Os Lusíadas-excertos

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7/25/2019 Os Lusíadas-excertos http://slidepdf.com/reader/full/os-lusiadas-excertos 1/26 OS LUSÍADAS I PROPOSIÇÃO 1 AS armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforados !ais do "ue prometia a fora #umana, E entre gente remota edi$caram %ovo &eino, "ue tanto sublimaram' 2 E também as mem(rias gloriosas )a"ueles &eis "ue foram dilatando A *é, o +mpério, e as terras viciosas )e frica e de sia andaram devastando, E a"ueles "ue por obras valerosas Se v-o da lei da !orte libertando, .antando espal#arei por toda parte, Se a tanto me a/udar o engen#o e arte0 3 .essem do s1bio 2rego e do Troiano As navegaões grandes "ue $3eram' .ale4se de Ale5andro e de Tra/ano A fama das vit(rias "ue tiveram' Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A "uem %eptuno e !arte obedeceram0 .esse tudo o "ue a !usa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta0 INVOCAÇÃO 4 E v(s, T1gides min#as, pois criado  Tendes em mi um novo engen#o ardente, Se sempre em verso #umilde celebrado *oi de mi vosso rio alegremente, )ai4me agora um som alto e sublimado, 6m estilo grand7loco e corrente, Por "ue de vossas 1guas *ebo ordene Que n-o ten#am enve/a 8s de 9ipocrene0 5 )ai4me :a f;ria grande e sonorosa, E n-o de agreste avena ou frauta ruda, !as de tuba canora e belicosa, Que o peito acende e a cor ao gesto muda' )ai4me igual canto aos feitos da famosa 2ente vossa, "ue a !arte tanto a/uda'

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OS LUSÍADASI

PROPOSIÇÃO

1AS armas e os Barões assinaladosQue da Ocidental praia LusitanaPor mares nunca de antes navegadosPassaram ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforados!ais do "ue prometia a fora #umana,E entre gente remota edi$caram%ovo &eino, "ue tanto sublimaram'

2E também as mem(rias gloriosas)a"ueles &eis "ue foram dilatando

A *é, o +mpério, e as terras viciosas)e frica e de sia andaram devastando,E a"ueles "ue por obras valerosasSe v-o da lei da !orte libertando,.antando espal#arei por toda parte,Se a tanto me a/udar o engen#o e arte0

3.essem do s1bio 2rego e do TroianoAs navegaões grandes "ue $3eram'.ale4se de Ale5andro e de Tra/anoA fama das vit(rias "ue tiveram'

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,A "uem %eptuno e !arte obedeceram0.esse tudo o "ue a !usa antiga canta,Que outro valor mais alto se alevanta0

INVOCAÇÃO

4E v(s, T1gides min#as, pois criado

 Tendes em mi um novo engen#o ardente,

Se sempre em verso #umilde celebrado*oi de mi vosso rio alegremente,)ai4me agora um som alto e sublimado,6m estilo grand7loco e corrente,Por "ue de vossas 1guas *ebo ordeneQue n-o ten#am enve/a 8s de 9ipocrene0

5)ai4me :a f;ria grande e sonorosa,E n-o de agreste avena ou frauta ruda,!as de tuba canora e belicosa,Que o peito acende e a cor ao gesto muda'

)ai4me igual canto aos feitos da famosa2ente vossa, "ue a !arte tanto a/uda'

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Que se espal#e e se cante no universo,Se t-o sublime preo cabe em verso0

DEDICATÓRIA

6E v(s, ( bem nascida segurana)a Lusitana antiga liberdade,E n-o menos cert7ssima esperana)e aumento da pe"uena .ristandade'<(s, ( novo temor da !aura lana,!aravil#a fatal da nossa idade,)ada ao mundo por )eus, "ue todo o mande,Pera do mundo a )eus dar parte grande'

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<(s, tenro e novo ramo =orecente)e :a 1rvore, de .risto mais amadaQue nen#ua nascida no Ocidente,.es1rea ou .ristian7ssima c#amada><ede4o no vosso escudo, "ue presente<os amostra a vit(ria /1 passada,%a "ual vos deu por armas e dei5ouAs "ue Ele pera si na .ru3 tomou?'

8<(s, poderoso &ei, cu/o alto +mpérioO Sol, logo em nascendo, v@ primeiro,

<@4o também no meio do 9emisfério,E "uando dece o dei5a derradeiro'<(s, "ue esperamos /ugo e vitupério)o torpe +smaelita cavaleiro,)o Turco Oriental e do 2entioQue inda bebe o licor do santo &io

9+nclinai por um pouco a ma/estadeQue nesse tenro gesto vos contemplo,Que /1 se mostra "ual na inteira idade,

Quando subindo ireis ao eterno templo'Os ol#os da real benignidadePonde no c#-o vereis um novo e5emplo)e amor dos p1trios feitos valerosos,Em versos divulgado numerosos0

10<ereis amor da p1tria, n-o movido)e prémio vil, mas alto e "u1si eterno'Que n-o é prémio vil ser con#ecidoPor um preg-o do nin#o meu paterno0Ouvi vereis o nome engrandecido

)a"ueles de "uem sois sen#or superno,E /ulgareis "ual é mais e5celente,

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Se ser do mundo &ei, se de tal gente0

11Ouvi, "ue n-o vereis com v-s faan#as,*ant1sticas, $ngidas, mentirosas,Louvar os vossos, como nas estran#as!usas, de engrandecer4se dese/osasAs verdadeiras vossas s-o taman#asQue e5cedem as son#adas, fabulosas,Que e5cedem &odamonte e o v-o &ugeiroE Orlando, inda "ue fora verdadeiro0

12Por estes vos darei um %uno fero,Que fe3 ao &ei e ao &eino tal servio,6m Egas e um )om *uas, "ue de 9omeroA c7tara par eles s( cobio'

Pois polos )o3e Pares dar4vos "ueroOs )o3e de +nglaterra e o seu !agrio')ou4vos também a"uele ilustre 2ama,Que para si de Eneias toma a fama0

13Pois se a troco de .arlos, &ei de *rana,Ou de .ésar, "uereis igual mem(ria,<ede o primeiro Afonso, cu/a lanaEscura fa3 "ual"uer estran#a gl(ria'E a"uele "ue a seu &eino a segurana)ei5ou, com a grande e pr(spera vit(ria'

Outro Coane, invicto cavaleiro'O "uarto e "uinto Afonsos e o terceiro0

14%em dei5ar-o meus versos es"uecidosA"ueles "ue nos &einos l1 da AuroraSe $3eram por armas t-o subidos,<ossa bandeira sempre vencedora6m Pac#eco fort7ssimo e os temidosAlmeidas, por "uem sempre o Te/o c#ora,Albu"uer"ue terr7bil, .astro forte,

E outros em "uem poder n-o teve a morte015E, en"uanto eu estes canto D e a v(s n-o posso,Sublime &ei, "ue n-o me atrevo a tanto D,

 Tomai as rédeas v(s do &eino vosso)areis matéria a nunca ouvido canto0.omecem a sentir o peso grosso>Que polo mundo todo faa espanto?)e e5ércitos e feitos singulares,)e frica as terras e do Oriente os mares0

16Em v(s os ol#os tem o !ouro frio,

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Em "uem v@ seu e57cio a$gurado'S( com vos ver, o b1rbaro 2entio!ostra o pescoo ao /ugo /1 inclinado'

 Tétis todo o cer;leo sen#orio Tem pera v(s por dote aparel#ado,Que, afeioada ao gesto belo e tenro,)ese/a de comprar4vos pera genro0

17Em v(s se v@m, da Ol7mpica morada,)os dous av(s as almas c1 famosas'a, na pa3 angélica dourada,Outra, pelas batal#as sanguinosas0Em v(s esperam ver4se renovadaSua mem(ria e obras valerosas'E l1 vos t@m lugar, no $m da idade,%o templo da suprema Eternidade0

18!as, en"uanto este tempo passa lento)e regerdes os povos, "ue o dese/am,)ai v(s favor ao novo atrevimento,Pera "ue estes meus versos vossos se/am,E vereis ir cortando o salso argentoOs vossos Argonautas, por "ue ve/amQue s-o vistos de v(s no mar irado,E costumai4vos /1 a ser invocado0

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+ 4 .O%SFL+O )OS )E6SES

19 C1 no largo Oceano navegavam,As in"uietas ondas apartando'Os ventos brandamente respiravam,)as naus as velas cGncavas inc#ando')a branca escuma os mares se mostravam.obertos, onde as proas v-o cortandoAs mar7timas 1guas consagradas,Que do gado de Pr(teu s-o cortadas,

20Quando os )euses no Olimpo luminoso,Onde o governo est1 da #umana gente,Se a/untam em cons7lio glorioso,Sobre as cousas futuras do Oriente0

Pisando o cristalino .éu fermoso,<@m pela <ia L1ctea /untamente,.onvocados, da parte de Tonante,Pelo neto gentil do vel#o Atlante0

21)ei5am dos sete .éus o regimento,Que do poder mais alto l#e foi dado,Alto poder, "ue s( co pensamento2overna o .éu, a Terra e o !ar irado0Ali se ac#aram /untos num momentoOs "ue #abitam o Arcturo congelado

E os "ue o Austro t@m e as partes ondeA Aurora nasce e o claro Sol se esconde0

22Estava o Padre ali, sublime e dino,Que vibra os feros raios de <ulcano,%um assento de estrelas cristalino,.om gesto alto, severo e soberano')o rosto respirava um ar divino,Que divino tornara um corpo #umano'.om :a coroa e ceptro rutilante,

)e outra pedra mais clara "ue diamante023Em lu3entes assentos, marc#etados)e ouro e de perlas, mais abai5o estavamOs outros )euses, todos assentados.omo a &a3-o e a Ordem concertavam>Precedem os antigos, mais #onrados,!ais abai5o os menores se assentavam?'Quando C;piter alto, assi di3endo,.um tom de vo3 comea grave e #orrendo

24– HEternos moradores do lu3ente,

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Estel7fero P(lo e claro AssentoSe do grande valor da forte gente)e Luso n-o perdeis o pensamento,)eveis de ter sabido claramente.omo é dos *ados grandes certo intentoQue por ela se es"ueam os #umanos)e Ass7rios, Persas, 2regos e &omanos0

25HC1 l#e foi >bem o vistes? concedido,.um poder t-o singelo e t-o pe"ueno,

 Tomar ao !ouro forte e guarnecido Toda a terra "ue rega o Te/o ameno0Pois contra o .astel#ano t-o temidoSempre alcanou favor do .éu serenoAssi "ue sempre, en$m, com fama e gl(ria,

 Teve os troféus pendentes da vit(ria0

26H)ei5o, )euses, atr1s a fama antiga,Que co a gente de &(mulo alcanaram,Quando com <iriato, na inimiga2uerra &omana, tanto se afamaram'

 Também dei5o a mem(ria "ue os obrigaA grande nome, "uando alevantaram6m por seu capit-o, "ue, peregrino,*ingiu na cerva esp7rito divino0

