PROGRAMA AVES Inquérito de Opinião, Competências e Valores ...

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PROGRAMA AVES Inquérito de Opinião, Competências e Valores - Resultados de 2004 António M. Fonseca Introdução No âmbito dos objectivos do Programa AVES – Avaliação de escolas com ensino secundário, a vontade de “conhecer os processos educativos de cada escola assim como os resultados que obtêm os alunos, tendo em conta as características da escola e o nível académico dos alunos”, passa também pela avaliação de estratégias de aprendizagem, valores e atitudes, competências de raciocínio, e opinião sobre a escola. Os pais dos alunos também são chamados a expressar a sua opinião sobre a escola 1 . Neste texto apresentam-se e discutem-se os resultados alcançados com a aplicação dos instrumentos de avaliação das dimensões consideradas, reportados a 2004, do seguinte modo: - apresentação dos resultados por dimensão, sendo previamente delimitados o modo e a natureza dessa avaliação; - síntese dos principais resultados seguida de respectiva discussão. Resultados 1. Valores e Atitudes A prova de Valores e Atitudes consiste num questionário de 52 itens, a que cada aluno responde anonimamente. Nesse inquérito são analisados temas de quatro eixos orientadores: educação ambiental, educação para a paz, educação para a saúde; educação para a igualdade de oportunidade entre os sexos. A partir dos dados obtidos através da administração desta prova aos alunos, avalia-se a relevância junto dos alunos dos seguintes factores: - tolerância e igualdade de oportunidade entre os sexos: refere-se à posição que os alunos adoptam em temas como o racismo, a xenofobia e a discriminação, assim como os conhecimentos e comportamentos relacionados com a igualdade de oportunidades entre ambos os sexos; - ecologia e respeito pelo meio ambiente: refere-se à posição que os alunos adoptam perante conhecimentos e comportamentos no âmbito da educação ambiental; - saúde e bem-estar: refere-se à posição que os alunos adoptam relativamente a conhecimentos e comportamentos no âmbito da educação para a saúde. 1 Os instrumentos de avaliação utilizados estão disponíveis em: Fundação Manuel Leão (2003). PROGRAMA AVES – Avaliação de escolas com ensino secundário. Apresentação dos instrumentos de avaliação para a população portuguesa. Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão.

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PROGRAMA AVES Inquérito de Opinião, Competências e Valores - Resultados de 2004

António M. Fonseca

Introdução No âmbito dos objectivos do Programa AVES – Avaliação de escolas com ensino

secundário, a vontade de “conhecer os processos educativos de cada escola assim como os

resultados que obtêm os alunos, tendo em conta as características da escola e o nível

académico dos alunos”, passa também pela avaliação de estratégias de aprendizagem, valores

e atitudes, competências de raciocínio, e opinião sobre a escola. Os pais dos alunos também

são chamados a expressar a sua opinião sobre a escola1. Neste texto apresentam-se e

discutem-se os resultados alcançados com a aplicação dos instrumentos de avaliação das

dimensões consideradas, reportados a 2004, do seguinte modo:

- apresentação dos resultados por dimensão, sendo previamente delimitados o modo e

a natureza dessa avaliação;

- síntese dos principais resultados seguida de respectiva discussão.

Resultados 1. Valores e Atitudes

A prova de Valores e Atitudes consiste num questionário de 52 itens, a que cada aluno

responde anonimamente. Nesse inquérito são analisados temas de quatro eixos orientadores:

educação ambiental, educação para a paz, educação para a saúde; educação para a igualdade

de oportunidade entre os sexos.

A partir dos dados obtidos através da administração desta prova aos alunos, avalia-se a

relevância junto dos alunos dos seguintes factores:

- tolerância e igualdade de oportunidade entre os sexos: refere-se à posição que os

alunos adoptam em temas como o racismo, a xenofobia e a discriminação, assim como os

conhecimentos e comportamentos relacionados com a igualdade de oportunidades entre

ambos os sexos;

- ecologia e respeito pelo meio ambiente: refere-se à posição que os alunos

adoptam perante conhecimentos e comportamentos no âmbito da educação ambiental;

- saúde e bem-estar: refere-se à posição que os alunos adoptam relativamente a

conhecimentos e comportamentos no âmbito da educação para a saúde.

