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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Artes e Letras Curso de Graduao em Desenho e Plstica

Pintura Mural: Capela Cristo Redentor - Caembor

Santa Maria, 1996

Santa Maria, 1996

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Artes e Letras Curso de Graduao em Desenho e Plstica

Pintura Mural: Capela Cristo Redentor - Caembor

Monografia desenvolvida como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Desenho e Plstica, sob orientao do Professor Juan Humberto Torres Amoretti.

Altamir Moreira

Santa Maria, 1996

SumrioIntroduo...............................................................................................................................................4 1A pintura mural na histria da arte...................................................................................................5Paleoltico............................................................................................................................................................ 5 Neoltico .............................................................................................................................................................. 6 Egito .................................................................................................................................................................... 6 Mesopotmia ....................................................................................................................................................... 7 Assrios................................................................................................................................................................ 8 Persas................................................................................................................................................................... 8 Creta .................................................................................................................................................................... 9 Micenas ............................................................................................................................................................... 9 Grcia ................................................................................................................................................................ 10 Etruscos ............................................................................................................................................................. 10 Roma ................................................................................................................................................................. 11 ndia................................................................................................................................................................... 12 China ................................................................................................................................................................. 12 Coria ................................................................................................................................................................ 13 Japo.................................................................................................................................................................. 13 Maias ................................................................................................................................................................. 13 Astecas............................................................................................................................................................... 14 Rapa Nui............................................................................................................................................................ 14 Arte PaleoCrist................................................................................................................................................. 14 Arte Bizantina.................................................................................................................................................... 14 Arte Romnica................................................................................................................................................... 15 Arte Gtica ........................................................................................................................................................ 16 Renascimento..................................................................................................................................................... 16 Maneirismo........................................................................................................................................................ 18 Barroco .............................................................................................................................................................. 18 Rococ............................................................................................................................................................... 19 Neoclssico........................................................................................................................................................ 20 Romantismo....................................................................................................................................................... 20 Modernismo....................................................................................................................................................... 20 Tendncias contemporneas .............................................................................................................................. 24 Arte no Brasil .................................................................................................................................................... 26

2 Conceitos e Mtodos..........................................................................................................................29Um conceito de arte mural................................................................................................................................. 29 As linguagens plsticas da arte mural ................................................................................................................ 30 Tcnicas da pintura mural.................................................................................................................................. 30 Bidimensionalidade e Perspectiva ..................................................................................................................... 32 Classificao quanto mobilidade de suporte ................................................................................................... 33

3 Pintura Mural: Alegoria a Cristo Redentor...................................................................................35Temtica ............................................................................................................................................................ 35 Composio ....................................................................................................................................................... 39 Recuperao da imagem de Cristo Crucificado ................................................................................................. 40 Preparao da parede......................................................................................................................................... 45 Desenho e pintura .............................................................................................................................................. 45 Composio ....................................................................................................................................................... 47 Discusso do resultado plstico ......................................................................................................................... 48

Concluso..............................................................................................................................................49 Bibliografia Utilizada...........................................................................................................................50 Anexos ...................................................................................................................................................51Anexo A Diretivas de Arte Sacra ................................................................................................................... 52 Anexo B - Mdia de horas tcnicas e rendimento dos materiais........................................................................ 53 Anexo C Arquivo Visual ................................................................................................................................ 54

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IntroduoEste trabalho apresenta um resumo histrico sobre as criaes no campo da pintura mural, seguido da descrio das etapas tcnicas de execuo da pintura artstica apresentada ao curso de graduao em desenho e Plstica da UFSM, como trabalho final de graduao, em janeiro de 1997. A parte terica busca destacar fundamentos tcnicos, estilsticos e culturais de antigas realizaes do gnero. Enquanto que a parte terica descreve os fundamentos metodolgicos empregados na realizao do mural da Capela de Cristo Redentor de Caembor, municpio de Nova Palma. A primeira parte do texto voltada historiografia da pintura mural segue a cronologia e observa as principais divises utilizadas na histria da arte. Embora algumas das subdivises sejam omitidas, isso nem sempre decorrente da ausncia de realizaes, mas sim s dificuldades de se obter material bibliogrfico especfico da pintura mural desses perodos. Entendida como suplemento pesquisa prtica, desenvolvida por meio do desenho de projetos, essa pesquisa terica buscou resgatar definies relativas arte mural, e bem como a descrio das tcnicas correntes. Trabalho que, mais tarde, foi complementado pela elaborao de um relatrio tcnico dos servios de adaptao do local de execuo da pintura mural sobre a temtica de Cristo Redentor.

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1A pintura mural na histria da artePaleolticoAs primeiras pinturas murais foram realizadas nas paredes das cavernas que serviam de habitao para o homem primitivo, durante o perodo Paleoltico Superior, h 40.000 anos a.C. Estas manifestaes iniciais surgem por meio de traos simples, como figuras em negativo feitas com p colorido de rochas trituradas e sopradas sobre as mos. A primeira ferramenta artstica provavelmente foi o dedo, embora, mais tarde, haja indcios da utilizao de pincis rudimentares feitos de penas e pelos de animais. Esses recursos tcnicos, mais elaborados, foram usados no momento em que o homem passou a pintar figuras de animais e cenas de caadas. Geralmente, utilizavam carvo vegetal e ossos carbonizados na marcao do contorno dos desenhos e uma mistura xidos minerais e pigmentos de base orgnica no preenchimento das formas. At hoje se questionam os motivos destas pinturas. Serviriam simplesmente para marcar a passagem pela gruta atravs da pintura da mo ou teriam um sentido mgico? Sabese apenas que essas eram feitas em lugares quase inacessveis e geralmente longe do local da caverna onde os vestgios indicam que houve permanncia. Existem milhares de exemplos de pinturas pr-histricas distribudas em centenas de cavernas, dessas as mais importantes so as de Niaux, Font de Game, Lascaux na Frana e Altamira na Espanha. Atualmente Niaux a caverna mais bem estudada. Os pigmentos utilizados nas tintas foram analisados pelo francs Jean Clottes. As tintas que datam de 12.890 anos seguem uma receita precisa. O preto, por exemplo, contm carvo modo e dixido de mangans como em outras cavernas, mas o artista de Niaux incluiu o talco junto ao mineral e sais de potssio para dar consistncia e volume tinta. Lascaux, considerada a Capela Sixtina da pr-histria, com pinturas que datam de 17.000 anos, recentemente ganhou uma concorrente com a descoberta de Chauvet em Vallon Pont d`Arc no sul da Frana, Caverna com mais de 300 imagens, com novidades na representao de animais de caa. Pois alm dos bises presentes em quase todas as cavernas conhecidas, nesse local h tambm a figurao de ursos, panteras, hienas e dezenas de rinocerontes. A primeira idade estimada para as pinturas foi de 20.000 anos, datao que est sendo reexaminada atualmente.

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NeolticoNeste perodo, o homem j no esconde a arte no fundo das cavernas e ela aparece em plena luz, logo na entrada das grutas. So feitas, antes de tudo, para serem vistas. E, em vez de imagens com animais isolados, surgem as primeiras figuras masculinas, em cenas da vida coletiva, em que se esboam as primeiras tentativas de dar movimento figura. Para indicar que um grupo de caadores corre pelo campo perseguindo um animal, o artista desliza o pincel e apura seus traos desenhando as pernas que correm bem abertas com traos mais grossos. Um mural descoberto na Espanha mostra provavelmente uma dana ritual, onde aparecem vrias mulheres de torso nu, com cores que vo do vermelho claro ao marrom com partes em branco e preto. Este mural que pertence, provavelmente, ao mesoltico foi denominado de dana das mulheres de Cogul. Durante este perodo as imagens passaram a se resumir em simples signos. A figura humana j no passa de algumas barras horizontais e verticais. deste desenho sinttico, extremamente simplificado, que mais tarde surge a escrita pictogrfica que no possui um alfabeto, mas representa objeto e comunica idias pelo desenho.

EgitoNo Antigo Egito a arte surge a servio da religio, e era comum que os templos e os interiores de pirmides e mastabas fossem trabalhados com baixos relevos e pinturas. Inicialmente, os artesos limitavam-se a representao do morto diante da mesa de oferendas, mas a partir da IV Dinastia a temtica foi se enriquecendo, lentamente, com cenas de caa e pesca, com a representao de pssaros e da vegetao, alm de atividades relacionadas agricultura e construo de barcos. As pinturas eram menos numerosas que os baixos relevos, e possvel que pelo menos no incio elas decorram de dificuldades materiais do artista em representar as trs dimenses sobre superfcies planas sem os recursos do baixo relevo. Assim o artista buscou uma soluo formal que ficou conhecida como lei da frontalidadeou lei das vises principais que se conservou praticamente durante toda a antiga civilizao egpcia. A manuteno destas normas deve-se principalmente a tradio religiosa e ao fato de que eram criaes artsticas feitas de maneira impessoal e por meio de vrios artistas. Caso em que a existncia de regras

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comuns por certo facilitaria a unidade da obra. A prova de que as dificuldades iniciais da tcnica de representao haviam sido superadas, ocorre a partir do momento em que os animais e a vegetao passam a ser tratados de forma no esquemtica e absolutamente naturalista com a representao tridimensional de pssaros em pleno vo, plantas em exuberante desordem e hipoptamos semi-submersos nas guas do Nilo. As cores eram geralmente utilizadas em superfcies chapadas, preenchendo um desenho traado com pincel de junco embebido em tinta preta. Uma conveno raramente violada determina que o corpo dos homens seja pintado de marrom, o das mulheres de amarelo e de verde o dos mortos, tambm na cor o que no representao humana mais livre possibilitado a expresso da fantasia e da criatividade do artista. At o inicio do Novo Imprio nota-se na pintura de afrescos traos marcantes e enrgicos de carter masculino, e com dimenses capazes de suscitar respeito e temor. Neste perodo, ao contrrio, h rostos e atitudes claramente femininos sem a severidade sagrada das figuras mesmo das mulheres do Antigo Imprio. O movimento das figuras contrasta com a estaticidade tradicional e muitas vezes chega a desobedecer a lei da frontalidade, mas a tcnica conserva a preocupao com a exatido e a clareza legada por geraes anteriores. As paredes preparadas para receber o afresco eram divididas em compartimentos retangulares de acordo com o nmero de cenas previstas, nessa poca surge o quadriculado, tcnica utilizada ainda hoje pra facilitar a reproduo ampliada das figuras planejadas em esboos iniciais. Os egpcios, tambm, foram pioneiros na utilizao da tcnica da encustica na pintura de murais.

