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Utopia O horizonte que nos convida a transformar os sonhos em realidade O cineasta que retratou a Utopia e a Barbárie fala sobre revoluções possíveis Movimento global de acampamentos em espaços públicos reacende os ânimos de luta anti-capitalista ENTREVISTA INCLUSIVA com Silvio Tendler VÍRUS PLANETÁRIO Educação transformadora Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça edição nº 12 novembro/ dezembro EDIÇÃO ESPECIAL TEMÁTICA Analisamos modelos pedagógicos por uma sociedade mais justa Ocupação das praças Edição Digital reduzida. Clique aqui - www.va.mu/ ONzF para comprar a edição completa (digital ou impressa) pela internet ou Clique aqui - www.va.mu/ ONzW para ver os pontos de venda

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12ª edição reduzida da revista Vírus Planetario

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UtopiaO horizonte que nos convida a transformar os sonhos

em realidade

O cineasta que retratou a Utopia e a Barbárie fala sobre revoluções

possíveis

Movimento global de acampamentos em espaços

públicos reacende os ânimos de luta anti-capitalista

ENTREVISTA INCLUSIVA com

Silvio Tendler

VÍRUS PLANETÁRIO

Educação transformadora

Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça

edição nº 12 novembro/dezembro

EDIÇÃO ESPECIAL TEMÁTICA

Analisamos modelos pedagógicos por uma sociedade mais justa

Ocupação das praças

Edição Digital reduzida. Clique aqui - www.va.mu/

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A Vírus Planetário agradece a todos e todas que apoiaram a publicação da nossa 12ª edição. Através do Catarse, plataforma de financiamento colaborativo, essa utopia coletiva se tornou ainda mais possível.

Aos que não só contribuíram financeiramente, mas também ajudaram a divulgar nosso trabalho e essa empreitada intensa que foi o Crowdfunding, o nosso sincero MUITO OBRIGADO!

Foram mais de 100 doadores! Alcançamos o valor necessário para a produção da revista impressa antes do prazo se esgotar, graças a vocês.

Que todos possam correr atrás dos seus horizontes e sonhos. E que estes sejam cada vez mais coletivos e colaborativos, para que possamos nos unir numa só força para transformar esse mundo já intolerável.

Segue a lista dos nossos parceiros:

João Paulo Mehl, Leandro Gomes Caetano, Thiago Petra, Thiago Machado Maia, Maria Angelica Gomes, Elis Tanajura, Maria Luiza Valois, Marisa Cristina Rodrigues, Edimilson Jr., Winston Sacramento, Marcos Adler Duarte, Silvana Sá, Antonio Oscar Vieira, Aline Carvalho, Otto Alvarenga Faber, Maria Clara Baldez, Matheus Machado Fonseca, Elizabeth Feldman, Roseane Dahis, Eduardo Albergaria, Nana Vasconcelos, Maria das Dores Mota, Rafaela Santos, Anelise Quintal, Leila Loureiro, Victor Américo, Vera Regina Loureiro, João da Cunha Bertolini, Leily de Oliveira, Caio Bibiano, Monalisa Feitosa, Raymundo de Almeida, Mariene Gomes Caetano, Rodrigo Rodriguez-Arnaiz,

MUITO OBRIGADO!

Maíra Lopes, Cláudia Piccinini, Alvaro M. Caldas, Fernando Teixeira, Silvia Maria Pedreira, Antonio Augusto Bastos, Maria Esther Lopes, Luiz de MeloArthur Belino, Laura M. Alves, Fred Israel, Gabriela C. Chaves, Ana Brasil Machado, Clarissa Nanchery, Marcio Sá, Lidiane Lobo, Filipe Freitas, Luiz Philyppe Motta, Bruno B. Corrêa, Mariana S. Avillez, Amanda Gurgel, Luisa C. Fonseca, Pedro Castanheiras, Laura B. Addor, Marina Schneider, Jorge Humberto Lopes, Angela Maria P. Buzanovsky, André Guimarães, Gustavo Mehl, Tania Pacheco, Raquel Júnia, Martha França, Carmen Silvia N. Dias, Téo Cordeiro,

