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Joana Boavida,Diogo Paulo,Jorge Gonçalves,Ester Serrão.

Produção de conteúdosJoana Boavida, Universidade do Algarve/CCMarDe acordo com o novo acordo ortográfico

Design gráfico: Maria Boavida (www.mariaboavida.com.sapo.pt)

Créditos fotográficos:Fotografia da Capa, Joana Boavida (Coral laranja, Sagres)Bartek Ciperling (pág. 23 inferior direita)Delfim Machado (pág. 22 inferior, 23 esquerda)Joana Boavida (Capa, págs. 6, 9, 10, 11, 12, 13 inferior, 15, 17, 19 inferior,21, 22 superior, 23 superior direita, 25 inferior, 27, 29)Luís Magro (págs. 3, 28 superior e inferior)Pilar Amenuza (pág. 13 superior; 14; 24, 25 superior)ROV Calappa CFRG-CCMAR (pág. 16, 18, 19 superior)

Joana Boavida, Diogo Paulo, Jorge Gonçalves, Ester Serrão Deep Reefs, Mapeamento da Biodiversidade dos Habitats Marinhosde Profundidade – um projeto de cooperação pela biodiversidade.Relatório não técnico, Centro de Ciências do Mar,Universidade do Algarve, Faro, Portugal, 36 pp.© Centro de Ciências do Mar 2013

Impresso sobre papel reciclado

Mapeamento da biodiversidade dos habitats marinhos de profundidadeum projeto de cooperação pela biodiversidade

www.deepreefs.com

Elaborado para:

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Relatório de actividades nº2

Data 30/11/2012

Dados sobre o projecto

Nome do projecto:Deep ReefsLocalização:Portugal continentalData de início: 01-01-2010Data de fim: 31-12-2014Orçamento total (€):210508,4Contribuição do Fundo InAqua (€):14688

Dados sobre o beneficiário

Nome:Centro de Ciências do MarPessoa de contacto:Joana BoavidaMorada:Edifício 7, Campus de Gambelas, Universidade do Algarve, 8005-139 FaroTelefone / Fax:289800051E-mail:[email protected] do Projecto:http://www.deepreefs.com

Coral mole em Tavira.

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Índice

1. Sumário 7 2. Enquadramento 9 3. Objetivos do Projecto 11 O Circatorial 11 Corais do Circatorial 12 4. Ações e Resultados 15 Levantamento de Fauna e Flora 15 Estado da Conservação das Comunidades Circatoriais 18 Mapas de Biodiversidade 20 Conectividade Genética 22 Outros Estudos que o Deep Reefs Está a Realizar 24 Divulgação e Educação Ambiental 29

Agradecimentos 33

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76 1. Sumário

O projeto de exploração e de investigação Deep Reefs, iniciativa do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e da Universidade do Algarve, iniciado em 2010 tem o objetivo de contribuir para aumentar o conhecimento e a divulgação dos fundos marinhos da costa continental portuguesa. O financiamento atribuído com o Prémio InAqua Fundo de Conservação by Oceanário de Lisboa e National Geographic Channel permitiu explorar magníficos recifes rochosos cobertos de organismos coloridos como corais e esponjas que são importantes para muitas outras espécies, incluindo para peixes e crustáceos com valor comercial. Até ao final de 2012 foram realizadas 30 palestras e ações de divulgação deste trabalho em Portugal e noutros países, desde escolas, universidades, clubes de mergulho, conferências e aos cidadãos, tendo chegado a mais de mil pessoas. Com mais de 30 voluntários e 15 estudantes, incluindo uma bolsa de doutoramento atribuída pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, este é um trabalho de colaboração que envolve a comunidade. O blogue (www.DeepReefs.com) e a presença nas redes sociais têm permitido aos cidadãos envolverem-se nas campanhas de mergulho, havendo partilha de fotografias e de vídeos dos trabalhos realizados.

