Memorial Justificativo Nova Cinelandia

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MEMORIAL DE ESTUDO PARA PROJETO 6 Quase um memorial justificativo... Quase! “As melhores cidades são aquelas aonde nos perdemos.” José Morales – Diccionario Metápolis de Architectura

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Desafio de Projeto 6, na FAU-Mackenzie, em 2012: criar um edifício multifuncional na esquina da Av. São João com a Rua Aurora, no lado que segue para a Rua Vieira de Carvalho, Praça da República e Largo do Arouche. Este memorial resume o pensamento surgido à partir da nossa visita ao local, de nosso conhecimento e vivência no centro de São Paulo, das apresentações de alunos que mostraram vários edifícios similares, do debate com o escritório Aflalo e Gasperini sobre o Eldorado Busines Tower, da visita guiada com a professora Cristiane e da avaliação do levantamento dos alunos sobre fotografias do entorno, mobiliário urbano, referências históricas e arquitetônicas e insolação mais vegetação. Procuramos determinar os princípios norteadores do nosso pensamento projetual e formalizar um partido. Haverá quem ache aqui um excesso de considerações, entretanto o impacto de um investimento desta monta não pode se dar liminarmente, superficialmente. Como se tem comentado, na cidade de São Paulo há prédios demais e arquitetura de menos. E a boa arquitetura não surge meramente de um croqui, antes de uma compreensão significativa do sítio, do entorno, da cidade e dos seus cidadãos.

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MEMORIAL DE ESTUDO PARA PROJETO 6 Quase um memorial justificativo...

Quase!

“As melhores c idades são aquelas aonde nos

perdemos.” José Morales

– Diccionario Metápolis de Architectura

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S i l o g i s m o n a c o n c e p ç ã o d o p a r t i d o

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CONSIDERANDO A topologia

Temos que nosso terreno situa-se na cumeeira de uma elevação.

A cota em seus extremos não difere por mais de um metro, o que permite

concluir estarmos lidando com um lote plano por excelência.

Aceitando ligações da calçada de ruas diferentes com excelente resultado,

não se faz necessário o visitante descer ou subir degraus

por toda a extensão do pavimento térreo.

DECIDIU-SE

A esquina terá um generoso recuo de modo a tornar suave e natural o trânsito entre

as duas

calçadas. Adicionalmente implantar-se-á um acesso da Av. São João à Rua Aurora.

Ligando o ponto mais interno situado na Rua Aurora ao interior do saguão aberto do

térreo.

Se usarmos marquises sob uma frente comercial recuado em 3 metros –

algo já feito no Conjunto Nacional e no edifício Louvre construído por Artacho

Jurado - e atrás desse bloco de lojas tivermos uma rua interna –também esta

chegando às duas calçadas –

chegaremos ao desenho de duas vias internas, atraindo e facilitando a circulação de

pessoas.

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CONSIDERANDO A esquina generosa

Tendo duas frentes amplas, o terreno permite três acessos principais ao pedestre:

1) A própria esquina, que estará desimpedida de qualquer construção

2) Um acesso no extremo de cada uma das frentes

DECIDIU-SE

Diferente do que prevíamos (três acessos principais) constatamos que o sítio

permite uma

Implantação generosa e sútil, onde as definições de entrada possam ser tão diluídas

que se tornem imprecisas.

A construção de pequenos blocos comerciais, contendo de quatro a seis lojas,

dispostos intermitentemente e numa linha côncava resultará em atrair oquem passe

em frente.

fotos publicadas por Gilberto Calixto Rios http://www.slideshare.net/mgermina/avenida-so-joo-8055649

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CONSIDERANDO A fachada ampla na Av. São João

Há mais de 40m na frente voltada à Av. São João, confrontando a Praça Júlio Mesquita.