Vania Loureiro, Wanderlice Pereira, Sandra Mara Ortegosa, Vaidyaratna Karla Mattos, Rosalia Duarte, João Tancredo, Juliana Maschietto, Beatriz Polivanov, Antonio Mauricio Gouvêa, Ana Carolina O. Gomes, Eloisa Amorim, Márcia Maria, Georgia M. C. Pereira, Claudia Paranhos, Maria Clara Senra, Paulo Baldez, Narayan Silva, Bruna Baldez, Frederico de Miranda, Emanuel Alencar, ZozuZ Cidadão Digital, Paula Bianchi, Diego T. G. do Nascimento, Ruth Feldman, Marcela A. Alves, Vasco Albuquerque, Felipe Salek, Maria Inês Gurjão, Evandro Rocha,José Roberto Costa,Vania Alves

*Os nomes estão em ordem de entrada da doação

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Sumário (da edição completa)EditorialPelo direito de sonhar (e lutar)Esta é uma edição especial. Homenageamos os que carregam

uma fagulha no peito e levam o horizonte nos olhos. A utopia do mundo melhor sobrevive nesta Terra de cínicos. Avessa aos sonhos, quando estes não são os de consumo, a sociedade ri-diculariza os idealistas. Sem argumentos tentam nos convencer do fim da história. E, pior, que nós somos os vencedores. Pois se você acredita na justiça social e no fim da desigualdade, se você acredita na livre circulação de idéias e do conhecimento, se você acredita na construção de uma sociedade mais integrada com o meio ambiente e numa outra concepção de desenvolvimento, te convidamos a incitar a revolução que existe dentro de você.

Esta é a primeira edição temática da Revista Vírus Planetário. O tema é a Utopia. Nas últimas onze edições, buscamos tratar das injustiças, dos problemas e das contradições desse nosso sis-tema em franca decadência. Chegou a hora de falar dos movimen-tos e das ideias que corroem o vício do conformismo de dentro para fora. Não se trata de ignorar as barbáries, mas de sublimar o desejo pela transformação.

A primavera árabe, o 15 de Maio espanhol, os protestos dos estudantes chilenos, os espasmos revoltados nas ruas londrinas, as greves gerais na Europa e as ocupações das praças em escala global ecoaram o grito dos indignados em 2011. O alvo é um mo-delo de sociedade que favorece o crescimento econômico de uns, em detrimento da vida de outros; que enxerga o enriquecimento como um fim. Não existe uma receita de bolo para curar as ma-zelas dos nossos tempos. Mas existem muitas ideias circulando – sufocadas, porém desejosas de vida. O que fizemos nesta edição foi apanhar algumas para cravá-las nas páginas a seguir.

Na Entrevista Inclusiva, o cineasta Silvio Tendler nos guia pela história das resistências, com reflexões sobre o documentário “Utopia e Barbárie”. Nos recantos da mata atlântica, visitamos o Instituto de Permacultura e Ecovilas que recodifica a palavra “co-nexão”. Apresentamos o fronte da batalha dos direitos autorais, no qual as novas licenças de compartilhamento e os movimentos pela cultura livre se chocam com a vertente econômica da pro-priedade intelectual. Modelos de educação alternativa defendem a formação cidadã em oposição à linha de montagem para o mer-cado. Um diário de bordo pela Venezuela, Colômbia e Equador faz pulsar a veia latino-americana.

Esta edição sobre a utopia foi publicada graças às doações feitas através do Catarse, uma plataforma de financiamento co-laborativo chamada crowdfunding. O reconhecimento de leitores e amigos nos permitem perseguir a utopia de uma comunicação mais democrática. Quisemos retribuir apresentando horizontes, utópicos e possíveis. Boa leitura e mãos à obra!

4 Adriana Facina_Exigir o impossível!

5 Sórdidos Detalhes

6 Movimentos Sociais_Nós somos os 99%

8 Bula Cultural_Entrevista Teatro Mágico

10 Bula Cultural_Direitos Autorais 2.0

12 Bula Cultural

13 Oswaldo Munteal_A utopia do desenvolvimento

14 América Latina_Um passo em direção ao horizonte

18 Sensacional Repórter Sensacionalista

20 A educação como alavanca das mudanças

24 O que pensa a grande imprensa?!_Dênis de Moraes

25 Passatempos Virais

26 A utopia está no horizonte?

28 Entrevista Inclusiva_Silvio Tendler

32 Meio ambiente_Ecovilas e permacultura

EQUIPE:

Coordenação editorial: Artur Romeu, Caio Amorim, Júlia Bertolini, Mariana Gomes e Seiji Nomura Redação: Daniel Israel, Fernanda Freire, Maira Moreira, Maria Luiza Baldez e Rodrigo Teixeira Diagramação: Caio Amorim e Mariana Gomes Ilustrações: Carlos Latuff e Felipe Salek