Foram realizados mais de 30 mergulhos profundos entre -30m e -70m, totalizando mais de 110 horas de imersão, das quais mais de 50 horas correspondem a tempo de trabalho no fundo do mar e as restantes a tempo de descompressão. O trabalho no fundo marinho incluiu a recolha de amostras para caracterização das comunidades (57 amostras), vídeo-transetos (11 realizados com mergulhadores e 19 com o ROV Calappa do CCMAR) e a recolha de amostras para estudos genéticos (>400 amostras). A coleção científica de organismos marinhos recolhidos pelo Deep Reefs tem vindo a ser doada ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência para que as amostras recolhidas possam ter maior acessibilidade na utilização para a investigação científica, ensino pós-graduado e entre os cidadãos.

Com os mergulhos de exploração do Deep Reefs conhecemos melhor os fundos marinhos da costa continental portuguesa. Os dados indicam que os recifes profundos estudados têm elevada diversidade biológica e geológica pois apresentam muitas espécies e variados tipos de habitats com diferentes substratos e morfologias do fundo. As zonas mais profundas, especialmente abaixo dos -50m, são caracterizadas por espécies de coral e de esponjas Detalhe do esqueleto de um coral laranja,

visto à lupa.

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98diferentes das zonas menos profundas e pela ausência de algas devido à pouca luz solar disponível.

Algumas das descobertas mais surpreendentes têm sido os jardins de coral. Estes jardins são formados por corais com a forma de arbustos que podem ter até cerca de um metro de altura, e podem ser formados por várias espécies de coral ou dominadas por uma espécie apenas, como é o caso dos jardins de coral encontrados em zonas com areia e cascalho. Algumas destas espécies de coral não se sabia que existiam nos fundos marinhos portugueses e a sua descoberta contribui para enriquecer o nosso conhecimento sobre a biodiversidade marinha em Portugal.

Um trabalho adicional realizado pelo Deep Reefs está a ser o estudo das capturas acessórias (by-catch) de coral que são trazidas por artes de pesca na costa algarvia. Os dados indicam que estes corais são habitats inteiramente únicos e sustentam grande diversidade nos recifes profundos, pois funcionam simultaneamente como habitat, zona de refúgio, de alimentação e como local de postura de ovos de muitas outras espécies. Além do impacto negativo causado ao ecossistema pela remoção de corais que podem ser muito antigos e que crescem muito lentamente, os impactos de artes de pesca destrutivas afetam toda a comunidade que vive associada aos corais profundos.

A informação recolhida com o projeto Deep Reefs constitui a base do conhecimento sobre os recifes profundos estudados e permite que daqui a alguns anos quando se repetirem as amostragens se possa compreender se há alterações no estado de conservação e na saúde destas comunidades ao longo do tempo.

Durante o ano de 2012 os projetos europeus MESH Atlantic e ASSEMBLE apoiaram o trabalho desenvolvido nas campanhas de levantamento hidroacústico e de exploração com o ROV Calappa a bordo do R/V Pagrus do CCMAR. O projeto Deep Reefs tem tido apoio de investigadores das áreas da biologia molecular, mapeamento e análise de vídeo, incluindo a Professora Doutora Ester Serrão da Universidade do Algarve, o Doutor Jorge Gonçalves do CCMAR, a Doutora Sopie Arnaud-Haond do IFREMER (França), o Professor Doutor Didier Aurelle da Universidade Aix Marseille (França) e o Doutor John Reed do HBOI – Florida Atlantic University (EUA). O Deep Reefs é um projeto de colaboração que não seria possível sem a participação dos seus parceiros, apoios e voluntários.

2. Enquadramento

O meio marinho em Portugal continental destaca-se por ter grande diversidade biológica e paisagística e pela sua complexidade ecológica. A situação geográfica da costa portuguesa favorece a grande riqueza de habitats e de espécies que aí se encontra, pois localiza-se numa zona de confluência de espécies de águas frias do Norte, de espécies de águas mais quentes do sul e de outras que são típicas do Mar Mediterrâneo. Ao longo da costa continental Portuguesa existem recifes de rocha profundos com relevos e inclinações variados, falésias submarinas e também zonas planas que constituem importantes habitats. Estes habitats profundos são o lar de muitas espécies de peixes e de invertebrados. Nas zonas de areia os peixes chatos como os linguados e estrelas do mar são alguns dos organismos dominantes. As zonas de rocha são dominadas por várias espécies de rascassos e outros peixes das rochas, por gorgónias (corais moles) e esponjas,

Estranha esponjadescoberta em Portimão.

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1110entre muitas outras. Sabe-se que algumas das espécies que ocorrem em águas profundas também se encontram nos habitats mais baixos, mas muitas não.

Assim, por um lado estes habitats podem atuar como zona de refúgio para algumas espécies quando os recifes mais baixos são perturbados, e por outro podem albergar espécies únicas que não se encontram em outros locais (endémicas).

Os habitats profundos contêm uma elevada biodiversidade que é conhecida e explorada pela pesca desde há décadas. Contudo, comparando com as zonas mais baixas, ainda se sabe muito pouco sobre estes habitats e as comunidades que lhes estão associadas.

Em 2010, o ano internacional da biodiversidade, teve início o projeto de cooperação Deep Reefs: Mapeamento da Biodiversidade dos Habitats Marinhos de Profundidade numa iniciativa ímpar de mergulhadores voluntários do clube ENTRADA sob a coordenação científica do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), localizado na Universidade do Algarve. Mais tarde nesse ano o Prémio INAQUA – Fundo de Conservação by Oceanário de Lisboa e National Geographic Channel permitiu avançar com mais meios técnicos e estabelecer novas parcerias e colaborações. Foi devido ao arranque proporcionado pelo Fundo INAQUA juntamente com o trabalho voluntário de mergulhadores e de instituições que colaboraram desde o início que, em 2011, o projeto recebeu uma bolsa da National Geographic Society/ Waitt Foundation e uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que finalmente permitiram ter uma estudante dedicada a tempo inteiro a este trabalho de investigação científica.

3. Objetivos do Projeto

O projeto Deep Reefs tem objetivos científicos e objetivos de divulgação junto da comunidade. Nos primeiros incluem-se o mapeamento da diversidade biológica de habitats profundos em três locais de estudo (Berlengas, Cabo Espichel e Algarve) e o estudo da sua conectividade, utilizando marcadores moleculares e tendo como espécie-modelo a gorgónia vermelha, que só existe no Mediterrâneo e costa Atlântica adjacente, onde se inclui Portugal continental. Os últimos incluem ações de divulgação dos valores naturais marinhos e da biodiversidade junto de comunidades locais, tais como a participação em mostras científicas, palestras e tertúlias usando meios audiovisuais, e a utilização de um blogue e das redes sociais para divulgar as descobertas e alertar para a necessidade de conservação dos ecossistemas marinhos.

O Circalitoral

No Deep Reefs estudam-se profundidades que “escaparam” anteriormente aos cientistas! Os fundos marinhos pouco profundos são facilmente acessíveis através de mergulho e são relativamente bem conhecidos. Abaixo dos 30 metros de profundidade os fundos são ainda pouco estudados, não por falta de interesse mas por limitações tecnológicas. Por um lado os mergulhos profundos impõem aos mergulhadores dificuldades técnicas como reduzido tempo para estar no fundo a trabalhar, necessidade de maior treino nas técnicas de mergulho, de equipamento mais especializado e de treino na utilização de misturas gasosas diferentes do ar atmosférico para respirar. Por outro lado estas profundidades são demasiado rasas para justificar uma utilização segura de robôs e de submarinos, que envolvem elevados custos operacionais, e que são normalmente utilizados em grandes profundidades (>200m).

Estudante a separaras amostras recolhidaspelos mergulhadores.

Caboz abrigado em briozoário laranja em Sagres.

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1312Nos recifes profundos onde não há luz suficiente para as zooxantelas realizarem a fotossíntese os corais dependem inteiramente das presas e detritos que conseguem capturar. Com as bases bem ancoradas no fundo, estendem os seus tentáculos na corrente marinha para obter mais alimento e oxigénio.

Tanto corais moles como corais duros prosperam nos fundos circalitorais formando grandes colónias e atraindo muitos outros animais.Os recifes rochosos dos fundos circalitorais têm comunidades vibrantes. Entre as bases dos corais há ouriços e pepinos do mar. Pendurados nos ramos dos corais vivem ofiúros das funduras, animais aparentados com as estrelas do mar que se confundem com um emaranhado de cornucópias coloridas, juntamente

com minúsculos camarões e gastrópodes camuflados como camaleões. Muitos destes animais alimentam-se de pequenas presas, mas outros alimentam-se do próprio muco secretado pelos corais, livrando-os de bactérias e detritos.

