Missão integral da Igreja

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Missão Integral da Igreja Uma visão do trabalho social para as igrejas Hildegarde Pereira

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Uma visão do trabalho social para igreja

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Missão

Integral

da Igreja

Uma visão do trabalho social para as igrejas

Hildegarde Pereira

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Uma visão do trabalho social para as igrejas

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Apoios importantes para realização desta obra:

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Sobre o Autor:

Hildegarde Pereira é Pastor Titular da Igreja O Brasil para Cristo em Curitiba – PR.

Militar da Ativa do Comando da Aeronáutica, Presidente da ONG “Projeto Mão Amiga de Curitiba”, também é colunista

do Jornal “Folha O Brasil para Cristo” de circulação nacional e apresentador de um dos programas da

rádio “Sara Brasil FM – 107,5” e na Rádio AM 790.

Possui os títulos de Bacharel em Teologia pela FETEV, Pós-Graduado em Telogia,

Lato Sensu, no curso de Liderança e Pastoreio na FTBP, graduação de tecnólogo em automação industrial na UTFPR

Contatos com o autor:

“Projeto MãoAmiga de Curitiba” – Pr. Hildegarde Pereira Rua Ireno Marchesini 539, Boqueirão – Curitiba – PR – CEP: 81730-270

[email protected] –Tel.: 41 3344-9161 / 41 9632-6572

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Á minha fiel esposa, Herta Volkmann Pereira, constante e esforçada ajudadora no meu ministério e trajetória.

Aos meus queridos filhos, Jéssica Volkmann Pereira e Jefferson Volkmann Pereira, por sua compreensão e afeto.

Ao amado primo e irmão em Cristo, Gerson, pelo seu trabalho em realizar a diagramação e a capa deste livro.

Á Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para Cristo” da cidade de Curitiba na região do Canal Belém, rebanho a qual

Deus tem me confiado.

Ao Pr. Jonadabe do “ Projeto Jônatas”,instrumento de Deus na

minha vida. Ao meu amigo Altevir Gama, Presidente da ONG MOOPAR, pelo apoio e incentivo nas horas mais difíceis.

Ao irmão em Cristo, Elder Marafigo, pelo apoio prestado na

confecção deste livro.

Á minha querida mãe, Francisca Sabino Pereira “in memorian”, pelo seu exemplo de vida.

Aos Professores e Parceiros da ONG Projeto Mão Amiga de Curitiba, pelo apoio prestado.

A Jesus Cristo, meu amado Salvador e Senhor.

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A ação social não deve ser encarada como um ministério dentro

da igreja e sim como o ministério da igreja. Vejo na palavra Shalom o

ministério da igreja como corpo de Cristo, esta palavra engloba os

múltiplos relacionamentos da vida diária. Simboliza a condição ideal

de vida para Israel sob a Lei. SHALOM é um estado de totalidade e

inteireza, possuído por uma pessoa ou um grupo, que inclui boa saú-

de, prosperidade, segurança, justiça e profundo contentamento espi-

ritual. Ela traz consigo saúde e uma vida boa (Sl. 38.3; Gn. 15.15).

Para um Israelita desejar para uma pessoa “SHALOM”, era dese-

jar para essa pessoa a proteção de DEUS na batalha, ou se estivesse

doente, a restauração de sua saúde por DEUS (Dn. 10.19; Jz. 6.23).

SHALOM era sinônimo, para uma pessoa, de uma vida boa, por que

envolvia um sono repousante, longa vida, prosperidade e uma morte

tranqüila no final de sua vida (Gn. 15.1; Lm. 3.17; Sl. 37.11; Jô 5.19-

26; Lv. 26.6).

SHALOM é também para a comunidade. Paz é a condição normal

e próspera que DEUS deseja para todo o seu povo em seu relaciona-

mento uns para com os outros.

Hoje em meio a um individualismo dentro e fora das igrejas, vejo

no Pastor Hildegarde, uma compreensão correta do amor de Deus

pelas pessoas com seu PROJETO MÃO AMIGA DE CURITIBA, este

valoroso servo de Deus pode expressar o amor de Deus que não se

consegue expressar com palavras, mas com ação. Esta obra reflete

bem o coração deste nosso irmão, em um desejo de que todos possam

alcançar a mesma maravilhosa bênção que é servir o próximo.

Pastor Jonadabe

Igreja Presbiteriana Shalom – Projeto Jonatas.

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Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................... 7

1 – Igreja, sua origem e missão ................................................ 9

Breve Histórico da Missão Integral da Igreja .................................. 14

Bases Bíblicas da Missão Integral da Igreja ..................................... 15

Fatores que influenciaram a negligência cristã ................................ 20

Responsabilidade Social da Igreja .................................................... 23

2 – Ministério específico como Ação Social da Igreja .......... 30

Orientações para implantação de um Ministério Específico .......... 34

3 – Contexto histórico, social e eclesiástico na implantação e

desenvolvimento de um Projeto Social em uma igreja

evangélica ........................................................................ 37

CONCLUSÃO .............................................................................. 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 44

ANEXOS ................................................................................... 45

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INTRODUÇÃO

“Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao

mundo” (João 17:18). Este versículo bíblico faz parte da Oração que

Cristo fez ao Pai em relação a sua Pessoa e a Igreja. Referente a si

Cristo declara que foi enviado a terra com uma Missão que seria consu-

mada na Cruz do Calvário.

Quando Ele diz: também eu os enviei ao mundo... Cristo está se

referindo a Igreja, pois os Apóstolos foram os primeiros líderes desta

que seria fundada no Dia de Pentecostes. O termo Grego ekklesia “Igreja”

etimologicamente significa “sair para fora ”, ou seja, comissionada a:

“Ide por todo o mundo,pregai o evangelho a toda criatura( Mc 16:15).”

A Igreja existe para uma Missão, como fogo existe para queimar.

Quando o fogo deixa de queimar, ele deixa de existir. De modo

que,quando a Igreja não queima com paixão de tornar Cristo conhecido

pelo mundo,ela deixa de ser Igreja – e se transforma num Clube Social.

Neste livro estarei focando a Missão Integral da Igreja associada a

Ação Social como um Ministério Especifico através da igreja, a fim de

promover mudanças substanciais na vida de indivíduos e na coletivida-

de, de uma forma direta e imediata, buscando assim diretrizes que

venham transformar pessoas e as estruturas do mundo pós moderno .

Com base nas escrituras sagradas estarei definindo a origem e a

missão da Igreja, verificando-se na perspectiva do Antigo e Novo Testa-

mento a presença da ação social na igreja primitiva, que vá além de um

mero assistencialismo, mas que redimensiona o papel assistencial da

comunidade de fé. A ação social pertence à missão da igreja e deve

encorajar seus membros à responsabilidade social e à busca da justiça

social. Não deve enclausurar-se de maneira a viver em guetos, mas

frutificar a realidade da koinonia (envolvimento e compromisso) como

conseqüência da justificação pela fé.

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Estarei apresentando uma reflexão teológica que abordará o minis-

tério diaconal no contexto bíblico, onde a ekklesia manifesta esses

princípios como algo visível da fé justificadora. Entendendo que a igreja

é serva, veio ao mundo para servir e tendo Cristo como exemplo mor,

pois é a exemplificação da igreja na prática da ação social. Ação social é

evangelismo através da comunhão. A igreja primitiva mostrou sinais de

uma igreja social a partir do momento que começou a viver em comu-

nhão. Este grande sinal de ação do Espírito sobre a comunidade, ou

seja, a comunhão entre os cristãos, caía na graça do povo, e levava

diretamente para o evangelismo.

Para tanto, neste livro estarei fazendo uma exposição da Igreja

Evangélica Pentecostal “O Brasil para Cristo” da cidade de Curitiba,

como articuladora da ação social no meio da comunidade como símbolo

figurativo do aspecto visível da justificação pela fé em Cristo.

Por fim, serão apresentados comentários sobre a vida de John Wesley,

na Inglaterra, como exemplo de cristão sobre responsabilidade Social da

Igreja.

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IGREJA, SUA ORIGEM E MISSÃO

Jesus demonstrou compaixão pelos necessitados, operou milagres,

alimentou pessoas, mas teve como propósito principal instalar a fé na

sua pessoa como Cristo o Filho de Deus que veio para salvar os perdi-

dos. Seu convite foi vinde a mim (Mt 11.28), trazendo como sempre a

idéia de paternidade, de acolhida, amparo, mas ao chamar (vinde). Ele

também preparou para que fossem por todo o mundo e pregassem o

Evangelho a toda criatura (Mc 16.15). Jesus deixa assim a grande tarefa

de que, assim como Ele amou e se entregou, esta deve ser a missão de

todo cristão: não ficar satisfeito apenas porque recebeu amor de Deus,

mas porque o amor tende à busca os outros, à luta pelos outros, à entre-

ga aos outros estando disposto até a dar a vida, se necessário. Foi para

isto que Ele veio e é com este fim que ele envia. Este é o trabalho que

Jesus confiou à igreja que ele mesmo justificou.

A palavra Igreja vem do substantivo grego ekklesia, "ek" que signi-

fica "fora" e do verbo "kalein" que significa "chamar". Em outras pala-

vras significa "chamados para fora". A Igreja foi chamada para ir ao

mundo e não ficar afastada deste. O Senhor Jesus mandou a seus discí-

pulos que assim fizessem. A Igreja não pretende controlar o mundo

porque não tem ordem para fazê-lo. Pelo contrario, sabemos que o

mundo está controlado por principados e potestades.

A igreja mantém viva esta chama de proclamar ao mundo o evange-

lho, uma vez que a razão de ser da igreja é sua própria missão. Assim a

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obra missionária da igreja está totalmente relacionada à fidelidade ao

mandamento de Jesus.

Fazer missão é ir ao mundo solitário a fim de, com compaixão,

sujar as mãos, sofrer e gastar-se a serviço do próximo, envolvendo-se

com cada um levado pelo amor de Deus. Sobre isto John Stott faz a

seguinte declaração: "Missão é a nossa resposta humana à divina

comissão. É todo estilo de vida cristão, que tanto inclui evangelismo

quanto responsabilidade social, sob a convicção de que Cristo nos

enviou, e que é para o mundo, portanto, que devemos ir, para viver e

trabalhar para ele".

