
conhecimento nas quais a produccedilatildeo de conhecimentos quase natildeo se expressa na
forma de livros mas preferencialmente na forma de artigos em perioacutedicos natildeo
utilizaratildeo o Roteiro para Classificaccedilatildeo de Livros
O roteiro consolida discussotildees ocorridas nas aacutereas e no acircmbito do CTC-ES
desde o iniacutecio do ano de 2008 cujos esforccedilos eram de estabelecer criteacuterios e
procedimentos comuns para a qualificaccedilatildeo de livros
Como no caso de perioacutedicos as orientaccedilotildees e criteacuterios do roteiro foram
estabelecidos visando exclusivamente agrave avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo intelectual dos
programas de poacutes-graduaccedilatildeo e portanto satildeo inadequadas para avaliaccedilotildees
individuais de professores pesquisadores e alunos