Esta camada do oceano, designada Circalitoral ou zona mesofótica, corresponde à metade mais profunda da zona fótica, onde a quantidade de luz solar que chega ao fundo é cada vez mais diminuta. A redução progressiva na quantidade de luz disponível para a realização da fotossíntese faz com que as comunidades do circalitoral sejam diferentes das zonas mais baixas (infralitoral). Nos recifes profundos estudados pelo projeto Deep Reefs só foram até agora identificadas três espécies de algas e na maioria dos locais visitados nenhuma alga foi avistada. Paralelamente, a fauna encontrada é quase sempre dominada por organismos ciáfilos (tolerantes à sombra), incluindo corais, esponjas e briozoários (animais semelhantes a musgos coloridos).

Corais do circalitoral

O termo coral é uma designação abrangente que inclui dois1 grandes grupos com a designação de hexacorallia e octocorallia. Ambos pertencem ao Phylum Cnidaria e são portanto primos afastados das alforrecas. Estes grupos incluem corais duros, corais moles e anémonas incrustantes coloniais.

Os corais das zonas mais profundas são diferentes dos seus primos das zonas pouco profundas já que estes podem ter relações de benefício mútuo com algas microscópicas, chamadas zooxantelas, que lhes fornecem parte do alimento.

1 Há ainda um outro grupo de corais chamados os hidrocorais que pertencem a uma classe diferente:Hydrozoa.

Coral laranja.

Superior Coral laranja obtido por by-catch em Sagres.

Inferior Corais, esponjas e falsos corais recolhidos pelos mergulhadoresem Portimão.

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1514Muitos dos nossos mergulhos levaram-nos a sítios dos fundos marinhos nunca antes visitados por olhos humanos. Mesmo em locais relativamente bem conhecidos do mundo subaquático basta uma volta de 90º para se estar em terreno desconhecido.

Nos fundos marinhos as comunidades de corais também são muito influenciadas pela temperatura. Há corais, como os corais negros (que podem ter cores garridas como cor de laranja), que preferem temperaturas mais baixa e que por essa razão apenas se encontram muito fundo. Estes corais têm grande longevidade e podem viver muito mais de 100 anos.

Como as comunidades dos recifes profundos são dominadas por animais que crescem muito lentamente (os corais podem crescer menos de 1 cm por ano), qualquer impacto negativo que sofram tem um longo tempo de recuperação e a monitorização de alterações na saúde do ecossistema deverá ser feita durante décadas. O valor de dados de monitorizações a longo prazo sobre as comunidades dos fundos marinhos não pode ser subestimado e o Deep Reefs está a dar o primeiro passo neste sentido para os recifes circalitorais da costa continental de Portugal.

Ações e resultados

O projeto Deep Reefs tem vindo a desenvolver atividades de investigação científica para fazer o levantamento das espécies marinhas dos recifes circalitorais, para fazer o levantamento do estado de conservação das comunidades que habitam estes recifes, para criar mapas de biodiversidade dos habitats circalitorais, para estudar a conectividade genética entre recifes e ainda tem desenvolvido atividades de divulgação aos cidadãos.

Levantamentos de Fauna e de Flora

Através de uma extensa rede de colaboradores e da participação de muitos voluntários a equipa de mergulhadores do projeto Deep Reefs realizou 35 mergulhos profundos, entre 30 e 70 metros de profundidade, em 17 recifes diferentes, o que corresponde a mais de 110 horas debaixo de água, das quais mais de 50 foram de trabalho no fundo do mar e as restantes foram de descompressão.

Nestes mergulhos profundos foram feitos 11 levantamentos de biodiversidade usando câmaras de vídeo de alta definição transportadas por mergulhadores e 19 mergulhos com o ROV Calappa, que foi operado a bordo da embarcação Pagrus do CCMAR, com o apoio dos projetos europeus MESH Atlantic e ASSEMBLE. O ROV Calappa tem uma câmara de vídeo incorporada que permite ver em tempo real os habitantes do fundo marinho.

Coral negro.

Mergulhadordurante a descompressão. Recife nas Berlengas.

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1716A equipa recolheu imagens de alta resolução de corais e outra fauna marinha em vídeo e fotografia digital. Cada mergulho tem um verdadeiro potencial para descobertas importantes e para contribuir para melhor compreendermos o nosso planeta.

Os trabalhos debaixo de água incluem a recolha de pequenas amostras da fauna e da flora marinhas para ajudar a identificar as espécies que ocorrem na costa portuguesa e para fazerem parte das coleções do CCMAR e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, um dos parceiros do Deep Reefs.

Fauna dos recifes em Portimão observados com o ROV Calappa.

Corais e esponjasrecolhidos por mergulhadoresem Portimão.

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1918Os mergulhadores do projeto Deep Reefs recolheram mais de 50 amostras para a caracterização das comunidades marinhas do fundo, e no total já foram identificadas mais de 150 espécies e géneros, incluindo 23 espécies de coral. No entanto muitas amostras ainda esperam a observação de um especialista para poderem ser catalogadas, como algumas algas, esponjas, hidrários (penas-do-mar), briozoários (musgos-do-mar), alguns crustáceos (caranguejos) e até um coral.

Estado de Conservação das Comunidades Circalitorais

Os resultados preliminares do projeto Deep Reefs sobre o estado de conservação das comunidades de invertebrados da zona circalitoral mostram que as principais perturbações dos fundos marinhos estudados são atribuíveis à pesca de fundo com artes destrutivas (redes e armadilhas) que ficam presas nos substratos rochosos e a lixo, maioritariamente sacos de plástico que ficam presos nos corais e rochas.

Recifes de Portimãoobservados com o ROV Calappa.

À Esquerda:Corais profundos

em Portimão.

Em baixo:Corais e esponjas

obtidos por by-catch.

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2120Outras áreas com recifes profundos vibrantes de vida se encontram ao longo da costa portuguesa, mas durante o projeto Deep Reefs apenas visitámos os locais indicados no mapa.

As artes de pesca em alguns recifes são também responsáveis pela fragmentação de corais que se encontram partidos no fundo. Não se sabe atualmente qual é a taxa de recuperação destes corais. Devido ao seu crescimento lento estima--se que demorem muitos anos a recuperar ramos partidos ou a recolonizar áreas de onde foram arrancados. No entanto, nos vídeos do projeto Deep Reefs foram observados corais partidos parcialmente vivos e não foram observados organismos doentes. Os ecossistemas em geral apresentam-se saudáveis.

Os recifes profundos estudados têm um especial valor de conservação pelas comunidades vibrantes que albergam e beneficiariam com a criação de áreas marinhas protegidas (AMP) ou de áreas de pesca com restrições à utilização das artes destrutivas dos fundos marinhos.

Mapas de Biodiversidade

No decorrer dos estudos do projeto Deep Reefs foram já identificadas seis áreas onde ocorrem importantes comunidades de corais e de esponjas circalitorais, assim como muitas outras espécies associadas.

Berlengas

Sagres

Lagos Portimão Tavira

Cabo Espichel

Mapa dos recifesem frente a Portimão.

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separação evidente a nível genético entre as populações do Mediterrâneo e as do Atlântico, que pode ser causada por barreiras como o Estreito de Gibraltar ou a frente Almeria-Oran. A diferenciação genética das populações desta gorgónia na costa portuguesa confere-lhe ainda maior valor de conservação. Populações isoladas podem ser mais susceptíveis a perturbações e ter menor capacidade de recuperação.

Para estudar a conectividade genética entre os recifes profundos já foram recolhidos mais de 400 pedaços da gorgónia vermelha ao longo de 350 Km de costa, desde as Berlengas até Tavira. Para os estudos de genética é necessário extrair o ADN que se encontra dentro das células, mas basta recolher um pequeno pedaço de cada coral, o que lhes permite que continuem a viver, a alimentar-se e a reproduzir-se normalmente.

Conectividade Genética

Um dos aspetos mais importantes no planeamento de AMP é perceber se há alguma ligação entre as espécies que habitam pequenas áreas como os recifes rochosos de regiões diferentes.

A bonita gorgónia vermelha, endémica do Mediterrâneo, pode viver até 100 anos e cresce muito lentamente. Este coral ciáfilo é um bom modelo para estudar a conectividade dos recifes profundos pois vive fixo ao substrato e as suas larvas planctónicas1 podem ser transportadas pelas correntes marinhas, fazendo com que se fixem em recifes adjacentes.

No entanto não se sabe se a distância a que se dispersam as suas larvas é suficiente para fazer a ligação de todos os recifes ao longo da costa portuguesa, e entre o Atlântico e o Mediterrâneo. Os dados preliminares indicam que há uma

1 As larvas da gorgónia vermelha têm vida livre antes de assentarem e de se tornarem corais propriamente ditos. Durante esta fase da sua vida vivem no plâncton à deriva na coluna de água

Gorgónia vermelha no Cabo Espichel. Amostras para extracção de ADN no CCMAR.

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G. Saada, S. Rutsaert e C. Porfírio (UAlg, Portugal) já identificaram 14 espécies de corais capturados por by-catch e observaram muitos outros invertebrados, incluindo esponjas de profundidade com morfologias e colorações singulares.

Este trabalho também ajuda a perceber se as artes de pesca utilizadas têm um impacto negativo grande nas comunidades de invertebrados que habitam os fundos marinhos.

Num outro trabalho a diversidade biológica de epibiontes2 de corais de profundidade apanhados por redes de pesca em Sagres foi analisada para tentar perceber se estes corais constituem um habitat importante para outras espécies.

2 Fauna associada constituída por animais que vivem na superfície do coral.

Outros Estudos que o Deep Reefs está a Realizar

O projeto Deep Reefs tem sido o tema de vários trabalhos científicos de estudantes. Até ao momento 15 estudantes de Licenciatura e de Mestrado, nacionais e estrangeiros, realizaram saídas de mar, estágios laboratoriais e trabalhos científicos.

Em 2011 a estudante de jornalismo científico J. Branco (IEO, Espanha) acompanhou o projeto Deep Reefs e escreveu um artigo no âmbito do seu mestrado.

Em 2012 estudantes de Biologia e Con-servação Marinha iniciaram o estudo de corais e outros invertebrados marinhos que constituem capturas acessórias da pesca (by-catch), isto é, que não são a espécie-alvo da pescaria mas que veem agarradas às redes e armadilhas de pesca. Este trabalho de colaboração com os pescadores de Sagres ajuda a descobrir que espécies existem nos fundos que não são estudados diretamente pelos cientistas. Os estudantes

Identificação de faunae flora do Cabo Espichel à lupa

Mergulhadores e estudantes de biologia identificam e conservam as espécies.

Estudantes ajudama separar as amostras

no Cabo Espichele em Portimão.

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2726 By-catch de corais e esponjas. Estudantes de biologia identificam as espécies de corais e outros invertebrados

que ficam presos nas redes.

Coral laranja.Pescadores da embarcação CATAMAR ajudam os estudosde by-catch em Sagres

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Divulgação e Educação Ambiental

Desde o início do projeto o Deep Reefs contribuiu para a divulgação dos estudos em curso e para a educação da comunidade relativamente à necessidade de conhecer e preservar os fundos marinhos e a sua biodiversidade.

Durante os dois primeiros anos do projeto foram realizadas 30 palestras e tertúlias em escolas, em Universidades, no Centro Ciência Viva, em centros de mergulho e em conferências nacionais e internacionais. O Deep Reefs fez 6 participações em ações junto do público com mostra de corais e de outros organismos marinhos, mostra de vídeos e de fotografias dos fundos marinhos e dos mergulhadores científicos em ação.

No CCMAR o Deep Reefs participa nas visitas de estudantes desde idades pré-escolares até ao ensino secundário aos quais mostra a coleção de corais, transmite valores de conservação da natureza e responde às suas perguntas.

A estudante E. O'Neill (2012, UAlg) descobriu que os corais não só têm elevada diversidade de fauna associada, como são importantes para as posturas (ovos) de peixes incluindo de tubarões do fundo com valor comercial para a pesca. Isto é importante porque os corais e outros animais são danificados por artes de pesca destrutivas que lhes partem ramos ou que os arrancam dos fundos marinhos e pensa-se que isto acontece a um ritmo mais rápido do que aquele a que podem crescer e recuperar. Os danos nos corais e outros animais que, tal como os corais, funcionam como “engenheiros” dos fundos marinhos têm efeitos em cascata noutros organismos que os utilizam como refúgio, como zona de alimentação ou para colocar os seus ovos.

No final de 2012 e início de 2013 a estudante H. van de Sande (UAlg) estudou a diversidade de corais numa zona de Sagres e elaborou o primeiro guia de identificação das espécies de corais duros que ali ocorrem, que está disponível para consulta e para que outros investigadores adicionem mais espécies à medida que o conhecimento avança.

Paralelamente, o projeto Deep Reefs está a estudar a idade de alguns corais que crescem a 100 metros de profundidade na costa continental portuguesa através da leitura dos seus anéis de crescimento, tal como se faz nos troncos das árvores. Ao saber a idade é possível estimar a taxa de crescimento,

isto é, quantos anos demoram a crescer. Os resultados preliminares sugerem que os corais analisados são muito antigos e crescem muito devagar, menos de 1 centímetro por ano! Este crescimento tão lento torna- -os muito vulneráveis a impactos negativos como poluição, doenças e remoção.

A Quick Identification GuideTo Scleractinia

CUP CORALSOF SOUTH PORTUGAL:

HILDE VAN DE SANDESUPERVISOR: JOANA BOAVIDA

May [email protected]

Guia de identificação de coraisde Sagres

Anéis de crescimentode coral de profundidade

observado à lupa.

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Os estudos realizados no Deep Reefs são apenas a ponta do iceberg.

Os vídeos feitos pelos mergulhadores e pelo ROV Calappa constituem um arquivo que pode ser consultado nos anos futuros para diversos estudos.

O Deep Reefs é um trabalho de base exaustivo que pode ser usado no futuro para ajudar a avaliar se algumas das zonas estudadas devem ser incluídas em áreas marinhas protegidas ou se há alterações ao longo do tempo nas espécies que habitam os fundos marinhos. Este tipo de exploração dos recifes profundos é crítico.

Em diversos momentos o Deep Reefs foi assunto de publicação em revistas generalistas. Foi mencionado num artigo da Visão (4 de Agosto de 2011), teve um artigo na revista internacional de mergulho Quest escrito pelos mergulhadores científicos do projeto (volume 12 número 4, 2011), na Pegada Ecológica da revista Domingo (2011), no jornal regional Barlavento (Maio de 2011) e em diversos sítios da internet.

Mergulhadores exploramrecife no Cabo Espichel.

Mergulhadores exploramrecife em Tavira.

Á esquerda:Artigo na revista Quest.

Mergulhadores descobremjardim de coral em Lagos.

Recolha de pedaçosde coral no Cabo Espichel

para estudos genéticos.

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3332Agradecimentos

Muitas pessoas participaram desde 2010 no projeto Deep Reefs, nas campanhas de mergulho, no trabalho de laboratório, nas pesquisas e nos estudos científicos em curso. Este projeto não seria possível sem o trabalho dedicado de muitos voluntários, estudantes e sem a colaboração dos pescadores da embarcação CATAMAR e a todos mostramos o nosso sincero agradecimento. O projeto Deep Reefs foi financiado pelo Prémio INAQUA Fundo de Conservação by Oceanário de Lisboa e National Geographic Channel. Adicionalmente foi financiado por uma bolsa de exploração National Geographic Society/Waitt Institute e por uma bolsa de estudo de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Outras entidades que contribuíram diretamente para os custos dos trabalhos realizados neste projeto foram o Centro de Ciências do Mar (CCMAR), a escola de mergulho SUBNAUTA, o Institut Méditerranéen de Biodiversité et d'Ecologie marine et continentale (IMBE), o programa europeu de mobilidade ASSEMBLE, o clube de mergulho ENTRADA, mergulhadores voluntários e pessoas anónimas.

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