Vê-se então que o cristão que está ativamente preocupado com a

justiça social não se preocupa apenas com o "sagrado", mas também

com o "secular". Sua preocupação com a comunidade é tão abrangente

quanto à de Jesus. O cristão que ama seu próximo não fica apenas

conversando, planejando e orando, como os religiosos, mas sai a servi-

ço do seu próximo para promover-lhe tanto o suprimento espiritual quanto

o físico.

A missão da Igreja se desenvolve em duas esferas, sendo uma de

batalha espiritual e a outra em um engajamento histórico e social, e que

esta missão nestes dois planos ocorrem ao mesmo tempo e têm caracte-

rísticas coletivas, pessoais, não só individuais, históricas e sociais, de tal

forma que essas características juntas formam a "espiritualidade mis-

sionária", que invade toda dimensão da relação humana, que não foge

do mundo, mas mergulha dentro dele.

Podemos então perceber que a grande comissão surge de uma igreja

justificada com o propósito claro de fazer a vontade de Deus. Assim a

igreja participa de sua tarefa missionária de espalhar as boas novas por

meio de testemunho, de pregação, de viagens missionárias, de boas obras

(Tt 3. 2, 8,14), de praticar o bem e a mútua cooperação (Hb 13.16) e de

tantos outros meios. Em outras palavras, a ação social é conseqüência

da evangelização.

O sentido da grande comissão é que devemos ir e fazer discípulos

por todo mundo (Mt 28.19, Mc 16.15) onde a igreja rompe as barreiras

e fronteiras e vai a todas as partes. No evangelho de João Jesus diz:

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"Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio". A grande comis-

são nos faz refletir de como deve ser feita esta obra, pois fica claro nos

textos que a obra tem que ser cumprida.

Esta missão de evangelização não pode ser apenas anunciar as boas

novas , mas tem que haver envolvimento com as pessoas, em amor,

uma vez que iniciada não pode ser abandonada, tem que assumir res-

ponsabilidades e se esforçar.

Norman Lewis faz o seguinte comentário a respeito de se esforçar:

"Protestou Paulo" esforcei-me por pregar o evangelho". O trabalho

número um de Deus merece o esforço principal do homem. Natam

Hale, famoso como guerreiro revolucionário, morreu como espião. Suas

patrióticas palavras foram: "Só lamento ter apenas uma vida para dar

pelo meu país". Ninguém, homem ou mulher tem mais de uma vida.

Uma vida para investir!... Viva de modo que seus esforços tenham signi-

ficação na evangelização mundial".

O crente justificado pela fé tem no seu coração este desejo de servir

a Deus. Mesmo que isto lhe custe caro podemos ver que uma vida

justificada por Deus tem muita importância no seu reino. Esta tarefa da

grande comissão não é para qualquer um, senão para aqueles que já

foram justificados por Deus e separados para tão grande obra.

O apóstolo Paulo, também nos mostra seu conceito sobre Igreja,

quando ele nos diz: Ele nos libertou do império das trevas e nos trans-

portou para o reino do Filho do seu amor (BÍBLIA, N.T. Colossenses

1.13). Também Paulo da ênfase de que todos estávamos perdidos, mortos

no pecado, no meio das trevas, a palavra traduzida aqui "transportou" é

usada da migração de povos inteiros de uma região para outra. Isto nos dá

uma idéia de um êxodo cristão, de todo um povo. E assim quando este

povo, a igreja, já libertos da escravidão, percebe outros que ainda estão

sob esta mesma escravidão, e ainda assim, se fecham dentro de sua "segu-

rança", como que temendo um inimigo que eles já viram sendo vencido,

se acovardam dentro de quatro paredes, mesmo sabendo que o poder

Daquele a quem pertencem agora é muito maior. Mas nada fazem por

estes, negando-lhes a oportunidade também de libertação, isto os tornam

filhos rebeldes, pois toda desobediência é rebelião contra Deus.

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Cinqüenta dias após a Páscoa, no dia de Pentecostes, um som como

um vento impetuoso encheu a casa onde o grupo se reunia. Línguas de

fogo pousaram sobre cada um deles e começaram a falar em línguas

diferentes da sua, conforme o Espírito Santo os capacitava. Os visitan-

tes estrangeiros ficaram surpresos ao ouvir os discípulo falando em suas

próprias línguas. Alguns zombaram, dizendo que deviam estar embria-

gados (At 2.13). Mas Pedro fez calar a multidão e explicou que estavam

dando testemunho do derramamento do Espírito Santo predito pelos

profetas do AT (At 2.16-21; Joel 2.28-32). Alguns dos observadores

estrangeiros perguntaram o que deviam fazer para receber o Espírito

Santo. Pedro disse: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em

nome de Jesus Cristo, para remissão dos vossos pecados, e recebereis o

dom do Espírito Santo (BÍBLIA, N.T. Atos 2.38). Cerca de três mil

pessoas aceitaram a Cristo como seu Salvador naquele dia (Atos 2.41).

Inicia-se a Igreja que conhecemos.

Durante alguns anos Jerusalém foi o centro da igreja. Muitos judeus

acreditavam que os seguidores de Jesus eram apenas outra seita do

judaísmo. Suspeitavam que os cristãos estavam tentando começar uma

nova "religião de mistério" em torno de Jesus de Nazaré.

É verdade que muitos dos cristãos primitivos continuaram a cultuar

no templo (At 3.1) e alguns insistiam em que os convertidos gentios

deviam ser circuncidados (At 15). Mas os dirigentes judeus logo perce-

beram que os cristãos eram mais do que uma seita. Jesus havia dito aos

judeus que Deus faria uma Nova Aliança com aqueles que lhe fossem

fiéis (Mt 16.18); ele havia selado esta aliança com seu próprio sangue

(Lc 22.20). De modo que os cristãos primitivos proclamavam com

ousadia haverem herdado os privilégios que Israel conhecera outrora.

Não eram simplesmente uma parte de Israel – eram o novo Israel

(Ap 3.12; 21.2; Mt 26.28; Hb 8.8; 9.15).

Em Atos 11. 19-21, percebemos esta Igreja a se espalhar para fora

de Jerusalém. Enquanto isso, os crentes que fugiam de Jerusalém du-

rante a perseguição depois da morte de Estevão viajaram até a Fenícia,

Chipre e Antioquia, espalhando a Boa Nova, mas só aos judeus. Entre-

tanto, alguns dos crentes, que foram de Chipre e de Cirene para Antioquia,

apresentaram também a alguns gregos a sua mensagem a respeito do

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Senhor Jesus. E o Senhor favoreceu este trabalho, de modo que um

grande número destes não-judeus se tornaram crentes.

O desenvolvimento da Igreja de Jerusalém, a partir da conscientização

missionária de seus lideres, é claramente observada quando estes aguar-

dando que Cristo voltasse em breve, se uniram como família de Deus,

uns se preocupando com o bem estar do outro (At. 2.44-45; 4.34-35),

quando vendiam suas propriedades e colocavam o produto destas vendas

para serem distribuídos entre todos, afim de que ninguém padecesse

necessidade alguma. Apesar desta compreensão equivocada sobre a volta

do Senhor Jesus, a igreja demonstrou nestes primeiros passos, o poder

de Deus atuando em sua vida. Os apóstolos eram usados como instru-

mentos de Deus na operação de milagres (At. 5.12-16) que convence-

ram muitos do povo, de que realmente Deus se agradava deles, e assim,

muitos creram e a igreja crescia com tanta rapidez, que necessitou de

que fossem escolhidos outros de dentro da igreja para o melhor atendi-

mento ao povo. E mesmo quando, devido as perseguições das autori-

dades Judaicas, alguns dos apóstolos foram presos, Deus enviou um

anjo a libertá-los (At. 5.17-20).

É em meio a estas perseguições que surge o personagem de Saulo,

não como perseguido, mas como perseguidor. E é a partir da sua

conversão, Saulo, agora chamado de Paulo, da seqüência ao cresci-

mento desta Igreja por onde quer que Deus o enviasse. E assim a

Igreja é espalhada por toda a terra, o livro de Atos nos mostra a

presença da Igreja em Jerusalém, Judéia, Samaria, Província da

Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia. A Igreja então recebe a orientação

de que todos estão debaixo da graça de Deus e que Deus não faz

acepção de pessoas (At. 10).

Então qual a razão da existência desta igreja? A resposta pronta-

mente seria: "para glorificar a Deus" (Ef 3.10; 1Pe 2.9), mas especial-

mente para manter a fraternidade entre os cristãos, para dar testemunho

ao mundo do nome de Cristo, e para maior extensão dos princípios

evangélicos. Assim, muitos definiram missões como razão da existência

da Igreja, e desta forma a igreja satisfez o instinto social, e ao mesmo

tempo o proveu dos meios a empregar para estabelecer o Cristianismo

no mundo. E nisto está o grande valor da igreja: ao passo que enquanto

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cada crente se salva pela sua união com Cristo, ele é também santifi-

cado, não isoladamente, mas em associação com os outros. O lar, a

escola, a vila, a cidade, o país, são ilustrações da vida social, que tem

religiosamente a sua expressão na igreja.

Breve Histórico da Missão Integral da Igreja

O Congresso Mundial de Evangelização (Berlim, 1966) – a primeira

grande reunião mundial de evangélicos no século XX estimulou con-

gressos regionais de evangelização em vários continentes. Estes por sua

vez contribuíram para o Congresso Internacional de Evangelização

Mundial (Lausanne, 1974), que evocou manifestações de opinião de

toda a comunidade evangélica, à medida que os participantes se deba-

tiam com as questões da teologia de missão no mundo contemporâneo.

O Pacto de Lausanne demonstra que "os evangélicos desenvolveram

uma teologia de missão amadurecida, positiva e consistente. Uma das

grandes influências nas deliberações do congresso veio através das

contribuições de oradores do terceiro mundo. O impacto de líderes como

Samuel Escobar e C. René Padilla, através do grupo de Discipulado

Radical, foi de especial importância.

Este Pacto foi muito além das declarações evangélicas tradicionais,

demonstrando que o evangelismo bíblico é inseparável da responsa-

bilidade social, do discipulado cristão e da renovação da igreja. Lausanne

abordou o tema abrangente da evangelização mundial, referindo-se com

isso ao ministério e à missão total da igreja.

Em seu capítulo sobre a "Responsabilidade Social Cristã", o Pacto

de Lausanne declara:

Afirmamos que Deus é tanto o Criador como o Juiz de todos os

homens. Portanto, devemos partilhar da sua preocupação com a justiça

e a reconciliação em toda a sociedade humana e com a libertação dos

homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à ima-

gem de Deus, toda pessoa, não importa qual seja a sua raça, religião,

cor, cultura, classe, sexo ou idade, tem uma dignidade intrínseca em

razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Também

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aqui manifestamos o nosso arrependimento, tanto pela nossa negligên-

cia quanto por às vezes termos considerado a evangelização e a preocu-

pação social como mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com

o ser humano não seja o mesmo que a reconciliação com Deus, nem a

ação social seja evangelismo, nem a libertação política seja salvação,

todavia afirmamos que tanto a evangelização como o envolvimento só-

cio-político são parte do nosso dever cristão.

Bases Bíblicas da Missão Integral da Igreja

Queremos pensar as bases bíblicas da missão integral da Igreja a

partir de Mateus 9.35 - 10.1 esse texto contém, em forma embrionária,

a perspectiva, o conteúdo, a motivação e o impulso para a missão.

Tanto a perspectiva da missão da Igreja como a própria missão, em

sua totalidade, são vistas na vida e ação de nosso Senhor Jesus, de

forma histórica e concreta. A perspectiva dessa missão tem como ponto

determinando e determinado a vida da missão da Igreja em sua oração

sacerdotal e intercessora: "Assim como tu me enviaste ao mundo, tam-

bém eu os enviei ao mundo." (Jo 17.18)

Depois de sua morte e ressurreição, a oração se transforma, em

seus lábios, num mandamento missionário: "Assim como o Pai me en-

viou, assim também eu vos envio" (Jo 20.21), sugere que a missão da

Igreja deve corresponder à própria missão de Cristo. Dito de outra ma-

neira, a missão de Cristo é o modelo para a missão da Igreja: Assim

como o Pai me enviou, eu também vos envio". Isso quer dizer que, da

compreensão da missão de Jesus Cristo, a Igreja deve deduzir a com-

preensão de sua própria missão.

Como foi que o Pai enviou o seu filho unigênito ao mundo?

(1) Enviou-o como homem: Adão, novo Adão (Sl 8, Hb 2).

(2) Como Filho do homem e servo sofredor (Dn 7.14, Is 53)

(3) A síntese cristológica (Mc 10.45, Lc 22.27)

(4) O novo Adão (Fl 2.5-8, Hb 4)

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Page 19: Missão integral da Igreja

Jesus nos oferece o modelo perfeito de serviço e envia sua igreja ao

mundo para que seja uma igreja serva. Ele expressou seu amor em

serviço, e este é o caminho de igreja. De que forma é essencial que

recuperemos esta ênfase bíblica em nosso ministério? PATRÕES E

SERVOS. CAPITALISTAS E DEPENDENTES.

O destino do Filho de Deus foi o mundo de Deus: "Assim como o

Pai me enviou". "Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu

vos enviei ao mundo". O Cristo-homem veio ao mundo dos homens.

Não a um mundo ideal, mas ao mundo tal e qual ele é. Ele se reduziu a

uma cultura particular - ou, dito de outra maneira, a um espaço-tempo-

recado. Por que toda cultura está limitada pela geografia, pela história e

pela situação de pecado.

Jesus enviou sua igreja "como ele foi enviado" ao mundo da histó-

ria, da geografia e do pecado, o qual, no entanto, é o mundo de Deus, o

mundo das Escrituras.

Devemos identificar-nos com este mundo, sim, mas sem perder nossa

identidade cristã. O que significa isto em termos práticos? Significa co-

nhecer, conviver, compartilhar e comprometer-se com o mundo.

Conhecer: este mundo deve ser conhecido, devido à natureza de

nosso trabalho. O conhecimento da situação que nos rodeia é a base

para uma missão séria da igreja. Conhecer as pessoas com o respeito

que merecem aqueles a quem iremos servir. Temos de fazer o melhor

por eles, como pessoas no mundo. O amor é a direção única que leva ao

conhecimento. Amor a Deus e amor ao próximo.

Conviver: temos de aprender a conviver com nós mesmos e com as

pessoas a quem Deus nos enviou, pessoas com as quais Ele se preocupa.

Compartilhar: tudo que o Senhor nos tem dado. Isto é, compartilhar

o evangelho em sua dimensão integral e lutar pelos valores deste evan-

gelho: justiça, paz, preocupação pelas necessidades humanas.

Comprometer-nos: Cristo estava comprometido com a vontade do

Pai, pelo que também se comprometia com os seus. Não se trata de

servirmo-nos a nós mesmos, mas de comprometermo-nos com os de-

mais: "Este mundo espera a revelação dos filhos de Deus".

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A vida de Jesus foi uma vida itinerante, uma vida peregrina; uma

vida, como diria João A. Mackay, do caminho. "Jesus percorria os po-

vos e aldeias".

A igreja, assim como o Senhor Jesus, deve ser uma igreja do cami-

nho e não do balcão. Ela não pode permanecer como espectadora da

história: tem de descer para onde se travam as lutas reais dos homens.

Ali se encontram as necessidades, que são o chamado premente da

Igreja para que possa cumprir sua missão.

A passagem também nos fala do conteúdo da missão. Diz que o

Senhor ensinava, pregava e servia. Talvez seja isso que a igreja tem

esquecido. De testemunha ocular dos acontecimentos humanos, ela tem

de passar a identificar-se e solidarizar com as necessidades reais das

pessoas. Deve participar como portadora de Cristo e de sua graça, ofe-

recendo os recursos que seu Senhor lhe confiou para a transformação,

não somente da situação, mas também da natureza dos participantes.

Essa imersão nas necessidades humanas deve levar ao nítido reco-

nhecimento de que a necessidade fundamental do homem é de natureza

espiritual. A ruptura entre Deus e os homens deve-se à lamentável rea-

lidade do pecado humano. O pecado é o agente de toda desarmonia,

seja com Deus e o próximo, seja consigo mesmo e com a criação. O

pecado é essencialmente pessoal; suas conseqüências sociais, porém,

são trágicas e imediatas.

Jesus veio para salvar os pecadores. Cabe à Igreja fazer chegar essa

salvação, hoje, aos pecadores. Jesus, em sua tarefa, envolveu-se com

os pecadores, não com seu pecado. A Igreja, em sua história, muitas

vezes participou dos pecados dos pecadores (orgulho, egoísmo, cobi-

ça), afastando-se, porém, dos pecadores. Não poucas vezes, em seu

distanciamento, ao invés de fazer chegar a eles a salvação e a redenção,

ofereceu-lhes somente crítica e juízo.

Quando as igrejas esquecem algumas dessas dimensões do conteú-

do de sua missão, entram em discussões estéreis que polarizam as posi-

ções e, diria eu, caem na infidelidade, pois infidelidade quer dizer não

obedecer ao que Cristo manda e ensina. Não somente pelo preceito,

mas pelo exemplo. Jesus ensinou, anunciou o evangelho e serviu. Cada

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uma dessas dimensões tem lugar dentro da missão da Igreja, sem mes-

cla nem combinação. E se a Igreja quiser ser fiel, tem de cumprir estas

dimensões em sua tarefa missionária.

O texto fala também da motivação da missão: "Vendo ele as multi-

dões, compadeceu-se delas, por que estavam aflitas e exaustas como

ovelhas que não tem pastor." A motivação, a causa que moveu Jesus, a

força interna que o impulsionou, foi a compaixão: do latim "com-pai-

xão", padecer junto a; do grego "sun-patiens", sofrer com. Quando nos

é dito que o Senhor sentiu compaixão, isto significa que ele se identifi-

cou com essa gente, solidarizou com suas necessidades, colocou-se em

sua pele. A Igreja também tem de fazer o mesmo. Não pode fazê-lo, no

entanto, sem a presença e o poder do Espírito santo, que dominava a

vida de Jesus Cristo, mas que nem sempre domina a vida da Igreja.

Aqui fica muito evidente para onde o Senhor direcionava sua com-

paixão: "Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas". A Cristo impor-

tavam e importam as pessoas. Mesmo que para a Igreja hoje importem

mais os números e as estatísticas, os edifícios, os auto-falantes e as

luzes de efeito, para Cristo o importante eram as pessoas. Hoje, uma

igreja que queira ser fiel a Cristo tem de enxergar além das estatísticas,

isto é, ver as pessoas e as suas necessidades. Deverá enxergar além das

estruturas que possui ou das facilidades materiais que desfruta e ver as

mentes, os corações e a fome espiritual, emocional e física das pessoas.

Tudo que Cristo fez, ele o fez pelo homem em comunidade e pelo

homem de carne e osso. Não por uma idéia do homem, não por uma

alma desencarnada, mas pelo homem vital e vivente, cheio de necessi-

dades, angústias e problemas, cheio de aspirações e esperanças. A este

homem é que Cristo se dirigiu, atendendo a suas necessidades.

A passagem, porém, fala não somente da perspectiva, do conteúdo e

da motivação para a missão, mas também do impulso missionário. Esse é

um impulso comprometido: "E então se dirigiu a seus discípulos: A seara

na verdade é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao

Senhor da seara que mande trabalhadores para sua seara." Não entrarei

na exegese do texto. O certo é que o dono da colheita é Deus, que ele tem

um povo e que seus discípulos, a Igreja, devem reunir este povo, para

que façam "conhecidas, entre os povos, as obras do Senhor".

20

Page 22: Missão integral da Igreja

Esta é uma oração que compromete: "Rogai, pois, ao Senhor da

seara que mande trabalhadores para sua seara". Observem como surge

a resposta: "Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus

autoridade sobre espíritos imundos para os expelir, e para curar toda

sorte de doenças e enfermidades". Afirmo que, para a igreja, o maior

perigo é orar, pois o Senhor responde a oração e nós fazemos parte da

resposta. Se ele mandou que eles orassem, deviam estar dispostos a

fazer parte da resposta dessa oração.

A igreja que olha o mundo, que entende o chamado do Senhor e

que escuta a Cristo, essa é a igreja que é chamada e convocada para

ser a resposta de sua própria oração, assim como aconteceu com os

discípulos.

