Modelo Artigo 5º Simpósio Internacional de ... · Resumo: #Como!parte!de ......
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As fontes das manifestações de junho de 20131
Lara Guerreiro Pires2
Resumo: Como parte de uma pesquisa maior sobre newsmaking, o material selecionado foi explorado, por meio da análise de conteúdo, para saber quais as principais fontes utilizadas na cobertura das manifestações de junho de 2013 ocorridas no Brasil. O corpus utilizado para construção da reflexão contida neste paper é composto por matérias veiculadas pelo portal Universo Online na semana de 16 a 22 daquele mês. Busca-‐se saber se a utilização de fontes oficiais foi de maior uso do que as não oficiais, mas que eram as personagens principais das manifestações. O uso e relacionamento com as fontes é tema recorrente nas pesquisas em comunicação. Vários autores, com Mauro Wolf, Miquel Rodrigo Alsina, Felipe Pena, Mario Erbolato, José Marques de Melo e Juarez Bahia, além de Elias Machado especificamente sobre a Internet, já se debruçaram sobre o tema de dão o subsídio teórico para a análise aqui apresentada, assim como Patrick Charaudeau. Os autores sempre chamam a atenção para a preponderância do uso das fontes oficiais, e este também é o resultado deste trabalho, no qual é demonstrado que a maior parte dos textos analisados contém informações cujas fontes ostensivas são oficiais Palavras-‐chave: Jornalismo. Newsmaking. Fontes.
1 Artigo enviado na modalidade Rotinas Produtivas em tempo de convergência 2 Graduado em Jornalismo; Especialista em Assessoria em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás; cursa pós-graduação em nível de mestrado em Comunicação – linha Mídia e Cidadania na mesma instituição. E-mail: [email protected]
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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho é o resultado da reflexão sobre a utilização de fontes na produção
noticiosa. A discussão do uso e delimitação das fontes é de grande importância para o
entendimento de como é exercida a prática jornalística. Isto porque assim como o público
não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo para saber o que ocorre no
mundo diante de si, também não o faz o jornalista. Desta forma, este necessita de
“pontes” entre si e os acontecimentos selecionados para que estes tornem-‐se notícias: as
fontes.
A manifestações que ocorreram no Brasil em junho de 2013 chamaram a atenção
da mídia em várias partes do mundo. A repercussão não foi como a da Primavera Árabe
em 2011, durante a qual ditadores de Tunísia, Egito, Líbia, Iêmem e Barein foram retirados
do poder. Os manifestantes brasileiros não pediam a saída da Presidente Dilma Roussef.
Na onda de protestos no Brasil milhares de pessoas foram às ruas manifestar sua
insatisfação quanto a diversos aspectos da política, economia e diversos outros assuntos
pertinentes aos seus anseios como cidadãos.
Dentre os pedidos estava a modificações nas práticas políticas nacionais,
reivindicações específicas como o passe livre para estudantes, críticas ao Projeto de
Emenda Constitucional número 37, cujo teor erava a forma de atuação do Ministério
Público e a políticos como o deputado Marcos Feliciano (o qual alcançou notoriedade após
manifestar-‐se abertamente contra os homossexuais e ser indicado para a Comissão de
Direitos Humanos do Congresso Nacional). A imprensa brasileira fez o seu trabalho e
cobriu as manifestações, cada veículo de acordo com suas possibilidades e linhas
editoriais.
A partir de um estudo maior feito pela autora sobre valores-‐notícia, utilizando o
período das manifestações, surgiu o questionamento: quem são as fontes utilizadas na
redação dos textos jornalísticos sobre as manifestações? Por causa do ceticismo inerente
ao pesquisador, a resposta hipotética a esta pergunta foi: fontes oficiais, claro! Assim
surgiu a análise que resultou neste paper.
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Para refletir sobre o uso das fontes, buscou-‐se neste trabalho avaliar por meio da
análise de conteúdo as matérias publicadas pelo portal Universo Online, no mês de junho
de 2013, especificamente entre os dias 16 e 22. Naquele mês, a semana demarcada foi a
mais movimentada na cobertura noticiosa, uma vez que o dia 20 é a data em que foi
relatada a maior quantidade de manifestações.
A amostra organizada neste trabalho não segue método estatístico, uma vez que a
técnica de amostragem não aleatória se mostrou mais eficaz para o caso. Do total de 255
matérias publicadas, foram selecionadas um terço. Para tanto foram todas colocadas em
planilha eletrônica para então haver a separação da amostra a cada três textos,
perfazendo o total de 85. Quem nos assegura a possibilidade do uso deste método é
Hercovitz.
Muito utilizados em análise de conteúdo são as técnicas de amostragem não-‐aleatórias, empregadas quando não se tem acesso a toda a população do estudo ou quando se trabalha com populações menores, como por exemplo, algumas edições específicas de publicações que tratam da cobertura de um tema registrado em período também específico, ou para estudos comparativos como o tratamento de um tema em determinados veículos em épocas distintas ou não. (HERSCOVITZ, 2008 p.131)
Ainda sobre a amostragem é importante ressaltar que a unidade de texto utilizada
para a análise de conteúdo foram as expressões que denominavam as fontes, ou seja, as
fontes mencionadas – ou como as separa Erbolato(2002) as fontes ostensivas -‐, não as
fontes utilizadas. A escolha é em decorrência do que explica Miquel Rodrigo Alsina (2009,
p.174), estas últimas “não podem ser estudadas exaustivamente mediante a análise de
conteúdo, elas exigem uma pesquisa da produção da informação”. O autor completa ainda
que as fontes mencionadas já têm grande importância para o entendimento do discurso da
narrativa jornalística.
As fontes que aparecem nos discursos informativos são importantes, já que são elas as que se institucionalizam socialmente. Inclusive, poderíamos dizer que elas são elementos essenciais para o estatuto da prevalência da verdade desses discursos. Além disso, esse efeito de “dizer a verdade” é reforçado, justamente porque a mídia costuma recolher o mesmo tipo de notícia. (RODRIGO ALSINA, 2009, p.174)
A escolha do portal foi balizada pelo fato de ele ter feito essa organização de todas
as matérias sobre o assunto manifestações em um link específico. Também contribuiu o
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fato dele ser um dos portais mais acessados no Brasil, de acordo com a pesquisa de
opinião pública Democratização da Mídia, publicada pela Fundação Perseu Abramo, em 16
de agosto de 2013. O mesmo material já foi utilizado como material de pesquisa em outro
trabalho, já apresentado no Confibercom 20143, em abril deste ano.
Preocupações e definições teóricas
O profissional de comunicação desenvolve seu trabalho recolhendo informações de
diversas formas para construir seu texto. Nem sempre ele é capaz de presenciar o fato que
-‐ de acordo com os critérios definidos pela sua linha editorial -‐ será processado para
transformar-‐se em notícia.
Para se construir a narrativa jornalística é preciso que o produtor faça a apuração
das informações, ou seja: levantamento mais completo possível dos dados e detalhes
relativos ao acontecimento necessários para que se escreva sobre ele. Nem sempre é
possível fazer a apuração das informações por meio do que Erbolato(2002) chama de
observação direta. O método consiste em o jornalista coletar as informações necessárias
por meio da observação do fato, no momento de sua ocorrência.
Desta forma, é fundamental recorrer a pessoas, instituições e documentos que
possam fornecer ao jornalista os dados de que precisa, prática chamada pelo mesmo autor
de coleta. Aqui pode-‐se incluir os vários tipos de entrevista, consulta a documentos,
experts ou algo novo que ajude o profissional a entender o fato e processá-‐lo para
produção de seu texto.
Nilson Lage corrobora e explica que essas pessoas ou documentos a quem o
jornalista recorre são as fontes de informação usadas para construção da narrativa
jornalística.
Poucas matérias jornalísticas originam-‐se integralmente da observação direta. A maioria contém informações fornecidas por instituições ou
3 II Congresso Mundial de Comunicação Ibero-Americana ocorrido de 13 a 16 de abril em Braga, Portugal. O trabalho apresentado teve o título Valores-notícia na cobertura das manifestações de junho de 2013 no Brasil.
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personagens que testemunham ou participam de eventos de interesse público. São o que se chama de fontes. É tarefa comum dos repórteres selecionar e questionar essas fontes, colher dados e depoimentos, situá-‐los em algum contexto e processá-‐los segundo técnicas jornalísticas. (LAGE, 2005, p.49)
Sendo as fontes aqueles que fornecem ao jornalista várias das informações que ele
utiliza, é preciso entender que ela é, como explica Felipe Pena(2005), uma subjetiva
interpretação de um fato; ou seja, nem tudo o que se colhe é a verdade absoluta. A fonte
apresenta ao jornalista sua visão, ou versão, sobre determinado acontecimento
(PENA,2005).
