MAPEAMENTO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA TRILHA DA PEDRA DO MACHADO NA APA DA SERRA DA IBIAPABA (CE)

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MAPEAMENTO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA TRILHA DA PEDRA DO MACHADO NA APA DA SERRA DA IBIAPABA (CE) Daniela Gaspar Garcia de Matos 1 – Universidade Federal do Ceará- [email protected] Denise Maria Azevedo Ursulino 2 - Instituto Centro de Ensino Tecnológico – [email protected] Eixo Temático: A Trilha Categoria de Apresentação: Oral INTRODUÇÃO Em função da associação de diversos fatores, como os estresses gerados pela vida urbana e o crescente destaque dado às questões ecológicas na atualidade, tem sido possível observar uma progressiva demanda por espaços naturais conservados, onde as trilhas ecológicas despontam, como uma nova forma de aproximação com a natureza. Abertas em lugares primariamente conservados onde os elementos naturais interagem de maneira harmônica e interdependente, as trilhas, podem provocar impactos ambientais negativos 3 já que, via de regra, seus planejamentos são negligenciados, não havendo estudo do traçado ou do contexto biofísico da área, como fauna, flora, solo, hidrologia, topografia, etc. Segundo Salvati (2005), na tentativa de minimizar esses impactos e harmonizar a reintegração do homem à natureza, profissionais das Ciências Naturais transformaram a abertura de trilhas em um trabalho científico, pedagógico e paisagístico, onde estas possuem diferentes formas, comprimentos, larguras, sinalizações e recursos interpretativos viabilizando assim que se usufrua de todo o potencial recreativo e educativo destes caminhos, além de elevar o nível de conforto e segurança dos seus usuários. Sendo assim, na busca de soluções para os conflitos advindos da intervenção humana em espaços naturais, é possível destacar o planejamento e manejo dos espaços físicos e atividades humanas como uma forma de minimizar a influência gerada na dinâmica dos processos naturais. OBJETIVOS Considerando a contextualização introdutória, a presente pesquisa objetiva realizar o mapeamento e o diagnóstico ambiental da trilha da Pedra do Machado 1 Bióloga – Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente - Bolsista FUNCAP 2 Geóloga – Mestre em Geociências e Meio Ambiente 3 Os impactos ambientais relacionados às trilhas se refletem, usualmente, na qualidade da água, fauna, solo e vegetação.

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MAPEAMENTO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA TRILHA DA PEDRA DO MACHADO NA APA DA SERRA DA IBIAPABA (CE)

Daniela Gaspar Garcia de Matos1 – Universidade Federal do Ceará- [email protected]

Denise Maria Azevedo Ursulino2 - Instituto Centro de Ensino Tecnológico – [email protected]

Eixo Temático: A Trilha Categoria de Apresentação: Oral

INTRODUÇÃO

Em função da associação de diversos fatores, como os estresses gerados pela vida

urbana e o crescente destaque dado às questões ecológicas na atualidade, tem sido

possível observar uma progressiva demanda por espaços naturais conservados, onde as

trilhas ecológicas despontam, como uma nova forma de aproximação com a natureza.

Abertas em lugares primariamente conservados onde os elementos naturais

interagem de maneira harmônica e interdependente, as trilhas, podem provocar impactos

ambientais negativos3 já que, via de regra, seus planejamentos são negligenciados, não

havendo estudo do traçado ou do contexto biofísico da área, como fauna, flora, solo,

hidrologia, topografia, etc.

Segundo Salvati (2005), na tentativa de minimizar esses impactos e harmonizar a

reintegração do homem à natureza, profissionais das Ciências Naturais transformaram a

abertura de trilhas em um trabalho científico, pedagógico e paisagístico, onde estas

possuem diferentes formas, comprimentos, larguras, sinalizações e recursos interpretativos

viabilizando assim que se usufrua de todo o potencial recreativo e educativo destes

caminhos, além de elevar o nível de conforto e segurança dos seus usuários.