Dona de uma larga calçada olote mira as faixas da Av. São João em seu momento de

maior largura. Essa frente possui características muito diferentes da observada junto à

Rua Aurora, que é uma via local. Em outras palavras, estamos diante de um dos

principais exixos urbanos da cidade de São Paulo, eixo este iniciando-se na Rua Líbero

Badaró e que segue passando pelo bairro dos Campos Elíseos (região da Praça Júlio

Mesquita), cruza a Avenida Pacaembú em viaduto, passa sob um túnel que desemboca na

Av. Francisco Matarazzo, chega ao bairro da Pompéia, onde hoje é o Shopping Bourbon,

torna-se Rua Turiassú, cruza a Lapa, onde ladeia a linha ferroviária, e num breve desvio

torna-se a Av. Brigadeiro Gavião Peixoto rumando à Vila Jaguara, Parque São Domingos

e Mangalot naquilo que é o início da Via Anhanguera; uma linha arterial composta por

vária avenidas por onde circulam diariamente milhares e milhares de pessoas, que vista

do alto constitui-se uma única serpente urbana.

Em termos simples: alguém que entre na cidade pela Via Anhanguera conseguirá chegar

à Rua Líbero Badaró sem fazer uma curva de 45 graus em nenhum momento do trajeto.

Estamos no principal eixo urbano do braço oeste da cidade.

DECIDIU-SE

Priorizar hireraquicamente a frente da Av. São João.

Aqui,indubitavelmente , está o lado nobre do Nova Cinelândia, este complexo

condomínial que visa atrair usuários e, simultâneamente,

instigar os ali dentro a que apreciem e circulem nas imediações.

fotos publicadas por Gilberto Calixto Rios http://www.slideshare.net/mgermina/avenida-so-joo-8055649

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DECIDIU-SE

O investimento no complexo Nova Cinelândia visa, entre outros objestivos, tornar-se passagem

natural dos que circularem em direção à Nova Luz. Sendo que a estação República do metrô fica

poucas quadras do lote estudado, é fácil supor o afluxo de pessoas no sentido norte sul, ou seja entre

a Praça da República e a Nova Luz . A passagem de pedetres tornar-se tão natural e intuitiva sob a

laje do pavimento térreo como é atravessar o Conjunto Nacional entre a Alameda Santos e a

Avenida Paulista.

CONSIDERANDO A operação urbana Nova Luz

O que outrora chamou-se “cracolândia” pretende tornar-se “Nova Luz” numa parceria Público

Privada envolvendo a entrega da gestão urbana sobre 45 quarteirões.

Ainda que de ampla magnitude, este não é o primeiro gesto no sentido de melhorar a qualidade

urbana da região. A inauguração da Sala São Paulo, a construção da FATEC e o surgimento do

Museu da Língua Portuguesa na estação ferroviária da Luz, aconteceram dentro de um esforço

comum: revitalização do centro da cidade.Campos Elíseos, Luz, Praça Princesa Isabel, e entorno:

toda essa área poderá ligar-se ao lado oposto da Avenida São João, que compreende Largo do

Arouche, Praça da República, Avenida Vieira de Carvalho, Terminal Amaral Gurgel e adjacências,

passando por dentro da Nova Cinelândia.

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CONSIDERANDO A vida noturna paulistana

Salas de cinema (Olido, Marabá etc) , casas de shows (Bar Brahma), churrascarias

(Dinhos’s Place), escolas (Fatec), além dos inúmeros bares e boates de menor prestígio

conferem à região forte potencial de vida noturna. Esta região já foi conhecida como

Cinelândia, de modo informal. Haviam vários cinemas de rua ali e o paulistano tinha o

hábito de sair à noite e mesmo nas tardes, para assistir um filme. Recentemente o cine

Marabá foi restaurado e voltou a funcionar na Avenida Ipiranga, próximo ao Bar Brahma.

O Bar Brahma mantém-se vigoroso como opção de lazer tanto nas tardes como à noite. Há

poucos anos ele conseguiu o que deve ser a maior ambição de qualquer empresário do setor:

alugou a esquina mais famosa da cidade! Assim a cidade viu-se livre da loja de consórcio de

automóveis e motocicletas, o Consórcio Remaza, e ganhou uma porta aberta nos dois turnos

aumentando a qualidade em termos de lazer, turismo e encontros. Isto frisa que há forças

positivas atuando na região. Outro exemplo disso é a construção do Formule 1, hotel

inserido em uma rede internacional que se apresenta como opção econômica aos viajantes.

Mais que baixo preço, o Formule 1 é espartano, não contando, sequer, com um sofá em seu

átrio de recepção – átrio esse reduzido ao mínimo. Assim, o cliente sabe que, em qualquer

lugar do mundo, se buscar simplesmente dormir e tomar banho, poder recorrer à esta marca.

Diante do Formule 1 inaugurou-se o SP Down Town Hostel. Opção para estudantes e

descolados do mundo todo. O ambiente bom, limpo, oferecendo generoso café da manhã (ao

contrário do Formule 1) torna a esquina na Praça Júlio Prestes algo mais do que apenas um

cenário de abandono.

DECIDIU-SE

Abrir espaço no programa do projeto à atividades correlatas que tornem o Nova Cinelândia

um destino natural na noite. Casais, jovens e famílias terão onde ir. Tal estímulo é buscado

na intenção de se evitar o uso intenso das instalações apenas no período diúrno, o que

provocaria um esvaziamento do condomíno à noite.

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CONSIDERANDO O cenário e seu horizonte

Do alto das torres do Nova Cinelândia poderá se ver inúmeros pontos famosos da

cidade: Edifício Altino Arantes, Estação Júlio Prestes, Estação da Luz, Mosteiro de

São Bento, Edifício Racy (projetado e construído pelo escritório Zarzur e Kogan),

Praça da República, Edifícios Copan, Itália e o antigo Hilton.

DECIDIU-SE

Eliminar corredores oclusivos nos pavimentos superiores.

Expor a entrada principal dos elevadores para as alas residenciais e corporativas, de

modo tal que ao chegar ou sair do elevador, tenha-se a visão da rua e da cidade.

Expor ao máximo a ciculação em todos os setores, permitindo que tanto moradores

como funcionários no Nova Cinelândia confrontem-se com a vista da cidade em

vários ângulos e vários pontos da edificação.

Criar duas torres interligadas por corredores abertos. fotos publicadas por Gilberto Calixto Rios http://www.slideshare.net/mgermina/aveida-so-joo-8055649

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LIVRE PENSAR SANTO DE CASA...

O Edifício Metrópole é um caso sadio, merecendo consideração atenta. Não é híbrido no sentido de

conjugar residências e estimular seu usuário à conviver no entorno. Todavia é um caso de implantação

tão bem pensada que todas as ruas circundantes são como que atraídas a ele.

A generosidade dos acessos, as diversas opções de circulação, o convívio inteligente e franco com a

Praça Dom José Gastar e sua frente acolhedora na Av. São Luís são apenas alguns aspectos de valor que

buscamos aplicar. Um de seus muitos asptectos interessantes é o jardim rebaixado que surge

surpreendentemente ao se andar no piso térreo. Poucos são os que não se encantam co est e uso jovial do

espaço. É uma cota ideal para comerciantes e fornecedores de ser viços? Não, claro. Mas os restaurantes

e diversas atividades ali instaldas mostram que nem todo comércio exige a cota da calçada.

No Edifício Louvre, situado em frente à Galeria Metrópole, temos algumas lições mostrando segredos

da acessibilidade bem pensada. Artacho Jurado recuou a fachada das lojas em relação à calçada em

cerca de 3 metros, o que fez surgir uma loggia, pois as colunas mostram-se proximas à rua e antecedem

as salas comerciais. Tal abrigo é um convite a quem passas, pois o pedestre recebe proteção do sol e da

chuva ali. Jurado cria uma leve linha côncava ao alinhar cada loja, provocando movimento e uma

sucessão de descobertas ao visitante. Outrossim, ele surpreende por nos revelar, após a portaria e o

corpo de elevadores, uma outra rua interna, absolutamente imperceptível de fora. Deparamo-nos, então,

com uma galeria de ótimo pé-direito seguindo para a esquerda e para a direita, tendo uma belíssima

escada dupla de mármore como majestoso eixo desse espaço cinemtatográfico.

É nossa intenção aplicar alguns desses princípios eadiconar o que faltou no Louvre : conectar as galerias

com a rua, eliminando oefeito “beco sem saída”. Provavelmente o arquiteto rábula optou assim por

motivos pertinentes.

Hoje, nosso alvo é mais dirigido: dialogar com a urbe, de preferência nas duas mãos de direção.