1 Os instrumentos de avaliação utilizados estão disponíveis em: Fundação Manuel Leão (2003). PROGRAMA AVES – Avaliação de escolas com ensino secundário. Apresentação dos instrumentos de avaliação para a população portuguesa. Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão.

As primeiras três figuras referem-se aos resultados alcançados nesta prova pelos alunos do 7º,

9º e 11º anos de escolaridade.

Figura 1

O factor saúde e bem-estar é aquele que alcança maior relevância junto dos alunos do 7º ano

de escolaridade, sucedendo o inverso com o factor tolerância e igualdade de oportunidades.

Não há diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas.

Figura 2

Nos alunos do 9º ano, o factor saúde e bem-estar continua a ser o mais destacado, mas agora

é o factor ecologia o menos valorizado. Não há diferenças de resultados consoante o contexto

sócio-cultural das escolas.

Figura 3

Os resultados expressos pelos alunos do 11º ano de escolaridade revelam uma tendência

idêntica à observada no 9º ano: maior valorização atribuída ao factor saúde e bem-estar,

menor ao factor ecologia. Verifica-se uma diferença de resultados consoante o contexto sócio-

cultural das escolas no factor saúde e bem-estar, no sentido de uma maior valorização deste

factor nos alunos provenientes de escolas de contexto médio.

Uma visão agrupada destes resultados (Figura 4), independentemente do contexto das

escolas, permite-nos extrair as seguintes ideias principais:

- valores e atitudes relativos à saúde e bem-estar são os mais destacados pelos

alunos, em todos os anos de escolaridade;

- valores e atitudes relativos à ecologia são, no 9º e no 11º ano, os menos destacados

pelos alunos;

- com o avanço da escolaridade, verifica-se um aumento da importância atribuída a

valores e atitudes relativos à tolerância e igualdade de oportunidades, e uma diminuição da

relevância de valores e atitudes relativos à saúde e bem-estar.

Figura 4

A prova de Valores e Atitudes permite ainda analisar o factor transversalidade, por meio do

qual se avalia a percepção dos alunos sobre a forma como temas transversais do currículo

(nomeadamente, tolerância e igualdade de oportunidades, ecologia, saúde e bem-estar), são

abordados em cada estabelecimento de ensino. Os resultados obtidos apresentam-se na

Figura 5.

Figura 5

À medida que se avança na escolaridade, a percepção dos alunos é que a abordagem de

temas transversais vai tendo um peso cada vez menos importante no respectivo currículo.

2. Estratégias de Aprendizagem

A prova de Estratégias de Aprendizagem consiste num questionário de 44 itens, a que cada

aluno responde anonimamente.

A partir dos dados obtidos através da administração desta prova aos alunos, avaliam-se os

seguintes factores:

- tratamento da Informação: refere-se à capacidade dos alunos para planificar a

tarefa que pretende levar a cabo e tratar a informação, extraindo as ideias principais e

distinguindo o essencial do acessório;

- técnicas de estudo: refere-se ao uso de técnicas próprias de elaboração e

organização da informação, tais como resumos, esquemas ou guiões;

- articulação de saberes: refere-se à capacidade do aluno para estabelecer relações

entre o que já sabe e os novos conteúdos, bem como entre diferentes áreas de estudo;

- aprendizagem pela memória: refere-se à forma como o aluno aborda o estudo e

caracteriza-se pela consideração isolada dos materiais de estudo, usando a memorização.

Figura 6

As principais ideias a reter são as seguintes:

- verifica-se uma grande homogeneidade quanto às estratégias de aprendizagem

usadas pelos alunos;

- não há diferenciação de estratégias à medida que se avança na escolaridade;

- a aprendizagem pela memória é muito salientada pelos alunos, nos três anos de

escolaridade.

Não se verificaram diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas.

3. Competências de Raciocínio

Este questionário consiste num conjunto de três provas/testes de raciocínio diferencial,

originalmente incluídas na Bateria de Provas de Raciocínio Diferencial (BPRD), instrumento

de avaliação das capacidades intelectuais aferido para a população estudantil portuguesa pelo

Prof. Leandro Almeida, em meados da década de oitenta.

A BPRD tem subjacente a possibilidade e o interesse de avaliação da capacidade de raciocínio

dos alunos em diferentes conteúdos de raciocínio; no caso do Projecto AVES, foram

seleccionados o Raciocínio Numérico, o Raciocínio Abstracto e o Raciocínio Verbal.

Raciocínio Numérico

A prova de Raciocínio Numérico compõe-se de 30 itens sob a forma de sequências

lineares ou alternadas de números que se seguem em cada série. Este trabalho requer, por um

lado, a descoberta da “lei de sucessão” dos números e, por outro, a aplicação desse princípio

aos problemas propostos, subentendendo a realização de pequenos cálculos.

Exemplo:

1 2 4 8 16 - -

Raciocínio Abstracto

A prova de Raciocínio Abstracto compõe-se de 35 itens figurativos ou de conteúdo

abstracto em termos de significação. O aluno terá que, inicialmente, perceber a relação

existente entre os dois elementos de um primeiro par de figuras para, de seguida, aplicar essa

relação a um segundo par que é constituído por uma terceira figura apresentada e por uma

quarta a escolher de entre as cinco alternativas de resposta.

Exemplo:

Raciocínio Verbal

A prova de Raciocínio Verbal compõe-se de 40 itens verbais, apresentados sob a

forma de analogias. Após a descoberta da relação existente entre um primeiro par de palavras,

o aluno deverá encontrar uma quarta palavra que mantenha idêntica relação com a terceira

apresentada.

Exemplo:

Quarto está para Casa, como Capítulo está para _________

a) Dicionário b) Leitura c) Livro d) Jornal e) Revista

Cada uma destas provas tem subjacente um tempo de realização próprio, distinto de prova

para prova. O resultado de cada prova equivale ao número total de respostas correctas que o

aluno alcançou dentro do tempo atribuído para cada uma. A apreciação desse resultado deve

fazer-se comparando o valor obtido por um aluno numa determinada prova com o valor médio

a b c d e

alcançado por um grupo representativo de alunos do mesmo sexo e do mesmo ano de

escolaridade nessa mesma prova, realizada em condições semelhantes. Esses valores médios

foram calculados para a população estudantil portuguesa do 7º ao 12º ano de escolaridade,

pelos autores da BPRD, a partir de uma amostra nacional representativa de cerca de 15 000

alunos, repartidos pelos vários anos de escolaridade, pelos dois sexos e por várias regiões.

Analisemos, desde já, os resultados obtidos pelos alunos por ano de escolaridade.

Figura 7

Fig. 7 – cont.

Em todas as provas, os resultados médios obtidos pelos alunos que actualmente frequentam o

7º ano são inferiores aos obtidos pelos alunos que frequentavam o 7º ano de escolaridade há

cerca de 20 anos. Verifica-se um grande equilíbrio entre os resultados actuais e os registados

há 20 anos pelos alunos que frequentam o 9º ano e o 11º ano de escolaridade.

Analisemos, agora, os resultados obtidos pelos alunos por ano de escolaridade e por contexto

sócio-cultural da escola.

Figura 8

Figura 9

Figura 10

Em qualquer uma das provas de raciocínio usadas e nos três anos de escolaridade

considerados, verifica-se uma clara variação dos resultados em função do contexto, ocorrendo

uma diminuição progressiva dos resultados à medida que se “desce” nos níveis de contexto.

No 7º ano, a diminuição é acentuada de nível para nível. No 9º ano, essa diminuição é mais

suave, sendo o ano de escolaridade onde os resultados são mais equilibrados entre os

contextos. No 11º ano, a clivagem faz-se essencialmente do contexto de nível alto para os dois

outros contextos de nível médio, onde os resultados são idênticos.

4. Opinião sobre a escola - alunos

A avaliação da opinião dos alunos sobre a escola que frequentam realiza-se a partir de um

questionário com 35 itens.

A análise das respostas é realizada em função de sete factores:

- ordem, disciplina e ambiente de trabalho no estabelecimento de ensino: refere-se

aos itens que abordam a disciplina, a ordem e o ambiente de trabalho assegurados pelos

professores dentro da sala de aula, bem como à forma de resolução de eventuais problemas

disciplinares;

- professores - relação e competência: refere-se ao relacionamento humano com os

professores, em especial no que diz respeito à capacidade de comunicação, à disponibilidade e

à capacidade de partilha de responsabilidades pedagógicas;

- actividades: refere-se às actividades extra escolares e às propostas didácticas ao

nível das diferentes disciplinas; procura analisar a quantidade, mas também a qualidade e,

sobretudo, o nível de participação dos alunos tanto na concepção como na execução dessas

actividades propostas;

- Director de Turma - relação e competência: refere-se ao papel do director de turma

como conselheiro, como interlocutor nos conflitos, como "ponte" com os encarregados de

educação e como informador privilegiado sobre o futuro profissional;

- classificações obtidas: refere-se ao índice de satisfação com os resultados

escolares alcançados, bem como do grau de justiça desses resultados;

- relação com os colegas: refere-se ao nível de satisfação na relação com os colegas,

tanto da turma como da escola em geral;

- satisfação com a escola em geral.

Figura 11

Para todos os factores avaliados, os alunos do 7º ano de escolaridade são aqueles que têm

uma opinião mais positiva da escola que frequentam e os alunos do 11º ano os que registam

uma opinião menos positiva. A opinião sobre a escola vai, pois, registando impressões

progressivamente menos positivas (ou até negativas) à medida que se avança na escolaridade,

em particular entre 7º e o 9º ano de escolaridade. Do 9º para o 11º ano de escolaridade, a

opinião tende a estabilizar (excepção feita ao factor actividades). Em qualquer um dos anos

de escolaridade, relação com os colegas e Director de Turma são os aspectos acerca dos

quais os alunos mantêm uma opinião mais positiva; actividades e classificações são os

aspectos que menos opiniões positivas recolhem dos alunos. A satisfação com a escola em

geral é elevada em qualquer um dos anos de escolaridade, registando o mesmo padrão de

evolução da generalidade dos factores avaliados: diminuição de satisfação entre o 7º e o 9º de

escolaridade, satisfação idêntica no 9º e 11º anos de escolaridade.

Não se verificaram diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas.

5. Opinião sobre a escola – encarregados de educação

A avaliação da opinião dos encarregados de educação sobre a escola que os educandos

frequentam faz-se a partir de um questionário com 28 itens.

A análise das respostas é realizada em função de cinco factores:

- funcionamento da escola e preparação dos alunos;

- comunicação com professores/directores de turma;

- informação e participação dos pais na vida escolar;

- ordem e disciplina;

- actividades extra-curriculares.

Figura 12

Os factores comunicação com professores/directores de turma e ordem e disciplina são

aqueles acerca dos quais os encarregados de educação têm uma opinião mais positiva, em

qualquer um dos anos de escolaridade. O factor que recolhe uma opinião menos positiva é o

relativo às actividades extra-curriculares. A opinião dos encarregados de educação sobre a

escola vai-se tornando progressivamente menos positiva, em todos os factores avaliados, à

medida que se avança na escolaridade, com uma variação mais sensível entre o 7º ano e o 9º

ano de escolaridade, permanecendo depois mais estável entre o 9º e o 11º ano de

escolaridade.

Não se verificaram diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas.

Síntese de resultados e discussão Para facilitar a discussão dos resultados, apresentamos inicialmente uma síntese das principais

ideias já registadas (Quadro 1), distinguindo, para além de uma apreciação global, duas

variáveis de interpretação: o ano de escolaridade e o contexto socio-cultural da escola.

Quadro 1

APRECIAÇÃO GLOBAL ANO DE

ESCOLARIDADE

CONTEXTO

SOCIO-CULTURAL

Valores e atitudes Valores e atitudes relativos

à saúde e bem-estar são

os mais destacados pelos

alunos

Valores e atitudes relativos

à tolerância e igualdade

de oportunidades são os

menos salientados pelos

alunos do 7º ano; valores e

atitudes relativos à

ecologia são os menos

destacados pelos alunos

do 9º e do 11º ano. Com o

avanço da escolaridade,

verifica-se:

- aumento da relevância de

valores e atitudes relativos

à tolerância e igualdade

de oportunidades,

- diminuição da relevância

de valores e atitudes

relativos à saúde e bem-

estar.

De um modo geral, não há

diferenças significativas de

resultados consoante o

contexto sócio-cultural das

escolas.

Transversalidade Este factor alcança um

valor médio entre os

alunos.

A percepção dos alunos é

que a abordagem de

temas transversais vai

tendo um peso cada vez

menor no respectivo

currículo, à medida que se

avança na escolaridade.