Colunistas: Adriana Facina, Oswaldo Munteal Colaborações: Dênis de MoraesConselho Editorial: Adriana Facina, Ana Enne, André Guimarães, Carlos Latuff, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, João Tancredo, Larissa Dahmer, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal,

Paulo Passarinho, Tarcisio Carvalho, e Virginia Fontes

twitter.com/virusplanetariofacebook.com/virusplanetarioEnvio de colaborações, críticas, dúvidas, sugestões e opiniões: [email protected] na Vírus: [email protected]

A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora

#Tiragem: 3000 exemplares#Impressão: RAMandula Gráfica:

www.virusplanetario.com.br

Esta é a edição digital reduzida

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Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

ENTREVISTATeatro Mágico

A Vírus Planetário cobriu o show de lançamento do novo álbum “Sociedade do Espetáculo” do grupo-banda-circo-poesia O Teatro Mágico, no dia 29 de outubro. Misturando diversos elementos artísticos em sua “celebração coletiva” na Fundição Progresso, no Centro do Rio, O Teatro Mágico tem sido uma das marcas de um novo movimento alheio à mídia comercial. Eles não vendem suas músicas, que estão disponíveis gratuitamente na internet, e não integram grandes gravadoras e distribuidoras.

Ao contrário, foi o público que ergueu o grupo nas redes sociais ao status de uma das mais relevantes bandas do cenário atual. O lançamento do novo álbum teve como marca 300 mil downloads pela internet. O clipe do primeiro single, “Amanha, será?”, já foi visto por mais de 450 mil pessoas na rede. Batemos um papo rápido com Fernando Anitelli, principal compositor e vocalista, 40 minutos antes de subirem ao palco da Fundição.

Por Artur Romeu e Rodrigo Teixeira

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Foto: Artur Romeu

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O começo de uma jornada pela América Latina

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Como contar uma viagem? Como transformar ou esquematizar pesso-as, histórias e vivências? Dentro de cada país é possível viver vários ou-tros. Assim esse texto parece uma missão complicada, que só pode ser entendido partindo dessa complexida-de. Nos sete meses iniciais de viagem passamos pela Revolução Bolivariana da Venezuela, cruzamos a Sociedade do Medo e do Controle na Colômbia e vibramos com a Sociedade Indíge-na em luta por sua biodiversidade no Equador. De peito aberto nos jogamos em uma viagem que para muitos pare-cia uma loucura. Não queríamos rotas, nem mapas traçados. Saímos a nos movimentar, buscando movimento e gerando movimentos. Cada passo,

cada história, cada país foi passando pela gente. Trazendo sorrisos, paisa-gens e sonhos que vão sendo levados.

Ainda no Rio essa era a nossa uto-pia, que diante de tantas expectativas, parecia difícil de realizar. Agora a utopia é o nosso dia a dia, e por aqui vamos alimentando outra: ver nossa America Latina unida, pelos povos, pela preser-vação do meio ambiente, pela diver-sidade de nossas culturas e cultivos, traços e línguas, e que nada nem nin-guém possa reter o poder dessa his-tória, pois acreditamos que chegou a sua hora...

Já caminhamos um passo em dire-ção ao horizonte.

Caminhando um passo em direção ao horizonte

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Por Luna Arouca e Marina Praça

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Modelos pedagógicos para uma nova sociedade

A educação como alavanca

das mudanças

educação

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grande desigualdade de antemão e re-afirma não só os lugares sociais como o suposto ‘merecimento’ de quem os ocupa.

A escola também enfrenta o pro-

blema do direcionamento para exames como o vestibular. “Para o tradiciona-lismo pedagógico, a compreensão dos conhecimentos apresentados aos es-tudantes continua sendo algo menos valorizado. É muito mais importante, em tal perspectiva, que os estudantes sejam capazes de obter resultados po-sitivos em exames e concursos, mes-mo mediante formas de memorização”, avaliam os professores da Faculdade de Educação da UFRJ, Máximo Cam-pos e Suzana Saraiva. Há aqueles que, como filósofo Ivan Illich, se manifestam contra a própria ideia da instituição, afirmando a necessidade de outro mo-delo, de várias redes educativas não-institucionalizadas, para tornar possível a educação universal.