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LIVRE PENSAR... HÍBRIDO É UM PRÉDIO QUE NÃO EXISTE!

Não basta ser multifuncional: há que ser híbrido! O léxico nos ensina que híbrido é o resultado de duas espécies distintas, como

exemplo o cruzamento entre cavalo e jumento. A mula é um ser hibrido e como tal, não se reproduz. É o limite das espécies, no sentido

reprodutivo.

Nosso prédio deve ser híbrido. O termo foi apropriado por um autor que assim decidiu nomear o tipo de edifícios multifuncionais

novaiorquinos, edifícios estes inseridos na efervecente ilha de Manhattan.

Diante da questão feita à professora “que prédio podemos considerar híbrido em nossa cidade?” ouvimos apenas uma resposta: o

Conjunto Nacional, que segundo ela possui algumas imperfeições no que tange a uma excessiva reclusão e distanciamento da cidade,

em alguns setores do conjunto.

Ora, se o encantador e genial projeto do Libenskin não atingiu a excelência para nossa mestra, posso considerar-me, eu mero aluno, uma

fracassado por antecipação.

Naturalmente, esta conclusão em nada afetará nosso empenho em criar algo bom e primoroso; mas a aprovação ante tal grau de

perfeccionismo já se apresenta vã, isso é fato.

Consideremos alguns senões que penso serem úteis ao arquiteto paulistano neste tema. Manhattan é uma ilha. Essa obviedade é,

amiúde, esquecida. As ilhas possuem uma situação urbana específica e nem todas as suas soluções aplicam-se no continente. Exemplo:

São Paulo não possui um grau de congestão comparável à Manhattan,apesar de sua população ser superior. Isto implica em que os

modelos bem sucedidos ali jamais atingirão resposta equivalente numa cidade sem quadrículas, com 30km de extensão, com legislação

urbana própria, num país de terceiro mundo.

Antes de buscarmos replicar modelos de outro hemisfério e clima, não seria mais pedagógico aprender dos nossos bons exemplos?

Não parece ser proveitoso buscar o híbrido, uma vez tratar-se de um modelo quimérico nascido em uma ilha em situação muito diversa

da que temos. Nossa utopia pode se dirigir à busca do que São Paulo tem de cosmopolita - condição essa que independe da congestão.

Essa pluralidade, essa miscigenação e esse caldo cultural é o que fenece sob a multipilicação doscondomínios fechados.

Eis a boa luta do urbanista: nossa utopia factível.

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L i ç õ e s d o s p r o j e t o s d e c o l e g a s

PENSAR CUIDADOSASMENTE A IMPLANTAÇÃO PENSAR NA UNICIDADE E COERÊNCIA VOLUMÉTRICA Não permitir que os recortes do terreno determinem a configuração do espaço. Acessos generosos, sem gargalos. Torre deve dialogar com a base.

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L i ç õ e s d a c i d a d e

Galeria Metrópole: a generosidade em espaços superpoostos. O rebaixamento pode ser usado criando mais interação entre as lajes do que uma mera cobertura com jardim.

Bar Brahma: ollhar a cidade e ser olhado. Extrair omáximo da esquina e devolver à cidade um espaço gentil, ainda que privado.

Terminal Rodoviário Tietê: Luz natural farta, amplidão, numa monumentalidade protetora. Abrigo sem oclusão.

CCBB – verticalizar um espaço exíguo. Uso inteligente das limitações.

Hospital da Benificência Portuguesa: Implantação criativa do acesso, criando aconchego em um complexo gigantesco – a pessoa não se sente oprimida pela monumentalidade do prédio.

ETEC Heliópolis, de Ruy Ohtake: Pé-direito baixo pode ser acolhedor.

Cobertura da Galeria Prestes Maia, na Praça do Patriarca, de Mendes da Rocha:

Usar a perspectiva e o jogo cenográfico obtendo uma experiência sensorial ímpar.

Guarda no Terminal Bandeira: A figura humana é elemento enriquecedor no

espaço. Nosso projeto deve permitir seu destaque.

ETEC Heliópolis, de Ruy Ohtake: Usar a perspectiva como atração, convidando

quem passa, a entrar.