Percebe-‐se, então, a importância do jornalista não usar apenas uma fonte em seus
trabalhos. Não deve tão pouco receber as informações como verdade absoluta e nem
furtar-‐se do trabalho de checagem. Lage concorda e afirma que “entre o fato e a versão
jornalística que se divulga, há todo um processo de percepção e interpretação que é a
essência da atividade dos jornalistas”. Diz ainda que é necessário citar nominalmente as
fontes, sobretudo de dados numéricos, e questionar informantes sobre a origem dos
números que citam.
Juarez Bahia(1990) coloca que “grande parte da credibilidade de um jornalista ou
de um veículo repousa no uso que ele faz das suas fontes na elaboração das notícias.” Para
ele, está-‐se mais próximo da objetividade perseguida pelos jornalistas quanto mais
transparente é o uso da fonte. Por isso o pesquisador aconselha que se evite o uso de
termos como segundo fontes, setores, informantes, observadores, círculos, analistas,
especialistas, meios, ou outros termos que não deixem claro quem, realmente, foi o
responsável pela a informação divulgada. Bahia sentencia: “Utilizar o anonimato da fonte
para embutir a opinião pessoal ou para abrigar interesse escuso é uma frontal violação da
ética profissional”.
Os autores pesquisados fazem várias distinções entre as fontes, principalmente
quanto a sua natureza e participação nos fatos. Lage conta um fato muito interessante
para se entender a divisão:
Originalmente as fontes de informação não eram treinadas para desempenhar esse papel. Ouviam-‐se funcionários públicos em geral, políticos, diretores de empresas, gerentes viajantes (até meados do século
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XX, repórteres eram colocados nos portos, aeroportos e estações ferroviárias para entrevistar os passageiros que vinham da Europa, da América do Norte, de países vizinhos ou, mesmo, de outras regiões brasileiras) e pessoas em geral envolvidas em algum evento de interesse público. (LAGE, 2005, p.49)
Entretanto, com a expansão do trabalho de assessorias de imprensa, tanto fontes
potenciais quanto aqueles que pouco são procurados pelos veículos passaram a ter um
papel mais ativo na produção noticiosa ofertando seus dados aos jornalistas antes mesmo
de serem procurados. Esta foi só a primeira modificação.
Com o desenvolvimento da Internet, fontes potenciais ou não passaram a poder
divulgar elas mesmas seus dados por meio de páginas ou até mesmo redes sociais nas
quais tem contato direto com o público leitor sem ter de passar pela intermediação de um
veículo de comunicação e seus métodos de determinação do que é notícias e seus critérios
de publicação. E os jornalistas devem adaptar-‐se a esta realidade e terem a capacidade de
usar os dados disponível na rede como fontes, sem esquecer que como qualquer dado
deve ser apurado e checado para sua utilização.
Sobre isso afirma Elias Machado:
No ciberespaço, pela primeira vez os movimentos sociais, até então atores políticos dependentes na medida que a difusão do registro verbal na cena comum passa pela mediação das organizações jornalísticas, podem sem os impedimentos colocados pela tecnologia necessárias para manter os meios tradicionais, contribuir para a constituição de um espaço público democrático.
Abaixo segue uma quadro com a divisão das fontes de acordo com o levantado
nesta pesquisa e em seguida as definições teóricas a partir das explicações dos autores.
Quadro 1. Autores e seus tipos de fontes
Juarez Bahia Nilson Lage Felipe Pena Erbolato Elias Machado Mauro Wolf
Fixas
Estáveis
Fora De Rotina Provisórias
Oficiais Oficiais
Oficiais Institucionais
Oficiosas Oficiosas Oficiosas Oficiosas
Independentes Independente Independentes
Diretas Primárias Testemunhal Diretas Primárias
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Secundárias Secundárias
Testemunhas
Experts
Indiretas
Indiretas
Complementares Adicionais
Ostensivas
Indeterminadas
Ativas
Passivas
Centrais
Territoriais
Fonte: Quadro organizada pela autora.
As fontes podem ser definidas quanto a características próprias, que as insere em
somente uma das possibilidades dentro de cada grupo.
