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Universidade de São Paulo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas Departamento de  Astronomia Manoel Carlos Vieira de Moraes Junior Tratamento das condensações em modelos de fotoionização de envoltório de novas: aplicação em HR Delphini e V842 Centauri São Paulo Outubro de 2010

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Universidade de São PauloInstituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas

Departamento de  Astronomia

Manoel Carlos Vieira de Moraes Junior

Tratamento das condensações em modelos de fotoionização de envoltório de novas: aplicação em HR Delphini e V842 Centauri

São PauloOutubro de 2010

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Manoel Carlos Vieira de Moraes Junior

Tratamento das condensações em modelos de fotoionização de envoltório de novas: aplicação em HR Delphini e V842 Centauri

Tese   apresentada   ao   Departamento de   Astronomia   do   Instituto   de Astronomia,   Geofísica   e   Ciências Atmosféricas da USP como requisito parcial   para   obtenção   do   título   de Doutor em ciências.

Área de concentração: AstronomiaOrientador: Prof.Dr. Marcos Diaz

São Paulo    2010

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Abstract

During the outburst of classical nova 10­6  to 10­4 Mʘ are ejected  to the interstellar medium. Some 

novae have their ejecta spatially resolved and show asymmetrical and structured remnants. Classical 

novae   remnants   are   important   scenarios   for   improving   the   photoionization   modeling   os 

astrophysical   plasmas.   This   work   describes   the   pseudo­3D   code   RAINY3D   which   drives   the 

photoionization code CLOUDY as subroutine. Photoionization simulations of old nova remnants are 

presented and discussed. In these simulations we analyse the effect of condensations in the remnant 

photoionization structure. The behavior of the nebular lines observed in novae remnants are also 

analysed for heterogeneous shells.  The gas diagnostic in novae are thought to be more accurate 

during the nebular phase, but we have found that at this phase the matter distribution can strongly 

affect the derived shell physical properties and chemical abundances.

The   HR  Del   and  V842   Cen   remnants  were   observed  using   the   integral   field   unit   of  Gemini 

Telescope  multi­object   spectrograph.  The  analysis  of   spatially   resolved  spectra   shows  the   shell 

geometry and give constrains to the photoionization models. The V842 Cen shell has a spherical 

geometry with  two components defined by their  velocities.  The HR Del  remnant has a  bipolar 

geometry defined by two spherical lobes. The line ratios indicate aspherical illumination. The N and 

O abundances possibly decrease with the distance to the central source. The V842 best models yield 

an ejected mass of 2­4 x 10­4 Mʘ and a condensed mass fraction of 0.1­ 0.2. The central source has a 

temperature of 80000 K and a luminosity of 1­3 x 1035 erg.s­1. The nova parameters are in agreement 

with an eruption model in a 0.65 Mʘ white dwarf. The best fit model of the HR Del remnant was 

obtained by a clumpy shell  with condensed mass fraction of 0.5­0.7 and a disk shape ionizing 

source. The shell density range was from 200 cm­3  in the lower density regions to a maximum of 

6000 cm­3 in the higher density clumps. The central source luminosity obtained was 1036 ergs­1 and 

its temperature is 65000K.  

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Resumo

Durante a erupção de uma nova clássica são ejetados de 10­6  a ~10­4  Mʘ de material para o meio 

interestelar. Algumas novas com o envoltório espacialmente resolvido apresentam remanescentes 

assimétricos e com condensações. Esses remanescentes são cenários importantes para aprimorar 

modelos  de   fotoionização  que  devem considerar   a   distribuição  de  matéria   para   a  obtenção  de 

parâmetros mais precisos. Este trabalho propõe um código pseudo­3D denominado RAINY3D que 

trata  envoltórios  de  novas  com condensações.  As simulações  de envoltórios  com condensações 

mostram que a presença de glóbulos de matéria afeta o diagnóstico físico e químico do plasma, 

mesmo em envoltórios  evoluídos.  Além disso,   a  distribuição  de   tamanhos  e  densidades  desses 

glóbulos também influenciam os espectros sintéticos derivados desses modelos. 

Foram   observados   os   envoltórios   de   HR   Del   e   V842   Cen   com   a   técnica   de   espectroscopia 

bidimensional, através do espectrógrafo de campo integral do telescópio Gemini (GMOS­IFU). A 

análise do cubo de dados forneceu uma caracterização do envoltório e vínculos para os modelos de 

fotoionização. O envoltório de V842 Cen apresentou uma geometria aparentemente esférica com 

duas componentes definidas pela velocidade de expansão. O envoltório de HR Del apresenta uma 

geometria bipolar com lóbulos esféricos simétricos. As razões de linha indicam que a iluminação é 

asférica. Há indícios que as abundâncias de oxigênio e nitrogênio diminuem com a distância da 

fonte central.  Os modelos de fotoionização para o envoltório de V842 Cen indicam uma massa 

ejetada de 2­4 x 10­4  Mʘ ,  com uma fração de massa condensada de 0,1 a 0,2. Os resultados são 

compatíveis com uma erupção em uma anã branca de 0,65 Mʘ . Os valores da abundância de hélio e 

oxigênio nessa nova foram revisadas. Os modelos para o envoltório de HR Del apontam para uma 

massa  ejetada  de  9  x  10­4  Mʘ  e  com uma fração condensada entre  0,5  e  0,7.  A densidade  do 

envoltório varia de 200 cm­3 a 6000 cm­3. A temperatura da fonte ionizante inferida é 65000K  com 

uma   luminosidade   de   1036  erg.s­1.Os   modelos   com   iluminação   asférica,   em   forma   de   disco, 

reproduzem melhor o espectro observado. 