Bonecos de Antony Gormley na intervenção “Corpos Presentes”, sendo levados para o Rio de

Janeiro: A figura humana atrai o olhar, provoncando outra

apreensão da cidade e dos prédios.

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L i ç õ e s d a c i d a d e

Edifício Sylvio Monteiro: uma rua particular ligando 3 prédios de modo generoso e franco:

um dos pontos mais agradáveis de se andar na cidade!

Edifício Sylvio Monteiro e ao fundo uma das entradas do Copan. A ligação não permite

que se saiba quando se saiu de um prédio e entrou-se em outro.

Edifício Sylvio Monteiro: No fundo, à direita, uma galeria de restaurantes populares com

muitas opções.

Edifício Copan: a planta mostra os caminhos de sua galeria sinuosa e surpreendente.

Encanta leigos e profissionais que ali visitam.

Galeria Nova Barão: um espaço acolhedor, comércio vibrante e popular mas com alguma sofisticação: jóias também são oferecidas, valendo-se do clima levemente reservado de sua rua interna.

Galeria Nova Barão: o mezanino abriga diversos salões de beleza e serviços como contador, manutênção predial etc. Sua abertura provoca um convívio entre as cotas, numa relação social mais rica.

Galeria Nova Barão: a antiga escada rolante confere algum charme retrô ao ambiente.

Galeria Nova Barão: quase no meio ela se amplia e surge um largo, com chafariz, bancos, floreiras convidando ao descanso e um bate-papo. Quantos lugares em São Paulo tem isso franqueado a todos?

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Meretrício assusta asfamílias, todavia, à medida que se ofertam espaços para residência e trabalho, ele reflui, como se vê ocorrer agora na Rua Augusta.

L i ç õ e s d o e n t o r n o

O pequeno comércio ofertas de serviços autônomos deve ser preservada. É mais valioso que sistemas de redes de franquias, impessoais e desconectadas da realidade e das pessoas da região.

Antigo cine Comodoro: a marquise projetadando-se à calçada é um convite estupendo! Perspectiva e ampla abertura de acesso são elementos desse jogo rico.

Muitos pobres moram no centro e seu espaço deve ser preservado, caso contrário eles ocuparão a região de modo informal criando favelas e cortiços. São garçons, porteiros, diaristas, copeiras, manobristas, seguranças, comerciários etc. A classe rica não sobrevive sem eles, então a lógica é mesclar os diversos níveis sociais: isto é uma cidade sadia..

Meretrício assusta asfamílias, todavia, à medida que se ofertam espaços para residência e trabalho, ele reflui, como se vê ocorrer agora na Rua Augusta.

O poste clássico paulistano é um símbolo elegante, altivo e singular: merece ser mantido.

Nordestinos, angolanos, nigerianos, bolivianos, peruanos etc: o centro da cidade é um caldeirão de trabalhadores

pobres de muitos lugares e isto é um traço valioso de nossa cidade: ser cosmopolita...

...Em outras palavras: lutemos, enquanto urbanistas,

contra a xenofobia e a segregação, elas são perigosas e se voltam contra os que as cultivam.

A arte faz parte do cenário: feira na Praça da República é um bom exemplo; lojas para pintores na região do

Arouche e Gal. Jardim igualmente..

Galeria do Rock: exemplo de sucesso como espaço de encontros.

Jamais daria certo em um shopping, que tem custos tão altos a ponto de funcionar apenas sob o grande capital e

suas redes impessoais de lojas e grifes.

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Luz Conceito ampliado: a luz artificial pode atingir qualquer superfície.

É um mecanismo de modificação das formas no tempo Tornando-as instáveis. FS

Luz Veículo imprescindível para que o espaço se manifeste. Um espaço que não necessita de suporte material para dar-se a conhecer.

É necessário um diálogo de signos onde o lugar e a paisagem simplesmente é iluminado.

Condição imprescindível para que a cidade se manifeste. A escala e a relação de distância se modifica de modo a surgir

uma linguagem simbólica entre a cidade e o edifício. Jm

L i ç õ e s d o d i c i o n á r i o

LUZ Pensar no efeito luminoso à noite. Pensar no efeito luminoso (luz natural) durante o dia. Pensar no efeito luminoso artificial durante o dia nos setores internos. Pensar no caminho dirigido pela luz: luzes guia, postes, letreiros que convidam. Pensar na alteração das texturas e psicologia ambiental sob a luz.

Galeria Nova Barão, à noite

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Ambiente Configuração de um marco. Lugar onde pode descobrir ordem e desordem, vazios e caos. O ambiente é o marco do pré-linguístico, de estados prévios, onde

há o intercâmbio prévio de todo processo criativo. É um contínuo de formas e espaços que se estica, se encolhe, de tal modo que torna obsoleta a visão simplista das décadas passadas entre arquitetura e território, Arquitetura e paisagem e mesmo sua relação com a história. JM

L i ç õ e s d o d i c i o n á r i o

AMBIENTE Pensar num caminho natural, livre, óbvio entre a Av. São João e Rua Aurora. Usar a perspectiva à partir do poste símbolo do centro da cidade. Evitar oclusão e claustrofobia no pavimento térreo. Buscar tornar-se um atalho público antes, um espaço de permanência depois.

Av. São João X Rua Vitória

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L i ç õ e s d o d i c i o n á r i o

CIDADE A cidade contemporânea, sob a instabilidade do capitalismo tardio, não pode mais ser pensada com os parâmetros de

estabilidade, setores com sua rigidez orgânica, pois se articula dentro de uma estrutura global. Hoje há uma

centralidade múltipla com estruturas policêntricas e inorgânicas, numa organização territorial que advém da

economia líquida. Há um crescimento descontínuo e desarticulado. Exemplos disso: a policentralidade das Vilas

Novas de Paris, as Sunbelt americanas e a Ruhrgeniet e a Randstaat. São constelações de atratores que romperam

com o modelo de centros gravitacionais tradicionais.Sistemas policêntricos e não-hierárquicos, net-works e rizomas, capazes de atuar sob condições instáveis. (Alejandro Zaera)

A cidade artefato é um amálgama, um material que desconhecemos, um amontoado de elementos naturais, artificiais e imateriais, simultaneamente fibroso e poroso, com áreas densas e estáveis, feita de elementos antitéticos que romperam com os limites tradicionais.

Temos de encontrar nesse magma um substrato poético, algo que busca um novo horizonte, e buscarmos uma nova visão crítica, não o antigo viés moralista modernista.

O desafio é descobrir, na verdade, a posição do homem contemporâneo no mundo. (Ábalos & Herreros)

CO

CIDADE As melhores cidades são aquelas aonde nos perdemos. É necessário sair às ruas num corpo-a-corpo para termos a medida do urbano e do espaço público. Um espaço público sem nescessariamente complementos arquitetônicos,

onde se possa ouvir a reverberação da própria cidade.

Uma cidade que é a soma das vozes de seus sujeitos. JM.

CIDADE Pensar em programa não rígido, mas polivalente. (Hermann Hertzberger). Pensar em potencializar a criatividade dos usuários e cidadãos visitantes do espaço.

Rua Aurora: sebo

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Lições do debate

Lições das pesquisas dos

alunos

O projeto do Edifício Eldorado ensinou que: A base estrutural pode ser reforçada com sutileza, por se ampliar as quinas do prédio, obtendo-se assim uma maior rigidez estrutural quando for necessária. A negociação entre grupos de investidores e poder público raramente é fácil. Buscar sustentabilidade = economizar na manutenção. Grau de transparência do vidro pode ser manipulado à favor da estética e conforto, obtendo-se visual atraente.

A cadeira de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie continua fascinada por nomes internacionais. O resultado é que projetos oclusivos com praça elevada e murada(!) são apresentados como modelos de inserção na cidade, quando de fato, afastam o usuário dela. Soluções para climas frios pouco tem a ensinar para arquitetos de clima tropical, mas parece que conhecer o que se faz na Europa nos torna mais “antenados “. O resultado triste é que aumenta o desconhecimento dos alunos sobre projetos como o Conjunto Nacional, Copan, Galeria Metrópole, Artacho Jurado, Zarzur e Kogan etc. O risco é produzirmos uma legião de fachadistas, ansiosos por aplicar “tecnologia” e materiais exóticos como revestimento, ignorando soluções de implantação, luz e ventilação. Pilotis na China tem mais charme que pilotis do prédio do Ministério da Educação e Saúde, que sequer foi citado no semestre. Liberar o cenário como se fez no Pedregulho, no Masp, voltam à baila se forem replicados lá fora, provocando um rompimento do aluno com sua própria história. Talvez não seja tão estranho, já que pagamos caríssimo pelo café expresso feito em máquina suiça – com os grãos saídos do Brasil...