MesopotmiaDesde a sua origem a Mesopotmia comportou diversas comunidades independentes. As cidades-estado que da nasceram, tambm tiveram autonomia, leis e soberanos prprios, da a existncia de freqentes guerras, e da arte que surge como meio narrativo de feitos hericos. Nesta civilizao a pintura mural surge com a tcnica da cermica esmaltada, e algumas vezes associada a uma tcnica precursora do mosaico, onde pequenos pedaos de cermica so juntados a outros materiais para dar forma a um desenho. Os artistas conceberam

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um estilo inteiramente novo, com cenas que se desenvolviam horizontalmente, em tiras sucessivas contidas em um espao geometricamente dividido. Esta forma, que lembra as modernas histrias em quadrinhos, demandava uma atitude igualmente nova por parte do espectador, com efeito, era preciso tomar a obra como um todo, apesar de cada quadrinho constituir uma parte da narrao. Essas pinturas datam, aproximadamente, de 2500 a.C. foram desenvolvidas em palcios e templos por artistas que certamente possuam uma tcnica superior ao que lhes era permitido demonstrar, seja por convenes artsticas ou por restries religiosas. Entre 1933 a 1955 novas descobertas arqueolgicas localizaram templos e cemitrios da cidade de Mari na Mesopotmia. Cidade que havia desenvolvido uma arte mural diferente das outras cidades da Mesopotmia, apesar de conservarem algumas convenes como a lei da frontalidade, herana do contato com a civilizao egpcia, seus artistas executaram figuras suavemente coloridas, algumas at mesmo sombreadas. E, nas pinturas murais que se encontra a principal manifestao artstica de Mari.

AssriosNo comeo do segundo milnio, surgia no planalto da Capadcia a civilizao assria. Unidos aos babilnios por interesses econmicos, deles receberam a cultura, mas a cerca de 1100 anos a.C. o povo assrio passou de povo dominado a dominador submetendo toda a mesopotmia a seu domnio. Na pintura e na escultura os temas mais freqentes so as guerras, imagens em que o artista homenageia os soberanos e a crueldade com que tratavam seus antigos dominadores. O mais notvel produto da arte mural assria, porm, foram os baixos relevos.

PersasNo ano de 539 a.C. a Babilnia foi conquistada pelos persas que viviam na costa oriental do golfo prsico. A Assria contribuiu com as figuraes taurinas e os baixos relevos, a Babilnia com a arte mural e a cermica esmaltada, tais emprstimos culturais ganharam uma feio inconfundivelmente Persa. A obra mais conhecida deste povo so Os Imortais, uma srie de arqueiros de propores gigantescas feitos em cermica esmaltada com relevo nas paredes do palcio, revelando uma perfeita harmonia entre relevo e pintura mural. O uso de cores nas vestes dos personagens sugere uma idia de volume at ento no exploradas, caractersticas que sugerem a influncia da civilizao grega.

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CretaEm 1.100 a.C. a pintura mural executada em afresco restringia-se praticamente a decorao dos palcios e manses. Cores vivas e claras eram aplicadas sobre uma camada de estuque branco ainda mido, por meio de tons puros e um contorno gil e ondulante, os pintores de Creta recriam cenas da vida palaciana, procisses rituais, animadas acrobacias, exticas flores, e animais fantsticos. Os mais remotos afrescos datam de 1700 anos a.C. e demonstram a inspirao privilegiada dos cretenses que mistura a realidade natural com motivos puramente imaginrios. Em 1600 a.C. a atividade humana impe-se como tema principal, surge ento a pintura mural que fala do homem e da sua vida. Mesmo desprezando a perspectiva a pintura de Creta apresenta uma obstinada venerao pelo movimento. As figuras apesar de sobrepostas, no h idia de profundidade. Ao representar a figura humana o artista de Creta d uma nfase especial ao rosto, sempre expressivo e rico em detalhes. No h poses estticas, atitudes rgidas ou gestos estereotipados. Ressalvando-se apenas a conveno estabelecida entre os pintores cretenses, que determinava uma colorao diferente para marcar a representao de homens e mulheres, semelhante ao que ocorria no antigo Egito, figuras femininas eram pintadas em tonalidades claras, e as figuras masculinas em tom vermelho escuro. As principais cores utilizadas so: vermelho azul e branco como cores principais; depois o marrom o amarelo e o verde e s vezes o cinza e o rosa. Desconhecendo os matizes emprega freqentemente um trao rubro para isolar entre si as manchas de cor semelhante, sendo que o artista no hesita em pintar um macaco de azul forte se for este o tom que melhor convier ao efeito desejado. Enfim, em Creta encontramos uma arte menos monumental, porm mais viva e mais livre de todas as outras civilizaes antigas do oriente.

MicenasNa arte mural micnica os mesmos temas de Creta aparecem nas peredes dos palcios sem nenhuma inovao especial, a no ser pelo estilo cada vez mais geomtrico. Foi a partir do sculo XVI a.C. que Micenas e Tirinto adotaram o processo de decorao mural dos minicos, chegaram a trazer artistas de Creta para l trabalharem. Algumas diferenas marcam a pintura palaciana micnica, com um carter vivo e movimentado os temas restringem-se a

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grupos de guerreiros, cenas de caa e desfile de carros de guerra, motivos prprios de um povo belicoso e de esprito completamente diferente dos cretenses.

GrciaA pintura mural grega surge no perodo clssico e desde o princpio est diretamente relacionada com a arquitetura. A Polignoto de Tasso se atribuem numerosos afrescos, mas tudo o que resta so poucas pinceladas esmaecidas numa parede de Delfos. A perspectiva passou para a pintura em 440 a.C. com Agatarco artista encarregado de executar os cenrios para as tragdias de squilo e Sfocles, percebendo a relao entre luz, sombra e distncia, escreveu um tratado de perspectiva, como meio de criar iluses de tica no teatro. Anaxgoras e Demcrito analisaram a questo do ngulo cientfico, e no final do sculo V a.C. Apolodoro de Atenas recebeu o apelido de pintor das sombras por adotar o jogo de contrastes de luminosidade em obras destinadas a santurios e tmulos. Nas residncias ricas painis de madeira ornavam paredes, ou interligavam as colunas, surgindo enfim a pintura de cavalete (teoria contestada por alguns historiadores devido a falta de provas concretas). Hoje podemos apenas imaginar o que foi a pintura helenstica atravs de descries em documentos escritos, ou atravs de uma relao com as obras descobertas em Herculano e Pompia, de origem romana, mas inspiradas diretamente em originais gregos.

EtruscosAs tumbas descobertas no norte da Itlia, na regio onde se localizava a Etrria (atual Toscana) constituem-se na principal fonte de estudo da obscura civilizao etrusca. Os murais encontrados nas paredes dos tmulos mais antigos revelam paisagens alegres e coloridas que deveriam acompanhar o morto lembrando os momentos agradveis de sua existncia terrena. No entanto, a riqueza de adornos era privilgio da classe aristocrtica, j que sepulturas comuns desprovidas de ornamentos foram encontradas em grande nmero. Os afrescos mais antigos so de 700 a.C. e denotam certa influncia da pintura dos jnios e dos cretenses nas composies de plantas e animais fantsticos, e nos tons contrastantes que colorem as figuras desenhadas com acentuada estilizao. A cor era precedida de um desenho preparatrio gravado sobre a parede, e chegava ao ponto de definir mesmo os menores detalhes. Ainda hoje estes traos podem ser vistos sob a pintura colorida, em muitos casos so linhas apenas esboadas que mostram as indecises do artista e suas

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inmeras tentativas antes de se decidir por uma forma final. Nos murais mais antigos empregado somente o negro, o branco e o vermelho e s vezes tambm o amarelo, cores tradicionais da pintura mural grega, posteriormente passou-se a empregar tambm o azul e o verde, que misturados produzem uma gama considervel de tonalidades rosas, cinzas, violceas e marrons, que do a pintura etrusca uma riqueza cromtica sem par na antiguidade. Os pintores etruscos conservam tambm a conveno de diferenciar as figuras masculinas das femininas pela cor; os homens so representados em vermelho e as mulheres em branco, segundo uma tradio egpcia tambm difundida em Creta. Porm a pintura no se limitava mera imitao de padres estrangeiros, pelo contrrio revela uma intensa fora criadora que se manifesta atravs do interesse pelas paisagens vivamente coloridas. Num ritmo progressivo, a pintura do sculo seguinte cria formas mais geis e esbeltas, e as cenas adquirem maior movimento e equilbrio. Entre os sculos IV e III a.C. as representaes de atletas, msicos e danarinos so substitudas na decorao dos tmulos por figuras tristes e atormentadas pintadas em tonalidades escuras, sinistras figuras de monstros e demnios presidem a viagem dos mortos para um reino subterrneo. Progressivamente as realizaes artsticas dessa civilizao em declnio perdem suas caractersticas prprias terminando por unir-se arte romana.

