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Programa Sathya Sai Educare EDUCANDO COM VALORES HUMANOS Manual para Educadores Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil Regional Belo Horizonte VOLUME 1: O PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

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Programa Sathya Sai Educare

EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Manual para Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil Regional Belo Horizonte

VOLUME 1:

O PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

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Centro Sri Sathya Sai de Belo Horizonte Centro Sri Sathya Sai de Belo Horizonte Centro Sri Sathya Sai de Belo Horizonte Centro Sri Sathya Sai de Belo Horizonte –––– Mi Mi Mi Minas Geraisnas Geraisnas Geraisnas Gerais

Email do grupo Educare/BH: [email protected]

Trabalho elaborado por:Trabalho elaborado por:Trabalho elaborado por:Trabalho elaborado por:

Alexandros Anastas Maraslis

Eleusa de Quevedo Cardoso

Marcelo Satuf Amaral

Maria Angela Gonçalves

Mariângela Prado de Albuquerque

Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores:

Adriano de Aguiar Martins Célia Caldeira Brant Costa Dalton de Souza Amorim Edson Aquino Lúcia Hitomi Toyofuku Marcos Cardoso Gomes Maria do Carmo de Vasconcellos Nomaihaci R. Ferreira Crivelli Yamar Diamantino.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 3

ÍNDICE

Página

PREFÁCIO............................................................................................................................4 CAPÍTULO 1 — O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS ..................7

I. INTRODUÇÃO: A EDIFICAÇÃO DO CÁRATER PELA EDUCAÇÃO ...............9

II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA ....................................................................13

III. OS VALORES HUMANOS, OS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA E AS

TÉCNICAS DO PROGRAMA ................................................................................25

IV. OS TRÊS MÉTODOS DE APRENDIZADO ..........................................................50

V. O PLANEJAMENTO DE UMA AULA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS ..............................................................................................................54

VI. AULAS E OFICINAS PARA EDUCADORES.......................................................75

VII. UMA MENSAGEM AOS PROFESSORES............................................................84

BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................................86

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 4

“A educação atual desenvolve as habilidades e o intelecto mas, de que serve todo o conhecimento do mundo se não se tem caráter?”

Sathya Sai Baba

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS PARA EDUCADORES

O Programa Introdução

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 5

PREFÁCIO

O programa de Educação em Valores Humanos, cujos fundamentos estão na filosofia educacional de Sathya Sai Baba, tem sido aplicado nas escolas gratuitas que ele criou na Índia há mais de 30 anos, estendendo-se desde a Pré-escola até a Pós-Graduação. Os resultados conseguidos com o Programa têm sido alentadores, o que motivou sua adoção por várias escolas do mundo inteiro. Parte da essência do programa consiste em edificar o caráter do aluno através de reflexões, estudos, exercícios e prática dos valores humanos desde sua primeira infância, continuando a trabalhá-los até a sua vida profissional. O resultado é a formação de indivíduos equilibrados, profissionalmente competentes e com caráter íntegro, seres humanos amorosos, harmoniosos e tranqüilos tanto no lar, como no convívio social e no ambiente de trabalho. A observação desses resultados renovam nossa esperança na função da educação! Os valores humanos, especialmente transmitidos aos alunos pela simples postura dos mestres em sala de aula, são trabalhados de forma interativa em uma aula pelo método direto, são passados aos estudantes através de histórias, contos, reflexões, canções, poemas e outras atividades que reforcem o tema proposto e os estimulem a refletir sobre os valores e a vivenciá-los em seu dia a dia. O ato de narrar histórias é um costume milenar da Índia e em muitos outros países. Além de entreter seus ouvintes, contar histórias foi um meio de educação usado pelos antigos mestres e sábios para explicar e elucidar suas teorias ou revelar uma verdade intrincada aos seus atentos ouvintes [7]*. Histórias e mais histórias eram narradas —uma dentro da outra, uma história levando a outra... Eram ricas em exemplos do uso do discernimento pela mente humana, enfocando política, diplomacia, leis, ética, moral, ciências, artes, relações sociais, aspectos psicológicos, arquétipos e outras áreas de atuação do ser humano. Sathya Sai Baba reavivou este método milenar de educação de forma criativa. Nas aulas, os professores utilizam todas as técnicas modernas de ensino, desde encenações teatrais até dinâmicas de grupos, jogos de desenvolvimento de atitudes, jogos de motivação, atividades lúdicas, brincadeiras e outras atividades artísticas, culturais e sociais. Todas essas atividades visam despertar a criatividade dos alunos e incentivá-los a uma convivência de cooperação mútua. Além disso, os professores incluem também, nas aulas, outras técnicas milenares, como práticas de harmonização, reflexão, oração, concentração e meditação, promovendo um senso de disciplina e harmonia interior. O Método de Educação em Valores Humanos, desse modo, insere nas aulas cinco técnicas básicas que permitem trabalhar o ser humano de forma plena, em cinco níveis de consciência: (1) consciência emocional (desenvolvida predominantemente através das harmonizações), (2) intelectual (através de citações e provérbios), (3) física (através das histórias, contos, etc.), (4) psíquica (através do canto grupal) e (5) espiritual (através das atividades grupais). O trabalho aqui apresentado, foi elaborado de acordo com os ensinamentos de Sathya Sai Baba e abrange os cinco valores universais, os quais são o embasamento do Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos: Verdade, Retidão, Paz, Amor e Não Violência, cada qual com seus valores relativos.

* Os números indicados entre colchetes referem-se às consultas bibliográficas, indicadas ao final do trabalho.

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS PARA EDUCADORES

O Programa Introdução

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 6

Todo o trabalho foi desenvolvido com estudos e reflexões para grupo de adultos, “Primeiro aprender, aplicando em si, depois ensinar”. Neste sentido, é importante que o professor se esforce para manter todos os valores humanos presentes no pensamento, na palavra e na ação, embora possa estar trabalhando predominantemente um deles. Este trabalho pode ser perfeitamente aplicado para grupos de crianças, desde que se usem atividades e linguagens adequadas às faixas etárias de cada grupo.

O objetivo deste Programa é permitir ao estudante adulto, trabalhar tranqüilamente e de forma gradativa, os valores humanos em si mesmo, vivenciando-os em sua própria vida, e, desta forma, através do próprio exemplo, transmiti-los às crianças. O livro foi dividido em quatro volumes, incluindo uma parte conceitual (Capítulo 1), cinco Unidades (com sugestões de planos de aula relativas aos cinco valores fundamentais) e dois Anexos, com material a ser utilizado nas aulas.

O capítulo 1, deste trabalho, aborda o Programa Sathya Sai Educare, com explicações mais detalhadas: os objetivos do Programa, as diferentes técnicas, e, ainda, a forma de utilizá-las em uma aula.

Do capítulo 2 ao 6 são apresentados as cinco Unidades do Programa, com seus Valores Humanos correspondentes (Verdade, Retidão, Paz, Amor, Não-violência). Em cada um destes capítulos, foram desenvolvidas 15 sugestões de planos de aula, cada qual enfocando determinado valor relativo da respectiva unidade, perfazendo um total de 75 aulas, que podem ser adotadas em um programa com 1 aula semanal, de 1hora e 30 minutos a 2 horas cada aula.

É fundamental que o professor vivencie os valores humanos em sua vida cotidiana, reavaliando suas próprias atitudes perante à vida, descobrindo em si potencialidades latentes e, também, aceitando as próprias limitações e, assim, promovendo uma transformação em sua própria vida. Desta forma, o professor irá se transformar no educador, assumindo sua missão de mestre para promover, através de seu próprio exemplo, a motivação necessária a seus alunos, inspirando-os a se tornarem seres humanos íntegros, pessoas de caráter.

As oficinas propostas neste trabalho são resultados de um trabalho desenvolvido pelo Grupo de Estudos Sathya Sai Educare de Belo Horizonte, com o apoio de outros Grupos de Estudos existentes no Brasil e também, do Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil, com sede em Ribeirão Preto. O material aqui apresentado foi elaborado ao longo de aproximadamente três anos pelo citado grupo.

As propostas apresentadas, nos planejamentos das aulas, são apenas sugestões, podendo ser parcialmente ou integralmente, alteradas pelo Coordenador do Grupo de Estudos, dependendo das características e necessidades do Grupo. Não se tem a intenção de apresentar um trabalho pronto, fechado, mas abrir possibilidades para serem criados e recriados em seus conteúdos ao longo do processo, observando as características do Programa e do grupo.

São apresentadas ainda, ao final deste trabalho, dois anexos:

O Anexo I mostra exemplos de canções, orações, harmonizações conduzidas, meditações e mantras, sugeridos nos planejamentos de aula deste programa.

O Anexo II apresenta exemplos de algumas dinâmicas de grupo, que poderão reforçar e complementar a lição do dia, de forma alegre e divertida. No planejamento de aula de cada lição é sugerida a dinâmica de grupo apropriada para aquela lição, mas, nada impede que essa dinâmica seja aplicada em outra lição e até mesmo em outra Unidade do Programa, diferente da sugerida, adaptando-a às necessidades e características específicas do grupo de Estudo.

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CAPÍTULO 1 — O PROGRAMA EDUCARE

“A educação é um processo lento como o florescer de uma flor;

a fragrância se faz cada vez mais profunda e perceptível quando brota em silêncio, pétala por pétala, até que surja a flor completa”.

Sathya Sai Baba

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

O Programa Introdução

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 8

“Caráter é a Unidade entre pensamento, palavra e ação. O caráter torna a vida imortal. Há quem diga que saber é poder, mas eu digo que o caráter é poder.”

Sathya Sai Baba

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 9

I. INTRODUÇÃO: A EDIFICAÇÃO DO CARÁTER PELA EDUCAÇÃO

Em sua vinda ao Brasil, em abril de 1999, Dalai Lama, o líder espiritual do Tibete, falou em um de seus discursos: “Cada um de nós é responsável por tornar o mundo melhor. E isso deve começar por reformar o nosso próprio íntimo. A importância da educação já foi compreendida, mas cérebros brilhantes também podem produzir grandes sofrimentos. É preciso educar os corações.”

Qual é o significado da vida? Para que vivemos e lutamos? Nossas vidas serão superficiais e vazias se formos educados apenas para sermos especialistas, eruditos mergulhados em seus livros ou para nos tornarmos pessoas eminentes, exercendo um maior domínio sobres os outros, ou para conseguirmos os melhores empregos, sendo mais eficientes[18].

A civilização atual com seu sistema educacional padronizado, tem demonstrado uma enorme dificuldade de compreensão dos valores humanos, incentivando basicamente o ensino de uma profissão ou técnica determinada. De modo geral, chama-se isso “formar para o mercado”. O indivíduo é fornecido como uma peça conforme a demanda. Nesse contexto, o indivíduo não teria um valor em si e a educação reduz-se à formação de mão-de-obra. Isso induz o indivíduo a adaptar-se a um padrão, bloqueando-lhe a compreensão de si mesmo, em vez de despertar nele todo seu potencial interior, um indivíduo com plena consciência de si e de suas potencialidades, que se sente parte integrada de um todo, agindo em sintonia com essa percepção, respeitando seu próprio universo interno e externo.

Todos os que se destacaram como grandes humanistas, em qualquer época da história ou parte do planeta, disseram de uma maneira ou de outra que, para o desenvolvimento pleno do ser humano, é imprescindível elaborarmos internamente nossos aspectos humanos em todas as suas nuanças através de uma reeducação dos valores da personalidade. Isso se dá pela observação de nossos comportamentos diante de nós mesmos e dos outros, aprimorando nosso caráter, lapidando nossos pensamentos, palavras, atitudes, enfim, trazendo mais qualidade à nossa própria vida.

Neste início de século e de milênio, a humanidade depara-se com angústias por ter alimentado em grande medida aspectos que contribuem para a desvalorização do próprio indivivíduo e para a destruição do planeta: orgulho, vaidade, ambição, egoísmo, prepotência... “O homem está ansioso na busca de conhecimentos, de fé e de experiências espirituais. Está agora reiniciando o caminho de volta à origem, uma busca por sabedoria, na qual encontre seu rumo e redirecione sua vida, avaliando seus erros, se restabelecendo numa vida digna, ética e com qualidade”[11]. A educação tem papel fundamental nessa transição, uma vez que pode trazer uma “nova” percepção da verdadeira natureza humana, uma compreensão das vivências internas, a partir das externas.

Cientes de nossa realidade interna, surge o contentamento, que é o estado em que procuramos conhecer o que é, tal como é, sem disfarces, diferente da euforia causada pela posse de bens, de idéias ou até mesmo de pessoas. Só então, no contentamento, existe o amor verdadeiro, o amor que dissolve a noção de desigualdade. Esse é o único elemento capaz de gerar essa transformação.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 10

Há uma grande alegria ao compreendermos o que somos. A alfabetização de adultos talvez seja uma das faces da educação em que o significado da descoberta de si mesmo é mais evidente. O auto-conhecimento é o primeiro passo, indispensável, da sabedoria. Sem auto-compreensão, nada podemos conhecer ou, se conhecermos algo, dele faremos pouco ou mau uso. O auto-conhecimento implica em observar passivamente cada pensamento e cada sentimento. Não podemos observar verdadeiramente se, já no primeiro contato, houver julgamento ou identificação, os quais impedem a compreensão. Se observamos passivamente, aquilo que é observado começa a desdobrar-se e há, então, compreensão, a qual se renova de momento em momento[19].

Qualquer mudança mais profunda em uma sociedade, seja no setor familiar, político ou religioso, deve iniciar-se a partir da transformação interna de cada um de nós. Não é possível esperar que a sociedade mude sem que nós mesmos tenhamos mudado na mesma direção. Essa mudança pessoal só pode ser feita através de um processo de revisão de nossos próprios conceitos, valores e práticas. Nem sempre é fácil admitir isso intimamente, mas nós mesmos temos coisas a serem revistas. É necessário uma reeducação de aspectos da personalidade humana para que a sociedade como um todo também seja transformada: nós formamos o núcleos da família, que por sua vez forma o núcleo da comunidade, que, por fim, ergue o edifício de toda a sociedade.

Injustiça social, violência, ansiedade, medo, fome, guerra, inversão de princípios éticos; baixa auto-estima, baixa auto-confiança, auto-rejeição, auto-negação de alegria e tranqüilidade. Esses são alguns valores com os quais infelizmente convivemos no dia-a-dia da sociedade moderna. Nós nos acostumamos a conviver com eles e aceitá-los passivamente, o que ao longo do tempo nos entristece e deprime. Mas não deveríamos. A felicidade é um direito humano fundamental. Todos clamam por transformação social, por uma sociedade mais justa e humana. Mas somos nós que compomos esta sociedade: professores, médicos, engenheiros, policiais, advogados, políticos, donas de casa, pais, filhos, casais, jovens, idosos... A mudança deve partir de nós, como cidadãos, através de reflexões, com uma forma de pensar e com uma conduta condizentes com os valores de uma sociedade justa, na qual possamos perceber cada ser humano como parte de um todo, respeitando-o e aceitando-o como um irmão, um companheiro de jornada –independentemente de raça, credo ou condição social– e convivermos em cooperação mútua e harmoniosa.

O Programa de Educação em Valores Humanos contempla cinco aspectos da personalidade humana, fundamentais para a edificação do caráter: Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não-Violência. A cada um deles corresponde uma infinidade de valores relativos. Esses valores não são ditames externos, a serem ensinados por pregação e repetição. São aspectos da própria natureza humana mais pura e natural, que emergem sempre que as circunstâncias de entorno são harmoniosas e pacíficas. Os valores não são algo a ser ensinado às crianças, jovens e adultos. No máximo, são atributos a serem recuperados, preservados ou cultivados. Eles já estão lá, no imo da alma humana.

Vejamos alguns valores relativos a cada um desses valores que talvez pudessem ser chamados de principais.

Verdade: discernimento, auto-análise, atenção, reflexão, sinceridade, honestidade, coerência, perseverança, lealdade etc. Retidão: dever, ética , honradez, responsabilidade, respeito, simplicidade, dignidade, serviço ao próximo, integridade, autoconfiança, contentamento, vida saudável etc.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 11

Paz Interior: silêncio interior, calma, contentamento interno, paciência, tolerância, concentração etc. Amor: amizade, dedicação, generosidade, devoção, compaixão, perdão, caridade, alegria, simpatia etc. Não Violência: fraternidade, cooperação, altruísmo, solidariedade, respeito à natureza etc.

Segundo a filosofia de muitas culturas, para o desenvolvimento de um indivíduo íntegro –e, em conseqüência, de um Estado, uma nação e um mundo íntegros–, todos devemos obedecer a princípios éticos intrínsecos aos seres humanos. Esses mandamentos universais são regras para a sociedade e para o indivíduo. Se não forem levados em conta, é apenas natural que impliquem em caos e violência, mentira, roubo e ambição desmedida. As raízes desses problemas são emoções provenientes da cobiça, do desejo e do apego[14]; de um ponto de vista biológico, são uma desfunção de aspectos que deveriam cuidar apenas da sobrevivência e se tornam desmedidos em nosso cotidiano.

No desenvolvimento dessas disciplinas éticas, que transcendem credo, nação, idade ou época, faz-se necessário o uso consciente e adequado do dinheiro, do alimento, da palavra, das habilidades, do tempo e da energia. Desperdícios de qualquer natureza criam desequilíbrios individuais, sociais e ambientais. Uma reflexão mais aprofundada desses temas desenvolve no indivíduo princípios de conduta para a retidão. De certa maneira, o Programa Sathya Sai Educare evoca o retorno do pensamento filosófico como base para a ação humana.

O pensamento influi diretamente nas atitudes e palavras do homem, mesmo que inconscientemente. Aí reside a importância do processo de auto-observação, para que o indivíduo gradativamente conheça os movimentos de sua mente abaixo do limiar usual da consciência. Segundo Caio Miranda, um dos precursores da filosofia oriental no Brasil, “os pensamentos provocam emoções, as emoções influem na ação das glândulas, a ação das glândulas condiciona o nosso metabolismo e este cria as condições em que se desenvolverão nosso fisiologismo e psiquismo.”

Toda vez que houver contradições entre pensamentos, palavras e ações, o indivíduo cria pequenas desarmonias internas, que geram desequilíbrios, distúrbios psíquicos e até mesmo doenças. Ao refletir sobre as dificuldades de conciliar pensamentos, palavras e ações, mesmo nas pequenas atitudes do dia-a-dia, nota-se a dimensão do trabalho interno a ser feito. A edificação do caráter através da reeducação em valores humanos opera transformações sutis e extraordinárias na alma –ou seja, sobre todo o universo interior.

É função dos educadores, além de desenvolver as técnicas necessárias a qualquer profissão, ajudar os jovens a deixar florescer em si esses valores humanos de uma forma natural e espontânea. Nessa perspectiva, não faz sentido impor novos modelos de conduta, novos modos de pensar, a serem copiados. Tais imposições nunca despertarão a inteligência, a compreensão criadora, e serviriam apenas para condicionar ainda mais o indivíduo. A educação deve permitir que o jovem descubra e compreenda por si os empecilhos internos e externos que obstruem seu caminho, apoiando-o e ajudando-o a desenvolver seu discernimento, qualquer que seja sua profissão. Não conhecendo sua verdadeira vocação, toda a vida lhe parecerá perdida; sentir-se-á frustado numa ocupação que desempenhará a contragosto. Sua vida pessoal e social, por conseqüência, será pesada e marcada por um sentimento de frustração.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 12

O estudo de cada criança por parte dos professores, dessa maneira, exige paciência, vigilância e inteligência, mas especialmente, uma compreensão clara do próprio propósito da educação. Observar as tendências da criança, suas aptidões, seu temperamento, compreender suas dificuldades, levando em conta as possíveis influências, e não apenas considerá-la enquadrada em certa categoria –tudo isso requer uma mente ágil e flexível, desembaraçada de sistemas e preconceitos. Exige habilidade, interesse intenso e, sobretudo, um sentimento de afeição: formar educadores dotados dessas qualidades representa um grande desafio.

Em sânscrito, a língua da Índia antiga, a palavra darsham significa “o ato de ver”, com uma conotação mais profunda que o simples sentido usual da palavra: “O ato de ver significa ouvir, compreender, conhecer e estar alerta, sensível, vivo e responsável; ser realmente capaz de ver com total facilidade, sem drama algum. Você desenvolve a habilidade de se acalmar, se aquieta e encontra a paz dentro de você mesmo e, desse modo, você pode ver. Só assim tudo o que você fizer ou criar tem a verdade.” O significado dessa palavra define bem o papel do educador. Ele deve perceber a criança com a “visão” da profundeza de seu próprio âmago, com toda riqueza de detalhes, despertando-a para seus potenciais, para que floresça naturalmente o indivíduo íntegro nesta criança.

Essa missão especial cabe aos educadores. Quem são os educadores? Pais, mestres, orientadores educacionais, faxineiros, cozinheiros, jardineiros etc., mas também avós, tios, amigos. A sociedade toda é constituída de educadores: não é possível separar os conceitos de cidadania do conceito de educadores. É o envolvimento de todos que produz a cultura. Além de trabalhar esses valores humanos em si mesmos, os educadores deverão resgatá-los junto às crianças e aos jovens, de forma criativa e inteligente. Não há dúvida de que educar exige muito mais que ensinar. Como fazê-lo, como despertar o discernimento, como ensinar a criança a pensar por si? Aí entram as ferramentas: poderão ser usadas dentro do contexo do PSSE: textos adequados (contos, poesias, fábulas, canções), jogos, brincadeiras, oficinas, trabalhos de reflexão individual e em grupos, incentivando os estudantes a concluir por si mesmos a importância desses preceitos e despertar neles o espírito crítico de suas vivências internas em relação ao mundo, as quais gradativamente forjarão o caráter. O caráter desse jovem define o homem e a mulher que formará a sociedade de amanhã.

Com todo o trabalho de auto-compreensão, de reeducação e edificação do caráter, irá desabrochando no indivíduo seu lado divino, sua essência divina, tornando-o apto a vivenciar e perceber um novo universo que se descortinará para ele: que sua parte não é separada nem diferente do todo, um universo de rico e imenso silêncio, além das palavras, de infinito e sublime amor.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 13

II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE (PSSE)

Segundo Sathya Sai[3], [35] :

“A educação tradicional tem-se ocupado em desenvolver o intelecto e as habilidades do homem, mas tem feito muito pouco para desenvolver suas boas qualidades. De que serve todo o conhecimento, se o indivíduo não adquiriu bom caráter? O que o homem conquistou, no campo da ciência e da tecnologia, ajudou-o a melhorar as condições materiais de vida. Aquilo de que nós precisamos, entretanto, é a transformação do espírito. A educação não deve servir apenas para desenvolver a inteligência e as habilidades de um indivíduo, mas também para ampliar sua perspectiva e fazer dele um ser útil à sociedade e ao mundo como um todo. Isso é possível apenas quando o cultivo do espírito é promovido juntamente à educação nas ciências físicas. A educação moral e espiritual capacita o indivíduo a levar uma vida disciplinada [3]. Educação sem autocontrole, definitivamente, não é educação. A verdadeira educação deve fazer com que o indivíduo seja compassivo e humano, e não deve torná-lo egoísta e tacanho. Simpatia e respeito espontâneos por todos os seres devem fluir do coração de um indivíduo propriamente educado. Ele deve estar ávido para servir à sociedade, ao invés de estar preocupado com suas próprias aspirações. Este deve ser o real propósito da educação no seu verdadeiro sentido. Os educadores precisam sensibilizar-se nesse sentido, para poderem cumprir verdadeiramente com o propósito da educação.”[35]

O Programa Sathya Sai Educare, como foi visto, trabalha com a criança cinco valores universais, VERDADE, RETIDÃO, PAZ INTERIOR, AMOR e NÃO-VIOLÊNCIA, e seus valores relativos correspondentes. Esse de um lado é um complemento, paralelo às matérias acadêmicas, mas também deve estar presente permeando as matérias acadêmicas. Essas são as duas abordagens, respectivamente direta e indireta, do Programa Sathya Sai Educare.

II.1. HISTÓRICO DO PROGRAMA SATHYA SAI DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS (PSSEVH) E DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE (PSSE)

O Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos foi elaborado na década de 60 por um grupo de educadores composto por psicólogos, pedagogos e professores que conheciam os ensinamentos de ordem espiritual e educacional de Sathya Sai Baba. Todo o trabalho foi feito sob a orientação e coordenação de Sathya Sai Baba, Reitor da Universidade Autônoma de Puttaparthi e considerado por muitos o maior educador da Índia moderna.

A partir de 1973, após o amadurecimento do programa nas escolas gratuitas criadas por Sai Baba, o Programa de Educação em Valores Humanos começou a ser divulgado mais amplamente. Em 1978, foi aprovado oficialmente pelo governo da Índia e tem sido implementado extensivamente em escolas públicas desse país. Em outros países (Zâmbia, Tailândia, Malásia, África do Sul, Venezuela, Espanha, Argentina, Colômbia, Itália, Estados Unidos, México, Austrália etc.), o Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos vem sendo introduzido em escolas

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 14

públicas e particulares. No Brasil, o Programa vem sendo divulgado desde o início da década de 90 a professores, diretores e coordenadores pedagógicos e atualmente é aplicado em cinco Escolas Sathya Sai do Brasil e em escolas e creches públicas e particulares em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Niterói, Recife, Fortaleza, Uberaba, Uberlândia, Ribeirão Preto, Belo Horizonte e várias outras cidades.

O PSSEVH foi elaborado inicialmente para crianças de 6 a 12 anos e funciona bem com crianças de diferentes culturas, credos e classes sociais. Atualmente, sua aplicação vem sendo estendida para outras faixas etárias e tem se constituído num valioso elemento para lidar com problemas atuais em escolas, como crime, violência, drogas, preconceitos, falta de respeito, falta de interesse escolar etc. A experiência de aplicação do Programa mostra que ele certamente terá uma contribuição decisiva no restabelecimento dos valores universais na sociedade, promovendo tolerância, respeito, compaixão, não-violência, cumprimento do dever, unidade e dignidade, assim como o desenvolvimento da própria cultura.

O êxito desse programa tem ultrapassado todas as expectativas, com resultados excelentes e alentadores. As crianças educadas no contexto do PSSEVH mostram um enorme e definitivo progresso em seus padrões de conduta e uma personalidade equilibrada e saudável. Os professores sentem-se motivados, entusiasmados e gratificados com os resultados obtidos, sendo recompensados pelo esforço de sua própria transformação[35].

II.2. O PROPÓSITO DO PROGRAMA EDUCARE

Em setembro de 2000, Sathya Sai Baba comentou pela primeira vez sobre o significado mais profundo da palavra latina educare; e, em julho de 2001, foi apresentado em uma conferência internacional de educação na Índia com o perfil de um Programa. O Programa Sathya Sai Educare (PSSE) é o próprio Programa de Educação em Valores Humanos, utilizado até então, mas com uma visão mais integradora dos valores e uma compreensão mais aprofundada do processo interior que ele envolve.

O Programa Sathya Sai Educare visa a auto-realização. A formação acadêmica deve buscar excelência. Os valores humanos são inerentes a cada indivíduo, de modo que seu desenvolvimento, na verdade, é um aspecto de um processo de auto-conhecimento. Ao longo do processo, o estudante aprende a reavaliar suas próprias atitudes perante a vida, a descobrir em si potencialidades latentes e a lidar com suas próprias limitações. Esses elementos promovem uma transformação profunda em sua própria vida. Do ponto de vista do professor, portanto, é fundamental que ele vivencie os valores em sua própria vida cotidiana. Apenas assim, ele irá transformar-se em um educador, assumindo sua missão de mestre para promover, através de seu próprio exemplo, a motivação necessária a seus futuros alunos, inspirando-os a se tornarem seres humanos íntegros, pessoas de caráter. Os alunos adotarão uma postura íntegra, correta e amorosa apenas se eles tiverem um exemplo de que isso traz prazer, em seu sentido mais puro, e felicidade. É o professor que é capaz de lhes mostrar isso.

O propósito do Programa Sathya Sai Educare (PSSE) é formar o caráter. Para isso, são trabalhados todos os aspectos da personalidade da criança, desenvolvendo seu potencial, tornando-a apta a viver sua vida com plenitude.

Segundo Sathya Sai:

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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“Caráter é a unidade entre pensamento, palavra e ação. O caráter torna a vida imortal. Há quem diga que saber é poder, mas eu digo que o caráter é poder. Até a aquisição de conhecimento depende de um bom caráter, de modo que todos devem aprender a forjar um caráter impecável, sem vestígios de maldade. As qualidades que integram um bom caráter são: o amor, a paciência, a perseverança e a compaixão. Essas qualidades contêm todas as outras mais elevadas e precisam ser respeitadas. A educação é um processo lento como o desenvolvimento de uma flor, na qual a fragrância se torna mais profunda e mais perceptível no florescimento silencioso, pétala por pétala. Esse desenvolvimento significa disciplina e inteligência, em vez de ser apenas o resultado da ação de uma pessoa dedicada à tarefa de ensinar e preparar o indivíduo para os exames, de maneira meramente repetitiva. O exemplo, e não o preceito, é a melhor ajuda para o ensino”.

Através da educação, pode-se despertar a essência que se encontra em cada coração e exteriorizá-la na forma de uma boa conduta, de um falar verdadeiro, com amor em cada gesto, buscando um estado de paz interior e manifestando em todos os momentos a não-violência. Através da educação, o ser humano deve inteirar-se de que ele não tem apenas um corpo físico, mas também uma mente que pode controlar os sentidos; o intelecto, que confere a capacidade de discernimento e pode controlar a mente; e sua essência, sua consciência, chamada por muitos nomes em muitas tradições, que representa a Divindade inerente nele, seu divino interior, aquilo que o indivíduo realmente é. Por isso, para atingir nossos objetivos educacionais, é necessário trabalhar os vários níveis internos das crianças e jovens: físico, mental, intelectual, psíquico e espiritual.

Como afirma Sai Baba, a educação tem como resultado final a formação do caráter. Ao invés da mera aquisição desenfreada de informações, ela deveria promover a sabedoria (conhecimento posto em prática). Isso não reduz a importância da formação acadêmica. Apenas a tira da condição de meta, para transformá-la em ferramenta necessária. A educação não tem como finalidade conferir um “meio de vida”, mas preparar para toda a vida. A educação deveria inspirar um modo de vida a ser vivido com dignidade e equilíbrio, suportando igualmente os êxitos e fracassos inevitáveis em seu percurso, procurando sempre manter uma mente equânime. Ambos, sucesso e fracasso, devem levar ao aprendizado, ao invés de gerar orgulho ou depressão.

O PSSE desenvolve claramente esses aspectos da excelência. O homem busca a satisfação de algumas aspirações humanas básicas. Ele procura alegria, paz e felicidade. Conclui-se que o homem aspira a excelência. No contexto da educação escolar integral, a excelência tem três componentes: excelência acadêmica, excelência ambiental e excelência humana (excelência de caráter, moral e espiritual).

Através do Programa, os estudantes passam, em muitos casos, de indisciplinados, desrespeitadores das normas e dos professores, barulhentos, rebeldes e insubordinados, para disciplinados, estudiosos e tranqüilos, respeitadores dos professores, pais e idosos, amistosos e bem-humorados, donos de ações que enobrecem. Passam a executar serviços voluntários para a escola e para a sociedade. Seu caráter se modifica ou se aprofunda, sua dignidade floresce; sua excelência acadêmica cresce em paralelo e passa a ser real.

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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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Quanto ao aspecto espiritual, os alunos são encorajados a serem melhores e mais profundos em suas próprias religiões, a respeitarem e compreenderem as demais religiões, dando ênfase aos valores universais de fraternidade, respeitando a vida que flui em todos os reinos, despertando a consciência divina, inerente a cada ser humano. De fato, a integração dos cinco valores universais determina um impacto positivo no nível acadêmico, ético e espiritual dos estudantes.

Como resultado das mudanças de comportamento dos filhos, que se reflete na escola e em casa, os pais também são envolvidos, se interessando mais pelo progresso acadêmico e social dos filhos, eles mesmos desenvolvendo sua auto-estima, passando também a respeitar as demais religiões, muitas vezes chegando a abandonar hábitos nocivos à saúde, à sociedade e ao ambiente.

II.3. FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Educação e EDUCARE

A palavra Educação origina-se do latim educare, formada pelo prefixo ex e o radical ducere. Ex significa para fora, para o exterior; ducere, significa levar, conduzir para fora; “ex-ducere”, portanto, tem o sentido de fazer emergir aquilo que está dentro. No contexto da educação, isso significa fazer emergir, conduzir para fora algo que é inerente, intrínseco à condição humana. Nesse sentido, a educação não é um processo de depositar informação –sequer de valores–, mas de criar condições para a manifestação do que já existe no interior de cada ser humano. Esse é o significado original do processo de educação e o sentido da Educação em Valores Humanos.

Em uma perspectiva espiritual, o Programa Educare pretende propiciar os meios para fazer com que a centelha divina interior, que habita cada coração, se expresse na consciência das crianças, de seus pais e dos próprios educadores. Os valores não são assuntos de aula, que sejam ensinados como informação externa! Os Valores Humanos do Amor, da Verdade, da Retidão, da Paz Interior e da Não-Violência são apenas a manifestação natural do divino interno, da essência e natureza de cada pessoa.

Portanto, o ensinamento de Sathya Sai Baba, em seu sentido mais central, é que o processo de Educação, além de oferecer excelência na formação acadêmica, visa proporcionar às crianças e aos jovens as condições para a tomada de consciência de sua verdadeira natureza, para viver sua vida com toda sua potencialidade, bem como manifestar essa essência de maneira natural, contínua e permanente em seus pensamentos, palavras e ações.

EDUCARE como um processo integrador

Uma característica do Programa EDUCARE é seu sentido integrador. Até recentemente, alguns aspectos do Programa de Educação em Valores Humanos eram apresentados como relativamente independentes –ou pelo menos não eram realçadas suas interconexões. Assim, havia cinco valores, cinco técnicas, cinco níveis de consciência, cinco sentidos. O PSSE incorpora a idéia de que todos são aspectos diferentes da mesma unidade. Do mesmo modo que cada um dos elementos da natureza está presente nos demais, os valores, as técnicas, os sentidos e os níveis de consciência não são tratados como independentes.

Estamos acostumados ao aprendizado das coisas do mundo através de nossos sentidos, os quais as percebem como distintas e separadas. Assim, criamos uma visão de mundo em que não apenas

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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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os sentidos são separados, mas as várias coisas que os sentidos percebem parecem ser coisas distintas. As coisas são tomadas como independentes, as pessoas como separadas e até os valores como separados. Quando nos aproximamos da fonte de nossa existência, aquilo que é a natureza e a base de nossa consciência, deixamos de utilizar apenas os sentidos para conhecer o mundo. Nesse momento, começamos a perceber que aquilo que nossos sentidos nos apresentam como coisas separadas são, na verdade, expressões diferentes da mesma unidade básica.

Assim como podemos apenas ver a diversidade de formas, de tamanhos, de localização e de velocidade das ondas do mar, podemos compreender, também, que todas as ondas são manifestações do mesmo oceano básico, que lhes dá essência e existência –e no qual todas as ondas mergulharão de volta, mais cedo ou mais tarde, deixando sua sensação de individualidade, para reconquistar aquilo que elas sempre foram: o próprio oceano.

“Conhece-te a ti mesmo.” Essa era a base do conceito de educação do Sócrates da Grécia clássica. O EDUCARE é um processo que conduz o ser humano a si mesmo, que lhe dá as bases, ao longo da vida educacional, para que, ao mesmo tempo em que esteja no mundo e cumpra bem e com satisfação suas responsabilidades no mundo, sejam desfeitas as ilusões acumuladas com a percepção fragmentada do mundo através dos sentidos. Para que seja reconhecida sua Realidade Divina, sua Natureza Divina, sua Unidade com o Absoluto, sua identidade com Deus, sua identidade com todos.

Paralelamente a esse processo de tomada de conhecimento, o EDUCARE fornece os meios para uma vida equilibrada, de relação harmônica com os cinco elementos da natureza, com os cinco planos internos, com os cinco valores fundamentais, de unidade entre pensamento, palavra e ação, com toda a humanidade.

A aplicação do Programa EDUCARE

De um ponto de vista conceitual, o EDUCARE visa tornar clara a unidade entre todos os aspectos da vida. Na prática educacional, isso se reflete em um esforço adicional de integração. Nesse sentido, uma das metas mais evidentes do EDUCARE é a necessidade de incluir os educadores em todas as etapas e metas do Programa.

A metodologia do Programa Sathya Sai Educare deve haver o mesmo sentimento. Isso deve estar presente no coração e na concepção dos educadores que aplicam o Programa, o que incluir a meta de estender, especialmente através das próprias crianças, os benefícios à família. De alguma maneira, devem ser buscados meios que permitam aos pais saber o que é ministrado aos filhos, o que eles estão aprendendo; que os pais sejam valorizados por seus filhos e pelos professores do Programa. Também é importante que aos pais sejam fornecidos, direta ou indiretamente, elementos para seu próprio crescimento, sua tomada de consciência, na medida de seu interesse.

Isso significa uma acentuação da relação harmônica entre a Escola e as famílias –quem conhece reuniões de pais em escolas sabe que essa não é uma norma. Deverão ser buscados os meios para que a unidade da família se desenvolva e que essa unidade seja não só estimulada, mas também beneficiada pelo amor, aceitação e respeito mútuo, compreensão, compaixão, presentes em todas as atividades da escola.

A missão dos educadores no Programa

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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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Qual é a missão de cada um de nós, educadores, nesse processo? Essa é uma questão muito delicada, pois aquilo que realizamos depende fundamentalmente do que consideramos como nossa meta. Ainda nos sentimos apenas parte do mundo, seres individuais, diferentes, limitados e separados, identificados com o corpo e com o mundo físico. Mas Sathya Sai Baba refere-se a todos como “Encarnações do Amor Divino”, como manifestações do próprio Absoluto. Isso nos aproxima da condição de mestres na missão de educar para a auto-consciência da divindade inerente a cada um de nós. Assim, ver a todas as pessoas como expressão particular da totalidade deve ser o ponto de partida de nossa missão, ainda que uma parte de nós insista em ver a nós mesmos e aos outros como algo menor que isso, separado dos outros, melhor ou pior que os outros. Reforçar esse sentimento de unidade com o todo –e, portanto, com o sentimento de que temos as potencialidades para agir com todo o amor e o discernimento que apenas o todo pode ter– deve ser nossa primeira e contínua tarefa.

Para conseguir desenvolver esse sentimento, precisamos acalmar nossa mente, acostumada à agitação externa, influenciada por anos de contato com outros conceitos que estão baseados na comparação, que nos diminuem, que nos afastam de nós mesmos, que nos colocam defensivamente, que nos enchem de idéias prévias a respeito das coisas e das pessoas. Para sossegar a mente, é indispensável que cada professor/professora do Programa Educare pratique alguma disciplina espiritual –a que mais se adequar e lhe agradar– de forma regular e em um programa estruturado. Isso permitirá que nos moldemos no mestre que habilitará a inspirar pelo exemplo, mais do que pelo discurso: se não tivermos uma mente tranqüila, como falaremos a respeito disso para os alunos? Não é fácil deixarmos de ser apenas professores para sermos exemplos. Disciplina espiritual, dentro dessa perspectiva, é apenas uma técnica que nos ajuda a harmonizar nosso mundo interno.

Esse é um grande desafio. A tentativa de conduzir as crianças à consciência de sua própria natureza divina não pode ocorrer sem que o professor também busque a consciência divina de si mesmo. Não é que os professores devem estar prontos. É necessário apenas que eles caminhem na mesma direção. De fato, parece que a dedicação às crianças ao longo do Programa é que nos deixa “prontos”. A dedicação sincera ao processo de auto-transformação é suficiente, e os resultados são alcançados no devido tempo. O PSSE não é um conteúdo programático, um conjunto de técnicas, uma proposta para diminuir a violência em escolas ou um programa para tornar as crianças “bem comportadas”. Não é uma metodologia para lidar com crianças em bairros carentes. O EDUCARE é um processo para despertar a consciência do indivíduo para sua natureza interior, que lhe dará a constatação da ligação e interdependência que une todos os seres entre si e com a totalidade. Os professores que buscam essa consciência têm a capacidade de inspirar essa busca.

Ainda que o conceito usual de “disciplina” seja de algo estabelecido externamente, não é esse seu sentido apropriado no PSSE. A disciplina espiritual não é algo que se estabelece de fora para dentro, uma imposição, um manual, uma receita ou um programa de atividades de meditação, oração etc. Trata-se de estabelecer uma relação entre a consciência de cada um e seu corpo, seu ego e sua mente. Sai Baba diz, “Seja o senhor do mundo da mente, não escravo de seus sentidos.” A disciplina espiritual, portanto, é um meio de nos colocar no comando de nós mesmos. Por analogia, na medida do descontrole de um educador sobre seus próprios sentidos, sobre suas próprias emoções, sobre seus próprios pensamentos, assim também serão os educandos. Na medida do desenvolvimento do controle sobre seus próprios pensamentos, desejos e atividades, assim também seus alunos serão bem sucedidos.

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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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Em um sentido mais estrito, isso implica no uso de técnicas que permitam que nós, educadores, alcancemos esse êxito, que logremos ter o controle sobre os aspectos mais agitados de nosso ser. As técnicas para a disciplina espiritual não são o objetivo, mas meros meios, talvez indispensáveis, de que dispomos para realizar essa transformação. Elas devem ser usadas com discernimento, consciência, auto-respeito e constância. Esse é o sentido do programa “Limite aos Desejos” criado por Baba e fortemente recomendado no programa educacional. Portanto, os professores devem buscar sincera e ativamente sua própria transformação, o que inclui o uso de alguma ou algumas das técnicas sugeridas: meditação na luz, auto-investigação, oração, auto-observação, serviço voluntário, amoroso e desinteressado, limite aos desejos etc.

Que Baba se refira aos professores do Programa Sathya Sai Educare como “gurus” (mestres) mostra a dimensão de nossa responsabilidade, mas não deve constituir a dimensão de nosso orgulho.

Os cinco Ds

Um dos aspectos que diferencia o Programa EDUCARE da maioria dos programas educacionais propostos é que seu sucesso não depende de elementos materiais, de currículo ou de tecnologia, mas basicamente da pessoa humana (não é esse um fundamento de todos os programas educacionais?). A experiência das escolas em que se tentou aplicar mais extensivamente o Programa Educare mostra que é no processo de transformação interior, e não nas condições materiais, que residem as maiores dificuldades na busca de uma escola completa –e o sucesso na busca!

Com o desenvolvimento interior, aquele que se transforma não se torna “mais avançado”, “mais espiritualizado” ou “melhor” que os demais. Esse sentimento é de vaidade e presunção –antítese dos valores que se estão discutindo. Se muito empenho no crescimento espiritual resultar nesses sentimentos, o esforço foi direcionado indevidamente, gerando um aumento do egoísmo e não em sua redução. Todo o esforço foi perdido. O desenvolvimento apenas torna a pessoa mais verdadeira em relação a si mesma; mais amorosa do que jamais foi; mais tranqüila do que em outros tempos; mais correta e mais compreensiva do que antes; mais próxima dos demais. É o mesmo divino que se manifesta em todos e, portanto, é impossível ser mais divino que qualquer outro. O desenvolvimento deve levar a um estado de contentamento interior, e não a um sentimento de superioridade espiritual de qualquer espécie. O desenvolvimento verdadeiro nos torna mais iguais, mais unos com todos, enquanto que o sentimento de “superioridade espiritual” afasta, na medida em que reforça o sentimento de diferença, em que julga o outro como separado de nós mesmos, em que nega ao outro a condição de manifestação igual ao Absoluto, que veríamos reservada a nós mesmos.

Nesse processo de desenvolvimento interno, estão os chamados cinco Ds: Devoção, Disciplina, Discernimento, Determinação e Dever. A Devoção é o sentimento de amor por Deus. Seu sintoma externo mais evidente é o sentimento de amor por todas as expressões d’Ele, sem exceções. É esse sentimento de amor em direção a Deus que torna natural servir ao Absoluto, servindo todas as suas formas. É a identificação entre Deus amado e toda a Sua obra que torna realizador servir a todos os seres humanos e buscar uma sociedade mais justa.

A Disciplina é indispensável para retomar o controle da consciência sobre a mente, o ego e o corpo, para controlar os sentidos, os desejos e os pensamentos, para que eles sejam usados para aquilo que é sua real finalidade. Como é possível expressar os valores humanos quando se

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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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caminha no sentido inverso? Bem, como se explica que haja noite se o Sol brilha incessantemente em todas as direções? A resposta é simples: bastar olharmos para o lado oposto ao Sol. Olhe para o Sol, e nunca haverá noite. Olhe para a Verdade, e nunca haverá ilusão. É necessário mudar o olhar, o que não é uma tarefa fácil, pois estão acostumados a um ponto de vista, a uma perspectiva. Para qualquer mudança há resistência interna. Quem tentou fazer regime sabe disso. A disciplina é uma ferramenta que nos ajuda a reduzir a agitação mental e nos devolve o senhorio sobre o reino interno –essa história está representada em muitos mitos e contos.

O Discernimento é a capacidade de reconhecer a Verdade. Nascidos, educados e formados sob uma perspectiva ligada apenas ao mundo externo, temos o desafio de encontrar o caminho interior. Como isso é possível? O Discernimento é a função em nós que distingue o que é real, verdadeiro, justo, adequado. Todas as nossas decisões estão apoiadas na maneira como vemos as coisas. Se estamos enganados sobre as coisas, nossas decisões são igualmente equivocadas. Em princípio, usamos aquilo que nos foi ensinado para reconhecer o que é certo ou verdadeiro. A experiência mostra que essa visão é insuficiente. O que, em tudo o que é transitório no mundo, pode ser considerado perene, inalterável? Não conseguimos estender nossa compreensão para além das aparências, para além do que é dado apenas pelos sentidos. Mesmo aquilo que é correto ensinado externamente não é suficiente. É por isso que o PSSE não é um manual de bom comportamento. Cada um precisa refletir e chegar às suas próprias conclusões. Muitos de nossos referenciais precisam ser mudados e alguns deles precisam de confirmação interna, para que tenham mais força. O discernimento é nossa capacidade de refletir, é nossa capacidade filosófica e acima de tudo, é a luz que nos mostra o caminho.

A Determinação é indispensável, pois é necessário promover a transformação até o final. A “pressa” nesse processo mostra que estamos com os olhos mais voltados para o momento de pararmos de fazer força, que para o próprio trabalho de transformação! Vejam os exemplos de figuras históricas que realmente fizeram grandes transformações na sociedade, em seus países –nunca é um processo rápido e apenas a determinação permite atingir a meta. Quando estamos sinceramente imbuídos da vontade de nos transformar, a própria vida se encarrega de nos testar, nos mostrando o tipo de obstáculos que já conseguimos superar e os que ainda não superamos. Até quando acreditaremos na realidade de um mundo que está continuamente se transformando frente aos nossos olhos? Nós nos apegamos à forma, e não àquilo que gera a forma. A determinação na disciplina espiritual e no processo educacional no qual estamos engajados é indispensável até que a última ilusão e o último apego se desfaçam. Na educação, até que a dificuldade do último de nossos alunos seja superada.

O sentimento de Dever é indispensável para nos fazer mover. Esse Dever não emana de pessoas, preceitos ou ideais externos ou vem escrito em textos ou orientações externas. Ele emana do amor e é o fluxo natural do divino interno, que vem de nosso coração. Quando nos deixamos levar por esse sentimento pelas pessoas e pela natureza, estamos cumprindo o Dever. No início, é difícil discernir entre o sentimento de obrigação imposta (ou auto-imposta, para fins de reconhecimento externo) e o dever natural na realização de algo que nosso Amor pede. Com o tempo e com a diminuição de nossa agitação interna, diminui o conflito e o esforço para cumprir aquilo que é necessário. Finalmente, nosso único desejo é a expressão desse Amor, na forma de ação naquilo que a cada momento é necessário, correto e cabível. Quando se extingue o ego, passa a existir a unidade entre a consciência pessoal e a consciência divina: aí alcançou-se a Realização. O resultado, na forma externa, é sempre o envolvimento e o responsabilidade com a

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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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sociedade. Realização espiritual não pode estar separada do compromisso com o coletivo. A vida dos grandes personagens da humanidade mostra isso de modo inequívoco.

É fácil alcançar esse estado? Diz Sai Baba que sim, mais fácil que piscar os olhos. De nosso ponto de vista... isso consome tempo e esforço. O fato é que, se a educação tem uma meta espiritual, assim também será a postura do professor. Ele não deve cobrar de si mesmo o resultado a ser alcançado, mas apenas ter a disposição de buscá-lo. O resultado será natural. Meditar nos cinco Ds e deixar que eles permeiem a consciência.

Os três HVs

“A meta da vida é a auto-realização. A auto-realização é consciência constante integrada, e consciência constante integrada é harmonia entre o coração, a cabeça e a mão, o que é a marca de uma mente pura.” (Sathya Sai Baba)

Sai Baba tem dito que EVH, na verdade, é 3HVs: unidade entre “Head”, “Heart” e “Hands”, isto é, entre a cabeça, o coração e as mãos. Isso significa que as mãos devem fazer aquilo que a cabeça pensa e o coração aprova. Essa é uma postura fundamental no EDUCARE. Enquanto fizermos o que a cabeça pensar como reflexo automático, como ato contínuo, estaremos fortemente sujeitos a cometer injustiças, percebendo-as às vezes tardiamente. Enquanto a boca falar o que a cabeça não pensa e as mãos não fazem, serem acusados muito justamente de hipocrisia. Se há hipocrisia, não existe traço do Programa Educare.

O motivo dessa falta de sintonia entre a cabeça e as mãos é que os aspectos reativos de nossa mente (ego e mente) nos levam a reagir a situações apenas com base nos elementos imediatos envolvidos. É o “bateu, levou”. Não considera princípios. Além disso, costumamos tomar decisões baseadas apenas no que foi aprendido previamente. Passamos por um número limitado de experiências, depositadas em nossa memória (subconsciente). Na ausência de outros mecanismos, todas as nossas decisões são fundamentadas, conscientemente ou não, naquilo sobre o qual temos algum referencial. Dos conteúdos depositados em nosso subconsciente, parte vem das pessoas que derramaram um profundo amor e simpatia ao longo de nossa vida: mãe e pai, irmãos e irmãs, avós, vizinhos, amigos, professores etc. Parte é de experiências negativas, acumuladas por fortes impactos emocionais (como a perda de pessoas queridas, frustrações, medos, decepções, angústias, experiências de injustiça ou violência) ou pelos conceitos formados apenas por imagens (como as que assimilamos passivamente através da televisão). Nossos padrões subconscientes são limitados e limitantes. Ou seja, além dos mecanismos de funcionamento de nosso ego serem intrinsecamente egoístas, pois sua função é cuidar de nossa sobrevivência pessoal, eles são dependentes da qualidade do que cada um vivenciou.

A questão do conteúdo que portamos não está ligado diretamente com a hierarquia social. Há famílias com padrão econômico muito simples, mas com profunda amorosidade e com grande sentimento de solidariedade. Há famílias com padrão econômico elevado e que vivem conflitos constantes, exemplos pesados de egoísmo e de indiferença. Certamente há famílias em condição de pobreza que vivem problemas de violência e famílias em situação financeira estável com um grande sentimento de responsabilidade social. Com raríssimas exceções, cada um de nós passa por uma série de experiências positivas e negativas, as quais temos que trabalhar internamente depois. É evidente que uma sociedade que mantém na miséria uma parte de si mesma está fabricando dificuldades futuras, pelas experiências graves nas crianças que crescem com revolta e privação. Contudo, é uma ilusão achar que a ausência de valores tem alguma relação direta com

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ausência de recursos materiais. Os exemplos de egoísmo, vaidade e indiferença nas classes mais abastadas são igualmente fábricas de crianças privadas de valores humanos. Aparentemente, a conexão das famílias com a cultura, em seu sentido mais amplo, fornece uma ferramenta poderosa para a reflexão e para enfrentar as adversidades. Por isso, a migração regional, retirando as pessoas de seu contato familiar aumentado, de suas raízes culturais, afastando-as de suas tradições, de seus ditados populares, jogando-as em periferias de grandes cidades, é tão destrutiva do tecido familiar e social. Nos lugares em que as comunidades se reorganizam e começam a recuperar seu sentido de coletividade, com todos os elementos da cultura que lhe é característico, a paz volta a reinar.

Esses padrões de resposta só podem ser modificados com a capacidade de entrarmos em contato com nossa consciência, nossa verdadeira natureza. Se conseguimos fazer isso, deixamos de nos pautar pelos elementos exteriores e temporários, para lidar com o imenso potencial de reflexão de nossa consciência. “Quem é o mestre?, pergunta Baba, para depois responder, “A consciência é o mestre, siga a consciência”. Como já foi comentado, não é fácil a princípio, distinguir entre as respostas da consciência e as de nosso ego. As técnicas de meditação na luz e outras práticas de disciplina espiritual fazem com que os educandos e nós mesmos comecemos a entrar em contato com o princípio divino dentro de nós. Isso gradualmente vai diminuindo nossa agitação cotidiana, de maneira a permitir, que cada vez mais, a nossa ligação com a consciência seja permanente, intensa e clara. Isso vai gradualmente nos aproximando do que são valores verdadeiros no mundo externo. Desse modo, frente a qualquer situação, nova ou não, nossa ação será consciente e permeada pelos atributos da centelha divina em nós: amorosa, pacífica, verdadeira, correta e não-violenta (embora às vezes tão firme quanto necessário). Os três HVs, portanto, são, ao mesmo tempo, uma prática (ou uma técnica) e uma meta. Antes de agir, consulte o coração, perguntando por sua aprovação.