I) A necessidade de recorrência a elas:
a) Fontes fixas: são aquelas às quais se recorre para os noticiários de todos os dias, como
por exemplo polícia, Corpo de Bombeiros, Prefeitura, Câmara Municipal, isso no caso
de um jornal diário. Porém, podem haver outros exemplos de acordo com o tipo de
publicação, por exemplo um jornal de classe. O presidente de seu sindicato será uma
fonte fixa. Como fixas podem-‐se colocar as fontes estáveis indicadas por Wolf.
b) Fontes fora de rotina: são procuradas excepcionalmente quando necessárias para o
esclarecimento de um fato. Wolf as nomeia de fontes provisórias.
II) ao caráter institucionais ou não:
a) Fontes oficiais: são mantidas pelo Estado, ou instituições que o representam, como
juntas comerciais, secretarias e ministérios, polícia. Incluído aqui estão as pessoas
diretamente ligadas ao poder oficial, como presidentes, prefeitos, vereadores, etc.
Estas pessoas tem a legitimidade de falar pelo setor do Estado ao qual é relacionado.
Também estão neste ramo empresas e organizações como sindicatos e associações.
Estas fontes tendem a ser parciais visto que tem interesses a preservar, de acordo
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como colocado por Pena. Lage é ainda mais enfático e diz que as fontes oficiais podem
falsear a realidade para beneficiar grupos dominantes por corporativismo, militância e
até por disputas internas de poder. São tidas como confiáveis, sendo comum –
portanto – a utilização de dados fornecidos por elas sem mencioná-‐las, pois são
tomados por verdadeiros, como por exemplo os dados de uma pesquisa do IBGE. De
acordo com Elias Machado, a preferência por fontes oficiais se dá como uma
estratégia de obter dados fidedignos, respaldados pelo exercício de uma função
pública da fonte.
b) Fontes oficiosas: são reconhecidas como relacionadas ao Estado/Instituição, mas não
tem autorização formal para falar em nome. Elias Machado diz que elas são
relacionadas diretamente com instituições ou personalidades, mas não tem poder
formal de representação. Lage acredita que, mesmo podendo ser desmentidas, as
fontes oficiosas podem trazer à tona os subterfúgios usados pelas fontes oficiais para
mascarar a realidade. Porém, também se prestam a veicular boatos, por isso é preciso
ter cautela.
c) Fontes independentes: não tem vínculo direto com o assunto em questão, ou relação
de poder ou interesse específico em cada caso tratado.
Não conta nesta categoria uma opção para se enquadrar a pessoa comum que
participa do evento noticiado sem ter alguma importância institucional. Patrick
Charaudeau (2013, p.148) propõe como identificação das fontes a divisão entre internas às
mídias e externas às mídias. A segunda categoria é dividida, por ele, entre institucional e
não institucional. Dentre as opções de fontes não institucionais estão Testemunhas,
Especialistas e Representantes (corpos profissionais). A opção que mais se aproxima para
nomear a pessoa que não tem caráter institucional, não é especialista ou não fala em
nome de algum classe seria o de testemunhas, porém a nomenclatura já é usada ao
destacar a fonte quanto a sua participação no fato.
III) a participação no fato a ser noticiado:
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a) Fontes diretas ou testemunhas: são aquelas pessoas envolvidas em um fato ou
ocorrência; as vítimas, testemunhas presentes (nomenclatura usada como diferente
opção dependendo do autor).
b) Fontes indiretas: são informantes envolvidos circunstancialmente nos fatos, papéis e
documentos de consulta. Entram nessa categoria também aqueles que, por dever
profissional, sabem de um fato.
c) Fontes adicionais: são fontes que fornecem informações suplementares ou ampliam a
dimensão histórica como um relatório, documentos históricos, pessoas que conhecem
os fatos passados ligados ao acontecimento atual. Pode-‐se colocar como similar à
fonte complementar.
Na narrativa jornalística, muitas vezes, são chamadas de testemunhas as fontes
diretas ou indiretas que provavelmente presenciaram o fato ou período e podem fornecer
informações sobre ele. Lage(2005) aconselha que se ouça no mínimo três testemunhas
para que se chegue a um ponto em comum, o que segundo ele será o que mais se
aproximará da realidade. As demais informações devem ser citadas, quando necessário,
nomeando textualmente seu autor.
IV) quanto a capacidade de fornecer informações:
a) Fontes primárias: são aquele as que tem condições de fornecer os dados sobre um
fato, portanto o jornalista se baseia nelas para colher o essencial para seu texto, como
versões e números. São muitas vezes fontes diretas.
b) Fontes complementares: fontes que somam informações adicionais que contribuem
para esclarecer ou enriquecer a história, acrescentar ou reduzir a versão que parecia
definitiva. Ou seja, pode muitas vezes fazer o contraponto com a fontes primárias.
Pode-‐se colocar como similar à fonte adicional. Também podem ser compreendidas
como fontes secundárias, que são aquelas consultadas para trazer informações usadas
na contextualização de um fato. São assim considerados por Lage os experts ou
especialistas que podem fazer avaliações, interpretações e previsões sobre o evento
em questão.
IV) quanto à forma na qual aparece no narrativa jornalística:
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a) Fontes ostensivas: são as que tem seus nomes mencionadas no texto jornalístico, o
que torna possível seu reconhecimento por meio da análise de conteúdo.
b) Fontes indeterminadas: fontes consultadas que não tem sua origem ou nomes
relacionados no texto publicado. Seu estudo só é possível por meio da avaliação do
processo de produção.
V) quanto ao relacionamento com o veículo de informativo:
a) Fontes ativas: são colocadas por Wolf como aquelas que buscam o acesso aos
jornalistas e meios de comunicação. Lage também chama a atenção para essas fontes
que ficaram mais comuns com a organização de assessorias de comunicação em
empresas e instituições públicas.
b) Fontes passivas: são fontes que seu relacionamento com o órgão de informação se dá
quando é procurado.
Mauro Wolf coloca ainda que as fontes podem ser centrais, territoriais ou de base,
classificadas desta maneira de acordo com sua posição em termos de territorialidade da
informação, mas também pela sua importância quanto à noticiabilidade dos
acontecimentos, sendo neste caso uma gradação da mais importante para menos
importante.
Antes mesmo de expor os dados coletados é preciso fazer menção ao exposto por
Mauro Wolf que corrobora o entendimento de que a definição das fontes utilizadas são
parte importante na construção do sentido do mundo diante do leitor apresentado pela
cobertura jornalística. Segundo ele, os estudos baseados nas teorias de newsmaking
demonstram claramente que
a rede de fontes que os órgãos de informação estabelecem como instrumento essencial para o seu funcionamento, reflecte, por um lado, a estrutura social e de poder existente e, por outro, organiza-‐se a partir das exigências dos procedimentos produtivos. As fontes que se situam à margem destas duas determinações, muito dificilmente podem influir, deforma eficaz, na cobertura informativa. (MAURO, 1999, p)
Wolf coloca ainda que as agências de notícia também podem ser vistas como
fontes, uma vez que vários empreendimentos de comunicação se valem de seu trabalho
como fonte para suas próprias publicações. Charaudeau(2013) coloca que as agências,
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assim como correspondentes, enviados especiais e arquivos próprios do veículo podem ser
identificados como fontes internas aos organismos de informação. Entretanto, Wolf,
explica que pelas agências já apresentarem “unidades-‐notícia”, ou seja o fato processado e
transformado na narrativa jornalística ao invés de dados a serem apurados, elas não
devem ser vistas como fontes primárias. Assim, os textos de agência que se apresentaram
na amostra foram descartados e substituídos por textos da própria redação do UOL.
Ao discutir-‐se o uso de fontes, além das características de cada uma em relação ao
fato ou ao veículo é relevante avaliar a forma como ela aparece no texto, ou seja – como
explica Charaudeau (idem, p. 148-‐149) -‐ o modo de denominação e a modalidade de
enuncianção.
O modo de denominação é a forma de identificar a fonte no texto. Segundo
Charaudeau há as seguintes formas: pelo nome – da pessoa ou da instituição; com marcas
de deferência ou não – ‘senhor’, ‘excelentíssimo’, etc.; de maneira direta – ‘o governo’, ´a
empresa tal’, ‘o movimento tal’ -‐, ou indireta – ‘os poderes públicos’, ‘o Palácio do
Planalto’; pelo título ou sua combinação com o nome – que constitui-‐se uma marca de
autoridade e prestígio; pela função – que se confunde às vezes com a profissão e pode
assinalar a tecnicidade da fonte; denominação vaga -‐ ou seja com expressões genéricas
como manifestantes ouvidos, especialistas, etc; por fim, por construções indefinidas –
‘algumas pessoas pensam que’, ‘alguns gritavam expressões...’ .