Não se verificaram

diferenças de resultados

consoante o contexto

sócio-cultural das escolas.

Estratégias de aprendizagem

Grande homogeneidade

quanto às estratégias de

aprendizagem usadas

pelos alunos. A

aprendizagem pela

memória é muito

salientada pelos alunos

como uma estratégia de

aprendizagem importante.

Não há diferenciação

significativa de estratégias

entre os diferentes anos de

escolaridade.

Não se verificaram

diferenças de resultados

consoante o contexto

sócio-cultural das escolas.

Competências de raciocínio

Em todas as provas, os

resultados actuais ficam

aquém ou são idênticos

aos obtidos pelos alunos

que efectuaram estas

provas há cerca de 20

anos.

Os resultados médios

obtidos pelos alunos que

actualmente frequentam o

7º ano são inferiores aos

obtidos pelos alunos que

frequentavam o 7º ano de

escolaridade há cerca de

20 anos. Os resultados

actuais e os registados há

20 anos pelos alunos que

frequentam o 9º ano e o

11º ano de escolaridade

são globalmente idênticos.

Há variação dos resultados

em função do contexto,

com uma diminuição

progressiva dos resultados

à medida que se “desce”

no contexto:

- no 7º ano, a diminuição é

acentuada,

- no 9º ano, a diminuição é

mais suave, sendo o ano

de escolaridade onde os

resultados são mais

equilibrados entre os

contextos,

- no 11º ano, a clivagem

faz-se essencialmente do

contexto alto para os

outros contextos de nível

médio, onde os resultados

são idênticos.

Opinião sobre a escola - alunos

Relação com os colegas

e Director de Turma são

os aspectos acerca dos

quais os alunos mantêm

uma opinião mais positiva;

actividades e

classificações são os

aspectos que menos

opiniões positivas

recolhem dos alunos. A

satisfação com a escola

em geral é elevada.

Os alunos do 7º ano de

escolaridade são aqueles

que têm uma opinião mais

positiva da escola que

frequentam e os alunos do

11º ano os que manifestam

uma opinião menos

positiva. A opinião sobre a

escola vai registando

impressões cada vez

menos positivas à medida

que se avança na

escolaridade, em particular

entre 7º e o 9º ano de

escolaridade. Do 9º para o

11º ano de escolaridade, a

opinião tende a estabilizar.

Não se verificaram

diferenças de resultados

consoante o contexto

sócio-cultural das escolas.

Opinião sobre a escola – encarregados de educação

Comunicação com

professores/directores

de turma e ordem e

disciplina são os aspectos

acerca dos quais os

encarregados de educação

têm uma opinião mais

positiva. O aspecto que

recolhe uma opinião

menos positiva é

actividades extra-

curriculares

A opinião dos

encarregados de educação

é progressivamente menos

positiva à medida que se

avança na escolaridade,

com uma variação mais

sensível entre o 7º e o 9º

ano de escolaridade,

permanecendo depois

mais estável entre o 9º e o

11º ano de escolaridade.

Não se verificaram

diferenças de resultados

consoante o contexto

sócio-cultural das escolas

Tendo novamente presente o objectivo de conhecer os processos educativos de cada escola,

de acordo com as características da escola e o nível académico dos alunos, é possível

equacionar a hipótese de estarmos perante um conjunto de resultados que nos oferecem uma

imagem global das escolas envolvidas no Programa AVES apresentando duas facetas

completamente distintas:

- por um lado, os alunos e respectivos encarregados de educação estão satisfeitos com

a escola que frequentam, contribuindo para essa apreciação positiva um conjunto de

aspectos relacionais (relação com os colegas e director de turma) e de organização

da escola (comunicação com professores/directores de turma, ordem e

disciplina), os quais fazem apelo a uma faceta afectiva da relação aluno-escola

satisfatoriamente alcançada nestes estabelecimentos de ensino;

- por outro lado, os indicadores disponíveis sobre estratégias de aprendizagem e

competências de raciocínio dão-nos sinais de estarmos perante um conjunto de

escolas cuja faceta cognitiva da relação aluno-escola revela fragilidades, sendo difícil

de compreender tanto a ausência de evolução dos resultados relativos às

competências de raciocínio face há duas décadas atrás, como a ausência de evolução

das estratégias de aprendizagem a que se recorre ao longo da escolaridade (“estuda-

se e aprende-se sempre da mesma forma”, com recurso substancial à memorização).