RomaTal como na Etrria, o hbito de se construir templos de madeira revestida de terracota acabou por difundir entre os romanos o gosto pela pintura mural, isso por que a terracota depois e aplicada sobre madeira prestava-se muito a decorao em afresco. No interior dos templos, dos hipogeus e mesmo em muros de edifcios os temas mais freqentes eram: combates, desfiles pblicos triunfais e cerimnias pblicas. Mas sem dvida, foi nas casas da Roma Imperial que a pintura mural atingiu pleno desenvolvimento. Os elementos mais originais da pintura romana consistem na representao de tipos populares tais como um afresco que se encontra no Museu Nacional de Npoles, conhecido como: o padeiro e sua mulher. Nas cidades de Herculano e Pompia, cidades soterradas pelas lavas do vulco

Vesvio no ano 79 d.C. e hoje estudadas atravs de escavaes arqueolgicas, encontra-se uma estrita ligao entre a pintura e a arquitetura, sendo possvel reconstruir diferentes estilos e momentos de evoluo. O Primeiro Estilo, ou Estilo de Incrustao servia para enriquecer

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plasticamente as paredes demasiado uniformes, animando-as com uma viva policromia (amarelo, vermelho e preto). Pintava-se a imitao de materiais de revestimento, como mrmores e madeiras. O Segundo Estilo caracteriza-se pela presena de elementos arquitetnicos: colunas, arcos, frisos, pintados emoldurando cenas extradas do repertrio Helenstico. J o Terceiro Estilo define-se por volta do ano 60 d.C., e uma sntese dos anteriores. Possui um apurado estudo de perspectiva, alm de elementos ornamentais como espirais, rosceas e paisagens irreais.

ndiaA pintura mural Indu realizada no sculo V d.C. na dinastia Gupta mostra o quanto este povo sofreu influncias de vrias culturas durante a sua milenar existncia, e como conseguiu expressar-se com liberdade apesar dos cnones. O conjunto mais completo de pinturas o dos mosteiros de Adjanta no Deco, cujos primeiros afrescos so mesmo anteriores era crist. Esses afrescos trazem influncias estrangeiras, influncias da arte helenstica como representao de pequenos cupidos, e arquiteturas leves e irreais como as de Pompia, influncias iranianas no tipo de agrupamento de cortejos ou animais. Estes produzem quase todas as cenas do ciclo budista; a tentao de Buda pelas filhas de Mara ou as meditaes. Os tipos de beleza femininos perpetuam o ideal de beleza que se v em Sanchi, e os mesmos cnones que encontramos aps dois sculos nos afrescos de Sigira no Ceilo e nos afrescos de Sitanavasal. Em um afresco da gruta I executado no sculo VI em Ajanta, atravs de estudos realizados, constatou-se que a tcnica empregada foi a tmpera, sendo que a tcnica consistia numa pintura executada sobre um reboco seco. Foi executado em quatro fases assim determinadas; preparao da superfcie, execuo do esboo do desenho contornado, aplicao de pigmento para dar forma definida ao tema e retoques finais em ouro reavivando as linhas de contorno antes do polimento final. As figuras representam cenas de caadas em uma das vidas prvias de Buda. Vigor e movimento esto presentes na representao, mostrando o gosto do artista indiano pela vida animal, caractersticas dos relevos do vale dos Indus no III milnio a.C.

ChinaOs primeiros vestgios de pintura mural chinesa so encontrados em escavaes executadas em Honan e Shantung, e fazem parte da decorao de tumbas. O tema consiste em

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delicadas figuras humanas destacadas sobre um fundo neutro. Na poca de Han no sculo III, tambm executaram pinturas sobre camadas de argila algumas se encontram no Museu de Belas Artes de Boston.

CoriaH uma profunda influncia chinesa na arte coreana, devido aos vnculos histricos, entre essas duas culturas. Um exemplo dessa assimilao dado pelas pinturas executadas no sculo V em tumbas descobertas nas proximidades de T`ung Tou representando cenas da vida cotidiana, as figuras de caadores, cavaleiros, monges e danarinas revelam nitidamente a influncia do estilo Han.

JapoNo Japo a pintura mural surge depois da pintura em sedas durante o perodo Heian, quando a capital Nara erigida ao norte de Yamato em 794 d.C. Isto marca o aparecimento das primeiras manifestaes do gnio nacional, mas traz consigo os sinais da forte influncia chinesa. Mas nesse perodo que a pintura geralmente executada em murais alcana seus melhores nveis, com traos finos, muitas nuances de cor e magnficos efeitos de relevo. Os personagens so mostrados no mais frontalmente, mas de lado e o jogo de sombras garante o movimento no conjunto.

MaiasNa Amrica Central, entre as mais importantes pinturas murais que restaram da civilizao Maia esto os afrescos de Uaxactum, anteriores a 633 d.C., e os do templo da pintura em Bonampak, Mxico, do ano 800 d.C., que, em trs compartimentos, mostram os grandes chefes acompanhados de portadores de mscaras e para-sis, assistentes envoltos em peles de jaguar ou cobertos de placas de jade. Mais alm, uma batalha com guerreiros de capacetes enormes semelhantes a cabeas de animais e por fim uma escadaria onde se assiste um sacrifcio. provvel que estes afrescos comemorassem uma vitria. Em todas essas obras o desenho linear muito seguro e a unidade das cores chapadas, azul, vermelho, amarelo e verde, provam uma longa experincia no campo da pintura mural.

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AstecasOs principais afrescos que restaram desta cultura, foram tambm reconhecidos como as primeiras pinturas da Amrica Pr-Espanhola, datam do sculo II e VI d.C. e foram encontradas no templo de Teotihuacn no Mxico.

Rapa NuiNa Ilha de Pscoa foram encontradas pinturas feitas nas paredes subterrneas de construes que segundo os historiadores serviam de esconderijo para algumas das tribos que viviam em constantes guerras. Os desenhos so feitos na rocha com corais brancos e argilas coloridas, e representam um dos motivos de culto da civilizao Rapa Nui: o homem-pssaro. Este povo que habitou esta ilha at o sculo XV tambm deixou vrias mensagens escritas em um alfabeto pictogrfico ainda no decifrado.

Arte PaleoCristNo princpio do cristianismo em Roma, as catacumbas que se constituam numa srie de galerias e nichos subterrneos, eram utilizadas para sepultamentos, e, tambm, como refgio para os cristos que eram perseguidos pelos romanos. Nestas paredes, surgiram vrias pinturas, com temtica era simples e, de incio, puramente simblica: como as representaes de ncoras, peixes, cestos cheios de pes e videiras. Mais tarde surgiram cenas do Antigo e Novo Testamento, representando de forma to esquemtica, que s os fiis certamente poderiam reconhecer o assunto. Tambm surgiu posteriormente a representao de fatos da vida diria, tais como pedreiros, comerciantes e coveiros que se sentiam em casa nos labirintos que tinham escavado. Acredita-se, no entanto, que as cenas religiosas encontradas nas paredes das catacumbas ainda no chegavam a ser um mtodo de instruo para aqueles que no podiam ler a Bblia, como mais tarde os afrescos cristos o seriam.

Arte BizantinaA arte maior deste perodo foi o mosaico, mesmo assim os afrescos continuaram sendo executados e tratavam dos mesmos assuntos. Assim como existem mosaicistas que tentaram esconder o fato de estarem justapondo teselas, tambm h pintores muralistas que cobriam suas paredes com falsos mosaicos, como se a escolha do mtodo afresco estivesse simplesmente ligada ao desejo de praticidade e economia. No afresco tambm ocorre a

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simultaneidade de acontecimentos, em tempos diversos. Um bom exemplo o mural: Agonia no jardim, com uma composio tradicional mostrando Cristo trs vezes; duas vezes rezando e uma terceira vez vindo acordar os apstolos. As construes ocidentais do sculo V como aquelas do sculo IX tinham sido decoradas em cores por afrescos e mosaicos, infelizmente os afrescos sofreram mais a ao do tempo e os poucos fragmentos autnticos que restam tornaram-se, por essa razo, muito mais valiosos. Nestes murais transparece um gosto pelo movimento e pelo grande nmero de figuras, as figuras individuais perdem seu peso e contrariamente ao que freqentemente acontece na arte bizantina, h uma liberdade maior na representao de atitudes e de traos faciais. O afresco econmico substituiu cada vez mais o mosaico nos sculos XII a XIV. Millet distinguiu duas grandes escolas com caractersticas prprias dentro da arte bizantina. A Escola Macednica reinou que no Monte Athos, estendeu-se a Srvia e a Rssia, atingindo o apogeu no sculo XIV, com influncias da pintura da Capadcia da qual copia os frisos, certos temas iconogrficos e carter dramtico, e a Escola talo-Cretense, que teve origem em Mistra e atingiu o auge no sculo XVI, caracterizando-se pela elegncia, cores vivas e tcnica livre. As influncias bizantinas tambm so encontradas em Cividale na Itlia, mas muito mais ao norte entre Milo e Tirol mais uma vez encontram-se tradies romanas.

Arte RomnicaApesar do ambiente escuro reinante no interior das igrejas crists, de arquitetura romnica sabe-se que nestes locais eram executadas pinturas policrmicas, alguns edifcios datando de aproximadamente 1200 d.C. ainda podem nos dar uma idia dessa decorao executada outrora sobre um reboco que cobria pedras de alvenaria. Um exemplo o Nrtex de Santo Isidoro em Leo na Espanha, alm de Saint Savin-sur-Gartempe na Franca, que conservam em parte esta ornamentao. A pintura mural Romnica sucednea do mosaico, e o programa dos afrescos muitas vezes idntico. Em Berz-la-Ville, Frana, em uma capela baixa datando de 1100 d.C. encontram-se pinturas com uma iconografia nitidamente oriental. A tcnica, segundo Mercier, combina tons foscos de aguada, obtida pela aplicao de cores a cola sobre reboco seco, com tons brilhantes formados por uma mistura de cera passada sobre os tons foscos. No se trata, pois, de um afresco.

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No comeo do sculo XII, os decoradores da Frana e Espanha usavam cobrir o reboco com gua de cal. Sobre esta camada ainda fresca, aplicavam as cores que se misturavam a cal como no afresco, mas sem fazer corpo com a parede, de modo que a pelcula s vezes se descama, este processo tinha a vantagem de ser rpido, e de permitir retoques que davam uma grande transparncia as cores. Os tons salientam-se sobre um fundo claro. As cores terrosas em particular so as mais utilizadas.

Arte GticaA arquitetura romnica oferecia vastas superfcies de murais, porm a arquitetura gtica com o emprego de abbadas ogivais, onde subsiste apenas a armao em pedras o afresco no pode mais estender-se, a no ser sob o vu das abbadas. Sob influncia do vitral, atravs do qual penetra a luz do sol modificando o jogo de matizes, a paleta de cores se torna mais viva e o artista utiliza tambm o ouro que cintila. Outra linguagem mural bastante desenvolvida nesta poca, alm da pintura e do vitral, foi o relevo principalmente nos tmpanos das igrejas medievais. Por volta de 1300 foram criados os afrescos de Assis, e Giotto foi incumbido de pintar a capela dos Scrovegni. Uma caracterstica destes afrescos, que a cena se desenvolve num espao tridimensional, apresentando vrios planos sucessivos, onde cada personagem recorta seu prprio lugar no espao compondo com seu corpo e colorido particular. Esses afrescos representam, portanto, uma nova concepo que conquista as trs dimenses do mundo visvel, e finalmente utiliza o efeito plstico das cores passando a expressar emoes.

