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Professor Orientador
Professor Mestre Ivan Bismara
Professores de Projeto
Professor Mestre Carlos Perrone
Professora Mestra Maria Cecília Consolo
Professor Doutor Miguel de Frias
Professor Paulo Sampaio
Trabalho de conclusão da graduação como parte obrigatória para obtenção do grau de Bacharel em DESENHO INDUSTRIAL com
Habilitação em DESIGN GRÁFICO.
Um baralho popular brasileiro
Svetlana Bianca de Mesquita
Fundação Armando Alvares Penteado
Faculdade de Artes Plásticas
São Paulo, 2011
Agradecimentos
Agradeço à todos os professores que tive na minha vida, tanto os da es-
cola como os professores de vida, sem eles eu não teria o conhecimento que
tenho atualmente. Também agradeço aos meus amigos por estarem sempre
presentes, claro que também agradeço à meus amados pais. Agradeço ao
professor Ivan Bismara que me ajudou a definir o tema e me auxiliou du-
rante todo o projeto, assim como os professores de projeto. Agradeço à meus
amigos que entendenram que eu estava fazendo este projeto e me ajudaram
com o que podiam. À minha mãe, por me ajudar com a minha ida à Recife
aonde pude aprofundar mais meu conhecimento sobre o tema. Obrigada à
todos que me ajudaram, sem vocês eu não teria conseguido.
Sumário
Palavras Chave 11
Resumo 13
Abstract 14
Introdução 15
Justificativa 17
Objetivo 18
1. Antecedentes Históricos 9Da China à Europa 11
O baralho na Europa 17
As Cartas na Europa 25
O Tarot 31
2. Estrutura do Baralho 33O Baralho no Brasil 35
O Baralho da COPAG 39
3. A arte em cartas de jogar 43Designers gráficos e o baralho 47
4. A Origem do Tema 53A Xilogravura 55
A literatura de Cordel 61
O Movimento Armorial 67
A arte recifense 83
5. Conceito 91Painel Semântico 93
Palavra conceito 99
6. O Baralho Armorial 103Cores 105
Composição das cartas 113
Formato 133
Caixa 137
Carta Extra 141
Considerações Finais 143Referências Bibliográficas 145Referências Não-Bibliográficas 147Glossário 150
10
11
Design GráficoBaralho
XilogravuraMovimento Armorial
Cartas de Jogo
palavras chave
12
OnlineEscaneie o QR Code com
o aplicativo de seu celular para
acessar o site desse projeto.
13
O Baralho Armorial: Um baralho po-pular brasileiro documenta a cria-
ção do Baralho Armorial. A partir de uma pesquisa sobre a
história do baralho, a técnica e história da xilogravura, a li-
teratura de cordel e do próprio tema, o Movimento Armorial.
Resultado de uma pesquisa sobre a história do baralho, o por-
quê ele é desta maneira que estamos acostumados, como ele
se originou no oriente e veio para o ocidente. A temática do
baralho também levou a pesquisas sobre a cultura popular
nordestina e a técnica da xilogravura. Após as pesquisas foi
possivel concluir que o tema e o objeto tem uma relação em
sua origem, assim foi possivel criar o baralho com um conjun-
to de referencias visuais obtidas durante a pesquisa.
Resumo
14
Abstract
O Baralho Armorial: Um baralho po-pular brasileiro documents the cre-
ation of the Baralho Armorial. From a research of the history of
playing cards, and the history of woodcut technique, the string
literature and the theme itself, the Movimento Armorial. Re-
sults of a study of the history of playing cards, why it’s the way
we are accustomed, as it originated in the east and came to the
West. The theme of the deck also led to research on popular
northeastern culture and the technique of woodcut. After the
research was possible to conclude that the subject and object
has its in origin a connection, so it was possible to build the
deck with a set of visual references obtained during the search.
15
Introdução
O baralho, peça que está com o homem a mais de 700 anos, inventado na China, chegou
ao oriente médio como jogo e assim se
espalhou pela Europa.
O jogo e as adivinhações do futuro
eram as principais usabilidades do bara-
lho, e foi assim que ele se espalhou pelo
mundo, mas antes pela Europa. Com vá-
rias formas e estilos o baralho não tinha
um padrão, não era como nós o conhe-
cemos, com paus copas espadas e ouros,
mas praticamente cada país tinha seu
16
estilo de deck1 de baralho. Foi com o passar do tempo que o baralho de naipes que
conhecemos, foi inventado na França e se espalhou para o mundo.
Peça gráfica com vários formatos, naipes, desenhos e jogos, o baralho esta pre-
sente no mundo inteiro, em alguns países de um jeito e com formatos diferentes
em outros. Acredito que o baralho seja uma peça gráfica possível de ser explorada
de maneiras diferentes, como algumas pessoas já fizeram, mas que também não se
afaste muito do formato mais comum no mundo, o Francês.
Convido para conhecer um pouco da história do baralho; o motivo de ser como
nós o conhecemos, a razão pela qual não continuou com o formato de dominó que
tinha há muitos anos, como os árabes mostraram aos europeus o baralho e como os
europeus mostraram à Europa e ao resto do mundo o seu tipo de baralho.
Proponho uma nova experiência do baralho, um baralho novo, com inspiração
no Movimento Armorial, movimento brasileiro que visava incorporar todas as artes.
Juntas e com referências aos movimentos populares do nordeste e com a principal
forma de expressão dos artistas a xilogravura, expressa uma arte brasileira com in-
fluências medievais. Como o baralho também tem elementos heráldicos e a xilogra-
vura também tem sua história no passado, junto com a história do baralho, a união
desses temas será uma experiência única.
1 Uma coleção de cartas de jogar
17
Justificativa
Ausência de pouca impor-tância dada ao Movimento Armorial que foi um movimento conhe-
cido mundialmente que visa a valoriza-
ção da arte popular brasileira. Explorar
também a relação entre o baralho e o
Movimento Armorial já que ambos con-
têm elementos heráldicos. A história da
xilogravura e do baralho também estão
interligados desde sua criação na China,
e a xilogravura é um dos principais ele-
mentos da arte popular e do Movimento
Armorial.
18
Objetivo
Pretende-se atingir com o objeto deste projeto, um baralho, uma nova forma de interpre-
tação do movimento armorial com ele-
mentos que o relembram assim como a
história do baralho.
19
“O Sonho que eu tenho para o Movimento Armorial é que ele continue, mesmo que não
seja sob esse nome, que dizer, continue a haver artistas e escritores que se preocupem em fazer
de seu trabalho alguma coisa que expresse o nosso país e o nosso povo” - Ariano Suassuna
20
21
Antecedentes Históricos
As referências mais antigas de cartas
de jogar são chinesas. Assim como mui-
tas cartas, como por exemplo cartas de
dominó, baralhos de Mahjong e Hanafu-
da, não se sabe ao certo como foi intro-
duzido no ocidente o baralho que conhe-
cemos atualemte.
1
22
Acredita-se que o baralho foi introduzido na Europa na Idade Média, mas como
nesse período da história não eram feitos muitos registros, não se sabe ao certo
como o baralho apareceu na Europa e como foi evoluindo para os tipos de baralho
que temos conhecimento atualmente. Os poucos registros históricos existentes são
dos séculos XIV e XV.
Referências também sugerem que os árabes tenham levado as cartas de jogar à
Europa, assim como o xadrez, na metade do século XIV, e que as cartas evoluíram a
partir do padrão introduzido por eles. Essa teoria é apoiada pela semelhança entre as
cartas antigas árabes e os primeiros baralhos europeus.
Gravura inglesa por Israel Van Hecken
em SINGER, S. “Researches Into The
History Of Playing Cards” 1816
23
Da China à Europa
Assim como o papel, as referências mais
antigas do baralho são chinesas. No século
3, na dinastia Tsin, existem provas de um
jogo chamado de yü-p’u, traduzido por mui-
tos como um jogo de apostas. Em 750 d.C.,
o irmão da amante do imperador seria pego
jogando yü-p’u no castelo. E em 951, alguns
nobres se juntaram para jogar apostando
tapetes bordados e damascos. Quarenta
anos depois, o jogo foi proibido na China.
Cartas de Mahjong. “Todos os Jogos” 1978
24
Em textos da dinastia Tang (século VII),
existem registros das primeiras cartas de jogar.
As cartas na China são muito parecidas com
os dominós; são tiras de papel com a superfí-
cie similar a do dominó. Em chinês, cartas e
dominós tem o mesmo nome, que é p’ai. Para
diferenciar o dominó das cartas, as cartas são
chamadas de chih p’ai (p’ai de papel) e os do-
minós de ya p’ai ou ku p’ai (p’ai de marfim ou de osso).
Na China central, as cartas de jogar são conhecidas como kun p’ai, cartas-
-bastão ou ma chioh. Este deck de cartas chinesas tem 30 peças, de Ás a 9, de três
naipes diferentes chamados de ping, tiao
e wan (“bolos”, “barbantes” e “miríades”)
e três peças separadas, “flor branca”, “flor
vermelha” e ch’icn wan (“miríades de mi-
ríades”). As cartas eram vendidas, pela re-
gra, com quatro decks, assim como com 2,
5 ou 6 cartas soltas conhecidas como “ou-
ros”, “voadores” ou “borboletas”. Estas car-
tas tinham mais ou menos a mesma função
que um curinga tem em jogos atuais, e não
Cartas de dominó. “Chinese Origin Of
Playing Cards” 1895
Cartas chinesas. “Chinese Origin Of
Playing Cards” 1895
25
era preciso usá-las para jogar.
Outro modelo de cartas de jogar chinesas são as cartas lieh chih, que consistem
em um deck com 36 cartas em quatro naipes diferentes - as cartas também vão de
Ás a 9. Nos jogos jogados neste modelo de baralho, não apenas os valores das cartas
mas também os naipes contavam para se saber qual carta valia mais que a outra.
As cartas chinesas são estreitas, e isso acontece porque na China não se abre
o baralho como um leque, como no Brasil, mas como um punho fechado. Mesmo
assim, as coincidências entre o baralho europeu e o baralho chinês são muitas, como
por exemplo os naipes e as cartas com figuras humanas. Em ambos também exis-
tem 3 cartas que não são numéricas. Alguns jogos também
são muito similares, como Frusso italiano, Primero e Tarocco.
Com o passar do tempo, os jogos de cartas saíram das
fronteiras da China e se espalharam pela Ásia, assumindo di-
Cartas de papel moeda; 5 decks com 30 cartas; costa leste da China. “The World of Playing Cards”
Cartas chinesas. “Chinese Origin Of Playing Cards” 1895
26
Cartas chinesas. “The Devil’s Book A History of Playing Cards”1890
Acima cartas chinesas do naipe das
miríades. “Facts and Speculations on the
Origin and History of Playing Cards” 1848
À esquerda alguns exemplos da
diversidades das cartas de jogar chinesas.
“Todos os Jogos” 1978
27
versas formas e jogabilidades diferentes em cada cultura. Existem referências de
cartas em diversos países como Japão, Índia e Egito. Mesmo existindo em diversos
países, a introdução das cartas na Europa foi mais provavelmente feita pelos árabes.
Essa teoria é apoiada pela grande semelhança das primeiras cartas européias e as
cartas árabes.
Na Índia, já se conheciam as cartas de jogar há muito tempo. As cartas india-
nas eram pintadas em marfim, redondas e continham sete naipes que são: Sol, Lua,
Coroas, Almofadas, Harpas, Letras e Espadas. Em cada naipe existem dez numerais
e duas cartas de corte, um soberano e um general. Além dessas cartas, existem tam-
bém mais 12, aparentemente sem nenhum naipe, que são figuras humanas, alguns
homens e outras mulheres. O rei estava sempre montado em um elefante e o outro
soberano vinha montado em um cavalo, tigre ou touro.
As cartas árabes, além do formato muito mais parecido com o que conhecemos,
também eram numeradas de 1 a 10, com mais três cartas de corte por naipe, totali-
zando 52 cartas. Existiam 4 tipos de naipes, muito parecidos com os naipes italianos
e espanhóis (foi através destes países que o baralho entrou na Europa), algo seme-
lhante à copas, bastões, espadas e moedas. É uma teoria válida que os mouros te-
nham introduzido as
cartas na Itália por
volta de 1370, e que
a partir disso os ita-
Cartas indianas. “The Devil’s Book A History of Playing Cards” 1890
28
lianos evoluíram-nas para cartas mais fáceis de serem identificadas. No entanto a
Espanha também estava sob ocupação moura, e portanto o baralho pode ter sido
introduzido na Espanha pelos marroquinos.
De acordo com WINTLE, 1987, nas crônicas de Viterbo, uma região da atual
Itália, em 1379 foi introduzido no local de mesmo nome um jogo de cartas, que na
língua sarracena chamava-se nayb. Na língua árabe, nayb não significa “cartas de
jogar”, mas sim “deputado” ou “vice-rei”. É possível que os italianos não conseguis-
sem pronunciar a palavra árabe para cartas de jogar, que é kanjifah, e acharam a
palavra nayb mais fácil.
Cartas mamelucas do século XV desenhadas e pintadas a mão. Da esquerda para a direita, 7 de
espadas, 6 de moedas, 10 de bastões, ás e dez de bastões. “The World of Playing Cards” e “The
Oxford Guide to Card Games” 1990.
29
O baralho na Europa
Também não se sabe ao certo como a introdu-
ção das cartas aconteceu na Europa.
Existem duas teorias: uma delas é sobre
um viajante do século XIV que voltou de
algum lugar longínquo e tentou recriar
as cartas que havia visto em pedaços
de papelão; a outra diz que um grupo
de viajantes da Ásia ou da África apren-
deu um jogo de cartas, individualmente
Cartas de um conjunto do norte da Itália, 1462. “The World of Playing Cards”
30
ou como um grupo,
e tendo jogado tal
jogo com os habi-
tantes locais, teriam
trazido um ou vários
pacotes com cartas,
para que pudessem continuar jogando em casa (e quando as cartas que haviam
trazido se acabaram, fizeram outras). Mas o mais provável é que algum Sarraceno
tenha introduzido um jogo árabe e levado as cartas para a Europa. Todas as teorias
acima são consideradas válidas.
Na Idade Média, principalmente no período Gótico, do século XII ao XIV, a Eu-
ropa presenciou muitas mudanças econômicas e religiosas. Havia uma grande teia
de rotas de comércio, e isso fez com que uma nova forma de economia evoluísse, ba-
seada na proporção de venda e troca, na qual artesãos e comerciantes tiveram papéis
importantíssimos. Universidades foram construídas, feudos se transformaram em ci-
dades, livros foram produzidos... A invenção de Gutenberg dos tipos móveis fez com
que livros e outros
tipos de impressos
fossem produzi-
dos mais rapida-
mente.
Cartas do pacote “I Tarocchi dei Visconti”
por Dal Negro, Treviso, Italy. 1445.
“The World of Playing Cards”
Cartas do início do século XV,
possivelmente alemãs e exportadas para a
Espanha. “The World of Playing Cards”
31
Os jogos de baralho sempre tiveram dois propósitos: as apostas e jogos que exi-
gem habilidade. A introdução das cartas providenciou um novo jeito de apostas, e
também permitiu uma nova maneira de se prever o futuro. Nos primeiros jogos, o
baralho era utilizado de forma alea-
tória, assim como um dado ou uma
roleta. Em jogos de habilidade, o fa-
tor chance diminui por conter regras
mais sofisticadas e a habilidade em si
é o maior fator de ganho. A proibição
de baralhos mostrou como os jogos
de apostas eram populares pela Eu-
ropa. Desvios emocionais e má edu-
cação por causa da perda eram vistos
como imorais.
A Itália, foi o primeiro país a
possuir um registro oficial do bara-
lho. Em 1376, em Florença, um jogo
chamado “nayb” foi proibido em um
decreto no dia 23 de maio. A partir da
Itália, o baralho atravessou os alpes
Cartas Hofämterspiel, demonstram relações políticas na Europa central no meio do século XV. Cada naipe representa o brasão da França, Alemanha, Hungria e Boémia. “The Oxford Guide to Card Games” 1990
32
Mapa da Europa no século XIV. COLBECK,C. “The Public Schools Historical Atlas” 1905. University
of Texas Libraries
33
para Alemanha e Suíça, e caminhou em direção oeste até França e Reino Unido.
As primeiras referências ao baralho na Europa vêm da Catalunha (Espanha),
Florença, Siena, Viterbo (Itália), sul da Alemanha, Suíça e Brabant (Bélgica). Tudo
indica que essas cartas eram pintadas em ouro com várias cores, o que sugere muito
luxo. As cartas mais antigas que sobreviveram aos anos são do século XV.
Com a popularização das cartas de jogar e o crescimento da demanda, era
necessário inventar novos e mais rápidos meios de produção: xilogravura, tipos mó-
veis, papel ao invés de pergaminho, múltiplas cópias. A produção foi acelerada por
estes processos alternativos, incluindo até cartas feitas à mão, impressas com matri-
zes de madeira e pintadas com estêncil, ou outras maneiras improvisadas. A gravura
em metal era o tipo de impressão mais caro, e cartas produzidas assim eram presen-
tes luxuosos para casamentos e outras ocasiões especiais.
As imagens que os artesãos obtinham para imprimir eram de animais, plantas,
pássaros e flores. Normalmente as temáticas faziam alusão a torneios recreativos,
crianças ou batalhas de faz-de-conta e animais. Os artistas também eram influen-
As Cartas Pintadas de Stuttgart, 1430 (Stuttgarter Kartenspiel). Com naipes de falcões, patos, cães e cervos, o deck continha 52 cartas. “The World of Playing Cards”
34
ciados por textos e histórias moralizan-
tes. Plantas, animais bestiais, pássaros
e insetos de livros, tudo sugerindo um
simbolismo das crenças populares.
Por volta de 1500, três padrões de
baralhos tinham evoluído: o padrão latino, incluindo Itália, Espanha e Portugal; o
padrão germânico, incluindo Alemanha e Suíça; e o padrão francês, que viria a ser
conhecido como o padrão anglo-francês, o mais comum do mundo. Os padrões não
mudaram muito ao longo dos séculos, o que preservou seu estilo medieval. Mas com
a tecnologia e o baixo custo de produção, atualmente é mais fácil para um designer
criar um novo tipo de padrão - o problema é que o mundo já está acostumado com
os existentes.
Entre as cartas medievais, as cartas alemãs eram as mais criativas. Existiam
variações de naipes e cores, além de decorações exuberantes, com cenários vivos
e desenhos de caricaturas. O fato da Alemanha ser composta por diversos estados
refletiu também no design das cartas de baralho. Portanto, não existia apenas
um padrão, e sim vários. No padrão germânico, estipulado posteriormente, não
Gravura de Diderot e Alembert’s Dictionnaire
raisonné de 1751-2. Retirada do livro The
Oxford Guide to Card Games, 1990
Cartas do artesão alemão conhecido por O GRAVURISTA do sul
da Alemanha, 1496. Retirada do site The
World of Playing Cards
35
existe a Rainha, apenas o Rei, o Cavaleiro e o Valete, além de quatro naipes estabele-
cidos: Eichel (noz do carvalho), Laub (a folha de outono), Herz (copas) e Schellen
(um tipo de sino de igreja). O baralho germânico era colorido, diferente do Francês,
que tinha apenas 2 cores, por isso o padrão francês era mais fácil de identificar, com
dois naipes vermelhos e dois naipes pretos. Esse naipes eram reproduzidos com um
pincel com tinta sobre um estêncil.
Cartas de baralho espanhol, fabricado por Camps é Hijos, Barcelona, c. 1840. Retirados do livro O Design Brasileiro antes do Design, 2005
36
Acima sequência evolutiva do padrão francês. Da esquerda para a direita: Baralhos produzidos por Hall
(Reino Unido, 1820), Samuel Hart & Co. (EUA, dois modelos de 1865) e De La Rue & Co. (Reino Unido
1870-1880). “O Design Brasileiro antes do Design” 2005
Abaixo cartas anglo-francesas
produzidas em Rouen durante o século XVI.
“The World of Playing Cards”
37
As Cartas na Europa
Na Europa as cartas evolu-íram para os padrões
que conhecemos atualmente. Em cada
país foi desenvolvido um estilo a partir
do que foi introduzido na Itália no século
XIV. Por isso existiu uma diversidade de
baralhos devido aos contextos culturais
de cada país.
Cartas espanholas impessas com xilogravura e pintadas com estêncil feitas por Agostino Bergallo. “The World of Playing Cards”
38
Primeiro vieram os baralhos chamados latinos, que ainda estão em uso na Es-
panha, América do Sul (exceto o Brasil), Itália, Filipinas, algumas partes da França
e norte da África. Depois as cartas germânicas, incluindo as suíças, evoluíram com
diferentes combinações de naipes. E, finalmente, o padrão francês foi inventado
como uma inovação técnica na qual as cartas numéricas foram simplificadas e se
tornou o sistema mais utilizado no mundo. As referências ao Oriente foram des-
cartadas nos baralhos europeus; apenas os baralhos latinos ainda mantêm naipes
parecidos com os dos baralhos árabes. Pode-se dizer que os baralhos latinos são
mais militares, os baralhos germânicos rústicos e os baralhos anglo-franceses têm
mais referências à corte.
O primeiro documento que registra as cartas de jogar na Europa é italiano, do
final do século XIII, e está preservado junto aos documentos de Viterbo. Na Itália,
os naipes são chamados de Coppe (copas), Spadi (espadas), Denari (dinheiro) e
Pedaço de papel com cartas inglesas
não recotadas e não pintadas, aprox. 1650. ”The World of
Playing Cards”
39
Cultura Naipes
Naipes franceses ♥ (copas)
♦ (ouros)
♣ (paus)
♠
(espadas)
Naipes alemães
(Herz, Rot)(Schellen,
Kule)(Eichel,
Žaludy)(Laub, Gras,
Blau, Grün, Blatt, Zelený)
Naipes suiços (Rosen)
(Schellen) (Eicheln)
(Schilten)
Naipes espanhóis (Copas)
(Oros)
(Bastos)
(Espadas)
Naipes italo-espanhois (Coppe /
Copas)
(Denari /
Oros)
(Bastoni /
Bastos)
(Spade /
Espadas)
Naipes italianos (Coppe) (Denari)
(Bastoni)
(Spade)
Tabela com os diferentes naipes e nomenclaturas em diferentes culturas
40
Bastoni (bastões), e estas continuaram sendo as marcas mais comuns. Assim como
na Espanha, são utilizados os mesmos naipes desde o aparecimento das cartas até
hoje em dia. O baralho latino preservou alguns itens do baralho árabe, como por
exemplo os naipes, que foram uma pequena evolução do baralho introduzido na
Europa. Os italianos produziram uma variedade de cartas de jogar; os baralhos de
tarô pintados à mão, por exemplo, continham 78 cartas. Atualmente as cartas italia-
nas contém ou 52 ou 40 cartas com Rei, Cavaleiro e Soldado, numerais de 1 a 7 nos
baralhos com 40 cartas e de 1 a 10 nos baralhos com 52 cartas. As cartas espanholas
utilizadas hoje em dia contém 48 ou 40 cartas com Rei, Cavaleiro e Valete, numerais
de 1 a 6 nos baralhos com 40 cartas e de 1 a 9 nos baralhos com 48 cartas. Ambos
padrões de cartas contém 4 naipes, iguais a todos os outros sistemas europeus.
As cartas chegaram na Alemanha, sem dúvidas, pela Itália, e perderam as
propriedades sarracenas e orientais quase que imediatamente. Os alemães nun-
ca chegaram a chamar as cartas de nayb ou qualquer outra palavra parecida. As
primeiras menções às cartas na Alemanha são chamadas de Briefe, que significa
“cartas”. Os alemães criaram os naipes para suas cartas inspirados no simbolismo
e no mundo vegetal. Descartaram as armas do Oriente, assim como o dinheiro e o
copo, e selecionaram os pequenos guizos, que eram um símbolo de nobreza. Alguns
baralhos antigos da Alemanha são notáveis não apenas pela beleza, mas também
Cartas inglesas, aprox. 1750. “The World of
Playing Cards”
Cartas alemãs de um deck produzido
por Peter Flöttner of Nuremberg,
aprox.1545. “The World of Playing
Cards”
41
pelo fato curioso de conter 5 naipes, divididos em lebres, papagaios, flores, rosas e
concubinas, com as cartas nobres normais: Rei, Dama, Cavaleiro e Valete. Os bara-
lhos utilizados na Alemanha atualmente possuem 36 ou 32 cartas, com Rei e dois
oficiais (um superior e um inferior).
As cartas suíças são divididas em naipes de escudos, nozes, sinos e flores. Não
existe a carta 10; ela é tratada como um painel e tem a função de Às. Por ter inspira-
ção nas cartas germânicas, também possui o Rei com dois oficiais, um superior e um
inferior. Seu deck é composto por 48 ou 32 cartas; de 2 a 9 mais a carta painel, e com
2, 6 a 9 e a carta painel para o deck com menos cartas.
Apenas na França foi criado o sistema de identificação dos naipes por cores,
para facilitar o reconhecimento das cartas. Assim como o padrão de cores, o padrão
dos naipes também foi criado para facilitar às pessoas memorizarem as cartas mais
facilmente. Os métodos de produção dos outros sistemas de cartas era muito demo-
rado, portanto os impressores franceses inventaram uma ma-
neira de imprimi-las com xilogravura e depois pintá-las por
cima de um estêncil, agilizando muito o processo. Os ingleses
adaptaram as cartas francesas e as espalharam pelo mundo, e
por causa da sua facilidade de reprodução e de serem decora-
Carta moura do século XIII. “A “Moorish” Sheet Of Playing Cards” 1987
Cinco cartas suíças feitas em Basileia em aprox. 1530, reimpressas em 1998 em celebração aos 20 anos da Cartophilia Helvetica (Associação de Colecionadores de Baralhos da Suíça). “The World of Playing Cards”
42
das, tornaram-se as mais utilizadas e propagadas. O padrão anglo-francês contém 52
cartas com Rei, Dama, Valete e Ás, e numerais de 2 a 10. É o padrão mais facilmente
encontrado no Brasil, o mais comum.
Uma curiosidade notada, é que apesar de não utilizarmos a nomenclatura dos
naipes franceses, usamos a nomenclatura dos naipes espanhóis. Isso se deve ao fato
de, apesar de termos sido colonizados por portugueses, os baralhos comercializados
no Brasil na época eram do padrão francês. Por isso temos a nomenclatura latina
ao invés da francesa, que seria assim: Coração (copas), Diamantes (ouros), Plantas
(paus) e Espadas, que continuaria como Espadas.
Cartas espanholas datadas em 1786 produzidas pela Real Fábrica de
Macharaviaya (Málaga), para serem exportadas
para o méxico. do século XVIII. Da esquerda para
a direita: Valete, Rei, Cavaleiro e Ás de copas.
Ás de moedas, Ás de bastões e 4 de copas. “The
World of Playing Cards”
43
O Tarot
O tarô não mudou muito se comparado
com a evolução do baralho. Mesmo ten-
do evoluído de uma maneira particular,
ainda é muito similar aos primeiros ba-
ralhos, os Tarocchi, usados em um jogo
similar ao Bridge. O tarô nasceu na Itá-
lia, onde foram introduzidos os primeiros
baralhos na Europa. A origem da palavra
Cartas da Cary Collection of Playing Cards. Cartas do tarot de Visconti por Bonifacio Bembo, c. 1445. “Beinecke Rare Book & Manuscript Library”.
44
“tarô” pode ser um derivado da palavra árabe turuq, que significa “quatro direções”.
O tarô moderno possui 78 cartas, divididas em dois grupos: 22 cartas do “Arca-
no Maior” e 58 cartas do “Arcano Menor”, que são as cartas mais similares às cartas
do baralho de jogar. Essa estrutura é derivada dos tarôs venezianos ou piemonteses.
Assim como o baralho, antigamente o tarô não tinha um padrão. Alguns tinham 97
cartas, outros 50 e alguns apenas 30 cartas.
Os primeiros tarôs apareceram na Itália, entre 1420 e 1440. Esses decks de cartas
eram obras de arte caríssimas, pintadas à mão e decoradas com folhas de ouro. Eram
utilizados pelas classes mais altas (devido ao custo) para jogar um jogo complexo,
parecido com o Bridge. A estrutura do jogo era parecida com a estrutura moderna da
maioria dos tarôs. Os tarôs também não tinham nome nem numeração - somente a
partir do século XVI começaram a surgir os nomes das cartas em alguns deles.
Assim como o baralho, com a invenção da prensa por Gutenberg, o tarô pôde ser
produzido de maneira mais rápida e barata, fazendo com que as classes mais baixas
também pudessem jogar. A prensa também ajudou a padronizar os nomes e números
das cartas.
Somente em 1781 foi feita a primeira referência ao tarô de forma simbólica e
oracular, por Court de Gebelin e Comte de Mellet em “Le Monde Primitif” (O Mundo
Primitivo), publicado na França. Sete anos depois deste artigo, foi feito o primeiro tarô
com funções específicas para adivinhações, trazendo aspectos egípcios.
Tarot de Marseille de N. Conver, 1760.
“The World of Playing Cards.”
45
2Estrutura do Baralho
Uma carta de jogar é um pedaço retangular
de papel cartão, cartolina ou plástico
fino, cortada de forma regular e usada
em um conjunto para jogar. Na frente
estão impressos os números e as figuras.
No outro lado, alguma imagem, normal-
mente um arabesco, reproduzido em to-
das as cartas de forma idêntica.
♥♠♦♣
46
O baralho, no padrão internacional, também conhecido como modelo francês,
é composto por um grupo de 52 cartas de jogar, divididas entre quatro naipes cha-
mados de Copas, Espadas, Ouros e Paus (♥♠♦♣). Cada naipe contém numerais de
1 a 10, seguidos por três figuras da corte, chamadas de Valete, Dama e Rei. A carta
número 1 é chamada de Ás. A maioria dos pacotes vem com uma ou duas cartas adi-
cionais, chamadas de curinga. Eles não pertencem a nenhum naipe, e são utilizados
de maneiras diferentes em cada tipo de jogo.
Este específico grupo de cartas foi inventado na França, modificado na Ingla-
terra, e é o padrão mais conhecido mundialmente. A universalidade surge de dois
fatores. O primeiro é que, por possuir um design mais simples, tornando o custo de
produção mais barato, faz com que novos jogadores assimilem as cartas mais facil-
mente. O segundo fator é cultural: este grupo de cartas ajudou a popularizar jogos co-
nhecidos mundialmente, como Pôquer, Canastra, Paciência e Bridge. Outro aspecto
importante da internacionalidade deste padrão foram as colônias dos dois países, que
se familiarizaram com tal estilo de cartas de jogar por conta de seus colonizadores.Sete de espadas, Dama de Ouros e Ás de
espadas do baralho 139 Truco da Copag.
O modelo 139 é o mais comum no Brasil.
47
O Baralho no Brasil
No Brasil colonial, a imprensa era censura-
da por Portugal e era proibido possuir uma
prensa particular. Porém, existiam gráfi-
cas ilegais em Recife e no Rio de Janeiro.
A produção de cartas de jogar também
estava sob posse do governo português: a
“Real Fábrica de Cartas de Jogar” era um
anexo à Impressão Régia que ficava em
Portugal.
Sequência de cartas do modelo 1039 lançados pela Copag em 1925. “O Design Brasileiro Antes do Design” 2005
48
Quando a família real
fugiu de Napoleão e veio
ao Brasil, Dom João VI in-
troduziu a “civilização” no
país, que ainda era muito
precário. Em maio de 1808
foi estabelecida no Rio de
Janeiro uma gráfica similar à de Portugal, também chamada de “Real Cartas de Jo-
gar”. Em 1811, esta gráfica foi fundida à Impressão Régia no Rio.
Grandes imigrações na metade do século XIX de pessoas da Alemanha, Japão
e Itália para o Brasil também poderiam ter introduzido diferentes cartas de sua cul-
tura, assim como diferentes jogos.
Em Portugal, um deck é chamado de “cartas de jogar”, enquanto no Brasil é
chamado de “baralho”, relacionado à palavra baralha, acepção arcaica para briga,
luta. Ambos países não utilizam o padrão latino (português), mas sim o padrão fran-
cês, com o mesmo nome dos naipes, mas sem o significado original.
Naipes Latinos Designação em Português Naipes Franceses
Moedas Ouros Diamantes
Copos Copas Corações
Swords Espadas Espadas
Batons Paus Clubs
Baralho impresso pela Azevedo & Cia. (Fábrica de Caixas),
provavelmente da década de 1920. “O
Design Brasileiro Antes do Design” 2005
49
Outra diferença do baralho português, são as cartas “dragão”, uma identidade
das cartas impressas em Portugal. Os Ás de cada naipe tinham um dragão ou uma
serpente desenhados. Tais cartas “dragão” eram produzidas em Portugal até o co-
meço do século XIX, mas como o país tinha muito comércio, as cartas dragão acaba-
ram se internacionalizando.
As cartas espanholas nunca fize-
ram muito sucesso no Brasil. Hoje em
dia, a COPAG tem dois modelos espa-
nhóis para venda no mercado argentino.
Em algumas regiões do interior de São
Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul este
tipo de carta é utilizado, assim como lu-
gares que são pontos turísticos para uru-
guaios e argentinos, como o litoral de
Santa Catarina.
O Brasil era um grande importador
de cartas da Alemanha, principalmente
no padrão Wüst, que foi muito popular.
Pacotes com “X” para os 10s, cartas ta-
manho-criança e outras variações eram
importadas pela COPAG.
Cartas de baralho espanhol produzidas pela Impressão Régia entre 1811 a 1818. “Breve História da Xilogravura Brasileira” 2003
50
O pacote “Trophy Whist #39” foi primeiramente importado e depois manufa-
turado pela COPAG. Ele acabou se tornando um dos designs mais populares dos ba-
ralhos nacionais do último século. As cartas com índices grandes, margens largas e
um espaço pequeno para a parte desenhada ficaram conhecidas internacionalmente
e foram muito bem aceitas pelo público.
Cartas espanholas impressas no
Brasil. “Playing Cards in Brazil - an Introduction” 2002
Cartas impressas pela Azevedo & Cia. (Fábrica de Caixas),
provavelmente da década de 1920.
“Playing Cards in Brazil - an
Introduction” 2002
51
O Baralho da COPAG
A COPAG é a maior pro-dutora de baralhos da
América Latina atualmente. A empre-
sa foi fundada em 1908 por Albino Dias
Gonçalves e é a fá-
brica mais antiga de
baralhos ainda em
atividade no Bra-
sil. Porém, quando
a empresa foi cria-
da, a fabricação de
baralhos não era o
foco, e sim itens de
Catálogo de tipos impresso em 1914. “O Design Brasileiro Antes do Design “ 2005
52
papelaria. A Albino Gonçalves & Cia. na verda-
de importava e distribuía baralhos, e só a par-
tir de 1918 começou a produzir seus próprios
baralhos. Após dois anos produzindo baralhos
resolveu mudar seu nome para “Companhia
Paulista de Artes Graphicas” (COPAG).
Seus baralhos eram impressos em lito-
grafia, e somente por volta de 1930 passaram
ao offset. Foi neste período que a empresa as-
sumiu a liderança na produção de baralhos no Brasil, e nem mesmo com a proibição
em 1946 de jogos de azar e cassinos fez com que desistisse do negócio. Em 1954, a
COPAG passou a se dedicar exclusivamente à produção de cartas de jogar, e atual-
mente é líder do segmento na América Latina.
Os documentos mais antigos indicam a composição de preços para a fabricação de baralhos e embalagens entre 1920 e 1921 [...] e registram a pre-sença de diversos modelos de baralhos nos estoques da empresa no mesmo período (“Livro de Stock”). Em 1934, amostras de baralhos foram encontra-das em catálogos antigos, sendo essenciais para a reconstrução da história da empresa e, por conseguinte, para a construção de uma história do design de cartas de jogar no Brasil. (FARIAS em CARDOSO, 2005, p. 273).
Segundo os registros encontrados, a produção de baralho em 1920 era peque-
Frente dos primeiros baralhos lançado
pela Copag, por volta de 1920.“O Design Brasileiro Antes do
Design “ 2005
Acima cinco e quatro provavelmente
pertencentes ao baralho 312 de 1920. “O Design
Brasileiro Antes do Design “ 2005
53
na, com apenas 9 modelos, diminuindo no decorrer da década, porém aumentando
na década seguinte. Graças à produção de baralhos feitos sob encomenda para cas-
sinos, associações, empresas e baralhos fantasia, a produção chegou a 20 modelos
diferentes nos anos 40. O baralho mais famoso e produzido até hoje é o modelo nº
139, criado em 1923. Não se sabe ao certo porque o baralho 139 tem esse nome.
Existem várias histórias: algumas pessoas dizem que é o número da sorte da Copag,
13, a soma dos números 1+3+9 = 13. Outros dizem que foi na 139ª tentativa que o
baralho saiu perfeito, como é hoje.
Os primeiros baralhos, modelos 13, 113, 213, 215, 220 e o infantil, foram im-
pressos em cinco cores (preto, vermelho, amarelo, azul e rosa), com bordas doura-
das e índices no formato “X” para “10”, e “V”, ”D”, ”R” para Valete, Dama e Rei. As
figuras são obviamente baseadas nos baralhos alemães fabricados por C. L. Wüst.
Na segunda metade de 1920 a Copag lançou mais três modelos: 239, 312 e 260. Os
Embalagens para baralhos produzidas pela Copag entre 1940 e 1960. “O Design Brasileiro Antes do Design “ 2005
54
modelos 239 e 260 traziam desenhos bem diferentes daqueles
da primeira série, e foram classificados como “padrão Paris”
(260) e “variante do padrão Paris” (239). Eram cortados em
formato menor – 9,0 x 5,2 cm (239) e 5,8 cm (260). O modelo
“Paris” trazia índices no padrão “V”, “D”, “R”, e o “variante do
padrão Paris” no padrão “J, Q,
K” - que viria a se tornar o
padrão mais comum.
Frente de baralhos lançados pela Copag durante a década de 1920: sequência dos
baralhos 1039 (1925) e 139 (1923). “O Design
Brasileiro Antes do Design “ 2005
A cima Curingas utilizados pela Copag
entre 1920 e 1950 “O Design Brasileiro Antes
do Design “ 2005
55
3A arte em cartas de jogar
O baralho é uma peça que traduz muitos as-
pectos culturais. Nos primeiros baralhos
era até mais claro saber de que país
aquele baralho veio, pelos traços
e pela temática das cartas. Os ar-
tistas da época faziam cartas que
eram peças de arte, lindas, para
ocasiões especiais, como pre-
sentes de casamento ou peças
encomendadas por reis.
Carta do Hunting Pack, c.1440 de Konrad Wits, pintada à mão. “The World of Playing cards.”
56
Como não existia um padrão de como
as cartas tinham que ser, algumas car-
tas não possuíam nem índices, os artistas
podiam criar livremente. As cartas eram
pintadas à mão e tinham também como
objetivo serem objetos maravilhosos. Elas
eram pintadas em diversas cores e deco-
radas com vários tipos de ornamentos. Por
séculos artistas escolheram as cartas como
telas de pintura, expressando cultura e
momento histórico.
Desde as cartas mamelucas que eram
decoradas com ouro e pintadas à mão, a
arte nas cartas de jogar é algo evidente. As
primeiras cartas da Europa seguiam o padrão mameluco
e também eram pintadas à mão com muitos detalhes, po-
rém sem muito padrão nas cartas. Assim como os artistas
renacentistas da Itália, os artistas de cartas também eram
instruidos à pintar temáticas parecidas com as de afrescos,
No Topo, detalhe do Quadro A Anunciação e cenas da Divina Comédia de Dante, de Gherardo
di Giovanni, c 1474. ”The Story of Art”. Abaixo cartas mameluca do século XV, “The Oxford Guide to Card Games”. E carta do pacote “I
Tarocchi dei Visconti” publicado por Dal Negro, Treviso, Italy. 1445. “The World of Playing Cards”
57
como as temáticas de natureza e do homem. Es-
tas cartas eram caras e luxuosas, somente pessoas
de alto poder aquisitivo poderiam adquiri-las. As
cartas também passaram pelas transformações
tecnológicas que ocorreram na Europa na idade
Média. As cartas eram feitas com técnicas de gra-
vura para agilizar o processo. Baralhos foram im-
pressos de diversas maneiras e técnicas, e isso foi aprimorando e simplificando os
baralhos, para a facilidade de impressão e de jogar.
As cartas que permitem mais liberdade de criação no padrão Francês, são os
curingas. Os curingas são cartas que são utilizadas apenas em alguns jogos, não
fazem parte do deck. Acredita-se que o curinga foi inventado por volta de 1860, para
um jogo. Outras cartas que permitem mais liberdade, são as cartas de corte e os ás.
No baralho comercilizado pela Copag, o Ás de espadas que contém informações so-
bre o fabricante, no baralho espanhol as informações costumam vir no 4 de copas.
Os ás na maioria dos baralhos no padrão Francês, possuem um desenho diferente.
Quatro de ouros e de copas do baralho Hespanhol da Copag, lançado entre o final da década de 1930 e o início da década de 1940. “O Design Brasileiro Antes do Design” 2005.
Ás de espadas do modelo 212 da Copag, ás de espadas de Charles Goodall de 1864-68 e ás de espadas de James English de 1867. ”O Design Brasileiro Antes do Design” 2005 e “The World of Playing Cards”
58
Versos de baralhos da Copag. “O Design
Brasileiro Antes do Design” 2005
Versos de baralhos da W. H. Willis & Co.
(Londres) 1870-1880. “The World Of Playing
Cards”
Assim como a frente da carta, o verso da carta
também é uma área a ser explorada por designers e
artistas. O verso da carta normalmente apresenta um
arabesco, por conter muitos detalhes e portanto ser
mais difícil para fazer marcas nas cartas. Mas no ver-
so das cartas pode existir qualquer desenho, porém o
desenho deve conter vários elementos, para dificultar
a marcação de cartas.
59
Designers gráficos
e o baralho
Vários designers gráficos ao redor do mundo já
fizeram baralhos diferentes do padrão
francês, porém eram baralhos no mesmo
padrão, com 52 cartas para jogar. O que
muda, dependendo do design, são os nai-
pes, as imagens de reis, rainhas e valetes
e as vezes até o formato das cartas, que
deixa de ser o formato retangular.
60
Um baralho feito no Brasil recente-
mente por José Ribamar Lins S. Júnior,
é o projeto entitulado de: O dia em que
o cangaço virou baralho. No qual o de-
signer quis transmitir a história do can-
gaço através de um baralho e um livreto
com contos de cordel, que acompanha o
baralho. Esse baralho transmite a cultu-
ra nordestina do país em forma de car-
tas para jogar e o baralho possuí perso-
nagens típicos dessa cultura, Lampião
(Rei), Maria Bonita (dama) e os canga-
çeiros (valetes). Outro aspecto cultural é
o estilo das ilustrações ser xilogravura,
que é um estilo que acompanha muitos
contos de cordel, e está presente em todo o baralho. No
verso do baralho é representado a caatinga, duas ima-
gens diferentes, uma em cada deck.
Outro baralho brasileiro, de 2010, é o baralho com
nome de Projeto 54, que foi organizado pela loja de rou-
pas El Cabriton. Esse projeto juntou 54 artistas brasilei-
Baralho de José Ribamar Lins.
“Anatomia Do Design” 2009
61
ros diferentes, para cada um fazer uma carta, esse baralho tem belas ilustrações,
porém não é um baralho muito jogável, pois não existe um padrão. Algumas cartas
tem índices, outras não tem, assim como em algumas cartas é fácil de identificar o
naipe, porém em outras cartas não se sabe ao certo o naipe. Esse tipo de baralho é
mais uma peça de arte, de colecionador, do que um deck para jogar.
Outro baralho nacional que homenageia os 200 anos da chegada da Família
Imperial Portuguesa no Brasil, foi lançado em 2008. O Baralho Brasileiro foi feito
pelos designers Alvaro Guillermo e Meire Vibiano. As cartas desse baralho possuem
um formato diferente, mais estreito que o formato mais comum e com as bordas
mais arredondadas que facilitam o manuseio.
Baralho produzido por El Cabriton e Copag, 2010 com 54 cartas, sendo cada uma feita por um artista diferente.
62
Um baralho feito por uma designer chamada
Michelle Lam no Canadá tem como tema a tipogra-
fia e como objetivo, descrito pela autora, inspirar
outros designers. Chamado de Graphos cada carta
mostra como cada área da tipografia é importante,
o naipe de espadas mostra a importância da anatomia de uma
fonte, o naipe de copas a classificação, o naipe de paus mostra
a importância dos glifos, que são os caracteres na tipografia
que expressam um símbolo, e o naipe de ouros dá ênfase na
formatação do texto. As cartas vem com pequenos textos sobre
tipografia com ênfases em cada assunto tratado por cada naipe.
Outros baralhos interessantes são os baralhos feitos por
Tauba Auerbach chamado de One Deck of Playing cards. Os baralhos são baseados
em funções matemáticas e formas geométricas. No baralho com as funções matemá-
Cartas do Baralho Brasileiro por Alvaro
Guillermo e Meire Vibiano.”Mais Grupo”
2010
Cartas do baralho Graphos.
”Michelle Lam” 2010
63
Cartas do baralho One Deck of Playing Cards. ”Design Boom” 2010
ticas os naipes foram traduzidos para + - x ÷, as
cartas da corte se transformaram em sólidos platônicos e os curingas são ≠ e ∞. Ao
invés de utilizar a cor vermelha para a identificação dos naipes, a autora utilizou nai-
pes pretos com fundos brancos ou naipes brancos em fundo preto, portanto as cartas
do deck são metade pretas e metade brancas. No baralho das formas geométricas
são utilizados quatro formas para representarem os naipes franceses. Os naipes são
impressos em duas cores, vermelho e preto, e assim como o baralho das funções
matemáticas, as cartas de corte são figuras geométricas. Curingas são representa-
dos por rabiscos e
amebas.
Um baralho
feito nos Estados
Unidos chamado
de Sentinels e é
de altíssima qua-
64
lidade, idealizado por Jonathan Bayme, diretor executivo da
theory11, foi feito em conjunto com a empresa de design gráfi-
co Hatch, em São Francisco . O conceito do baralho é baseado
em mágica, hermetismo, sociedades secretas e mitologia. A
caixa é um dos grandes diferenciais, impressa em um papel
40% mais grosso que o papel de caixas normais, tem impres-
sões em baixo relevo e tintas metálicas. Todos os desenhos fo-
ram criados para este baralho pelos artistas da theory11 e cada
desenho de cada carta tem seu significado junto ao conceito.
A theory11 é uma empresa voltada para baralhos de mágica, e
uma das únicas que imprime as cartas de mágica com a qua-
lidade de cartas impressas para cassinos.
Cartas do baralho Sentinels por
theory11. “Sentinels - Playing Cards by
theory11” 2011
65
4A Origem do Tema
O tema escolhido para a criação do baralho
é o Movimento Armorial. O Movimento
Armorial tem influências dos contos de
cordel e da literatura popular nordesti-
na. Assim como o Movimento Armorial
está ligado à literatura de cordel, esta
está ligada à xilogravura, que também
está ligada ao Movimento Armorial e
ao baralho.
66
A correlação entre os quatro temas surpreende, pois a xilogravura e o baralho
estão ligados desde a invenção dos baralhos na China, onde também foi inventada
a técnica da gravura em madeira, ou xilogravura. Assim como a xilogravura está
ligada ao baralho, também está ligada aos contos de cordel, que eram impressos em
oficinas tipográficas e cujas capas eram feitas com a técnica da xilogravura. E como
o Movimento Armorial possui fortes influências da literatura popular nordestina,
muitos artistas armoriais utilizaram a técnica da xilogravura em suas obras.
67
A Xilogravura
“As xilogravuras são fei-tas pela impressão (sobre papel ou algum outro suporte) de uma matriz entalhada em madeira.
Por sua simplicidade, a xilografia é a mais espontânea das técnicas gráficas. Da sim-plicidade, porém, ela permite nascer uma formidável riqueza em arte, dotada de encantos sem fim.” (COSTELLA, 2003, p. 9)
Buda pregando no Jardim de Jetavana da “Sutra Diamante” por Wang Chieh na China no ano de 868. “Breve História Ilustrada da Xilogravura” 2003.
68
De acordo com COSTELA, 2003, a
xilogravura é uma técnica de impressão
em relevo: a tinta atinge o papel trans-
portada pelas partes altas da matriz,
como se fosse um carimbo.
A história da xilogravura também
está ligada ao Oriente, como a das cartas
de jogar, as quais eram utilizadas para
impressões de orações budistas, cartas
de baralho e papel-moeda, principal-
mente na China e no Japão. Essa técni-
ca foi utilizada para a impressão dos primeiros livros. Na Europa, as impressões
xilográficas foram primeiramente utilizadas para imprimir estampas em tecidos, e
somente após o século XIV tal técnica passou a ser utilizada para impressão em pa-
péis, como baralhos e regras de jogos. Os livros também foram impressos utilizando
as matrizes de madeira na Europa, os livros em formatos de códice, do latim codex,
com várias imagens religiosas, ficaram comuns no século XV. Nos livros códice, que
pareciam cadernos, as gravuras continham imagens, textos e legendas. Por causa
da técnica de xilogravura, o
preço dos livros barateou, as-
Festa de Tanabata por Hiroshigue
Ando. “300 anos de Ukiyo-e” 1987
Menino japonês pintando um galho
de bamboo, começo do século XIX. “The
Story of Art” 1995
69
Detalhe da Biblia Pauperum (Bíblia dos pobres), Impressor desconhecido, aproximadamente 1440, Europa. “Breve História Ilustrada da Xilogravura” 2003
sim como as cartas de baralho. Como os livros continham muitas imagens, eram
facilmente interpretados até por analfabetos.
O problema dos livros impressos em matrizes únicas de xilogravura eram
os erros ortográficos que poderiam acontecer, e assim a matriz inteira deveria
ser refeita. Por causa disso, as matrizes de xilogravura evoluíram para a criação
de tipos móveis de madeira: cada letra tinha uma matriz, e as mesmas podiam
ser ordenadas e amarradas para formarem palavras e textos. Os tipos móveis
evoluíram para os tipos de metal, que eram mais resistentes e precisos. Foi deste
modo que começou a tipografia na Europa. O primeiro livro impresso em grande
escala usando os tipos móveis foi a “Bíblia de Gutenberg”, que continha ilustrações
coloridas em todas as páginas. Tanto as xilogravuras como a tipografia utilizam o
mesmo modo de impressão de tinta sobre o papel, por isso foram utilizadas juntas
em muitos momentos.
Os artistas europeus dos séculos XV
ao XVII que ilustravam livros com a téc-
nica da xilogravura utilizavam a madeira
com corte longitudinal em tábuas, de cima
para baixo, do sentido da árvore. A expres-
são artística da xilogravura era pouco ex-
plorada, e os artesãos apenas imitavam os
traços dos artistas na madeira. Em 1498, o
Carta de baralho por Jean Dale, aproximadamente 1470, França. “Breve História Ilustrada da Xilogravura” 2003
70
alemão Albrecht Dürer dá às suas imagens
a força que a gravura na madeira realmente
possui. Com traços precisos e uma lingua-
gem rica, o alemão dá novos horizontes à
xilogravura. Dürer era um artista, que pas-
sava seus desenhos para os artesãos exe-
cutarem. Porém, ele compreendeu a força
do traço da madeira e conseguiu transpô-lo
para seus desenhos.
No Japão, a técnica da gravura em ma-
deira e impressão em papel já era milenar,
e passou de apenas servir como ilustrações
de livros para lindas obras de artes. As gra-
vuras japonesas eram geralmente coloridas
e era necessário entalhar várias matrizes,
tantas quantas fossem as cores da obra. Às
vezes era necessária a impressão de 20 matrizes para uma única obra. Muitas das
xilogravuras retratavam paisagens do Japão, bem como rotinas do cotidiano.
Até então, na Europa, a madeira utilizada para as matrizes eram madeiras de
frio, com corte longitudinal, porém no século XIX a técnica de xilogravura de topo é
difundida por todo continente. Esta técnica envolve o corte da madeira transversal
S. Miguel em luta contra o dragão do “Apocalipse”,
Albert Dürer, 1498, Alemanha. “Breve
História Ilustrada da Xilogravura” 2003
71
ao tronco da árvore, uma madeira dura que é gravada com uma ferramenta metálica
de ponta chanfrada chamada buril. A técnica de gravura de topo passou a ser utiliza-
da em jornais e revistas em todo o mundo, por permitir maior detalhamento. Porém
no século XIX, os clichês, matrizes metálicas obtidas por meios químico-fotográfi-
cos, tomaram posse das ilustrações de livros, revistas e jornais, por ser mais rápido
e barato. Ao mesmo tempo, as impressões de textos eram rapidamente feitas com a
inovação da linotipo, uma máquina que unia os tipos móveis, sem a necessidade de
selecioná-los manualmente, fazendo a impressão de textos muito mais rápida.
Desse modo, a xilogravura perdeu a função de ilustração direta de livros, re-
vistas e jornais. Entretanto, no século XX houve um renascimento da xilogravura
nas mãos de artistas vanguardistas, como por exemplo Henri Matisse (1869-1954). A
xilogravura era bastante utilizada pela escola expressio-
nista, devido à sua dramaticidade, que é acentuada pelos
contrastes de preto e branco. Essa liberdade fez com que
a xilogravura crescesse de modo a artistas fazerem novos
experimentos com a madeira.
No Brasil, como já foi dito anteriormente, o gover-
no português proibiu qualquer oficina tipográfica e, por-
tanto, a atividade xilográfica também era ilegal. Porém,
existiam gráficas ilegais, no Rio de Janeiro e no Recife.
Com a mudança da família Real portuguesa para o Brasil,
O Profeta, por Emil Nolde, 1912. “The Story of Art” 1995
72
as coisas começaram a mudar. Foram instaladas no Brasil a Impressão Régia e a
tipografia oficial, assim como outras oficinas, como, por exemplo, a do Colégio das
Fábricas, na qual ficava a Fábrica das Cartas de Jogar, um paraíso para os xilógrafos.
Em Portugal, existia um monopólio da fabricação de cartas de jogar, e esse mono-
pólio continuou no Brasil quando a Real Fábrica de Cartas de Jogar se juntou à Im-
pressão Régia. Assim como na Europa, no Brasil a xilogravura também era utilizada
para ilustrações em livros e periódicos, e a xilogravura de topo, principalmente, em
impressos comerciais. Entretanto, assim como na Europa, a xilogravura de topo foi
trocada pela gravura em metal.
No Nordeste, a xilogravura teve um importante papel para os contos de cordel,
que com a facilida-
de de criar matri-
zes e o preço ba-
rato se espalhou,
não apenas pela
região, mas por
todo o país.
Os jogadores de baralho por J. Borges. “A Arte de J. Borges”
2006
73
A literatura de Cordel
“A literatura de cordel é a poesia popular, herdei-ra do romanceiro tradicional, e, em linhas gerais, da literatura oral (em especial dos contos populares), desen-volvida no Nordes-te e espalhada por todo o Brasil pelas muitas diásporas sertanejas” (HAU-RÉLIO, 2010, p.16).
O Boi de sete Chifres, Cordel de rodoflo Coelho Cavalcante com xilogravura de Dila, 1977, Salvador. “Breve História Ilustrada da Xilogravura” 2003
74
A literatura de cordel nasce na Europa no século XVI e vem para
o Brasil junto com os primeiros portugueses, que chamavam esses fo-
lhetos assim pelo fato da comercialização deles ser feita pelo pendu-
ramento em cordéis, cordões no Brasil. O termo Cordel, com a inicial
maiúscula, se refere à literatura destes folhetos, que eram contos do
cotidiano popular, fatos históricos heróicos, lendas e temas religiosos,
todos com grande carga simbólica. O termo cordel, com a inicial minúscula, é sinô-
nimo de folheto e livro, portanto é o material impresso. O Cordel é um tipo de poesia
popular, assim como o repente, porem as duas são diferentes, mas ambas inspiradas
na literatura oral. O repente é muito mais oral e improvisado; já o Cordel é literário,
mesmo utilizando as mesmas temáticas do repente.
A poesia popular é redescoberta no Nordeste do Brasil no século XIX. Esta po-
esia é inspirada no romanceiro tradicional, dos trovadores medievais de Portugal e,
assim como os trovadores, os poetas utilizam temáticas do dia-a-dia e fantasiosas.
O herói popular, criado na mentalidade
coletiva do povo é um dos grandes te-
mas: heróis como Carlos Magno e Dom
Quixote, que foram resgatados da Idade
Média e do Renascimento, mas cujas
histórias sofriam transformações, devi-
do à passagem do tempo. Estas histó-
Fotografia de xilogravura de Davi
Teixeira por Svetlana Bianca 2011
Vaqueiro Corajoso por Abraão Batista. “A Arte
de J. Borges” 2006
75
Capa do livreto de cordel A Chegada da Prostituta no Céu por J Borges. “A Arte de J. Borges” 2006
Fotografia de selo de xilogravura por Svetlana Bianca, 2011
rias eram contadas no boca-a-boca e passaram a ser
escritas em forma poética em redondilhas maiores
e menores, com 7 ou 5 sílabas poéticas. O vaqueiro
nordestino e as histórias do cangaço trazem temáticas
de heróis mais modernos. São heróis que estão mais
perto que os heróis da época medieval.
Os cordéis eram impressos em pequenas gráfi-
cas do interior, e como os clichês de metal eram mui-
to difíceis de serem feitos, foi utilizada a técnica da
xilogravura para ilustrar as capas destes contos. O
recurso da xilogravura foi uma solução barata, prá-
tica e eficiente para a ilustração das capas, e assim
formaram-se muitos xilógrafos populares. Bem como
as temáticas dos contos, as xilogravuras eram inspira-
das no imaginário popular. Por causa das novas técnicas de impressão, a xilogravura
foi praticamente declarada morta diversas vezes, mas os xilógrafos conseguiram
continuar fazendo não apenas capas para livretos de Cordel, mas também rótulos de
produtos do mercado local e anúncios para veiculação em jornais.
No final do século XX o cordel passou por uma fase ruim, as tipografias do
Nordeste estavam fechando, o êxodo rural estava acontecen-
do, existiam problemas econômicos e os bons poetas eram
76
escassos. O Movimento Armorial tenta
reviver o cordel com suas influências
no movimento popular, assim como na
década de 1980 e 1990 também aconte-
ce um renascimento do Cordel que se
inicia no Ceará e se espalha pelo Nor-
deste novamente. A partir dos anos 2000
o Cordel passou
a ser utilizado
em escolas e era
chamado de Novo
Cordel. O Cordel
também terá um
novo renascimen-
to no ano de 2011,
quando a emisso-
ra de TV Rede Globo lançou uma novela
como tema de literatura de Cordel enti-
tulada de “Cordel Encantado”.
Abertura da novela Cordel Encatado da
Rede Globo por Hans Donner, Alexandre
Pit Ribeiro e Roberto Stein, 2011
77
O Movimento Armorial
Até a década de 1970, armorial era apenas
um substantivo: um livro de registros de
brasões. De acordo com o Pequeno Di-
cionário da Língua Portuguesa Michae-
lis, é um adjetivo referente à heráldica
ou brasões, quan-
do utilizado como
substantivo signifi-
ca “o livro de regis-
tro dos brasões”.
Porém, Ariano Su-
assuna, idealiza-Gravura de Gilvan Samico, O Boi Mandingueiro e o cavalo Misterioso. “Em Demanda da Poética Popular”
78
dor do Movimento Armorial, de-
cidiu utilizar da palavra armorial
também como um adjetivo, para
identificar uma arte que estava
surgindo no Recife na década de
1970. Uma arte baseada no ima-
ginário popular, feita por brasi-
leiros, para brasileiros, patriota,
quase um manifesto para comba-
ter a descaracterização da cultura
brasileira erecusar os padrões de
arte vindos da Europa.
O nome escolhido, de acordo com Ariano Suassuna, foi selecionado por dois
motivos. O primeiro é o fato da palavra armorial ser esteticamente bonita, sonora.
O segundo motivo é o signi-
ficado da palavra, que se liga
aos brasões, a heráldica bra-
sileira, que está presente na
arte popular, de uma manei-
ra que pode até não ser facil-
mente reconhecida como em
Juvenal e o Dragão por Gilvan Samico.
“Samico: do desenho à gravura” 2004
Comedor de Folhas por Gilvan Samico.
“Arte no Brasil” 1979.
79
ferros de marcar boi, diferentes festas da cultura brasileira até as bandeiras e cami-
sas de clubes de futebol. Outro motivo que fez Suassuna escolher esta palavra como
designação para o movimento, é que nada é mais popular em uma cultura do que o
conjunto de bandeiras de um povo, a ligação com as raízes populares, as culturas e
povos de um espaço físico.
“Foi aí que, meio sério, meio brincando, comecei a dizer que tal poema ou tal es-tandarte de Cavalhada era ‘armorial’, isto é, brilhava em esmaltes puros, festivos, nítidos, metálicos e coloridos, como uma bandeira, um bra-são ou um toque de clarim. Lembrei-me, aí, também das pedras armoriais dos portões e frontadas do Barroco bra-sileiro, e passei a estender o nome à Escultura com a qual sonhava para o Nordeste. Des-cobri que o nome ‘armorial’ servia, ainda, para qualificar os ‘cantares’ do Romanceiro, os toques de viola e rabeca dos Cantadores - toques áspe-ros, arcaicos, acerados como gumes de faca-de-ponta, lem-brando o clavicórdio e a vio-la-de-arco da nossa música barroca do século XVIII.” (SU-ASSUNA em SUASSUNA, 1970.)
O Mundo do Sertão por Ariano Suassuna em “Iluminogravuras”, 2000.
80
Desse modo o Movimento Armorial nasceu, em 18 de ou-
tubro de 1970, no Recife - Pernambuco, lançado oficialmente
junto ao concerto “Três séculos de música nordestina: do Bar-
roco ao Armorial” que unia um concerto a uma exposição de
gravuras, pinturas e esculturas, todas com a mesma temática e
os conceitos de arte popular. Muitos artistas já teriam aderido
ao movimento, desde sua primeira “exposição”, fazendo parte
dele com gravuras, músicas, pinturas, esculturas e literatura.
Antes do Movimento Armorial completar um ano de vida,
foi lançado um grande romance de Suassuna, o “Romance d’A
Pedra do Reino” e o “Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, obra
com mais de 700 páginas que define muito bem a literatura
armorial, com muita influência dos contos de romanceiro e
acontecimentos do sertão nordestino.
Em 1974 foi proposta uma definição geral do movimento
inteiro, no dia 20 de maio, no “Jornal da Semana”do Recife, nos
seguintes termos:
“A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço co-mum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “canta-res”, e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mes-mo Romanceiro Relacionados. (SUASSUNA em SUASSUNA, 1974.)
Ariano Suassuna. “Ariano Suassuna O
Cabreiro Tremalhado” 2000.
81
Insígnia astrológica de Dom Pedro Dinis Quaderna, o decifrador. Fotografia de xilogravura de Ariano Suassuna em Armorial Gravuras - A Pedra do Reino, O Rei Degolado
Do modo como é explicado, o autor do movimento exemplifica como unir a li-
teratura, o cinema, o teatro, a gravura, a pintura, a escultura, a cerâmica, a tapeçaria
e a música em um único movimento, através da inspiração da Poesia narrativa dos
versos da literatura de Cordel, as capas e ilustrações desses contos e com o ritmo
que o folheto de cordel tem em seus contos - que constituem em “cantares”, o canto
de seus versos e estrofes. Mas Suassuna não esperava unir todas as artes em vão.
Ele esperava que, com a união das artes, a arte popular nordestina se valorizasse e
ficasse mais conhecida. A arte armorial deveria se transformar em uma arte brasi-
leira, fazendo com que as raízes populares do Nordeste se ampliassem para o Brasil
e para o mundo.
82
Por ser um movimento que nasceu no Nordeste brasileiro, a maioria da temáti-
ca abordada pelos artistas é nordestina, como o bumba-meu-boi, cangaceiros, cava-
los encantados, touros endiabrados, loucos, reis, bispos, diabos, juízes, dançarinas,
negros, mestiços, reis magos e pastores. Mesmo tendo como grande inspiração os
romanceiros, que vêm de um conjunto amplo e diversificado de práticas culturais,
Ariano recusa o espírito mágico do movimento, como qualquer semelhança com os
contos de cordel da Europa.
Tapete de Ariano Suassuna. “Ariano
Suassuna O Cabreiro Tremalhado” 2000.
83
A Arte Recifense
Para a maioria dos histo-riadores, a Semana de
Arte Moderna é a data de nascimento da
arte contemporânea no Brasil. Os artis-
tas não eram revolucionários: tinham,
na verdade, muita influência das escolas
de arte da Europa. Porém, a Semana de
Detalhe de A Acauhan - A Malhada da Onça por Ariano Suassuna em “Iluminogravuras”, 2000.
84
Arte Moderna é o nascimento da arte no Brasil, uma arte mais brasileira, com influ-
ências dos padrões europeus mas não completamente copiada da Europa. Era uma
fase de redescobrimento do Brasil pelos artistas, com temas e personagens brasilei-
ros, uma nacionalização da arte modernista, que passa por fases como Pau-Brasil,
Movimento Antropofágico, Bossa Nova, poesia Concreta, Manifesto Regionalista de
1926 e Tropicalismo.
Este foi o primeiro momento em que artistas brasileiros tentavam redescobrir
o Brasil, fazer uma arte mais brasileira. Em 1948 é fundada a Sociedade de Arte
Moderna do Recife (SAMR) por Adelardo da Hora, que reuniu jovens artistas como
o próprio Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico, Augusto Reinaldo,
alguns intelectuais e o grupo do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP). O cria-
dor do movimento falava que era um movimento artístico unificado, assim como
o Movimento Armorial seria no futuro, e
como foi o Movimento Regionalista que
aconteceu 20 anos antes e foi idealizado
por Gilberto Freyre, um artista e antropó-
logo de Recife.
A Viagem da Paloma gravura de Gilvan
Samico. “Movimento Armorial Regional e
Universal” ANO
85
“Era minha intenção fundar no Recife um amplo movimento cultural que resultasse numa expressao cultural brasileira, corrigindo as falhas do Movimento Modernista que ficara só na elite. Deflagrar um amplo movimento de Educação e Cultura com raízes na grande massa brasileira e em todos os setores como Artes Plásticas, Teatro, Música, Canto e Dança, congregando artistas, in-telectuais, Governo e povo, independentemente de cor política ou religiosa, interessados e animados na elevação do nível cultural do povo e na educa-ção do povo para a vida e para o trabalho.” (DA HORA em CLAUDIO 1978, pp. 32-3).
Em 1950, a SARM cria um curso de desenho que pas-
sa a ser um centro de ensino artístico por onde passaram
importantes nomes da arte pernambucana, como Gilvan
Samico, Wellington Virgulino e José Cláudio. O nome deste
curso passa a ser Atelier Coletivo em 1951 e tem o apoio
do governo para virar o grande centro de artes plásticas do
Recife. O Atelier Coletivo orientava os artistas para que as obras tivessem uma ideia
conjunta. De acordo com Cláudio, 1978, os temas abordados pelo atelier coletivo de
festejos populares eram cultivados, como lanceiros, figuras de maracatu e cabocli-
nho, além de passistas de frevo. Mas não devia seguir o caminho do erotismo, nem o
nu, a não ser que fossem temáticas de índio ou representações alegóricas.
O Atelier Coletivo queria mostrar o povo como realmente era, de várias formas,
no trabalho, no campo, na festa, além de lembrar-se dos esquecidos, ignorando in-
dividualismo e esteticismo. Formava-se uma arte social, que visava educar a popu-
Gilvan Samico “Gilvan Samico: do desenho à gravura” 2004
86
lação. Alguns anos
mais tarde, o Ate-
lier Coletivo se fixa
em Olinda, com
um novo centro de
arte, chamado Ate-
liês da Ribeira, que
formará boa parte dos jovens pernambucanos nas décadas de 1960 e 1970. Assim,
é possível perceber que a vida cultural pernambucana é baseada na unificação do
movimento artístico, a união dos artistas por um mesmo ideal, criando uma unidade
de pensamento.
Desta forma, Recife e o estado de Pernambuco passaram por diferentes mo-
vimentos desde o começo do século XX. Em 1974, João Câmera, pintor brasileiro,
analisou três aspectos da “Escola de Pernambuco” e, de acordo com Santos, 1999,
são eles:
1- Imagens de miséria que procuravam desenvolver uma crítica social, um questionamento em relação à posição do Nordeste. Produz um questionamento do regionalismo, que foi transformado em uma in-dústria de folclore. Os artistas que faziam artes com essa temática ha-viam passado pelo Atelier Coletivo.
2- Dois artistas armoriais, Gilvan Samico e Francisco Brennand, que seguiam uma corrente figurativa meta-regional, mas não tinham relação com o folclore nordestino.
3- Uma tendência mais livre e experimental.
Piso da Oficina Brennand fotografia de
Svetlana Bianca.
Grafite em Recife fotografia por Svetlana
Bianca demonstra influência da
xilogravura na arte das ruas. 2011
87
Em Pernambuco existe uma afi-
nidade com a arte figurativa, que pode
ocorrer por causa do isolamento cultu-
ral e geográfico, longe do eixo Sudeste
de arte, São Paulo - Rio de Janeiro - Belo
Horizonte, ou também pela formação
da maioria dos artistas com influências
modernistas, artistas de murais mexi-
canos e da pop art, ou até por causa do
mercado local, que exigia e limitava os
“meios” artistícos. A gravura deveria ser
o artesanato vendido em Olinda, não
poderia ser diferente, era uma turistifi-
cação da arte, que estava apenas sendo
usada para ser vendida aos turistas.
A arte popular é, inquestionavel-
mente, a maior referência do Movimento Armorial. E cada artista interpretou a arte
popular de sua maneira. Samico é inspirado pela xilogravura popular, que ilus-
tra o folheto, já Francisco Brennand se inspira na cerâmica popular. Pernambuco
contém os principais centros de matéria-prima para cerâmica: as argilas possuem
diferentes tons de cores naturais, por causa dos diferentes teores de componentes
Vitral da Universidade Federal de Pernambuco fotografia por Svetlana Bianca 2011
88
químicos. Brennand vai além do
imaginário popular da cerâmica,
que expressava um universo cotidiano e cultural, com figuras populares como o boi,
o padre, os violeiros ou as bandinhas de carnaval. O artista desenvolve pesquisas
sobre as argilas, como cores e técnicas de cozimentos, e pesquisas sobre o sentido
da cerâmica popular que o leva a novas expressões como o zoomorfismo e o antro-
pomorfismo. Brennand tem fases de inspiração animal e vegetal, principalmente o
caju, que era sua marca.
Francisco Brennand critica os artistas que não sabiam olhar para a natureza
e vê-la como ela realmente era viva, muito viva. E isso transparece em sua arte: a
natureza que ele interpreta é muito viva, chega até a ser violenta, forte e colorida.
A zona da mata é uma grande influência para o artista, que povoa suas obras com
flores, frutos e folhas desta região do Nordeste brasileiro. O artista se baseia muito
na tapeçaria medieval para realizar seus murais, que não têm muita perspectiva ou
fundo, mas não significa que não contem uma história, cheia de elementos e vida.
Brennand nunca se limitou a apenas uma corrente de pensamentos de uma escola
ou um movimento. Respeitado por Ariano Suassuna, participou de algumas exposi-
ções armoriais, mas possui uma teoria e concepção única da arte.
Gilvan Samico foi aluno de dois grandes mestres da xilogravura, Osvald Goeldi
e Lívio Abramo. De cada mestre, aprendeu uma técnica. Goeldi ensinou a Samico
a técnica da utilização de cor nas gravuras, e Abramo o ensinou a técnica da gra-
Obra no jardim da Oficina Brennand
fotografia de Svetlana Bianca, 2011
89
vura com detalhes. Considerado um dos
maiores gravuristas do Brasil, não tinha
muito interesse pela arte popular. Aria-
no Suassuna é quem o apresenta a essa
nova temática e o insere no movimen-
to como fundador e um dos principais
artistas. Gilvan é reconhecido por suas
gravuras complexas e coloridas, cheias
de animais lendários e monstros, ele-
mentos da natureza e representações
da figura humana. O artista, com gran-
de domínio técnico da arte de entalhar
madeira, compõe as obras com espaços
cheios e vazios de uma maneira que o
olho passeia pela tela procurando deta-
lhes que não foram vistos anteriormen-
te. Mesmo assim, a composição da obra
não fica sobrecarregada, pois o artista
consegue trabalhar muito bem com es-
paços em branco, bem como texturas
que fazem parte da paisagem ou do ele-
por Gilvan Samico, 1969. “Gilvan Samico: do desenho à gravura” 2004.
90
mento principal de cada obra. Inspirado na literatura de cordel, assim como todos os
artistas do movimento, as obras de Samico parecem contar histórias por si próprias.
Mesmo depois de ler o texto, o leitor continua observando a imagem para ver o que
também pode contá-lo. A cor é outro elemento característico de Gilvan Samico, pois
utiliza as cores de maneira sutil, mas ao mesmo tempo forte, com tons de laranja,
vermelho, verde, azul e amarelo. A cor
também faz parte do conto que a ima-
gem está representa, e possui um sen-
tido subjetivo. De acordo com Santos,
2006, os animais também são simbó-
licos, normalmente representados de
forma totêmica, e estão sempre asso-
ciados ao homem. A gravura de Sami-
co é diferente da xilogravura popular
por causa da técnica e simbologia.
A Estrada por Ariano Suassuna em
“Iluminogravuras”, 2000.
91
5Conceituação
Um jogo de cartas bra-sileiro feito com infuências da arte popular nordestina que co-relaciona a xilogra-vura, a história das cartas de jogar e o Movimento Armorial.
92
Este conceito foi concluído através da pesquisa. Reflete a união dos temas,
como estão relacionados desde a origem até a criação deste baralho.
93
Painel Semântico
Imagens que serviram de inpiração para o proje-to, além das obras dos ar-tistas armoriais.
94
2. The New Girl (detalhe) por Helen
Dardik, 2010
5. Portland Love (detalhe) por Jolby See,
2010
6. a different kind of pea (detalhe) por
moonywol, 2009
3. The New Girl (detalhe) por Helen
Dardik, 2010
4. Woodland Friends (detalhe) por Jolby See,
2010
1. Wilco’s Duluth (detalhe) por Scotty
Reifsnyder, 2010.
1 2
3 4
5 6
95
9. Marshak - Lebedev - Circus (detalhe) por Iliazd, 2009
10. Wish-ish (detalhe) por retrowhale, 2011
7. OOOFF with her RED! (detalhe) por roorz’s, 2010
11. Fragmento de matriz II (detalhe) por Samuel Casal, 2011
8. Conjunto de cartões por Morris & Essex , 2011
12. Ocean Spray (detalhe) por Drake Brodahl, 2009
7 8
9 10
11
12
96
16. Caderno de iluminogravuras
“Ariano Suassuna 80”
17. Foto da oficina Brennand por Svetlana
Bianca
15. Alexandrino e o pássaro de fogo por
Gilvan Samico 1962. “Samico do desenho à
gravura”200415
97
18. A Chave de ouro do reino do vai-não-volta por Gilvan Samico, 1969. “Gilvan Samico: do desenho à gravura” 2004.
Próxima página19. O senhor do dia (detalhe) por Gilvan Samico, 1986. “Gilvan Samico: do desenho à gravura” 2004.
18
98
99
Palavra Conceito
Palavra que representa o livro de re-
gistro dos brasões e que refere à brasões
ou elementos heráldicos. Até 1970. Quan-
do ARMORIAL, no Brasil, passou a ser um
movimento artístico, idealizado por Aria-
no Suassuna que visava dar mais impor-
tância à arte popular nacional brasileira.
100
101
102
103
9O Baralho Armorial
O baralho armorial será um conjunto de cartas
de jogar que, assim como as gravuras
armoriais, será feito com a técnica da xi-
logravura. O movimento armorial busca
uma arte popular e brasileira, agrupan-
do vários tipos de arte. Este movimento
foi explorado em uma época específica,
na década de 1970.
104
Foi resgatado o Movimento Armorial por se
tratar de um manifesto com profundas raízes po-
pulares, que agrega imagens folclóricas impor-
tantes e um valor da cultura popular brasileira do
Nordeste que é identificada no país inteiro, como
por exemplo, o bumba-meu-boi ou a literatura de
cordel. Resgatando as ideologias armoriais, o baralho expressará
a cultura popular brasileira para um público maior e mais am-
plo: será um baralho tipicamente brasileiro.
O baralho transmitirá uma brasilidade e originalidade folclórica que até então
não existe, expressas em cartas de jogar. O processo de criação dos elementos do
baralho é manual, com a técnica da xilogravura. Após o processo manual será feita
a digitalização dos elementos, e as cartas serão diagramadas de maneira digital para
serem impressas. Assim todas as cartas serão iguais, por serem impressas de um
arquivo digital.
O Sagrado gravura de Gilvan Samico.
Retirada do CD Movimento Armorial Regional e Universal.
O Retorno gravura de Gilvan Samico.
Retirada do CD Movimento Armorial Regional e Universal.
105
Cores
As cores utilizadas para o baralho armorial são
inspiradas nas gravuras armoriais de
Gilvan Samico e nas obras de Francisco
Brennand. Samico, de acordo com RO-
BALINHO, 2006, utilizava mais o laranja,
e em seguida vinham as cores vermelho,
amarelo, verde e azul. As cores mostarda
e marrom também eram utilizadas.
106
Para facilitar a utilização e facilida-
de de entendimento dos naipes, as cores
dos baralhos mais comuns foram man-
tidas, portanto os naipes do baralho são
pretos e vermelhos apenas. Os naipes de
paus e espadas são pretos, e vermelhos
os naipes de ouros e copas.
Para as cartas de figuras da corte,
foram utilizadas quatro cores, distribuídas pelas 12 cartas de maneira que, se outro
jogador olhar a cor da sua carta, não terá certeza qual carta você está segurando.
São quatro naipes e três cartas por naipe, totalizando 12 cartas. Também são quatro
cores, e cada uma é utilizada para uma das três figuras de corte, que são Rei, Dama
e Valete. Entretanto, não será utilizada a mesma cor em um mesmo naipe nem em
uma mesma carta de figura. Vide tabela.
As cores foram criadas no proces-
so manual da impressão da xilogravura
e comparadas em cores PANTONE para
a impressão. Foi utilizado o PANTONE
para que o resultado de cor seja sempre
idêntico, e assim não haja diferenciação
entre as cartas e os baralhos.
Rei (K) Dama (Q) Valete (J)
Paus
Espadas
Copas
Ouros
PRETOPANTONE® Black C
VERMELHOPANTONE® 185 C
107
RossaPANTONE® 178 C
LaranjaPANTONE® 144 C
Laranja VersoPANTONE® 166 C
Azul VersoPANTONE® 2747 C
TurquesaPANTONE® 3268 C
AzulPANTONE® 2727 C
108
Matriz e impressões do naipe de copas
Tinta branca
tinta preta
Tinta utilizada na produção de naipes
vermelhos
Tintas azul, verde e branca. Utilizadas
para a criação da cor turquesa
Rolo de impressão com tinta preta para os
naipes pretos.
109
Tinta turquesa
Espátulas utilizadas para a mistura das tintas
Tinta turquesa
Criaçã da tinta turquesa
Mistura das tintas verde, azul e branca para a criação do turquesa
Tinta turquesa
11
110
Mistura de tintas
Mistura de tintas
Rolo com a tinta rosa
Tinta utilizada na produção das cores
laranja, amarelo e rosa
Tinta laranja
Mistura de tintas
111
Rolo com tinta
Mistura de tintas
Tinta laranja
Rolo com tinta
Espátula com tinta laranja
Criação das tintas laranja, amarela e rosa
11
112
113
Elementos das Cartas
Naipes
Os naipes foram desenha-dos para este baralho com
inspiração no Movimento Ar-
morial, que têm referências à
simbologia utilizada nas cartas
de jogar em algumas obras. Foi
mantido o padrão francês nos
naipes, para serem mais fáceis
de serem identificados e tam-
bém por manter um padrão co-
nhecido mundialmente.
Segunda gravura feita por Taparica. Fotografia de xilogravura de Ariano Suassuna em Armorial Gravuras - A Pedra do Reino, O Rei Degolado
114
O processo de criação dos naipes foi primeiramente feito no papel, com dese-
nhos dos naipes, porém foi percebido que fazer os desenhos dos naipes diretamente
na madeira para entalhar depois era mais fácil para ver seu efeito. Assim, foi feito
apenas um pequeno estudo dos naipes no papel e o processo passou para a madeira.
Estudo dos naipes no caderno do projeto.
115
naipe de ouros
naipe de paus
naipe de copas
naipe de ouros
desenho do naipe de copas
naipes de paus e copas
116
entalhando a madeira
matriz do naipe de paus
impressões do naipe de ouros e copas
entalhando a madeira
matriz e impressão do naipe de copas
impressoes do naipe de paus e espadas
117
Tipografia
A tipografia selecionada para compor este projeto foi a Tipografia Armorial, tipografia
já existente feita por Ricardo Gouveia
de Melo e Giovana Caldas, intitulada
de “Alfabeto Armorial”. Este alfabeto
é inspirado no “Alfabeto Sertanejo” de
Ariano Suassuna.
Alfabeto Sertanejo “Ariano Suassuna ferros do Cariri”1974
118
A tipografia não continha números, que foram criados para a utilização. Ape-
nas as letras A, K, Q e J serão utilizadas no baralho. Os números foram criados ins-
pirados nas letras já existentes. Todos os números serão utilizados no baralho, de 1
a 9, e também o 0.
119
Cartas da Corte
As cartas da corte são re-presentadas por animais mitológicos e da fauna nordestina. A es-
colha dos animais foi devida às referên-
cias de animais nas obras armoriais. Os
animais estão em uma proporção verti-
cal, para que as cartas não fiquem com
um espaço gráfico excessivo. Foi resol-
vido utilizar a forma triangular para os
animais desenhados. Apenas a cara do
animal que o representará está de fren-
desenhos para as cartas da corte
120
te. Para cada figura da corte foi escolhido um animal, que são bodes e cabras para
representar o valete, dragão para representar a dama, onças e leões para represen-
tar o rei e o bumba-meu-boi para representar o curinga. Cada carta tem seu desenho
único, e são 14 desenhos no total.
Os bodes e as cabras foram escolhidos para a representação do valete, pois a
figura remete a um cavaleiro; no Nordeste, um cangaceiro. A cabra e o bode estão
sempre presentes em representações com os cangaceiros, e são símbolos da região.
O dragão foi escolhido para representar a dama por ser um animal mitológico,
misterioso e mágico, de muito poder. Existem representações de dragões nas obras
armoriais. Inicialmente a ideia era representar a rainha com a cobra, porém poderia
ter um significado pejorativo, por isso foi escolhido o dragão.
Para a representação do rei, foi escolhido a onça. O leão, o rei da selva, mas
como no Nordeste não existe leões de verdade, foi escolhido outro grande felino, a
onça pintada.
O outro animal é o bumba-meu-boi, que representará
o curinga. Antigamente o curinga era representado como o
bobo da corte, uma carta que pode ou não ser usada em um
jogo. O bumba-meu-boi tem a mesma festividade de um bobo
da corte, por isso foi o selecionado para esta carta.
desenhos para as cartas da corte
121
lascas de madeira
matriz de carta da corte
matrizes de cartas da corte
matriz de cartas da corte
impressão de carta da corte
matriz de rei da carta da corte
122
123
matriz de carta da corte com tinta
matrizes de carta da corte
matriz de carta da corte
matriz de carta da corte com tinta
124
125
Curinga
O curinga do baralho ar-morial será a figura de um bumba-meu-boi. Foi escolhido o bumba-
-meu-boi por se tratar de um animal fes-
tivo de origem nordestina.
As cores utilizadas para o curinga
serão as mesmas cores utilizadas para o
verso das cartas. Cada curinga tem uma
cor, um será laranja igual ao verso da
carta e o outro será azul, igual também
ao verso da carta.
126
127
Ícones
Para que as cartas não fi-quem confusas com dife-rentes cores de cada carta de corte, foi
criada uma iconografia para ser mais
fácil de identificá-las.
Uma espada para o valete e uma
coroa, para o rei e para a dama, que se-
rão impressos junto ao desenho da carta
da cor do naipe.
128
129
Verso das cartas
O verso das cartas de ba-ralho deve ser difícil de serem marcados para que o jogo não
seja comprometido. Deve haver uma
borda, para que as imperfeições de cor-
te não marquem a borda das cartas. No
baralho 139 da COPAG, são 5 milíme-
tros de borda. Nos baralhos com a bor-
da branca existe uma linha mais grossa
para separara a parte sem elementos da
parte com grafismos.
Versos de baralhos da Copag. “O Design Brasileiro Antes do Design” 2005
130
Por segurança, o verso é impresso em apenas uma cor,
para que não exista a possibilidade de haver alteração de cor.
As imagens de verso de carta são texturizadas com muitos ele-
mentos e linhas finas, porém a xilogravura não permite que as
linhas sejam muito finas por ser uma técnica mais rústica. O
trabalho buscou inspiração nas texturas armoriais, e o modo
como elas eram feitas. As obras de Suassuna contêm muitas
referências ao céu, assim como as de Samico, com estrelas,
nuvens, sóis e gotas. Samico tem uma linguagem mais geomé-
trica, e foi a inspiração seguida.
Os estudos com a gravura em madeira atingiram este re-
sultado e, portanto, foram escolhidos ao utilizar uma textura
geométrica quadrada.
A impressão do verso tem duas cores para que em con-
juntos de baralhos seja fácil a separação de cada baralho. O
verso do baralho armorial é laranja e azul, o laranja foi escolhido por ser uma cor
muito utilizada no Movimento Armorial, e o azul é sua cor complementar também
bastante utilizada no Movimento Armorial.
Acima detalhe de textura de Juvenal e o Dragão. No meio
detalhe de A Chave de ouro do reino do vai-
não-volta. “Samico: do desenho à gravura”
2004. Duas imagens ao lado são testes de
textura
131
textura desenhada na madeira
textura entalhada na madeira
entalhe na madeira
impressão da textura
132
133
Formato
O formato das cartas de jogar será um forma-
to retangular com os cantos arredonda-
dos que facilitam o embaralhamento das
cartas e sua preservação no uso. O tama-
nho das cartas será de 9 cm por 5,9 cm.
Este tamanho foi escolhido devido ao
aproveitamento de papel e à semelhança
com o baralho 139 da Copag, que tem 9
cm por 5,8 cm.
134
As cartas com esse tamanho podem ser impressas na folha gráfica, que tem 66
cm por 96 cm. Um baralho inteiro pode ser impresso em uma única folha, reduzindo
a possibilidade de erros nas cartas. É possível imprimir 110 cartas por folha gráfica,
ou seja, duas vezes a totalidade das 54 cartas do baralho, junto com os dois curingas
e também uma folha extra por baralho, utilizada pela Copag como uma carta de
garantia. Esta carta extra pode ser qualquer uma: para compor o projeto, será uma
carta com informações sobre o baralho armorial.
A princípio a ideia era utilizar o tamanho 9 cm por 6 cm, a proporção de cartão
de visitas mais utilizada. Descobriu-se depois não ser possível imprimir 54 cartas
em uma única folha gráfica, e isso poderia prejudicar a produção do baralho em
grande escala, já que a possibilidade de ocorrer erros de impressão e de cor seria
muito maior.
Resolveu-se então manter o tamanho parecido com o baralho mais comum no
Brasil, também por causa da familiaridade das pessoas com as cartas deste tipo. Um
deck com cartas de formatos diferentes poderiam ser mal aceitas pelo público, assim
como naipes muito diferenciados do padrão existente.
135
estudos de tamanhos de carta7 8
136
boneco com tamanho 9 cm x 5,9 cm
137
Caixa
O conjunto de cartas virá em uma
caixa individual, para armazenamento.
A parte aonde o baralho fica armazedo
tem uma luva, como no desenho abaixo.
A parte da luva tem uma faca de
corte fácil com apenas uma
face com cola. A parte de
dentro da luva terá uma
faca de corte e será neces-
sária a utilização de cola.
138
100mm 100mm
77mm
13mm26mm26mm
139
95mm
73mm
73mm
95mm
73mm 25mm25mm
25mm
12mm
12mm
25mm
25mm
25mm
15mm
25mm
15mm
25mm
12mm
25mm 25mm
140
141
Carta extra
Pelo aproveitamento de papel é
possível imprimir 110 cartas por folha
gráfica. Cada baralho possui 54 cartas
com os curingas, assim é possivel impri-
mir 2 baralhos por folha gráfica, que dá
um total de 108 cartas. Desse modo exis-
te uma carta extra por baralho, nos ba-
ralhos da COPAG esta carta extra é utili-
zada como carta de garantia, com dados
para troca do baralho se for necessário.
A carta extra do Baralho Armorial, terá
142
um pequeno texto sobre o movimento, para que mais pessoas tenham conhecimento
sobre o movimento idealizado por Ariano Suassuna. O texto será:
O movimento armorial é um movimento artístico idealizado por Aria-no Suassuna na década de 1970 em Recife, este movimento visa a valorização da cultura popular brasileira. Este baralho foi inspirado neste movimento. Para saber mais sobre o projeto do baralho, acesse: http://baralhoarmorial.svetb.com
143
Considerações Finais
Este projeto foi um gran-de trabalho para mim
como pessoa, aprendi muitas coisas no-
vas. Cresci culturalmente por descobrir
uma arte nacional que não é muito ex-
plorada, isso me fez ir até Recife para
pesquisar um pouco mais sobre o assun-
to. Foi um trabalho que a pesquisa foi di-
ficil de ser concluída, pois os livros sobre
o tema do baralho são dificeis de serem
144
achados, e os que existem na maioria são em outras línguas e antigos. Achei livros
e referências com ajuda de pessoas, mandei e-mails e pedi informações para muita
gente, que felizmente me ajudaram com a pesquisa. Após a pesquisa do baralho
pude começar a procura de um tema, que ainda não estava definido, e demorou a
ser definido, porém quando foi definido foi o tema perfeito. Com a pesquisa do tema
percebi que o tema e a história do baralho tinham muito em comum como é expli-
cado na monografia. O resultado final foi um resultado adquirido acima das minhas
expectativas, foi um projeto muito legal de ser elaborado e o baralho ficou com toda
a identidade da pesquisa e minha, também por causa dos desenhos.
145
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Glossário
Afrescos – pintura com a técnica de pintar sobre argamassa ainda fresca
Arabesco – elemento da arte islâmica, combinação de formas geométricas
Bridge - jogo inglês de cartas
Canastra - jogo de cartas
Clichê - placa de metal com desenhos destinada à impressão
Curinga - carta que muda de valor dependendo do jogo
Deck – um conjunto de cartas de jogar
Estêncil – técnica usada para pintar um desenho através do corte do papel, onde o papel for recortado será pintado
Hermetismo - estudo e prática da filosofia oculta e da magia associados a escritos atribuídos a hermes trismegisto
Johannes Gutenberg - inventor da forma de impressão com tipos móveis
Linotipo - máquina que compõe e funde linhas de texto em um bloco, que são reunidas com a utilização de um teclado
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Litografia – tipo de gravura envolvendo a técnica de marcas sobre uma matriz de pedra
Mameluco – escravos turcos e egípcios que serviam de soldados
Matriz - superfície onde a gravura é feita para impressão idêntica
Mouros – povo árabe
Naipe - símbolo representativo de cada grupo de cartas de um baralho
Offset – tipo de impressão indireta, pela qual a tinta passa de um cilindro para atingir a superfície
Paciência - jogo de cartas de baralho para uma pessoa
Pergaminho - pele de animal em que se escreviam coisas para conservação no tempo
Pôquer - jogo de cartas norte-americano
Renascentismo – período da historia da europa entre o fim do século XIII e o século XVII
Sarraceno – forma como os cristãos da idade media chamavam os árabes ou muçulmanos
Tipografia - arte de compor e imprimir com tipos
Tipos móveis - peças utilizadas para impressão da tipografia
Xilogravura – tipo de gravura envolvendo a técnica de marcas sobre uma matriz de madeira
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