Já “a modalidade de enunciação pode ser expressa por verbos de modalidade (...)
cujo semantismo é mais ou menos revelador da instância de enunciação, e também por
locuções ou emprego do condicional – procedimentos que indicam uma distância com
relação ao valor de verdade da informação” (CHARAUDEAU, 2013, p.149). Na primeira
forma inserem-‐se a utilização de verbos como diz, anunciar, contar, esclarecer; na segunda
são as locuções comumente usadas: “de acordo com”, “segundo”, “para”.
Assim como Juarez Bahia (1990), Charaudeau (idem) também acredita que as
formas de denominação das fontes e a modalidade de enunciação estão relacionadas à
credibilidade do texto, mas também ao seu entendimento.
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A instância de produção pode cumprir ou não as exigências de identificação (fontes e signatários), do mesmo modo que pode escolher os modos de identificação (nome próprio/nome comum e diversas modalidades). Tais fatores influem na credibilidade, produzindo efeitos diversos: efeito de evidência quando a fonte não é citada, mas com o risco de prejudicar a instância de informação se o receptor quiser saber de onde vem a informação sem obter resposta; efeito de verdade e de seriedade profissional se a fonte é identificada com precisão ou se é identificada com prudência sob modo provisório, da espera de verificação; efeito de suspeita, se a identificação se faz de maneira vaga, anônima ou indireta. (CHARAUDEAU, 2013, p. 149)
Exposição dos dados coletados
Dentre os 85 textos selecionados como amostragem, 95,2%, ou seja, 81 unidades
continham fontes oficiais usadas de forma ostensiva. Destes, 31 usavam apenas as fontes
oficiais, ou seja 36,4% do total da amostra foi escrito de forma que só eram nominadas as
fontes oficiais e mais nenhuma outra. Esses dados estão exemplificados de forma visual no
gráfico 1 – Fontes ostensivas e oficiais.
As fontes oficiais nomeadas nas matérias são: prefeitos, governadores, secretários
de estado ou município, vereadores, deputados, Presidente da República, ministros, Polícia
Militar, Guarda Municipal, Polícia Civil, Ordem dos Advogados do Brasil, Central Única dos
Trabalhadores, sindicatos, assessorias de prefeitos, governadores e da Câmara dos
Deputados, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência – SAMU, institutos de pesquisa, Movimento Passe Livre.
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Gráfico1
Fonte: organizado pela autora
Dentre as fontes oficiais, as mais usadas são aquelas com ligação à esfera política
ou de governo, como presidência da República, ministros, governadores, deputados,
prefeitos e vereadores, secretarias de estados e municípios. Também chama atenção o uso
de fontes oficiais relacionadas à segurança pública, como Polícia Militar, Polícia Civil,
Secretaria de Segurança Pública, Ministro da Justiça, Secretário de Segurança. Elas
aparecem em 33 textos. Entretanto, há apenas três textos nos quais fontes oficiais ligadas
à segurança pública aparecem como únicas fontes ostensivas, enquanto as fontes ligadas à
política aparecem sozinhas em 14 textos. Dados expressos nos gráficos 2 e 3.
Gráfico 2
Fonte: Organizado pela autora.
total %
85 100
81 95,2
31 36,4
FONTES OSTENSIVAS E OFICIAIS Amostra Fontes oficiais e outras Apenas fontes oficiais
81
33
31
22
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Total de textos em que aparecem fontes oficiais
Fontes oficiais ligadas à Segurança Pública (PM, PC, SSP, MJ, GM)
Fontes oficiais polí~cas (Presidente, Ministro, Governador, Deputados, Prefeito, Vereador)
Fontes oficiais ins~tuições (OAB, CNBB, Sidicatos, Movimentos organizados)
Textos em que aparecem as fontes oficiais
14
Gráfico3
Fonte: Organizado pela autora.
É interessante notar também que na amostra recolhida apenas um textos não
possui fonte ostensiva. No entanto, 15 textos contém apenas uma fonte ostensiva, 23
apresentam duas, 20 usam informações de três fontes ostensivas e 13 de quatro fontes, os
13 textos restantes usam de 5 a 11 fontes ostensivas. A divisão exata pode ser aferida no
gráfico 4 – Quantidade de fontes ostensivas por texto.
Gráfico4
Fonte: Organizado pela autora.
85
14 3
0
20
40
60
80
100
Amostra Fontes polí~cas Fontes Segurança Pública
Textos com fonte ostensiva única políccas ou de segurança
15
23
20
13
4
5 4 1
Quancdade fontes ostensivas por texto
Uma fonte
Duas fontes
Três fontes
Quatro Fontes
Cinco fontes
Seis fontes
Sete ou mais fontes
Nenhuma fonte ostensiva
15
Outro surpreendente é que a Internet, sites ou informações disponiblizadas nessa
plataforma foram nomeados como fontes em apenas 12 textos. Usou-‐se para nomear a
fonte, Blog da PM, Redes sociais, Facebook, e -‐ genericamente – Internet.
Exemplos do uso das fontes nas narrativas jornalísticas pesquisadas
Ex1: fontes oficiais nominadas pelo nome da Instituição e usando locuções para
enunciação.
Ex2: uso de informação colhida na internet.
Ex 3: uso de informação apurada por observação direta.
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Ex 4: informação numérica usada com determinação da fonte, esta apresentada por meio
de locução.
Ex 5: Fonte oficiosa apresentado por seu nome e posição usando verbo de enunciação.
Ex 6: Fonte oficial apresentada por seu cargo e com uso de verbo de enunciação.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas narrativas separadas para este estudo é possível verificar o uso de
praticamente todos os tipos de fontes observáveis na análise de discurso, ou seja, que
estão explícitos no texto. O resultado da análise dos dados quantitativos provê a resposta
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já esperada de que as fontes oficiais são as mais usadas para construção da narrativa
jornalística.
Mas uma verificação interessante é saber que nem sempre essa fonte oficial, vinda
do governo, polícia ou instituições estabelecidas estão sozinhas na narrativa. Nesta
amostra, a maior parte dos textos contém mais de duas fontes, e geralmente não são
todas oficiais. Infere-‐se que pessoas comuns que participaram ou tomaram conhecimento
do fato também tiveram oportunidade de falar.
Mesmo não sendo tema deste estudo, é preciso ressaltar que muitos textos
apresentam fragmentos de textos anteriormente publicados como se fizessem parte na
nova narrativa. Isso eleva e muito a participação das fontes oficiais.
Conhecendo-‐se a realidade das redações de ciberjornalismo no Brasil, na qual são
empregados – muitas vezes – profissionais com menos experiência e portanto menos
especializados, é compreensível que eles recorram a fontes oficiais para ter certeza dos
dados os quais iram utilizar.
Mauro Wolf coloca que a esses profissionais não falta apenas conhecimento a quais
fontes recorrer, mas também tempo para aumentar esse conhecimento. Desta forma
recorrem a fontes autorizadas – oficiais e especialista – cuja relevância e confiabilidade
serão pouco questionadas.
Mesmo sendo compreensível a opção feita pelos jornalistas, é relevante observar
que a falta de informações vindas dos manifestantes, fontes diretas do mega-‐
acontecimento noticiado faz com que o leitor tenha menos noção do todo e do contexto.
Assim, seu conhecimento fica restrito a fatos isolados e que muitas vezes não contribuem
para o entendimento da relevância social
3 REFERÊNCIAS
HERSCOVITZ, Heloiza Golbspan. Análise de conteúdo em jornalismo. In: LAGO, Cláudia; BENETTI, Marcia (Org). Metodologia de pesquisa em jornalismo. Petrópolis: Vozes, (Fazer jornalismo).
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RODRIGO ALSINA, Miquel. A Construção da Notícia. (Clássicos da comunicação Social) Ed. Vozes. Petrópolis, RJ, 2009.
BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica – As técnicas do jornalismo. Ed. Ática. São Paulo/SP. 1990
MACHADO, Elias. O ciberespaço como fonte para os jornalistas.Disponível em <http://www.bocc.ubi.pt/pag/machado-‐elias-‐ciberespaco-‐jornalistas.pdf> 2002. Consultado em 01 de junho de 2014.
ERBOLATO, Mário L. Técnicas de Codificação em Jornalismo – Redação, captação e edição no jornal diário. 5ª E. Ed. Ática, 2002.
LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística.5ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.
PENA, Felipe. Teorias do Jornalismo. Ed. Contexto. São Paulo. SP, 2005
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Editorial Presença. Lisboa,Portugal. 1999.