NEIVA 2015 Revisitando o Calcanhar de Aquiles Metodologico Das Ciencias Sociais No Brasil

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    Sociologia, Problemas ePrticas79 (2015)

    SPP 79

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    Pedro Neiva

    Revisitando o calcanhar de Aquilesmetodolgico das cincias sociais noBrasil

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    Aviso

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    Referncia eletrnicaPedro Neiva, Revisitando o calcanhar de Aquiles metodolgico das cincias sociais no Brasil , Sociologia,Problemas e Prticas[Online], 79 | 2015, posto online no dia 15 Maro 2016, consultado no dia 05 Abril 2016. URL :http://spp.revues.org/2232

    Editor: Editora Mundos Sociaishttp://spp.revues.orghttp://www.revues.org

    Documento acessvel online em: http://spp.revues.org/2232Este documento o fac-smile da edio em papel.

    CIES - Centro de Investigao e Estudos de Sociologia

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    REVISITANDO O CALCANHAR DE AQUILESMETODOLGICO DAS CINCIAS SOCIAIS NO BRASIL

    Pedro NeivaUniversidade de Braslia, Braslia, Brasil

    Resumo Nesse artigo, fazemos uma avaliao sobre o uso de dados e mtodos quantitativos nasrevistas brasileiras de cincias sociais no perodo de 1997 a 2012. Verificamos que houve umaumento expressivo na utilizao de tcnicas estatsticas avanadas. Porm, o quadro geral nomudou substancialmente: a proporo de autores quantitativistas continua sendo amplamenteminoritria,vis-a-visos no quantitativistas. Identificamos que a rea de formao, a instituiode origem, o nvel de qualificao da revista, o fato de o artigo ter sido elaborado em parceria e aparticipao em cursos especficos parecem influenciar na escolha de uma abordagem quantitativa.

    J o gnero dos autores no parece estar associado a tal opo metodolgica.

    Palavras-chave mtodos, metodologia quantitativa, cincias sociais, Brasil.

    Abstract In this article I assess the use of quantitative data and methods in Brazilian social sciencereviews between 1997 and 2012. I find that there was a significant increase in the use of advancedstatistical techniques. However, the general picture did not change substantially: quantitativistauthors remain in a clear minority vis--vis non-quantitativists. Factors that seem to influence thechoice of a quantitative approach include: field of education; institution of origin; level of sophistication

    of the review; whether the article has co-authors; and the authors participation in specific courses. Forits part, the authors gender does not seem to be associated with this methodological option.

    Keywords methods, quantitative methodology, social sciences, Brazil.

    Rsum Cet article fait une valuation de lutilisation de donnes et de mthodes quantitativesdans les revues brsiliennes de sciences sociales, sur la priode de 1997 2012. Mme si lutilisationde techniques statistiques avances a considrablement augment, le cadre gnral na pasvraiment chang quant lui : la proportion dauteurs quantitativistes demeure largementminoritaire par rapport aux non quantitativistes. Le domaine de formation, ltablissementdorigine, le niveau de qualification de la revue, le fait que larticle ait t rdig en partenariat et laparticipation des formations spcifiques sont autant de facteurs qui semblent peser dans le choixdune approche quantitative. En revanche, le genre des auteurs ne semble pas avoir dinfluence sur

    ce choix mthodologique.

    Mots-cls mthodes, mthodologie quantitative, sciences sociales, Brsil.

    Resumen En este artculo, hacemos una evaluacin sobre el uso de datos y mtodos cuantitativosen las revistas brasileas de ciencias sociales en el periodo de 1997 a 2012. Verificamos que hubo unaumento notable en la utilizacin de tcnicas estadsticas avanzadas. Sin embargo, el marcogeneral no cambi substancialmente: la proporcin de autores cuantitativistas sigue siendo

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    ampliamente minoritaria, en comparacin a los no cuantitativistas. Verificamos que el rea deformacin, la institucin de origen, el nivel de calificacin de la revista, el hecho del artculo habersido elaborado en colaboracin y la participacin en cursos especficos parecen influir en la eleccinde un abordaje cuantitativo. Por otro lado, el gnero de los autores no parece estar asociado a talopcin metodolgica.

    Palabras-clave: mtodos, metodologa cuantitativa, ciencias sociales, Brasil.

    Introduo

    Humadcada,GlucioSoares publicouum artigo sobre o uso de mtodos quanti-tativos 1 intitulado O calcanhar metodolgico da cincia poltica no Brasil (Soa-res, 2005). Apesar do seu carter aparentemente despretensioso, o texto tornou-semuito conhecido e passou a terpresena quase obrigatria nas ementas dos cursosde metodologia aplicadas cinciassociais no Brasil. Alm do tomprovocativoaosno quantitativistas, o artigo chamou a ateno pelo bom mapeamento que fezdo estado da arte da disciplina, pelo diagnstico preciso dos seus problemas e pe-las sugestes instigantes que apresentou.

    Esse texto retoma a mesma discusso, ampliando o seu escopo e testandosuas hipteses, muitas vezes sustentadas em inspees visuais e opinies pes-

    soais. Nosso objetivo principal identificar os fatores que determinam, ou influen-ciam, a escolha do uso de dados e mtodos quantitativos nas cincias sociais noBrasil, levando em considerao caractersticas pessoais dos autores, suas reas deformao, instituies de origem, qualificao dasrevistas e o fato de a pesquisatersido feita ou no em parceria.

    Fazemos isso a partir da avaliao dos artigos publicados nas revistas brasi-leiras dedicadas s reas de cincia poltica, sociologia e antropologia durante osanos de 1996 a 2012. Embora tenha o foco centrado sobre a cincia poltica, a pes-quisa pode-se dizer comparativa, haja vista o confronto que faz com outras disci-plinas das cincias sociais, especialmente com as duas citadas acima. No se trata,no entanto, de um estudo comparativo entre pases, a despeito da referncia fre-quente ao que acontece nos Estados Unidos.

    O texto est dividido em quatro partes, alm dessa breve introduo. Na se-o seguinte, recuperamos algumas informaes histricas sobre a evoluo douso de mtodos nas cincias sociais, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos;

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    1 Os conceitos de mtodo e tcnica sero utilizados indistintamente neste artigo. Apesar deexistirem diferenas, elasno so fundamentais paraos nossos propsitos. O primeirorefere-sea uma estratgia de produo de conhecimento cientfico, incluindo a gerao e a validao deteorias.Jatcnicaseriaumaformapadronizadadecoletaedeanlisededados,tambmcomafinalidade de produzir conhecimento. O mtodo mais abrangente e contempla estratgias ge-rais, enquanto a tcnica especfica e concreta (Cano, 2012).