Nós poderíamos dar aqui por encerrado o assunto. Afinal, a passa-

gem já foi exposta. Mas é preciso continuar observando como se abre a

flor, que é esta passagem, para que se lancem novas luzes e novos

elementos sobre a missão.

A primeira coisa que convém ressaltar é que nos encontramos, nes-

tes últimos quinze anos, na era da missiologia. É difícil enumerar quantas

conferências missionárias já houve, quantos institutos missionários se

abriram, quantos departamentos de missiologia estão em pleno funcio-

namento nos seminários de todas as denominações e confissões cristãs,

inclusive católicos. O certo é que, segundo parece, a missiologia não é

coisa nova. A igreja a praticou desde seu próprio início, e o povo de

Deus esteve em missão desde que ele o convocou.

Como, porém, o pensamento se desenvolve e a doutrina não perma-

nece estática, surgem novas ciências teológicas. Não lhes falo como

teólogo, mas como pastor. Têm-se realizado muitas conferências sobre

a missão da Igreja, e frases têm sido cunhadas em diferentes ocasiões.

Ouve-se dizer por aí: "A época das missões passou; estamos no tempo

da missão". Quer dizer, já não devemos esperar que as organizações

missionárias nos enviem, a nós povos subdesenvolvidos, somente mis-

sionários. As missões tradicionais passaram. A missão diz respeito à

igreja toda, seja do primeiro, do segundo ou do terceiro mundo. Onde

quer que se encontre a igreja de Cristo, deve se desenvolver uma igreja

missionária. O teólogo Brunner disse certa vez: "A igreja existe para a

21

Page 23: Missão integral da Igreja

missão, como o fogo existe para queimar". Se a igreja não está cumprin-

do sua missão, então ela não é igreja. Ou a igreja é essencialmente

missionária ou não é igreja.

O capítulo 16 de Atos é majestoso. Quem se converte? Vocês recor-

dam? Uma vendedora de púrpura, mulher rica, asiática, aparentemente

de classe social superior; uma moça prostituída, marginalizada, endia-

brada, louca; e um burocrata do império romano. Todos juntos, na pri-

meira igreja européia de Filipos, adorando a Deus. Esta é uma igreja

que rompe fronteiras, um povo que desfaz todos os obstáculos que os

homens possam estabelecer. É um povo da esperança. Por que em

Antioquia, cidade corrupta, e em Corinto, não menos corrupta, em situ-

ações de grandes obstáculos e hostilidades, a igreja soube avançar, sa-

bendo quem era seu Deus, seu Salvador e quem habitava nessa igreja.

A igreja que vemos, é uma igreja sem fronteiras, sem fronteiras

étnicas, de classes sociais, sem barreiras econômicas entre seus membros.

Fatores que influenciaram a negligência cristã

O descuido dos evangélicos para com o tema da responsabilidade

social explica-se de razões históricas. A maioria de nossas igrejas pro-

vém de missões surgidas no mundo anglo-saxão a partir do século pas-

sado, com um apreciável incremento a partir do fim da Primeira Guerra

Mundial. Em alguns casos a teologia, ou melhor, a mentalidade pietista

destas missões levou à concepção da vida cristã como separada do

mundo. A hostilidade do ambiente católico ou semi-pagão tornou mais

aguda esta "separação". Desta maneira vários aspectos da vida dos crentes

ficaram desvinculados da sua fé. Por outro lado, a rejeição do mundo

significou uma separação em relação a aspectos importantes da cultura

do país deles.

Porém, talvez o que mais afetou nossa atitude, foi à polêmica entre

fundamentalismo e modernismo, a partir dos começos deste século,

bem como a rejeição do fracassado "Evangelho Social". Chegou-se a

identificar toda a preocupação com os problemas sociais e políticos como

tentativa de introduzir o "evangelho social", e ao final atingiu-se o ponto

em que se desculpou a falta de compaixão e de obediência como atitude

22

Page 24: Missão integral da Igreja

de "defesa da fé". Como Carl F. H. Henry demonstrou, isso era uma

corrupção da luta evangélica pela ortodoxia, um perigoso desvio do seu

intento original. Basta uma citação para comprová-lo. No último volu-

me da famosa coleção de livros The Fundamentals - livros que desem-

penharam um papel muito importante na luta contra o modernismo - o

Prof. Charles Erdman dizia:

"Um verdadeiro evangelho da graça é inseparável dum Evangelho

das boas obras. Não se podem divorciar as doutrinas cristãs dos deveres

cristãos. Com a mesma clareza com que define a relação entre Cristo e

o crente, o Novo Testamento define a relação entre o crente e os mem-

bros da sua família, os membros da sua família, os membros da comu-

nidade e os concidadões do seu país. Necessitamos, nos dias que cor-

rem, dar uma ênfase renovada aos ensinamentos sociais do Evangelho,

e devemos faze-lo nós, os que aceitamos a totalidade do Evangelho, e

não deixar que estes ensinos sejam interpretados e aplicados somente

por aqueles que negam o essencial do Cristianismo... "E acrescentava

mais adiante: "Existe aqueles que se sentem muito a vontade com o que

consideram pregação ortodoxa, embora saibam muito bem que as suas

riquezas provêm de negócios ilícitos e da opressão do povo.

Assim, pois, as razões históricas explicam os nossos descuido, mas

impõem-se uma tomada de consciência e uma correção. Apesar disso,

há outro sentido no qual uma olhadela na História nos será benéfica. No

que concerne à dimensão social do testemunho cristão, tem havido um

retrocesso paralelo ao crescimento das igrejas. Os observadores não

evangélicos que procuram interpretar nossa presença na América Latina

demonstram que os evangélicos inicialmente provocaram um impacto

social. Estiveram, por exemplo, na vanguarda da reforma agrária na

Bolívia; da atenção hospitalar em certas zonas como a região andina; da

educação popular na Argentina, no Peru, no México e em Cuba; das

libertações civis e em particulares da religiosa; da luta em favor do indí-

gena e dos seus direitos, e de várias causas mais.

Por outro lado, certas missões tiveram um interesse definido no tra-

balho social, estabelecendo, por exemplo, colégios cuja fama e influên-

cia já fazem parte da tradição educacional de certos países. Deveríamos

acautelar-nos da tentação de lançar a primeira pedra quando se trata de

23

Page 25: Missão integral da Igreja

julgar essa tarefa precursora. Por outro lado, pode-se observar que mis-

sões que não tinham interesse no aspecto social, acabaram estabelecen-

do instituições de serviço, esmagadas pela urgência dos problemas que

enfrentavam. Poder-se-ia mesmo dizer às vezes até em missões muito

conservadoras neste assunto, os missionários do inicio do século mos-

traram maior sensibilidade às necessidades. Aparentemente, é como se

o crescimento das igrejas e denominações houvesse concentrado a aten-

ção no mecanismo eclesiástico em si, cerrando os olhos as necessidades

do mundo, calando a compaixão num típico processo de aburguesamento.

Outro aspecto do impacto social do Evangelho foi a ascensão na

escala social. Observa-se em muitos casos que, começando nas cama-

das baixas da sociedade no transcurso de uma ou duas gerações, o Evan-

gelho produziu certa mobilidade social ascendente. Assim é que o filho

de pais evangélicos quase analfabetos pode chegar à Universidade gra-

ças à mudança que Cristo operou em seu pai quando ele se converteu.

Até onde as igrejas levaram em conta essa realidade? O fato é que não

se desenvolveu adequadamente o ensino do princípio "aquele a quem

muito foi dado, muito lhe será exigido" na sua aplicação à responsabili-

dade social do cristão.

O momento especial que a América latina vive é um momento de

revolução, de rápidas mudanças sociais, de transformação. A pressão

social das massas marginalizadas, que encontram seus intérpretes nos

intelectuais e nos estudantes, não pode ser sufocada nem por todo o

aparelhamento militar e policial dos nossos países. A agitação política

encontra nela um campo fértil para todos os tipos de extremismos. As

receitas econômicas ou sociais contidas no credo dos nossos irmãos

anglo-saxões não funcionam nesta explosiva realidade. Esta hora nos

toma de surpresa com perguntas para as quais não temos respostas

para as perguntas de hoje, e nossos melhores jovens vão buscá-las em

outros lugares.

Embora seja uma caricatura, cremos que é muito eloqüente a sínte-

se que um jovem evangélico fez da situação.

"No passado nos diziam que não nos preocupássemos em mudar a

sociedade, porque se trata é de mudar os homens. Os homens novos

24

Page 26: Missão integral da Igreja

mudariam a sociedade. Mas quando os homens novos começaram a

preocupar-se com mudar a sociedade, diz-se a eles que não se preocu-

pem, que o mundo sempre andou mal, que nós esperamos novos céus e

nova terra, e que este mundo está condenado à destruição. Para que

tentar melhorá-lo? O mal é que aqueles que ensinam isso desfrutam

muito tranqüilos de todas as vantagens que este mundo passageiro lhes

oferece e as defendem com paixão quando elas parecem correr perigo."

Responsabilidade Social da Igreja

O termo usado para diaconia se origina do grupo de palavras que

acompanha diakoneo que significa "servir", diakoneo "serviço" e diakonos

para servidor. Inicialmente diakoneo se referia a um garçom que serve a

mesa, mas este significado se ampliou e passou a incluir os cuidados do

lar e, finalmente, qualquer ajuda ou cuidados pessoais. No judaísmo o

serviço era exercido através das esmolas, e não de prestação de servi-

ços. No Antigo Testamento em grego diakonos refere-se aos servidores

profissionais da corte. Algo abaixo da dignidade do judeu livre (Lc 7:44-

45). Em o Novo Testamento, refere-se aos servos ou escravos e seus

senhores. (Mt 22:13). Neste sentido todos os cristãos devem ser diakonoi

(servos) de Cristo (Jo 12:26).

Desta forma, diakoneo era uma palavra muito empregada na época

de Jesus, e a igreja guardou essa palavra grega para designar responsa-

bilidades sociais. A igreja primitiva vai instituir o ofício dos diáconos,

anos posteriores ao da narrativa de Atos 6, pois esta passagem é precur-

sora do ofício diaconal. E a este respeito Nordstokke escreveu: "Neste

texto de Atos, os sete escolhidos para" diaconar "às mesas não são cha-

mados de diáconos. Suas atividades também não se restringiram a este

trabalho específico, porque vemos alguns, mais tarde, se destacando na

diaconia da palavra. Por isso, também não podemos indicar esta passa-

gem Bíblica como fundamentação para a instituição do ministério diaconal

público, contínuo e representativo de hoje".

" Clemente de Roma, na sua epístola aos Coríntios, xlii, xliv, asseve-

ra que a nomeação dos diáconos era originalmente apostólica" . O ofí-

cio e a função dos diáconos teve começo no tempo dos apóstolos, con-

25

Page 27: Missão integral da Igreja

forme Atos 6, mas a passagem do tempo, tal como sucede a tudo mais,

ampliou o objetivo e a natureza desse ofício, até que o mesmo se tornou

posição eclesiástica.

Deduzimos então que o diaconato originou-se do cuidado das viú-

vas da Igreja de Jerusalém, e também da necessidade de proporcionar

ajuda à comunidade cristã. Eram exigidas qualificações espirituais e ti-

nham responsabilidades com o trabalho material, e como "auxiliadores

do ministério". Em outras palavras, as funções destes diáconos eram

aliviar as mãos dos apóstolos para que eles se dedicassem à oração e ao

ministério da palavra (At 6.4).

Portanto, podemos ver este serviço sendo introduzido na igreja pri-

mitiva de maneira natural até se aplicar em uma pessoa possuidora de

determinado cargo na sociedade cristã. Na Vulgata, o termo grego usa-

do era diaconus (Fp 1.1; 1tm 3.8), enquanto que as demais versões

traduzem diakonos como ministro. "Ora, tudo provém de Deus, que

nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministé-

rio (diakonia) da reconciliação" O apóstolo Paulo entendeu que, como

Cristo, nossa condição só poderia ser de servos e, em conseqüência, os

ministros são chamados diakonoi (servos). "Ministério é diaconia, é ser-

viço, na verdadeira acepção da palavra e na sua expressão mais adequa-

da". Diaconia é na verdade o exemplo de Cristo.

O cristianismo nasce com esta idéia de que o serviço tinha como

importância e função edificar o Corpo. Assim, a diversidade nos servi-

ços, que correspondem às adversidades de serviços (1Co12. 4). Paulo

emprega didasko em Rm 12.7, referindo-se a que um cargo, dentro da

igreja, é um Dom. Paulo emprega a palavra grega charisma significan-

do um revestimento pessoal com a graça de Deus para o serviço do

Corpo de Cristo, para a edificação, multiplicando o amor, a esperança

e a fé. Ou seja, o significado deste revestimento espiritual especial

para a vida da comunidade, tem os aspectos que olham para dentro, e

outros que olham para fora. "A clara intenção de Deus é que através

da igreja verdadeira o mundo possa ver Jesus Cristo em ação". Todos

os dons na igreja estão a serviço da vida e é assim que cada membro

deste corpo é útil.

26

Page 28: Missão integral da Igreja

Também temos que ter a consciência que o Ministério da Palavra

(kerigma) e Serviço (diakonia) andam juntos. Pessoas preparadas e

vocacionadas para o Kerigma e a diakonia, fazem uma comunidade

equilibrada que produz frutos de justiça (ações) .

"Onde a natureza diaconal da Igreja é percebida, a ação diaconal

vai deixar de ser algo "periférico", pois vai se fundamentar

cristologicamente e eclesiologicamente. Não vai mais haver dicotomia

"palavra x serviço. O serviço passa a ser a marca e o poder na Igreja e

se expressará numa espiritualidade de humildade, solidariedade e

esperança ".

A política diaconal na igreja é formada a partir do momento em que

se organiza, se estrutura, e se prepara para a ação. E para isso é neces-

sário avaliar as causas da necessidade, formar pessoas, administrar re-

cursos, tudo com o fim de modificar a situação dos necessitados.

Existe uma diferença entre diaconia e ação social. A diaconia é

serviço e tem fundamento na fé, no exemplo de Jesus Cristo; já a ação

social ou assistência social, tem como ação profissional técnica com

dimensões políticas, apoiam-se em teorias e práticas. Ação social mui-

tas vezes tem se transformado em ações paternalistas, relacionadas

apenas com primeiras damas, e a assistência social é dever do Estado,

mas tem sido feita também por organizações não governamentais que

trabalham na perspectiva social.

É necessário que a igreja reflita sobre estas duas ações, uma vez

que para fazer o serviço social da igreja seja necessário a parte técnica

e prática. Podemos dizer que a igreja tem que ter o cuidado de saber

qual o tipo de assistência que o povo necessita, a fim de que ela não

caia no erro de ser paternalista, mas sim transformadora.

Na prática, a ação diaconal da igreja tem esta função de assistência

social, mas conforme o modelo bíblico vemos que a ação é muito mais

que apenas fazer assistência social. Ela tem seu propósito em auxiliar a

igreja, para que o corpo cresça bem edificado. Por isso Paulo escreve a

Timóteo dando as qualificações de um diácono (1Tm 3.8-13).

Ação social é evangelismo através da comunhão. A igreja primitiva

mostrou sinais de uma igreja que vivia em comunhão. Este grande sinal

27

Page 29: Missão integral da Igreja

de ação do Espírito sobre a comunidade, ou seja, a comunhão entre os

cristãos, caía na graça do povo, e levava diretamente para o evangelismo

(Atos 2.47).

Em Atos, vemos a comunhão se manifestando da seguinte forma. E

perseveravam... na comunhão... todos os que creram estavam juntos e

tinham tudo em comum , e tomavam as suas refeições com alegria e

singeleza de coração ( BÍBLIA, N.T. Atos 2.42-46). A palavra koinonia

("comunhão") no mundo grego significava a estreita união entre os ho-

mens. Neste texto de Atos a koinonia tem um sentido absoluto, como

parte essencial da vida de adoração, e pode também ser traduzida como

comunhão ou fraternidade Litúrgica na adoração. Indica a unanimidade

levada a efeito pelo Espírito. O indivíduo era complemente apoiado na

comunidade.

A igreja primitiva preocupava-se com os membros da comunidade

quanto a problemas financeiros, e também muitos pescadores e campo-

neses que migraram para a Galiléia tinham dificuldades em ganhar a

vida na capital. Havia também nesta época uma crise social, em conse-

qüência da situação econômica da Palestina e devido a distúrbios contí-

nuos. Paulo trazia a Jerusalém coletas que eram as expressões tangíveis

da comunhão das igrejas: pela liberalidade que contribuís (koinönias)

para eles e para todos (BÍBLIA, N.T. Segundo Coríntios 9.13). Koinonia

fala do nosso relacionamento com outros cristãos. A igreja justificada

tem que viver em comunhão, pois ela revela uma grande oportunidade

para a prática do amor ao próximo. É claro que o próximo pode signifi-

car contextualmente os irmãos da própria comunidade como os de fora.

Uma comunidade que pratica a diaconia está concomitantemente

oportunizando a prática da fé justificadora, pois o ministério diaconal

possibilita à comunidade a manutenção da comunhão. É, pois, nesse

contexto que Atos considera a ação social como evangelização comuni-

cativa a partir do contexto da comunhão.

A ação social pertence à missão da igreja e deve encorajar seus

membros à responsabilidade social e à busca da justiça social. Não

deve enclausurar-se de maneira a viver em guetos, mas frutificar a

realidade da koinonia (envolvimento e compromisso). A Igreja se en-

volve e se compromete com a missão de servir ao próximo num ato de

28

Page 30: Missão integral da Igreja

fé e que, primeiramente, ela experimenta essa realidade na comunhão

dos santos.

Sendo assim, a missiologia evangelizadora do terceiro milênio, a partir

do contexto e das estruturas do Congresso de Lausanne, acentua um

ponto de tensão quanto a eclesiologia atuante, mas que estabelece dire-

trizes de uma prática de ministério pastoral na América Latina,

viabilizando a evangelização, a preocupação e a ação social sob respon-

sabilidades cristãs, que devem ser feitas pelos cristãos individualmente

e por grupos. Cabe, portanto, à igreja promover esta ação.

A assistência social no tempo da escravatura alguns cristãos sensibi-

lizados com os escravos que eram castigados e surrados pelo pelourinho,

resolviam ajudá-los com água comida ou tratando suas feridas. Esta

atitude nobre, no entanto não tocava nas causas da escravatura, tipificava

o que poderíamos chamar de Assistencial Social. Outros Cristãos, com

visão mais aberta resolviam, além da assistência, assegurar a liberdade

de alguns escravos ,através da compra destes e criação de oportuni-

dades de Trabalho para que eles criassem seus mecanismos de sobrevi-

vência .Esta atitude mesmo que admirável não acabava com as institui-

ções da comercialização dos escravos. A isto podemos chamar de serviço

social. Outros lançaram-se na luta contra a instituição da escravatura

para que não encontrassem escravos pendurados no pelourinho nem

tivessem que comprar a liberdade deles .Acabar radicalmente com a

escravatura era mais viável, pois assim estariam destruindo este mal

pela raiz. A luta por esta conquista deve ser caracterizada como uma

ação social.

Segundo Francês O`Gorman, em seu livro Promoção Humana, divide

as tendências de promoção em quatro categorias:

1º - Promoção Humana pela Assistência Social - "Na Assistência, o

pobre - indigente recebe o peixe de ajuda material do agente

compadecido. Enquanto dar o peixe irradia caridade, gera tam-

bém assistencialismo no agente, dependência desumanizante

no pobre e inércia na sociedade".

2º - Promoção Humana pelo Ensino - "No ensino, o pobre atrasado

recebe o agente colaborador, o peixe do conhecimento e

29

Page 31: Missão integral da Igreja

capacitação para a sua informação/formação. Enquanto ensi-

nar a pescar oferece instrumento de acesso regulado aos bens

da sociedade, promove também paternalismo no agente, indi-

vidualismo competitivo no pobre e endurecimento estrutural

na sociedade excludente".

3° - Promoção Humana pela participação - "Na população o pobre

marginalizado conquista seu espaço pela reivindicação e solida-

riedade, com o acompanhamento do agente colaborador. En-

quanto pescar em mutirão e vender o peixe em cooperativas

suscita compromisso do pobre com o pobre".

4º - Promoção Humana pela transformação - " Na transformação o

pobre - oprimido se liberta da opressão, assumindo bem direito

de ser sujeito a sociedade pela intervenção transformativa nas

estruturas injustas com o engajamento do agente criativo. Os

métodos se Serviço Social utilizados pelas igreja, apresentam

três aspectos:

· O denominado assistencialista, ou pejorativamente, de

paternalista;

· O método instrutivo ou educativo;

· O método participativo.

Tanto a evangelização como a responsabilidade social podem ser

entendidas unicamente à luz do fato de, que, em Cristo Jesus, O Reino

de Deus invadiu a história e agora é uma realidade presente e ao mesmo

tempo um "ainda não". Neste sentido, O Reino de Deus não é "o me-

lhoramento social progressivo da humanidade, segundo o qual a tarefa

da Igreja é transformar a terra em céu, e isto agora", nem "o reinado

interior de Deus presente nas disposições morais e espirituais da alma,

com sua base no coração".

Como observou corretamente Joachin Jeremias, "nem no judaísmo

nem em parte alguma do Novo Testamento encontramos algum exemplo,

no coração; esta interpretação espiritualista fica descartada tanto para

Jesus como para a tradição cristã primitiva" - New Testament Theology:

The proclamation of Jesus. Londres: SCM Press, 1971, p. 101.

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Page 32: Missão integral da Igreja

Em castelhano: Teologia del Nuevo Testamento. Salamanca:

Sígueme, 1974). Antes, ele é o poder de Deus, liberto na história, que

traz boas novas aos pobres, liberdade aos cativos, vista aos cegos e

libertação aos oprimidos.

A evangelização e a responsabilidade social são inseparáveis. O evan-

gelho é boa nova acerca do Reino de Deus. As boas obras, por outro

lado, são só sinais do Reino para as quais fomos criados em Cristo

Jesus. A palavra e a ação estão indissoluvelmente unidas na missão de

Jesus e de seus apóstolos, e devemos mantê-las unidas na missão da

Igreja, na qual se prolonga a missão de Jesus até o final do tempo.

O Reino de Deus não é meramente o governo de Deus sobre o

mundo por meio da criação e da providência; e esse fosse o caso, não

poderíamos afirmar que foi inaugurado por Jesus Cristo. O Reino de

Deus é, antes, uma expressão do governo final de Deus em toa a cria-

ção, o mesmo que, em antecipação ao fim, se fez presente na pessoa e

obra de Jesus Cristo. Tanto a proclamação do Reino como os sinais

visíveis de sua presença por meio da Igreja se realizam pelo poder do

Espírito - o agente da escatologia em processo de realização - e apon-

tam para sua realidade presente e futura.

A necessidade mais ampla e mais profunda de todo o ser humano

é um encontro pessoal com Jesus Cristo, o Mediador do Reino. "Deus

é o mesmo Senhor de todos e abençoa muito a todos os que pedem a

sua ajuda.

Como dizem as Escrituras Sagradas: "Aquele que pedir ajuda do

Senhor será salvo". (Rm 10.12-13, LH). Nesta perspectiva, e somente

nela, é possível afirmar que "o serviço de evangelização abnegada figu-

ra como a tarefa mais urgente da Igreja" (Pacto Lausanne, seção 6), e o

evangelho é boa-nova acerca do Reino, e o Reino é o domínio de Deus

sobre sua totalidade da vida.

Cada necessidade humana, portanto, pode ser usada pelo espírito

de Deus como o ponto de partida para a manifestação de seu poder real.

Por isso, na prática é irrelevante perguntar qual vem primeiro, a

evangelização ou a ação social. Em cada situação concreta, as próprias

necessidades provêem a definição das prioridades.

31

Page 33: Missão integral da Igreja

2

MINISTÉRIO ESPECÍFICO COMO AÇÃO

SOCIAL DA IGREJA

O termo ministério no sentido comum tem várias conotações e abran-

ge vários aspectos.Os dicionários dizem que é o “desempenho de um

cargo, uma incumbência, uma função, uma profissão, função de minis-

tro, ocupação, ofício”.

Segundo DELAMARTER, no seu livro The Diakonic Task disse:

”Nenhum Pastor, nenhuma congregação ou denominação pode exercer

um ministério que seja limitado exclusivamente aos problemas espiritu-

ais. Cada crente e cada igreja cristã estão relacionados com a sociedade

e os seus problemas, em termos de envolvimento positivo, retraimento

negativo ou numa neutralidade maligna...”

O homem não é apenas mental, social, físico ou espiritual. Ele é o

composto de tudo isto é muito mais. A igreja do ponto de vista social,

precisa ser um organismo relevante para a sociedade, esse deveria ser o

objetivo de qualquer pastor: fazer com que ela se torne importante para

as pessoas.Não mais vivemos em um mundo onde os homens andam

cegos, aceitando tudo.Qualquer um pode saber se uma igreja faz a dife-

rença em uma sociedade ou não.

Há igrejas que não exercem maior influência em sua comunidade

pelo fato de apenas estarem no bairro, mas não serem do bairro. Em

sua maioria, seus membros não moram na vizinhança do templo. Assim

33

Page 34: Missão integral da Igreja

a igreja fica fechada, calada, desconhecida e escondida no bairro.Se

alguém perguntar: “Onde fica a Igreja... por aqui? Encontrará poucos

que possam indicar o endereço da igreja”.

O Ministério Específico é o plano pelo qual a igreja não somente se

torna melhor mordoma do seu prédio, pelo múltiplo uso dele, mas tam-

bém se faz presente na comunidade, como uma atalaia do evangelho e

um exemplo de amor cristão preocupando-se com os problemas do povo.

No ministério específico várias atividades podem ser executadas pela

igreja, porém os programas podem variar de um bairro para outro, pois

cada projeto precisa ser planejado de acordo com as necessidades do

povo e as possibilidades da igreja.

Tipos de Ministérios Específicos:

· Pastoral Eclesiástica: Ministério de Casais; Ministério de

Adolescentes; Ministério de Crianças...;

· Pastoral da Cidade: Ministério que trabalha junto Movimento

do trabalhador sem teto; Ministério de auxílio ao pobre; Ministério

de apoio ao desempregado; Ministério que enfoca os produtos

recicláveis; Ministério de apoio ao estrangeiro; Ministério com

ênfase na área educacional; Ministério voltado para área do

esporte...;

· Pastoral da Saúde: Ministério de apoio às pessoas Aidéticas,

Alcoólicas, Drogados...;

· Pastoral dos Excluídos: Ministério voltado para a 3º Idade;

Divorciados; Encarcerados; Caminhoneiros; Indígenas; Homos-

sexuais; Prostitutas; Portadores de Necessidades Especiais;

Ciganos; Marinheiro Civil...;

· Pastoral Emergente: Ministério da Recuperação: voltado para

pessoas que estão desiludidas com as suas religiões;

· Ministério da Sobriedade: Trabalham na recuperação de jovens

drogados. Estes jovens não querem ser identificados, ou seja,

não querem ser ligados a uma casa de recuperação;

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Page 35: Missão integral da Igreja

· Ministério dos Moradores de Rua: Este Ministério é voltado

para pessoas que não conseguem mais morar em casas, ou seja,não

conseguem mais viver em família;

Podemos definir princípios para um crescimento saudável e equili-

brado de uma igreja, que são os seguintes:

· Igreja que são fundamentadas na bíblia;

· Cujos líderes exercem o dom da liderança;

· Que seguem a visão dada por Deus;

· Que desenvolvem uma atitude vibrante;

· Empreendedoras; direcionadas pelo Espírito Santo;

· Em constante auto - avaliação;

· Dispostas a demonstrar e a remontar; com leigos integrados na

liderança; praticam perdão e aceitação;

· Que evangelizam de modo não-convencional (Para com os fracos

tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com

todos, para de alguma forma salvar alguns – I Cor. 9:22);

· Apresentando alternativas de evangelização.

As igrejas que prevalecem sabem que não podem ver milhões de

pessoas sem Jesus e só oferecer um tipo de abordagem para todas elas.As

pessoas são diferentes, por isso precisamos oferecer opções.

O Ministério Específico com Ação Social da Igreja, portanto, se

constitui num conjunto muito mais amplo de medidas, envolvendo a

igreja como um todo, com o objetivo de trazer aos que ouvem o evan-

gelho, igualmente, melhores condições de vida, satisfazendo às necessi-

dades tanto de indivíduos como de grupos e pessoas de uma forma

direta e imediata. Os membros da igreja não se sentirão menos adoradores

de Deus ou anunciadores de uma mensagem espiritual ,mas se compro-

meterão na construção de um mundo melhor.

As sagradas escrituras nos dão embasamento bíblico para este tipo

de ministério destacando-se, por exemplo, os tópicos a seguir:

35

Page 36: Missão integral da Igreja

a) Os dez mandamentos promulgaram a base da nossa relação para

com Deus e para com os nossos semelhantes;

b) Deuteronômio 15:7-11 “Quando...; pelo que eu te ordeno,

dizendo: livremente abrirás a mão para o teu irmão, para o teu

necessitado, e para o teu pobre na terra”;

c) O livro de Amós, em particular, revela a ira de Deus sobre os que

fecharam os corações e não pleitearam a causa do pobre;

d) Jesus transformou os dez mandamentos com o seu conceito de

amor cristão.Ele diz que o mais importante de todos os manda-

mentos é “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o cora-

ção... de todas as suas forças. E em segundo é este: Amarás ao

teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior

do que esses (Mc 12:10-31)”;

e) Jesus disse: Mateus 25:31-46 “Eu estava com fome e vocês me

deram de comer... fizeram a mim”;

f) Tiago, irmão de Jesus Cristo diz: A religião pura e verdadeira é:

“ajudar os órfãos,...” (Tiago 1:27).

A preocupação básica do ministério de assistência social pessoal é a

visão que devemos ter da responsabilidade de cuidarmos uns dos outros.

Existem duas frases que costumamos usar com muita freqüência,

mas que nem sempre são vividas.Nós precisamos perceber a seriedade

daquilo que estamos declarando .Quantas vezes, e para quantas pesso-

as, você já disse ”eu te amo com amor do Senhor? Será que amas

mesmo? A qualidade do amor que você diz sentir pelo seu irmão tem a

mesma qualidade do amor do salvador? Se nós declararmos amar com

o amor do senhor tem de ser as mesmas do amor dele. Jesus nos ama

sem reservas, sem hipocrisia, sem interesse”.Eu vou orar por você “é

outra frase. Quantas vezes um irmão se aproxima de nós, compartilha

as suas angustias, seus problemas, mas nós não lhe damos atenção de-

vida? A célebre frase sai como que num sobressalto, involuntária:” Não

se preocupe, irmão “Eu vou orar por você” Então saímos dali, não

anotamos nada e, muitas vezes, nem sequer oramos por aquele irmão

que conta com as nossas orações.

36

Page 37: Missão integral da Igreja

“A Igreja tem muitos problemas, falhas, defeitos, lutas. Nós somos

pessoas que estamos com as nossas batalhas, as nossas enfermidades,

as nossas crises; mas ainda assim, a igreja precisa ser um lugar melhor

do que lá fora”. Orientações para Implantação de um Ministério Específico

com Ênfase na Área Educacional.

Para implantação deste tipo de Ministério devemos conscientizar a

igreja dos problemas sociais do bairro, através de cartazes, artigos de

boletim, sermões, palestras, etc. A fim de que a mesma entenda de que

através do oferecimento dos Cursos Educacionais a Comunidade, a igreja

poderá ajudar a reverter tal situação.

É necessário também realizarmos uma pesquisa detalhada no bairro

abordando os seguintes tópicos: Número de residências, componentes

da família segundo sexo, faixa etária, problemas existentes como viciados,

delinqüência, crianças abandonadas, falta de escolas, falta de emprego...

Dentro deste ministério deve-se eleger um coordenador, que deve

ser um crente fiel, ativo na igreja.Além disso, possuir certas qualidades:

bom humor, liderança, cortesia, maturidade e equilíbrio emocional e

também capacitado para o trabalho e atender bem os alvos do programa

e as exigências e restrições da igreja.

Nas dependências do Templo são aplicadas as Atividades Educa-

cionais, porém este não é profanado com o uso pelo Ministério Especi-

fico, pois o prédio em si não é adorável.O que santifica é a presença de

Deus.E se o programa for bem feito, Deus lá estará na sua plenitude,

porque cada atividade deverá seguir os mais elevados padrões morais e

espirituais.A missão da igreja se dirige à humanidade, e não ao prédio.

O programa não exige muito equipamento, pois o equipamento básico

é o mesmo usado pelas demais organizações da igreja. As mesmas salas,

mesas, cadeiras, o quadro-de-giz, o lápis de cor, etc que servem a Escola

Bíblica Dominical.

A igreja deverá estudar as suas finanças cuidadosamente onde

determinado orçamento poderá ser reservado. Se a igreja por bem, poderá

37

Page 38: Missão integral da Igreja

cobrar uma taxa de matrícula em cada atividade.A taxa pode ser

estabelecida segundo a atividade, onde alguns cursos podem exigir má-

quinas e instrumentos custosos. O ideal é que os membros da igreja se

apresentem como voluntários , dessa forma no orçamento não haverá

necessidade de incluir salários e previdências sociais. O orçamento

não precisa ser elevado demais ,porém ,despesas relacionadas com o

programa devem ser consideradas .Basta citar como exemplo:

· Equipamentos e suas manutenções;

· Material utilizado nas atividades, que os alunos não trarão;

· Passagem, talvez, para voluntários que moram longe e têm des-

pesas de condução.

As Atividades Didáticas estão englobadas neste tipo de ministério

devido ao fato de muitas pessoas terem a necessidade de trabalhar mais

cedo para ajudar o orçamento doméstico. É também uma das razões

que leva um grande contingente de crianças e adolescentes a abandonar

os bancos da escola, e mesmo sendo a educação um dos deveres do

estado, os evangélicos não podem cruzar os braços diante deste sério

desafio.

Segundo o relato de um jornal do Rio de Janeiro, um menino de 1

ano e 4 meses, morreu envenenado em conseqüência de ter tomado um

remédio que os pais deveriam ter diluído na água para passar na pele,em

vez disso deu para a criança tomar ,pois não sabiam ler ,onde a igreja

poderia reverter esta situação ,deixando as portas abertas para o ensino.

As pessoas da comunidade que estejam estudando na igreja poderão

depois aceitar com maior facilidade um convite para assistir o culto de

domingo.

Aulas de alfabetização e de orientação escolar podem ser adotadas,

onde os seguintes tópicos devem ser observados:

· O horário deverá fornecer a plena participação dos adultos que pre-

cisam ser alfabetizados; Qual o melhor horário para os moradores

do bairro?Que professores têm este horário disponível? Essas aulas

podem atingir vários níveis ou limitar-se ao atendimento de alunos

cujos pais não podem ajudar nos deveres escolares.

38

Page 39: Missão integral da Igreja

· Deve haver um regulamento geral tanto para a equipe, quanto

para os participantes nas atividades.Esse regulamento, geralmen-

te será entregue na hora da matrícula, para que todos possam

saber como agir e deve incluir todos os itens que facilitem a

disciplina.No primeiro encontro com os alunos o professor deve-

rá aproveitar para explicar bem cada item do regulamento e por

que a igreja exige tal coisa.Assim terá autoridade para corrigir,

baseado no fato de que todos foram avisados, e saberá agir.

Cabe a igreja a responsabilidade de definir as exigências e restrições

quando ao uso do prédio, como: horário, pessoal, programa, trajes per-

mitidos, conduta ou quaisquer outras restrições que se ache por bem

fixar.Tudo isso deve ser esclarecido, definido, e depois obedecido.

O Pastor é o principal personagem no planejamento, pois ele reco-

nhecerá que a igreja não deve ser apenas vista, mas sentida no bairro e

compreenderá logo a vantagem do multiuso do templo para o bem estar

do seu bairro e o crescimento da sua igreja. Ele descobrirá que o segre-

do do crescimento de qualquer igreja está baseado na relação entre a

igreja e os moradores que rodeiam. Tendo também a preocupação de

causar uma aproximação bilateral entre os dois elementos, sendo assim

o ministério específico o veículo pelo qual se poderá realizar tal aproxi-

mação na sua plenitude.

39

Page 40: Missão integral da Igreja

40

Page 41: Missão integral da Igreja

3

O CONTEXTO HISTÓRICO, SOCIAL E

ECLESIÁSTICO NA IMPLANTANTAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO SOCIAL

EM UMA IGREJA EVANGÉLICA

A escolha da Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para Cristo” se

deu por ser ela o contexto em que estamos vivendo desde o ano de

1998, e por sentirmos que ela retrata a igreja atuando onde o povo

excluído e marginalizado se encontra.

Esta igreja se encontra em um dos bairros da cidade de Curitiba –

Paraná, no bairro do Boqueirão. Situa-se no centro de uma “invasão”, a

favela denominada “Canal Belém”.

Quando chegamos a esta favela, uma invasão as margens do rio

Belém, encontramos uma população de pessoas excluídas da sociedade,

vivendo, em sua maioria da cata de papeis e latas. O consumo da

“cachaça” e maconha entre esta população era tão comum, que se tornou

parte de sua cultura, era normal que as pessoas neste local se

embriagassem ou se drogassem quase que todos os dias, sem que isso

lhes trouxesse qualquer constrangimento diante da presença de outras

pessoas.

Ao se iniciar a igreja neste local, sentimos as grandes necessidades

destas pessoas. Sentimos que essa “cultura” de exclusão já havia tomado

41

Page 42: Missão integral da Igreja

conta de suas vidas, e os mesmos já aceitavam sua condição de pobreza

como hereditária e inevitável. Formando assim o que poderíamos cha-

mar de uma “casta” inferior entre os habitantes de Curitiba.

Ser morador da penúltima rua deste bairro, ou seja, da Favela Canal

Belém era sinônimo de pessoa bêbada, viciada, prostituta, ladrão e ban-

dido. Marginais de outras localidades não ousavam vir fazer “bagunça”

neste local, pois a punição era clara e certa. Muitas das casas ainda de

chão batido, crianças desnutridas, fora da escola, convivendo com tudo

aquilo que direcionaria seus caminhos para serem a próxima geração de

adultos excluídos da sociedade.

Neste contexto, sentimos que o que JESUS queria de nós ali, não

era mais uma igreja que apenas se reúne aos finais de semana, para

cantar, orar e ouvir uma pregação. Sentimos em nosso coração que a

igreja ali deveria glorificar a DEUS sim, mas o modo como seria feito

essa glorificação, deveria ser diferente daquela que nos acostumamos

ao longo de muitos anos de Cristianismo.

Quando iniciamos a igreja “O Brasil para Cristo” neste local era um

templo alugado rodeado por mato, medindo aproximadamente 30m2,

sendo que o mesmo já existia neste lugar a 25 anos, onde diversas deno-

minações evangélicas passaram por aquele lugar, porém estas igrejas

não conseguiram estabelecer um rebanho do senhor, refletindo na soci-

edade que naquele lugar igreja nenhuma prosperaria, porém Deus pen-

sava diferente. Com o passar dos anos, adquirimos esta propriedade.

Em 2000 começamos a reconstrução do templo, onde após cinco anos

de batalha o mesmo ficou com 175 m2 de área construída, para a

Glória de Deus(1) .

Temos nos últimos seis anos prestado Assistência Comunitária a

Região do Bairro Boqueirão, haja visto o triste quadro em que se apre-

senta os moradores desta localidade. Para mudar este quadro temos

fornecido sopões, cestas básicas, roupas usadas, porém notamos que as

condições sociais da população permaneciam inalteradas, constatando-

se que a solução não estava em dar o peixe e sim ensinar a pescar.

(1) - Vide imagem anexo 1.