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HAgora vedes bem "ue, cometendoO duvidoso mar num len#o leve,Por vias nunca usadas, n-o temendode frico e %oto a fora, a mais s atreveQue, #avendo tanto /1 "ue as partes vendoOnde o dia é comprido e onde breve,+nclinam seu prop(sito e per$aA ver os beros onde nasce o dia0

28HPrometido l#e est1 do *ado eterno,

.u/a alta lei n-o pode ser "uebrada,Que ten#am longos tempos o governo)o mar "ue v@ do Sol a ro5a entrada0%as 1guas t@m passado o duro +nverno'A gente vem perdida e trabal#ada'

 C1 parece bem feito "ue l#e se/a!ostrada a nova terra "ue dese/a0

29HE por"ue, como vistes, t@m passados

%a viagem t-o 1speros perigos, Tantos climas e céus e5primentados,

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 Tanto furor de ventos inimigos,Que se/am, determino, agasal#ados%esta costa Africana como amigos'E, tendo guarnecido a lassa frota,

 Tornar-o a seguir sua longa rota0I

30Estas palavras C;piter di3ia,Quando os )euses, por ordem respondendo,%a sentena um do outro diferia,&a3ões diversas dando e recebendo0O padre Baco ali n-o consentia%o "ue C;piter disse, con#ecendoQue es"uecer-o seus feitos no OrienteSe l1 passar a Lusitana gente0

31

Ouvido tin#a aos *ados "ue viriaa gente fort7ssima de Espan#aPelo mar alto, a "ual su/eitaria)a Fndia tudo "uanto )(ris ban#a,E com novas vit(rias venceriaA fama antiga, ou sua ou fosse estran#a0Altamente l#e d(i perder a gl(ria)e "ue %isa celebra inda a mem(ria0

32<@ "ue /1 teve o +ndo so/ugadoE nunca l#e tirou *ortuna ou caso

Por vencedor da Fndia ser cantado)e "uantos bebem a 1gua de Parnaso0

 Teme agora "ue se/a sepultadoSeu t-o célebre nome em negro vaso) 1gua do es"uecimento, se l1 c#egamOs fortes Portugueses "ue navegam0

33Sustentava contra ele <énus bela,Afeioada 8 gente LusitanaPor "uantas "ualidades via nela

)a antiga, t-o amada, sua &omana'%os fortes coraões, na grande estrelaQue mostraram na terra Tingitana,E na l7ngua, na "ual "uando imagina,.om pouca corrup-o cr@ "ue é a Latina0

34Estas causas moviam .itereia,E mais, por"ue das Parcas claro entendeQue #14de ser celebrada a clara )eia

Onde a gente bel7gera se estende0Assi "ue, um, pela infJmia "ue arreceia,

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E o outro, pelas #onras "ue pretende,)ebatem, e na per$a permanecem'A "ual"uer seus amigos favorecem0

35Qual Austro fero ou B(reas na espessura)e silvestre arvoredo abastecida,&ompendo os ramos v-o da mata escura.om impeto e brave3a desmedida,Brama toda montan#a, o som murmura,&ompem4se as fol#as, ferve a serra erguida

 Tal andava o tumulto, levantadoEntre os )euses, no Olimpo consagrado0

36!as !arte, "ue da )eusa sustentavaEntre todos as partes em por$a,

Ou por"ue o amor antigo o obrigava,Ou por"ue a gente forte o merecia,)e antre os )euses em pé se levantava!erenc(rio no gesto parecia'O forte escudo, ao colo pendurado,)eitando pera tr1s, medon#o e irado'

37A viseira do elmo de diamanteAlevantando um pouco, mui seguro,Por dar seu parecer se pGs diante)e C;piter, armado, forte e duro'

E dando :a pancada penetrante.o conto do bast-o no s(lio puro,O .éu tremeu, e Apolo, de torvado,6m pouco a lu3 perdeu, como en$ado'

38E disse assi D HK Padre, a cu/o império

 Tudo a"uilo obedece "ue criasteSe esta gente "ue busca outro 9emisfério,.u/a valia e obras tanto amaste,%-o "ueres "ue padeam vitupério,

.omo #1 /1 tanto tempo "ue ordenaste,%-o ouas mais, pois és /ui3 direito,&a3ões de "uem parece "ue é suspeito0

39HQue, se a"ui a ra3-o se n-o mostrasse<encida do temor demasiado,Bem fora "ue a"ui Baco os sustentasse,Pois "ue de Luso v@m, seu t-o privado'!as esta ten-o sua agora passe,

Por"ue en$m vem de estJmago danado'Que nunca tirar1 al#eia enve/a

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O bem "ue outrem merece e o .éu dese/a0

40HE tu, Padre de grande fortale3a,)a determina-o "ue tens tomada%-o tornes por detr1s, pois é fra"ue3a)esistir4se da cousa comeada0!erc;rio, pois e5cede em ligeire3aAo vento leve e 8 seta bem tal#ada,L#e v1 mostrar a terra onde se informe)a Fndia, e onde a gente se reforme0I

41.omo isto disse, o Padre poderoso,A cabea inclinando, consentiu%o "ue disse !avorte valerosoE néctar sobre todos espar3iu0

Pelo camin#o L1cteo gloriosoLogo cada um dos )euses se partiu,*a3endo seus reais acatamentos,Pera os determinados apousentos

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+< 4 +%S )E .AST&O

120HEstavas, linda +n@s, posta em sossego,)e teus anos col#endo doce fruto,%a"uele engano da alma, ledo e cego,Que a *ortuna n-o dei5a durar muito,%os saMdosos campos do !ondego,)e teus fermosos ol#os nunca en5uto,Aos montes ensinando e 8s ervin#asO nome "ue no peito escrito tin#as0