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    simultaneamente, fazemos um apanhado das desavenas entre defensores dasduas perspectivas metodolgicas nos dois pases: a quantitativa e a qualitativa.Em seguida, na terceira seo, apresentamos as variveis com as quais estamostrabalhando, procurando justificar a sua incluso na anlise, alm de adiantar-mos algumas estatsticas descritivas. Na quarta seo, apresentamos um mode-lo de regresso logstica multinominal, que nos permite avaliar o efeito de cadauma dessas variveis. Finalmente, na quinta seo, apresentamos as nossasconcluses.

    A abordagem quantitativa nos Estados Unidos e no Brasil

    Nos Estados Unidos, a abordagem quantitativa cresceu com o aparecimento do com-portamentalismodesdeasprimeirasdcadasdosculoXXeoseufortalecimentoapsaIIGuerraMundial,emcontraposiocomasabordagenshistricasefilosficas.Des-de ento, passou-se a ter maior preocupao com a objetividade e com as generaliza-es indutivas, elementosdiretamente relacionadoscomummaterial emprico,comaquantificao e com mtodos sistemticos e diferenciais (Peres, 2008).

    Esse histrico reflete-se hoje na formao dos cientistas polticos nor-te-americanos e na sua produo acadmica. De acordo com Bennett, Barth eRutherford (2003), todos os 30 principais departamentos da disciplina nos Esta-dos Unidos ofereciam cursos de mtodos estatsticos. Segundo o autor, em 1000artigos publicados em dez jornais antes de 1998, 49% usavam estatstica; 2 nassete principais revistas da rea, a proporo de estudos de caso e qualitativoscaiu de 12% em 1975 para 7% em 1985 e para 1% em 2000.

    Apesardapredominnciadaabordagemquantitativa,elanoaconteceusemresistncia. O prprio Jon Elster, um dos pais da escolha racional, criticou o usoexacerbado do formalismo por ter-se tornado um fim em si mesmo (Elster eHylland, 1989). Anos mais tarde, John Gerring (2001) alertou para o mesmo exage-ro, lembrando que a estatstica era apenas um instrumento das cincias sociais eno ela prpria.

    A reao tornou-se mais evidente no incio dos anos 2000, quando um grupodecientistaspolticosapresentouumprotestocontraousoexcessivodaquantifica-o nadisciplina e a prepondernciaquase absolutaqueela tinhanos artigos publi-cados na prestigiada American Political Science Review. Esse movimento ficouconhecido como Perestroika e ganhou adeptos importantes como Theda Skop-

    col,CharlesTillyeIanShapiro.Noentanto,adespeitodoseuimpactoimediato,eleno mudou radicalmente a situao.

    NoBrasil,ocontextoapresenta-semuitodiferente.Apesardetersofridoforteinfluncia da cincia poltica norte-americana, os quantitativistas brasileiros en-contram-se em situao visivelmente minoritria. No final dos anos 90, a partir de

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    2 Na verdade, esse nmero era ainda maior, se considerarmos que os autores no classificaramcomo tal os artigos que usavam apenas estatstica descritiva.

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    uma amostra de 308 artigos,ValleSilva (1999)verificou que85% deles no apresen-tavamqualquerquantificao,13%lidavamapenascomdistribuiodefrequnci-as e menos de 3% continham alguma anlise quantitativa. Esse ltimo grupocontava com oito autores, dos quais apenas um no havia feito ps-graduao noexterior.

    Em2001,odiagnsticofeitoporNeumaAguiar,paraascinciassociaiscomoum todo, era o seguinte:

    No Brasil, pesquisas com base quantitativa vm sendo empregadas por um restritogrupo de pesquisadores em cincias sociais, que encontram dificuldades em formarasnovasgeraesdeprofissionaisnessarea.Quandoseobservaoconjuntodepubli-

    caes brasileiras indexadas no ndice de Cincias Sociais, num total de 74 ttulos,chama a ateno que, num perodo de 43 anos (de 1957 a 2000), dos 9118 artigos quecompemondice,apenas709correspondematextosqueutilizammtodosquantita-tivos como recurso de investigao.Por ano, em mdia,paracada 300artigospublica-dos e indexados, cerca de 6% deles so quantitativos. (Aguiar, 2001: 3)

    Emumainspeovisualde39artigosdarevistaOpinio Pblica, Glucio Soares(2005)verificou que 72% deles usaram, pelo menos, porcentagens; 74% apresentaram infor-mao usando alguma forma tabular; 28% usaram grficos; 20% usaram algum tipode estatstica simples; e 26%usaramanlises mais complexas. O autor verificou aindaque dos dez autores desse ltimo grupo, nove eram estrangeiros ou haviam feito car-reira no exterior, confirmando que so rarssimos os trabalhos de cientistas polticos esocilogos brasileiros detentores de algum nvel de sofisticao estatstica.

    Recentemente, Nicolau e Oliveira (2013) identificaram uma predominnciaexpressiva de trabalhos quantitativos na cincia poltica brasileira no perodo de1986 a 2012. Segundo os dois autores, nada menos que 71% deles tinham uma ori-entao emprica quantitativa, enquanto 25% adotavam uma orientao empricanoquantitativaeapenas5%utilizavamumaorientaoterica.Noentanto,comoreconheceram os prprios autores, seus dados podiam estar fortemente enviesa-dos em funo das trs revistas escolhidas:Opinio Pblica,Brazilian Political Sci-ence RevieweRevista Brasileira de Cincias Sociais.

    Assim como nosEstados Unidos, no Brasiltambm parece haver uma contro-vrsia entre adeptos das duas abordagens, com algumas diferenas importantes.No primeiro caso, ela foi iniciada pelos no quantitativistas. No segundo, pelosquantitativistas. Ambos eram os segmentos minoritrios nos seus respectivos

    pases. Nos Estados Unidos, a polmica se deu dentro da prpria cincia poltica.No Brasil, ela envolve uma divergncia entre disciplinas: a cincia poltica parecesermaisquantitativadoqueasociologiaebemmaisdoqueaantropologia(Soa-res, Souza e Moura, 2010).

    Lima Junior (1999), um dos defensores das pesquisas empricas, criticou ostrabalhos eminentemente ensasticos e jornalsticos e os ensasmos de cunho se-mifilosfico ou de histria das ideias, baseados em fontes secundrias. Contraessa tendncia, a sugesto do autor era a de promover treinamento em disciplinasde alto nvel de formao quantitativa.