42

Page 43: Missão integral da Igreja

O Espírito Santo nos orientou de que o ministério específico através

da Atividade Didática, seria uma das ferramentas para mudar esta situ-

ação. O assunto despertou grande interesse desde o momento em que

iniciei o Curso de Pós-Graduação Liderança e Pastoreio, (FTBP), onde

tive a disciplina de Ministérios Específicos, sendo que em uma das

aulas eu pude conhecer o Projeto Jônatas, pertencente à igreja

Presbiteriana do bairro Fazendinha, trabalho este voltado para a Área

Educacional junto à população carente. Estive neste local e pude com-

provar na prática a realização de um trabalho sério e eficaz de

evangelização. Baseado no Projeto Jonatas como modelo, criamos na

nossa igreja o Projeto Mão Amiga de Curitiba, entendendo de Deus

estava nos direcionando para um trabalho semelhante ao da Igreja

Presbiteriana.

Divulgamos os nossos sonhos perante amigos, familiares e mídia

local(2) , e mais uma vez Deus mostrou de que estava conosco, pois em

um período de dois meses nós já tínhamos toda estrutura montada,

com professores voluntários e alunos para darmos início aos cursos

gratuitos de: Inglês, Informática, Instalação Elétrica Residencial, Manicure

– Pedicure e Maquiagem(3). Todos estes seriam realizados nas depen-

dências do templo, totalizando oitenta alunos matriculados (4).

Logo surgiu uma oportunidade de participarmos de um projeto de

cozinhas industriais comunitárias, onde em parceria com a Faculdade

Tuiuti do Paraná tivemos o privilégio de realizar na nossa igreja, um

curso de capacitação profissional na área de alimentação, onde vinte

pessoas participaram do treinamento por um período de três mêses,

onde as mesmas fabricaram “Cucas Alemãs Recheadas”(5) que foram

vendidas na comunidade local, salientando-se de que no futuro teremos

uma cozinha industrial comunitária na igreja, pois agora temos pessoas

qualificadas para este fim.

Assim, juntamente com os irmãos da Igreja “O Brasil para Cristo”

do Canal Belém, demos início a fundação da ONG, denominada Projeto

Mão Amiga de Curitiba. Através deste trabalho na comunidade, o

salão da Igreja se tornou ponto de referência aos moradores do bairro.

(2) - Vide anexo 4; (3) - Vide anexo 5; (4) - Vide anexo 3; (5) - Vide anexo 6..

43

Page 44: Missão integral da Igreja

Hoje, a comunidade do Canal Belém é referencia de transformação

de vidas. Pessoas de outras comunidades vêm de outros bairros para

freqüentar os cursos oferecidos pela “igrejinha”. Estamos aguardando

em breve, oferecer outros cursos profissionalizantes e também aulas de

reforço escolar.

No final do primeiro semestre de 2005 tivemos a primeira formatura

de alunos do Projeto Mão Amiga, onde como resultado deste projeto

vidas foram evangelizadas e muitas pessoas conseguiram uma vaga no

mercado de trabalho.

A Igreja que transforma vidas, que faz diferença onde habita, a igre-

ja que DEUS sonhou entre nós no Canal Belém, não é diferente daque-

la que já no Novo Testamento vemos JESUS implantar. Nos falta muito

ainda, mas não nos falta o desejo de servir.

44

Page 45: Missão integral da Igreja

CONCLUSÃO

Gostaria de finalizar este livro com alguns pequenos comentários

sobre o sobre a responsabilidade Social da Igreja, onde temos em John

Wesley, na Inglaterra, o exemplo mais marcante deste período. O

evangelho que pregava inspirava as pessoas a se envolverem em causas

sociais em nome de Cristo. Muitos historiadores dizem que a influência

de Wesley foi tão grande que evitou que a Inglaterra entrasse em uma

revolução, como na França.

Wesley se colocou como um pregador do evangelho que elevou a

consciência social na sua época, tendo sido também um profeta da retidão

social, que lutou contra várias injustiça sociais, e a partir disto as coisas

começaram a mudar ocasionando desde a abolição dos escravos e de

seu tráfico, como também a humanização do sistema penitenciário, a

melhoria das condições nas fábricas e nas minas, a educação acessível

ao público e tantos outros avanços para a sociedade.

A paixão por justiça social e essa sensibilidade por erros humanos

era tão forte que o escritor BUYERS relata que “Por cinco dias Wesley

andou na neve pelas ruas de Londres, pedindo auxílio para socorrer os

pobres daquela cidade”. Este seu entusiasmo e compromisso com o

evangelismo e com a ação social alcançaram muitos outros evangelistas.

Um dos resultados mais expressivos do movimento wesleyano se

deu em 1780, na Inglaterra, quando, preocupado com a educação da

população, Robert Raikes instituiu a Escola Dominical como uma maneira

de ministrar às crianças pobres a educação religiosa e secular. Em uma

avaliação daquilo que os reformadores ou os de linha reformada

produziram, fica claro que a Reforma e sua tradição proporcionaram

muitos frutos sociais. Não nos faltam dados para poder perceber que

estes eventos somente ocorreram pela fé em Cristo, provocando nos

corações destes homens a execução do serviço proposto pela Missão de

Deus. Por certo, o Congresso de Lausane, na Suíça, em julho de 1974,

influenciado por este pensamento reformado, trouxe grande avanço para

evangelização e a justiça social.

45

Page 46: Missão integral da Igreja

Wesley, deu atenção aos problemas sociais de sua época. Ele

esforçou-se para entender qual deveria ser o papel da Igreja Cristã na

reconstrução de uma sociedade justa que refletisse a vontade de Deus

em termos de justiça social.

Assim a obra de restauração que Cristo realizou não se limita

apenas a um novo nascimento do indivíduo, mas também a uma restau-

ração de todo o universo. Se Cristo é o Senhor de toda a existência

humana, então é dever da Igreja dar atenção às questões sociais e polí-

ticas. E esta restauração da sociedade ocorre inicialmente na Igreja. É

na Igreja que a ordem primitiva da sociedade, tal qual Deus havia esta-

belecido, tende a ser restaurada. Na Igreja, as diferenças exacerbadas

entre as classes sociais, econômicas e raciais, bem como os preconcei-

tos delas procedentes, desaparecem, pois Cristo de todos faz um único

povo (Gl 3.28; Ef 2.14).

É na Igreja que as relações sociais de trabalho sofrem profundas

alterações.Os patrões continuam patrões, mas aprendem a exercer sua

autoridade sem opressão, ao passo que os empregados (que continuam

empregados) aprendem a serem subordinados sem recriminação. Na

Igreja, Jesus Cristo estabelece entre os cristãos a justa redistribuição

dos bens destinados a todos. Isto se dava através da atividade diaconal,

trazendo alívio para as necessidades dos pobres e oprimidos, com re-

cursos vindos dos ricos e abastados. A Igreja tinha um ministério didá-

tico, um político, e um social. Onde no ministério didático, a Igreja

representada por seus pastores e mestres, davam a instrução pública e

particular, através de sermões e orientação individual, quanto ao ensino

bíblico sobre a administração dos bens outorgados por Deus ao Estado

e ao indivíduo. Em outras palavras, Mordomia Cristã.

Portanto a Igreja foi chamada para cumprir a sua missão e não para

ficar dentro de quatro paredes, enquanto o pecador está perecendo devido

à lentidão e omissão por parte de muitos líderes cristãos. A igreja tem

quer ser um corpo vivo no bairro onde ela esta inserida e não apenas um

prédio, mas envolver-se em todos estes aspectos, usando os meios apro-

priados, lícitos e legais para protestar, advertir e resistir à injustiça social,

pregar a Palavra de Deus e exercitando obras de misericórdia e assistência

social através de uma diaconia.

46

Page 47: Missão integral da Igreja

Todo este envolvimento social deve acontecer sem perder de vista

que a missão primordial da Igreja é promover a reforma (parcial e pro-

visória) da sociedade através da proclamação do Evangelho de Jesus

Cristo, aguardando os novos céus e a nova terra onde habita a plena

justiça de Deus.

Finalizo com a seguinte afirmação: Temos que ser uma igreja que

Faz a Diferença

47

Page 48: Missão integral da Igreja

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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_____ . João. Português. Revista eAtualizada, SBB 1997 - Cap. 20, vers. 21

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http://www.faculdadelatinoamericana.com.br/teologia_integral/bases.html (Acesso 13 mai 2006)

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Page 49: Missão integral da Igreja

ANEXOS

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Page 50: Missão integral da Igreja

Anexo 1 - Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para Cristo”

Boqueirão – Curitiba – Paraná

Logomarca Projeto

Mão Amiga de

Curitiba

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Page 51: Missão integral da Igreja

Anexo 2 – Projeto Mão Amiga de Curitiba

na Mídia

Jornal Folha do Boqueirão

Portal Amo Curitiba - Ações Voluntárias

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Page 52: Missão integral da Igreja

Anexo 3 – Ações do Projeto Mão Amiga

Introdução a informática

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Page 53: Missão integral da Igreja

Curso de Manicure

Curso de Panificação Industrial

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Page 54: Missão integral da Igreja

Horta Comunitária

Pintura em tecido

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Page 55: Missão integral da Igreja

Turma de instalação elétrica

residencial

Turma de bordado

55

Page 56: Missão integral da Igreja

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Page 57: Missão integral da Igreja
Page 58: Missão integral da Igreja

Este livro aborda sobre a Missão Integral da Igreja,

visão está que enxerga o homem como um ser (racional, espiritual, físico e social), onde através da Ação Social como um Ministério Especifico a Igreja atuará nestas quatro áreas, promovendo assim mudanças substanciais na vida de indivíduos e na coletividade de uma forma direta e imediata, fornecendo assim diretrizes que venham transformar pessoas e as estruturas do mundo pós-moderno. O Autor define a origem e a missão da Igreja, verificando-se na perspectiva do Antigo e Novo Testamento a presença da ação social na igreja primitiva, que vá além de um mero assistencialismo, mas que redimensiona o papel assistencial da comunidade de fé. Abordada historicamente a ação social dentro de uma igreja, visando a manifestação da diaconia cristã. Entendendo que a igreja é serva, veio ao mundo para servir e tendo Cristo como exemplo mor, pois é a exemplificação da igreja na prática da ação social; Apresentados comentários sobre a vida de John Wesley, na Inglaterra, como exemplo de cristão sobre responsabilidade Social da Igreja. Está Obra é de grande relevância para Pastores, Líderes e Cristãos em Geral, pois ela apresenta a responsabilidade bem como a viabilidade de uma Pastoral na Igreja ,através da Ação Social.