RenascimentoEste perodo marca o incio do reinado da pintura de cavalete e o progressivo abandono da pintura mural. A principal contribuio deste perodo, alm da perfeio tcnica nas representaes naturalistas, foi o aperfeioamento e a difuso dos estudos de perspectiva. Alberti baseado em conceitos pitagricos aplicados a msica, tais como os intervalos musicais agradveis ao ouvido, a oitava, a quinta, e a quarta que correspondem respectivamente a diviso de uma corda em dois, trs ou em quatro; preceituou que as reas curtas de um quadro deveriam ser quadradas ou obedecer a relao 2 sobre 3, ou 3 sobre 4, se uma das dimenses fosse mais longa devia-se tomar duas vezes uma dessas propores que podiam ser combinadas ou multiplicadas nunca ultrapassando porm um nmero considerado

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mgico para a perfeio formal, o 27, j que os antigos haviam observado que as leis matemticas da msica s valem para pequenos nmeros. Outro importante aspecto que influenciou profundamente a pintura tanto de cavalete quanto mural foi o escalonamento de figuras em relao a um nico ponto de fuga. De tal forma que todas elas sejam definidas a partir de distncias precisamente definidas a fim de criar a iluso de profundidade, os objetos parecem estar, portanto, dispostos numa pirmide visual, sendo a base formada pela superfcie da tela, e o vrtice formado pelo ponto de fuga localizado no meio do quadro. Na verdade nenhum artista seguiu a risca os preceitos de Alberti nem mesmo o seu melhor discpulo: Piero Della Francesca. Ao lado da perspectiva linear e do espao unificado, ainda subsistem tcnicas tradicionais nas primeiras geraes do renascimento, e as idias de Alberti representam apenas um sistema figurativo entre outros j existentes. Entretanto, transformou-se em seguida numa viso monopolizadora que exclui todas as demais, passando a ser considerada a nica capaz de levar o artista a reproduzir corretamente as medidas do mundo real. Somente na arte moderna com a crise da geometria euclidiana que foi possvel a redescoberta de que o espao cotidiano no nem homogneo nem geomtrico e a perspectiva apenas um sistema entre tantos cdigos representativos. A seguir ser apresentada a descrio de uma pintura mural caracterstica deste perodo feita por um dos mais representativos artistas daquela poca. Leonardo da Vinci: (*15/04/1452 +02/05/1519) Destacou-se em vrias reas do conhecimento humano. No que se refere pintura mural seu trabalho mais conhecido a Ceia. No qual Leonardo retrata o momento em que Cristo anuncia haver um traidor entre os presentes. A inteno dramtica evidente na prpria escolha da distribuio dos personagens, na fixao da atitude de cada um, espanto, suspeita, indiferena, dvida, indiferena, amor. A ceia custou trs anos de trabalho de 1495 a 1497. s vezes, Leonardo passava vrios dias sem pegar o pincel, apenas desenhando e redesenhando as figuras da ceia, h uma enorme srie de estudos no s do conjunto, como de cada um dos apstolos inclusive despidos para melhor estudar os movimentos e a atitude de cada um. As duas figuras centrais merecem um longo estudo e uma incansvel busca de modelos dignos. Os crticos discutem at hoje se Leonardo realmente terminou ou no o trabalho. Devido s ms condies do local, em pouco tempo as cores comearam a desbotar e as

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paredes a descascar devido umidade que atacava a tmpera aplicada diretamente sobre o muro. Em 1498 Luca Paciolli um amigo de Leonardo escreve o maravilhoso trabalho no est acabado, mas uma obra-prima numa localizao infeliz. A Ceia foi pintada numa parede do convento de Santa Maria del Grazie em Milo, com mais de 9.00 metros de largura e 4.20 metros de altura. Os padres chegaram a abrir uma porta no mural, e sucessivas tentativas de restaurao comprometem ainda mais a obra que escapou por sorte de um bombardeio na Segunda Guerra Mundial. Sendo uma das poucas paredes que restaram intactas.

ManeirismoUma das caractersticas, mais notveis, do Maneirismo e a destruio da unidade do espao. No s aparecem representados vrios episdios no interior de um mesmo espao geometricamente definido, como tambm desrespeitado o prprio princpio da pirmide visual de Alberti. As figuras nem sempre guardam entre si a relao geomtrica que cria a iluso de profundidade. J que a lei da proporcionalidade entre as figuras perde seu carter necessrio, tambm desaparece a relao clssica entre personagens principais e secundrios. O Maneirismo anti-clssico no apenas na obra de El Greco, como tambm nas ltimas obras de Michelangelo onde encontramos uma ruptura entre a forma e o contedo. E, em algumas obras do renascimento entre os sculos XV e XVI, como Rafael que em sua obra Transfigurao j revela certa tendncia maneirista na figura de Cristo. Certa vez, Michelangelo deu a seu aluno de Siena o seguinte conselho:construa sempre uma figura piramidal, serpenteante, multiplique-a duas trs vezes, nesse processo que reside a meu ver o segredo da pintura, por quanto a maior graa e elegncia de uma figura mostra-la em movimento, e para representa-la no h forma mais apropriada que o fogo, pois este segundo os filsofos o elemento mais ativo de todos.

Assim, exemplifica-se como os artistas e crticos posteriores ou contemporneos atribuem a Michelangelo a criao de uma linguagem artstica renovadora, na qual o movimento crepitante do fogo substitui a proporo de ouro.

BarrocoOs pintores maneiristas, ao tratarem os afrescos dos tetos das igrejas, tinham a possibilidade de utilizar uma escala grande ou pequena demais para a altura do recinto. Enchendo, algumas vezes, tetos baixos com figuras enormes e tetos altos com figuras diminutas. A caracterstica da pintura dos tetos Barrocos que devido a estudos mais

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apurados, estes esto opticamente na proporo certa. Outra caracterstica dos afrescos deste perodo foi o ilusionismo, longe de ser uma inveno do perodo Barroco, j que como foi visto os romanos tambm utilizaram no incio da era crist, nem todas as pinturas Barrocas so ilusionsticas, mas neste perodo esse recurso tornou-se mais comuns e convincentes que em qualquer outra poca. A iluso de tica e a cpia do real sem seleo ou idealizao j no era considerada suficiente na Alta Renascena, contudo a representao viva e convincente da natureza ideal era considerada uma das tarefas primordiais e a criao de uma imagem semelhante vida real a partir de materiais inanimados era altamente apreciada. Como disse mais tarde o pintor Neoclssico Poussin: A pintura uma imitao feita com linhas e cores de tudo o que existe sobre o sol essa foi a definio clssica de pintura no Barroco e assim continuou pra os crticos conservadores at o sculo XIX. O primeiro pintor a desenvolver tcnicas do verdadeiro Barroco foi Rubens e sua descoberta foi o princpio de construo de composies em torno de uma linha espiral dinmica, essa a linha de fora que atrai para si todas as formas. A pintura passa a ser essencialmente tridimensional, podendo comear embaixo no primeiro plano da composio, no centro ou em um dos lados avanando para cima e para dentro, numa espiral, diagonal ou zigue-zague. A sua revolucionria conseqncia foi proporcionar uma vitalidade sem precedentes a todo o plano da pintura tanto de cavalete como mural, que agora era concebido em termos dinmicos e no esttico. Alm disso, um movimento intencional que conduz a um clmax. Forma que se diferencia do movimento disperso, ora mais prximo ou mais distante, caracterstico dos afrescos maneiristas que possuem grande vitalidade, mas no conduzem a parte alguma.

RococFoi em edifcios reais, de cerca de 1700, perto de Versalhes na Espanha que se produziram os primeiros exemplos do no estilo. Teve origem na inteno de fugir da atmosfera rigidamente formal dos aposentos de estado criados em Versalhes na dcada de 1670. O plano de decorao previa o teto pintado com figuras clssicas, o rei, porm, no gostou da idia por achar que os temas escolhidos eram excessivamente srios. Os desenhos que sobreviveram ao palcio so de autoria de Claude Audram, e mostram um teto coberto de desenhos e arabescos quase caligrficos, com cenas de ces de caa, pssaros, e figuras de

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donzelas suspensas entre ramos. Sendo um estilo sem qualidades espaciais no se adaptava bem ao tratamento de exteriores ou igrejas. Tambm na Frana foi essencialmente um estilo de decorao de superfcie e no de arquitetura tridimensional.

NeoclssicoA mesma rigidez formal presente nas pinturas de cavalete desse perodo transportadas para a pintura mural, em afrescos que preservam a definio da linha e as passagens suaves de luz e sombra.A temtica geralmente histrica ou mitolgica ambientadas em cenrios com construes clssicas ao fundo a nica diferena fica por conta da transparncia e leveza das cores aplicadas aos afrescos em comparao com a pintura de cavalete. Alguns artistas como Matia Petri faziam estudos em leo para futura execuo de afresco.

RomantismoAps a desiluso com a Revoluo Francesa em 1789, surge um perodo onde a filosofia, a msica e a pintura caracterizam-se por uma profunda concepo de comunidade. Essa vivncia comunitria reflete a nostalgia da Idade Mdia, tpica do Romantismo em todo o mundo ocidental, revivendo o esprito religioso do homem europeu. Sob influncia dessa religiosidade surge a pintura mural mais caracterstica desse perodo: atravs de um grupo de artistas que vestem tnicas como Jesus e levam uma vida comunitria regida por princpios religiosos e estticos, este grupo de artistas alemes conhecidos por Nazarenos, tem no pintor medieval Perugino como expresso mxima dos princpios artsticos que perseguem. Em Roma sob proteo do cnsul de seu pas pintam a histria de Jos e, sempre em grupo, executam uma pintura coletiva como nos ateliers da Idade Mdia. Realizam, tambm, uma srie de afrescos nos quais se evidencia a preocupao pelos contornos marcados por linhas rgidas em oposio da esfumao do claro escuro, caractersticos da pintura Neoclssica de cujos conceitos o grupo se afasta. Buscam, em oposio, os temas sociais e filosficos, impondo o valor espiritual e religioso na arte, renascendo assim a inspirao artstica independente da mera exaltao de acontecimentos histricos.

ModernismoNo final do sculo XIX, com o declnio da pintura mural de carter extremamente decorativo, ressurge a pintura mural propriamente dita, em funo do lugar e como arte aplicada a arquitetura. Os murais do panteo de Paris, os afrescos da trindade de Boston,

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assim como os da Feira Mundial de Chicago (1893) so representativos deste novo renascer da pintura mural. No sculo XX, com Picasso e seu famoso mural Guernica, na Bauhaus com Kandinsky e Schlemer, a arte mural recupera sua importncia no ensino e tem incio uma tentativa de integrao nas artes. Na Frana, com Fernand Lger que discute as possibilidades do muralismo como esttica, e na Holanda com Mondrian que executa uma pintura aplicvel ao espao arquitetnico. A conscincia mural se espalha e os pintores voltam ao muro com a arte Moderna. No Brasil, Portinari e Di Cavalcanti so expoentes dessa tendncia. Cndido Portinari: sem dvida um dos grandes pintores modernos de destaque no Brasil e no exterior. Sua temtica centrava-se no homem, nos problemas sociais e na tentativa de exprimir a terra brasileira. Aps um longo e prolfico perodo de pintura em suportes tradicionais, que Portinari decide estimular sua tendncia muralista, sentindo que sua vocao est nas grandes obras murais e no na pintura de cavalete. No panorama da arte latino-americana da dcada de 30, Portinari o nico artista brasileiro que demonstra ao lado dos mexicanos Rivera, Orozco e Siqueiros, do peruano Sabogale do colombiano Obregn, a preocupao e interesse pelo destino dos povos do continente sul-americano. Como esses pintores da Amrica espanhola, Portinari busca nas tradies populares a inspirao para sua criatividade, com um objetivo de tomada de conscincia nacional, tal preocupao encontra no muralismo sua forma de expresso mais caracterstica. O realismo de Portinari tende para o monumental, os motivos da exaltao do trabalho braal e da exaltao da relao homem-terra, ganham primazia em suas obras. Em 1935 foi convidado para ensinar pintura mural no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal, em 1937 o governo norte americano o incumbe de pintar os murais para a Biblioteca do Congresso de Washington e foi acolhido com entusiasmo pelos crticos nortes americanos e europeus. Realizou a decorao mural da Igreja de Pampulha, onde utilizou tambm a pintura mural pela tcnica da cermica, sendo que a Igreja recusou a consagrao do templo durante anos por motivos polticos e objees estticas. A partir da dcada de 50 artistas mais jovens comeam a ach-lo superado, por que no fazia pinturas abstratas. Ressentido defendia-se:

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No sou apenas eu que estou passando toda a pintura. no culpa de ningum, acontece que a pintura no suportar a presso dos meios de comunicao mais diretos, simples e acessveis, um artista uma pessoa dotada de uma sensibilidade intensa, e uma necessidade igualmente intensa de exprimir-se. um artista dispe hoje de meios de comunicao mais eficientes e sofisticados. Em parte a culpa est na alienao do artista frente a problemtica do homem, mas por outro lado os abstracionistas impulsionam o processo de decadncia da pintura porqu? porque o abstrato na pintura carece de sentido, uma comunicao deficiente.

O abstracionismo ps em crise todo o seu mundo esttico, mas Portinari preferiu permanecer fiel ao seu estilo. Outros murais importantes realizados por Portinari foram Tiradentes em Minas Gerais, e os murais Guerra e Paz para a Organizao das Naes Unidas. A herana das tcnicas europias assimilada tambm pelos artistas mexicanos: Diego Rivera, Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros cujo resumo das principais realizaes dado a seguir: David Alfaro Siqueiros foi um dos maiores pintores do Mxico, junto com Rivera e Orozco criou o muralismo Mexicano em 1922. O movimento Muralista renega a pintura de cavalete, de consumo individual e prope uma arte monumental e herica, uma arte para todos. E arte pblica segundo Siqueiros, Rivera e Orozco, era sinnima de arte mural. As pinturas eram feitas inicialmente em velhos prdios coloniais, mais tarde preferiram os grandes edifcios modernos, nos quais era possvel planejar a integrao entre mural e arquitetura. Sua arte fundia aquilo que aprendeu na Europa: a pintura mural italiana, o cubismo e outras tendncias da poca com as tradies da arte pr-colombiana dando vida a imagens portentosas. Durante um perodo de asilo poltico nos EUA, trabalhando junto com um grupo de jovens artistas de Los Angeles, descobriu as tintas a base de Nitrocelulose produzida pela Dupont sob a marca Duco, entre estas ele preferiu a Piroxilina, que se tornou matria de sua nova pintura mural. Descobriu tambm a pistola a ar comprimido e o silicone como substituto para o verniz copal, resina que at ento utilizara para revestimento de murais expostos as imtempries. Dizia que: os antigos eram obrigados a pintar murais em lugares recnditos, no interior de igrejas e castelos, mas hoje existem novas tintas to resistentes quanto a dos automveis..., justificando com isto seu entusiasmo pelos novos materiais resultantes da tecnologia, e pelo campo promissor a ser explorado. Este raciocnio levou Siqueiros a pesquisar as propriedades dos novos colorantes de nitrocelulose adaptando-os as

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necesidades do moderno afresco sobre cimento, pois o afresco clssico se fazia em paredes cobertas de argamassa e cal. Sua obsesso por tintas foi tamanha que ele prprio passou a fabric-las, trabalhando s vezes com um grupo de qumicos. Para Siqueiros as superfcies curvas, convexas e cncovas dinamizavam as figuras, passou ento a explorar o projetor eltrico de slides, descobrindo duas vantagens; a ampliao e meios de deformao convenientes em superfcies irregulares, criando iluso de perspectiva. Siqueiros durante sua vida manteve sempre a militncia social e poltica, com uma preocupao, sobretudo, humana a qual transparece na integrao com seu trabalho artstico. Sobre os princpios de sua pintura soube aplicar a tecnologia da era industrial, como resultado de sua inquietude experimentalista e entusiasmo de criador. Jos Clemente Orozco (1883 - 1948), natural de Guzmn, Mxico, foi aluno do Dr. Atl que tinha grande admirao por Michelngelo, e desenhava gigantes de msculos fortes , como os condenados da Capela Sixtina, e por intermdio dele Michelngelo e Masaccio influenciaram o futuro muralismo mexicano do qual Orozco seria um dos trs grandes. Junto com Rivera e Siqueiros fundou o Sindicato dos artistas, que em uma memorvel campanha obtem contratos para os murais de grandes edifcios pblicos. Entre os temas de seus murais destacam-se os mitolgicos, como Prometeu e o herico, onde atravs de cadveres baionetas, e a figura do rebelde que afronta o destino, Orozco sente que embora a revoluo no tivesse cumprido suas promessas, dera dignidade aos oprimidos. Assim como Siqueiros, Orozco tinha paixo por inovaes tcnicas, uma de suas inovaes foi a insero de metais com silicnio em seus murais. Diego Rivera (1886 -1957) nasceu em Guanajuato, Mxico, estudou na Europa e recebeu influncias do impressionismo, cubismo e expressionismo. Para ele a linguagem de sua arte tinha importncia fundamental, e achou que no bastava a militncia poltica, a fundao do Sindicato dos artistas com Siqueiros e Orozco e o ingresso no partido comunista para se sentir mais perto de suas metas, dizia:Se pretendo contribuir para que meu pas tenha uma fisionomia artstica prpria, se pretendo que minha pintura no s descreva o povo, mas dialogue com ele, para que ele se reconhea e se encontre nos meus quadros, tenho que redefinir meu estilo.

Redefinir significava abandonar o cubismo, o impressionismo e, sobretudo, qualquer veleidade abstrata, significava produzir obras que no terminassem como propriedade de uma

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pessoa, de algum abastado colecionador, produzir obras que pudessem ser vistas a qualquer momento, no em museus ou instituies as quais o povo nunca teve acesso. Da nasceu a idia dos murais. A sua arte exprime quanto ao contedo dois aspectos bsicos: confere a massa annima da populao indgena o direito de ser protagonista da arte de seu pas, e revive o orgulho pelo grandioso passado Asteca. Ao morrer seu testamento mandava doar ao povo mexicano sua valiosssima coleo pessoal de obras de arte, para que a arte fosse de todos. Ao longo de sua vida criou aproximadamente dois mil quadros, cinco mil desenhos e cerca de quatro mil metros de pintura mural. Juntos: Siqueiros, Orozco e Rivera, sob encargo do governo revolucionrio, pintaram uma srie de murais em edifcios pblicos, que se constituem atualmente em lugares de peregrinao para profissionais e aficcionados pela pintura mural. Vrios outros artistas modernistas tambm desenvolveram experincias em pintura mural entre estes: Kandinsky, que em 1931 criou pinturas murais para interiores em cermica, com motivos abstratos geomtricos, e Van Doesburg, que fez murais com motivos puramente geomtricos, que passavam de uma parede para outra inclusive o teto, numa experincia denominada pintura no espao. Matisse realizou na capela de Vence desde o projeto arquitetnico at os vitrais e trabalho mural, num esforo documentado da arte moderna de integrar o mural e a arquitetura. Lger realizou as primeiras pinturas murais com abstraes no figurativas na arte mural moderna. Sobre a pintura de murais encomendados, e pintados por Lger, Peciar afirma que: O encargo no diminui nem limita a liberdade do artista, pelo contrrio estimula a criatividade fazendo o enfrentar uma responsabilidade social.

Tendncias contemporneasA pintura mural urbana tambm ganhou expanso nos Estados Unidos. Na dcada de 70, temos duas tendncias na pintura mural americana, a primeira chamada pela crtica de cosmetic art, encontrada ao sul de Manhattan. So pinturas de tendncia abstrata, com excees como Mel Perasky, de uma inspirao mais figurativa, mesmo que bastante estilizada. interessante observar que estas pinturas so executadas somente em prdios velhos, no ocorrendo o mesmo com as novas construes, de modo que essas pinturas exercem o papel de maquiagem embelezando as construes antigas.

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Outra tendncia mais ideolgica, figurativa, com uma funo de protesto e crtica social, geralmente realizada nos bairros negros americanos. So realizados pela comunidade ou por artistas auxiliados pela comunidade, como, por exemplo, James Brown, cuja temtica aborda o problema das drogas e o perigo que ela representa para a minoria negra desejosa de conquistar a igualdade racial. Encontram-se experincias interessantes, com relao ao projeto de mural, como William Walker cuja temtica surge a partir de conversas com o pblico durante o perodo livre artstico, e com a obra j em curso de realizao, realizando murais tambm em escolas freqentadas por minorias negras. Na Frana, a pintura mural tambm recebeu um novo incentivo na dcada de 70. Incentivados por leis como a que destina um por cento da taxa de construo, para obras de decorao, ou atravs de concursos pblicos para criao de murais, os muralistas passaram a ocupar muros que antes serviam apenas para publicidade, apesar de leis rgidas com relao a decorao de fachadas principais e quebra de harmonia. Entre vrios pintores significativos temos Yahiel Rabinowittz que abandonou a pintura de cavalete para se consagrar na pintura mural de tendncia figurativa. Para ele era importante o ambiente, os pontos de vista do espectador e o estudo da exposio solar que o mural seria submetido no curso do dia, o que altera as cores e no pode ser previsto em nenhuma maquete. O dilogo da pintura mural com o pblico, para ele a preocupao maior do artista, sendo que para isto na inaugurao de um painel, distribuiu gratuitamente a todos os moradores prximos, uma reproduo litogrfica com uma composio inspirada no tema central do mural e fez uma pesquisa de opinio com relao a aceitao da obra. Neste mesmo perodo outro muralista Franois Morellet, que utilizou composio e cores com referncia as suas criaes dentro da arte cintica, causou polmica e criou problemas com a prefeitura de Paris, devido crtica recebida com relao s cores berrantes utilizadas em um grande mural composto com um grande nmero de horizontais e verticais em azul sobre fundo vermelho. Outro artista de destaque foi Tamaz Zanko, com cores mais discretas, estudou afresco em Budapeste, interessou-se pela pintura ilusionstica, o trompe l`oeil que possibilita enganar os olhos atravs da representao realstica de objetos ou induzem a uma ambigidade.