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    Segundo Fbio Reis (1993), a sociologia e a cincia poltica adotaram umapostura mais cientfica, caracterizada pelo apego ao rigor, sistematicidade, ge-neralizao e buscada cumulatividade; j a antropologia e a histriaestariam, deacordo com o autor, mais prximas do padrohumanistae idiogrfico,com nfasenos trabalhos qualitiativos e descritivos, valorizando a dimenso temporal ou his-trica dos fenmenos, o relativismo, a intuio e as peculiaridades.

    GlucioSoares(2005)outrocrticoimportantenessadiscusso.Aodefenderos mtodos quantitativos, o autor faz acusaes speras queles que se definemcomo qualitativos. Na suaopinio, eles no usam,de fato, mtodos qualitativos;soapenasnoquantitativosouantiquantitativos.SegundoSoares,ahostilida-deaosmtodosquantitativoseestatsticanofoicompensadacommtodosqua-

    litativos rigorosos, mas sim por uma ausncia de mtodos e de rigor (2005: 27).No diagnstico de Incio Cano (2012), existe uma nfase excessiva nos clssi-cose na erudio,em detrimento da pesquisaemprica. Segundo o autor, as cinci-as sociais no Brasil privilegiam a teoria em detrimento da pesquisa, promovendoum conhecimento antes erudito do que tcnico. Na sua percepo, valoriza-se aoratria brilhante e a habilidade para citar autores a exemplo do que acontecenas reas do direito e da filosofia em detrimento da fundamentao emprica.O autor lamentou o fato de muitos profissionais estarem sendo formados como es-pecialistas em Marx, Weber e Durkheim, enquanto o pas precisa de profissionaisque consigam aplicar e avaliar polticas pblicas, que sejam capazes de usar ferra-mentaspararespondersnovasperguntasformuladaspelarealidadedodiaadia.

    Do outro lado, esto os no quantitativistas, com discursos tambm agres-sivos e, no raramente, eivados de contedo ideolgico. o caso de Costilla (2005),para quem:

    dois congressos da Associao Latino-Americana de Sociologia [] mostraram umarecuperao da teoria e da crtica no trabalho dos socilogos, ante a crise das cinciassociaiseo empirismoneoliberal, [] que nada mais do que a adaptao pura e simplesdopensamentoao capitalismo existente e dominante globalmente (2005: 245-248,grifosnossos).

    Em um texto bem equilibrado e consciente, que no deixa de reconhecer a im-portncia da estatstica e as falhas dos socilogos brasileiros em termos de for-mao qualitativa, Demo (2009) outro exemplo de crtico severo aos exagerosempiristas:

    []Os positivistas/quantitativistasaindanosabem o que pobreza, []principalmen-te porque a reduzem a um farrapo estatstico [] a [abordagem] quantitativa pinta e

    borda,tambmninadacarinhosamentepor entidades como o BancoMundial [] tomaodadocomodado,semdesconstruiratramatericaeideolgicaqueestportrs,imagi-nandoquenodadoestejaarealidadebuscada.Ademais,aplicandoumaregressotipica-mente linear, forja-se um contexto muito irreal [] Busca-se evidncias empricas,porque, na religio neoliberal e positivista, o quevale[] Parece-me quemuitas anli-ses sociais refestelam-se com o trambique neoliberal, ao abusarem de evidncias

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    empricas, vendendo sob nmeros espertos ideologias ainda mais espertas. (2009:19-26)

    A nossa viso que ambas as correntes tm alguma razo. Por um lado, parece ha-ver uma resistncia injustificada por toda e qualquer evidncia emprica, como seela exclusse a discusso terica. No percebem o quanto a empiria pode ajudarnoteste das hipteses e no questionamento e/ou no reforo de teorias, mais ou menosestabelecidas. A impresso que tal oposiodecorre, muitas vezes, pela incapaci-dade de tais pesquisadores de ler uma simples tabela que envolva nveis mnimosde complexidade matemtica ou estatstica.

    Por outro lado, preciso reconhecer o excesso por parte de muitos empiristas,

    que no passamde manipuladores de nmeros, nem sempre com as tcnicas adequa-das, aproveitando-se da incapacidade de o outro lado entender o que esto dizendo.Teoria fundamental para o conhecimento cientfico. No h o que questionar aqui.Osmtodossejamelesqualitativos,sejamquantitativos,sejammistossoapenasinstrumentospara a suadiscusso. No nossa preocupao,no entanto, entrarnessadisputa. Pretendemos apenas mapear a situao da metodologia quantitativa dascinciassociaisnoBrasil,procurandoidentificarosfatoresqueaexplicam,ouqueaelaesto associados.

    Apresentao das variveis e dos dados

    Estamos trabalhando com as revistas brasileiras de cincias sociais com classifica-o at B3" no sistema Qualis 3 em pelo menos uma das reas principais: cinciapoltica, sociologia ou antropologia. No total, elegemos 22 revistas (veja apndice),as quais publicaram 4937 artigos nesse perodo, assinados por 2898 autores nos l-timos 16 anos. No entraram na anlise as revistas com enfoque muito especfico,como as das reas de sade pblica, meio ambiente, educao, segurana, estudosde gnero, histria, comunicao, entre outras. Tampouco entraram as de mbitomuito amplo, que vo alm das cincias sociais, como o caso da revistaEstudosAvanados. Foram includos somente artigos originais, desprezando-se as rese-nhas, homenagens, entrevistas, tradues, apresentao de dossis, aula inau-gural, ensaios, palestras e resumos.

    No que diz respeito autoria, estamos considerando apenas as informaesdo primeiro autor, pordois motivos principais. Um deles que quase 80% dosarti-

    gos so produzidos por autores individuais. O segundo que o eventual ganhoanaltico da incluso dos coautores no compensaria os problemas decorrentes,sendo a duplicidade de informao (paraum mesmo artigo) apenas um deles.Noobstante, consideramos tambm os coautores quando avaliamos o efeito da vari-vel gnero,pois, nesse caso,interessasaber sealgumdeles do sexo masculino.

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    3 Trata-se de sistema utilizado pela Capes para classificar os peridicos brasileiros, por reas es-pecficas,emnveisindicativosdequalidade,naseguinteordemdecrescente:A1;A2;B1;B2;B3;B4; B5; C.

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    Anossa varivel dependente dizrespeito ao usoou node alguma estatstica,

    envolvendotrscategorias:(1)senousanmeros;(2)seusaapenasestatsticab-sica (descritivae/ou testes de diferenas de mdias); (3)se usaestatstica avanada,isto , alguma tcnica mais sofisticada (anlises fatorial, de regresso, cluster, etc.).Aalocaodoartigoemumadastrscategoriasfoifeitaapartirdainspeovisualde cada um deles (a nossa unidade de anlise), que somaram quase 5000.

    Quando o autor utiliza algum dado numrico, geralmente o faz dispondo-oem tabelas; no entanto, tambm classificamos como uso de dados numricosquando acontecia de eles estarem expostos ao longo do texto, desde que ocupas-sem um papel central na anlise. Por outro lado, quando os dados numricos notinham qualquer importncia analtica, os textos foram classificados como noquantitativos, ainda que fossem apresentados em forma de tabelas. Apresenta-mos no quadro 1 a frequncia de cada uma das categorias.

    De antemo, j se percebe que a proporo de artigos que usaram dados nu-mricos foimuito baixa;no perodo analisado, nochegaram a 27%do total.Menosde 6% do total recorreram a alguma tcnica estatstica. Embora esperssemos umapredominncia de trabalhos no quantitativos, no pensvamos que ela fosse togrande.Nafigura1,podemosterumaideiadecomoasituaotemvariadoaolon-go do tempo.

    A figura 1 mostra pouca variao nos ltimos 16 anos, com exceo do uso deestatstica avanada, que sai de um patamar de 3,3% em 1997 para 7,6% em 2012.Umaumentode 130%.No pouco; e mostra claramentequeestaumentando. Po-rm,oquadrogeralpermaneceomesmo:ascinciassociaisnopascontinuampri-mordialmente no quantitativas. Se existe de fato uma hostilidade em relao aosmtodos quantitativos e estatstica nas cincias sociais brasileiras, conforme afir-mamdiversos autores (Cano,2012;Ramos e Monsma, 2012;Soares, 2005), elapare-

    ce descabida, haja vista o pouco espao que ocupam.Resta saber como essa situao varia de acordo com as revistas, por rea de

    especializao, por instituio de origem dos autores, por suas caractersticaspessoais, pela constituio de parcerias. Nas subsees que se seguem, fazemosuma avaliao pormenorizada dessa situao. Alm de justificarmos a incluso decada uma das variveis na anlise, apresentamos, desde j, alguns resultadosdescritivos.

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    N %

    Nenhum nmero 3.620 73,3Estatstica bsica 1.033 20,9Estatstica avanada 284 5,8Total 4.937 100,0

    Fonte: dados coletados pelo autor.

    Quadro 1 Uso de dados quantitativos nas revistas brasileiras de cincias sociais (1997 a 2012)

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    Perfil da revista

    Operfildarevistatalvezsejaumdosprincipaisfatoresparaexplicar,oujustificar,ouso de dados quantitativos. No sabemos se isso acontece porque os autores bus-cam aquelas que melhor se encaixem nas suas escolhas metodolgicas ou se so asprprias revistas que privilegiam determinado tipo de abordagem. Provavelmen-te, as duas coisas ocorrem simultaneamente.

    Nos Estados Unidos, essa situao ficou bem clara a partir da avaliao reali-zada por Bennet, Barth,e Rutherford (2003). Os autores mostraram que oJournal ofPolitics e aAmerican Political Science Review apresentaramresultadosestatsticosem90%e62%dosseusartigos,respectivamente;jnaComparative Politics, isso aconte-cia em menos de 5% deles. Tais diferenas foram confirmadas no estudo de Vijver-berg (1997), cujos resultados podemos ver no quadro 2.

    No Brasil, tambm parece existir uma grande variao entre as revistas, emproporo bem menor para os trabalhos quantitativos. Soares (2005) sugere que aDadose aOpinio Pblicatm mais artigos com alguma quantificao do que aRe-vista Brasileira de Cincias Sociaise aLua Nova. Na primeira, o autor identificou que72% dos artigos usaram porcentagens e 74% apresentaram resultados usando al-guma forma tabular. Nicolau e Oliveira (2013) tambm perceberam a orientaoquantitativa mais forte daOpinio Pblica.

    Em uma amostra bem maior, pudemos identificar tais variaes de formamais precisa, conforme podemos observar no quadro 3.

    Diferindo do que acontece nos Estados Unidos, em geral, as revistas brasi-leirasnareadecinciassociaispublicampoucosartigoscomabordagemquan-titativa. A mdia de apenas 29%, sendo de aproximadamente 6% para aestatstica avanada e de 22% para a estatstica bsica. Apenas quatro das 22revistas pesquisadas contam em seus artigos com mais de 50% de dadosnumricos. No obstante, existe uma grande variao entre elas. Enquanto 80%dos artigos na Opinio Pblica usam algum tipo de quantificao, na Revista

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    Estatstica avanada Estatstica b

    sica N

    o usa n

    meros

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    Figura 1 Uso de dados quantitativos nas revistas de cincias sociais brasileiras (percentual): 1997 a 2012

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    Brasileira de Cincia Poltica esse nmero no passa de 10%. A proporo deuso de estatstica avanada nas duas revistas de 39,6% e 1,4%, respectivamen-te; de estatstica bsica de 40,1% e 8,6%.

    Curiosamente, a revista da Associao Brasileira de Cincia Poltica aBrazilian Political Sicence Review apresenta uma diviso muito bem equilibradadas trs categorias.Cada uma delas ocupa aproximadamente um tero do espaototal. Isso no quer dizer, no entanto, que ela represente equilibradamente os

    REVISITANDO O CALCANHAR DE AQUILES METODOLGICO DAS CINCIAS SOCIAIS NO BRASIL 73

    SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRTICAS, n. 79, 2015, pp. 65-83. DOI:10.7458/SPP2015794725

    Revista N Sem anlise

    estatsticaEstatstica

    simples

    Estatsticaavanada

    Anlisede regresso

    American Journal of Political Science 46 2,2 60,9 21,7 54,3

    American Political Science Review 50 54,0 30,0 2,0 22,0

    Journal of Politics 54 14,8 57,4 16,7 31,5

    American Journal of Sociology 46 39,1 52,2 8,7 21,7

    American Sociological Review 58 20,7 58,6 15,5 37,9

    Social Forces 61 19,7 68,9 19,7 37,7

    Social Science Quarterly 74 25,4 47,8 9,0 43,3

    Journal of Political Economy 50 46,0 32,0 8,0 28,0

    Fonte: Vijverberg (1997).

    Quadro 2 Uso de dados quantitativos por revistas norte-americanas narea de cincias sociais

    Revista Estatstica

    avanadaEstatstica

    bsicaNo usanmeros

    N

    Opinio Pblica 39,6 40,1 20,3 197Brazilian Political Science Review 34,8 33,3 31,8 66

    Dados 18,3 33,2 48,5 388

    Poltica Hoje 16,4 31,1 52,5 61Sociologias 11,8 42,2 46,1 301

    Revista de Sociologia e Poltica 8,1 16,2 75,7 338Revista Brasileira de Cincias Sociais 5,3 19,1 75,6 430Teoria e Pesquisa 4,5 22,7 72,7 132Teoria & Sociedade 3,8 31,7 64,5 74

    Debates 2,3 21,9 75,7 102

    Sociedade e Estado 2,2 24,1 73,6 264

    Civitas 1,9 18,5 79,6 267

    Poltica e Sociedade 1,7 14,4 83,9 211Lua Nova 1,5 18,2 80,3 361

    Perspectivas 1,5 17,6 80,9 174

    Novos Estudos CEBRAP 1,5 15,5 83,0 220

    Revista Brasileira de Cincia Poltica 1,4 8,6 90,0 88Tempo Social 1,0 10,4 88,5 356

    Caderno CRH 0,9 20,9 78,2 402

    Estudos de Sociologia 0,6 13,5 86,0 278

    Revista de Cincias Sociais 0,4 11,2 88,5 96Revista Ps Cincias Sociais 0,0 11,5 88,5 130

    Fonte: dados coletados pelo autor.

    Quadro 3 Uso de dados quantitativos pelas revistas brasileiras de cincias sociais (1997 a 2012)

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    diversos segmentos de cientistas polticos brasileiros. No temos informao so-bre a proporo deles dentro da classe, mas sabemos que o contingente do queestamos chamando de quantitativistas bem menor do que os dos noquantitativistas.

    Pesquisa em parceria

    Outra varivel que tem sido considerada na explicao do uso de metodologiaquantitativa refere-se ao fato de o trabalho ser realizado individualmente ou emcolaborao. A partir de dados coletados de 1935 a 2005 nos principais jornais narea de sociologia, Huntere Leahey(2008) concluram queas pesquisas quantitati-

    vas e que envolvem coleta de dados tendem a envolver mais colaborao. Pontille(2003) verificou que 62,2% dos textos com anlises estatsticas na sociologia nor-te-americana eram escritos por mais de um autor; por outro lado, textos tericos ede anlise textual foram escritos individualmente, na grande maioria das vezes(86% e 71,4%, respectivamente). A sugesto do autor de que o formato segmenta-do dos estudos quantitativos frequentemente estruturados em introduo, ma-terial e mtodos, resultados e discusso um dos fatores que favorece a divisode tarefas.

    Na mesma linha, Soares, Souza e Moura (2010) verificaram que 54% dosartigos em coautoria utilizavam tabelas, em contraste com os 29% dos que eramescritos individualmente. Apesar de ser apenas um recurso de apresentao, asmesmas esto tradicionalmente associadas com a apresentao numrica.Segundo tais autores, somente 7% dos artigos escritos individualmente utiliza-ram regresses estatsticas, em contraste com 23% dos escritos por mais de umautor.

    Baseados nessa literatura, levantamos a hiptese de que trabalhos realizadospormais de um pesquisador apresentam umatendncia maior a adotar uma abor-dagem quantitativa do que trabalhos realizados por uma nica pessoa. A partirdonosso banco de dados, em uma anlise preliminar, tal hiptese confirmada: nosartigos em parceria, 36% usavam estatstica bsica e 12,3%, estatstica avanada;nos artigos elaborados individualmente, os nmeros foram bem menores: 17% e4%, respectivamente.

    Gnero dos autores

    Avarivelgneronotemsidousadaemestudossobreaopometodolgicados autores. No entanto, no faltam justificativas para inclu-la. Existe uma lite-ratura que sugere que os homens possuem maior habilidade para tratar deassuntos ligados matemtica ou s chamadashard sciences. H quem diga queas mulheres tendem a sentir mais ansiedade matemtica (Tapia e Marsh II,2004), aqui entendida como uma maior averso ou insegurana para trabalharcom nmeros e equaes. H evidncias tambm de que os homens costumamter melhor performance do que as mulheres nessa rea do conhecimento(Feingold, 1988).

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    A diferena aparece ainda no que diz respeito escolha acadmica dos pes-quisadores: menor na engenharia, na fsica e na economia (ao redor de 17%, 26% e29%, respectivamente) e maior na sociologia (53%) (DiFuccia, Pelton e Sica, 2007;Xie e Shauman, 2003). Na literatura feminista, frequentemente engajada e postaa servio de sua causa, h quem considere que os mtodos quantitativos so umaferramenta masculina, essencial para estabelecer a marginalizao social da mu-lher (Oakley, 1999).

    A nossa hiptese que o fato de ser homem aumenta a probabilidade de usode um referencial quantitativo. Em um exame preliminar, a estatstica descritiva aconfirma: em 80% dos artigos que usam estatstica avanada, pelo menos um dosautores do sexo masculino; naqueles que apresentam estatstica bsica, 71% so

    homens. Por outro lado,nos artigos queno apresentaram nenhum tipo de quanti-ficao, 50% dos autores eram homens, proporo razoavelmente inferior de ho-mens no banco de dados, que de 62%.

    Formao acadmica dos autores

    Nos Estados Unidos, a formao acadmica no costuma ser usada para expli-car a diferena na opo metodolgica dos autores. No Brasil, ela parece ser im-portante; segundo Fbio Reis (1993), a sociologia e a cincia poltica voltaram-semais para uma abordagem quantitativa, em contraste com a antropologia e ahistria, que deram nfase a trabalhos qualitativos e descritivos. Na mesma li-nha, Soares (2005) sugeriu a existncia de uma certa gradao no que diz respei-to ao uso de mtodos quantitativos: em primeiro lugar, estaria a cincia polticacomo a disciplina mais quantitativa; em seguida, a sociologia e a antro-pologia, nessa ordem. Segundo o autor, a diferena nas preferncias metodol-gicas estaria na raiz do afastamento e do repdio entre a cincia poltica e aantropologia.

    Nossos dados permitem obter uma noo mais precisa dessa situao, con-formeseobservanoquadro4.4 Deixamosdeapresentarasreascujonmerodeca-sos era muito pequeno (abaixo de 80 observaes).

    Os resultados confirmam as sugestes dos autores citados. De fato, a cinciapolticaapresentou-sebemmaisquantitativadoqueasoutrasdisciplinas(43,8%dos artigos). Contrasta fortemente com o que aconteceu na sociologia (20,7%), nahistria (15,7%) e na antropologia (13,2%). No que se refere estatstica avanada,os cientistas polticos a usaram em 14% dos artigos. Uma proporo pequena, mas

    bem acima de todas as outras.

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    SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRTICAS, n. 79, 2015, pp. 65-83. DOI:10.7458/SPP2015794725

    4 Estamos considerandoapenas a formao principal do primeiro autor. Essa foidefinida a partirda concluso dos seguintes cursos, nessa ordem: doutorado (ainda que o indivduo tenha for-mao de ps-doutorado), mestrado (ainda que esteja cursando o doutorado) e graduao. Por-tanto, quando o pesquisador concluiu o seu doutorado, esse passa a ser a sua rea principal.

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    Instituio de origem dos autores

    Ainstituiodeorigemtambmparecefazerdiferenanasescolhasmetodolgicasdos autores. Nos Estados Unidos, um pouco menos do que aqui, haja vista a maiorfacilidadedeacessoformaoquantitativa.NoBrasil,Soares(2005)ressaltouquea formao no exterior e no IUPERJ 5 eram fatores importantes para explicar a op-opelosmtodosquantitativos,emevidentecontrastecomaUniversidadedeSoPaulo (USP), que, at ento, contava com notria debilidade nessa rea. De fato,segundo Fbio Reis (1993), a disciplina de mtodos no era considerada funda-mental, no era obrigatria e nunca havia sido ofertada regularmente naquela ins-tituio.Noporacasoqueapenasduasdas145tesesldefendidasnoperodode1990 a 1997 tinham carter quantitativo (Vianna et al., 1998). O efeito disso sobre ascincias sociais no pas no pequeno, no s pela prpria produo acadmicados pesquisadores da USP,6 mas tambm pelo seu efeito multiplicador.

    Ahistriaajudaaexplicaressasituao.Aindaqueousodemtodosetcnicasquantitativas seja pequeno, o pouco que existe deveu-se, em grande parte, polticadeincentivo construo institucionalde programasde mestradoe dedoutoradonopas. Ela foi realizada por meio da formao de estudantes brasileiros nos Estados

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    SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRTICAS, n. 79, 2015, pp. 65-83. DOI:10.7458/SPP2015794725

    rea principal Estatstica

    avanada (%)Estatsticabsica (%)

    No usanmeros (%)

    N

    Cincia poltica 13,9 29,9 56,2 1265Economia 3,6 39,1 57,2 138

    Cincias sociais 3,8 21,7 74,5 572Sociologia 3,6 17,1 79,2 1627

    Histria 1,0 14,7 84,3 191Antropologia 0,3 12,9 86,8 380

    Filosofia 0,6 3,0 96,4 168

    Fonte: dados coletados pelo autor.

    Quadro 4 Uso de dados quantitativos erea principal de formao do primeiro autor

    5 O IUPERJ (Instituto Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro) foi criado em 1969 como umcurso de ps-graduao, tornando-se um dos principais centros de referncia das cincias so-ciais no pas. Em meados de 2010, aps uma crise institucional profunda, a maioria dos seus 20professores migrou para a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), onde criou o IESP

    (Instituto de Estudos Sociais e Polticos).Esse ltimo manteve as caractersticas do instituto ori-ginal e absorveu seus alunos de mestrado e doutorado. Apesar de a Universidade CndidoMendes manter a denominao, o seu atual IUPERJ no guarda semelhana com o antecessor,especialmente no que diz respeito excelncia.

    6 De acordo com Viannaet al.(1998), aquela universidade foi responsvel por nada menos que40%dastesesdedoutoradoemcinciassociaisdefendidasnopas.Amedidadonmerodearti -gos tambm nos d uma ideia aproximada dessa preponderncia. Segundo Nicolau e Oliveira(2010), no perodo de 1997 a 2009, pesquisadores da USP e do IUPERJ foram responsveis por19,5% e 17,3%, respectivamente, dos artigos publicados nas duas principais revistasde cinciassociaisdopas: Dados e RBCS.Nonossobancodedados,queenvolveumrolbemmaisdiversifi-cado de revistas, os nmeros so de 25,8 e 7,7%.

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    Unidos no final dos anos 60, com apoio inicial da Fundao Ford. A partir da matrizintelectual norte-americana das cincias sociais, empiricamente orientada, impulsi-onaramacriaodaps-graduaonaUFMGenoIUPERJ,comorientaometodo-lgica quantitativa, analtica, de carter rigoroso e sistemtico, rompendo com atradio ensastica e humanista das cincias sociais europeia (Veiga, 2008). De acor-do com Elisa Reis (1993), tratava-se de consolidar um novo ethos, em que a pesquisametdicaesistemtica,defortevisempiricista,tornou-serefernciaparaocientistasocialbrasileiro. Fbio Reis (1993) tambm ressaltou a diferenacomrelao ao gru-po da USP, que priorizava conceitos, em detrimento do trabalho sistemtico commaterial emprico. No quadro 5, podemos ter uma ideia mais precisa da situaoem anos recentes.

    OsdadosmostramqueosautorescomformaonaUFPRenaUFPEforamosmais quantitativistas no Brasil. Porm, em funo do pequeno nmero de casos,

    no temos muita segurana em relao a esses resultados. Chamamos a atenoparaascaselassombreadas.Elassugeremque,defato,aformaodosautoresbra-sileiros no IUPERJ/IESP ou nos Estados Unidos (e tambm na UFMG) influencia-ram a escolha da opo metodolgica. Eles parecem ter usado uma abordagemmais quantitativa,vis-a-vis osformadosemoutrasinstituies.MostramtambmocontrastecomaUSPainstituioquemaisformacientistassociaisnopasqueparece terum enfoque bemmenos quantitativo, especialmente no que dizrespeitoao usode mtodos mais sofisticados. Cabe ressaltar,outrossim,a opo mais quan-titativa dos autores estrangeiros.

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    SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRTICAS, n. 79, 2015, pp. 65-83. DOI:10.7458/SPP2015794725

    Local da formao principal Estatstica

    AvanadaEstatstica

    bsicaNo usanmeros

    N

    UFPR 36,7 13,3 50,0 30

    UFPE 19,6 23,2 57,1 56

    UFMG 15,5 27,2 57,3 103

    EUA 14,6 27,5 57,9 280

    IUPERJ / IESP 14,2 29,4 56,3 309

    Alemanha 8,6 13,3 78,1 105

    UFSCAR 5,5 29,1 65,5 55

    UFRGS 4,5 27,0 68,5 200

    USP 3,6 20,8 75,5 1042

    Reino Unido 3,6 20,3 76,1 138

    UnB 3,3 23,3 73,3 120

    Outros pases 3,1 28,7 68,2 129Unicamp 2,9 22,8 74,3 549

    UFRJ 2,6 12,9 84,5 194

    PUC 2,3 28,1 69,5 128

    UFBA 2,0 28,6 69,4 49

    Frana 1,3 17,7 81,0 226Outras instituies no pas 1,0 17,9 81,1 201UFSC 0,0 8,7 91,3 46

    UNESP 0,0 11,7 88,3 77

    Estrangeiros 15,0 34,6 50,4 393

    Fonte: dados coletados pelo autor.

    Quadro 5 Uso de dados quantitativos nos artigos publicados nas revistas de cincias sociais no Brasil (1997a 2012), por instituio de origem do autor

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    O modelo multivariado

    Os dados apresentados explicam muito da situao em que se encontra o uso demtodos e tcnicas quantitativas no pas. Uma anlise mais precisa pode ser feitapor meio de um modelo mais complexo, que considere o efeito de todas as vari-veis queesto sendo estudadas. Para termossegurana a respeito do efeito de cadauma delas, preciso que sejam simultaneamente controladas. Nesse sentido, esta-mos utilizando um modelo de regresso logstica ordinal, que a forma adequadaparasetratarumavariveldependentediscreta,commaisdeduascategoriasorde-nveis entre si, ainda que a distncia entre elas no seja conhecida. No caso, esta-mos assumindo que essa gradao existe e est sendo expressa pelos seguintes

    valores:zero,quandooartigonousadadosnumricos;um,estatsticabsica;dois, estatstica avanada.Almdasvariveiselencadasnaseoanterior,inclumostambmumaoutra

    queinforma sobre a realizao do cursointensivo de metodologia quantitativa mi-nistrado pela Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas (Fafich) da UFMG.O mesmo oferecido regularmente para professores, pesquisadores e estudantesde ps-graduao em cincias sociais, de junho a incio de agosto, e tem a duraode seis semanas. Ficou popularmente conhecido como MQ e tem funcionadoininterruptamente desde a sua criao,em 1999. Por ele passarammais de dois milalunos, apresentando-se como a mais importante iniciativa para melhorar a prec-ria situao do ensino de mtodos quantitativos no Brasil.7

    No quadro 6, apresentamos dois modelos diferentes. No primeiro, inclumosapenas os autores brasileiros, que representam 82% da nossa amostra. No segun-do,acrescentamos os estrangeiros. Como a grande maioria dessesltimos no temcurrculo Lattes, nem qualquer outro facilmente disponvel, deixamos de incluirsuas informaes sobre formao principal e instituio de origem.

    Os resultados acima confirmam quase todas as nossas hipteses, com alto n-vel de significncia estatstica. O fato de o artigoser elaboradopor apenasuma pes-soa reduz a chance de usar dados e tcnicas quantitativos em mais de 70%. 8Conforme indicavam estudos anteriores (Hunter e Leahey, 2008; Pontille, 2003;

    78 Pedro Neiva

    SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRTICAS, n. 79, 2015, pp. 65-83. DOI:10.7458/SPP2015794725

    7 Desde 2010, a USP, emconvniocoma IPSA, tambmtemoferecido umcursointensivoem m-todos e tcnicas para a cincia poltica. Infelizmente, no conseguimos obter informaes a res-peito dos seus alunos. Cabe registrar tambm a realizao do Programa Vilmar Faria paraformao em mtodos quantitativos e anlise de polticas pblicas, resultado de um convnio

    entre o Ministrio da Educao / Capes e a Universidade do Texas. Acreditamos que a ausnciadessas informaes no compromete a nossa anlise: o curso da USP/IPSA s comeou a funcio-narem2010;ocursoVilmarFariateveapenas23alunosnosseusseisanosdeexistncia(2001a 2006), a maioria com passagem anterior pelo MQ.

    8 Para o leitorpouco familiarizado comestatstica,explicamosa origemdesse nmero. Quandoarazo de chances (odds ratio)fica abaixo de uma unidade, significa que o impacto negativo.Para mensurar o seu tamanho, basta subtrair tal nmero do nmero um; no caso: 1 0,292 =0,708.Quandoessenmeroestiveracimadeumaunidade,bastasubtrairmosumeconsideraro que sobra como sendo o impacto sobre a varivel dependente. Por exemplo, o fato de o artigoestar publicado na plataforma Scielo aumenta a probabilidade de uso de mtodos e tcnicasquantitativas em 78,3%.

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    Soares, Souza e Moura, 2010), trabalhos quantitativos tendem maisa envolverpar-ceria dos que os no quantitativos.

    A varivel Scielo indica se a revista est inserida na biblioteca eletrnicaSciELO, que abrange uma coleoselecionada de peridicos cientficos brasileiros.O simples fato de pertencer a essa coleo j indica uma qualidade superior do pe-ridico. Portanto, o resultado positivo mostra que artigos com abordagem quanti-tativa tendem a ser publicados em revistas melhores. Elaboramos um modeloalternativo, onde substitumos tal varivel pela queinforma se a revista est classi-ficada no nvel A, o mais alto do sistema Qualis/Capes. A concluso caminha nomesmosentido.Deixamosdeincluiresseresultadonointuitodepouparoleitorde

    um excesso de informao.Noquedizrespeitoreadeformaodosautores,confirma-seahiptesede

    que a cincia poltica mais quantitativa do que a sociologia e a antropologia,nessa ordem. No primeiro caso, o resultado foi positivo e estatisticamente signifi-cativo. No segundo, no apresentou significncia estatstica. No terceiro, foi signi-ficativo, mas no sentido contrrio, isto , o fato de ter formao em antropologiaest negativamente associado elaborao de trabalhos quantitativos.

    Quanto instituio de origem, a hiptese parcialmente corroborada. Defato, conforme sugere a literatura, a formao na USP mostrou-se associada a um

    REVISITANDO O CALCANHAR DE AQUILES METODOLGICO DAS CINCIAS SOCIAIS NO BRASIL 79

    SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRTICAS, n. 79, 2015, pp. 65-83. DOI:10.7458/SPP2015794725

    Variveis independentes Odss ratio Odds ratio

    Autor individual 0,292

    (-14,92)

    *** 0,284

    (-16,73)

    ***

    Scielo 1,783

    (6,53)

    *** 1,644

    (6,34)

    ***

    Cientista poltico 2,335(8,24)

    *** 3,016

    (13,22)

    ***

    Socilogo 0,987(-0,13)

    0,994

    (-0,06)

    Antroplogo 0,639(-2,51)

    *** 0,612

    (-2,95)

    ***

    USP 0,749

    (-2,96)

    ***

    UFMG 0,763

    (-1,13)

    IUPERJ / IESP 1,135

    (0,88)

    EUA 1,635

    (3,46)

    ***

    Frana 0,700(-1,92)

    **

    Curso MQ 4,571

    (9,46)

    ***

    Gnero 1,081(0,94)

    0,997

    (-0,03)

    N 4.041 4.934

    Pseudo R2 0,1118 0,0861

    Notas: testez entre parnteses; *** p-valor < 0,01; ** p-valor < 0,05.

    Quadro 6 Determinantes do uso de quantificao nas cincias sociais no Brasil

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    menorusodeumaperspectivaquantitativa.Porm,noseconfirmamassugestesde que a UFMG e o IUPERJ/IESP valorizaram mais esse tipo de abordagem meto-dolgica. No primeiro caso, pode ser que o pequeno nmero de observaes pouco mais de2%dototal tenha infludonesseresultado. No segundo,uma pos-svel explicao talvez seja o fato de que, embora o IUPERJ/IESP tivesse uma cor-rente de professores quantitativistas, tambm existiam aqueles que no eram.Portanto, parece que a formao na instituio era mais plural, e no predominan-tementequantitativa.JofatodeterfeitodoutoradonosEstadosUnidospesaposi-tivamente no uso de dados quantitativos; na Frana, negativamente, conforme jera esperado.

    O fato de ter frequentado o curso de metodologia quantitativa (MQ) pesa

    substancialmente na escolha do mtodo: a varivel apresentou sinal positivo e altasignificnciaestatstica,comtestezde9,46.Nosabemosseofatodefazerocur-so capacita melhor o pesquisador para a produo de artigos cientficos. Para isso,seria necessria uma investigao especfica. Porm, ele parece estar cumprindo asuafuno de preparar alunos para o usode mtodos e tcnicas quantitativos. Pro-vavelmente, o MQ foi a principal interveno capaz de explicar o seu aumento ex-pressivo nos ltimos anos.

    Avarivelqueinformasobreognerodosautoresnoapresentousignificn-ciaestatstica.Ofatodeserhomemnoajudaaexplicaraopopormtodosquan-titativos, a despeito do que sugere a estatstica descritiva. Em outras palavras,homens e mulheres no tmse diferenciado na prefernciametodolgicanas cin-cias sociais brasileiras nos ltimos anos.

    guisa de concluso

    A disputa metodolgica entre cientistas sociais tem sido acirrada, tanto no Brasilquanto nos Estados Unidos. L, ela tem acontecido no mbito de uma mesma dis-ciplina; na cincia poltica, envolveu autores importantes no incio deste sculo.No Brasil, ela tem acontecido tambm entre pesquisadores de reas diferentes,especialmenteentrecientistaspolticos,socilogoseantroplogos.Nessaordem,uns tm se apresentado mais quantitativos do que os outros. Entre o primeiro e oterceiro grupos, a diferena abissal.

    No tivemos o objetivo de entrar nessa guerra metodolgica. No acredita-mos que exista uma dicotomia, ou um abismo, entre as abordagens quantitativa e

    qualitativa. Na nossa opinio, trabalhos de boa e de m qualidades esto presentesem qualquer contexto, independente da opo analtica ou da escolha metodolgicados autores. Antes de mais nada, nosso propsito foi mapear o estado da arte noBrasil. Foi possvel perceber que o nmero dos cientistas sociais que usam dadosquantitativos no pas muito pequeno, mormente no que diz respeito ao uso de tc-nicas sofisticadas. Nossosdados mostraram que, a despeito de o seuespaotercres-cido gradativamente nos ltimos 16 anos, esse grupo visivelmente minoritrio.

    Buscamos tambm apontar algumas possveis explicaes (ou associaes)para tal situao. Alm da rea de formao dos autores, identificamos outras

    80 Pedro Neiva

    SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRTICAS, n. 79, 2015, pp. 65-83. DOI:10.7458/SPP2015794725

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    variveis que podem ajudar nesse sentido. O perfil e o nvel da revista, o fato de oartigoter sido elaboradoem parceria e a participao dosautoresem cursos espec-ficos apresentaram um efeito positivo sobre as opes metodolgicas tomadas. Ofato de ter formao pela USP impactou negativamente. J o gnero do autor e ofato do mesmo ter formao pelo IUPERJ/IESP ou pela UFMG no apresentaramsignificncia estatstica, quando utilizados em um modelo multivariado.

    Apndice Revistas analisadas e respectivas classificaes, segundo o padro Qualis

    Peridico Cincia

    Poltica Sociologia Antropologia

    Instituioresponsvel

    Revista Brasileira de Cincias Sociais A1 A1 A1 Anpocs

    Dados - Revista de Cincias Sociais A1 A1 A2 IESP-UERJ

    Opinio Pblica A1 A2 B1 Unicamp

    Brazilian Political Science Review A2 B1 - ABCP

    Sociologias A2 A1 B1 UFRGS-Sociologia

    Lua Nova - Revista de Cultura e Pol tica A2 A1 B1 CEDEC

    Revista de Sociologia e Poltica A2 A2 B1 UFPR

    Caderno CRH B1 A1 A2 UFBA

    Novos Estudos CEBRAP B1 A1 A2 Cebrap

    Revista Sociedade e Estado B1 A1 B1 UnB-Sociologia

    Teoria & Sociedade B1 B3 B1 UFMG-FAFICH

    Tempo Social - Revista de Sociologia da USP B1 A1 B2 USP-Sociologia

    Revista Brasileira de Cincia Poltica B1 B1 B2 UnB

    Perspectivas - Revista de Cincias Sociais B1 B2 B4 UNESP

    Poltica e Sociedade - Revista de Sociologia Pol tica B2 B2 - UFSC

    Revista Debates B2 B3 - UFRGS

    Revista Poltica Hoje B2 B2 B3 UFPE

    Teoria e Pesquisa: Revista de Cincia Poltica B2 B2 B4 UFSCar

    Civitas - Revista de Cincias Sociais B3 A2 B3 PUC-RS

    Estudos de Sociologia B3 B1 B3 UNESP

    Revista Ps Cincias Sociais B3 B1 B4 Anpocs

    Revista de Cincias Sociais B4 B1 B2 UFC

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    Pedro Neiva. Docente na Universidade de Braslia. Endereo: SQS 315 bloco G apto. 604 Braslia, DF, Brasil.E-mail: [email protected]

    Agradeo a Antnio Augusto Prates a seo dos dados sobre os participantes nocurso de metodologia quantitativa (MQ) da UFMG.

    Receco: 22 de agosto de 2014 Avaliao: 20 de abril de 2015

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