Mundo Unifor 2013 Psicologia da Libertação 24 de agosto pronto.doc

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XIX Encontro de Iniciação à Pesquisa Universidade de Fortaleza 21 à 25 de Outubro de 2013 Psicologia da Libertação e suas contribuições para a atuação do psicólogo Poliana Silveira Fonteles¹* (IC), Marlla Rúbya Ferreira Paiva²(IC), Elívia Camurça Cidade³ (PQ). 1. Faculdade Luciano Feijão. Curso de Psicologia. 2. Faculdade Luciano Feijão. Curso de Psicologia 3. Faculdade Luciano Feijão/Docente. [email protected] Palavras-chave: Psicologia da Libertação. Martín-Baró. Psicologia Social Crítica. Resumo O presente trabalho se refere à parte de um Projeto de Pesquisa que vem sendo desenvolvido junto à Coordenadoria de Iniciação Científica de uma instituição de ensino superior cearense. Possui como objetivo geral apresentar as contribuições da Psicologia da Libertação, enquanto referencial da Psicologia Social Crítica, para a atuação do psicólogo. A Psicologia da Libertação, desenvolvida tendo como fundamento as idéias de Ignácio Martín-Baró, apresenta-se como saber psicológico contextualizado e histórico, comprometido com as classes marginalizadas, capaz de formular conhecimentos ampliados sobre as causas de perpetuação do sofrimento psíquico. A revisão crítica de literatura realizada permitiu a consideração de que, segundo o referencial teórico considerado, o psicólogo tem como horizonte do seu quefazer a conscientização. O intuito é ajudar as pessoas a superarem a alienação pessoal e social a que estão sujeitos, transformando as situações tirânicas de seu contexto. Dentre as tarefas que competem ao psicólogo estão: o resgate da memória histórica dos povos; a desideologização do senso comum e da experiência cotidiana; a potencialização das virtudes dos povos latino- americanos; a organização social das maiorias populares; a exploração de novas formas de consciência. Concluí-se que é relevante a inserção das temáticas discutidas por Martín-Baró no cenário de formação teórico-reflexiva do acadêmico de psicologia, posto que anunciam a possibilidade de desenvolvimento de interfaces entre o conhecimento teórico-técnico e caminhos de intervenção coerentes com a realidade das maiorias populares. Introdução De acordo com Martin-Baró (1997; 1998), a lógica da psicologia contemporânea é atender as necessidades de crescimento, passando dos esforços centrados nas necessidades básicas, nesse sentido, a psicologia se configura a ISSN 18088449 1

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XIX Encontro de Iniciao PesquisaUniversidade de Fortaleza21 25 de Outubro de 2013

Psicologia da Libertao e suas contribuies para a atuao do psiclogoPoliana Silveira Fonteles* (IC), Marlla Rbya Ferreira Paiva(IC), Elvia Camura Cidade (PQ).1. Faculdade Luciano Feijo. Curso de Psicologia.

2. Faculdade Luciano Feijo. Curso de Psicologia

3. Faculdade Luciano Feijo/[email protected]: Psicologia da Libertao. Martn-Bar. Psicologia Social Crtica. Resumo

O presente trabalho se refere parte de um Projeto de Pesquisa que vem sendo desenvolvido junto Coordenadoria de Iniciao Cientfica de uma instituio de ensino superior cearense. Possui como objetivo geral apresentar as contribuies da Psicologia da Libertao, enquanto referencial da Psicologia Social Crtica, para a atuao do psiclogo. A Psicologia da Libertao, desenvolvida tendo como fundamento as idias de Igncio Martn-Bar, apresenta-se como saber psicolgico contextualizado e histrico, comprometido com as classes marginalizadas, capaz de formular conhecimentos ampliados sobre as causas de perpetuao do sofrimento psquico. A reviso crtica de literatura realizada permitiu a considerao de que, segundo o referencial terico considerado, o psiclogo tem como horizonte do seu quefazer a conscientizao. O intuito ajudar as pessoas a superarem a alienao pessoal e social a que esto sujeitos, transformando as situaes tirnicas de seu contexto. Dentre as tarefas que competem ao psiclogo esto: o resgate da memria histrica dos povos; a desideologizao do senso comum e da experincia cotidiana; a potencializao das virtudes dos povos latino-americanos; a organizao social das maiorias populares; a explorao de novas formas de conscincia. Conclu-se que relevante a insero das temticas discutidas por Martn-Bar no cenrio de formao terico-reflexiva do acadmico de psicologia, posto que anunciam a possibilidade de desenvolvimento de interfaces entre o conhecimento terico-tcnico e caminhos de interveno coerentes com a realidade das maiorias populares.Introduo

