Manuel Alegre

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PERSONALIDADE DO MÊS DE ABRIL 2013 MANUEL ALEGRE Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um ativo dirigente estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, membro do TEUC Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e colaborador de Via Latina. Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar. É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses. Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964. Os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967) foram apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou datilografadas. Poemas seus, cantados, entre outros, por Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luís Cília,

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Relação Manuel Alegre 25 de Abril

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PERSONALIDADE DO MÊS DE ABRIL 2013

MANUEL ALEGRE

Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda. Estudou Direito na

Universidade de Coimbra, onde foi um ativo dirigente estudantil.

Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC – Centro de Iniciação

Teatral da Academia de Coimbra, membro do TEUC – Teatro de Estudantes da Universidade de

Coimbra, campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra.

Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e colaborador de Via Latina.

Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar. É preso pela

PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses. Na cadeia conhece escritores angolanos como

Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Colocado com residência fixa em Coimbra,

acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964.

Os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto

e as Armas (1967) foram apreendidos pela censura, mas passam

de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou

datilografadas. Poemas seus, cantados, entre outros, por Zeca

Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luís Cília,

tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade. Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de

1974, dias após o 25 de Abril.

Até 2 de Maio de 1974 viveu em Paris e, mais tarde, em Argel, onde foi locutor e onde desenvolveu

atividades contra o regime de Salazar. No seu regresso a Portugal demonstrou, nos vários cargos

governamentais desempenhados ao longo dos anos, uma intervenção fiel aos ideais da Liberdade.

Tem-se dedicado, também, à produção literária, com incidência particular na poesia.

Poesia

1965 - Praça da Canção

1967 - O Canto e as Armas

1971 - Um Barco para Ítaca

1976 - Coisa Amar (Coisas do Mar)

1979 - Nova do Achamento

1981 - Atlântico

1983 - Babilónia

1984 - Chegar Aqui

1984 - Aicha Conticha

1991 - A Rosa e o Compasso

1992 - Com que Pena — Vinte Poemas para Camões

1993 - Sonetos do Obscuro Quê

1995 - Coimbra Nunca Vista

1996 - As Naus de Verde Pinho

1996 - Alentejo e Ninguém

1997 - Che

1998 - Pico

1998 - Senhora das Tempestades

2001 - Livro do Português Errante

2007 – Doze Naus

2008 - Nambuangongo, Meu Amor

2008 - Sete Partidas

2009 - Obra Poética - Volumes I e II

2012 – Nada Está Escrito

Ficção

1989 - Jornada de África

1989 - O Homem do País Azul

1995 - Alma

1998 - A Terceira Rosa

1998 - Uma Carga de Cavalaria

2002 - Cão Como Nós

2003 – Rafael

2010 – O Miúdo Que Pregava Pregos Numa

Tábua

Literatura Infantil

2007 - BARBI-RUIVO, O meu primeiro

Camões, ilustrações de André Letria

2009 - O Príncipe Do Rio, ilustrações de Danuta

Wojciechowska

Outros

1997 - Contra a Corrente (discursos e textos

políticos)

2002 - Arte de Marear (ensaios)

2006 - O Futebol e a Vida, Do Euro 2004

ao Mundial 2006 (crónicas)

Principais condecorações e medalhas

Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, Portugal (19 de Maio de 1989)

Orden Jugoslovenske Zvesde sa Zlatnim Vencem

Condecoração atribuída pelo Reino de Marrocos

Comenda da Ordem de Isabel, a Católica, Espanha

Grande Oficial da Ordem de Bernardo O’Higgins, Chile

Ordem de Mérito Nacional da Argélia, "DJADIR", atribuída pelo Presidente Bouteflika em 31.05.2005

Grande Oficial da Ordem "Stella Della Solidarietá" Italiana, atribuída pelo Presidente de Itália em 2.06.08

1º Grau da Ordem Amílcar Cabral, Cabo Verde

Medalha de Mérito do Conselho da Europa, de que é Membro Honorário

Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores em 21.05.08

Medalha da Cidade de Veneza, por ocasião do Convénio Internacional "La Porta d’Oriente -Viaggi e Poesia", Novembro de 1999

Medalha de Ouro da Cidade de Águeda, sua terra natal

Medalha da Cidade de Pádua, atribuída a 19 de Abril de 2010, tendo sido agraciado com o título de cidadão honorário

Trova do Vento que Passa

Pergunto ao vento que passa

notícias do meu país

e o vento cala a desgraça

o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam

tanto sonho à flor das águas

e os rios não me sossegam

levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas

ai rios do meu país

minha pátria à flor das águas

para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas

pede notícias e diz

ao trevo de quatro folhas

que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa

por que vai de olhos no chão.

Silêncio -- é tudo o que tem

quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos

direitos e ao céu voltados.

E a quem gosta de ter amos

vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada

ninguém diz nada de novo.

Vi minha pátria pregada

nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem

dos rios que vão pró mar

como quem ama a viagem

mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir

(minha pátria à flor das águas)

vi minha pátria florir

(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada

e fale pátria em teu nome.

Eu vi-te crucificada

nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada

só o silêncio persiste.

Vi minha pátria parada

à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo

se notícias vou pedindo

nas mãos vazias do povo

vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro

dos homens do meu país.

Peço notícias ao vento

e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre