*Matéria Destaque - Revista InteRural

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PÁG. 96 REVISTA INTERURAL MAIO DE 2013 PÁG. 97 REVISTA INTERURAL MAIO DE 2013 EVENTOS D as montanhas de Gir, na Índia, para di- versas regiões do Brasil, uma raça zebu- ína ganhou espaço na pecuária nacional. De história antiga, o Gir é considerado, por boa parcela dos narradores de sua trajetória, a raça asiática mais remota do planeta. Junto à idade, vêm também as características que marcam um gado forte e rústico, com a cara de um país tropical como o Brasil. A raça teve suas etapas em nosso País. Por volta da década de 1930, iniciaram-se as importações de Gir. Era a Fase de Implementa- ção, com os primeiros criadores que observaram a aptidão leiteira dos animais e foram construindo os ali- cerces para o Gir Leiteiro como raça. Na década de 1980, passou-se para a chamada Fase Técnica, quando, já como uma associação, a ABCGIL firmou parceria com a Embrapa, atribuindo maior credibilidade ao Zebu lei- teiro. Hoje, a raça vive Fase Empresarial. Nela, já houve um período de pouca oferta e restritos criatórios, o que levava a supervalorização do preço. Agora, os valores estão sendo fixados, algo positivo do ponto de vista da difusão das boas genéticas, uma vez que torna real a possibilidade de produtores de diferentes portes terem acesso a elas. O primeiro leilão da 79ª ExpoZebu apontou para essa nova realidade, apresentando uma noite presti- giada por um volumoso e diversificado público e com preços ajustados ao mercado. A segunda edição do Terra Prometida do Gir Leiteiro foi o evento de estreia da raça na maior exposição de zebuínos do mundo. No dia 30 de abril de 2013, os promotores tiveram arrema- te de 29 animais fortes e de muito pedigree. TERRA PROMETIDA EM NÚMEROS Durante o leilão, 25 fêmeas foram vendidas, al- cançando média de R$ 9.417,60. Além delas, quatro prenhezes sexadas de fêmea renderam, em média, R$ 11.700,00. O maior comprador foi José Alberto Oliveira Murta, da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de Uberaba (MG), que investiu R$ 51.600,00 em produtos do evento. As cinco bezerras (sendo que uma delas teve apenas 50% das co- tas vendidas) tiveram R$ 12.000,00 de média, e as 13 novilhas, R$ 7.680,00. As duas vacas comerciali- zadas apontaram R$ 7.080,00. Já as duas paridas (uma delas também vendida em somente 50%), rende- ram média de R$ 34.400,00. Já as quatro doses de sêmen tiveram preço médio de R$ 3.960,00. TIME CAMPEÃO Os sete promotores envolvidos no evento ficaram satisfeitos com o público e com os resultados e parcerias firmadas. Wilston Dummont, da Fazenda Quilombo, há três anos tem- -se dedicado ao Gir Leiteiro, participou da 1ª edição e, sobre o evento deste ano, diz que “foi um excelen- te leilão para o começo da ExpoZebu, vendemos bem e formamos uma ONDE O GIR LEITEIRO DEVE ESTAR Em favor da raça e com preços democratizados, 2° Leilão Terra Prometida colaborou diretamente para a evolução do Gir Leiteiro turma maravilhosa”. Renan Salgado, da Fazenda Salgado, também elogiou sua equipe. Para ele,abrir o ciclo de leilões de Gir Leiteiro mostrou a força do grupo. “Foi uma forma de dizer que nós viemos para ficar, que nosso grupo é bastante sólido e que vem consagrar, valorizar e colaborar com essa raça”, comenta. O bom resultado do evento certamente está relacionado ao velho dita- do de que “a união faz a força”. Essa foi uma característica igualmente des- tacada pelo promotor José Orlando Bordin, da Fazenda Araquá. “Quem este- ve presente no Terra Prometida notou que o recinto estava completamente lotado. Somos um grupo muito amigo e plural: há criadores de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo. Ter uma equipe dessas, sem dúvida, facilita muito a realização do leilão”. Equipe unida prestigia e confia sempre no trabalho recíproco. Além de realizarem o evento, os promotores fizeram suas aquisições. Carlos Eduar- do, da Fazenda Positiva, teve o “prazer”, segundo palavras dele, de comprar. “Nós, que estamos vendendo, temos que repor o plantel, e é preciso fazer isso com qualidade”, analisa. Lúcio Dias de Oliveira, da Gir da Coli, fez uma homenagem ao futuro da pecuária e comprou um lote especialmente para seu filho. “Acredito que devo incentivá-lo para, posteriormente, ele assumir meu papel”, anseia. PAIXÃO GIRLEITERISTA O promotor Carlos Eduardo Bezerra, da Fazenda Positiva, não esconde o entusiasmo com o zebuíno. “O Gir Leiteiro é apaixonante. Uma raça de leite que a gente sabe que não vai acabar, e sim crescer. É uma raça que, quando você acorda de manhã e abre a sua janela, você vê um animal diferenciado, muito manso, muito dócil. Para o nosso clima, não tem outro”, declara. Além de pintar os planteis com a sua beleza, é inegável a participação do Gir Leiteiro como base para grande parte do rebanho brasileiro. “Eu acho o Gir fundamental”, defende Darildo Abreu, gerente da Fazenda Belas Ar- tes e promotor, junto ao proprietário Carlos Jacob Wallauer e equipe. Afinal, além de ser, por si só, um bom produtor de leite, é o plano de fundo para a ob- tenção e sucesso do Girolando, gado de maior expressividade em números na pecuária leiteira nacional. Sobre o leilão, na visão de Darildo, “foi ótimo”. POR MELINA PAIXÃO BERRANTE COMUNICAÇÃO O Gir Leiteiro é apaixonante. Uma raça de leite que a gente sabe que não vai morrer, que cresce. É uma raça que quando você acorda de manhã e abre a sua janela, você vê um animal diferenciado, muito manso, muito dócil e que para o nosso clima não tem outro” (Carlos Eduardo Bezerra, da Fazenda Positiva). Casa cheia na abertura de leilões de Gir Leiteiro da ExpoZebu Equipe de peso. Ao centro, Luiz Ronaldo, da Leite Gir Pecuaristas prestigiaram o Terra Prometida Carlos Eduardo Bezerra e Renan Salgado acompanham juntos os arremates Público jovem participa do leilão Investidores de Gir Leiteiro adquirem exemplares Terra Prometida (Da dir. para esq.) Marcus Vinícius e seu parceiro de Gir Leiteiro, com Silvio Queiroz, ex-presidente da ABCGIL.

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Edição 61 - Junho 2014. Título: Onde o Gir Leiteiro deve estar

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Maiode 2013

eventos

Das montanhas de Gir, na Índia, para di-versas regiões do Brasil, uma raça zebu-ína ganhou espaço na pecuária nacional. De história antiga, o Gir é considerado,

por boa parcela dos narradores de sua trajetória, a raça asiática mais remota do planeta. Junto à idade, vêm também as características que marcam um gado forte e rústico, com a cara de um país tropical como o Brasil.

A raça teve suas etapas em nosso País. Por volta da década de 1930, iniciaram-se as importações de Gir. Era a Fase de Implementa-ção, com os primeiros criadores que observaram a aptidão leiteira dos animais e foram construindo os ali-cerces para o Gir Leiteiro como raça. Na década de 1980, passou-se para a chamada Fase Técnica, quando, já como uma associação, a ABCGIL firmou parceria com a Embrapa, atribuindo maior credibilidade ao Zebu lei-teiro. Hoje, a raça vive Fase Empresarial. Nela, já houve um período de pouca oferta e restritos criatórios, o que levava a supervalorização do preço. Agora, os valores estão sendo fixados, algo positivo do ponto de vista da difusão das boas genéticas, uma vez que torna real a possibilidade de produtores de diferentes portes terem acesso a elas.

O primeiro leilão da 79ª ExpoZebu apontou para essa nova realidade, apresentando uma noite presti-giada por um volumoso e diversificado público e com preços ajustados ao mercado. A segunda edição do Terra Prometida do Gir Leiteiro foi o evento de estreia da raça na maior exposição de zebuínos do mundo. No dia 30 de abril de 2013, os promotores tiveram arrema-

te de 29 animais fortes e de muito pedigree.

Terra PromeTida em númerosDurante o leilão, 25 fêmeas foram vendidas, al-

cançando média de R$ 9.417,60. Além delas, quatro prenhezes sexadas de fêmea renderam, em média,

R$ 11.700,00. O maior comprador foi José Alberto Oliveira Murta, da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de Uberaba (MG), que investiu R$ 51.600,00 em produtos do evento.

As cinco bezerras (sendo que uma delas teve apenas 50% das co-tas vendidas) tiveram R$ 12.000,00 de média, e as 13 novilhas, R$ 7.680,00. As duas vacas comerciali-zadas apontaram R$ 7.080,00. Já as duas paridas (uma delas também vendida em somente 50%), rende-ram média de R$ 34.400,00. Já as

quatro doses de sêmen tiveram preço médio de R$ 3.960,00.

Time CamPeãoOs sete promotores envolvidos no evento ficaram

satisfeitos com o público e com os resultados e parcerias firmadas. Wilston Dummont, da Fazenda Quilombo, há três anos tem--se dedicado ao Gir Leiteiro, participou da 1ª edição e, sobre o evento deste ano, diz que “foi um excelen-te leilão para o começo da ExpoZebu, vendemos bem e formamos uma

onDe oGir LeiteiroDeve estar

Em favor da raça e com preços

democratizados, 2° Leilão terra

Prometida colaborou

diretamente para a evolução do Gir

Leiteiro

turma maravilhosa”. Renan Salgado, da Fazenda Salgado, também elogiou sua equipe. Para

ele,abrir o ciclo de leilões de Gir Leiteiro mostrou a força do grupo. “Foi uma forma de dizer que nós viemos para ficar, que nosso grupo é bastante sólido e que vem consagrar, valorizar e colaborar com essa raça”, comenta.

O bom resultado do evento certamente está relacionado ao velho dita-do de que “a união faz a força”. Essa foi uma característica igualmente des-tacada pelo promotor José Orlando Bordin, da Fazenda Araquá. “Quem este-ve presente no Terra Prometida notou que o recinto estava completamente lotado. Somos um grupo muito amigo e plural: há criadores de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo. Ter uma equipe dessas, sem dúvida, facilita muito a realização do leilão”.

Equipe unida prestigia e confia sempre no trabalho recíproco. Além de realizarem o evento, os promotores fizeram suas aquisições. Carlos Eduar-do, da Fazenda Positiva, teve o “prazer”, segundo palavras dele, de comprar. “Nós, que estamos vendendo, temos que repor o plantel, e é preciso fazer isso com qualidade”, analisa.

Lúcio Dias de Oliveira, da Gir da Coli, fez uma homenagem ao futuro da pecuária e comprou um lote especialmente para seu filho. “Acredito que devo incentivá-lo para, posteriormente, ele assumir meu papel”, anseia.

Paixão GirleiTerisTaO promotor Carlos Eduardo Bezerra, da Fazenda Positiva, não esconde

o entusiasmo com o zebuíno. “O Gir Leiteiro é apaixonante. Uma raça de leite que a gente sabe que não vai acabar, e sim crescer. É uma raça que, quando você acorda de manhã e abre a sua janela, você vê um animal diferenciado, muito manso, muito dócil. Para o nosso clima, não tem outro”, declara.

Além de pintar os planteis com a sua beleza, é inegável a participação do Gir Leiteiro como base para grande parte do rebanho brasileiro. “Eu acho o Gir fundamental”, defende Darildo Abreu, gerente da Fazenda Belas Ar-tes e promotor, junto ao proprietário Carlos Jacob Wallauer e equipe. Afinal, além de ser, por si só, um bom produtor de leite, é o plano de fundo para a ob-tenção e sucesso do Girolando, gado de maior expressividade em números na pecuária leiteira nacional. Sobre o leilão, na visão de Darildo, “foi ótimo”.

Por Melina PaixãoBerrante coMunicação

“O Gir Leiteiro é apaixonante. Uma raça de leite que a gente sabe que não vai

morrer, que cresce. É uma raça que quando você acorda

de manhã e abre a sua janela, você vê um animal

diferenciado, muito manso, muito dócil e que para o

nosso clima não tem outro” (Carlos Eduardo Bezerra, da

Fazenda Positiva).

Casa cheia na abertura de leilões de Gir Leiteiro da ExpoZebu

Equipe de peso. Ao centro, Luiz Ronaldo, da Leite Gir

Pecuaristas prestigiaram o Terra Prometida

Carlos Eduardo Bezerra e Renan Salgado acompanham juntos os arremates

Público jovem participa do leilão

Investidores de Gir Leiteiro adquirem exemplares Terra Prometida

(Da dir. para esq.) Marcus Vinícius e seu parceiro de Gir Leiteiro, com Silvio Queiroz, ex-presidente da ABCGIL.

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Segundo ele, “vendemos, e foi por preço de mercado, sem preços ilusórios”.

oPinião do ClienTeOs animais trazidos ao público do Terra Prometi-

da, segundo Renan Salgado, são aqueles compatíveis ao contexto da ExpoZebu: “De muita genética e produ-ção de leite, com pedigree de famílias consagradas do Gir Leiteiro e prenhezes de grandes campeãs em tor-neios e em pista”.

Em busca desse perfil de animal, o pecuarista Marcus Vinícius Caridade dos Reis, também da Fazen-da Nossa Senhora Aparecida, foi ao Tatersal da ABCZ para prestigiar o leilão e aproveitou para aprimorar seu rebanho. “Os lotes que adquiri encaixam no nosso plantel, com linhagens que nós ainda não tínhamos e no leilão estavam disponíveis para comprar”. Marcus Vinícius comprou doadoras que, para ele, “são produ-tos de muita qualidade genética”. Ele tem pla-

nos de, posteriormente, também comercializar os frutos produzidos a partir delas.

reCuPerando o fôleGo

Para o zootecnista e assessor de leilão Rafael

Veloso, da G Leite, o leilão veio para dar continui-dade ao Projeto Terra Prometida. “Nós viemos passar para a terceira

edição. Temos certeza que ele foi melhor que o primei-ro, e que o terceiro será ainda melhor. Essa é a nossa convicção”.

Rafael atenta pelo fato de que o produtor rural, de modo geral, vem recuperando-se do ano de 2012, que, segundo ele, dentro da história da pecuária talvez tenha sido um dos anos mais difíceis, especialmente para o pecuarista, devido à alta nos grãos que abalou as estruturas. “Estamos de ressaca”, sintetiza o asses-sor. “Acredito que, dentro da realidade do mercado, o leilão foi um sucesso e nós atingimos nosso objetivo”.

demoCraTizar Para CresCerLúcio Dias de Oliveira, da Gir da Coli, retoma o

conceito do período da Fase Empresarial que o Gir Lei-teiro vive atualmente e a aplica ao leilão que promoveu com seus parceiros. “Observamos o fato de que, há uns cinco anos, havia três ou quatro fazendas que domina-vam o mercado. Somente elas detinham animais bons.

Atualmente, todo mundo tem animal com potencial e isso é bom para a raça. Hoje, você pode comprar, com confiança, de um pequeno produtor. Isso é democracia de genética”.

Essa democracia de genética acontece, por exemplo, quando os preços encontrados em um lei-lão são mais acessíveis. É uma forma de interagir com mais produtores, compartilhando genealogias, o que, em última instância, colabora para o desenvolvimento da raça. Raça desenvolvida, juntamente com manejo adequado, são as peças base para um trabalho mais eficiente na produção e na qualidade de leite. É fato que paga-se mais pelo leite que apresenta melhores índi-ces qualitativos e o mercado, tanto interno como ex-terno, ganha quando consegue esse nível e respeita as normas sanitárias.

O fato de haver várias boas opções pode trazer inquietações ao produtor, fazendo-o imaginar que pode perder destaque. Por outro lado, a competitivida-de faz com que a própria qualidade seja o destaque, o diferencial e a principal meta a ser alcançada. Se a ten-dência for que se pague mais pela qualidade e não pela escassez de produto, é possível chegar-se num ponto em que o valor do leite apresente constância, e em me-lhores patamares de preço. Quem investiu na genética disponibilizada no 2º Leilão Terra Prometida, já deu o primeiro passo.

Equipe da Programa Leilões conduz o evento com maestria