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Agradecimentos

O apoio das pessoas mais próximas trouxe tranquilidade e equilíbrio pessoal, o que tornou viável o  

processo do doutoramento. À Joana, obrigado por sempre estar do meu lado, principalmente nos  

momentos que não estava. À Juju, Lara e Kyra que me impuseram diariamente o provérbio popular  

corpore sano, mente sana.

Este trabalho não teria sido possível sem a dedicação do Professor Marcos Diaz, que forneceu as  

ferramentas   e   as   possibilidades   para   que   hovesse   progesso.   Agradeço   também   aos   outros  

Professores   do   IAG   em   especial   o   Professor   Jorge   Horvath,   que   foi   meu   revisor   durante   o  

doutorado e a Professora Ruth Gruenwald pela leitura crítica e comentários sobre rascunho do 

artigo de HR Del.  O suporte  do  instituto astronômico durante o  doutorado,  por  meio de suas 

instalações e pessoal  tornou o trabalho menos árduo. Em especial os cofee­brakes das últimas  

sextas­feiras de cada mês.

Agradeço ao Cnpq pelo financiamento, fundamental para que o trabalho fosse concluído durante 

minha vida útil.

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Índice

Capítulo 1

1.1 – Variáveis cataclísmicas........................................................................................1

1.1.1 – Sistemas magnéticos.............................................................................4

1.2 – Novas e novas recorrentes...................................................................................7

1.2.1 – Mecanismo de erupção.........................................................................9

1.2.2 – As DTNs e as propridades do envoltório.............................................18

1.2.3 – Modelos de fotoionização do envoltório de novas...............................26

1.3 – Nova HR Delphinis.............................................................................................31

1.4 – Nova V842 Centaurus.........................................................................................37

1.5 – Objetivos do trabalho..........................................................................................41

Capítulo 2

2.1 – Dados espectroscópicos de HR Del e V842 Cen...............................................44

2.2 – Métodos de análise............................................................................................46

2.3 – Envoltório 3D com condensações – código RAINY3D....................................47

2.4 – Modelos com geometria definida......................................................................55

2.5 – Fonte ionizante extensa.....................................................................................58

2.6 – Limitações do método.......................................................................................58

Capítulo 3

3 – Simulações e análise.............................................................................................60

3.1 – O efeito de fc no espectro dos modelos.............................................................61

3.2 – O efeito da população de condensações no espectro modelado........................68

3.2.1 – Modelos e a intensidade H...............................................................68

3.2.2 – Linhas de hélio...................................................................................71

3.2.3 – Linhas de oxigênio.............................................................................74

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3.2.4 – Linhas de nitrogênio..........................................................................78

3.2.5 – Razões invariantes..............................................................................80

3.3 – Discussão dos resultados...................................................................................81

Capítulo 4 

4.1 – O estudo do envoltório de V842 Centaurus......................................................85

4.1.1 – O cubo de dados.................................................................................85

4.1.2 – Estimativa de massa do envoltório.....................................................91

4.1.3 – Um envoltório bipolar?......................................................................92

4.2 – Identificação das linhas do espectro nebular....................................................97

4.3 – Estimativas de abundância.............................................................................105

4.4 – Modelos de fotoionização..............................................................................108

4.5 – Discussão dos resultados de V842 Cen.........................................................114

Capítulo 5

5.1 – Estudo do envoltório de HR Del....................................................................119

5.1.1 – O cubo de dados..............................................................................119

5.1.2 – Estimativa de massa do envoltório..................................................129

5.1.3 – Identificação das linhas do espectro nebular...................................131

5.1.4 – Estimativas de abundâncias.............................................................139

5.1.5 – Glóbulos exteriores do envoltório...................................................141

5.2 – Análise espectral do envoltório resolvido.....................................................142

5.3 – Modelos de fotoionização.............................................................................150

5.3.1 – Modelos esféricos e homogêneos..................................................150

5.3.2 – Modelos com condensações e geometria bipolar...........................152

5.3.3 – Modelos com fonte ionizante extensa............................................156

5.4 – Discussão dos resultados para HR Del.........................................................159

5.4.1 – Morfologia do envoltório...............................................................159

5.4.2 – Modelos de fotoionização..............................................................162

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Capítulo 6

6  ­ Conclusões....................................................................................................165

6.1 – RAINY3D e o efeito das condensações..........................................165

6.2 – Envoltório de V842 Centaurus........................................................166

6.3 – Envoltório de HR Delphinis............................................................167