Aliás, verifica-se que os alunos mais satisfeitos com a escola (os do 7º ano de escolaridade)

são aqueles que apresentam resultados mais baixos ao nível das competências de raciocínio,

aproximando-se depois estes resultados, no 9º e 11º anos de escolaridade, das médias de

aferição para Portugal, mas com uma espécie de “custo”: os alunos passam a ter uma opinião

menos favorável da escola (ainda que não seja negativa). Tal poderá significar a existência de

uma incompatibilidade (que importa investigar) entre as duas facetas atrás realçadas, como se

o trabalho escolar no domínio da faceta cognitiva, fazendo os alunos crescerem sob este ponto

de vista, seja susceptível de comprometer o envolvimento afectivo dos alunos em termos da

frequência escolar.

Assim, o período que decorre entre o 7º e o 9º ano de escolaridade parece ser um período de

progressivo desencanto com a escola sob o ponto de vista afectivo mas de progressivo

incremento sob o ponto de vista cognitivo, observando-se depois uma estabilidade entre o 9º e

o 11º ano que, nomeadamente em termos das competências de raciocínio e das estratégias de

aprendizagem, poderá ser explicada por duas vias:

- ou porque a escola concentra-se na transmissão de conhecimento e descura o

desenvolvimento do aluno no seu papel de sujeito cognitivo e aprendente,

- ou porque o próprio aluno se acomoda à realidade escolar, cumprindo o que lhe é

solicitado e resistindo à valorização de si mesmo em domínios não directamente

relacionados com o currículo.

De resto, estamos perante escolas acerca das quais existe uma percepção generalizada de

valorizarem pouco o papel das actividades para além do currículo. Este ponto de vista é

partilhado por alunos e encarregados de educação, sendo particularmente salientado pelos

alunos mais avançados na escolaridade, o que poderá ajudar a sustentar as hipóteses

anteriormente avançadas.

A diferença de resultados entre os três anos de escolaridade avaliados é notória também ao

nível dos valores e atitudes. Se é certo que o factor saúde e bem-estar surge sempre bem

destacado – é uma evidência desenvolvimental que os aspectos relativos à saúde pessoal são

fortemente valorizados pelos adolescentes e uma evidência sociológica que a promoção do

bem-estar individual encaixa numa orientação individualista do viver contemporâneo –,

observa-se um aumento progressivo da tolerância e igualdade de oportunidades no quadro

de valores e atitudes dos alunos. Este fenómeno explica-se naturalmente pela maior abertura

ao outro, pelo reconhecimento dos seus direitos, opiniões e necessidades, não sendo de

menosprezar o papel que eventualmente a escola possa desempenhar nesse sentido,

aperfeiçoando o pensamento cívico dos alunos. A perda de importância dos valores e atitudes

relativos à saúde e bem-estar, à medida que a escolaridade (e a idade) progride(m), justifica-

se dado ser esperado um aumento da adopção de comportamentos de risco para a saúde

pessoal, logo, ser esta menos valorizada pelos adolescentes que frequentam o 11º ano de

escolaridade quando comparados com os que frequentam o 9º e sobretudo o 7º ano de

escolaridade.

Finalmente, quanto à importância do contexto socio-cultural, a sua influência faz-se sentir de

forma significativa em termos das capacidades de raciocínio, penalizando os alunos

provenientes de um nível socio-cultural mais baixo e evidenciando o papel que a estimulação

derivada da pertença a um contexto socio-cultural mais elevado exerce no plano cognitivo. Ou

seja, ser proveniente de um meio social mais alto ou mais baixo não é indiferente quanto às

possibilidades de obtenção de performances mais elevadas em tarefas nas quais estejam

implicadas capacidades de raciocínio (como são a generalidade das tarefas de natureza

curricular). Já o mesmo não se pode dizer relativamente às variáveis que se prendem com

valores e opiniões, onde o papel do contexto socio-cultural parece não exercer influência de

relevo, demonstrando a existência de alguma homogeneidade trans-nacional quanto aos

valores e atitudes aqui avaliados e à opinião sobre a escola.