Sendo assim, na busca de soluções para os conflitos advindos da intervenção humana

em espaços naturais, é possível destacar o planejamento e manejo dos espaços físicos e

atividades humanas como uma forma de minimizar a influência gerada na dinâmica dos

processos naturais.

OBJETIVOS

Considerando a contextualização introdutória, a presente pesquisa objetiva

realizar o mapeamento e o diagnóstico ambiental da trilha da Pedra do Machado

1 Bióloga – Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente - Bolsista FUNCAP 2 Geóloga – Mestre em Geociências e Meio Ambiente 3 Os impactos ambientais relacionados às trilhas se refletem, usualmente, na qualidade da água, fauna, solo e vegetação.

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localizada na Área de Proteção Ambiental Serra da Ibiapaba, no município de Viçosa

do Ceará no sentido de contribuir para a harmonização entre o uso das trilhas

ecológicas e a conservação do meio ambiente, para então estabelecer uma relação

desses resultados com o manejo da área.

METODOLOGIA Área de Estudo - Serra da Ibiapaba

Localizada a noroeste do Estado do Ceará a cerca de 330Km de Fortaleza, capital

do Estado, a Serra da Ibiapaba possui altitudes que variam de 700 a mais de 900 metros do

nível do mar e temperatura média de 24ºC (CEARÁ,2004). O clima na Chapada é quente e

úmido em sua porção oriental e quente e semi-árido em sua porção ocidental. O período

chuvoso estende-se por aproximadamente 06 meses, ocorrendo entre dezembro e julho,

com precipitação média anual variando entre 725 a 959mm. (CEARÁ, 2005).

No que se refere ao potencial turístico, especialmente ao turismo de natureza

(segmento da atividade que segundo Kinker (2002) está inserido o ecoturismo) é uma região

privilegiada, visto que comporta o Pólo Ecoturístico da Ibiapaba – PEI (composto pelos

municípios de Carnaubal, Ibiapina, Ipu, Guaraciaba do Norte, São Benedito, Ubajara,

Tianguá e Viçosa do Ceará) (SENAC, 2002) e a Área de Proteção Ambiental da Ibiapaba –

APAI.

A APAI foi criada por Decreto Federal de 26 de novembro de 1996 (BRASIL,

2006) com o intuito de cumprir os seguintes objetivos:

I. Garantir a conservação de remanescentes de cerrado, caatinga e mata

atlântica;

II. Proteger os recursos hídricos;

III. Proteger a fauna e a flora silvestres;

IV. Melhorar a qualidade de vida das populações residentes, mediante

orientação e disciplina das atividades econômicas locais;

V. Ordenar o turismo ecológico;

VI. Fomentar a educação ambiental;

VII. Preservar as culturas e tradições locais

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Embora em seu Art. 1º o Decreto de criação da APAI relacione cerca de 10

municípios piauienses e 5 cearenses como integrantes desta UC, de acordo com o memorial

descritivo disposto no Art. 2º do referido Decreto, o perímetro desta UC envolve 20

municípios do Piauí e 6 do Ceará. Do Piauí, têm seu território totalmente na APA: Brasileira,

Cocal, Cocal dos Alves, Domingos Mourão, Milton Brandão, Lagoa do São Francisco, Pedro

II, Piracuruca, São João da Fronteira e São José do Divino; do Ceará, o município de Viçosa

do Ceará. Contribuindo com uma grande parte de seu território para a APA, no Piauí tem-se

os seguintes municípios: Buriti dos Lopes, Caraúbas do Piauí e Piripiri; no Ceará: Chaval,

Granja e Tianguá. Com uma pequena porção de suas terras, participam da APA os

seguintes municípios piauienses: Batalha, Bom Princípiodo Piauí, Buriti dos Montes,

Caxingó, Juazeiro do Piauí, Luiz Correia e Sigefredo Pacheco; cearenses: Moraújo e

Uruóca. (IBAMA, 1998, grifo nosso).

A trilha objeto da presente pesquisa se localiza no município de Viçosa do Ceará,

inserido no contexto acima descrito e demonstrado na figura 1.

Figura 1 – Localização da área de estudo no estado do Ceará

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Levantamento e Caracterização da Trilha da Pedra do Machado Coleta dos dados no campo

O levantamento dos dados em campo foi realizado por posicionamento GPS e

com base na metodologia utilizada por Lechner (2005), medindo-se o segmento da trilha,

direção e declividade.

As trilhas foram segmentadas, sendo seus trechos ligados por dois pontos

(pontos controle), os quais foram determinados, essencialmente, pela mudança significativa

de direção ou declividade.

Definido o trecho, foram realizadas as medições das seguintes variáveis:

metragem - distância entre dois pontos limites do trecho -, direção - medida feita com

bússola – e declividade - medida da inclinação existente nos trechos, averiguada com um

clinômetro.

A metodologia utilizada requer pelo menos 2 pessoas em campo. A partir do

ponto inicial, uma das pessoas caminha, puxando uma trena4, até encontrar uma mudança

de direção ou declividade, neste ponto, é medida a distância, enquanto que o segundo

membro da equipe que permaneceu no ponto inicial, utilizando bússola e clinômetro, afere a

declividade e a direção do trecho. O mesmo procedimento se repete até que seja percorrida

toda a extensão da trilha.

Os pontos limitantes dos segmentos foram registrados por meio de um aparelho

GPS 12, marca Garmin, utilizando-se o Sistema de Projeção Geográfica UTM – Datum

SAD69 Zona 24S. Além disso, foram aferidas as altitudes do referidos pontos, por meio de

um altímetro digital Scape E-203 da marca Suunto, com precisão de 1 metro. Esta última

medida foi de fundamental importância para o traçado do perfil altimétrico da trilha.

Diagnóstico ambiental

O sistema de avaliação foi adaptado a partir da técnica de censo, sugerida por

Cole (1983 apud LECHNER, 2005). Após a definição de um conjunto de variáveis

(indicadores) claramente descritas e identificadas como problema, a trilha foi percorrida e

analisada segmento a segmento, quanto à presença ou não dos indicadores, quantificando-

4 Para realizar a medição do trecho podem ser utilizados além da trena, rodas métricas.

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os, sempre que possível5. Os segmentos aqui referidos são os mesmos considerados para o

traçado do perfil das trilhas descritos no item Coleta dos Dados no Campo.

A seleção dos indicadores tomou por base os trabalhos desenvolvidos por Magro

(1999), Magro (2006) e Cole (1991), observando-se as especificidades do ambiente em

questão.

A seguir são descritos os indicadores utilizados, seus parâmetros, uma breve

descrição das implicações ambientais dos mesmos e a freqüência com que foram avaliados:

• Lixo: Indicador avaliado quanto à sua presença ou não (sim/não). Avalia

os potencias riscos de contaminação do solo e dos recursos hídricos,

além dos riscos impostos à fauna e segurança do visitante, interferindo

ainda na qualidade da experiência dos mesmos. Freqüência de avaliação:

todos os segmentos das trilhas. Padrão: 0 (Zero)

• Danos à Vegetação: Indicador avaliado quanto à sua presença ou não

(sim/não). Avalia a qualidade da vegetação, sendo considerados danos:

galhos quebrados pelos usuários, cortes desnecessários em função de

manutenção inadequada, inscrições e pisoteio fora das trilhas. Freqüência

de avaliação: todos os segmentos das trilhas. Padrão: 0 (Zero)

• Raízes Expostas: Indicador avaliado quanto à sua presença ou não

(sim/não). Avalia a qualidade da vegetação e do solo. O pisoteio

constante e erosão, acabam ocasionando uma perda de solo, o que

expõe as raízes, diminuindo o vigor da vegetação. A presença deste

indicador também foi analisada fora do leito da trilha, para facilitar a

diferenciação entre uma condição natural e uma condição ocasionada

pelo uso público ou falta de planejamento adequado das trilhas. Para

efeito de indicador foram consideradas apenas as raízes expostas em

condições claramente não naturais. Freqüência de avaliação: todos os

segmentos das trilhas. Padrão: ≤ 20% dos trechos das trilhas.