De acordo com Martin-Bar (1997; 1998), a lgica da psicologia contempornea atender as necessidades de crescimento, passando dos esforos centrados nas necessidades bsicas, nesse sentido, a psicologia se configura a atender as exigncias de uma minoria, cujo nvel de desenvolvimento j alcanou para alm de suas necessidades materiais bsicas. O lamentvel nessa situao, que a psicologia latino-americana se limita a servir as minorias poderosas, ao mesmo tempo em que no consegue enfrentar por meio da psicologia os problemas da maior parte da populao. H na psicologia um carter fundamentalmente burgus (BOCK, 2003), j que estabelece e generaliza seu estudo s caractersticas psicolgicas desta determinada classe, estabelecendo parmetros de desenvolvimento que independem da origem social e cultural dos indivduos. Trata-se de psicologia uma branca, masculina, europeia e burguesa, pois oculta as desigualdades sociais ao aplicar o mesmo esquema terico para qualquer sujeito de qualquer realidade social. So formulaes que esto presas a elaboraes que tm como modelo crianas norte-americanas ou suas, alm de se ocuparem de padres de trabalho habitualmente utilizar com a elite, dotados de tcnicas e instrumentos intelectualizados, recursos de linguagem sofisticados, no servindo para a maioria da populao.

No se trata apenas de pensar sobre como fazer psicologia socialmente mais relevante, ou como chegar aos setores marginalizados, mas ao pensamento de Martin-Bar (1997, 1998) a questo se somos capazes, com nossa bagagem e conhecimento atual, adentrar nessa realidade o qual no fomos preparados, compreendendo seus problemas e dando alguma contribuio significativa para a sua resoluo.Os caminhos de elaborao de uma psicologia social tendo como referncia a realidade de vida do povo latino-americano contriburam para os fundamentas de construo da Psicologia Social da Libertao ou Psicologia da Libertao. Trata-se de um novo redimensionamento terico, prtico e tico formulado como alternativa psicologia social dita tradicional que, fundamentando-se em enfoques cognitivistas, individualistas e a - histricos, pouco fornecia argumentos para a compreenso das situaes de vida das maiorias populares. Na Amrica Latina, foi o movimento iniciado pela Teologia da Libertao, sobretudo aps a reunio em 1979 do Conselho Episcopal Lationoamericano (CELAM) em Puebla (Mxico), que estabeleceu como diretrizes para atuao da Igreja Catlica uma maior aproximao com os elementos da concretude da realidade do povo e a orientao para a prtica ao invs de ocupar-se com elaboraes tericas e prticas interpretativas (OSRIO, 2009). A afirmao de sua defesa dos pobres e da busca pela reivindicao de justia para todos defendidos, favoreceu para que a Teologia da Libertao contribusse para um novo desenvolvimento terico e prtico na Amrica Latina, que congregam formulaes nos mbitos da psicologia, da pedagogia, da sociologia, da tica e da filosofia. Tendo como grande expoente o padre jesuta Igncio Martn-Bar (1942-1989), a Psicologia da Libertao enfatiza, assim como defendido pela Teologia da Libertao, a opo preferencial por trabalhar com os sujeitos advindos da pobreza, o que incitou um longo debate sobre o compromisso social da Psicologia, que deveria se ocupar da observao das causas dos fenmenos que trazem sofrimento para as maiorias populares (WOLFF, 2009).

Segundo Montero (2009), a psicologia, ao invs de ser um discurso vazio, que reproduz termos na moda, deve se constituir como uma teoria que cria uma prtica transformadora e, com isso, por meio da ao cria uma teoria reflexiva capaz de interferir substancialmente nas problemticas concretas. , contudo, necessrio resgatar que a noo de libertao, que se distingue da noo de liberdade por trazer em seu bojo um anseio de transformao social e no apenas de aluso ao bem-estar individual, deve ser concebida tendo como contraponto a opresso. da perpetuao de prticas de opresso que resultam diferentes formas de violncia e sofrimento individual e coletivo (GUZZO, 2010). A opresso encontra fundamentos de permanncia no cotidiano dos indivduos medida que ainda so contabilizadas pequenas minorias ricas e imensas maiorias miserveis. Nesse sentido, a Psicologia da Libertao anuncia caminhos de uma psicologia social contextualizada, histrica e sociolgica, comprometida com as classes marginalizadas, que d preferncia aos enfoques baseados no conflito social e no pensamento materialista histrico e dialtico para compreenso dos fenmenos (LVARO, GARRIDO, 2006).

Em base, a Psicologia da Libertao nasce como caminho contrrio ao horror destrutivo do capitalismo, que de acordo com Tuleski (2004), foi propagado em um precipcio de contradies, visto que por trs da apologia ao progresso, liberdade e aos avanos cientficos. H visveis atrocidades e disparidades embutidas e naturalizadas no discurso desse sistema. Assim os pases do terceiro mundo, tornam-se o centro da explorao capitalista e da produo de riquezas mundial, fomentando o crescimento da desigualdade. Nesse sentido, a Psicologia da Libertao anuncia caminhos de uma psicologia social contextualizada, histrica e sociolgica, comprometida com as classes marginalizadas, que d preferncia aos enfoques baseados no conflito social e no pensamento materialista histrico e dialtico para compreenso dos fenmenos (LVARO, GARRIDO, 2006).

A relevncia desse pensamento, advindo de uma lgica de libertao dos povos oprimidos, de grande valia para a interveno do psiclogo na atualidade, visto que nossa formao ainda pautada em teorias de carter fundamentalmente burgus. Segundo Martin-Bar (1997, 1998, 2009), precisamos nos atentar para os problemas das maiorias populares, para as esperanas e sonhos desses vastos setores da populao latino-americana que continuam de debatendo com as exigncias prosaicas de satisfao de suas necessidades materiais mais bsicas. vlido informar que o trabalho aqui apresentado, que tem como objetivo apresentar as contribuies da Psicologia da Libertao, enquanto referencial da Psicologia Social Crtica, para a atuao do psiclogo, uma frao inicial do projeto maior de pesquisa financiado pela Coordenadoria de Iniciao Cientfica de uma instituio de ensino superior cearense.Metodologia

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizada a pesquisa bibliogrfica, que se configura como estratgia de investigao que permite a cobertura de uma ampla gama de fenmenos disponibilizados em livros e artigos cientficos (Gil, 1999; Rodrigues, 2007). Ao se constituir como fundamentao metodolgica de uma pesquisa independente, a anlise bibliogrfica pode ser definida como uma reviso crtica de literatura, que ancorada em critrios metodolgicos e crticos, permite a considerao da validade dos trabalhos observados em funo dos intuitos da pesquisa (AMARAL, 2007) e a conseqente recuperao do conhecimento cientfico que foi, at ento, acumulado sobre o tema. Resultados e Discusso

De acordo com o material analisado, a formulao de um quefazer relativo ao desenvolvimento de uma psicologia social crtica e com fundamentos na libertao deve estar direcionada implementao de algumas tarefas que so urgentes para a psicologia (1998, 2009). So elas: o resgate da memria histrica dos povos; a desideologizao do senso comum e da experincia cotidiana; a potencializao das virtudes dos povos latino-americanos; a organizao social das maiorias populares; e a explorao de novas formas de conscincia.