Mas mesmo com as severas críti-cas, são poucos os que não reconhe-cem a escola como fundamental hoje. “Hoje, poderíamos dizer que não ‘pode-mos escapar à escola’, pois ela é uma experiência cada vez mais universal na

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Julgando pelo que se ouve nas ruas, não há dúvidas da importância atribuí-da à educação. “Eita, povinho mal edu-cado”, diz a madame torcendo o nariz, enquanto o político na TV discursa: “a única forma de mudar o Brasil é uma revolução na educação”; numa casa apertada, o pai descamisado diz para

seus filhos pequenos, “vou dar a vocês a chance que eu nunca tive, de estudar para ser alguém na vida”. Chega a ser irônico como algo que é visto de forma tão central em nossas vidas é sempre tachado como defasado — poucos são os que não reclamam de suas escolas ou universidades, mesmo quando bem colocadas nos rankings educacionais. Pesquisas como as do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2008, apesar de variações, costumam apontar a educação como o maior problema na percepção dos brasileiros.

Como instituição principal desse processo, a escola sofre muitas críti-cas. Alguns, como o sociólogo Pierre Bourdieu, apontam para a reafirmação de uma forma de se pensar e viver. En-tre outros exemplos de sua obra, tem destaque o das avaliações em torno da língua oficial — que se aproxima muito mais da usada pela elite do que da falada pelo povo, o que cria uma

Por Maria Luiza Baldez, Rodrigo Teixeira e Seiji Nomura

vida dos indivíduos. Por sua vez, a es-querda e os movimentos sociais com base social nas classes trabalhadoras visualizaram na educação escolar um importante espaço de luta”, afirmam Máximo Campos e Suzana Saraiva.

O professor da Escola de Comuni-cação da UFRJ, Muniz Sodré, valoriza o anacronismo do espaço da escola. “Mesmo com tantos defeitos, a es-cola ainda é um rito, um reduto em relação ao capitalismo e às exigências da sociedade. É nela que podemos nos dedicar a fazer e a estudar coisas sem depender de utilidade imediata, onde podemos misturar o útil e o inútil em um ócio criativo, estudar literaturas e humanidades, por exemplo. Scholé, de onde vem a palavra escola, significa ócio em grego”, afirma Sodré, que se prepara para lançar o livro “Reinventan-do a educação: diversidade, descoloni-zação e redes”, pela editora Vozes.

Ao questionarem o tradicionalismo pedagógico e a sua função social, al-guns educadores se propuseram a for-mular novos modelos de escolas. Eles apresentam diferenças nos métodos de ensino, buscando outras formas de valorização da aprendizagem, a fim de superar antigos problemas. Este foi o caso de Paulo Freire, Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, e, da mesma forma, das iniciativas do MST.

“A experiência de Paulo Freire foi singular na história da educação. Vejo-o através de dois vetores. Um que é a crítica à educação bancária, que tenta depositar os conteúdos do professor nos alunos, e o outro que é seu traba-lho como alfabetizador, que partia

“Educadores se propuseram a formular novos modelos de escolas, buscando outras formas

de valorização da aprendizagem.”

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A utopia está no horizonte?

Por Maira Moreira e Taiguara Moreira

“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por

mais que eu caminhe, jamais alcançarei”.Fernando Birri

Sintetizando a reflexão do cineas-ta argentino Fernando Birri, Eduardo Galeano diz que a utopia serve para caminhar. Desta forma, poderíamos pensá-la enquanto um princípio orien-tador, mais que um objetivo. Algo que esvaece na medida em que nos apro-ximamos, mas que dialeticamente vai ganhando concretude justamente nas caminhadas, trajetórias e investidas potencialmente utópicas na história. A utopia, deste modo, não seria apenas um não-lugar, como o imaginado por Thomas Morus, mas parte fundamen-tal da história humana. Algo que (re)di-

mensiona nossa experiência no mundo e nos co-move.

Não estamos, portanto, no campo das impossibilidades, mas no campo da história concreta, da ousadia, da capacidade de imaginar que a realidade pode ser diferente, que transformações podem ser realizadas, das resistências e rebeliões, da autogestão, das revo-luções, de um caminho emancipatório.

Buscamos ver as coisas diferentes, tentamos enxergar possibilidades de transformação das condições de de-sigualdade, de pobreza material e es-

piritual, das situações de opressão de gênero, étnicas, raciais e/ou religiosas. Esta esperança utópica nos torna de-sassossegados com a realidade, tal como ela se apresenta. A utopia se ar-ticula com uma perspectiva de justiça.

Considerar utopia nos parece tam-bém percebermo-nos em um caminho trilhado por muitos, uma tradição de investidas na história, algumas consu-madas, outras não, e tantas que não

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de Stálin pouco se importou, com sua crença inabalável no desenvolvimento das forças produtivas e do progresso inelutável. Entendemos que a contradi-ção só se acirra, de fato, com o desen-volvimento da incompatibilidade moral com o sistema, e isso muito bem per-ceberam os socialistas utópicos e uma ampla tradição de socialistas marxistas posteriores como György Lukács e Lu-cien Goldmann (“só é possível criticar o capitalismo se estivermos voltados para um futuro não alienado”).

Victor Hugo entende a utopia como “verdade matutina”, esta definição se coaduna com a perspectiva que busca-mos enunciar sobre a utopia, algo que está sempre a revelar o novo, não ilu-sões noturnas como faz o capitalismo. Esta definição de Victor Hugo parece-nos bastante apropriada para contra-por-se ao lugar estigmatizado que a utopia foi colocada pelo pensamento burocrático-pragmático do capitalismo - como algo ilusório, como fuga. Afir-mamos o contrário, ela é potencial-mente criadora, criativa, desbravadora de verdades, de tesouros escondidos.

O socialismo constitui, talvez, a utopia mais exemplar na história das sociedades modernas, entretanto, não o vislumbramos como projeto pré-fabricado, mas como construção permanente. Referindo-se a inúmeras tradições diferentes, sendo constituído através de memórias e tradições diver-sas, por uma pluralidade de culturas. O caminho nos parece a própria concre-tização, matutinamente, desta utopia em nossas investidas contra este sis-tema brutal.

Concordamos, então, com Victor Hugo quando este descreve utopia como “verdade matutina”, mas fazen-do um breve comentário: a utopia não é, a priori, verdade matutina, cabe a nós fazermos com que seja, verdadei-ramente, um constante amanhecer.

“ A utopia foi colocada pelo pensamento burocrático-pragmático

do capitalismo como algo ilusório. Mas ela é desbravadora de tesouros

escondidos.”

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“Na sociedade moderna, uma das mais significativas narrativas utópicas é o

socialismo.”

tencial reativo ao modelo capitalista e um potencial criativo no que se busca construir novas referências. Este último aspecto, que em muitos momentos perdeu espaço para a dimensão mais reativa da proposta socialista, nos inte-

ressa particularmente resgatar.

Resgatar a dimensão utópica é tam-bém romper com as fronteiras ergui-das pela modernidade ocidental entre presente, passado e futuro. É passar a perceber o tempo em sua intensidade. Um presente cheio de passado inaca-bado e cheio de possibilidade de futuro em aberto. Redenção e Messianismo se articulam intimamente com utopia, ou melhor, dão a sua materialidade es-piritual. Esta intensidade temporal, por sua vez, cria um maior entrelaçamento entre meios e fins: somos o projeto da-quilo que queremos. Se colocarmos a liberdade em nosso horizonte, não po-demos suprimi-la no presente. Não se pode realizar um projeto de liberdade para o amanhã a partir da sua supres-são no hoje.

Nessa perspectiva, encontramos a experiência fundamental dos socialis-tas utópicos. Embora tenham desen-volvido uma teoria crítica do modo de produção capitalista ingênua em certa medida, desenvolveram a outra perna do socialismo, que é a da capacidade antecipatória, potencialmente utópi-ca. Algo com que a União Soviética

chegaram a ser registradas. Não se tra-ta apenas da nossa ou da sua utopia, mas de muitas. Melhor dizendo, de um princípio compartilhado. De Francisco Julião a Martin Buber, de Rosa Luxem-burgo a Victor Jara, de Simone Weil a Camilo Torres, dos zapatistas ao Movi-mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra... Tantos e tantas. Deste modo, considerar a utopia no presente é tor-nar presente aqueles que se foram na esperança de um mundo justo, de rea-lização de transformações necessárias como, por exemplo, a Reforma Agrária no Brasil. Como diz o lema: “vivem mais os que morrem lutando”.

Pensar a utopia é pensar um nós, é pensar não apenas no futuro pos-sível-impossível, mas na redenção do passado e do presente, na superação de opressões históricas. Como a his-tória nos revela, a caminhada utópica

se incompatibiliza radicalmente com a ordem vigente em cada época, que está sempre preocupada com a manu-tenção do poder. A utopia, na verdade, dispensa o poder.

A utopia, como parte de nossa ex-periência existencial e social, está pre-sente na produção de visões aperfeiço-adas da realidade, projeções necessá-rias a todo grupo humano para orientar sua própria realidade em termos de justiça e em termos morais. Sendo as-sim, a utopia está ligada a perspectivas totalizantes, a escatologias, enfim, às chamadas grandes narrativas.