• Quantidade de Picadas: É o número de caminhos existentes a partir da

trilha principal. Avalia a qualidade da vegetação e do solo. A abertura de

mais de uma trilha representa um dano desnecessário à vegetação. Além

disso, problemas de drenagem acabam ocasionando a abertura de

“picadas” que, via de regra, resulta em erosão. Freqüência de avaliação:

todos os segmentos das trilhas. Padrão: 0 (Zero)

5 Diferentemente da maioria dos indicadores os quais foram avaliados em todos os segmentos das trilhas, a “Largura” foi aferida apenas quando da constatação visual da necessidade de fazê-lo.

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• Vandalismo: Indicador avaliado quanto à sua presença ou não (sim/não).

Foram considerados vandalismos, pichações e danos à infra-estrutura6.

Este indicador está relacionado ao comportamento inadequado dos

usuários. Freqüência de avaliação: todos os segmentos das trilhas.

Padrão: 0 (Zero)

• Erosão: Indicador avaliado quanto à sua presença ou não (sim/não).

Avalia a qualidade do solo. Freqüência de avaliação: todos os segmentos

das trilhas. Padrão: ≤ 20% dos trechos das trilhas.

• Largura: A largura ideal de uma trilha depende do tipo de uso que esta

venha a ter, como no caso em questão a trilha é usada para prática de

caminhadas, um parâmetro ideal de largura estaria, segundo Lechner

(2005), entre 60-95cm. O alargamento da trilha aumenta a área de

pisoteio e a diminuição da vegetação as laterais da trilha. Freqüência de

avaliação: As unidades amostrais dessa medida foram determinadas em

campo pela constatação visual do alargamento do leito da trilha. Padrão:

≤ 20% dos trechos das trilhas.

• Indícios de Fogo: Indicador avaliado quanto à sua presença ou não

(sim/não). Este indicador está relacionado ao risco de incêndios. Durante

o levantamento procurou-se identificar a origem do fogo, como exemplo:

fogueiras e queimadas. Freqüência de avaliação: todos os segmentos das

trilhas. Padrão: 0 (zero).

• Presença de Infra-Estrutura: A instalação de infra-estrutura se faz, em

muitos casos, necessária, para a segurança e orientação do visitante. No

entanto, estas devem configurar uma relação responsável e harmônica

com o ambiente natural, evitando excessos e impactos desnecessários.

Freqüência de avaliação: todos os segmentos das trilhas.

• Leito: Indicador relacionado à qualidade do solo. A natureza do material

que forma o leito da trilha, associado a fatores como declividade e

pisoteio, remete à noção de suscetibilidade a erosão que o leito está

exposto. Freqüência de avaliação: todos os segmentos das trilhas.

Os padrões aceitáveis de alteração dos indicadores selecionados foram definidos

considerando a localização da trilha em uma Área de Proteção Ambiental.

6 Os danos à infra-estrutura só foram considerados para este indicador quando claramente decorrente de atitudes vândalas, não sendo avaliado neste momento, o desgaste da infra-estrutura em função do uso e do tempo.

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Formatação do SIG

Foi criada uma tabela em formato .DBF IV, contendo as coordenadas geográficas

e o número referente aos pontos controle, de cada uma das trilhas estudadas.

Estas tabelas foram importadas para o software ArcView 3.3 e convertidas em

arquivos do tipo Shapefile (point). Em seguida, foi criado um novo tema do tipo shapefile

(linha), onde esses pontos foram interligados, manualmente, trecho a trecho.

Na tabela de atributos do shapefile – linhas foram criados “fields”

correspondentes aos indicadores observados em campo, os quais foram preenchidos com

os dados levantados.

Perfil altimétrico

Para obtenção do perfil altimétrico foi gerada, no software Excel 2003, uma

tabela contendo as coordenadas e altitudes dos pontos controle. Esta tabela foi então

importada para o software Surfer 8.0, onde foram gerados os blocos diagrama 3D.