121H)o teu Pr7ncipe ali te respondiamAs lembranas "ue na alma l#e moravam,Que sempre ante seus ol#os te tra3iam,

Quando dos teus fermosos se apartavam')e noite, em doces son#os "ue mentiam,)e dia, em pensamentos "ue voavam'E "uanto, en$m, cuidava e "uanto viaEram tudo mem(rias de alegria0

122H)e outras belas sen#oras e PrincesasOs dese/ados t1lamos en/eita,Que tudo, en$m, tu, puro amor, despre3asQuando um gesto suave te su/eita0<endo estas namoradas estran#e3as,

O vel#o pai sesudo, "ue respeitaO murmurar do povo e a fantasia)o $l#o, "ue casar4se n-o "ueria,

123HTirar +n@s ao mundo determina,Por l#e tirar o $l#o "ue tem preso,.rendo co sangue s( da morte indina!atar do $rme amor o fogo aceso0Que furor consentiu "ue a espada $naQue pGde sustentar o grande peso

)o furor !auro, fosse alevantada.ontra :a fraca dama delicadaN

124HTra3iam4a os #orr7$cos algo3esAnte o &ei, /1 movido a piedade'!as o povo, com falsas e fero3es&a3ões, 8 morte crua o persuade0Ela, com tristes e piedosas vo3es,Sa7das s( da m1goa e saMdade)o seu Pr7ncipe e $l#os, "ue dei5ava,Que mais "ue a pr(pria morte a magoava,

125HPera o céu cristalino alevantando,

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.om l1grimas, os ol#os piedosos>Os ol#os, por"ue as m-os l#e estava atando6m dos duros ministros rigorosos?'E despois nos mininos atentando,Que t-o "ueridos tin#a e t-o mimosos,.u/a or$ndade como m-e temia,Pera o avG cruel assi di3ia

126D HSe /1 nas brutas feras, cu/a mente%atura fe3 cruel de nascimento,E nas aves agrestes, "ue somente%as rapinas aéreas t@m o intento,.om pe"uenas crianas viu a gente

 Terem t-o piadoso sentimento.omo co a m-e de %ino /1 mostraram,E cos irm-os "ue &oma edi$caram

127HK tu, "ue tens de #umano o gesto e o peito>Se de #umano é matar :a don3ela,*raca e sem fora, s( por ter sub/eitoO cora-o a "uem soube venc@4la?,A estas criancin#as tem respeito,Pois o n-o tens 8 morte escura dela'!ova4te a piedade sua e min#a,Pois te n-o move a culpa "ue n-o tin#a

128

HE se, vencendo a !aura resist@ncia,A morte sabes dar com fogo e ferro,Sabe também dar vida com clem@nciaA "uem pera perd@4la n-o fe3 erro0!as, se to assi merece esta inoc@ncia,Põe4me em perpétuo e m7sero desterro,%a .7tia fria ou l1 na L7bia ardente,Onde em l1grimas viva eternamente0

129HPõe4me onde se use toda a feridade,

Entre liões e tigres, e vereiSe neles ac#ar posso a piedadeQue entre peitos #umanos n-o ac#ei0Ali, co amor intr7nseco e vontade%a"uele por "uem mouro, criareiEstas rel7"uias suas, "ue a"ui viste,Que refrigério se/am da m-e triste0I

130HQueria perdoar4l#e o &ei benino,

!ovido das palavras "ue o magoam'!as o pertina3 povo e seu destino

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>Que desta sorte o "uis? l#e n-o perdoam0Arrancam das espadas de ao $noOs "ue por bom tal feito ali apregoam0.ontra :a dama, ( peitos carniceiros,*eros vos amostrais D e cavaleirosN

131HQual contra a linda moa Policena,.onsola-o e5trema da m-e vel#a,Por"ue a sombra de A"uiles a condena,.o ferro o duro Pirro se aparel#a'!as ela, os ol#os com "ue o ar serena>Bem como paciente e mansa ovel#a?%a m7sera m-e postos, "ue endoudece,Ao duro sacrif7cio se oferece

132

HTais contra +n@s os brutos matadores,%o colo de alabastro, "ue sustin#aAs obras com "ue Amor matou de amoresA"uele "ue despois a fe3 &ain#a,As espadas ban#ando, e as brancas =ores,Que ela dos ol#os seus regadas tin#a,Se encarniavam, férvidos e irosos,%o futuro castigo n-o cuidosos0

133HBem puderas, ( Sol, da vista destes,

 Teus raios apartar a"uele dia,

.omo da seva mesa de Tiestes,Quando os $l#os por m-o de Atreu comia<(s, ( cGncavos vales, "ue pudestesA vo3 e5trema ouvir da boca fria,O nome do seu Pedro, "ue l#e ouvistes,Por muito grande espao repetistes

134HAssi como a bonina, "ue cortadaAntes do tempo foi, cJndida e bela,Sendo das m-os lacivas maltratada

)a minina "ue a trou5e na capela,O c#eiro tra3 perdido e a cor murc#ada Tal est1, morta, a p1lida don3ela,Secas do rosto as rosas e perdidaA branca e viva cor, co a doce vida0

135HAs $l#as do !ondego a morte escuraLongo tempo c#orando memoraram,E, por mem(ria eterna, em fonte pura

As l1grimas c#oradas transformaram0O nome l#e puseram, "ue inda dura,

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)os amores de +n@s, "ue ali passaram0<ede "ue fresca fonte rega as =ores,Que l1grimas s-o a 1gua e o nome Amores

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+< D BATAL9A )E ALC6BA&&OTA

26HEstavam pelos muros, temerosasE de um alegre medo "u1si frias,&e3ando, as m-es, irm-s, damas e esposas,Prometendo /e/uns e romarias0

 C1 c#egam as es"uadras belicosas)efronte das imigas compan#ias,Que com grita grand7ssima os recebem'E todas grande d;vida concebem0

27H&espondem as trombetas mensageiras,P7faros sibilantes e atambores'Alfére3es volteiam as bandeiras,Que variadas s-o de muitas cores0

Era no seco tempo "ue nas eiras.eres o fruto dei5a aos lavradores'Entra em Astreia o Sol, no m@s de Agosto'Baco das uvas tira o doce mosto0

28H)eu sinal a trombeta .astel#ana,9orrendo, fero, ingente e temeroso'Ouviu4o o monte Artabro, e 2uadianaAtr1s tornou as ondas de medroso0Ouviu4o o )ouro e a terra Transtagana'.orreu ao mar o Te/o duvidoso'

E as m-es, "ue o som terr7bil escuitaram,Aos peitos os $l#in#os apertaram0

29HQuantos rostos ali se v@m sem cor,Que ao cora-o acode o sangue amigoQue, nos perigos grandes, o temorR maior muitas ve3es "ue o perigo0E se o n-o é, parece4o' "ue o furor)e ofender ou vencer o duro imigo*a3 n-o sentir "ue é perda grande e rara

)os membros corporais, da vida cara030H.omea4se a travar a incerta guerra)e ambas partes se move a primeira ala'6ns leva a defens-o da pr(pria terra,Outros as esperanas de gan#14la0Logo o grande Pereira, em "uem se encerra

 Todo o valor, primeiro se assinala)erriba e encontra e a terra en$m semeia)os "ue a tanto dese/am, sendo al#eia0

31HC1 pelo espesso ar os estridentes

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*arpões, setas e v1rios tiros voam')eba5o dos pés duros dos ardentes.avalos treme a terra, os vales soam0Espedaam4se as lanas, e as fre"uentesQuedas co as duras armas tudo atroam0&ecrecem os imigos sobre a pouca2ente do fero %uno, "ue os apouca0

32HEis ali seus irm-os contra ele v-o>.aso feio e cruel?' mas n-o se espanta,Que menos é "uerer matar o irm-o,Quem contra o &ei e a P1tria se alevanta0)estes arrenegados muitos s-o%o primeiro es"uadr-o, "ue se adianta.ontra irm-os e parentes >caso estran#o?,Quais nas guerras civis de C;lio e !agno0

33HK tu, Sert(rio, ( nobre .oriolano,.atilina, e v(s outros dos antigosQue contra vossas p1trias com profano.ora-o vos $3estes inimigosSe l1 no reino escuro de Sumano&eceberdes grav7ssimos castigos,)i3ei4l#e "ue também dos PortuguesesAlguns tredores #ouve alg:as ve3es0

34

H&ompem4se a"ui dos nossos os primeiros, Tantos dos inimigos a eles v-oEst1 ali %uno, "ual pelos outeiros)e .eita est1 o fort7ssimo li-oQue cercado se v@ dos cavaleirosQue os campos v-o correr de Tutu-oPerseguem4no com as lanas, e ele, iroso,

 Torvado um pouco est1, mas n-o medroso'

35H.om torva vista os v@, mas a natura

*erina e a ira n-o l#e compadecemQue as costas d@, mas antes na espessura)as lanas se arremessa, "ue recrecem0

 Tal est1 o cavaleiro, "ue a verdura Tinge co sangue al#eio' ali perecemAlguns dos seus, "ue o Jnimo valentePerde a virtude contra tanta gente0

36HSentiu Coane a afronta "ue passava

%uno, "ue, como s1bio capit-o, Tudo corria e via e a todos dava,

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.om presena e palavras, cora-o0Qual parida lioa, fera e brava,Que os $l#os, "ue no nin#o s(s est-o,Sentiu "ue, en"uanto pasto l#e buscara,O pastor de !ass7lia l#os furtara,

37H.orre raivoso e freme e com bramidosOs montes Sete +rm-os atroa e abala

 Tal Coane, com outros escol#idos)os seus, correndo acode 8 primeira alaD HK fortes compan#eiros, ( subidos.avaleiros, a "uem nen#um se iguala,)efendei vossas terras, "ue a esperana)a liberdade est1 na nossa lana

38

H<edes4me a"ui, &ei vosso e compan#eiro,Que entre as lanas e setas e os arneses)os inimigos corro e vou primeiro'Pele/ai, verdadeiros PortuguesesI+sto disse o magnJnimo guerreiroE, sopesando a lana "uatro ve3es,.om fora tira' e deste ;nico tiro!uitos lanaram o ;ltimo suspiro0

39HPor"ue eis os seus, acesos novamente):a nobre vergon#a e #onroso fogo,

Sobre "ual mais, com Jnimo valente,Perigos vencer1 do !1rcio /ogo,Por$am' tinge o ferro o fogo ardente'&ompem mal#as primeiro e peitos logo0Assi recebem /unto e d-o feridas,.omo a "uem /1 n-o d(i perder as vidas0

40 HA muitos mandam ver o Est7gio lago,Em cu/o corpo a morte e o ferro entrava0O !estre morre ali de Santiago,Que fortssimamente pele/ava'

!orre também, fa3endo grande estrago,Outro !estre cruel de .alatrava0Os Pereiras também, arrenegados,!orrem, arrenegando o .éu e os *ados0

41H!uitos também do vulgo vil, sem nome,<-o, e também dos nobres, ao Profundo,Onde o trifauce .-o perpétua fome

 Tem das almas "ue passam deste mundo0E por "ue mais a"ui se amanse e dome

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A soberba do imigo furibundo,A sublime bandeira .astel#ana*oi derribada s pés da Lusitana0

42HA"ui a fera batal#a se encruece.om mortes, gritos, sangue e cutiladas'A multid-o da gente "ue perece

 Tem as =ores da pr(pria cor mudadas0 C1 as costas d-o e as vidas' /1 faleceO furor e sobe/am as lanadas'

 C1 de .astela o &ei desbaratadoSe v@ e de seu prop(sito mudado0

43HO campo vai dei5ando ao vencedor,.ontente de l#e n-o dei5ar a vida0

Seguem4no os "ue $caram, e o temorL#e d1, n-o pés, mas asas 8 fugida0Encobrem no profundo peito a dor)a morte, da fa3enda despendida,)a m1goa, da desonra e triste no/o)e ver outrem triunfar de seu despo/o0

44HAlguns v-o maldi3endo e blasfemando)o primeiro "ue guerra fe3 no mundo'Outros a sede dura v-o culpando)o peito cobioso e sitibundo,

Que, por tomar o al#eio, o miserandoPovo aventura 8s penas do Profundo,)ei5ando tantas m-es, tantas esposas,Sem $l#os, sem maridos, desditosas0

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+< D Partida de <asco da 2ama e <el#o do &estelo

86H)espois de aparel#ados, desta sorte,)e "uanto tal viagem pede e manda,Aparel#1mos a alma pera a morte,Que sempre aos nautas ante os ol#os anda0Pera o sumo Poder, "ue a etérea .orteSustenta s( co a vista veneranda,+mplor1mos favor "ue nos guiasseE "ue nossos comeos aspirasse0

87HPartimo4nos assi do santo temploQue nas praias do mar est1 assentado,Que o nome tem da terra, pera e5emplo,)onde )eus foi em carne ao mundo dado0

.erti$co4te, ( &ei, "ue, se contemplo.omo fui destas praias apartado,

.#eio dentro de d;vida e receio,Que apenas nos meus ol#os pon#o o freio0

88HA gente da cidade, a"uele dia,>6ns por amigos, outros por parentes,Outros por ver somente? concorria,SaMdosos na vista e descontentes0E n(s, co a virtuosa compan#ia)e mil &eligiosos diligentes,

Em prociss-o solene, a )eus orando,Pera os batéis viemos camin#ando0

89HEm t-o longo camin#o e duvidosoPor perdidos as gentes nos /ulgavam,As mul#eres cum c#oro piadoso,Os #omens com suspiros "ue arrancavam0!-es, Esposas, +rm-s, "ue o temerosoAmor mais descon$a, acrecentavamA desespera-o e frio medo

)e /1 nos n-o tornar a ver t-o cedo090HQual vai di3endo D HK $l#o, a "uem eu tin#aS( pera refrigério e doce emparo)esta cansada /1 vel#ice min#a,Que em c#oro acabar1, penoso e amaro,Por"ue me dei5as, m7sera e mes"uin#aNPor"ue de mi te v1s, o $l#o caro,A fa3er o funéreo encerramentoOnde se/as de pe5es mantimentoNI

91HQual em cabelo D HK doce e amado esposo,

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Sem "uem n-o "uis Amor "ue viver possa,Por"ue is aventurar ao mar irosoEssa vida "ue é min#a e n-o é vossaN.omo, por um camin#o duvidoso,<os es"uece a afei-o t-o doce nossaN%osso amor, nosso v-o contentamento,Quereis "ue com as velas leve o ventoN I

92H%estas e outras palavras "ue di3iam,)e amor e de piadosa #umanidade,Os vel#os e os mininos os seguiam,Em "uem menos esforo põe a idade0Os montes de mais perto respondiam,Qu1si movidos de alta piedade'A branca areia as l1grimas ban#avam,Que em multid-o com elas se igualavam0

93H%(s outros, sem a vista alevantarmos%em a m-e, nem a esposa, neste estado,Por nos n-o magoarmos, ou mudarmos)o prop(sito $rme comeado,)eterminei de assi nos embarcarmos,Sem o despedimento costumado,Que, posto "ue é de amor usana boa,A "uem se aparta, ou $ca, mais magoa0

94

H!as um vel#o, d aspeito venerando,Que $cava nas praias, entre a gente,Postos em n(s os ol#os, meneando

 Tr@s ve3es a cabea, descontente,A vo3 pesada um pouco alevantando,Que n(s no mar ouvimos claramente,.um saber s( d e5peri@ncias feito,

 Tais palavras tirou do e5perto peito

95D HK gl(ria de mandar, ( v- cobia

)esta vaidade a "uem c#amamos *amaK fraudulento gosto, "ue se atia.:a aura popular, "ue #onra se c#amaQue castigo taman#o e "ue /ustia*a3es no peito v-o "ue muito te amaQue mortes, "ue perigos, "ue tormentas,Que crueldades neles e5perimentas

96H)ura in"uieta-o d alma e da vida

*onte de desemparos e adultérios,Saga3 consumidora con#ecida

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)e fa3endas, de reinos e de impérios.#amam4te ilustre, c#amam4te subida,Sendo dina de infames vitupérios'.#amam4te *ama e 2l(ria soberana,%omes com "uem se o povo néscio engana

97HA "ue novos desastres determinas)e levar estes &einos e esta genteNQue perigos, "ue mortes l#e destinas,)ebai5o dalgum nome preminenteNQue promessas de reinos e de minas) ouro, "ue l#e far1s t-o facilmenteNQue famas l#e prometer1sN Que #ist(riasNQue triunfosN Que palmasN Que vit(riasN

98

H!as, ( tu, gera-o da"uele insano.u/o pecado e desobedi@ncia%-o somente do &eino soberano

 Te pGs neste desterro e triste aus@ncia,!as inda doutro estado mais "ue #umano,)a "uieta e da simpres inoc@ncia,+dade d ouro, tanto te privou,Que na de ferro e d armas te deitou

99HC1 "ue nesta gostosa vaUdade

 Tanto enlevas a leve fantasia,

 C1 "ue 8 bruta crue3a e feridadePuseste nome, esforo e valentia,

 C1 "ue pre3as em tanta "uantidadeO despre3o da vida, "ue devia)e ser sempre estimada, pois "ue /1

 Temeu tanto perd@4la Quem a d1

100 H%-o tens /unto contigo o +smaelita,.om "uem sempre ter1s guerras sobe/asN%-o segue ele do Ar1bio a lei maldita,Se tu pola de .risto s( pele/asN

%-o tem cidades mil, terra in$nita,Se terras e ri"ue3a mais dese/asN%-o é ele por armas esforado,Se "ueres por vit(rias ser louvadoN

101H)ei5as criar 8s portas o inimigo,Por ires buscar outro de t-o longe,Por "uem se despovoe o &eino antigo,

Se enfra"uea e se v1 deitando a longe'Buscas o incerto e inc(gnito perigo

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Por "ue a *ama te e5alte e te lison/e.#amando4te sen#or, com larga c(pia,)a Fndia, Pérsia, Ar1bia e de Eti(pia0

102HO#, maldito o primeiro "ue, no mundo,%as ondas vela pGs em seco len#o)ino da eterna pena do Profundo,Se é /usta a /usta Lei "ue sigo e ten#o%unca /u73o algum, alto e profundo,%em c7tara sonora ou vivo engen#o

 Te d@ por isso fama nem mem(ria,!as contigo se acabe o nome e gl(ria

103HTrou5e o $l#o de C1peto do .éuO fogo "ue a/untou ao peito #umano,

*ogo "ue o mundo em armas acendeu,Em mortes, em desonras >grande engano?0Quanto mil#or nos fora, Prometeu,E "uanto pera o mundo menos dano,Que a tua est1tua ilustre n-o tivera*ogo de altos dese/os, "ue a movera

104H%-o cometera o moo miserandoO carro alto do pai, nem o ar va3ioO grande ar"uitector co $l#o, dando6m, nome ao mar, e o outro, fama ao rio0

%en#um cometimento alto e nefandoPor fogo, ferro, 1gua, calma e frio,)ei5a intentado a #umana gera-o0!7sera sorte Estran#a condi-oI

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< D A)A!ASTO&

37HPorém /1 cinco S(is eram passadosQue dali nos part7ramos, cortandoOs mares nunca d outrem navegados,Prosperamente os ventos assoprando,Quando :a noute, estando descuidados%a cortadora proa vigiando,a nuvem "ue os ares escurece,Sobre nossas cabeas aparece0

38HT-o temerosa vin#a e carregada,Que pGs nos coraões um grande medo'Bramindo, o negro mar de longe brada,.omo se desse em v-o nalgum roc#edo0

D HK Potestade >disse? sublimadaQue ameao divino ou "ue segredoEste clima e este mar nos apresenta,Que mor cousa parece "ue tormentaNI

39H%-o acabava, "uando :a $guraSe nos mostra no ar, robusta e v1lida,)e disforme e grand7ssima estatura'O rosto carregado, a barba es"u1lida,Os ol#os encovados, e a postura!edon#a e m1 e a cor terrena e p1lida'

.#eios de terra e crespos os cabelos,A boca negra, os dentes amarelos0

40HT-o grande era de membros, "ue bem posso.erti$car4te "ue este era o segundo)e &odes estran#7ssimo .olosso,Que um dos sete milagres foi do mundo0.um tom de vo3 nos fala, #orrendo e grosso,Que pareceu sair do mar profundo0Arrepiam4se as carnes e o cabelo,

A mi e a todos, s( de ouvi4lo e v@4lo41HE disse D HK gente ousada, mais "ue "uantas%o mundo cometeram grandes cousas,

 Tu, "ue por guerras cruas, tais e tantas,E por trabal#os v-os nunca repousas,Pois os vedados términos "uebrantasE navegar meus longos mares ousas,Que eu tanto tempo #1 /1 "ue guardo e ten#o,%unca arados d estran#o ou pr(prio len#o'

42HPois vens ver os segredos escondidos

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)a nature3a e do #;mido elemento,A nen#um grande #umano concedidos)e nobre ou de imortal merecimento,Ouve os danos de mi "ue apercebidosEst-o a teu sobe/o atrevimento,Por todo o largo mar e pola terraQue inda #1s4de so/ugar com dura guerra0

43HSabe "ue "uantas naus esta viagemQue tu fa3es, $3erem, de atrevidas,+nimiga ter-o esta paragem,.om ventos e tormentas desmedidas'E da primeira armada "ue passagem*i3er por estas ondas insofridas,Eu farei de improviso tal castigoQue se/a mor o dano "ue o perigo

44HA"ui espero tomar, se n-o me engano,)e "uem me descobriu suma vingana'E n-o se acabar1 s( nisto o dano)e vossa pertinace con$anaAntes, em vossas naus vereis, cada ano,Se é verdade o "ue meu /u73o alcana,%aufr1gios, perdiões de toda sorte,Que o menor mal de todos se/a a morte

45

HE do primeiro +lustre, "ue a ventura.om fama alta $3er tocar os .éus,Serei eterna e nova sepultura,Por /u73os inc(gnitos de )eus0A"ui por1 da Turca armada duraOs soberbos e pr(speros troféus'.omigo de seus danos o ameaaA destru7da Qu7loa com !ombaa0

46HOutro também vir1, de #onrada fama,

Liberal, cavaleiro, enamorado,E consigo trar1 a fermosa damaQue Amor por gr-o merc@ l#e ter1 dado0

 Triste ventura e negro fado os c#ama%este terreno meu, "ue, duro e irado,Os dei5ar1 dum cru naufr1gio vivos,Pera verem trabal#os e5cessivos0

47H<er-o morrer com fome os $l#os caros,

Em tanto amor gerados e nacidos'<er-o os .afres, 1speros e avaros,

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 Tirar 8 linda dama seus vestidos'Os cristalinos membros e perclarosV calma, ao frio, ao ar, ver-o despidos,)espois de ter pisada, longamente,.os delicados pés a areia ardente0

48HE ver-o mais os ol#os "ue escaparem)e tanto mal, de tanta desventura,Os dous amantes m7seros $carem%a férvida, implac1bil espessura0Ali, despois "ue as pedras abrandarem.om l1grimas de dor, de m1goa pura,Abraados, as almas soltar-o)a fermosa e misérrima pris-o0I

49

H!ais ia por diante o monstro #orrendo,)i3endo nossos *ados, "uando, alado,L#e disse eu D HQuem és tuN Que esse estupendo.orpo, certo me tem maravil#ado IA boca e os ol#os negros retorcendoE dando um espantoso e grande brado,!e respondeu, com vo3 pesada e amara,.omo "uem da pergunta l#e pesara

50D HEu sou a"uele oculto e grande .aboA "uem c#amais v(s outros Torment(rio,

Que nunca a Ptolomeu, Pomp(nio, Estrabo,Pl7nio e "uantos passaram fui not(rio0A"ui toda a Africana costa acabo%este meu nunca visto Promont(rio,Que pera o P(lo Ant1rtico se estende,A "uem vossa ousadia tanto ofende0

51H*ui dos $l#os aspérrimos da Terra,Qual Encélado, Egeu e o .entimano'.#amei4me Adamastor, e fui na guerra

.ontra o "ue vibra os raios de <ulcano'%-o "ue pusesse serra sobre serra,!as, con"uistando as ondas do Oceano,*ui capit-o do mar, por onde andavaA armada de %eptuno, "ue eu buscava0

52HAmores da alta esposa de Peleu!e $3eram tomar taman#a empresa'

 Todas as )eusas despre3ei do .éu,

S( por amar das 1guas a Princesa06m dia a vi, co as $l#as de %ereu,

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Sair nua na praia e logo presaA vontade senti de tal maneiraQue inda n-o sinto cousa "ue mais "ueira0

53H.omo fosse imposs7bil alcan14la,Pola grande3a feia de meu gesto,)eterminei por armas de tom14laE a )(ris este caso manifesto0)e medo a )eusa ent-o por mi l#e fala'!as ela, cum fermoso riso #onesto,&espondeu D HQual ser1 o amor bastante)e %infa, "ue sustente o dum 2iganteN

54H.ontudo, por livrarmos o Oceano)e tanta guerra, eu buscarei maneira

.om "ue, com min#a #onra, escuse o dano0I Tal resposta me torna a mensageira0Eu, "ue cair n-o pude neste engano>Que é grande dos amantes a cegueira?,Enc#eram4me, com grandes abondanas,O peito de dese/os e esperanas0

55HC1 néscio, /1 da guerra desistindo,a noite, de )(ris prometida,!e aparece de longe o gesto lindo)a branca Tétis, ;nica, despida0

.omo doudo corri de longe, abrindoOs braos pera a"uela "ue era vida)este corpo, e comeo os ol#os belosA l#e bei/ar, as faces e os cabelos0

56HO# "ue n-o sei de no/o como o conteQue, crendo ter nos braos "uem amava,Abraado me ac#ei cum duro monte)e 1spero mato e de espessura brava0Estando cum penedo fronte a fronte,

Qu eu polo rosto angélico apertava,%-o $"uei #omem, n-o' mas mudo e "uedoE, /unto dum penedo, outro penedo

57HK %infa, a mais fermosa do Oceano,

 C1 "ue min#a presena n-o te agrada,Que te custava ter4me neste engano,Ou fosse monte, nuvem, son#o ou nadaN)a"ui me parto, irado e "u1si insano

)a m1goa e da desonra ali passada,A buscar outro mundo, onde n-o visse

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Quem de meu pranto e de meu mal se risse0

58HEram /1 neste tempo meus +rm-os<encidos e em miséria e5trema postos,E, por mais segurar4se os )euses v-os,Alguns a v1rios montes sotopostos0E, como contra o .éu n-o valem m-os,Eu, "ue c#orando andava meus desgostos,.omecei a sentir do *ado imigo,Por meus atrevimentos, o castigo

59H.onverte4se4me a carne em terra dura'Em penedos os ossos se $3eram'Estes membros "ue v@s, e esta $gura,Por estas longas 1guas se estenderam0

En$m, min#a grand7ssima estatura%este remoto .abo converteramOs )euses' e, por mais dobradas m1goas,!e anda Tétis cercando destas 1guas0I

60HAssi contava' e, cum medon#o c#oro,S;bito d ante os ol#os se apartou')esfe34se a nuvem negra, e cum sonoroBramido muito longe o mar soou0Eu, levantando as m-os ao santo coro)os An/os, "ue t-o longe nos guiou,

A )eus pedi "ue removesse os duros.asos, "ue Adamastor contou futuros0