Estas projeções utópicas não po-dem ser pensadas apenas no campo do imaginário, dos simbolismos. Mas, sobretudo, como força motora de in-vestidas históricas. Ou seja, na dimen-são da práxis, afeto e consciência. Na sociedade moderna, uma das mais significativas narrativas utópicas é o socialismo. Ele não pode ser reduzi-do apenas a uma ética, como notou Michael Löwy, na medida em que se constitui também enquanto um refe-rencial crítico fundamental do sistema capitalista. Isto é, carrega em si um po-

Equador, 1982

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O mural da apertada baia de Silvio Tendler no Depar-tamento de Comunicação Social da PUC-Rio, onde dá aulas no curso de cinema, é composto pelos seguin-tes itens: uma foto de Che fumando um charuto; uma foto de Lula abraçado com Evo Morales, pregada por um imã de geladeira do filme de Fellini, “La Dolce Vita”; um recorte de jornal com uma crônica de Veríssimo, intitulada “O que diria Hegel”; e uma folha A4 com uma citação de Michel Löwy, “Que todo o desencanto seja ressuscitador”. Nascido em 1950, o cineasta é deten-tor das três maiores bilheterias de documentários do

ENTREVISTA INCLUSIVA:

Fotos: Mariana Gomes e Caio Amorim

Silvio TendlerPor Artur Romeu, Caio Amorim e Mariana Gomes

“ A geração de vocês é tão rebelde quanto a minha. As formas

de fazer isso é que são diferentes. Arrastem

com vocês os velhinhos por favor.”

“ Modéstia à parte, sou um utopista realizado”

cinema brasileiro, com “Os anos JK” (1980), “O mundo mágico dos trapalhões (1981)” e “Jango” (1984). Os filmes de Silvio, carioca amante dos botecos pés-sujo, resgatam momentos históricos guiados, na maioria das vezes, por personagens que marcaram o seu tempo com idéias revolucionárias. Instigados pelo filme “Utopia e barbárie”, lançado em 2009, buscamos o professor para saber mais sobre essa verdadeira aula da história das resistências. Conversamos sobre as revoluções que envelhecem e os novos paradigmas da geração Y que, para ele, está tentando se encontrar.

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“A senha é mandioca”. Cobertos por um guarda chuva atrofiado e guiados por uma lanterna tímida, Marcelo Bue-no nos indica uma trilha que leva ao escritório com ponto de internet sem fio. Estamos no alto de um morro da Serra do Mar, em Ubatuba, litoral-norte paulista. A Mata Atlântica, den-sa e úmida, se lambuzava na chuva enquanto acabávamos de passar as últimas horas da noite ouvindo as his-tórias de um dos maiores nomes da permacultura no país. Faz 12 anos que o arquiteto se comprometeu com a emissão zero de lixo. E, nesse meio tempo, fundou o Instituto de Perma-cultura e Ecovilas da Mata Atlântica, o Ipema. Referência nacional em bio-construções e planejamento sustentá-

vel, Marcelo embalou nossos sonhos com imagens de um mundo em que a tecnologia, o homem e a natureza podem viver em harmonia.

O café feito no fogão à lenha da cozinha coletiva ajudou a esquentar o corpo. Os quitutes vegetarianos tam-bém saíram do armário como mágica. Compota de berinjela, paçoca, geleia de amora e banana passa, tudo fruto de alguma parte dos 25 alqueires do Ipema. Destes, 20 são destinados para área de reserva ambiental. O Instituto não é ligado à rede pública de luz, uma opção dos fundadores, mas consegue iluminar as casas do espaço e oferecer conexão à internet para os moradores

e funcionários a partir da geração de energia de uma hidroturbina e painéis fotovoltaicos (energia solar).

Em um mundo cada vez mais co-nectado, no qual todos almejam in-ternet banda larga como uma política pública, Marcelo nos trouxe outro sig-nificado para a palavra conexão. Co-nexão também com a natureza, com nós mesmos e com todos os seres que compartilham este mesmo plane-ta. Essa visão é partilhada pela maioria das pessoas que trabalha para a cons-trução de novas alternativas para o mundo a partir de projetos de ecovilas.

Ecovilas e permaculturaUma conexão sem fio com o futuro

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meio ambiente

Por Artur Romeu e Júlia Bertolini

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Mais informações:

www.apn.org.brEm defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas.