Mensagem e Os Lusíadas

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Texto Épico e Texto Épico-Lírico

Texto Épico diz respeito à composição narrativa, em verso ou prosa, que, em estilo elevado, canta uma acção heróica passada. Celebra uma acção grandiosa e heróica ou uma série de grandes acontecimentos históricos.

Desde a antiguidade, o texto épico recebe o nome de epopeia, quando constitui uma narrativa, geralmente numa estrutura de poema, que traduz as façanhas ou o espírito de um povo e que tem interesse para esse povo e para a Humanidade (Ilíada e Odisseia de Homero, Eneida de Virgílio, Os Lusíadas de Camões).

Texto Épico-Lírico pressupõe a junção da concepção narrativa e da grandiosidade de assunto do texto épico com a função emotiva e a subjectividade do texto lírico. Resulta da fusão de elementos épicos com uma componente lírica capaz de exprimir os sentimentos ou os pensamentos íntimos do “eu”.

A Mensagem de F. Pessoa é um dos exemplos de texto épico-lírico.

Porquê?

Por um lado, pela presença de fragmentos de discursos narrativos, das alusões históricas, dos feitos heróicos, do maravilhoso e da expressão do espírito do povo português;

Por outro lado, pela brevidade dos poemas, pelo valor, em si, que cada poema possui isoladamente, pela expressão de emoções e pela valorização do “eu”.

Mensagem e Os Lusíadas

Camões procurou n’ Os Lusíadas cantar os feitos gloriosos dos portugueses que deram início ao grande império, que se estendeu pelos diversos continentes.

F. Pessoa, na Mensagem, cantou o fim do império territorial, procurando incentivar o aparecimento de um império de língua, de cultura e de valores.

Numa hiperbólica comparação entre Os Lusíadas e a Mensagem verifica-se que:

à estrutura narrativa épica do poema camoniano, Pessoa apresenta um conjunto de 44 composições breves, que se ligam pela exaltação patriótica, pelo simbolismo e pelo espírito épico-lírico, que lhe conferem uma certa unidade e equilíbrio;

o relato histórico dá lugar à visão subjectiva e introspectiva dos acontecimentos que contêm valores míticos e simbólicos. A Mensagem estrutura-se dentro da concepção simbólica do círculo perfeito – é una numa organização tripartida: “Brasão”, “Mar Português” e “O Encoberto”.

O “Mostrengo” da Mensagem e o “Adamastor” d’ Os Lusíadas aproximam-se na sua mais profunda imagem comunicativa. Ambos exprimem os perigos da aventura marítima para exaltar o espírito dos nautas e do povo português.

Outros poemas da Mensagem aproximam-se do conteúdo de algumas estâncias ou episódios d’ Os Lusíadas, até por terem como base a mesma história de Portugal, mas diferenciam-se quer pelo tempo de produção, quer pela forma como os autores se exprimem.

As imagens simbólicas e proféticas, que F. Pessoa transmite, quando o “ultimatum” trouxera a vergonha e o prenúncio do desmoronamento do império, resultam de processos estéticos e mentais com que trabalhou alguns dos feitos cantados por Camões no momento em que Portugal se afirmara no mundo, embora se apresentasse à beira de uma crise de independência.

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Reavivando o mito sebastianista, anunciando o Quinto Império, Pessoa procurou, tal como Camões, ser voz da consciência de identidade de que Portugal necessitava e necessita.