Contentamento e transformação

Não há transformação em um ambiente de tensão e insegurança, de ameaça e desconfiança. A felicidade é essencial para a mudança, como disse o Prof. Robert Molloy, da Austrália. Assim, o ambiente educacional deverá ser permeado de contentamento, caso se pretenda manter um ambiente de formação de valores, de formação interior. As dificuldades expostas pelos alunos não devem ser motivo de irritação, raiva e contrariedade. Os alunos que não se enquadram, que apresentam mais dificuldades, são nossos melhores mestres, pois serão eles que medirão nosso grau de transformação. Amor ou raiva, confiança ou acusação? Nossa relação com as pessoas não deve ser função dos motivos externos, de maneira que nosso sentimento pelas pessoas se alterne conforme a circunstância, tornando-se ora amor e confiança, ora raiva ou acusação em função de que elas façam coisas que nos agradem ou nos desagradem. Quando gradualmente alcançamos nossa transformação interior, gradualmente também vamos conseguindo lidar com as situações difíceis sem que isso afete nosso sentimento de amor. Saber assumir posições firmes em relação àquilo que não é correto, não implica em abandonar, sequer temporariamente, nosso sentimento de amor.

No Programa EDUCARE, é necessário que o amor seja uma característica permanente. Quando nosso amor for tão extenso que os alunos mais desconfiados da capacidade alheia de amá-los tiverem certeza de que são amados, eles se sentirão felizes e seguros, e a transformação será natural. Elas não entregarão seus corações enquanto não tiverem essa confiança e precisarão nos testar antes.

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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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Isso não significa tolerância com o que não está certo. Tem sido afirmado e demonstrado que os filhos e educandos tomam como um sintoma de indiferença em relação quando não lidamos abertamente com o que eles fazem de errado. Mas nosso amor por eles deverá estar acima dos testes que eles possam impor e é necessário conciliar amor e firmeza nessas situações. Eles devem sentir que esse amor está garantido, seja qual for a situação externa. Mesmo em casos de ações maldosas, para as quais se guardam os devidos comentários e providências, devemos conhecer e reconhecer a forma divina e amada por trás da ação. Propiciar esse amor, gerando um ambiente amistoso, bem-humorado, tranqüilo e criativo, é parte do programa EDUCARE. Deixe que seu amor crie um ambiente em que os alunos se sintam felizes. Contentamento não é euforia. Claro, amem sua própria condição divina, amem e respeitem a si mesmos, de maneira que possam expressar amor e respeito para com os outros. Só se pode dar aquilo que se tem. Essa atmosfera é fundamental para o ambiente educacional.

EDUCARE como um programa de educação espiritual

O Programa EDUCARE não é uma pedagogia específica –ele talvez possa ser melhor denominado de uma filosofia educacional. Muitos de seus conceitos são compartilhados por muitas pedagogias e contém muito do que talvez seja apenas bom senso, abandonado nas instituições educacionais cuja estrutura está falindo. Isso faz com que ele possa ser aplicado dentro de uma estrutura pedagógica tradicional ou em uma pedagogia construtivista, em uma pedagogia Montessoriana, em uma pedagogia Waldorf etc. Cada um saberá fazer as adaptações que parecerem necessárias. Os conceitos de Educação em Valores Humanos foram aceitos de coração e aplicados com sucesso em países muçulmanos, em vários países da Ásia, nos Estados Unidos e na Europa, em países da África, em vários lugares da América do Sul, em locais muito pobres, em escolas com amplas condições materiais. Os nomes usados para fazer referência a alguns dos conceitos usados aqui, como “centelha divina”, “ego”, “subconsciente” etc., podem ser adaptados, de maneira que sejam melhor compreendidos, evitando bloqueios desnecessários. Nada do que é essencial aqui diz respeito aos nomes das coisas. Isso não diminui o Programa EDUCARE.

Há alguns elementos, no entanto, que não podem ser abandonados. O primeiro deles é que, em nenhuma hipótese, qualquer atividade de difusão do Programa Sathya Sai Educare seja cobrada. Os professores nas escolas são profissionais e devem ser remunerados de maneira justa. No entanto, a difusão dos conceitos e idéias em torno do Programa Sathya Sai Educare é necessariamente gratuita. Há impedimento legal de se utilizar o nome de Sai Baba ou do Programa Sathya Sai Educare cobrando qualquer tipo de taxa. Escolas particulares podem aplicar o Programa, mas elas devem usá-lo por amor às crianças, não como ferramenta de marketing para atrair alunos. Sócrates, na Grécia Antiga, era criticado pela família por não querer receber remuneração por suas aulas, tendo vivido na pobreza. Ele é exemplo imorredouro de Amor e Retidão. O Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil dá suporte gratuito a escolas que tenham interesse em ter palestras, aulas, grupos de estudo ou suporte para o desenvolvimento do programa.

Um outro aspecto –e talvez o mais importante deles– é que EDUCARE é um Programa com fundamentação espiritual. Isso está colocado de maneira clara em uma palestra do Prof. Michael Goldstein, dos EUA: “É essencial que a profundidade espiritual, o significado espiritual deste Programa seja comunicado a educadores e pais. Se tivermos medo que sejamos rejeitados pelas agências públicas por causa de nossa orientação espiritual, então estaremos apenas apresentando

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação

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mais um programa de aceitação rápida, para o declínio desmoralizador do caráter da educação para crianças do mundo inteiro. É imperativo que demonstremos o verdadeiro significado espiritual desse programa a educadores e pais. Dessa maneira, eles também terão a oportunidade de vivenciá-lo e transformar a si mesmos. Qualquer esforço menor que esse não é digno de nosso programa.”

É necessário cuidado, no entanto, com a compreensão do significado de “espiritual”. Para alguns, “espiritual” pode significar princípios; para outros, um sentimento de dedicação a algo que extrapola o sentimento de individualidade, de dedicação à sociedade; para outros, tudo o que diz respeito ao mundo interno das pessoas; para outros ainda, um sentido de ligação com o Absoluto, seja em que forma ou sob que nome for. Se olharmos com atenção, todos eles são formas diferentes de expressar um mesmo sentimento. Sai Baba diz, “Se uma pessoa vive o Amor, o que mais se pode pedir dela?” Identidade entre espiritualidade e religião deve ser evitada, pois isso retiraria dela seu sentido universal. No entanto, transformar o Programa EDUCARE em um conjunto de técnicas que dão melhor “desempenho emocional” ou “social” às crianças é faltar com a verdade e perder o essencial. Muitas das mazelas de nossa sociedade, de nossa cultura e de nosso tempo advêm de nossa identificação com valores transitórios. O aspecto mais profundo do Programa EDUCARE é exatamente retomar a ligação com nossa essência interior, seja qual for a maneira de vê-la e compreendê-la. Perder isso é perder a única coisa que importa.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...

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III. OS VALORES HUMANOS, OS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA E AS

TÉCNICAS DO PROGRAMA

III.1. OS CINCO VALORES ABSOLUTOS QUE COMPÕEM O PSSEVH

Quando o homem desperta para a divindade que lhe é inerente, começa a se questionar sobre o que é Verdade. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? O que devo fazer aqui? Perguntas como essas permeiam sua mente em busca da compreensão sobre a natureza da vida. No momento em que se obtêm respostas, a Retidão passa a ser algo natural. Ao colocar em prática a Retidão de caráter –a Verdade em ação–, sente, como conseqüência, um grande estado de Paz Interior. Nesse estado, há um processo de expansão permanente da energia do Amor. A expressão desse Amor sempre-constante leva a um estado de sintonia e de compreensão de todos os seres, um estado de plena Não-violência. O PSSE tem por meta o desenvolvimento desses cinco valores fundamentais, Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não-violência, trabalhando-os de forma integrada com os estudantes.

Verdade

A Verdade é aquilo que não muda ou deixa de ser. Em todo indivíduo, existe uma vontade inata que o impulsiona a buscar respostas para questões filosóficas, grande parte delas surgidas da percepção da transitoriedade da vida. A humanidade distingue-se do reino animal, entre outras coisas, por sua capacidade de colocar-se acima dos impulsos de seus instintos, de não ser uma mera expressão de seus instintos. Por sua capacidade de compreender a natureza do tempo e, portanto, de agir com algo mais que os instintos, em função de uma compreensão da natureza da vida, com a verdade da vida. Assim, a relação com a Verdade é um fundamento na formação do caráter. A veracidade, falar o que é verdadeiro, talvez seja sua manifestação mais tangível. Dizer uma inverdade (por ignorância ou proposital) é um ato anti-social, causa confusão na mente de quem diz e de quem escuta, bem como prejudica o relacionamento humano, causando confusão ao seu redor. Mas a Verdade é mais que a honestidade. Vários movimentos filosóficos questionaram que pudesse haver algo a que se pudesse chamar de Verdade. O resultado é o niilismo que guia boa parte dos interesses de mercado. Não haveria algo intangível que gerasse um compromisso individual com a ética.

A Verdade está relacionada com a mente supraconsciente, que provê o ser humano da intuição. Um exemplo do valor da intuição é a chispa de genialidade de músicos, cientistas e inventores famosos. Seus depoimentos atestam que a inspiração ou a intuição se dá em momentos de recolhimento, com emoções e pensamentos aquietados. Como a Verdade é algo absoluto e não é dual, ela não pode ser conhecida através da mente ou da razão, mas apenas da intuição, como uma experiência pessoal. A quietude permite que a Verdade seja gradualmente reconhecida. Esse estado é desenvolvido aos poucos com a técnica do “sentar-se em silêncio” ou das harmonizações.

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O valor Verdade pode também ser ensinado por meio de provérbios e frases que promovam a reflexão, a análise, a auto-análise, o auto-conhecimento, a busca do conhecimento, a curiosidade, a fé, a honestidade, a imparcialidade, a integridade, a objetividade, a razão, a síntese etc. Todos esses são valores relativos à Verdade.

Retidão

“A VERDADE em ação é RETIDÃO.”

A Retidão está relacionado com a ação. Ele implica no cuidado, no uso adequado de nosso potencial, do tempo e dos recursos externos. Ela abrange três aspectos, as ações ligadas ao próprio indivíduo, ligadas à sociedade e ligadas a valores éticos.

Os hábitos de auto-ajuda e auto-respeito, com cuidados com nós mesmos, incluem a higiene pessoal, limpeza do ambiente ao nosso redor, alimentação saudável, cuidados com a saúde e a busca de auto-suficiência, evitando criar dependência e peso aos demais por indolência ou falta de iniciativa. Os hábitos sociais, como bom comportamento, gratidão, respeito, disciplina pessoal, pontualidade, ser prestativo na comunidade. Para isso, é essencial o espírito de sacrifício e o uso adequado do tempo, do alimento e do dinheiro, através de uma boa administração desses recursos.

Os hábitos com valores éticos, como moralidade, ânimo, coragem, coerência, confiabilidade, dignidade, honradez, perseverança, determinação, prudência, responsabilidade etc. Nossa reação aos estímulos pode ser instintiva ou racional. Ela será instintiva quando baseada mais nos hábitos e costumes que ainda não foram questionados; será racional, quando resultante da análise das situações, através do uso do discernimento (sobre atitudes ou fatos conhecidos) e da intuição (para atitudes ou fatos novos). As espécies há milhões de anos agem apenas por instinto, o que lhes vem garantindo a sobrevivência. O uso da força da inteligência humana dirigida pelos instintos tem provocado fome, humilhação, guerras, destruição dos ambientes, ganância e disputa cega de poder. A condição humana é única no sentido de permitir a ação apenas depois de passar pelo crivo do discernimento. O PSSE trabalha exatamente o uso equilibrado de nossas funções instintivas e o desenvolvimento de nossas funções superiores, com freqüência muito pouco trabalhados e estimulados na educação.

Um ponto fundamental para uma rápida incorporação pelas crianças dos valores associados à Retidão é o controle do que é apresentado aos sentidos. Isto é, ajudá-las a ver o bem, ouvir o bem, ter boas companhias e freqüentar lugares onde possam ter bons exemplos. A mídia e muitos locais da sociedade hoje estão saturados de estímulos ao consumo irrefletido, à competição, a hábitos perniciosos, ao preconceito, à desvalorização do trabalho, à indisciplina, à valorização material, à valorização das aparências etc. É necessário educar as crianças para o cuidado com a higiene e a boa manutenção do corpo (alimentação sadia, balanceada, prática de ginástica, esporte, yoga etc.), para que o corpo físico possa cumprir adequadamente sua missão, sendo um instrumento harmonioso da consciência. Educá-las para a necessidade da ordem e da harmonia do ambiente ao nosso redor e da responsabilidade de cada um para mantê-lo limpo, ordenado e funcional. Educá-las para a necessidade de se manter um “clima” de harmonia à nossa volta, cuidando-se da qualidade de nossos pensamentos –que vão gerar nossas ações– e da qualidade de nossas palavras. Tudo deve passar pelo crivo do discernimento, perguntando-se se está elevando, melhorando o ambiente a nosso redor ou se o está rebaixando a níveis grosseiros. Esse ambiente é a natureza e também a própria sociedade, em seus diferentes níveis. Nesse sentido, a Retidão é

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a base da cidadania. Ao final, o exercício natural da Retidão leva o indivíduo a um estado de contentamento e de paz interior.

Paz Interior “A paz se inicia com um sorriso.” (Madre Teresa de Calcutá)

A Paz, no sentido usado aqui, não diz respeito à ausência de conflitos externos, entre pessoas, comunidades ou países, mas a um estado de tranqüilidade interna. A Paz Interior está relacionada com os processos subconscientes da mente e suas respostas emocionais. O que chamamos mente nada mais é que o conjunto de sentimentos e pensamentos gerados a partir das emoções e da intuição. As emoções brotam em nossa mente como resposta aos estímulos do mundo exterior; a intuição brota em nossa mente quando ela se encontra em Paz.

A paz mental é alcançada quando conseguimos manter o estado interno de equilíbrio. No entanto, freqüentemente perdemos nosso estado de paz, nosso estado de equilíbrio interno, em função de reações emocionais a estímulos que nos chegam do mundo. Em parte, isso se dá por não conseguirmos exercer nossa força de vontade internamente ou por não dispormos de meios para controlar os sentimentos e pensamentos que se seguem à resposta emocional. Às vezes, as situações externas despertam raiva, inveja, desejos, medos, angústias ou necessidades artificiais, removendo nosso equilíbrio interno e nos levando a ações que resultam em ainda mais desequilíbrio. Ainda que o sentimento de Paz não seja particularmente ansiado pelos jovens hoje em dia, ele se torna algo cada vez mais caros às pessoas, à medida que elas amadurecem.

Em busca dessa sonhada paz duradoura, recomenda-se:

! Refletir sobre cada desejo que brota na mente, questionando se ele é supérfluo ou necessário, se é útil ou não, se é justo ou não, se tem urgência ou não, se é prioritário ou não, se usamos apropriadamente recursos disponíveis (materiais, tempo, dinheiro) ou não, se é bom só para si ou se também o é para os demais, se prejudica os outros ou não etc. Os desejos nos mantêm vivos, mas é necessário limitá-los à sua função original. Com freqüência, somos verdadeiros escravos de nossos desejos.

! Buscar desenvolver de modo consciente a auto-aceitação, a auto-capacitação, a auto-confiança, o auto-controle, a auto-disciplina, o auto-respeito, a auto-estima.

! Procurar manter a atenção e a concentração no momento presente. Devemos aprender com o passado, mas não devemos nos afligir por ele. Devemos cuidar do futuro, mas não devemos nos angustiar por ele. O único momento real é o presente, aqui e agora, onde as coisas realmente podem ser realizadas e apreciadas.

! Esforçar-se para ter sempre bom humor, manter a calma e o equilíbrio, ser ponderado, encontrando a satisfação dentro daquilo que realmente dispomos, manter o contentamento e constância para alcançarmos a equanimidade interior.

! Desenvolver a compreensão, a paciência e aceitar a diversidade. Agir com dignidade e determinação, mas com desapego e humildade.

! Alimentar sempre a esperança, buscando a felicidade e a fortaleza interiores, procurando no silêncio interior a verdadeira tranqüilidade.

Uma das técnicas mais importantes de apoio do PSSE para a busca da Paz Interior é a harmonização ou “sentar-se em silêncio” –os nomes variam. Essa é uma pequena busca de

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recolhimento, que leva ao aquietamento da mente. A agitação mental certamente é um dos males modernos. Quase tudo à nossa volta contribui para a agitação mental. Para as crianças em idade escolar, isso se verifica como uma enorme dificuldade de concentração. Além dessa técnica, recomendam-se, como coadjuvantes importantes, exercícios de atividades em grupo que levem à auto-aceitação e que desenvolvam o auto-respeito, bem como a meditação na luz e a oração.

A oração é uma técnica extremamente antiga, universal e poderosa. Ela pode ser feita de muitas maneiras e com muitas intenções, e tem a grande vantagem de levar uma pessoa a voltar seus olhos para o bem –dela mesma, de uma outra pessoa ou de toda uma comunidade. O destino de uma oração não precisa ser discutido, no sentido de que é algo íntimo e não diz respeito àquilo por quê se ora. A oração que visa a paz pode estar baseada no agradecimento pelo que se é, pelo que se tem; pode ser baseada na auto-aceitação e na aceitação das outras pessoas, outras culturas, outras raças, outras religiões. Deve-se, também, orar para se manter a esperança, para que a paciência nunca falte, para a capacidade de compreensão de fatos e relacionamentos, para o desapego (o apego cria um estado mental de dependência, fomentando o “medo de perder”, que perturba o estado de paz mental) ou para o desenvolvimento de todos os valores, que nos aproximam mais das pessoas e da comunidade.

Cada vez que praticamos uma dessas técnicas, adquirimos um estado de tranqüilidade que perdura um pouco, mas que, com as agitações à nossa volta, se dissipa. A repetição dessa técnica ao longo de semanas e meses, no entanto, vai tendo um efeito mais profundo. Cada vez que repetimos a técnica da harmonização, seu efeito torna-se mais forte, conferindo um sentimento mais intenso de paz, alcançado-o de forma mais rápida e duradoura, contribuindo para lidarmos com as situações difíceis de modo cada vez mais tranqüilo, centrado e seguro. A experiência mostra que crianças muito agitadas tornam-se muito tranqüilas e harmonizadas depois de algum tempo de prática, sendo capazes de expressar de forma mais intensa sua criatividade e adquirindo capacidade de concentração.

O conjunto de todas essas técnicas leva o indivíduo a um estado de paz mental, livre dos efeitos daninhos das perturbações emocionais. O sentimento de paz resultante não é conseqüência da ociosidade, mas sim de um estado mental equilibrado, sem altos e baixos, euforia ou depressão. A mente aprende a manter seu estado de equilíbrio mesmo na ação, mesmo em situações em que as condições externas variam. Para isso, o Programa desenvolve na criança um caráter bem estruturado e fortalecido pela coerência entre sua essência e sua atuação externa com ações ou palavras, gerando uma harmonia entre seus níveis físico, emocional (mental inferior), intelectual (mental superior) e espiritual. Nessas circunstâncias, como já foi comentado, há um aumento no fluxo da energia do Amor (nível psíquico).

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Amor “O amor é sua própria recompensa.” (Sathya Sai Baba)

O amor é evidentemente algo intangível e impossível de definir formalmente. A história da filosofia, das religiões e da espiritualidade está repleta de comentários e tratados procurando compreender a natureza do Amor. Ainda assim, é algo simples e fundamental. Talvez possa ser dito aqui que o Amor é a energia interior mais profunda. Sai Baba diz que o Amor é a energia que mantém todo o Universo. A compreensão do que é o Amor, no seu contexto mais puro, certamente tem sido profundamente diminuída. Talvez se possa dizer que tudo o que é expansão ou doação corresponde ao Amor. Sua expressão mais intensa resulta do equilíbrio e da coerência entre os vários níveis do ser humano. O Amor afeta todas as formas de vida, ajuda a superar todos os tipos de obstáculos e limitações, promove uma maior compreensão e aceitação de si mesmo e dos demais. O Amor verdadeiro transforma e talvez seja a única coisa capaz de promover a transformação. É por isso que o Amor de um professor tem um efeito tão grande sobre uma criança.

Foram feitos experimentos demonstrando a influência de pensamentos amorosos até mesmo no crescimento e floração de plantas. É a força do Amor que faz com que uma pessoa busque a felicidade para outra pessoa e encontre prazer no bem-estar do outro. Os pensamentos amorosos direcionam uma energia benéfica para a outra pessoa. Essa energia que flui para os demais passa primeiramente por quem ama. Assim, quanto mais uma pessoa emana Amor verdadeiro, mais ela se beneficia! O Amor é incondicional, é pura doação e é impessoal.

O Amor, nessa definição, não é uma emoção. Quando a mente se afasta do egoísmo, o coração se abre e a energia do Amor flui. O Amor é inerente a cada respiração e é a força motriz do corpo físico. A intensidade dessa energia pode ser aumentada com o controle das emoções. O controle emocional pode ser conseguido com exercícios respiratórios, inclusive com o canto. Como forma de aumentar o fluxo de energia amorosa entre os níveis da personalidade e com o exterior, recomendam-se algumas coisas simples:

! Expressar-se com doçura e suavidade, levando junto com as palavras a amabilidade e a ternura, carregadas com sentimentos de simpatia e alegria, gerando condições para que reine a compreensão e o entendimento mútuos.

! Desenvolver a aceitação, base para a paciência, a tolerância e o perdão. ! Cultivar a compaixão, por meio da bondade, da generosidade, da caridade, do apoio, da

dedicação e do cuidado. ! Ser grato por tudo e a todos, possibilitando amizades sólidas, fomentando a capacidade de

compartilhar e a sinceridade. ! Ter apreço pela harmonia e pela beleza. ! Buscar a contenção de impulsos, procurando preservar a pureza e a inocência, a fim de

preservar a felicidade interior.

Do ponto de vista da técnica, o PSSE desperta o Amor de diferentes formas. Uma delas é através do próprio Amor que o professor ou a professora emanam com todos os seus alunos e que deveria existir em toda a dimensão da escola. De outro, as várias técnicas, cada uma a seu modo, geram os meios para que o Amor gradualmente se expresse. A técnica particular relacionada a esse valor é o canto, que se torna natural o desenvolvimento de um sentimento de apreço pela harmonia da música, da apreciação da beleza através da arte e da grandeza da natureza.

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Particularmente, o canto em grupo cria um laço muito forte, como pode ser percebido por quem já cantou ou acompanhou o trabalho de corais. O canto fomenta o fluxo da energia do Amor. Durante o canto, a criança experimenta a riqueza do compartilhamento, a alegria, o valor da harmonia e a doçura do Amor. O Amor também pode ser fomentado por meio de atividades em grupo que promovam a compaixão, a bondade, a caridade, o cuidado com os demais, a dedicação, a generosidade, preparando o indivíduo para uma vida com completa Não-violência.

Não-Violência

Para uma pessoa embuída do espírito da Não-violência, todo o mundo é sua família. Não-violência, no sentido dado por Gandhi, por Sai Baba e pela Índia antiga, não é um conceito comum. De fato, é o valor mais abstrato e o mais difícil de ser alcançado. Quando os quatro valores já citados são praticados, então, a vida é vivida sem causar dano ou violação a qualquer pessoa ou coisa. É a aquisição mais elevada da vida humana, abrangendo o respeito por todas as formas de vida, vivendo em harmonia com a natureza, não causando danos através de ações, palavras ou sequer pensamentos. A Não-violência é, mais propriamente, um estado de compreensão universal.

O Programa aborda, principalmente, dois aspectos complementares da Não-violência, o psicológico, como a compaixão por todos; e o social, como a apreciação de todas as culturas, religiões e por todo o ambiente.

A Não-violência pode ser descrita como sendo o “Amor Universal”. Quando a Verdade é vislumbrada através do fluir da intuição, o Amor é ativado. O Amor é doação. Quando o fluxo interno de desejos está subjugado, um estado de Paz Interna se desenvolve e a Retidão é apenas natural. Tudo isso resulta em Não-violência, isto é, a não violação das leis naturais, que criam harmonia no ambiente natural e social. A Não-violência está relacionada com o aspecto espiritual do ser humano.

Viver de um modo a causar o menor dano possível a si mesmo, às outras pessoas, aos animais, às plantas e ao planeta é sinal de uma personalidade integrada e ponderada. Uma pessoa com tais qualidades está em sintonia com o aspecto espiritual de toda a humanidade e está em um estado interior de felicidade, permanente e parte de sua real natureza. É através de nosso aspecto espiritual que podemos experimentar o Amor Universal, que se caracteriza por:

! Um sentimento de respeito e admiração pelo universo. ! Um sentimento da unidade de tudo, de integração com o planeta, de amor por tudo o que há

nele e o sentimento de fazer parte do Todo. ! Um sentimento de universalidade, de irmandade, de fraternidade universal, resultando em um

desejo de fomentar a qualidade de vida a todos, por meio da solidariedade, da cooperação e da participação responsável.

! Uma tomada de consciência de um propósito na criação. ! Aceitação e respeito pela diversidade da família humana (outras culturas, outras raças, outras

religiões), respeito pela opinião dos demais, respeito aos sentimentos alheios. ! Respeito pela vida, pela terra, pelo ar, pela água, pelo ambiente, pelas plantas, pela natureza. ! Incapacidade de causar dano, respeitando inclusive o próprio corpo físico (com o uso

adequado de seus limites etc.).

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! Respeito à lei e à ordem, buscando promover a justiça social através de uma cidadania consciente, muito ativa e pacífica.

! Sentimentos de igualdade para com todos, tratando a todos com bons modos, consideração, cortesia, lealdade, sinceridade.

! Cultivo da compaixão e do perdão.

III.2. OS CINCO NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA TRABALHADOS NO INDIVÍDUO ATRAVÉS DO PSSE

O conteúdo do Programa está baseado no uso de cinco técnicas, as quais se relacionam com os cinco valores humanos absolutos já mencionados: Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não-Violência. Essencialmente, cada indivíduo é um Ser que se manifesta através da personalidade, com funções que podem ser classificadas em cinco níveis complementares: atuar, sentir, discernir, amar e ser[4].

Os cinco valores humanos básicos podem ser associados a valores correlatos ou relativos. Esses valores, fundamentais e relativos, abrangem as principais mensagens de todas as religiões. O professor, na aplicação do programa, trabalhará com os valores relativos para ajudar seus alunos a gradualmente compreenderem e praticarem os valores absolutos.

Frente à proposta de educação do PSSE, nos perguntamos: “Como é a criança que queremos ajudar?” Para responder essa questão, devemos conhecer a estrutura global dessa criança. Tradicionalmente, a educação preocupou-se, em especial, com o desenvolvimento intelectual ou mental, por meio da aquisição e acúmulo de informações e sua eventual utilização (embora quase nunca as crianças saibam a utilidade prática do que estudam), sendo dado ênfase apenas ao desenvolvimento de seus níveis físico e emocional. Uma personalidade integrada, no sentido dado pelo Programa, é uma síntese harmoniosa de “uma mente bem preparada, um coração de criança e mãos habilidosas”.

A metodologia do PSSE, bem como outras abordagens espirituais da educação, pretende agir harmoniosamente e de maneira integradora nos vários níveis de expressão da consciência. O Programa trabalha com uma classificação dos níveis internos de organização. Esse classificação –o que também se pode dizer sobre os valores– talvez encontre a concordância de muitos e a discordância de outros. Contudo, não deveria ser esse um empecilho para compreender as técnicas ou sua ação no universo interior das crianças. No PSSE, trabalha-se com cinco níveis de organização interna, o que poderá ser referido com cinco níveis de expressão da consciência. Esses níveis são trabalhados através das cinco técnicas, cada uma delas atuando em todos os níveis, mas sendo mais direta para um dos níveis.

Nível Físico O nível físico está relacionado com a ação. Envolve o desenvolvimento de um corpo saudável, dedicado à execução de tarefas necessárias para uma vida útil à sociedade e o desenvolvimento de bons hábitos, com a disciplina necessária para cumprir as metas propostas para a vida. A atuação íntegra desenvolve a auto-confiança, a coragem de empreender, a ética, a dignidade, a honra, a confiabilidade etc. Esse nível está associado ao valor da Retidão.

Nível Mental ou Emocional

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O nível mental ou emocional está relacionado com a utilização apropriada dos órgãos dos sentidos. As respostas emocionais à informação captada do mundo através dos sentidos devem estar sob o controle da consciência, de maneira que possam se tornar instrumentos do bem-estar individual e social. Quando experimentamos o equilíbrio emocional, experimentamos o valor da Paz Interior.

Nível Intelectual O nível intelectual é o que capacita o indivíduo para discernir entre o correto e o incorreto, o duradouro e o efêmero, o importante e o supérfluo, o real e o irreal etc. Nesse nível, são trabalhados os aspectos ligados ao desenvolvimento da capacidade da memória e ao aumento da intuição. Através desses instrumentos, podemos compreender o valor da Verdade.

Nível Psíquico “Psíquico”, aqui, é utilizado em seu sentido grego original (psykhé), que significa alma ou inteligência. Esse nível está relacionado com o aspecto da personalidade humana mais difícil de descrever, por ser a qualidade em cada um de nós, que culmina na fonte do Amor. O Amor, como foi comentado, não é uma emoção, um sentimento ou uma forma de relacionamento, mas uma energia que flui em cada ser. Essa energia pode ser direcionada a outro ser ou a outros seres, pode ser recíproca ou unidirecional; ela se expressa em todas as formas de relação. O fluir mais intenso do Amor requer o desenvolvimento do “aparelho psíquico”, isto é, da alma e dos instrumentos de que ela se vale para manifestar-se. A mente (fonte geradora de pensamentos e sentimentos) deve submeter-se ao intelecto (fonte do discernimento), aconselhado pela consciência. Da harmonia entre eles, experimenta-se essa energia suprema que a tudo envolve e que a tudo abarca, o Amor.

Nível Espiritual O nível espiritual é aquele em que se experimenta a unidade na diversidade. Nessa condição, é natural o estado de Não-violência, o que se aplica a todos seres vivos, à Mãe-Terra e ao Cosmos inteiro.

III.3. AS CINCO TÉCNICAS EDUCACIONAIS QUE COMPÕEM O PSSE

Harmonização – o contato com a Essência Divina Interior

“A harmonização cria uma ponte que nos conecta com a sabedoria interior, produzindo, assim, uma permeabilidade maior diante de qualquer aprendizado que se deseje encarar.”[3]

Sabemos que as emoções são como ondas: em um momento estão fortes e altas, e, no momento seguinte, estão fracas e reduzidas. Assim também são os pensamentos que, efetivamente, controlam nossos sentimentos. Um dito popular diz que somos o que pensamos.

Para não sermos vítimas da dualidade e da instabilidade mental, o segredo é reduzir nossos picos emocionais até que a onda não mais exista. Isso não diminui nosso estado de consciência. Pelo contrário, torna-a extremamente sensível, pois não é perturbada pela agitação dos pensamentos.

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Esse exercício propicia a verdadeira Paz. Esse valor pode ser definido como um estado de completa equanimidade, não estando sujeito às ondulações da vida, aos altos e baixos das emoções. A Paz, como um estado absoluto, pode ser obtida somente em uma plano mais elevado.

A técnica da harmonização ou de sentar-se em silêncio está relacionada ao nível mental ou emocional porque atua diretamente na tranqüilização dos pensamentos; ela fomenta os valores da Verdade e Paz Interior. A harmonização auxilia a capacidade de memorizar, de concentrar-se naquilo que é feito, tranqüiliza as emoções, aguça a intuição e confere a equanimidade mental[3].

A chave para abrirmos a porta desse mundo de equanimidade está em nosso interior. Através do ato de silenciarmos nossa mente, tudo o mais se acalma. Quando cerramos nossos olhos físicos e ativamos nossa visão interna, podemos entrar em sintonia com a Paz Interior. Esse estado sublime só pode ser alcançado quando entramos em comunhão com aquilo que nos confere a verdadeira paz: a essência de Deus em nosso interior. Isto é verdadeiramente harmonizar-se. Essa prática desenvolve a concentração, a auto-disciplina, o controle da mente, a força da vontade, aguça o intelecto, amplia o poder da memória, desenvolve a criatividade. Ao final, fornece muitos dos elementos necessários para o bom andamento acadêmico.

A harmonização é a primeira atividade em uma aula de Educação em Valores Humanos. O motivo é bem significativo: a prática dessa técnica resulta em uma concentração superior, melhor receptividade e um refinado poder de percepção. Com a estabilização dos pensamentos, desejos e emoções, uma nova perspectiva floresce. É importante que não só os alunos a pratiquem, mas principalmente o professor esteja em paz antes de começar a aula. A Paz Interior do mestre –que é o modelo de conduta para seus alunos–, através da prática constante das técnicas de harmonização, é fundamental para o desenvolvimento de uma aula frutífera e bem aproveitada[3]. Recomenda-se fortemente, portanto, que toda aula comece sempre com uma pequena harmonização.

Dependendo da faixa etária, do perfil cultural, do estado do grupo com que se está lidando e do próprio ambiente, pode-se utilizar um ou outro tipo de harmonização. Sentar-se em silêncio, por exemplo, é uma das maneiras mais profundas de se harmonizar, ainda que a mais simples de todas. Como o nome sugere, esta técnica consiste apenas em encorajar os estudantes a permanecerem sentados em silêncio por um ou mais minutos no início da aula todos os dias –o silêncio da boca, dos pés, das mãos, dos olhos e, o mais difícil, o silêncio da mente. Diz-se que o silêncio é a forma de comunicação mais efetiva, pois permite que o indivíduo se comunique com seu próprio Ser Interno. É somente em momentos de silêncio que o indivíduo pode refletir mais profundamente sobre sua própria conduta. É somente no silêncio que os lampejos intuitivos mais elevados são experimentados. O silêncio é a força por trás da inspiração criativa, que descortina uma nova dimensão de profundidade na personalidade humana. No início, quase sempre há dificuldade. Contudo, ao longo dos meses, as crianças adquirem não apenas domínio, mas também gosto pelo uso da técnica, a ponto dos alunos reclamarem se o professor começa a aula sem esse aquietamento inicial.

O professor tem, também, a opção de conduzir um ‘passeio’ dos pensamentos dos estudantes, ajudando-os a visualizar mentalmente as belezas da natureza e a grande benevolência do Absoluto. O leque da imaginação pode incluir todas as coisas que as crianças amam e admiram. Entretanto, a mecânica da harmonização depende principalmente da faixa etária dos alunos. Gradualmente, os estudantes começam a perceber a imensa satisfação que se deriva do estado de Paz Interior e passam a ter o interesse na realização da prática cotidiana. Eles podem ser

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encorajados a praticá-lo também em casa. ‘Sentar-se em silêncio’ pode ser usado pelo professor não apenas em uma classe de Educação em Valores Humanos (EVH) pelo método direto, como será visto à frente, mas em todas as classes de todas as matérias.

Para as idades de 7 a 12 anos, a harmonização deve ser uma prática que sugira à criança sentar-se calmamente durante 1 a 10 minutos. Os alunos nessa idade têm dificuldade para concentrar-se profundamente em um objeto. A razão principal para sentar-se em silêncio é o desenvolvimento de um hábito que, com o tempo, irá ensinar-lhes a importância do silêncio interior e exterior. Várias técnicas podem ser aplicadas para que se possa atingir este objetivo. A música, o relaxamento conduzido e a visualização são elementos que contribuem para a eficácia da harmonização.

Da idade de 12 anos em diante, pode-se trabalhar o conceito da essência divina interior ou o “Deus interno” –em tradições diferentes, encontram-se nomes diferentes para esse conceito, como Cristo Interno, Centelha Divina Interior, Ser Interior, Atma etc. O estudante deve perceber que a divindade é inerente a todas as pessoas irrestritamente e pode ser simbolizado pela luz. Todas as religiões falam da luz interior.

Outro método de harmonização é o relaxamento do corpo, especialmente para crianças mais agitadas. Alguns exercícios de conscientização corporal, com a ajuda de uma música tranqüila, pode trazer bons resultados para o início de uma aula até que, com o tempo, possa ser introduzida a prática do sentar-se em silêncio.

A oração conduzida também traz um resultado surpreendente. Se o grupo apresenta respeito pela oração, a prática ajuda a iniciar uma aula com disciplina, acalma os ânimos, faz com que as crianças se localizem e percebam a presença do professor em sala de aula.

Outra maneira de tranqüilizar uma turma agitada é o canto. A música é o liame que permite a conexão harmoniosa entre todos os estudantes ao mesmo tempo. O Anexo I tem como sugestão exemplos de orações, harmonizações conduzidas e meditações para as harmonizações.

Objetivos da técnica: • Aquietar a mente e as emoções. • Melhorar a concentração, a memorização e a receptividade. • Desenvolver a compreensão e a percepção dos detalhes. • Melhorar a qualidade da saúde e do trabalho. • Preparar o indivíduo para o desenvolvimento gradual da intuição. • Auxiliar o indivíduo a estar em sintonia com a voz da consciência dentro de si. • Ampliar no indivíduo a relação de amor para com os outros e para consigo mesmo.

Tipos de harmonização:

! sentar-se em silêncio; ! relaxamento; ! orações; ! músicas tranqüilas e canções devocionais; ! meditação;

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! visualização conduzida; ! focalização em um dos sentidos.

Citação – A Ponte para a Reflexão

No PSSE, a técnica relacionada com a compreensão da Verdade é a citação. A citação funciona como uma síntese sobre um tema abordado em aula, concentrando-se em uma mensagem ou conceito, a idéia ou o valor central contido num determinado assunto. O objetivo principal de se utilizarem citações como prática em aula é estimular na criança a reflexão e a capacidade de síntese. Existem diferentes formas de citação, como provérbios, ditados, aforismos etc. A habilidade de criar conceitos sintetizados em pequenas frases é típico da cultura popular. Esse poder de síntese contido em citações é conhecido e utilizado há talvez milhares de anos pela humanidade.

O fator central na mensagem é evidentemente seu conteúdo. Deve-se, para cada situação, buscar uma citação que corresponda ao conceito mais relacionado ao tema e que conduza, de forma clara e objetiva para cada faixa etária, à compreensão do que está sendo discutido. Exatamente por essas exigências é que não é fácil trabalhar apropriadamente com citações. Como meta mais importante, a citação deve levar o indivíduo a uma reflexão profunda. É necessário que a mensagem seja dotada de sabedoria para que cause uma impressão no intelecto. Assim, a verdade contida na citação poderá mais facilmente ser retida e fixada em nossa mente. Posteriormente, quando nos depararmos com situações que exijam um discernimento aguçado, nosso intelecto disporá dessas referências e enviará a intuição necessária para a tomada de decisões[3].

Tão logo a sabedoria contida na citação seja fixada, nossa mente começa a criar conexões entre a mensagem e as experiências vividas, identificando a relação entre a teoria e a prática. Ela induz o indivíduo ao questionamento, à argüição, à contemplação. No momento em que esse processo se desencadeia, estamos dando avançando em direção a uma visão ampla e profunda da vida. Os benefícios advindos dessa prática são virtualmente indescritíveis, pois nos coloca em contato com nossa realidade interna ou, em outras palavras, com a Verdade.

A respeito dessa maneira de ver a Verdade, é interessante citar os comentários de Frei Betto, em seu livro “Sinfonia Universal”, sobre a visão de Teilhard de Chardin. “Teilhard apresenta-se, à primeira vista, como um homem paradoxal. Sacerdote, desafiou o mundo científico. Cristão, nutriu-se nas fontes da espiritualidade oriental. Jesuíta, escreveu obras pouco ortodoxas à luz da doutrina católica de seu tempo. Homem da modernidade, ressacralizou o mundo, transformando-o num templo onde cada detalhe revela a presença inevitável do Divino. Nada de panteísmo e muito de panenteísmo. As coisas não são Deus, mas Deus está em todas as coisas.” Se está em todas as coisas, está na base de nós mesmos.

Essa técnica ajuda as crianças a absorver o conhecimento com o uso de sua própria reflexão para obter uma compreensão dos valores. É importante notar que, para as crianças, nossas conclusões sobre o que está por trás de uma citação não são o mais importante. No máximo, podemos estimular a reflexão dando alguns referenciais, porém, as conclusões mais relevantes serão as obtidas pelas próprias crianças, pelos jovens (ou pelos adultos), usando seus próprios discernimentos. Procure utilizar citações simples, diretas, de fácil compreensão para os alunos.

Objetivos da técnica: • desenvolver o discernimento e a capacidade de reflexão;

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• estimular o pensamento analítico; • propiciar o desenvolvimento da memória; • desenvolver idéias humanitárias; • compreender a verdade em seu aspecto tangível e intangível; • capacitar os indivíduos a se relacionar melhor entre si pela capacidade de ouvir e refletir

sobre a posição dos outros.

História – uma forma eficaz de se passar uma mensagem

Desde a aurora do conhecimento humano talvez não tenham inventado nada mais eficaz do que contar histórias quando o objetivo é passar uma mensagem. A história gera interesse, captura a atenção, deixa uma bela lição para reflexão e serve de referencial para direcionar ações. Um bom professor é essencialmente uma “coleção viva” de histórias. Elas destacam situações que têm paralelo com a vida e sugerem soluções. Elas também fazem uma ponte entre conceito e prática. As histórias acrescentam cor e variedade à situação da escola[3].

A história é, sem dúvida, parte extremamente importante de uma aula de valores, uma vez que através dela que será possível assimilar a mensagem abordada. Sathya Sai Baba costuma ilustrar parte de seus discursos com histórias.

É comum percebermos intelectualmente uma mensagem, uma idéia assim que lemos uma história ou escutamos a seu respeito. Mas é apenas quando encontramos semelhança, analogia e identidade entre a história e nosso cotidiano, nossa própria experiência, que esse processo se completa.

Os dois aspectos de contar histórias –a preparação e a apresentação– são igualmente importantes. A preparação deve ser completa, incluindo diálogos e outros recursos, enquanto que a apresentação deve ser dramática, incluindo expressão corporal, suspense e modulação. Mesmo um assunto potencialmente desinteressante e enfadonho pode se tornar vívido se forem usadas histórias para ensiná-lo.

As histórias têm impacto direto na conduta das crianças. Elas reduzem o tempo que se passa entre ações e conseqüências, algo que não ocorre no cotidiano, o que muitas vezes alimenta o sentimento de inconseqüência. Por isso, as histórias são extremamente úteis no cultivo da Retidão. Elas podem ser colhidas de qualquer fonte, tal como a própria história da humanidade, o folclore, a mitologia ou mesmo podem ser criadas especialmente para uma situação. Elas devem simbolizar os vôos da imaginação humana e plantar ideais heróicos e venturosos nas mentes das crianças. A importância das histórias não deve ser desprezada. É importante destacar que contar histórias é um método muito eficaz para desenvolver valores e que deve ser usado extensivamente.

Segundo Sathya Sai Baba, o indivíduo traz dentro de si toda a beleza, toda a sabedoria, todos os valores, pois sua natureza é a própria divindade. Entendemos, assim, que o essencial da educação não é ensinar ou fornecer informações que se encontrem fora do indivíduo, mas sim estimular seu potencial a florescer a partir do interior. Logo, a história não deve ser uma forma de imposição de idéias moralistas. A seleção de histórias, portanto, precisa ser feita com muito cuidado. Isso é muito importante, pois o uso de histórias inadequadas pode usar todo o potencial da técnica para gerar efeitos indesejados. É preciso que as histórias contenham, de fato, os

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valores que pretendemos trabalhar. Sua mensagem deve ser positiva, ou seja, não enfatizar conflitos, desavenças etc.; na verdade, a ênfase deve estar na solução[3]. Contudo, para que seja possível atingir os objetivos ao se contar uma história, é preciso, antes de mais nada, que se leve em conta a idade, o nível de compreensão e o contexto cultural e regional do grupo dos alunos, incluindo a linguagem usada. O bom senso é sempre indispensável. Por último, é bom lembrar que, para contar bem uma história, ela deve ser agradável também para quem conta.

Em resumo, na escolha da história, é preciso:

! levar em conta a idade ou o nível de compreensão do grupo de alunos;

! não apenas que a história contenha um valor relativo, mas que, ao contá-la, nós tenhamos claro quais valores são subjacentes ao enredo;

! que a história seja agradável para quem a conta;

! que a história tenha um enfoque positivo.

Há diferentes tipos de histórias e diversas formas de contá-las. Os contos, especialmente os clássicos, são histórias que geralmente não ocorrem em uma época determinada, não contêm uma moral explícita, mas fundamentos implícitos. Assim, pode-se usá-los para qualquer idade, desde que o conto seja apresentado de forma objetiva para que as metas não se percam em meio às fantasias do conto. Há também contos mais atuais, com personagens mais reais e comuns. Há uma infinidade de autores na literatura infantil inclusive brasileira cujos livros são excelentes e perfeitamente adequados aos objetivos do Programa Educare. É sempre importante lembrar que um dos fundamentos do PSSE é que o desenvolvimento dos valores deve ser feito dentro do contexto da cultura de um país e de uma região. Assim, há histórias de caráter universal, mas os contos regionais e próprios da nossa cultura têm uma força especial na construção de um referencial de valores em uma nação particular.

As fábulas, por sua vez, trazem a “moral da história” de maneira explícita. Normalmente são curtas e com freqüência os personagens são animais. As fábulas de Esopo e de La Fontaine são particularmente famosas. Muitas delas podem ser usadas em nossas classes, desde que sejam apropriadas para a faixa e etária e para as metas da aula.

As parábolas são narrações alegóricas, também muito usadas para elucidar valores humanos. As parábolas contêm conjunto de elementos que evocam, por comparação, realidades de ordem superior.

Os relatos e biografias tratam da vida de mestres virtuosos da humanidade, homens santos ou líderes éticos contemporâneos, além de relatos do próprio cotidiano que sejam exemplos de virtude. Pequenos incidentes do cotidiano da própria comunidade, em que uma pessoa simples e conhecida mostra uma capacidade de sacrifício e dedicação pelo coletivo, podem ser de grande valor em nossas aulas, especialmente entre os adolescentes. Esses exemplos reais, de pessoas do nosso tempo e de nosso lugar, são capazes de inspirar posturas dedicadas e altruístas nos alunos.

Fábulas, contos, parábolas, relatos e biografias de grandes humanistas –essas são formas de trabalhar valores em qualquer faixa etária. O uso de cada uma depende das circunstâncias e cabe ao professor exercitar seu discernimento. As histórias devem ter um significado na vida diária. Espiritualidade e vida cotidiana não são coisas separadas! Isso é muito importante. A separação criada entre ambas talvez seja responsável por boa parcela dos problemas que vivemos, uma vez

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que jamais faltou ensinamento ético e espiritual na história da humanidade! Portanto, é importante assinalar a relação que existe em cada história com a prática diária –nossa e das crianças. Aos poucos as crianças dão-se conta de que, ainda que as circunstâncias mudem, determinados valores são perenes: essa é a idéia por trás do conceito de Verdade.

As histórias devem ser apropriadas ao nível de conhecimento da criança. Assim, é melhor limitar o número de histórias a respeito de eventos sobrenaturais para crianças com idade inferior a oito anos de idade. A onipresença da consciência do Absoluto é um conceito bastante abstrato e é melhor compreendido por crianças maiores. As histórias devem ser relacionadas com o dia-a-dia das crianças menores. A capacidade intelectual para compreender idéias abstratas, relacionar eventos históricos com o presente, aparece depois dos 13 ou 14 anos.

As idéias e as palavras usadas nas histórias devem ser apropriadas ao nível das crianças e conter alguma referência a seus ambientes. Uma boa técnica é colocar-se no lugar da criança, o que instintivamente nos ajudará a encontrar o vocabulário e o estilo apropriados. Contudo, é necessário não criar uma simplificação exagerada, pois desmerece e subestima as crianças, jovens ou adultos.

Um outro elemento importante é que as histórias a serem contadas devem deixar os professores à vontade. Se os professores se sentirem desconfortáveis ou com dúvidas sobre o significado da história, isso gera conflitos ou ausência de um foco claro na mente das crianças, que detectam facilmente as hesitações e os sentimentos dos professores. Lembrem-se de que as crianças relacionam-se mais com nossos sentimentos do que com o que falamos. Compreendam a história, conheçam-na bem, discutam seu significado com outros professores, pratiquem em voz alta ou usem um gravador. Um mestre deve sentir a essência da história em seu coração e dar-lhe vida com sinceridade e entusiasmo. A relação entre o professor e cada aluno deve ser tal que cada criança sinta que a história é contada para ela.

A história não estará completa sem uma sessão de perguntas e respostas. Depois de contá-la, o mestre poderá fazer perguntas para averiguar se todos compreenderam bem seu enredo. Embora queiramos que as crianças compreendam a história, é necessário muito cuidado para que não pregarmos moralismo. Moralismo implica em controle da moral alheia. A postura ética ou de moralidade, diferentemente, corresponde ao desenvolvimento de nossos valores. Ajudamos as crianças a desenvolver um sistema de valores, mas não “pregamos” nelas os nossos valores. Certamente é necessário treino para que consigamos fazer a condução de uma discussão e não uma indução de conclusões! Assim, as perguntas podem ser de quatro tipos[4]:

! sobre fatos; ! referenciais (somente para verificação de compreensão); ! inferenciais; ! de avaliação (para verificar a compreensão do significado; os alunos devem inferir a moral da

história sem que o professor a diga diretamente).

A voz deve ser clara e suficientemente forte para que todos a ouçam. Deve-se colocar expressão através da modulação da voz, mais suave ou mais forte, junto com movimentos das mãos e expressões faciais. Isso evita uma narração linear e monótona.

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As histórias não devem ser lidas! Os olhos nos olhos são uma grande força na transmissão do conteúdo, de modo que as histórias devem estar introjetadas nas crianças. Devem ser contadas de forma lúdica, interessante, chamativa. As crianças recordam melhor a história quando são utilizados elementos visuais. Tornem-nas vívidas. Isso desenvolve a imaginação e a criatividade. Mantenham contato visual com as crianças. Façam perguntas durante o relato da história a fim de criar surpresa, suspense e manter o interesse dos alunos, fazendo-os pensar. Isto é, misturem o contato com o ouvinte junto com a narrativa. Contar histórias é definitivamente uma arte que se desenvolve ao longo do tempo!

Algumas técnicas podem contribuir para que a história tenha mais vida[4]:

! usar desenhos e símbolos para ilustrar a história; ! dramatizá-la com os alunos; ! gravar a história com efeitos sonoros; ! usar um quadro de giz; ! fazer figuras ou utilizar objetivos e movê-los à medida que se conta a história; ! mostrar filmes e fazer com que as crianças escrevam o argumento; ! fazer com que as crianças escrevam a história como se fosse um fato cotidiano; ! escrever uma publicação periódica acerca da história; ! fazer como num estúdio de televisão, onde se desenvolvem as diferentes cenas da história; ! fazer marionetes e contar a história através deles; ! fazer um mapa no piso, com fita adesiva, e fazer com que os alunos sejam os personagens da

história enquanto se movimentam; ! contar parte da história e deixar que os alunos adivinhem o final; ! fazer com que um visitante disfarçado conte a história; ! usar fantasias; ! fazer com que uma criança maior aprenda a história para contá-la às menores; ! fazer jogo de sombras com a história; ! fazer com que as crianças leiam a história em forma coral ou de jogral; ! imprimir o texto da história, cortá-lo em partes e pedir que as crianças a montem na ordem

correta; ! ilustrar a história com desenhos e fazer com que as crianças a contem; ! fazer da história parte de sua vida: pense nela, desfrute dela e ajude as crianças a

compreender as maravilhas de Deus em todas as suas formas.

Objetivos da técnica: • Mostrar que por trás do caráter há unidade entre pensamento, palavra e ação. • Mostrar que toda pessoa integrada tem a seu crédito grandes realizações. • Ajudar a florescer boas qualidades sem que haja um veículo intelectual ou de pregação, pois

são os personagens –e não o contador– os portadores de pontos de vista dentro do contexto de ações.

• promover a reflexão sobre a relação entre ação e conseqüência. • desenvolver a capacidade de concentração e o interesse. • despertar a vontade de executar ações altruístas, solidárias e de sacrifício. • instilar uma conduta adequada da criança.

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• desenvolver a imaginação e a criatividade em situações construtivas. • Trabalhar o valor da Retidão.

Canto em grupo –uma forma de abrir o coração

Essa técnica está relacionada ao nível psíquico e, conseqüentemente, à manifestação do Amor. O canto em grupo e a música, por si só, são meios eficazes para abrir o coração, fazendo aparecer sentimentos de harmonia, cooperação, amizade, alegria etc.

Como diz um poeta anônimo: “Canto porque falar não podemos fazer juntos: por isso canto.” O canto em grupo deve estar direta ou indiretamente relacionado com o valor trabalhado na aula, podendo ou não referir-se a uma história. Essas canções podem ser músicas já existentes ou criadas pelos próprios alunos e/ou pelo professor[3].

É preciso, entretanto, saber selecionar bem as músicas, já que a mensagem que está sendo passada na letra deve ser positiva e inspiradora, ressaltando a prática dos valores. Aqui também é necessário considerar as ligações com as raízes culturais de um país e de uma região. Além disso, deve-se ter cuidado para não escolher músicas que estejam relacionadas a um contexto de violência, consumismo, preconceito, ou a valores que degradam a pessoa humana ou desagregam, e que não pretendemos incentivar em nossos alunos. Mesmo que a letra da música seja adequada, é preciso considerar fatores relacionados a hábitos derivados do estilo musical em questão. Para isso, é preciso que o professor tenha bastante discernimento. Com adolescentes, dependendo da disposição dos professores, pode-se utilizar letras do repertório popular muito inspiradoras, mesmo que seus autores não sejam os melhores modelos... Isso pode ser discutido, com o devido cuidado, com os jovens. É interessante não gerar nos jovens um processo de negação de seu tempo, de sua idade e de sua cultura, mas sim desenvolver neles um processo de discernimento, para que eles aprendam a analisar, avaliar e decidir. O repertório da música popular contém reflexões muito bonitas e muito profundas. Precisamos enxergar os valores à nossa volta. A auto-negação e a negação dos valores excepcionais que estão em nossa cultura são processos muito negativos, embora também haja indução de valores muito perniciosos através da música popular.

O tipo de música a ser usada em aulas de Educação em Valores Humanos está muito relacionado à faixa etária e são várias as possibilidades. Com crianças pequenas, uma delas é criar brincadeiras ou gestos com o corpo relacionados à música. Essas práticas podem ser muito favoráveis para o desenvolvimento de coordenação, da criatividade e, ao mesmo tempo, a auto-confiança, já que tais virtudes se fazem presentes no processo de elaboração da canção e do gestual.

A técnica do canto em grupo pode ser feita junto com outras técnicas do Programa: pode-se contar uma história utilizando o canto; pode-se fazer uma melodia para uma citação ou uma frase; pode-se realizar atividade cooperativa em que as crianças façam seus próprios instrumentos; pode-se colocar um fundo musical na harmonização etc. As possibilidades são virtualmente ilimitadas.

Pode-se cantar músicas devocionais, inspirando, assim, a devoção nas crianças, desde que o cântico tenham valores humanos aceitos universalmente, não gerando resistências por diferenças religiosas. Isso ajuda as crianças a enxergar o que é comum entre as várias tradições religiosas e a

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respeitar a diversidade de tradições, ao invés de dar ênfase às diferenças. Contudo, o professor deve ter muito cuidado para não forçar sutilmente seu próprio ponto de vista.

Tanto o canto que trabalhe especificamente valores, como os que têm um caráter mais devocional devem ser praticados com bastante concentração e, de preferência com os devidos cuidados na afinação. A beleza da música é um instrumento simples e poderoso para se purificar a mente. A beleza proporciona uma consciência do sentido de unidade da vida e ajuda a libertar da ansiedade, medo e preocupações –como se diz, quem canta, os males espanta. O canto também desenvolve auto-confiança nas crianças. A presença de Deus ou de qualquer princípio universal é “invocada” quando as pessoas se juntam e cantam em Seu Nome. O canto devocional tem um efeito curativo sobre o corpo e mente. Como cantar em grupo é intrisicamente a construção do belo em conjunto, ela desenvolve o sentimento de Amor.

Ao ensinar uma nova canção:

! pronuncie as palavras lentamente e no ritmo da canção –os alunos devem repeti-la em seguida;

! explique o significado das palavras; ! cante lentamente e faça com que os alunos repitam; ! cante a canção no andamento correto; ! repita a nova canção durante várias semanas para que as crianças se familiarizem com ela.

As crianças possuem cordas vocais muito delicadas e deve-se ter cuidado para que não se danifiquem pelo esforço por tempo demasiado, por excesso de volume ou por cantar notas muito altas ou graves. De um lado, aos poucos, sua voz, sua afinação e seu sentido musical melhorarão. Algumas crianças não têm um timbre particularmente bonito, mas ainda assim devem ser estimuladas a cantar. É um erro associar a beleza da música ao timbre (isto é, à beleza da voz) de quem canta. Isso muitas vezes provoca baixa auto-estima e um bloqueio desnecessário em crianças com um timbre menos destacado. Finalmente, procure evitar que o canto desenvolva vaidade –e o professor deve ser cuidadoso para que ele mesmo não crie essa diferenciação. Ajude as crianças a perceber que ter uma determinada habilidade desenvolvida é uma bênção, mas que não há porque achar que nos tornamos melhor que os outros por isso. A compensação de nossos sentimentos de inferioridade com o desenvolvimento de arrogância por nossas habilidades é um engano comum em nossa sociedade. O valor intrínseco das pessoas não é aumentado ou diminuído pelas habilidades.

Usar gravadores também estimula as crianças –elas apreciam muito escutar-se cantando; podem-se arquivar as gravações para observar o progresso. Estimule as crianças a bater palmas enquanto cantam. Os alunos apreciam tomar notas em seus próprios cadernos de cânticos. Deixe que os alunos escolham as canções que desejam cantar (a lista pode estar em um quadro) antes de a aula começar. Assegure-se de que todos tenham suas oportunidades, no decorrer das semanas.

O acompanhamento melhora o canto e cria maior interesse nos alunos. Para crianças menores, há recomendações para evitar instrumentos elétricos ou eletrônicos, músicas gravadas e um ritmo muito fixo. A sonoridade natural, instrumentos de madeira ou metal, e alguma liberdade com o ritmo é importante nas idades mais tenras. Para crianças maiores, sugere-se:

! violão, teclado etc.;

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! instrumentos de ritmo; pequenos tambores, pratos, tamborins etc.;

! que os alunos fabriquem alguns de seu instrumentos;

! marcar o ritmo com palmas, que ajuda a manter constante o andamento.

Para cantar, os alunos devem sentar-se com a coluna ereta, para controlar melhor a respiração. O sistema humano possui um ritmo próprio. Quando uma pessoa se sente bem, o coração bate suavemente, em um ritmo agradável. Sempre que alguém está com raiva, aborrecido ou perturbado, a batida torna-se acelerada e errática, desprovida de um ritmo mais constante. Na verdade, no corpo humano, postura e equilíbrio têm uma correlação direta com o ritmo do corpo. Quando exaltado, o homem deixa de seguir seu ritmo natural ou, dizendo de outro modo, de compartilhar do ritmo do Cosmos. A música e o canto em grupo são as armas mais poderosas para colocar o sistema humano em harmonia. Quando as crianças cantam juntas, elas também tornam realidade o valor da cooperação, pois mesmo se apenas uma delas cantar outra música ou em outra afinação, a canção será perturbada. Cantar estimula a memória, promove a paz, o amor e a apreciação, carrega o ambiente de vibrações harmoniosas e, acima de tudo, envolve o indivíduo em um sentimento de alegria. O canto em grupo pode ser de natureza variada: patrióticos, devocionais, ligados à Natureza, ligados à amizade ou inspirado em algum outro valor. Qualquer coisa aprendida através de canções permanecerá por muito mais tempo na memória e será mais fácil de ser recordada.

O professor deve, então, encorajar os estudantes a cantar juntos. A auto-confiança da criança amplia-se ao longo do processo. Todas as ocasiões ao longo da rotina escolar podem ser aproveitadas para ensinar canções inspiradoras, como a assembléia matinal, classes especiais, festivais e celebrações na escola, além de situações incidentais.

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Objetivos da técnica: • desenvolver a apreciação estética e o sentido de participação na construção conjunta do belo; • manter a serenidade e o equilíbrio; • desenvolver a harmonia e o ritmo internos; • propiciar a cooperação entre os alunos; • possibilitar a melhoria da memória; • aumentar a sensibilidade; • melhor a vibração do ambiente; • aumentar a alegria; • desenvolver o sentimento do Amor.

Atividades coletivas –despertando a consciência da unidade

Trabalhar em grupo é uma prática que ajuda a despertar a consciência da unidade entre indivíduos de todas as idades. Saber compartilhar, dividir, cuidar, cooperar e compreender o outro são tarefas um tanto difíceis quando não estamos suficientemente imbuídos de amor e do espirito de fraternidade. Ainda que se repita extensivamente que a educação deveria ensinar a trabalhar em grupo, quase sempre isso fica apenas na retórica. De fato, não é fácil opor-se à enorme pressão que recebemos de uma cultura altamente individualista. As atividades em grupo permitem que o ser humano coloque em prática as virtudes que o elevam e o aproximam dos outros[3].

As atividades coletivas propiciam a consciência de grupo, de unidade, de cooperação entre os alunos. Nelas, não há competição. Apenas há sucesso no trabalho quando todos têm sucesso individualmente. Como há um único projeto sendo executado, “meu” sucesso depende do sucesso do outro e eu torço por ele. De fato, uma família, a economia, uma sociedade, toda a humanidade, a natureza e o universo são entidades em que suas partes estão profundamente interligadas. É um engano achar que uma parte pode “se dar bem” independentemente do todo. Esse é um dos piores equívocos do nosso tempo e uma das causas da miséria social e humana atuais. O sucesso de cada uma das partes é indispensável para o sucesso do todo; o sucesso do todo é o sucesso de todas as partes. Nós não somos separados.

As atividades coletivas pressupõem a participação de um grupo de estudantes ou mesmo da classe inteira. Essas atividades podem dar-se tanto dentro como fora da sala de aula. A Não-Violência é o valor trabalhado com essa técnica. Jogos de faz-de-conta, testes de desenvolvimento de atitudes, jogos de motivação, dramatizações, mímica, debates, trabalhos corporais, atividades artísticas realizadas coletivamente (colagem, desenho, pintura), pirâmides humanas e brincadeiras são algumas entre muitas das atividades que podem ser utilizadas para aflorar esse valor.

As crianças são, por natureza, dinâmicas e as atividades em grupo ajudam o professor a canalizar suas energias e promover um senso de disciplina, cooperação e complementação mútua. A idéia básica é permitir a interação de modo que um processo de aprendizado multidirecional ocorra. Todos os valores humanos podem ser promovidos através de atividades em grupo e, embutidos em jogos e outros eventos, os valores constróem para si um lugar na personalidade das crianças. Uma vez que as possibilidades são ilimitadas, o professor pode criar centenas de situações para transmitir uma determinada mensagem. Esses jogos e atividades também podem ser construídos em cima de situações e incidentes da vida real.

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Essa técnica serve também como reforço. Tudo que é aprendido e compreendido é testado no laboratório das situações simuladas. Isto é necessário, pois a escola se comporta como um mini-mundo, onde a criança deve obter confiança em que os hábitos aprendidos por ela são eficazes para sua vida, permanecendo integrados em pensamento, palavra e ação. As atividades coletivas testam, por assim dizer, a formação de todos os demais valores. De fato, a criança desenvolve a confiança de que uma pessoa integrada possui maior capacidade para enfrentar com sucesso os desafios da vida.

A combinação de técnicas a serem usadas é uma decisão do professor e depende de diversos fatores. Para isso, não há melhor juiz que o próprio professor, pois somente ele conhece as crianças e os objetivos em cada situação.

Objetivos da técnica: • desenvolver e cultivar no aluno o sentimento de cooperação; • desenvolver o sentimento de unidade; • desenvolver a integração entre pensamento, palavra e ação; • desenvolver a auto-confiança, a auto-disciplina e a auto-estima; • capacitar o aluno para enfrentar desafios; • canalizar a energia das crianças em atividades sadias; • desenvolver a capacidade de aprender com os demais; • tomar consciência da existência da diversidade (opiniões, aptidões, atuações).

III.4. DINÂMICAS

Os aqui chamados valores absolutos e relativos, ainda que façam parte da linguagem e, de modo geral, sejam conhecidos de todos, não há muito espaço atualmente na sociedade para refletir e conversar mais profundamente sobre eles. De fato, nossa compreensão de muitos dos valores normalmente é superficial e é comum não conseguirmos transpô-los para a prática ou evitar contradições em situações críticas –de outro modo, o mundo não atravessaria uma fase tão crítica como a que vemos hoje... Assim, antes de pretendermos “transmitir valores” às crianças, é especialmente importante que tenhamos bastante clareza sobre o que estamos falando e que sejamos nós mesmos exemplos do que queremos ensinar.

Essa reflexão mais profunda sobre os valores e sua vivência por parte dos professores pode ser feita através de dinâmicas. Uma delas é utilizar isoladamente algumas das técnicas do Programa Sathya Sai[4]. Pode-se dividir o grupo participante em subgrupos e aplicar uma das técnicas como tema a ser trabalhado, com a conscientização de um valor particular. Uma pessoa do grupo pode, por exemplo, preparar previamente uma história com ênfase em um valor, promover uma discussão lançando perguntas após a história, fazendo um paralelo sobre como vivenciar o valor escolhido no cotidiano ou como mantê-lo em uma determinada situação difícil. Pode-se aplicar com o grupo, também, uma harmonização mais elaborada, de modo que os participantes consigam sentir ou refletir, através de uma meditação ou uma interiorização, sobre o valor escolhido.

A música é um elemento que cria grande integração entre as pessoas. Mas o canto em grupo, como prática isolada em uma dinâmica, talvez não seja suficiente para aprofundar uma reflexão entre os participantes. É necessário escolher um conteúdo a ser pensado, comentado, compartilhado.

Uma outra forma de aplicar dinâmicas é através de painéis. A linguagem visual tem um poder bastante grande e podemos usar as imagens de maneira positiva e engrandecedora. A construção

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de painéis ou cartazes que mostrem ou criem uma situação para trabalhar certo valor é uma prática bastante eficaz. Por exemplo, pode-se fazer uma figura que mostre duas pessoas no trabalho apertando as mãos: deduzem-se todos os valores das relações entre companheiros de trabalho, como cooperação, solidariedade ou honestidade, particularmente buscando os mais sutis e difíceis, procurando sair do que é óbvio. Depois da exposição do painel, podem ser feitas perguntas que tenham relação com a imagem apresentada. Disso pode surgir um debate produtivo para a prática dos valores humanos no dia-a-dia.

O Anexo II apresenta exemplos de dinâmicas de grupo que poderão reforçar ou trabalhar de modo mais profundo os valores escolhidos. No planejamento das sugestões de aulas apresentadas no Capítulo 2, são sugeridas dinâmicas apropriadas para cada lição. No entanto, nada impede que as dinâmicas sejam aplicadas em outras lições ou mesmo em outras unidades do Programa, adaptando-as às necessidades e características do grupo de estudo de Valores Humanos.

III.5. RELAÇÕES ENTRE OS VALORES HUMANOS, AS TÉCNICAS DO PROGRAMA

E OS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA

Para a formação de um caráter íntegro, é necessário desenvolvimento equilibrado de todos os níveis e, igualmente, de todos os valores. Apesar de o Programa conter especificamente cinco metodologias para o florescimento dos Valores nos indivíduos, ele é, na verdade, ilimitado. Cada técnica oferece uma gama infinita de abordagens que possibilitam ao professor utilizar toda a sua criatividade[4]. De fato, qualquer das técnicas trabalha todos os valores em alguma extensão.

A tabela a seguir apresenta o inter-relacionamento entre os Valores Humanos, as técnicas desenvolvidas em uma aula, os níveis de consciência trabalhados e a forma de atuação de cada uma das técnicas.

Quadro-resumo sobre o inter-relacionamento dos cinco valores humanos, as cinco técnicas e os cinco níveis de consciência[35]

VALORES TÉCNICAS

NÍVEIS DE

CONSCIÊNCIA ATUAÇÃO

PAZ INTERIOR

HARMONIZAÇÃO MENTAL/ EMOCIONAL

Pensamentos / Sentimentos

VERDADE CITAÇÃO OU PROVÉRBIOS

INTELECTUAL Discernimento / Intuição

RETIDÃO HISTÓRIAS OU CONTO

FÍSICO Atuação (Palavra e Ação)

AMOR CANTO EM GRUPO

PSÍQUICO Fluir da energia do Amor

NÃO- VIOLÊNCIA

ATIVIDADE EM GRUPO

ESPIRITUAL Ser / Compreender

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O PSSE usa as cinco técnicas relacionadas acima. Valores são, evidentemente, entidades muito abstratas e não é possível querer –e sequer é objetivo do Programa– fazer uma transmissão intelectual dos valores para crianças. O uso desse conjunto de técnicas ou atividades, portanto, pretende inserir no processo educacional a construção de um sistema de valores e desenvolvimento gradual pelas crianças de sua compreensão e de sua prática. Contudo, o Programa não tem uma abordagem tecnicista. Nos últimos séculos, surgiram inúmeras técnicas pedagógicas, baseadas em uma quantidade de teorias educacionais e psicoeducacionais. Todas elas têm méritos e algumas têm grande consistência. Ainda assim, há uma crise grave na educação em todo o mundo.

Os valores podem, evidentemente, em muitas situações ser desenvolvidos sem o uso de técnicas particulares. De fato, os valores são próprios da natureza humana. Eles sempre existiram e são imanentes na cultura. As técnicas, portanto, são apenas um meio de fazê-los desabrochar no contexto educacional atual. No entanto, a influência contrária aos valores próprios do ser humano exercida na sociedade hoje é impressionante. Nesse cenário, as técnicas são eficazes e ajudam muito. O Programa propõe uma metodologia que trabalha harmoniosamente e de forma integradora os níveis de consciência da criança. O segredo do processo educacional certamente não está nas técnicas, mas na intenção, na postura, no grau de consciência do professor e do corpo de educadores de uma escola, e da consistência na execução do projeto educacional. Há pequenas escolas rurais que são exemplos verdadeiros de desenvolvimento de valores na educação. Muitos professores não precisam de recorrer a técnica alguma: eles mesmos são fontes inspiradoras dos valores humanos.

Até recentemente, alguns aspectos do Programa de Educação em Valores Humanos eram trabalhados como relativamente independentes –ou pelo menos não eram enfatizadas as interconexões entre os vários valores e entre as técnicas. Dessa maneira, é importante ficar claro que, apesar da apresentação em separado das cinco técnicas, elas são, na realidade, interligadas. É fundamental que o professor utilize sua criatividade, ao fazer uso das técnicas, para que a inter-relação entre elas seja realçada. O canto também desenvolve a Paz e é uma atividade de cooperação. As atividades cooperativas certamente trabalham o Amor e realçam o sentimento de Retidão. As histórias trabalham o conceito de Verdade e as citações criam uma reflexão que resulta em Paz Interior. De fato, os valores são apenas aspectos diferentes da mesma essência humana e não se pode separá-los. O desenvolvimento de um ocorre em paralelo com o desenvolvimento de todos.

III.6. OUTRAS ATIVIDADES QUE PODEM SER UTILIZADAS NO PSSE

Círculos de estudos –reflexões em grupo

O Círculo de Estudos é uma atividade em grupo muito salutar para alcançarmos alguns objetivos espirituais. Saber ouvir, respeitar a opinião dos outros, a disciplina, a paciência, o comedimento no falar e o bom uso do tempo são apenas alguns dos benefícios que tiramos dessa prática[4].

Já existe alguma literatura sobre o Programa Sathya Sai Educare em português, com textos profundos e que permitem boas reflexões em grupo, em círculo de estudos. Além disso, há muitos textos que não são ligados ao PSSE que são muito profundos e apropriados para essa reflexão. Esse trabalho de pesquisa e de seleção de material a ser estudado é uma grande dádiva para quem o faz, porque confere um grande aprendizado adicional! Para o desenvolvimento de

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um círculo de estudos, podemos também incorporar perguntas para motivar no grupo o potencial de reflexão. Vejamos um exemplo, com base em dois textos de Sai Baba.

O que me impede de conquistar a paz?

“A paz do indivíduo, assim como a paz do mundo, depende da mente. Assim, há a necessidade da disciplina própria da mente. Como um peixe nadando contra a correnteza a fim de salvar-se dos perigos, o homem deve combater os maus pensamentos, protegendo-se dos perigos. Baseado nas diferenças da natureza da mente, diferentes cores são atribuídas a ela. Por exemplo: a mente preenchida de raiva é vermelha. Uma mente egoísta é marrom. A mente egocêntrica é alaranjada, enquanto que a mente dedicada a Deus é branco puro. Atualmente, o mundo está envolto em medo. Se estão em casa, nas ruas ou enquanto viajando em um trem, ônibus ou avião, as pessoas estão assustadas pelo medo. A causa principal para esse ambíguo medo é a falta de pensamentos puros e sacros na mente dos homens. Todo o mundo se parece com um labirinto preenchido de medo em cada canto.” (Summer Showers in Brindavan - 1990[4])

“Todos rogam por paz, dizendo: ‘Eu quero paz’. Mas a paz pode ser encontrada no mundo externo? A paz tem de ser encontrada no interior do indivíduo. Se vocês se tornarem conscientes da presença de Deus em seu interior, e da presença do mesmo Deus em tudo o mais, não haverá nada que possa ser equiparado à paz e à alegria que vocês obterão. Quando o homem pensa, fala e age por caminhos virtuosos, sua consciência será purificada e ele obterá a paz interior. É dito que conhecimento é poder; mas virtude é paz.” (Sathya Sai Baba, p. 41[3])

Para dar início ao estudo, o coordenador do círculo pode colocar algumas questões:

— A paz é realmente importante? — Por que se perde a paz? — O que é preciso para conquistar a paz? — O que é preciso para manter a paz? — Qual é a relação entre as emoções e a paz? — Se tranqüilizo minha mente, sou capaz de tranqüilizar minhas emoções? — Se controlo meus pensamentos, estou propenso a conquistar a paz? — É possível manter os pensamentos e as emoções sob controle?

Se as pessoas começam a atividade refletindo sobre estas questões, colocando suas visões, o texto escolhido para o círculo de estudos aparece posteriormente como uma onda de sabedoria, que ajudará o grupo a interiorizar o assunto abordado. Essa é uma das maneiras de conduzir a discussão. Também se pode começar o processo de reflexão abordando primeiramente o texto escolhido, lendo-se parágrafo por parágrafo. Em um segundo momento, os participantes colocam sua visão sobre o que entenderam do que foi lido.

Com essa técnica, são essenciais: o cuidado com a paciência, o respeito pela opinião dos outros, o uso do poder de síntese etc. Muitas vezes, em discussões em grupos, há a tendência de alguns falarem muito ou pretender-se que haja uma única maneira de ver o assunto. O objetivo do grupo

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de estudo não é estabelecer uma “verdade”. A Verdade existe por si só, mas há muitas perspectivas sobre ela. Diversos pontos de observação de uma montanha não mostrarão imagens idênticas, mas ainda assim a montanha é uma só. O importante no grupo de estudo é a reflexão que cada um faz do material e não a imposição de um ponto de vista único ou uma conclusão final. Além disso, é necessário uma disciplina sobre o uso do tempo, algo difícil para muitas pessoas! A pessoa encarregada da condução do grupo deve cuidar que ninguém domine o debate ou que ele se estenda demasiadamente. Se o objetivo é o desenvolvimento de valores, seria importante que todos falassem docemente. Finalmente, boas opiniões não são apenas aquelas por trás de uma oratória diferenciada. Algumas pessoas que falam com timidez ou até dificuldade de expressão têm opiniões muito especiais sobre as coisas. Ouvi-las é uma bênção!

Palestras – um ato de serviço

As palestras são sempre atividades muito ricas, produtivas e incentivadoras. Ouvindo, refletimos e somos estimulados a agir. É importante e agradável que pessoas que já trabalhem com o Programa Sathya Sai Educare sejam convidadas a falar sobre valores humanos. No entanto, é importante que novos participantes dos grupos também sejam convidados a organizar uma explanação. Dessa forma, todos têm a oportunidade de trabalhar liderança, responsabilidade, entrega e se preparar para falar em público.

Muitos costumam pensar que só poderão falar sobre valores humanos quando praticá-los. Decerto, Sai Baba mesmo diz: “ Primeiro, ser; segundo, fazer; terceiro, falar.” Contudo, em alguma extensão, todos já conhecem e praticam os valores e têm experiências importantes a respeito. Se formos esperar a perfeição para divulgar a mensagem do PSSE, ela nunca chegará a ser difundida[4]. Não há uma linha demarcatória entre “antes de estar pronto” e “depois de estar pronto”. Perceba que o próprio conflito que percebemos entre o que procuramos ensinar e nossa prática passa a ser um motor que ajuda nossa transformação!

A leitura do que Sai Baba diz sobre valores humanos, sobre educação e sobre espiritualidade, organizando depois pequenas palestras, é um grande ato de serviço. Além disso, com o tempo, vamos perceber que as partes mais essenciais do PSSE estão presentes nos escritos de muitos educadores ao longo da história da humanidade, de Sócrates a Gusdorf e ao construtivismo.

Visitas a asilos, creches e outros serviços sociais

O Programa Educare, pelo próprio objetivo a que se propõe, estimula o aluno a praticar atividades de serviço voluntário através de visitas a instituições como creches, asilos, orfanatos etc. Essas atividades proporcionam ao aluno a vivência de situações práticas que lhe dão uma compreensão muito clara da condição humana. Essa percepção se desenvolve, depois, em virtudes e, com isso, criam-se oportunidades de reforçar valores que estão sendo trabalhados. Esse é o método chamado co-curricular, também presente em outras pedagogias.

O professor pode propor, por exemplo, que os alunos executem uma pequena peça de teatro relacionada com valores humanos e apresentem-na nessas instituições. Pode-se propor, também, atividades de serviço que efetivamente melhorem a qualidade de vida dos assistidos. Sobretudo para os adolescentes, essas atividades podem ser muito ricas, pois permite que o adolescente, em processo de formação de sua personalidade, perceba que ele pode ser agente de construção da sociedade e descentralize sua atenção e seu interesse de si próprio, voltando-se para as

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necessidades do próximo, utilizando sua enorme energia realizadora. Os resultados certamente são hábitos de vida mais saudáveis e o fortalecimento interior.

É interessante apenas lembrar que os objetivos de uma atividade assim não se esgotam em si mesmos. Atividade de serviço não deve ser tomada como turismo ou cumprimento de obrigação. É necessário, dentro do PSSE, que sempre haja uma compreensão dos reais propósitos das atividades. Desenvolvimento de valores corresponde à compreensão do significado das coisas. Elas nunca são automáticas. Uma visita a uma instituição que demanda serviço voluntário é primariamente um ato de amor. É a visita a alguém cuja essência é divina como a minha –às vezes, em fase de dificuldade, às vezes nem isso. É uma oportunidade de levar e doar algo (por exemplo, meu tempo) e colocar em prática os valores próprios de minha natureza. Certamente, despertar esse sentimento nos tempos atuais não é fácil. E não há porque ser arrogante: muitas vezes iremos aprender muito mais do que ensinar. É algo a ser feito com leveza e alegria.

Alguns alunos, em uma visita como essa, estarão muito centrados nas atividades, enquanto que outros serão mais defensivos e parecerão desinteressados ou contrariados. Isso é natural. O importante é que o professor ou professora não percam de vista os objetivos por trás da visita, procurando estimular com leveza os alunos menos envolvidos e com alguma discrição perguntar depois à classe o que de essencial pôde-se aprender com a visita.

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IV. OS TRËS MÉTODOS DE APRENDIZAGEM

O PSSE é composto de três métodos que se complementam: DIRETO, INDIRETO E CO-CURRICULAR [35}.

No Método DIRETO, cada aula tem duração aproximada de 50 minutos e deve ser aplicada uma vez por semana, como um momento muito especial. Cada aula é composta a partir da execução de cinco técnicas aplicadas num modo seqüencial:

1. SENTAR-SE EM SILÊNCIO/ HARMONIZAÇÃO

2. PROVÉRBIO/ FRASE

3. CONTO/ HISTÓRIA

4. CANTO GRUPAL

5. ATIVIDADE GRUPAL

No Método INDIRETO, também conhecido como Método Integrado, o valor que está sendo trabalhado pelo Método DIRETO é reforçado, durante toda a semana, nas demais disciplinas curriculares como, por exemplo, História, Geografia, Português, Matemática, etc.

No Método CO-CURRICULAR, o reforço ao valor trabalhado naquela semana deve ser aplicado em atividades externas, como por exemplo, aulas de Educação Física, excursões, visitas a museus, passeios a jardins, fábricas, laboratórios, etc.

IV.1. INSERINDO VALORES NO PROCESSO EDUCACIONAL

O processo de formação de valores do PSSE no contexto escolar é feito, com a utilização de três mecanismos complementares, denominados método direto, indireto e co-curricular. A abordagem direta dos valores em sala de aula é feita com o uso das técnicas já apresentadas: histórias, citações, harmonizações, canto em grupo e atividades coletivas fazem com que crianças, jovens e adultos entrem em contato diretamente com os valores. É considerado um método direto porque inclui a criação de situações específicas em que os próprios valores podem ser percebidos e discutidos, mas também diz respeito ao efeito interior das técnicas, que implicam no desenvolvimento de várias habilidades. Aulas específicas de valores humanos podem ser inseridas na escola uma ou duas vezes por semana, paralelamente ao andamento normal da parte acadêmica. Particularmente na educação infantil, as técnicas se somam com muita facilidade aos conteúdos pedagógicos e com as atividades desenvolvimentos.

Uma outra maneira de inserir a reflexão sobre valores no ambiente educacional é no contexto das matérias. Ainda que um mecanismo menos incisivo quanto o método direto, essa “técnica” talvez seja mais eficaz, pois induz o aluno a aprender a considerar os valores por trás de situações do

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Capítulo 1 - O Programa Educare Os três métodos de aprendizagem

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cotidiano. Cada professor envolvido no Programa, ao longo da exposição de sua matéria, aproveita os “ganchos” que aparecem para fazer pequenas considerações sobre valores. Isso pode ser casual, quando ocorrem discussões na própria classe, à medida que os assuntos vão aparecendo, ou intencional, com preparação prévia, usando exemplos em que conteúdo acadêmico e formação de valores caminhem juntos.

A maneira de fazer isso depende de cada matéria. Em alguns casos, pode ser feito através de analogias, como em aulas de biologia, física, química e matemática. Em outros, a condução do conteúdo pode ser programada para considerar situações que se queira realçar. O ensino de História guarda possibilidades imensas de ensinar sem se preocupar particularmente com a seqüência de ocupantes do poder em cada época, mas considerando personagens que se destacaram na defesa da nação, dos interesses coletivos e de sacrifício pessoal. Assim, a história oficial passa a ser referenciada como pano de fundo de um enredo em que é possível discutir valores colocados em prática por pessoas que são referenciais importantes. Antivalores também podem ser fartamente analisados em conteúdos acadêmicos de história!

Geografia permite uma gama imensa de possibilidades envolvendo a cultura de cada região, com todos os seus valores associados. Isso não é muito simples (e o mesmo vale para as outras matérias), pois uma boa parte do material atualmente disponível corresponde a simples memorização de nomes e informações, havendo pouco sobre tradições de povos e regiões. Às vezes, o material disponível sobre a congada, a folia de reis e outras tradições, por exemplo, contém simplificações ou corresponde a caricaturas degradantes. Uma compreensão comparada das religiões, para alunos mais velhos, pode ser inserida aqui. De qualquer maneira, essa é uma área muito rica para mostrar como a cultura popular, ainda que fora de um formato acadêmico, é muito profunda e mais recheada de preocupação moral que a história da ciência, da política ou da economia.

A Biologia está repleta de possibilidades de se considerar valores por analogia. Um ecossistema é uma fonte de casos de atividades cooperativas, bem como de unidade e de equilíbrio. Ao invés de realçar a luta pela sobrevivência, pode-se mostrar como o equilíbrio é delicado e as ações em uma parte do sistema afetam todo os indivíduos. Isso vale também para o equilíbrio fisiológico interno, desde a fotossíntese até a circulação e a respiração. A evolução tem um sentido de unidade entre toda a diversidade. Química e Física, igualmente, têm exemplos de equilíbrio, de noção de conjunto e de sistema, etc. Na Matemática também é possível enxergar sob a forma abstrata valores muito claros, como dividir e multiplicar, somar e subtrair.

Uma das áreas mais ricas para o uso de material que leva à reflexão é a Língua Portuguesa (ou línguas estrangeiras). O aprendizado dos conteúdos técnicos de sintaxe e gramática ou de construção de texto podem usar como fonte textos inspiradores, ao invés de trechos anódinos, sem significado particular no contexto da escola. Têm sido usadas, recentemente, músicas populares para a análise de texto. É possível discutir os valores que permeiam as canções, além da própria estrutura técnica da língua.

O método indireto. de qualquer maneira, exige talvez mais do professor para um bom aproveitamento que o método direto. As próprias técnicas no método direto têm um efeito: quase todas induzem a reflexão, levam ao aquietamento interior, trazem contentamento. No método indireto, a inserção dos valores depende da capacidade do professor de enxergar as oportunidades de colocar discussões e de articulá-las apropriadamente. Muitos educadores diferenciados já fazem isso! Além disso, com a sobrecarga dos professores, há limitação de tempo para preparar

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novas estruturas de aula. Ao longo dos anos, o Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil deverá reunir e publicar novos formatos de aula e sugestões de atividades em todas as matérias.

Há dois exemplos muito bonitos e elucidativos da força do método indireto na Escola Sathya Sai da Tailândia. Revendo os livros disponíveis para a Primeira Série, viram um exercício de matemática que tinha o seguinte problema: “Um homem tinha nove vacas. Seis foram roubadas. Quantas sobraram?” Na publicação do Instituto, o exercício foi refeito: “Um pai tinha nove vacas. Seus filhos estavam grandes e ele não precisava mais de tantas. Ele deu seis vacas aos seus filhos. Quantas sobraram?” A simples mudança do enunciado removeu a banalização da violência (em livros escolares de crianças pequenas!), introduzindo uma situação em que há generosidade, percepção de necessidade, amor de pai, compaixão etc. Em uma outra aula, trabalhava-se a questão da reflexão da luz com crianças maiores. Em uma sala onde entrava sol por uma janela, colocaram-se alguns armários paralelos junto às paredes opostas, com crianças entre os armário portando pequenos espelhos. O raio de sol que entrava pela janela foi direcionado de uma criança à seguinte até que a luz alcançasse um cartaz. Se não fosse a cooperação e a ação precisa de todas as crianças, a luz não teria alcançado seu destino.

Finalmente, há o chamado método co-curricular. Ele diz respeito a todas as atividades que não são realizadas dentro de sala de aula: eventos na própria escola ou visita a museus, creches, parques etc. Além dos aspectos acadêmicos da visita, consideram-se os valores e habilidades envolvidos –da criatividade à solidariedade, da organização às dificuldades por que passam muitas pessoas. A diferença em relação as atividades normais desse tipo é que elas não se esgotem sem que se considerem os valores vivenciados. Até problemas ocorridos ao longo do evento podem ser aproveitados. O conceito de transdisciplinaridade está fortemente presente nesses exemplos todos. Contudo, a idéia é que haja um nível ainda mais abrangente de integração, no sentido de que não se separa a compreensão dos valores da compreensão dos conteúdos.

Como já foi comentado e será repetido adiante, talvez seja difícil dizer que novidade há em tudo isso. É esse o motivo de não considerar o Programa Sathya Sai Educare uma pedagogia à parte ou distinta das demais. Digamos, é quase apenas que um lembrete sobre coisas óbvias, importantes e profundas que deveriam constar do processo educacional. São óbvias e importantes, mas que tem sido abandonadas por uma pressão positivista ou técnica sobre a educação. Especialmente, o ensino básico está-se restringindo à preparação para o vestibular. A vida é muito mais que isso. As famílias perderam sua capacidade formadora de valores, a escola renunciou a essa função e o que se vê na sociedade é muito mais um estímulo ao egocentrismo, ao consumismo e ao individualismo que uma preocupação com a formação do sentido da cidadania. Não é que os professores atualmente não formem valores. Isso está colocado claramente pelo pedagogo francês Geoges Gusdorf: todo professor, queira ou não, forma valores e é impossível separar os valores de uma pessoa daquilo que ele ou ela fala ou faz. Achando que o ensino pode ser neutro de valores, assumimos uma posição tecnicista. Esse “neutralismo” obviamente se afasta da formação da cidadania: esse neutralismo e essa frieza por si são valores formados com essa postura. Além disso, maus hábitos, maus exemplos, irritação, cansaço, desrespeito, atritos dentro da escola, arrogância, indiferença, preconceito e casos ainda mais sérios ocorrem nas escolas e parece haver dificuldade em dizer que isso é a antítese do que deveria ocorrer ao longo do processo educacional e tomar as medidas cabíveis. É a política do laissez-faire (ou de outra maneira, cada um por si) aplicada à educação.

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Capítulo 1 - O Programa Educare Os três métodos de aprendizagem

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Toda as ações dos profissionais de uma escola forma valores indiretamente. Assim, é necessário um esforço, uma postura, um envolvimento ativo com um programa de formação de valores para que consigamos fazer da educação mais que ensinar matéria. Essa discussão, no entanto, ainda precisará ser feita em larga escala. É ingenuidade achar que um programa como este pode ser implantado por decreto. Em cada escola, são necessárias discussões permanentes, por vários anos para que todos os seus aspectos e conceitos sejam compreendidos. Há dificuldades de compreensão dos conceitos e dos motivos para essa mudança. Haverá até mesmo posições de resistência de pessoas que são o oposto da construção de valores. Não deve haver imposição. Apenas, não se pode esperar que haja participação passiva. Investir na formação de valores depende de uma posição clara, de dedicação, de envolvimento de coração em um projeto que pretende cuidar dos alunos como seres humanos. Em alguns casos, apenas um ou poucos professores têm tentado levar o programa em escolas brasileiras (e o mesmo tem-se visto em outros países), com bastante sucesso, ainda que em escala pequena, adaptando-o no que é necessário. Em outras escolas, há interesse direto da coordenação pedagógica ou da direção, com uma participação maior ou menor dos professores. Há exemplos muito importantes de escolas de magistério utilizando o PSSE, com um resultado muito diferenciado nos professores e professoras formados! O mais importante, contudo, é compreender os motivos, a necessidade de incluir a formação de valores como uma parte das metas educacionais, as vantagens escolares e pessoais quando isso acontece e desenvolver o Programa em uma discussão conjunta na escola. Em cada escola será diferente, o que garante uma grande riqueza ao processo.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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V. O PLANEJAMENTO DE UMA AULA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS

O uso das cinco técnicas em conjunto ou mesmo em partes, em um programa para adultos, pode ser feita com bastante eficácia, pois trabalha o indivíduo de forma ampla e profunda. É fundamental que o professor envolvido no Programa tenha uma compreensão não apenas intelectual dos valores humanos em sua vida cotidiana, reavaliando suas próprias atitudes perante a vida, descobrindo em si potencialidades latentes e, também, aceitando com naturalidade suas limitações, promovendo, assim, uma transformação em sua própria vida. Dessa forma, o professor pode aprofundar sua transformação em um educador, assumindo sua missão de mestre para promover, através de seu próprio exemplo, a motivação e a inspiração necessárias para que seus alunos se tornem seres humanos íntegros, pessoas de caráter. Que ninguém se equivoque: a maioria dos professores já está nesse caminho, pois sua escolha pela profissão já indica sua sensibilidade para a função. É apenas uma questão de profundidade.

Como foi visto até agora, nas aulas do PSSE pelo método direto, cada um dos cinco valores absolutos –Paz Interior, Verdade, Reta Ação, Amor e Não-violência– é abordado com a escolha de um valor relativo que servirá de guia e com o uso das técnicas das técnicas de harmonização, citação, histórias, canto em grupo e atividade em grupo. As aulas pelo método direto, portanto, exigem um planejamento criterioso, no sentido de que sejam escolhidas citações, histórias, músicas, atividades cooperativas e harmonizações centradas no valor relativo escolhido. A estrutura de uma aula desse tipo é dada abaixo. Cada uma destas técnicas visa trabalhar no ser humano, respectivamente, cinco níveis de CONSCIÊNCIA: (1) consciência mental/emocional, (2) intelectual, (3) física, (4) psíquica e (5) espiritual.

V.1. EXEMPLO DE UM PLANEJAMENTO DE AULA UTILIZANDO O MÉTODO DIRETO

Uma aula pelo método direto para crianças pode durar aproximadamente 50 minutos e incluir as cinco técnicas. Aulas pelo método direto com tempo maior que esse são pouco producentes para crianças menores, de maneira que esse é um ponto a ser considerado no planejamento. É preciso escolher, primeiro, um tema a ser trabalhado na aula e o valor relativo relacionado ao assunto. Exemplos de temas são apresentados na Seção V.4 (Aulas pelo método direto e transdisciplinaridade).

Para crianças e adolescentes, a escolha do valor a ser trabalhado e a maneira como será conduzido, dependerão da situação do grupo. É muito importante que os valores estejam relacionados com o dia-a-dia dos estudantes ou dos professores, suas necessidades e aspirações. Suponhamos que os alunos estejam com dificuldades de assumir atitudes de responsabilidade. Através de contatos com os pais, o professor descobre que as crianças não estão realizando seus deveres de escola, não têm ajudado nas tarefas de casa e estão preguiçosas ou distantes. Essa é uma oportunidade, portanto, de se trabalhar o senso de responsabilidade, como uma valor relacionado à Retidão. Pode ser preparada uma seqüência de lições que abordem questões como “Tarefas diárias”, “Deveres e compromissos de todos nós”, “A construção do conhecimento”, “A

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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construção da sociedade” etc., de modo que as crianças reflitam sobre o que está por trás da realização das tarefas.

Outros fatores que devem ser levados em consideração para a escolha do valor são a faixa etária do grupo, o contexto sócio-cultural e a relação mantida com seus familiares. Para participantes adultos, pode-se desenvolver todo o Programa, utilizando lições com temas que estimulem o processo de auto-conhecimento, auto-investigação e reflexões mais profundas sobre a vida cotidiana, abordando os valores absolutos e seus vários valores relativos.

Feita a escolha do tema e dos valores absoluto e relativo associados, o professor estabelece os conceitos e os objetivos para a lição. Os objetivos devem estar claramente definidos. Barcos não chegam a lugar algum se não tiverem uma meta definida –mesmo que, ao longo do processo, haja conquistas inesperadas. Os conceitos referem-se ao detalhamento do tema e sua conexão com os valores selecionados para a aula. Eles irão ajudar o professor a indicar ao aluno a relação entre os aspectos abstratos da lição e os resultados desejados na prática diária.

Na seqüência do planejamento de uma aula, está a escolha das cinco técnicas. É importante que o professor procure as técnicas da forma mais integrada possível. O conteúdo das técnicas está necessariamente relacionado ao tema proposto e aos valores abordados. Se é escolhido para a lição o valor Responsabilidade, relacionado ao valor absoluto Retidão, as técnicas abordadas na lição irão girar em torno desse valor. Por fim, sugere-se que haja um encerramento, quando o professor, através de atividades simples, como uma oração universal, sentar-se em silêncio ou a audição de uma música, encerra a aula. Haver um fecho no processo é muito importante e valoriza a própria aula.

É importante que dois itens constem no planejamento de aula. Um deles são as “observações”, em que o professor relaciona as situações que a aula possa apresentar, a fim de conseguir uma estrutura mais sólida para seu andamento. Outro item é uma “avaliação”, em que o professor anota eventos observados na aula relacionados com o comportamento do aluno, a eficiência das técnicas, coisas inesperadas, insucessos etc. Uma vez que os valores dizem mais respeito ao significado das coisas do que a algo externo, a avaliação é indispensável para que o professor consiga olhar de volta para o que foi feito e efetivamente aprender com cada aula dada.

É apresentado, a seguir, um modelo de formulário para preenchimento de um planejamento de aula utilizando o método direto.

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Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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PLANEJAMENTO DE AULA DE EVH Data ....../....../......

TEMA PROPOSTO PARA A LIÇÃO :

VALOR(ES) ABSOLUTO(S):

VALOR(ES ) RELATIVO(S):

CONCEITO(S) DO(S) VALOR(ES) RELATIVO(S) (relacionando-o/os com o tema proposto):

OBJETIVOS:

MÉTODO:

1. HARMONIZAÇÃO:

2. CITAÇÃO:

3. HISTÓRIA:

4. CANTO GRUPAL :

5. ATIVIDADE GRUPAL:

6. ENCERRAMENTO:

7. OBSERVAÇÕES:

8. AVALIAÇÃO DA AULA:

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Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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V.2. MODO DE UTILIZAÇÃO DO QUADRO DOS VALORES E SEUS VALORES RELATIVOS

O quadro dos principais valores e seus valores relativos, apresentado a seguir, é de uso exclusivo do professor. Seu conteúdo isolado é intelectual e não há vantagem de expô-lo aos alunos como conteúdo de aula. É importante que os alunos compreendam o significado dos valores em sua conexão com a prática. Uma reflexão acadêmica sobre os valores terá importância particular apenas a partir do final da adolescência.

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Nota.: Alguns dos valores relativos podem ser encontrados sob mais de um Valor Absoluto

QUADRO DOS PRINCIPAIS VALORES E SEUS VALORES RELATIVOS

VERDADE RETIDÃO PAZ AMOR NÃO-VIOLÊNCIA

Psicológica Abstenção de ferir Aceitação Amor universal Atenção aos outros Boas maneiras Compaixão Consideração Cooperação Cortesia Gentileza Humildade Lealdade Perdão Outros

Social

Auto-aceitação Auto-análise Autoconhecimento Bom senso Busca interior Busca do conhecimento Clareza Coerência Coragem Discernimento Espírito inquisitivo Fé Franqueza Honestidade Humildade Igualdade Imparcialidade Iniciativa Integridade Interesse pelo conhecimento Intuição Lucidez Objetividade Otimismo Razão Reflexão Síntese Veracidade Outros, que serão identificados no decorrer do processo.

Autoconfiança Boa administração Bom comportamento Coerência Confiabilidade Contentamento Coragem Criatividade Dever Dignidade Disciplina Esforço Ética Gratidão Higiene Honradez Iniciativa Liderança Metas Ordem Perseverança Prestabilidade Prioridade Responsabilidade Sacrifício Simplicidade Uso adequado das habilidades Uso adequado do dinheiro Uso adequado do tempo Vida Saudável Outros

Aceitação Alegria Atenção Auto-aceitação Autoconfiança Autocontrole Autodisciplina Bom humor Calma Compreensão Concentração Constância Contemplação Contentamento Desapego Dignidade Disciplina Equanimidade Felicidade Flexibilidade Focalização Honestidade Humildade Otimismo Paciência Reflexão Satisfação Silêncio interior Simplicidade Tranqüilidade Outros

Aceitação Afeto Alegria Amabilidade Amizade Amor maternal Bondade Caridade Carinho Compaixão Compartilhamento Compreensão Dedicação Devoção Doçura Entrega Felicidade interior Generosidade Gentileza Gratidão Harmonia Paciência Perdão Sacrifício Serviço desinteressado Simpatia Sinceridade Ternura Tolerância Unidade Outros

Aceitação do outro Apreciação de outras culturas e religiões Cidadania Civismo Cooperação Fraternidade Igualdade Irmandade Justiça social Participação Patriotismo Respeito à vida Serviço aos outros Unidade Outros

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Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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V.3. TRABALHANDO ANTIVALORES

Todo o processo do PSSE está ligado ao reconhecimento da essência divina da natureza humana. A parte não é separada do todo, de maneira que cada um de nós é uma parte do Absoluto e, portanto, da mesma natureza do Absoluto. Ainda assim, adicionalmente aos que nos é essencial e que é aquilo que realmente somos, temos outros elementos transitórios, com dinâmicas próprias. Temos um corpo, com características e demandas próprias. Temos reações instintivas que garantem nossa sobrevivência. Temos uma mente com funções específicas. Essas “ferramentas” não são más por si. Pelo contrário, são indispensáveis e precisamos de cuidar muito bem delas. Contudo, a capacidade intelectual humana fez com que em muitas situações o instrumento se tornasse objetivo, o meio se tornasse meta, a parte fosse vista como todo, acarretando as distorções decorrentes que conhecemos bem. Perdemos de vista a finalidade. Temos dificuldade em nos atermos ao que é único da condição humana e às vezes nos limitamos ao que as outras espécies também tem. É por isso que neste Programa fala-se de Valores Humanos. Isso não é uma negação do que há na Natureza. Pelo contrário, fazemos parte dela e devemos valorizá-la. Isso é uma valorização do que é próprio do Ser Humano.

No processo que leva a uma plenitude da consciência, dessa maneira, lidamos também com aquilo que leva no sentido contrário. Ainda que a ênfase do PSSE esteja nas qualidades, suas antíteses precisam ser bem compreendidas. A ingenuidade em relação a características como a raiva, a inveja, a covardia, a indiferença, o medo, o egocentrismo, a preguiça, o cinismo, o preconceito, a arrogância etc. pode ter conseqüências drásticas na construção do caráter das crianças ou na condução da nossa própria vida. Tomados como valores, essas características têm, como bem sabemos, um resultado destruidor no nível do indivíduo e da sociedade. Parece apenas óbvio que não é possível construir uma sociedade justa e ética em que esses valores são estimulados em larga escala. Ainda assim, temos aceitado como bastante natural a enorme pressão através da mídia para entrarmos em um mundo niilista, de consumo ilimitado, de ausência de conseqüência e de reflexão, e de desvalorização do trabalho e de cada pessoa humana!

É certo que há extensa literatura psicológica e filosófica por trás de todo esse assunto. Aqui procura-se apenas uma visão um pouco mais prática, no sentido do impacto que essas características podem ter na construção do caráter e na relação de um indivíduo com ele mesmo e com a sociedade a longo prazo. Abaixo há uma tabela auxiliar de antivalores. Ela pode ser utilizada pelo professor como uma maneira adicional de compreender os valores relativos. Em algumas situações, especialmente com adultos ou com adolescentes, é importante refletir sobre esses “anti-valores” e seus efeitos na vida do indivíduo e da sociedade. Mesmo com crianças menores, é impressionante como têm uma noção bastante clara do que é construtivo e o que é destrutivo para a vida das pessoas e da sociedade.

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Modo de utilização da Tabela de Antivalores

Estas tabelas são auxiliares. Elas devem ser utilizadas pelo professor apenas para identificar o valor absoluto ou relativo que precisa ser trabalhado nas classes. Para isso, faz-se uma observação do comportamento das crianças, anotando as atitudes indesejáveis que estejam presentes em seus relacionamentos. Após anotar as dificuldades presentes na turma, procurá-las na tabela de antivalores e identificar, na primeira coluna, que valores relativos precisam ser trabalhados nas classes correspondentes.

Vamos supor que, para uma dada classe, um professor, mesmo se esforçando para motivá-los e animá-los, notou que havia um número considerável de alunos desmotivados, desiludidos, sem ânimo (desanimados), com um comportamento de desconfiança para com o que lhe é apresentado. Também foi notado que, dentre eles, alguns demonstravam uma certa ironia e até mesmo sarcasmo em seu comportamento, enquanto outros faziam burla ou tinham desconsideração pelo que lhes era dito.

De posse desses dados, o professor busca, na tabela de antivalores, que valores relativos (primeira coluna) devem ser trabalhados, ou seja: OTIMISMO e RESPEITO. Apesar de terem sido identificados 8 antivalores, apenas 2 valores relativos precisam ser trabalhados com a classe.

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ANTIVALORES ASSOCIADOS À AUSÊNCIA TOTAL OU PARCIAL DO VALOR

VALOR PAZ :

Resistência, contradizer, hostilidade, rivalidade

Tranqüilidade: Agitação, inquietude, efervescência, turbulência, desassossego, perturbação(falta de tranquilidade). Atenção: Distração, atordoamento, abstração, descuido, esquecimento. Calma: Intranqüilidade.

Concentração: Dispersão, disseminação, devaneio, fantasia.

Dignidade: Vil, indigno, infame, baixeza, degradação, desonra, desprezo, ausência de auto-estima.

Disciplina: Anarquia, desordem, confusão, individualismo.

Constância: Instabilidade, variabilidade, insegurança, incômodo, imprevisibilidade.,

Felicidade: Aflição, infortúnio, amargura, angústia, desilusão, insatisfação.

Humildade: Frivolidade (futilidade,vaidade)), petulância, arrogância, presunção, (vangloriar-se, ser pretensioso),soberba.

Silêncio Interior: Ruidoso (fofoqueiro), barafunda (faz confusão),estridência, alvoroço, gritaria, escândalo, verborragia, egolatria.

Paciência: Ira, irritação(exasperação, rascibilidade),raiva, cólera, (fúria, forte arrebatamento de ânimo), indignação, incômodo.

Reflexão: Inconsciência, estouvamento, sofreguidão, precipitação, inconseqüência, pressa

Satisfação: Aflição, infortúnio (desventura, desdita, desgraça), amargura (angustia), desilusão(desgosto, desagrado), infelicidade.

Compreensão: Intolerância, intransigência, fanatismo, obstinação, teimosia, desconsideração, ofensa..

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ANTIVALORES ASSOCIADOS À AUSÊNCIA TOTAL OU PARCIAL DO VALOR

VALOR AMOR:

Ódio, rancor, aborrecimento, animosidade, aversão, ressentimento, repreensão, crítica.

Cuidado: Abandono, desatenção, despreocupação, esquecimento.

Compaixão: Crueldade, frieza, atrocidade, sadismo, iniqüidade, falta de humanidade, brutalidade.

Dedicação: Vagabundagem, displicência, indiferença, desinteresse.

Amizade: Rivalidade, concorrência, desavença, discórdia, beligerância (que faz guerra), pendenga, disputa, querela (queixa).

Perdão: Vingança, represália, traição, desfeita, ofensa, desquite (separação), injúria, perjúrio (jurar falso).

Generosidade: Ruindade, cobiça, malevolência, aborrecimento, egoísmo, agiotagem Individualismo, inveja, avareza, chantagem, avidez, ambição.

Ajuda/ Apoio: Preconceito, extorsão, impertinência, aversão, perseguição.

Alegria: Aflição, sofrimento, pesar, dor, angústia, aflição, melancolia, abulia.

Bondade: Malevolência, animosidade, malquerença, imoralidade, ódio, Perversidade, comprazer-se com a maldade.

Compartir: Isolar-se, autismo, desentender-se, desligar-se, despreocupar-se, Prescindir (abster-se de algo).

Sinceridade: Traição, infidelidade, perfídia, cilada, armadilha, dissimulação, Fingimento, falsidade, hipocrisia.

Simpatia: Ausência de afinidade, antipatia

Tolerância: Intransigência, obstinação, fanatismo, teimosia

Ternura: Secura, grosseria

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ANTIVALORES ASSOCIADOS À AUSÊNCIA TOTAL OU PARCIAL DO VALOR

Valor VERDADE Falsidade

Curiosidade: Indiferença, desinteresse, inércia, negligência, indolência, apatia.

Discernimento: Irracionalidade, o absurdo, o contraditório, o incongruente, o ilógico, o aberrante

Igualdade: Diferenças, distinções, racismo, oposição, antagonismo, disparidade

Honestidade: Imoralidade, desmoralização, corrupção, vício, escândalo, falta de vergonha, indecência, obscenidade

Integridade: Iniquidade, arbitrariedade, covardia, timidez, debilidade, desalento, desânimo

Otimismo: Desesperança, desesperação, despeito, desconfiança, desânimo, decepção, desilusão, pessimismo, derrotismo, desmotivação, impulsos, inclinações, paixões, embustes, paradoxos, contradição.

Razão: Desconhecimento de seus limites, desconhecimento de suas imperfeições; desconhecimento de suas potencialidades.

Auto-análise: Desconhecimento de seus limites; desconhecimento de suas imperfeições, desconhecimento de suas potencialidades

Síntese: Confusão, incapacidade para concentrar-se e para consolidar pensamentos e idéias.

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ANTIVALORES ASSOCIADOS À AUSÊNCIA TOTAL OU PARCIAL DO VALOR

Valor RETIDÃO:

Desvios, excessos, atrocidades, injustiças, favoritismo, iniquidade, paixão, arbitrariedade, ilegalidade, abusos, caprichos, atropelos, violência, traição, deslealdade, infidelidade, perfídia,

emboscada, cilada, desorganização, libertinagem, falta de vergonha

Limpeza: sujeira, falta de asseio

Satisfação: Pesar, desgosto, inquietação, insatisfação, desassossego, amargura, fastio.

Ser Prestativo: Vagabundagem, preguiça, “fazer cera” (lentidão proposital)

Valor /coragem: Covardia, indecisão, dúvida, vacilação

Ânimo: Desalento, abatimento, pessimismo Confiabilidade: Receio, temor, insegurança, desconfiança, suspeita, incredulidade

Dever: Abuso de autoridade, mal uso do poder, domínio(subjugar).

Ética: Imoralidade, desonestidade, indecência, corrupção, maldade, perversidade, depravação, degradação

Gratidão: Esquecimento, não agradecimento, injustiça

Objetivo/Meta: Ausência de confiança em si mesmo

Iniciativa: Carência de auto-estima

Liderança: Subordinação, dependência, sentimento de inferioridade

Perseverança: Incostância, rapidez, variabilidade, inconsequência, instabilidade.

Respeito: Irreverência, desacato, desobediência, desconsideração, burla, ironia, sarcasmo.

Sacrifício: Egoísmo, egolaria, endeusamento, individualismo, avareza, inveja, ciúme, apego doentio.

Simplicidade: Luxo, suntuosidade, fausto, riqueza ostensiva.

Responsabilidade: Desonra, descrédito

Moralidade Parcialidade, atuar com interesses próprios, industiça.

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Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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ANTIVALORES ASSOCIADOS À AUSÊNCIA TOTAL OU PARCIAL DO VALOR

VALOR NÃO-VIOLÊNCIA:

Desmando, atropelo, excesso, causar infortúnio, causar desgraça, exceder-se, exorbitar

Benevolência: Maldade, intransigência, malevolência, aversão.

Respeito pela vida: Falta de respeito, irreverência, desacato, desconsideração, desobediência, agressão, violação, contaminação.

Consideração: Descaso, indiferença.

Cooperação: Estorvar, perturbar, dificultar, retardar, impedir, conspirar, obstruir, interceptar, sabotar

Extraído da apostila: Programa de Educação em Valores Humanos Sathya Sai [35]

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Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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V.4. AULAS PELO MÉTODO DIRETO E TRANSDISCIPLINARIDADE

Os temas de aulas de valores humanos pelo método direto, no Programa Sathya Sai Educare, podem ser valores relativos ou temas cotidianos. São sugeridos alguns planos de aula para educadores no capítulo 2 deste livro, enfocando temas do cotidiano e valores relativos relacionados a esses temas. Contudo, ainda que seja útil que os valores sejam aprendidos como conceitos, o Programa só cumprirá sua função se for puderem ser aplicados à vida, se forem úteis na prática das pessoas. Portanto, é importante evitar que os valores se tornem apenas conceitos vagos e desvinculados da realidade. O tema das aulas, desse modo, não precisam ser os próprio valores relativos, mas situações do cotidiano onde esses valores e sua importância possam ser percebidos: vida em família, amizade, ética, utilização adequada de recursos, ecologia, auto-transformação, a vida de grandes humanistas, tradições, acontecimentos, aspectos da cultura e outros. Cada tema pode ser abordado em uma ou mais aulas, em que se reflita sobre os valores relacionados. Se as cinco técnicas do programa forem utilizadas e, de preferência, as situações forem conectadas com os cinco valores humanos principais, ainda estaremos trabalhando com o método direto.

É necessário, aqui, compreender mais claramente alguns conceitos a respeito do Programa. Em primeiro lugar, as atividades realizadas nas aulas devem ser simples. Há espaço para que as pessoas ou as crianças exponham suas opiniões, mas deve-se evitar que se transformem em terapia de grupo. Nós, professores, não temos formação para isso nem o PSSE é o espaço para que isso ocorra.

Em segundo lugar, seja tratando diretamente dos valores, seja tratando de situações do cotidiano, uma “aula” não deve pretender ser uma atividade completa, encerrando todos os aspectos relacionados a um assunto. O fato de que uma aula permanece em aberto é o melhor estímulo para que os adultos ou as crianças continuem a pensar sobre o assunto.

Em terceiro lugar, muitas vezes, o professor pode ter dificuldade em responder uma questão particular e isso precisa ser visto apenas como normal. Muitas questões difíceis podem aparecer nas discussões. Normalmente, quanto mais profunda a discussão, mais divergentes podem ser as posições. Morte, o que é justo em situações particulares, a maneira de enxergar Deus, ateísmo, inferno e uma infinidade de outras questões podem atravessar o debate! Se tivermos a pretensão de dar posições definitivas sobre cada assunto, correremos riscos muito graves de tentar empurrar nossos pontos de vista particular, algo que não é o objetivo do Programa. Nesse caso, teríamos provavelmente perdido o essencial. Um dos pontos fundamentais do PSSE é estimular o desenvolvimento da reflexão e do discernimento, não a difusão de pontos de vista particulares. O mais importante são as conclusões a que cada um chega, não a padronização de opiniões. Em muitas situações, o senso comum é altamente insuficiente, ainda que o bom senso seja sempre uma ferramenta importante. Mas mesmo em situações em que um aluno tenha uma posição que pareça equivocada, seria inútil torturá-lo psicologicamente para que ele aceite um outro ponto de vista. Cada um agirá com base no que realmente acredita, não com base no que lhe foi repetido. Quando muitos acuarem uma criança por sua opinião, será uma oportunidade importante para o professor trabalhar o conceito de tolerância e de respeito. O que importa são os argumentos que justifiquem uma posição, não a posição em si.

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Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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Mesmo quando se centra uma aula em um tema geral, e não em um valor relativo, a harmonização deve estar presente no início de cada aula, proporcionando serenidade e concentração da mente. Entretanto, fica a critério do professor, de acordo com as necessidades de cada momento, a utilização de pequenos exercícios de harmonização, no decorrer da aula, quando houver agitação ou dispersão. Pode-se, também, acrescentar círculos de estudos e palestras sobre os temas abordados na linguagem apropriada à faixa etária, durante as aulas ou mesmo durante o período em que se estiver desenvolvendo o tema proposto. Na outra tabela, há uma proposta de relação entre vários valores relativos e os cinco valores absolutos.

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Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

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SUGESTÕES DE AULAS PELO MÉTODO DIRETO BASEADAS EM TEMAS GERAIS

Temas Exemplos de valores relativos envolvidos

Tópicos que poderão ser abordados nas aulas

RELAÇÕES NA VIDA EM SOCIEDADE E NA VIDA EM FAMÍLIA

Honestidade Integridade Respeito ao outro ( Aceitação Disciplina Compaixão Perdão Compartilhamento Tolerância Paciência Responsabilidade ( Uso adequado da Palavra Outros que podem ser reconhecidos no decorrer do processo

Dharma da família Dharma comunitário Afazeres domésticos O papel de cada um na vida familiar O casamento A sexualidade Respeito aos pais Respeito aos idosos Compromissos familiares Harmonia familiar Espiritualidade na família Outros tópicos que poderão ser reconhecidos no decorrer do processo

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 69

SUGESTÕES DE AULAS PELO MÉTODO DIRETO BASEADAS EM TEMAS GERAIS

Temas Exemplos de valores relativos envolvidos

Tópicos que poderão ser abordados nas aulas

COMPORTAMENTO ÉTICO

Honestidade Coerência Ética (Retidão/Amor) Reflexão Boas maneiras Uso adequado da palavra ( Uso adequado do tempo Uso adequado do dinheiro Uso adequado da energia Disciplina Ordem Compartilhamento Outros que podem ser reconhecidos no decorrer do processo

Ética na família Ética na escola Ética no trabalho Ética na comunidade Ecologia e natureza Ordem na natureza Comportamentos e sociedade Respeito ao outro A abrangência do termo não-roubar - no sentido da utilização indevida de objetos ou de usá-los além do tempo permitido pelo seu proprietário, ou ainda de não utilizar um cargo de confiança para benefícios próprios, etc. Ética e espiritualidade Outros tópicos que poderão ser reconhecidos no decorrer do processo

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 70

SUGESTÕES DE AULAS PELO MÉTODO DIRETO BASEADAS EM TEMAS GERAIS

Temas Exemplos de valores relativos envolvidos

Tópicos que poderão ser abordados nas aulas

UTILIZAÇÃO ADEQUADA DOS RECURSOS ENERGÉTICOS

Honestidade Respeito à vida e à natureza Conscientização ecológica Higiene Compaixão Compartilhamento Gratidão Reverência Harmonia Outros que podem ser reconhecidos no decorrer do processo

Conscientização da necessidade de respeitar a vida e a natureza Consciência ecológica Reciclagem de lixo Conscientização dos deveres do cidadão na comunidade Ecologia e espiritualidade Outros tópicos que poderão ser reconhecidos no decorrer do processo

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 71

SUGESTÕES DE AULAS PELO MÉTODO DIRETO BASEADAS EM TEMAS GERAIS

Temas Exemplos de valores relativos envolvidos

Tópicos que poderão ser abordados nas aulas

AUTOTRANSFORMAÇÃO

Busca de conhecimento ( Integridade Auto-investigação Reflexão ( Respeito ao outro Auto-aceitação Disciplina e ordem Perdão Honestidade Compromisso Perseverança Outros que podem ser reconhecidos no decorrer do processo

O caráter e a autotransformação. O autoconhecimento e a consciência dos cinco valores O funcionamento da mente Administrando os pensamentos A auto-investigação e o sentar-se em silêncio. A importância da harmonização no processo da auto-investigação. Os processos da mente: a mente consciente, subconsciente e supraconsciente. A conscientização do dever para com a família, a sociedade e para consigo mesmo - assumindo cada papel com amor. A consciência da Unidade A Espiritualidade Impacto de nossas mudanças internas na sociedade como um todo Outros tópicos que poderão ser reconhecidos no decorrer do processo

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 72

SUGESTÕES DE AULAS PELO MÉTODO DIRETO BASEADAS EM TEMAS GERAIS

Temas Exemplos de valores relativos envolvidos

Tópicos que poderão ser abordados nas aulas

TRADIÇÕES E CULTURA

Busca de conhecimento Reflexão Respeito ao outro Respeito a outras culturas Respeito a outros credos Aceitação Compreensão Compartilhamento Gratidão Reverência Outros que podem ser reconhecidos no decorrer do processo

As artes no Brasil e no mundo A importância do respeito a outras tradições e culturas A diversidade de culturas no Brasil A importância das tradições indígenas no Brasil Folclore Danças folclóricas Tradições espirituais As grandes religiões do mundo O hábito da leitura e da pesquisa Importância dos heróis (estudar grandes humanistas e personalidades históricas mundiais e locais que mostrem os valores humanos em suas atitudes e caráter) Outros tópicos que poderão ser reconhecidos no decorrer do processo

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 73

V.5. AVALIAÇÃO

Avaliação em educação é algo indispensável. Os alunos sozinhos não têm condições de saber se o que eles aprenderam de uma matéria é correto ou suficiente. O professor sozinho não tem condições de saber se seu ensino foi correto e suficiente. As avaliações, portanto, são uma medida da eficiência do processo para todas as partes e a base para executar correções de rumo. Vista e trabalhada assim, a avaliação seria uma parte muito bem-vinda na educação: é ela quem ajuda a auto-superação. No contexto deste livro, a avaliação é do processo de “ensino” (embora não seja apropriado usar o conceito de “ensino” para valores humanos!), mas também um meio para o professor tentar acompanhar o progresso dos alunos. Isso poderá guiar o professor a colocar-se mais próximo e trabalhar com mais profundidade com os alunos com mais dificuldades. De qualquer maneira, é muito difícil fazer uma avaliação do progresso interior dos alunos e abaixo são fornecidas apenas sugestões.

Não faz sentido uma avaliação formal de alunos ou conferir “notas” que elevem uns e deprimam outros. Assim, recomenda-se fortemente que não sejam divulgados “resultados” que gerem um sentido de comparação entre os estudantes. Um dos fundamentos filosóficos do Programa é que aquilo que é essencial é igual em todos. Essa é a base do amor universal, do respeito universal. As fichas de anotação das avaliações devem ser de uso exclusivo dos professores. O sentido de comparação, portanto, deve ser entre fases de um mesmo aluno. Os alunos não devem ser criticados por demoras em sua transformação. Antes, cada aluno deve ter reconhecido pelo professor os seus avanços. Os alunos com mais dificuldade são os que mais precisam de apoio e estímulo: não é fácil conduzir a formação de um sistema de valores ao longo do processo de educação!

O objetivo da avaliação no contexto deste Programa é procurar compreender e acompanhar:

(1) o desenvolvimento de valores na personalidade do estudante; (2) sua compreensão dos valores trabalhados e sua importância; (3) o uso dos valores pelos estudantes em sua práxis, ou seja, sua capacidade de pensar,

sentir e agir de acordo com seus próprios valores; (4) a habilidade do estudante de observar e analisar criticamente as palavras e as ações em

seu entorno, sabendo absorver o que lhe é benéfico e descartar o que lhe é prejudicial;

(5) a utilização de seu próprio discernimento para buscar formas alternativas de conduta, escolhendo as que são mais úteis para sua própria realização e para a felicidade do coletivo humano.

Como fazer a avaliação e como trabalhar seus resultados

• A compreensão dos Valores Humanos pode ser feita considerando-se diferentes níveis de compreensão: cognitivo, de juízo moral e de conduta. As avaliações no domínio cognitivo podem ser feitas através de perguntas orais ou atividades escritas, quando se aplica o método direto. O desenvolvimento de juízo moral pode ser feita através de simulações da vida cotidiana. Também se pode observar as colocações dos estudantes durante encenações, esquetes, teatros etc. Contudo, é necessário cuidado para não cair em situações caricatas. Não pretendemos que os alunos apenas simulem bom comportamento. O objetivo é que os professores e os próprios alunos compreendam quais são os valores que eles internamente

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare O Planejamento de uma aula

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 74

aceitem. Mudar o comportamento não corresponde necessariamente a uma transformação verdadeira. É por isso que o desenvolvimento da reflexão é uma das metas do Programa. A avaliação da conduta pode ser feita observando-se o comportamento dos alunos não só na sala de aula, mas em outras situações, como nos intervalos, jogos, outras aulas, corredores, passeios etc.

• O auxílio dos demais membros docentes é de grande ajuda para essa avaliação. Também a colaboração dos pais nesse aspecto, ao tecerem comentários sobre a melhoria do comportamento do filho, pode e deve ser levada em conta. Muitas vezes, os pais são os primeiros a observar mudanças significativas nos filhos.

• O que fazer quando se percebe uma deficiência mais grave de personalidade? Essa é uma pergunta delicada. Depois de uma observação mais longa e detalhada, o mestre pode acercar-se pessoal e cuidadosamente do aluno, numa reunião individual, carinhosa e positiva, e falar especificamente do que valeria a pena ser modificado. Nesse contexto, é necessário não confundir causa e efeito. De modo geral, observamos os efeitos externos, em termos de ações negativas, e queremos que os alunos mudem o comportamento, que são as conseqüências, sem que se cuide das causas. Normalmente, um comportamento negativo é apenas um reflexo de algo que está mais profundo, na personalidade do aluno e quase sempre em sua vida pessoal. É quase uma perda de tempo querer atacar as conseqüências sem cuidar das causas. No entanto, esse é um processo muito difícil para o qual a maioria de nós não se sente habilitado ou não achamos que é nossa função!

• Certamente, a compreensão do que está por trás do perfil de um aluno pode resultar em um encaminhamento para apoio psicológico profissional e isso deve ser feito sempre que necessário. Mas mesmo dentro do PSSE, pode-se ir mais fundo. Muitos professores tem o forte impulso de dar mais atenção aos alunos academicamente melhores, pois os outros “atrapalham” a aula. Educar não é sinônimo de ensinar. Não é uma questão de ser leniente ou indulgente com aquilo que não está certo. Há professores que têm uma ação marcante na dinâmica de uma escola pela sua ação amorosa junto aos alunos. Eles conseguem ir para além das diferenças e dificuldades individuais, não criam mecanismos de exclusão dentro de classe, não têm medo ou aversão às dificuldades individuais e são abarcantes em sua ação como mestres. Ver esses professores em ação mostra que o Amor pode ter um poder imenso de transformação. Esses professores às vezes são muito simpáticos, às vezes são sérios, às vezes são brincalhões. Os perfis variam, mas são pessoas realmente preocupadas com seus alunos e que têm um profundo sentimento de amor por todos. Reconhecer as qualidades de quem tem dificuldades e desenvolver neles um sentimento de fortaleza são ações indispensáveis. Isso é fundamental no PSSE. Ao longo do tempo, deve-se continuar estimulando a expressão dos valores com os quais a criança ou o jovem têm mais dificuldade, observando o progresso alcançado.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 75

VI. AULAS E OFICINAS PARA OS EDUCADORES

Embora o PSSE pretenda atuar principalmente junto às crianças e adolescentes, é através do preparo dos adultos que essa filosofia da educação poderá melhor chegar a elas. Para isso, as atividades de Educação em Valores Humanos para educadores assumem um papel fundamental e o veículo de preparação dos adultos pode ser através das aulas nos mesmos moldes que para as crianças. Note-se, no entanto, como já foi enfatizado ao longo do texto, que os professores já estão em alguma medida preparados –alguns, muito bem preparados! A maior parte dos conceitos relacionados aos valores é trabalhada ao longo da educação junto à família, na escola e na sociedade. Ainda que a sociedade viva uma crise histórica, os valores são parte da natureza humana e todos têm um sentimento íntimo de sua importância para a vida. De outro lado, quase tudo o que diz respeito a valores é muito sutil, bastante abstrato e difícil de colocar em prática. Diz respeito à parte mais profunda da vida, ou seja, da filosofia e, portanto, o senso comum não é suficiente para responder essas questões em extensão ou em profundidade. Apesar de nossa concordância com a maior parte dos pontos a respeito de ética e de postura perante as coisas, perante as pessoas e a vida, nossa prática está cheia de exemplos de dificuldade de manter com o vigor necessário a coerência com nossos próprios valores. Muitas vezes as crianças nos chamam a atenção para incoerências entre o que recomendamos e o que fazemos, sinal inequívoco de escorregada em nossa função como mestres! Portanto, o objetivo das aulas de Valores Humanos do PSSE para adultos é criar uma oportunidade para o aprofundamento de nossa compreensão e de desenvolvimento de uma maior capacidade de reflexão. A experiência do Programa mostra que os ganhos são muito grandes.

Na escola, podem ser montados grupos de estudo em que essas aulas são realizadas. Na Seção V.4 "Aulas pelo método direto e transdisciplinaridade", foram apresentadas sugestões de planejamento de aula em Valores Humanos. As reflexões sobre questões do cotidiano ou sobre os valores relativos, gradativamente criam condições para que professores ou educadores (todos nós!) se conscientizem de que o resgate dos valores humanos, inerentes a cada indivíduo, conduz ao auto-conhecimento e à percepção interna resultante desse processo com uma reavaliação de suas próprias atitudes perante a vida. Assim, o professor, mais seguro, mais tranqüilo, mais coerente, passa a ser fonte de inspiração para seus alunos através do próprio exemplo.

Do capítulo 2 ao 6 deste trabalho, são apresentadas diversas sugestões de planejamento de aula em Valores Humanos, com temas que promovem reflexões dentro dos valores: Verdade, Retidão, Paz, Amor, Não-violência.

Cada lição, apresentada como sugestão no capítulo 2, contém textos para estudo ou palestra, citação, conto, história ou parábola, reflexões, poema, etc., relacionados com os temas e valores propostos para a aula.

São apresentados ainda, ao final deste Programa, dois anexos:

! Anexo I: Exemplos de canções, orações, harmonizações conduzidas, meditações e mantras, como sugestões para os itens harmonização e canto grupal, apresentados nos planejamentos das aulas;

! Anexo II: Exemplos de dinâmicas de grupo, com o intuito de reforçar com o grupo um valor ou valor relativo ao valor absoluto estudado.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 76

VI.1. VIVÊNCIA DIÁRIA DOS VALORES HUMANOS

O trabalho de estar atento a como lidamos diariamente com os valores traz benefícios muito mais profundos do que poderia parecer, tanto para professores como para o funcionamento harmônico da Escola. Ele acaba favorecendo uma integração entre as pessoas que participam do grupo e uma conscientização mais profunda dos vários aspectos do processo educacional. Essa auto-avaliação não é um processo de cobrança ostensiva e hostil de ações e posturas, nem por parte da coordenação do grupo, nem por parte dos participantes, nem de si mesmo. É mais um processo de observação e compreensão. É evidente que precisamos de uma postura proativa para que haja transformação. Não é com passividade e indulgência que conseguiremos vencer a resistência interna a uma postura intensamente generosa, correta e verdadeira de nossa parte. Mas é necessário compreender que esse é um processo, que toma tempo, que deve ser baseado na reflexão interna, mais que na aparência externa, que é necessário sinceridade, determinação e coragem, mas também paciência e perdão para com o que considerarmos nossas falhas.

VI.2. PLANEJAMENTO E TEMPO DE DURAÇÃO DE UMA AULA

Neste trabalho, é proposto um planejamento de aula para cada lição a ser estudada, abordando temas do cotidiano, tendo como base os valores absolutos e seus valores relativos, escolhidos para a lição. Os planejamentos de aula foram desenvolvidos com aplicações das técnicas do Programa Sathya Sai Educare. Contudo, elas devem servir apenas como guia, como modelo geral.

O tempo de duração de uma aula para educadores pode ser de duas horas, dependendo da disponibilidade do grupo. Não há rigidez quanto à distribuição de tempo para cada uma das atividades da aula pelo método direto, já que algumas atividades requerem mais tempo e atenção do que outra. Mesmo com um planejamento prévio, o professor também pode perceber que a reflexão ou os resultados em uma atividade estão sendo bastante profundos e pode haver um remanejamento do tempo. Fica a critério do momento: em outras palavras, use o discernimento. Apenas é necessário lembrar que disciplina é importante, pois às vezes perde-se o fio da meada e a aula sequer termina, gerando uma sensação de algo incompleto ou de frustração. Além disso, algumas vezes surgem debates mais acalorados e é necessário algum grau de intervenção para manter um clima de respeito e concórdia. Uma discussão mal conduzida por dissolver o grupo e criar um clima desagradável na escola. Isso pode ser evitado sem problema. Claro que refletir sobre a intensidade do debate, fora de seu calor, também é interessante!

Dependendo das habilidades do grupo que coordenar as aulas, podem ser utilizadas técnicas complementares, como teatro e pintura, histórias ligadas à cultura indígena brasileira, trechos ilustrativos dos evangelhos ou relatos relevantes do cotidiano que evidenciem uma prática de valores que seja inspiradora. Apesar de pouco noticiados, eventos de generosidade, solidariedade, renúncia e sacrifício são abundantes, como qualquer situação de emergência pública pode mostrar. Assim, utilize este livro apenas como guia. Anote seus planos de aula, com suas observações e avaliações, e, na medida do possível, compartilhe com outros grupos em atividade. De modo geral, é importante que haja um planejamento do número de semanas que serão utilizadas, com uma distribuição das aulas relativas aos vários valores absolutos. Isso evita um andamento errático ou perda da objetividade.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 77

Já foi dito que se pretende evitar que o senso comum seja o fio condutor. Por isso, é necessário lembrar que o Programa tem um referencial teórico ou um ponto de vista a partir do qual é construído. É por isso que o programa tem um nome específico. Ainda que as conclusões sejam necessariamente individuais e livres, o Programa de sua parte não é vago ou indefinido. O foco do Programa está na expressão da essência humana –em toda a medida que se pode dizer, sua essência divina, criativa, com os atributos da Verdade, do Amor, da Retidão, da Paz Interior e da Não-violência. Assim, sugere-se que os círculos de estudos e as palestras sejam desenvolvidos, sempre que possível, com apoio ou a orientação de pessoas com algum conhecimento do Programa. O conhecimento prévio das técnicas do método Educare são importantes para um bom aproveitamento. Isso não pretende padronizar seu uso. Pelo contrário, a experiência nos próximos anos trará um imenso enriquecimento à aplicação do programa no Brasil, na medida que ele se impregnar dos elementos da cultura brasileira –o que também vale para outros países. Apenas, vale a pena evitar certos problemas relativamente comuns quando de sua aplicação sem maior compreensão das bases do Programa. Informações sobre pessoas e grupos em atividade podem ser obtidas junto ao Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil, cujo endereço está na página 4 deste Manual. Lembre-se de que absolutamente todas as atividades do Instituto são completamente gratuitas e ninguém pode se apresentar para dar palestras, cursos ou apoio utilizando o Programa ou os princípios educacionais sugeridos por Sathya Sai Baba cobrando qualquer tipo de pró-labore ou honorários de qualquer espécie.

VI.3. A ATIVIDADE DE CONCLUSÃO DAS VIVÊNCIAS

O encerramento das atividades pode ser vivenciado como um momento muito especial em que, além de alcançar determinados objetivos, possa, também representar uma confraternização entre os participantes do grupo. Especialmente, quando o grupo encerra todo um ciclo de aula, pode ser planejado algo especial, celebrando as atividades realizadas e o crescimento de todos. Bem, festa é algo para o qual não é necessário muito estímulo! Ainda assim, seria interessante planejar algo dentro do espírito do trabalho feito. Pode-se propor que o grupo se reúna no final de semana, por exemplo, num lugar diferente, talvez numa casa com jardim ou até mesmo num sítio, onde os participantes, dispondo de um tempo maior (passar juntos o dia ou período do dia), possam compartilhar, neste momento especial, alimentos, alegria e amizade mútuas.

VI.4. ALGUMAS OUTRAS ORIENTAÇÕES IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO HARMONIOSO DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

A finalidade do Programa Educare para educadores é colaborar na tomada de consciência de aspectos essenciais do ser humano, proporcionando condições para o desenvolvimento da responsabilidade de cada um em tornar melhor o mundo onde vivem, interna e externamente. Em paz e em harmonia consigo mesmo e com o mundo que o cerca, haverá melhora da qualidade de sua vida e do planeta. De fato, parece impossível haver transformação do mundo sem que haja transformação interior. Pensar que isso se aplica apenas aos outros seria de grande arrogância. Os valores que norteiam o Programa Educare são os mesmos que norteiam os princípios éticos,

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 78

filosóficos e espirituais de todas as religiões, de todas as tradições e de todos os movimentos organizados da sociedade, os quais, em síntese, se resumem em apenas um: o Amor.

O Programa contido neste livro, desenvolvido para o educador, não tem a finalidade de privilegiar nenhuma religião específica. Algumas lições, entretanto, abordam, direta ou indiretamente, aspectos culturais e filosóficos de diversas religiões, para que o educador conheça e compreenda a essência de cada uma e a traduza em sua própria vida cotidiana. Se o respeito à diversidade cultural é um valor da cidadania, precisaríamos estar preparados para lidar com a diversidade de religiões ou visões filosóficas entre os alunos do sistema educacional. Com essa abordagem, os alunos passariam a vivenciar mais profundamente os ensinamentos de sua própria fé e a respeitar melhor a religião dos demais. O cristão se tornará melhor cristão; o judeu, melhor judeu; o budista, melhor budista; o hinduísta, melhor hinduísta; o agnóstico um melhor agnóstico etc. Essa é uma questão interessante: gastando menos tempo no embate com diferentes abordagens religiosas ou filosóficas, temos mais tempo e tranqüilidade para mergulhar mais fundo no caminho que nós mesmos escolhemos. O educador perceberá que todas as religiões, em sua origem, têm essencialmente a mesma preocupação. Cada uma, apesar dos desvios, pretende levar o homem encontrar a si mesmo, a encontrar Deus ou o Absoluto ou valores que sejam universais. Removidos os desvios históricos, que às vezes podem ser grandes, a diferença entre as religiões conforme foram propostas originalmente é mais de forma que de conteúdo. Os estudantes compreenderão esse processo e terão a mais viva simpatia e respeito para com todos, qualquer que seja o caminho e o método adotado. Com essa consciência, não separarão os diferentes matizes e considerarão a todos os que amam a Deus, independente de seus credos, como andarilhos da mesma estrada, membros de uma mesma fraternidade. De qualquer maneira, o objetivo do Programa não é levar às religiões, mas à prática dos valores que estão nelas e em outras partes.

É importante que o coordenador do grupo conheça bem o grupo que está trabalhando. Ao apresentar determinados temas de outras culturas e credos, deverá fazê-lo com firmeza, integridade, clareza, bom senso e discernimento. Em algumas situações mais críticas, talvez seja necessário, para evitar confrontos religiosos, simplesmente não desenvolvê-los ou aguardar uma etapa em que houver mais unidade no grupo! Dessa forma, o coordenador só deve trabalhar com o material com o qual se sentir à vontade: se houver alguma forma de rejeição ou de compreensão insuficiente no material das aulas, é melhor promover sua substituição, usando sua criatividade e preparando seu próprio material.

É importante frisar também que não há necessidade que os aspectos culturais e filosóficos de outras religiões, desenvolvidos para uma turma de educadores, sejam repassados pelo professor para as crianças. Respeito à diversidade será transmitido às crianças menores através do próprio exemplo do professor. Algumas posições filosóficas nas várias culturas do mundo talvez ganhem uma abordagem melhor indireta, em aulas de história ou geografia, que nas aulas do Programa. Se o professor sentir necessidade de abordá-los com as crianças, que o faça com o devido discernimento, na linguagem apropriada à faixa etária e com a ciência dos pais.

Finalmente, há questões mais cotidianas, muitas delas óbvias, embora não menos importantes, para a condução das aulas do Programa que achamos importante listar. Alguns pontos reforçam aspectos que já foram citados.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 79

Pontos a serem considerados pelo Coordenador de um estudo em grupo

• Ser pontual. • Saber conceituar os valores humanos e o Programa Sathya Sai Educare. • Prefixar o tempo de duração para cada atividade de uma aula do Programa de Educação em

Valores Humanos, mas mantendo alguma flexibilidade. • Salientar para o grupo que o objetivo do Programa é orientar o estudante em uma reflexão

sobre aspectos dos valores humanos em sua vida. Importa ressaltar as virtudes de vivenciar os valores e não reforçar dificuldades ou hábitos equivocados. Se houver tendência a mudar o foco em questão, cabe ao coordenador redirecionar o assunto, com tranqüilidade e harmonia.

• Lembrar ao grupo que é preferível não se tratar de assuntos pessoais no estudo de valores humanos, a menos que correspondam a uma ilustração específica ligada ao tema. O propósito do Programa não é uma terapia de grupo.

• Procurar incentivar a participação de todos, ainda que não se deva fazer pressão sobre os que não desejam expressar sua opinião.

• Impedir a monopolização das discussões por integrantes. • Observar que todos devem usar a palavra de forma adequada e sucinta, dando oportunidade

de participação a todos. O tempo é precioso e precisa ser bem aproveitado. • Lembrar aos integrantes que as conversas paralelas devem ser evitadas, pois todos merecem

ser ouvidos. • Cuidar para que o foco dos estudos esteja sempre centrado no valor ou no tema escolhido

para aquela aula. As possibilidades são infinitas e divagação excessiva pode ser altamente desestimulante. Se o assunto está sendo desviado, retornar a atenção através de colocações e estratégias sutis.

• Lembrar que todas as colocações apresentadas devem ser respeitadas, ainda que sejam divergentes da opinião da maioria.

• Tomar muito cuidado para não fazer colocações que censurem, constranjam, inibam ou exponham a participação dos integrantes.

• Evitar situações de confronto entre os participantes. Um dos principais objetivos do Programa é gerar um ambiente de harmonia entre os presentes. Para quaisquer opiniões ou idéias divergentes, sempre há a possibilidade de uma síntese ou de simples respeito à diversidade.

• Dar oportunidade aos participantes para preparar ou fazer pequenas palestras, quando for uma atividade da aula. Apresente ao convidado as fontes de pesquisas e/ou o tema do assunto, bem como o tempo para sua exposição. É importante frisar que é enriquecedor para todos, inclusive para quem ministra a palestra, passar por essa experiência.

• Estudar e preparar sempre a aula com antecedência! • Executar antecipadamente as dinâmicas propostas nos planos de aula, para adquirir a

segurança necessária à sua aplicação. Sugere-se que os participantes não conheçam as atividades coletivas com antecedência. Geralmente o elemento surpresa funciona como fator importante para a assimilação do tema e valor proposto.

• Se você perceber que algumas pessoas tiveram dificuldade em compreender algum ponto, peça esclarecimento ao expositor.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 80

• Utilizar-se de colocações e expressões da forma mais universal possível, a fim de não privilegiar nenhuma tradição espiritual, mas procurar os elementos comuns a elas.

Pontos a serem considerados pelos integrantes no trabalho em grupo (de preferência, leia para o grupo na primeira reunião)

• A pontualidade é fundamental. • Todos devem se sentir à vontade para participar. • O tempo é precioso: precisa ser bem aproveitado. • Sua palavra é importante; entretanto, não faça discurso: seja simples e objetivo. • Tenha consciência de que as atividades do Programa estão direcionadas para que se vivencie,

se aprenda e não para que se ensine, especialmente com uma compreensão dos pontos-de-vista dos demais. Até os Coordenadores do grupo estão em constante processo de aprofundamento e aprendizagem.

• Não tenha medo de dizer que não sabe ou não entendeu. Só assim, poderão ser esclarecidas as dúvidas. Não se acanhe de pedir informações ao Coordenador a respeito das atividades a serem realizadas por seu grupo, evitando dispersão de esforços e idéias. A arrogância é uma postura sutil e não deve ser confundida com auto-confiança.

• Procure participar com mais ênfase das atividades quando o assunto tratado pertencer à sua área de competência. Sua experiência pode ser rica para todos.

• Envolva-se profundamente com os objetivos estabelecidos pelo grupo. • Todos merecem ser ouvidos: evite conversas paralelas. • Ouça com atenção e profundo respeito a seus colegas. O desempenho constante dessa

habilidade dará base para lidar compreensivamente com posições alheias. • As opiniões devem ser respeitadas, ainda que divergentes da sua. Não diga: “Não concordo!”

Essa expressão cria um clima emocional desfavorável ao trabalho em grupo. Apresente seus argumentos sem dizer que está discordando do outro, todos perceberão seu posicionamento. Procure ser cauteloso em relação a suas próprias posições. Os motivos são mais importantes que a simples discordância.

• Expresse sua concordância ou elogie, quando for o caso. Esses procedimentos aumentam a coesão do grupo, um sentimento muito importante.

• O Programa pretende, em última instância, que os valores sejam levados à prática. Esse não é um curso acadêmico de filosofia. Portanto, “Escute, reflita e, após, coloque em prática.” (Sathya Sai Baba)

• Nenhum esforço é em vão. Sem o esforço da busca, é impossível a alegria do encontro.

Pontos que os professores devem trabalhar com os alunos no PSSE[4]

O professor deve ser um estudante vitalício, engajado não apenas no estudo, mas mergulhado também na prática. Somente a chama de uma lamparina acesa pode acender outras chamas.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 81

Portanto, o mestre dedicado deve levar a iluminação aos tenros corações de seus alunos e cuidar de sua luz interna, para que possa inspirar os que estão sob seus cuidados[3].

Os tópicos a seguir são alguns pequenos objetivos que os professores devem conquistar com seus alunos, levando-se sempre em consideração o grupo em questão e as condições para a realização do trabalho. Esses são pontos apenas para a reflexão dos professores e não uma lista a ser passada aos alunos. Sua conquista deve ser natural. Muitos outros itens podem ser elencados.

• Cuidar da limpeza e higiene pessoal. • Apresentar-se às aulas com assiduidade. • Fazer deveres pessoais com gosto e regularidade. • Realizar as tarefas escolares por si mesmo. • Alimentar-se nos horários adequados. • Não desperdiçar alimentos. • Lavar as mãos antes das refeições. • Orar antes das refeições. • Preferir alimentos frescos e simples. • Manter boa saúde e cuidar-se para não ficar enfermo. • Não passar tempo demasiado brincando pelos arredores. • Não assistir muito TV. • Não desperdiçar o tempo em leituras sem valor. • Não desperdiçar água e eletricidade. • Zelar pelos artigos escolares e não os desperdiçar. • Falar suavemente. • Dizer a verdade. • Ter comportamento pacífico. • Esforçar-se em transcender os maus hábitos e erros. • Não falar muito. • Levantar-se cedo. • Ter interesse em aprender novas coisas. • Estar atento às aulas. • Compartilhar e ser útil aos demais. • Ter compaixão por todo ser vivente. • Orar antes de recolher-se e ao levantar-se. • Pronunciar as orações corretamente e com consciência. • Respeitar os pais e os mais velhos e obedecer-lhes. • Mostrar gratidão aos pais. • Ajudar os irmãos mais novos. • Ajudar nos trabalhos do lar ou fora dele. • Cooperar em manter um ambiente limpo no lar.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 82

• Aceitar com agradecimento tudo que seus pais lhes derem. • Respeitar os professores. • Ajudar a manter a sala de aula limpa e arrumada. • Participar com alegria e gosto das atividades escolares. • Ser otimista. • Não discutir assuntos familiares com os estranhos. • Guardar os segredos confiados, mas não ficar com segredos com os demais. • Não arrancar, puxar ou quebrar as plantas. • Não maltratar animais. • Tratar bem empregados e serventes. • Meditar regularmente. • Tornar felizes os outros através de suas ações e atividades. • Ler bons livros. • Participar das atividades familiares, religiosas e culturais. • Desenvolver espírito de pesquisa. • Comportar-se honestamente. • Aprender a perder. • Não perder a calma. • Amar a terra em que nasceu. • Conhecer o hino nacional e cantá-lo com respeito. • Saber o significado dos símbolos nacionais. • Desenvolver o altruísmo e o patriotismo. • Conhecer histórias com valores importantes e a vida de heróis nacionais. • Respeitar todas as religiões. • Respeitar a mãe Terra e todos os seres vivos. • Demonstrar sentido estético em assuntos culturais. • Saber o que significa uma boa educação. • Participar das tarefas de serviço altruístico. • Ter confiança em si mesmo ao realizar qualquer trabalho. • Concentrar-se ao estudar. • Manter equanimidade nos exames e em qualquer competição. • Ter conhecimento sobre primeiros socorros. • Controlar os desejos sobre objetos materiais. • Demonstrar presteza e pontualidade em tudo. • Ajudar os menos afortunados. • Participar de atividades relativas à conservação e respeito à natureza. • Empregar as habilidades em propósitos construtivos. • Ajudar a organizar atividades escolares.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE

Capítulo 1 - O Programa Educare Aulas e oficinas para os Educadores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 83

• Desenvolver um bom caráter, ou seja, ter unidade entre pensamento, palavra e ação. • Ter uma mente e coração livres de preconceitos de religião, raça, ideologia, cor, condição

social e crenças. • Sempre estar atento para remover más qualidades e desenvolver boas qualidades, ou seja,

estar de mente aberta ao conjunto de virtudes que compõe a essência do ser humano –por exemplo, o espírito de sacrifício, correta noção do dever, tolerância, amor à verdade e à justiça, ter pontualidade, assiduidade e responsabilidade nos seus deveres etc.

• Encontrar e desenvolver seus próprios talentos e habilidades, como oratória, música, pintura, esportes, representação (jogral, esquete, teatro, recitar poesia) etc.

• Ter regularidade e pontualidade em seus estudos, buscando sua excelência em todos os sentidos, de forma integral.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Uma mensagem aos Professores

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 84

VII. UMA MENSAGEM AOS PROFESSORES

Sathya Sai Baba fala aos professores:

“Não imaginem que seu serviço às crianças é para o bem delas, pois é igualmente para o seu próprio bem. Vocês lidam com crianças, seu crescimento e amadurecimento. Devem estar atentos a esta preciosidade e à necessidade de expressar isto em seus atos.

Não nutram o orgulho, imaginando que as crianças necessitam de seus serviços. Vocês precisam delas tanto quanto elas de vocês.

Professores que promovam o amor mútuo em si mesmos e em seus pupilos são muito necessários atualmente.

O homem é essencialmente uma fonte de eterna alegria, paz, amor e devoção. Cultivem isto em preceitos, exemplos e exercícios durante o ano letivo, e os educandos terão segurança e doçura enquanto viverem.

Os valores humanos não podem ser absorvidos através de textos ou discursos. Aqueles que procuram passar os valores aos estudantes devem, eles mesmos, primeiro praticar e dar o exemplo.

Encham seus corações de amor e ponham as crianças sob seus cuidados na senda ideal. Sacrifiquem tudo que tiverem pelo bem das crianças puras de coração, que contam com vocês como guia.

Vocês podem ensinar o amor aos estudantes somente através do amor. Vocês estão lidando com crianças tenras, no papel de professores, guias e exemplos. Devem se preparar para estas metas, vivendo os valores que distinguem os homens.

Sirvam primeiro para que, então, conquistem a posição de líderes. Somente um bom servo pode tornar-se um bom mestre. Este novo empreendimento educacional só pode ter sucesso quando suas vidas forem saudáveis.

Os professores podem atingir altos ideais se cooperarem, forem disciplinados, imbuindo-se de serviço, sacrifício e se forem determinados para o sucesso. Instruam as crianças a reverenciarem seus pais. Esta é a primeira coisa a fazer.

O professor tem a parte mais importante na formação do futuro do País. De todas as profissões, a sua é a mais nobre, a mais difícil e a mais importante. Se um aluno tem um vício, ele sozinho sofre por isto; mas se um professor tem um vício, milhares são poluídos por isto.

Aqueles que ensinam e os que aprendem devem ter calma, concentração e muita atenção.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Capítulo 1 - O Programa Educare Uma mensagem aos Professores

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Somente um grande professor pode moldar um grande estudante. Vocês devem plantar sementes espirituais nas mentes jovens e nutri-las para que cresçam. Entre todas as profissões, o ensino é a que traz consigo a maior responsabilidade. Os professores devem moldar os jovens de hoje para que se tornem honrados cidadãos de amanhã.

Se os próprios professores não seguirem a ética da veracidade, etc., como poderão instruir bons hábitos e valores às crianças?

Os professores não devem se preocupar com considerações sobre as horas de trabalho; quando necessário, devem estar preparados para permanecerem no serviço por algumas horas a fim de tirarem dúvidas dos estudantes e ajudá-los a completar seus exercícios. Este é o seu dever.

Se os professores fizerem sua parte corretamente, as nações serão transformadas. Os pais e os professores são responsáveis por todas as más práticas entre os estudantes. Cultivem no coração a Verdade, a Retidão, a Paz e o Amor. A colheita deve ser feita no coração e partilhada com os outros. Vocês devem cultivar os valores humanos e incorporar a disciplina espiritual juntamente com a educação mundana.

Para ensinar os valores humanos, gemas preciosas, são necessários professores competentes e dedicados que pratiquem estes valores. No cultivo dos valores humanos deve-se dar ênfase ao não desperdício de dinheiro, alimento e tempo. Até mesmo os professores devem ser treinados para isto.

O mais sagrado dos serviços é o prestado às crianças. Conduzam as crianças pela senda feliz da verdade. Deixem seus rostos sempre mostrarem sorrisos oriundos da alegria originada da contemplação dos semblantes infantis.

Levem adiante seus deveres como professores com espírito de dedicação, amor e serviço. Sejam exemplos brilhantes para o país e para o mundo.

As crianças são lamparinas que podem iluminar o caminho da nação. A primeira tarefa dos professores é o cultivo das virtudes no coração de seus pupilos.

Professor e aluno. Ambos imergirão na alegria somente quando o amor, que não espera retorno, possa uni-los.”

Sathya Sai Baba (págs. 65 a 68) [3]

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 86

Bibliografia:

[1] Central Council – Sri Sathya Sai Organization in Canada. – “Education in Human Values”, Manual for Teachers - Sathya Sai, Fourth Indian Edition, , 1995.

[2] Centro Sathya Sai de Educação em Valores Humanos. “Educação Em Valores Humanos, Manual para professores- Sathya Sai.

[3] Organização Sri Sathya Sai do Brasil. “A Transformação pela Educação Espiritual – O Programa Sri Sathya Sai de Educação em Valores Humanos”, 1ª ed., Rio de Janeiro, CC&P Editores, 1999.

[4] Organização Sri Sathya Sai, Comitê Coordenador do Brasil, Coordenação Nacional de Educação. “Referências para Aplicação do Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos nos Centros e Grupos Sathya Sai do Brasil”, (Apostila), 1999.

[5] Bhagavan Sri Sathya Sai Baba. “Sadhana: O Caminho Interior”, Editora Record

[6] Bhagavan Sri Sathya Sai Baba. “Chinna Katha – Historias e Parábolas, vol.1”, Comitê Coordenador do Brasil - Organização Sri Sathya Sai do Brasil, 1991.

[7] Das, Manoj. “Histórias da Índia Antiga – Recontadas por Manoj Das”, São Paulo, Ed. Shakti, 1994.

[8] Das, Manoj. “Histórias da Índia Antiga “2” – Recontadas por Manoj Das”, São Paulo, Ed. Shakti,1997.

[9] Bukkyo Dendo Kyokai. “A Doutrina de Buda”, 3ª ed., Tóquio, Japão, Fundação para Propagação do Budismo,1982.

[10] Organização Sri Sathya Sai, Comitê Coordenador do Brasil. “Vivendo em Dharma”,1ª ed., Rio de Janeiro, publicado pela Fundação Bhagavan Sri Sathya Sai Baba do Brasil, 1998.

[11] Martinelli, Marilu. “Aulas de transformação”, Ed. Fundação Peirópolis

[12] Rohden, Huberto. “Mahatma Gandhi”, Ed. Alvorada

[13] A Mãe. “Belles Histoires – Pequenos Contos de Grande Luz”, 1ª ed., Salvador, publicado pela Casa Sri Aurobindo,1983.

[14] Iyengar, B.K.S. “A Luz da Ioga”, Ed. Cultrix.

[15] Paramahansa Yogananda. “Autobiografia de um Iogue”, Ed. Summus Editorial

[16] Paramahansa Yogananda. “Onde Existe Luz”, Self-Realization Fellowship.

[17] Swami Sivananda. “ O Poder do Pensamento Pela Ioga”, São Paulo, Editora Pensamento.

[18] Krishnamurti. “A educação e o significado da vida”, Ed. Cultrix

[19] Krishnamurti. “Que Estamos Buscando?”, Ed. Cultrix

[20] Swami Vivekananda. “Karma Yoga – A Educação da Vontade”, São Paulo, Ed. Pensamento.

[21] Besant, Annie. “Dharma”, São Paulo, Ed. Pensamento.

[22] http://www.vertex.com.br/users/san. Site da Internet, “As Mais Belas Histórias Budistas - e outras histórias”

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 87

[23] Bhagavad Gita. “A Mensagem do Mestre”, São Paulo, Editora Pensamento.

[24] Pessoa, Fernando. “Obra Poética”, 4ª ed., Rio de Janeiro, José Aguilar, 1972.

[25] Meireles, Cecília. “Cânticos”, Ed. Moderna, 1987.

[26] Organização Sri Sathya Sai, Comitê Coordenador do Brasil, Programa de Jovens Sathya Sai, Área de Devoção. “Manual do PJSS”, (Apostila), 1999.

[27] Fundação Bhagavan Sri Sathya Sai Baba do Brasil. “Ensinamentos de Sri Sathya Sai Baba”, 1ª ed., Rio de Janeiro, Editora ao Livro Técnico, 1999.

[28] Feldman Christina e Kornfield Jack. “Histórias da Alma, Histórias do Coração”, 2ª ed., São Paulo, Editora Pioneira, 1999.

[29] Satvic Gerard T. “Satvic Food and Health in Sathya Sai Baba’s Words”, 2ª rev. ed., New Delhi, Sai Towers Publishing, 1997.

[30] Swami Sri Yukteswar, “La Ciencia Sagrada”, 1ª ed. (em espanhol), CA. USA, Self Realization Fellowship, 1998.

[31] Teerakiat Jareonsettasin, MD., MRCPsych (UK) (compilador e editor). “Educação Sathya Sai – Filosofia e Prática”, 1ª ed., Rio de Janeiro, CC&P Editores, 2000.

[32] Gandhi. “As palavras de Gandhi – Texto selecionado por Richard Attenborough”, 7ª ed, Rio de Janeiro, Editora Record,1982.

[33] Brunton, Paul. “Idéias em Perspectiva”, 10ª ed., São Paulo, Editora Pensamento,1995.

[34] Melo, Anthony de. “O Enigma do Iluminado, volume 1”, 2ª ed, São Paulo, Edições Loyola, 1996.

[35] Comitê Coordenador do Brasil. “Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos (PSSEVH), Coordenação: Nomaihaci R. Ferreira Crivelli”, (Apostila), Fev/2000.

[36] Filho, Afonso Mota. “Os Pensamentos Básicos da Sabedoria”, 2ª ed., Petrópolis, Editora Vozes, 1991.

[37] O Sufismo no Ocidente , Rio de Janeiro, RJ, Edições Dervish, 1984.

[38] http://www.ibb.org.br/vidanet/outras/msg168.htm.Site da Internet, Vida.net Mensagens de Paz para sua vida.

[39] A Mãe. Educação – Um guia para o conhecimento e o desenvolvimento integral de nosso Ser, 1ª ed., Salvador, publicado pela Casa Sri Aurobindo.

[40] Comitê Brasileiro de apoio ao Tibet. Pensamentos e reflexões sobre a Paz, Publicação realizada em comemoração à segunda visita de Sua Santidade o Dalai Lama ao Brasil (4 a 7 de abril de 1999).

[41] Bennett William J. O Livro das Virtudes para Crianças, 19ª edição – 1997, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira.

[42] Roff, Jonathan. Caminhos para Deus, 1ª ed., Rio de Janeiro, CC&P Editores 2000.

[43] Krystal, Phyllis. Sugestões de Estudo e Uso Individual do Programa de Limite aos Desejos, 1ª ed., Rio de Janeiro.

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PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE - EDUCANDO COM VALORES HUMANOS

Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 88

[44] Site da Internet: www.geocities.com/iansol_bh.

[45] Eknath Easwaran. Bondade Originária, São Paulo, ECE Editora, 1996.

[46] Antunes, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências, 9ª ed., Petrópolis, Editora Vozes, 1998.

[47] Melo, Anthony de. “O Enigma do Iluminado, volume 2”, São Paulo, Edições Loyola.

[48] Jumsai, Art-ong. Os cinco valores humanos e a excelência humana. Instituto Sathya Sai de Educação, Rio de Janeiro. 1998.

[49] Burrows, Lorraine & Art-ong Jumsai. Descobrindo o coração do ensino. Instituto Sathya Sai de Educação, Rio de Janeiro. 2000.

[50] Silvia V. Altman, Claudia R. Comparatore & Liliana E. Kurzrok. Matemática Polimodal, Funciones 1. Editorial Longseller, Buenos Aires.

[51] Alberto Lettieri & Laura Garbarini. História Polimodal, Las revoluciones atlânticas (1750-1820). Editorial Longseller, Buenos Aires.