Grau de dificuldade

O grau de dificuldade de trilhas, embora seja um componente subjetivo, em

função dos diversos fatores associados como idade do visitante, condicionamento físico,

peso da mochila, dentre outros, foi aqui associado à escala de declividade proposta por

Mitraud (2003), como demonstra a tabela 1:

Tabela 1 – Associação entre declividade e grau de dificuldade das trilhas

Grade Grau de Dificuldade Declividade ≤ 10% Sem dificuldade 10% < Declividade < 20% Dificuldade Mediana Declividade ≥ 20% Grande Dificuldade

Tempo aproximado do percurso

O tempo aproximado para cumprir o percurso da trilha foi calculado baseando-se

na metodologia, também utilizada por Magro (2006a), onde foi considerado que pessoas

com habilidade normal para caminhar, apreciando o ambiente da trilha, demoram

aproximadamente 1 minuto para percorrer 50m.

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Geração dos mapas finais

Foram gerados para a trilha estudada dois mapas em escala de detalhe, sendo

um destinado aos visitantes - apresentando o perfil do traçado, extensão total da trilha,

atrativos, declividade dos trechos e outro destinado ao administrador da área – identificando

os problemas ecológicos e de infra-estrutura encontrados para cada um dos trechos das

trilhas.

Os produtos finais foram gerados no software ArcView 3.3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A trilha da Pedra do Machado tem sua cabeceira localizada acerca de 500m do

centro do município de Viçosa do Ceará. Não existem placas de sinalização de acesso ao

atrativo, tão pouco, placas de orientação ou interpretação ambiental ao longo da trilha.

Também são ausentes, infra-estruturas de segurança e apoio ao visitante.

A extensão total da trilha é de 361,25m, os quais os visitantes percorrem em

aproximadamente 7 minutos, estando seu grau de dificuldade disposto na Tabela 2.

Tabela 2 – Grau de dificuldade da trilha da Pedra do Machado

Extensão (m) % Grau de Dificuldade 303,30 83,95% Sem dificuldade 57,95 16,04% Dificuldade mediana

Como principal atrativo a trilha apresenta um mirante com vista pro vale.

Seu perfil altimétrico está disposto na figura 2 e seu traçado, acrescido de

informações relevantes pra os visitantes na figura 3. Figura 2 – Perfil altimétrico da trilha da Pedra do Machado

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Figura 3 – Traçado da trilha da Pedra do Machado

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Esta trilha apresenta leito arenoso ao longo de toda extensão, sendo que 36,74%

de seus trechos apresentam afloramentos rochosos.

Foi diagnosticada a presença de lixo em 100% dos trechos; de vegetação

danificada em 69,60%; de raízes expostas em 82,83%, de alargamento da trilha em 37,78%,

além de 14 picadas.

Todos os trechos da trilha apresentaram-se erodidos, em maior ou menor

intensidade. Embora a trilha da Pedra do Machado seja intensamente utilizada pela

comunidade local e por turistas, a erosão ali constatada está mais estreitamente relacionada

às características inerentes ao meio físico (solo arenoso e declividade acentuada),

associada ao não planejamento do traçado da trilha que está disposta em linha reta no

sentido da encosta. Certamente o pisoteio constante do leito da trilha é fator agravante, na

medida em que favorece a compactação do solo, implicando no aumento da circulação

superficial da água e no conseqüente carreamento de sedimentos.

28,44% da trilha apresentam pedras soltas e 33,77% plantas urticantes o que

pode implicar, respectivamente, em risco de queda e queimadura / alergia, para o visitante.

Não foram encontrados indícios de fogo nesta trilha.

A tabela 3 apresenta ocorrência dos indicadores avaliados e os padrões de

alteração para eles definidos.

Tabela 3 – Ocorrência dos indicadores avaliados e seus padrões na trilha da Pedra do Machado

Trilha da Pedra do Machado Indicadores Ocorrência Padrão Impacto Configurado

Presença de lixo 100% 0 SIM Vegetação danificada 69,60% 0 SIM Raízes expostas 82,83% ≤ 20% SIM Trilha com largura acima de 100cm 37,78% ≤ 20% SIM

Erosão 100% ≤ 20% SIM Número de picadas 14 0 SIM Indícios de fogo 0% 0 NÃO

Com exceção de “indícios de fogo” todos os outros indicadores apresentaram

valores muito acima do padrão aceitável de alteração.

A figura 4 representa a síntese do diagnóstico ambiental da trilha da Pedra do

Machado.

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Figura 4 – Síntese do diagnóstico ambiental da Trilha da Pedra do Machado

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CONCLUSÃO

A falta de planejamento e manejo da trilha aliada à falta de monitoramento dos

impactos observados e de informações relativas às questões ambientais, levou ao

diagnóstico de uma trilha fortemente impactada que implica em prejuízos ecológicos e se

reflete negativamente na experiência do visitante, desperdiçando e prejudicando,

respectivamente, os potencias educativos e recreativos da mesma, os quais poderiam ser

trabalhados sem maiores dificuldades, em função de sua curta extensão e facilidade de

acesso.

Tendo em vista que a trilha da Pedra do Machado está localizada em uma Área de

Proteção Ambiental - APA, cujos objetivos de criação incluem: proteger a fauna e flora

silvestres, ordenar o turismo ecológico e fomentar a educação ambiental, é possível

considerar que a mesma não tem atendido a contento os seus propósitos de criação,

sofrendo dificuldades intrinsecamente relacionadas a esta categoria de Unidade de

Conservação, que segundo Guapyassú (2003), de acordo com a definição e caracterização

das mesmas, fica posto um dos maiores desafios da atualidade, qual seja, conservar

ecossistemas de grandes áreas, respeitando a propriedade privada, além de promover o

uso sustentável dos recursos naturais.

Para minoração da problemática detectada na trilha em referência e como subsídio

para auxiliar o cumprimento do que propõem o Decreto de Criação da Área de Proteção

Ambiental Serra da Ibiapaba, sugere-se a estruturação de um programa de manejo que

contemple as seguintes ações: Sinalização (orientação/interpretação ambiental), infra-

estrutura de segurança (guarda-corpo no mirante), alteração do traçado, obras de drenagem

e contenção de erosão, manutenção (limpeza, “clareamento’” do corredor) e monitoramento

regular dos impactos diagnosticados. Além disso, a implantação de um programa de

educação ambiental continuado que envolva, além dos visitantes, a população local.

BIBLIOGRAFIA BRASIL. Decreto s/nº , de 26 de novembro de 1996. Disponível em: < http://www2.ibama.gov.br/unidades/apas/docleg/107/dnn261196.htm>. Acesso em: 04 de abr. de 2006. CEARÁ. Fundação Instituto de Pesquisa e Informação do Ceará – IPLANCE. Arranjo produtivo local do turismo na serra da Ibiapaba. Disponível em < http://www.iplance.ce.gov.br/estudos_setoriais/ArranjosProdutivos/APL%20-%20Turismo%20-%20Ibiappaba.pdf>. Acesso em: 10 set. 2004.

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MAGRO, T.C. Impactos do uso público em uma trilha no planalto do Parque Nacional do Itatiaia. 1999. 135f. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1999. MAGRO, T.C. et al. Manejo dos visitantes. In: Uso turístico do ambiente natural em Brotas. Disponível em: <http://www.brotas.sp.gov.br/>. Acesso em: 09 mai. 2006a MAGRO, T.C. et al. Monitoramento do uso público. In: Uso turístico do ambiente natural em Brotas. Disponível em: <http://www.brotas.sp.gov.br/>. Acesso em: 09 mai. 2006. MYTRAUD, S. Monitoramento e controle de impactos de visitação. IN: Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável. Brasília: WWF Brasil, 2003. SALVATI, S.S. Trilhas: conceitos, técnicas de implantação e impactos. Disponível em: <http://ecosfera.sites.uol.com.br/trilhas.htm#impactos.> Acesso em 02 jun. 2005. SENAC. DN. Ecoturismo no Brasil: a natureza como destino. Rio de Janeiro: SESC Nacional, 2002.