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Arte no BrasilTambm no Brasil podem ser encontrados exemplos de pinturas murais pr-histricas. Hoje se pode dizer que com exceo do litoral no h regio do territrio brasileiro que no apresente manifestaes rupestres, as reas de maior concentrao atualmente so Vrzea Grande no Piau e Lagoa Santa em Minas Gerais embora estas atribuies resultem provavelmente do fato que tais reas foram objeto de estudo e exploraes mais intensivas e sistemticas. As pinturas so mais freqentes que as gravuras, mas, ambas podem ser encontradas associadas, e as tentativas de demonstrar maior antigidade para uma ou para outra tcnica no so convincentes. As pinturas foram obtidas em sua maioria com pigmentos minerais, em especial o oxido de ferro para o vermelho, que a cor mais difundida, em segundo lugar vem a presena de pigmentos vegetais, como urucum, genipapo e carvo. H casos de reocupao de um mesmo local, ocorrendo pinturas e gravuras de faixas cronolgicas distintas, que dificultam uma datao mais precisa. A primeira correlao segura que se pde estabelecer foi em Lapa Vermelha MG, onde se obteve a data de 4.000 anos. No caso do Piau, possvel associar as manifestaes rupestres a reas de ocupao por grupo de caadores coletores, o chamado estilo Vrzea Grande. Este pode ser datado em 12.200 anos antes do presente, e constitui uma das mais antigas manifestaes artsticas da Amrica, mas a problemtica organizao cronolgica do material impediu at agora a formulao de generalizaes relativas distribuio, origem, evoluo de temas, tcnicas, estilos e tradies. Na primeira fase da pintura colonial no Brasil, particularmente na obra dos jesutas, so comuns os painis tendo ao centro um medalho representando uma personalidade da companhia. O mais notvel conjunto o da sacristia da Catedral da Bahia atribuda ao irmo Domingos Rodrigues nascido em Portugal, em meio a esses complexos desenhos so vistos da fauna brasileira, o que revela um pintor sensvel ao meio em que trabalhou, as figuras centrais so cpias de gravuras da poca. Na Igreja Nossa Senhora do Emb, SP, edificada em fins do sculo XVII h uma curiosidade: aparecem abacaxis nas molduras dos painis no cruzamento das vigas, como um autntico brasileirismo, sendo que durante todo o longo perodo colonial, vamos encontrar, essa soluo nos forros, de pintura sobre madeira do forro emoldurada pela estrutura. A partir de 1737 a pintura da nave da igreja da Ordem Terceira da Penitncia do RJ,

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abre um novo perodo na histria da pintura mural no Brasil, so pinturas ilusionsticas sem as divises em molduras do perodo anterior, so pinturas executadas sobre tbuas corridas, representando cenas celestiais como: apoteoses de santos, gnero que alcanar maior expresso na pintura barroca no Brasil. Com a vinda da Misso Francesa e a criao da Academia Imperial de Belas Artes, em 1816, ocorre uma srie de transformaes no nvel artstico brasileiro, principalmente na arquitetura de prdios pblicos e da classe mais abastada, com isso a decorao mural foi procurada atravs de pinturas cenogrficas, naturezas-mortas e ornamentos pompeanos. Uma obra interessante desse perodo a Coroao de D. Pedro I, de 1840, e que pertence ao Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, as cores so claras quase como as de um afresco, porm esta obra realizada por Arajo Porto Alegre ficou inacabada. No incio do sculo as artes brasileiras sofreram diversas influncias europias, as mais marcantes foram o romantismo e o realismo, mas no h exemplos significativos na pintura mural, sendo que mesmo no final do sculo XIX na decorao da Igreja da candelria, Joo Severino Costa prossegue no academismo. No Teatro Municipal do RJ de arquitetura neoclssica, encontra-se no interior, um dos melhores exemplos do ecletismo caracterstico na passagem do sculo, atravs de murais executados pela tcnica do mosaico e da pintura ou cermica esmaltada. No espao Assrio destacam-se murais de tijolos esmaltados com relevos, fabricados na Frana, sendo que a construo apresenta tambm outras linguagens murais como vitrais alemes e mosaicos venezianos. Nos anos que precedem a Segunda Guerra mundial, assinala-se no Brasil um crescente nmero de adeptos da arte moderna, que oficialmente iniciara na semana de 22. Havia o crescente interesse de se buscar uma identidade nacional para a arte que aqui se produzia, esta propenso ligava-se a todo um amplo movimento de idias, que abrangeu a Amrica, a partir do movimento muralista mexicano que eclodiu em seguida a Revoluo de 1911 no Mxico. Neste contexto que contribuiu para afirmar o modernismo no pas, Cndido Portinari daria grande impulso a padres de arte interessados nas contingncias populares. Realizou diversas pinturas murais, entre eles: Tiradentes no colgio de Cataguases em Minas Gerais, a pintura sobre azulejos para a Igreja de Pampulha em MG, o mural para a Biblioteca de Washington, e os painis guerra e paz para a ONU. Na arte mural brasileira,

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apenas em Di Cavalcanti H outra expresso similar no pas sem que se possa confront-lo a qualidade constante e o vasto sentido social da contribuio portinariana.

2 Conceitos e MtodosUm conceito de arte muralContar a histria da pintura mural pelo menos at o Renascimento equivale a narrar a prpria histria da pintura, porque mesmo que se especule a possibilidade dos gregos j terem praticado a pintura de cavalete, no h provas materiais disso, e para a histria da arte h quase consenso de que a pintura de cavalete surge a partir do Renascimento. A partir da a pintura mural passa a ocupar um plano secundrio, principalmente, porque a cultura da poca se volta para o homem, e as filosofias humanistas ao contrrio do teocentrismo caracterstico da Idade Mdia. Com isto o homem se torna muito mais individualista e a pintura feita em um atelier distante do povo se torna o complemento ideal para o artista dessa poca. Mas a Pintura Mural difere substancialmente da pintura de cavalete. Um quadro geralmente estruturado com um tema ou ponto de interesse como se fosse feito para ser visto apenas por uma pessoa, enquanto que a Pintura Mural, geralmente, possui vrios centros de interesse devido s dimenses maiores que permitem a observao simultnea de vrias pessoas, de pontos de observao diferentes. Centros estruturados de forma que cada uma das partes colabore para a unidade temtica. A Pintura Mural no esta a servio dos meros fantasmas pessoais do artista, e segundo Italo Grassi: a menos livre das artes por que ao contrrio da pintura de cavalete a liberdade da Pintura Mural pode ser limitada por vrias instncias. Primeira: a posse da parede, particular ou instituio que pode impor ou pelo menos limitar os temas e a maneira de realiz-los, j que geralmente deve ser apresentado um projeto que necessita ser aprovado. Segunda: est tambm limitada pela funo do local em que ser executada. No ser o mesmo um mural destinado a uma escola ou a um sindicato, assim como no ser o mesmo um mural de um templo religioso do que para um partido poltico. Terceira: alm disso, podem existir leis que restringem a utilizao de certas reas, ou que impem a censura ou a auto-censura que a acompanha. Estou ciente do perigo de elaborar conceitos principalmente tratando-se de artes plsticas, por ser uma rea do conhecimento humano onde os limites tendem a ser frequentemente superados. Um conceito sempre uma generalizao e em toda generalizao h excees, mas para efeitos prticos e de estudo tentei elaborar um

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conceito e algumas subdivises, que nem sempre de acordo com definies e subdivises clssicas,achei que seriam necessrias e facilitariam o processo. Conceito: A Arte Mural uma forma de expresso artstica que se caracteriza por estar estritamente relacionada com a arquitetura, ser planejada para se relacionar com o ambiente e a construo na qual parte integrante, utilizando materiais comuns arquitetura e a pintura e por ocupar grandes reas.

As linguagens plsticas da arte muralQuando falamos em Arte Mural imediatamente nos vem mente a idia de pintura mural, por ser a linguagem mais utilizada e a que mais temos acesso, mas seria injusto com relao s outras linguagens tambm prprias da Arte Mural, mesmo que derivem de procedimentos diferentes, entre estes se podem citar: o relevo com procedimentos derivados da escultura, o mosaico que teve seu auge na arquitetura bizantina, o vitral caracterstico das catedrais medievais e a tapearia que tinha uma funo esttica e utilitria ao tornar o frio ambiente de paredes revestidas de pedras nos antigos castelos europeus, em ambientes mais aconchegantes. Ainda que as tendncias contemporneas apontem para uma crescente fuso de linguagens manteremos a distino das linguagens acima e a da Pintura Mural por ser esta a linguagem da grande Arte Mural, na qual foram desenvolvidas as prticas relacionadas a esse trabalho de pesquisa.

Tcnicas da pintura muralAs tcnicas mais utilizadas pela tradio muralista foram o afresco, a tmpera e a encustica. A seguir ser apresentada uma breve descrio destas e outras tcnicas utilizadas atualmente: Afresco: consiste numa pintura realizada sobre o reboco de argamassa e cal, ainda midos, com pigmentos gua e cal, os pigmentos utilizados so os que resistem reao alcalina como: o branco (cal), o preto, verde, azul, ocre e vermelho tijolo. Sendo que durante a secagem ocorre uma reao qumica que forma uma pelcula cristalina e lisa de carbonato de clcio que fixa e protege as cores. Tmpera: Consiste basicamente em uma mescla de terras ou pigmentos aglutinados com cola e gua. A frmula mais utilizada a de Cenini a 1:1, que significa uma parte de

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gua para a mesma poro de gema de ovo. A Tmpera tem uma possibilidade que no ocorre no afresco, a de retoques posteriores. O suporte mais apropriado a madeira. Encustica: Pintura de grande resistncia e aparncia fosca, o veculo constitui-se num composto de ceras ou resinas naturais com pigmentos trabalhados a quente. Embora seja atribuda ao grego Polignoto a descoberta da encustica, hoje se sabe que j era utilizada pelos egpcios nos retratos de Fayum num perodo anterior aos gregos. No Renascimento clebre a passagem em que foram encomendados dois murais, um a Michelngelo e outro a Leonardo da Vinci, sendo que nenhum dos dois concluiu a respectiva obra, devido rivalidade entre os dois artistas e, no caso de Leonardo, tambm devido ao incndio da pintura decorrente de uma experincia mal-sucedida com a tcnica de encustica. leo: bastante utilizado atualmente na pintura mural sobre parede previamente preparada, ou sobre tela que posterior mente aplicada ao muro, devido facilidade de manejo e transporte. Sgrafitti: executado sobre capas de reboco colorido (duas ou trs ) atravs de riscos ou planos que tornam visveis as cores das camadas de reboco que esto por baixo. Esta tcnica foi muito utilizada no incio do sculo em painis decorativos. Silicato: Composto por um produto industrial utilizado na fabricao do vidro e de cermicas, utilizado junto com pigmentos para cermicas, aplicado diretamente sobre reboco novo e seco. A cimento: Utiliza-se argamassa de cimento branco ou cinza com pigmentos xidos: preto, vermelho, ocre e branco com suas variantes, aplicado sobre uma camada de reboco grosso, atravs de esptulas. Esta tcnica permite a explorao de interessantes texturas. cermica: o nico tipo de tcnica mural, alm do mosaico, que se mantm inaltervel em ambientes externos. Realiza-se em partes sobre argila preparada e numerada, pinta-se com esmalte cermico que ao ser cozido dar cor ao desenho, pode ser usada com o relevo, posteriormente os azulejos so levados ao forno com temperatura adequada. imprescindvel o acompanhamento de um tcnico ceramista.

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Esmalte sinttico epxi: Feito a com resinas a base de epxi, aplicado sobre fundo previamente preparado com o mesmo esmalte branco, utiliza-se como a tinta comum, s que preciso misturar um sensibilizante endurecedor, que se vende junto com o esmalte, preciso preparar pequenas quantidades, porque se solidifica depois de poucas horas. Piroxilina: conhecida como tinta duco ou automotiva, pode ser aplicada com pistola de ar comprimido, diluda com um solvente especial, ou com um pincel sobre um fundo branco da mesma tinta. necessrio um cuidado especial com o material utilizado devido secagem extremamente rpida, resistente e pode ser aplicada sobre superfcies metlicas com anti-corrosivo ou sobre inoxidveis. Foi muito utilizada por Siqueiros. Acrlico: uma forma de pintura que vem tendo grande aceitao atualmente devido s caractersticas de rapidez de secagem, permanncia, conservao e colorido que oferecem as diferentes marcas existentes no mercado. As cores podem ser mescladas entre si e diludas em gua, e aps a secagem se tornam resistentes ao leo e a gua. Tcnicas mistas: Com Picasso surgiu a colagem, Siqueiros tambm utilizou aplicao de metais e chapas modeladas com formas no experimento conhecido como esculto-pintura. Neste campo experimental quase todos os materiais so vlidos, desde texturas com areia, aplicaes de vidro, tecidos e outros materiais que a sensibilidade necessitar, mas sempre til observar a durabilidade dos materiais empregados.

Bidimensionalidade e PerspectivaNa histria da arte o uso da perspectiva aparece com vitalidade no quarto e ltimo perodo da Arte Romana do ocidente, de acordo com as escavaes de Herculano e Pompia, e teria sido por influncia direta da arte grega. Mais tarde no imprio romano do oriente, na arte bizantina a bidimensionalidade reina absoluta, na Idade Mdia tambm a pintura mantm-se no plano bidimensional, e somente no final com Giotto a perspectiva cavaleira ressurge ainda timidamente. Mas, no Renascimento atinge o mximo com o estudo da perspectiva cientfica. Somente Michelangelo violou estes valores conservando at certo ponto a planimetria na Capela Sistina. A arte moderna combate a iluso da perspectiva, afirmando a bidimensionalidade do muro quando nessa poca ressurge o interesse pela pintura mural.

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Picasso renunciou a indicao de volume nas formas em Guernica assim como Lger em outros murais. Portinari recorreu a um jogo de corres planas para indicar claroescuro. Siqueiros, porm, recorreu a vigorosos modelados. Portanto, no momento histrico que vivemos no creio que seria correto protestar contra certas tendncias europias que utilizam o Trompe l`Oeil como tcnicas inadequadas pintura mural. Constata-se hoje que apesar do predomnio da bidimensionalidade decorrente de tendncias modernistas que de certa forma ditam procedimentos que se impem quase como um novo academismo. A recorrncia perspectiva como tcnica de criar profundidade continua existindo apesar de marginalizada como mero virtuosismo ou artifcio e que o procedimento correto para obter este efeito seria aceitar a bidimensionalidade do suporte, limitando-se a sugerir perspectiva, simplesmente, pelas cores e alterao no tamanho das formas. Concordamos que a pintura mural se adapta bem a bidimensionalidade e que a utilizao de perspectivas como a central privilegia um nico ponto de observao em detrimento de outros onde as formas parecero deformadas, dificultam o processo. Mas, mesmo assim, defendemos que ambas as tcnicas so importantes e que no h penas um procedimento correto. Cada um livre para utilizar a tcnica que mais se adapte ao seu meio de expresso ou ao efeito desejado, e que certamente o resgate de certas tcnicas, consideradas acadmicas, pode contribuir para uma recriao no campo da pintura mural contempornea.

Classificao quanto mobilidade de suporteFixo ou clssico: Quando a obra executada no seu suporte natural o muro, externo ou interno, ou em abbadas, sendo que alguns utilizam a definio de mural para exteriores e painel para interiores. Portanto, no h motivos para esta diferenciao, sendo que para muitos autores ambas as palavras so usadas, indiferentemente, como sinnimos. Mvel: Ainda que o propsito da Pintura Mural seja ter um ambiente definitivo pelo menos no que se refere pintura mural a idia de se executar um afresco em um local de modo que possa ser transportado e fixado em uma parede, ou pelo menos com a possibilidade de ser removido para outro local no caso em que o edifcio seja demolido, tem precedente histrico de notvel Antigidade segundo Joo Jos Rescala: Tem se encontrado exemplares de afrescos produzidos em Creta h 3.000 anos e exportados as

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ilhas prximas. E modernamente com pintores que preferem executar a pintura sobre grandes telas e depois fixarem s paredes. Ainda que eu no considere um procedimento legtimo da pintura mural, h casos como o do famoso quadro de Picasso; Guernica que pode ser transportado para diversas exposies em todo o mundo, e para todos os fins continua sendo definido como pintura mural, mesmo sem ter um ambiente definitivo com o qual se relacione.

3 Pintura Mural: Alegoria a Cristo RedentorTemticaPlano superior. Nascimento de Cristo. A cena de inspirao popular, por ser um motivo muito freqente em cartes de natal, sempre me impressionou durante minha infncia. A presena dos reis trs reis magos vem da tradio crist, j que a nica referncia vem do primeiro evangelho do novo testamento, So Mateus e nele no est explcito o nmero, mas apenas ocorre a aluso a reis magos vindos do oriente. Mas, uma vez que a representao de trs reis magos mantida nas representaes populares, considerou-se que no seria errado mant-los numa representao que visa dialogar com as pessoas que trazem a crena nesta tradio. A Crucifixo. Para esta cena houve a apropriao da imagem que j se encontrava na igreja por vrios anos, senti que ela seria til em minha composio, e aps um processo demorado de restaurao tomei as medidas e adaptei para a cena da morte de cristo, deslocando em meu projeto do local original para um plano mais alto, tambm por medida de segurana, j que a imagem fora depredada quando se encontrava num plano mais acessvel. Nesta cena procurei destacar as letras da inscrio superior INRI porque estas so intrigantes mesmo para muitos cristos que se perguntam o porqu do I j que em nossa lngua, Jesus nazareno Rei dos Judeus apresenta em suas iniciais dois J. O destaque serviu tambm para realar o tema do mural, que Cristo Redentor, e tambm por criar uma ligao com outras palavras tambm em latim na parte inferior do trabalho. Os Anjos: h vrias referncias a anjos no Antigo e Novo Testamento, inclusive com passagens que os descrevem como criaturas que contemplam a face de Deus, alm de referncias a hierarquias celestiais, como: Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, que muitas vezes so deturpadas por crenas esotricas. Os anjos foram criados antes do gnero humano, e na Bblia h vrias referncias a anjos guerreiros e mensageiros que procurei representar em distncias simtricas buscando o equilbrio formal. A Cruz. De certa forma procura ilustrar a presena de Deus Pai junto ao Filho e o Esprito Santo, mesmo sabendo das limitaes pictricas frente ao que segundo a f crist catlica, no pode ser perfeitamente representado, descrito por palavras ou compreendido, o mistrio da Santssima Trindade. A primeira e ltima letra do alfabeto grego, alfa e mega pertencem simbologia crist primitiva, e representam Deus como o princpio e fim

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de todas as coisas. Hoje em dia estes smbolos podem ser encontrados na grande vela que acesa no domingo de Pscoa, o Srio Pascal que possui estas duas letras mais trs alfinetes que simbolizam o sofrimento de Cristo. A Ressurreio. Princpio no qual se estrutura toda a f crist, pois segundo as palavras do discpulo Paulo: Se Cristo no tivesse ressuscitado v seria nossa f. A cena represente o momento que a grande pedra redonda, comum nos sepulcros escavados na rocha naquela poca, foi removida, e o momento em que os soldados que representavam o maior imprio da Antigidade tombam ao cho. A Coroao. No ponto oposto ao nascimento, em que a inspirao era popular, eu procurei uma forma mais pessoal e estilizada, no que representa o momento em que Deus Pai coroa o Filho como Rei de toda a Criao, e o momento mximo do ttulo pelo qual nos referimos a Cristo como Redentor. Entrada em Jerusalm. Ilustra o cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento, sobre que o Messias viria a Jerusalm. Profecia que se cumpre com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalm, representa o momento que a multido acenava ramos e estendia mantos no caminho em que Cristo passava aclamando com gritos de: Hosana ao filho de Davi (Davi fora um rei em um perodo prspero da civilizao judaica) e bendito o que vem em nome do Senhor. A Ceia: cena conhecida devido, principalmente, pintura mural de Leonardo da Vinci, e que , sem dvida, um dos quadros mais reproduzidos e presentes nos lares cristos. Mas para mim a Santa Ceia que mais me impressionou foi outra, pintada por um pintor renascentista Andrea del Castagno, mas aqui eu procurei criar uma cena com menos dinmica, reestudando posies e caractersticas para cada apstolo e Cristo, rearranjando a posio clssica dos discpulos para uma que eu achei mais conveniente, e que situada a seguir:

Figura 1

1) Mateus - tambm chamado Levi, filho de Alfeu. Pregou o evangelho em vrias naes e, segundo a tradio, morreu na Etipia. Escreveu em aramaico o primeiro evangelho que logo foi traduzido para o grego. 2) Tiago Maior Filho de Zebedeu e irmo maior de Joo Evangelista, com quem atuou paralelamente na vida de Jesus. Segundo a tradio pregou na Espanha, onde lhe atribuem o tmulo de Santiago de Compostela. 3) Tiago Menor - Aps a morte de Cristo foi bispo de Jerusalm durante mais ou menos trinta anos. Gozou de grande prestgio na igreja primitiva. 4) Bartolomeu tambm identificado como Natanael de Cana da Galilia, a quem Jesus denominou verdadeiro israelita. 5) Tom tambm chamado Ddimo, no estava no cenculo no dia da Ressurreio e no acreditou no milagre, aps oito dias foi contemplado com uma apario de Jesus. 6) Simo Pedro Simo Bar Yona de Betsaida, pescador de ofcio, Jesus o chama de Cefas que significa a pedra sobre a qual se edifica a igreja. Empreendeu viagens apostlicas a Antioquia e a Roma. Nessa cidade foi martirizado no ano 67, durante o reinado de Nero. Foi sepultado na colina onde atualmente se encontra o Vaticano. 7) Joo Evangelista Filho de Zebedeu e Irmo de Tiago Maior, considerado o discpulo a quem Jesus amava de modo especial. Escreveu o quarto evangelho e trs cartas cannicas. Alguns estudiosos o identificam ao autor do Apocalipse. Morreu em feso em fins do sculo I. 8) Filipe Natural de Betsaida, foi o discpulo a quem Jesus consultou antes da multiplicao dos pes, e que interrogou Jesus durante a ltima ceia.

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9) Andr Irmo ou primo de Simo Pedro, natural de Betsaida, foi discpulo de Joo Batista e, mais tarde, de Jesus. 10) Judas Iscariotes foi o discpulo que traiu ao entregar Jesus aos romanos. 11) Judas Tadeu Irmo de Tiago Menor e primo de Jesus. Pregou o evangelho na Mesopotmia e morreu mrtir. o autor de uma das epstolas catlicas. 12) Simo Cananeu Tambm chamado zelote por ter pertencido ao partido poltico religioso que seguia as tradies judaicas de modo mais estrito. Plano Inferior. dedicado ao povo que constitui a Igreja nesta regio. A casa representa a arquitetura tpica das primeiras construes realizadas pela etnia italiana, que chegou estabeleceu no municpio de Nova Palma, em meados de 1889, colonizando e influenciando profundamente os costumes de toda a regio, e a forma de representao dos personagens deve-se ao fato de que grande parte da economia municipal ainda se assenta no meio rural, logo mais ao centro h a representao de Nossa Senhora de Ftima, que assume relevante importncia a nvel desta comunidade e do municpio, em cuja homenagem se realizam festividades anuais no ms de novembro, em um dos pontos tursticos do municpio conhecido como A Caverna. A Igreja. Na seqncia, h uma representao do templo catlico desta comunidade, com sua arquitetura de tendncia moderna, em torno do qual se organizam todas as decises e atividades comunitrias.Devido a religiosidade daquele povo a capela se constituiu a principal unidade social e, em torno dela, organizava-se tudo: Uma comunidade de base espontnea. (PIOVESAN, 1993: p. 12). Alm da representao de dois produtos agrcolas importantes na economia municipal, tambm ocorre a representao de um jovem, simbolizando a fora da juventude organizada desta comunidade e sua importncia no trabalho e nas decises que decidiro o futuro da comunidade. ` Plano Inferior Direito. Ocorre a representao de uma casa tpica da cultura alem,

que tambm est presente no municpio, mas em especial nesta comunidade onde se concentra, tambm a Igreja ao fundo simboliza a influncia da arquitetura neogtica, caracterstica da imigrao alem, alm do casal que desenvolve uma atividade tpica do

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municpio a cultura do fumo. Apesar de minha posio antitabagista mantive a representao da cultura devido a impossibilidade de negar a importncia que esta atividade agrcola exerce. E por ltimo a etnia negra freqentemente esquecida pela histria, mas de inegvel presena neste municpio, e tambm um apelo poltico na aspirao pela igualdade social em um pas eminentemente racista. importante salientar que a harmonia perseguida pelas religies crists, com suas atividades ecumnicas e que ainda no conseguida ao nvel da igreja, possvel de ser vislumbrada nesta comunidade que apesar de dividida entre cristos catlicos e protestantes, unida nos objetivos comuns pela melhoria da sociedade.

ComposioPartindo da apropriao dos elementos existentes, como a imagem de Cristo e o crucifixo, aps uma toma da de medidas da perede, procedeu-se a execuo do projeto na escala 1:20. Delacroix afirmava que as linhas retas nunca ocorrem na natureza, e que elas existem apenas no crebro humano, onde os homens insistem em empreg-las. Rudolf Arnhein na discusso sobre a percepo visual, afirma que devido a um processo mental ainda no bem compreendido, o ser humano tem tendncia de formar retas imaginrias ligando pontos prximos separados no espao, semelhante ao que ocorreu na denominao de constelaes estelares na forma de figuras imaginrias resultante desta tendncia de unir pontos. Seguindo este tipo de racionalizao, foram executadas vrias retas no espao do projeto. Em primeiro momento, foram ligados os cantos formados pela extremidade da parede e os cantos da porta central. As linhas seguintes ligaram o cruzamento formado por estas retas entre si. Aps isso, foram selecionadas as retas que pareciam mais harmoniosas, e suprimidas as outras que j se tornavam excessivas. Sobre este esquema geomtrico e simtrico, foram executados os primeiros esboos. As retas que permaneceram formavam em sua maioria figuras retangulares, as quais foram mantidas como base da composio.

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RECUPERAO DA IMAGEM DE CRISTO CRUCIFICADO (modelagem em gesso)Problemas apresentados (Figura 2): a) Placa com inscries na parte superior da cruz apresentando vrias fissuras e partes soltas unidas com cola branca (PVA) b) Rosto da imagem com ausncia de um pequeno pedao na regio correspondente ao maxilar. c) Ausncia de parte do gesso que integrava o brao da imagem com exposio da estrutura interna em ferro, d) Fissura longitudinal entre o brao e a mo da imagem.

Figura 2

Procedimentos preliminares a) Remoo do parafuso posterior que prendia a imagem a cruz. b) Remoo das partes soltas e sujeitas a se soltarem devido s fissuras. c) Lixao da estrutura em ferro para remoo da camada oxidada.

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d) Execuo de pequenas incises com um objeto pontiagudo nas partes firmes que restaram nas fissuras, com o objetivo de facilitar a aderncia de novas camadas de gesso. e) - Remoo do p e umedecimento da pea. f) - Aplicao de gesso em estado pastoso sobre as falhas existentesFigura 3

na forma da imagem.

Execuo da Primeira Etapa Com o auxlio de um estilete, sobre o gesso que ainda preservava vestgios de umidade, iniciou-se o desbastamento para modelagem do brao (Figura 3). Aps alcanar uma forma aproximada do brao definitivo, iniciou-se o desbaste mais meticuloso, buscando a simetria bilateral com o auxilio de um espelho que refletia o brao direito (ainda intacto) como se fosse o brao esquerdo. Esse artifcio possibilitou a visualizao de um modelo para o trabalho de reconstruo. Aps a preparao e aplicao de pequenas partes de gesso visando recuperar eventuais perdas de volume por desbastes exagerados, e

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uma etapa de correes, chegou-se fase final. Nessa etapa efetuou-se a lixao da superfcie restaurada e de uma pequena margem da rea remanescente, com o objetivo de remover parte da tinta antiga presente na emenda, pra alcanar homogeneidade e uniformidade de acabamento. Utilizando-se de tinta acrlica semi-brilho nas cores bsicas (vermelho, amarelo, azul), buscou-se uma mistura similar tonalidade de pele existente na imagem. Aps alguns testes que buscaram prever a alterao tonal ps-secagem, selecionou-se o matiz apropriado. Aps a limpeza da imagem com um pano mido executou-se a pintura do brao, mas devido ao contraste caracterstico entre a tinta nova e a pintura velha desgastada optou-se pela repintura completa.

Recuperao da placa com inscries Devido ao estado de fragmentao da pea optou-se pela moldagem de uma nova cpia em gesso. Durante a retirada das partes restantes da placa ocorreu a quebra do parafuso devido fragilidade do metal desgastado por ferrugem. Primeira tentativa: Aps cobrir a placa com uma fina camada de cera lquida houve a tentativa de se fazer um molde em argila. O qual, posteriormente, seria preenchido com gesso na elaborao de uma nova cpia, mas este processo fracassou porque a argila, mesmo com a camada de cera, acabou grudando na placa de gesso. Segunda tentativa: Aps limpar a placa e preencher com argila as falhas existentes no modelo original, buscou-se executar um novo molde em gesso. Aps se recobrir a placa com nova camada de cera lquida aplicou-se uma fina camada de gesso. Mas na tentativa de remoo do molde, ocorreram novos problemas, esse havia ficado preso nas pequenas reentrncias do modelo original que, nesse ponto, comeava a apresentar desagregao das partes unidas com cola branca. Aps mais esta tentativa fracassada, descobriu-se que apesar disso ter resultado na quebra do molde e do modelo original, a quebra do material restante revelou a existncia da estrutura interna em arame. Base na qual se apoiava o parafuso, da qual at ento no tnhamos conhecimento.

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Terceira tentativa: Aps unir as partes quebradas pr