Segundo Martn-Bar (1998, 2009), o resgate da memria histrica dos povos um movimento que conduz para superao do presentismo, para a recuperao das razes histricas e para a desnaturalizao dos fenmenos. Significa a reconstruo dos fatos passados que corroboraram nos fatos presentes, o vislumbramento das causas reais das condies atuais de vida, fugindo de explicaes divinas ou da concepo de algo que eterno e imutvel. Esta tarefa sugere a superao do presentismo, vendo que este construdo e passvel de modificao. A realidade passa a ser concebida como algo que no dado, mas sim como contedo no acabado, no natural, nem fruto de algo sobrenatural. Ao contrrio, est composta por fenmenos palpveis e passiveis de transformaes, por meio da ao humana.

Outra tarefa para esse novo pensar psicologia como postulado por Martn-Bar (1997, 1998, 2009) a desideologizao do senso comum e da experincia cotidiana. Refere-se a quebra dos paradigmas instalados imaginariamente que impedem novas formas de pensar a realidade pois o conhecimento do senso comum pauta-se em uma concepo no concreta. Trata-se de uma tarefa que se efetiva mediante o resgatar das experincias cotidianas originais dos grupos e das pessoas para assim, de modo a devolv-las como dado objetivo considerado a partir da realidade concreta.

Segundo Martn-Bar (1997, 2009), papel da psicologia a potencializao das virtudes dos povos latino-americanos, reforando o que de mais valioso para o desenvolvimento desses povos e rompendo crenas preconceituosas e pejorativas. Significa a valorizao das virtudes reais em potencial e assim, proporcionar o desenvolvimento destas. Culmina-se em outra tarefa da psicologia apontada por Martn-Bar (1997) que seria a organizao social das maiorias populares, possibilitando novos olhares e formas de se institurem em funo de seus prprios interesses. Desta forma, espera-se superar o individualismo e alcanar um sentimento de comunidade; revelando a capacidade de alcanar objetivos comuns para a comunidade, fazendo que o individuo perceba-se membro passvel de poder e gloria por meio dessa representao social.

Como mais uma atitude a ser realizada pela psicologia tendo como referencial a psicologia da libertao, postulada por Martn-Bar (1997, 1998, 2009), seria a explorao de novas formas de conscincia. Possibilitar espaos para que se construa novas formas de pensamento, por meio de um trabalho conscientizador que aponte no somente para uma praxis transformadora do mundo material, mas, sobretudo, para uma praxis transformadora do mundo social. Fala-se em uma nova forma de relacionar-se com o social, uma vez que o prprio indivduo se percebe incluso nesse espao comunitrio. Quebra com a ideao do pensamento exclusivamente individual e busca-se sentimentos de pertena e comunho com a comunidade e o social a partir das concepes dos prprios indivduos. O que o autor aponta que o significado individual no se perde quando se trabalha com objetivos da comunidade pois os objetivos da comunidade vo surgir das implicaes individuais.Concluso

Para finalizar, importante sublinhar a importncia desse estudo, sobretudo para os estudantes de Psicologia, visto que as teorias psicologias, a metodologia utilizada e ainda as concepes tericas so pautadas no crescimento do sistema e de sua manuteno. Nesse sentido cabe ao psiclogo buscar subsdios para uma formao humana e integral, buscando compreender a histria de seu povo. De acordo com Martin-Bar (1996) no se trata de abandonar a psicologia; trata-se de colocar o saber psicolgico a servio da construo de uma sociedade em que o bem estar dos menos se faa sobre o mal estar dos mais, em que a realizao de alguns no requeira a negao dos outros, em que o interesse de poucos no exija a desumanizao de todos. Referncias

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Agradecimentos

Coordenadoria de Iniciao Cientfica, Ncleo de Pesquisa e Extenso (NPE), da Faculdade Luciano Feijo pelo apoio financeiro para o desenvolvimento desta pesquisa.ISSN 18088449