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Primeiro é usual pensar no uso máximo da área. Assim temos 3 entradas na intenção de facilitar a circulação de pessoas: pode-se entrar pela Av. São João e sair na Rua Aurora, além de uma abertura na esquina. Isto é uma maneira de facilitar o acesso e atrair pessoas. Mas, pode melhorar...?

Aqui recuamos o prédio: a linha hachurada mostra uma calçada ampla, com curvas e uma esquina generosamente oferecida à população. Note que os extremos não possuem igual recuo. A pessoa que anda na rua é convidada a usar um espaço cedido gradualmente. Por dentro, claro, as lojas estão dispostas em corredores, formando ruas internas no mesmo sentido longitudinal, ligando ambas as calçadas. Neste desenho surgem duas torres ao invés de uma e há ligações aéreas entre eles: passarelas. O motivo disso é provocar a apreciação do horizonte da cidade pelo usuário. Dificilmente o morador e os visitantes recebidos por ele esquecerão que estão no centro de São Paulo. Os corredores com amplas aberturas serão mirantes. Espera-se assim causar uma experiência urbana em quem circule ali: ver a cidade, o entorno e até o ponto mais afastado é um modo de se fortalecer o apreço pela cidade e pela vida urbana.

Desta página em diante: Todas são fotos de alunoeterno.blogspot.com

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Aqui temos ainda as duas torres e suas passarela, (não desenhadas, mas estão lá!). Essa opção se aproxima muito do desenho anterior com um avanço: As torres não estão ligadas por uma laje comum. Na verdade há um setor comercial na base de cada uma, porém o intervalo é um enorme setor livre, a céu aberto, na cota da calçada. O inteiro pavimento tornou-se um lugar público, devassado, exceto onde se encontram as torres. Nesta opção buscou-se eliminar a noção de "dentro" e "fora" do conjunto. Um passante poderá simplesmente sentar-se na praça comum e ler algo, fumar, bater papo, ver a moda... Então você pergunta: Legal... e se chover? E eu te respondo: E se não chover? Ou seja: há um desabrigo, claro. E isto tanto tem um lado ruim como um lado bom... A questão é: por que temos tanta necessidade de sermos abrigados da chuva? Ok, existem as tempestades. Mas talvez cada um de nós consiga lembrar-se de uma cena na vida em que coisas legais e divertidas aconteciam quando estávamos ensopados por um pé d'água. Então você me diz: o cliente vai investir num espaço frágil, onde seu usuário ou locatário fique à mercê das inclemências climáticas? E eu respondo, sim, se essa fragilidade for localizada e a opção de abrigo estiver próxima. Em outras palavras, pode ser que o projeto final não se configure com toda essa abertura sugerida em nosso rabisco. Mas que deve haver um ou mais lugares em que se possa ver a chuva cair fartamente dentro do complexo, isso haverá. Ninguém no pavimento térreo deveria fazer a pergunta: "Será que está chovendo lá fora?" Bastará andar um pouco e esticar a mão, ou olhar para cima e ter a resposta.

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É lícito permitir chuva dentro de um prédio? - Sim, como não ?

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Cinema rebaixado podeser visto da rua.

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C o r r e d o r e s e p a s s a r e l a s E s t u d o e n t r e d o i s b l o c o s

É p o s s í v e l v a r i a r o d e s e n h o a c a d a p a v i m e n t o ?

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To d a s a s f o t o s s e m c r é d i t o s ã o d e a l u n o e t e r n o . b l o g s p o t . c o m p r o d u z i d a s p o r C a r l o s E l s o n C u n h a .

A g o s t o 2 0 1 2 a . D .

Por ‘uma cidade que seja a soma das vozes de seus sujeitos.’ José Morales

in Diccionário Metápolis de Arquitectura Avanzada.