6.4 – Perspectivas.....................................................................................169

Capítulo 7

7 – Referências...................................................................................................170

Anexo 1 : Paper sobre HR Del ­ 2009AJ 138, 1541

Anexo 2: Paper sobre o código RAINY3D e aplicações – submetido PASP

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Índice de Tabelas

Tabela 1 Classificação espectroscópica de novas em erupção, sendo C a fase coronal,  P,  principal, A, auroral e N, nebular................................................................................ 25

Tabela 2 Parâmetros de entrada para o envoltório 3D com condensações............................... 54

Tabela 3 Parâmetros da fonte ionizante. No caso da negativa em usar o espectro de corpo negro, se utiliza uma atmosfera estelar de alta gravidade da tabela de Rauch.......... 54

Tabela 4 Parâmetros complementares para o cálculo dos fluxos das linhas de emissão......... 55

Tabela 5 Parâmetros dos modelos k3­10 e k10­50 no estudo dos efeitos da distribuição de  densidades e de tamanhos das condensações no espectro observado........................ 69

Tabela 6 Dimensões dos envoltórios em cada intervalo de 10 angstrons dos mapas de linhas  de A a I na região H + [N II]................................................................................... 87

Tabela 7 Dimensões dos envoltórios em cada intervalo de 10 angstrons dos mapas de linhas  de A a I na região H ................................................................................................ 88

Tabela 8 Identificação das linhas de emissão da região nebular da nova V842 Cen região de  0,7 a 3,5 arcsec da fonte central................................................................................ 103

Tabela 9 Parâmetros para os modelos de V842 Cen utilizando o código RAINY3D.............. 109

Tabela 10 Razão de linhas de V842 Cen e melhores ajustes dos modelos de 1, (A e C) e 2(B) componentes................................................................................................................ 112

Tabela 11 Identificação das linhas do envoltório de HR Del para as regiões central e nebular 135

Tabela 12 Razão de linhas para as regiões central e nebular de HR Del................................... 137

Tabela 13 Parâmetros de entrada dos modelos de fotoionização do envoltório de HR Del........ 151

Tabela 14 Razões de linha observadas e dos modelos esférico e homogêneo (3a coluna); com condensações  e   fonte   ionizante  pontual   (4a  coluna);   com condensações  e   fonte  extensa tipo disco  (5a coluna).................................................................................... 158

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Índice de figuras

Figura 1 Esquema de uma variável cataclísmica não magnética e o potencial de Roche de suas componentes. A matéria da secundária, estrela da sequência principal flui  pelo ponto de Lagrange L1  e tem uma trajetória balística até atingir o disco de  acréscimo. 1

Figura 2 Esquemas de uma variável cataclísmica polar, A e uma polar intermediária, B. As figuras foram adaptadas de Cropper, 1990 e Ghosh & Lamb, 1978 respectivamente. 5

Figura 3 Esquema da queima nuclear do hidrogênio pelo ciclo CNO, adaptado de Hernanz  2004. 10

Figura 4 Variação da abundância no envelope de uma nova com anã branca de CO, 1,15  Mʘ e com mistura de 50% ­ figura adaptada de José & Hernanz, 1998. 11

Figura 5  Relação entre a massa da anã branca e o período de rotação. A linha significa  uma razão axial maior que 5% e as regiões acima são de envoltório circular (GK  Per e V1500 Cyg), abaixo as regiões de envoltórios prolatos (DQ Her) e bipolar  (RS Oph). 21

Figura 6 No gráfico da esquerda temos o tamanho máximo da condensação máx em função da   escala   característica   de   resfriamento   rc,   ambos   em   função   do   raio   do  envoltório.   Na   figura   da   direita   o   mesmo   tamanho   máximo   da   condensação relativo ao raio do envoltório L/r em função da classe de velocidade da nova, dada  por t3. 23

Figura 7  Curva de luz de HR Del no óptico obtida por Rosino e Rafanelli (1978). A curva  mostra   que   a   subida   inicial   apresenta   diversos   picos   antes   do   máximo   em dezembro de 1967. Há ainda um pico intenso em maio de 1968. 31

Figura 8 Espectro óptico de HR Del na fase nebular. As linhas proibidas, como o [O III]  4959,5007 ficam importantes. Observa­se também linhas de elementos neutros,  como [O I]. 32

Figura 9 Espectro de HR Del no ultra violeta, obtido dos dados públicos do satélite IUE de  1979 e 1992. 33

Figura 10 Perfil da linha [O III]5007 obtida por espectroscopia de fenda longa por Solf,  1983. Observa­se componentes deslocadas para o vermelho (R) e para o azul (B) 34

Figura 11 Modelo do envoltório de HR Del proposto por Harman e O'Brein 2003 a partir de  observações realizadas com o telescópio Hubble e por espectros em fenda longa. O envoltório é bipolar, com duas componentes esféricas. 36

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Figura 12 Espectro de V842 Cen no óptico obtido em 2003 com fenda de 1” e tempo de  exposição   de   9300   segundos.   Os   quadros   em   destaque   mostram   as   linhas   de Balmer mais intensas a fim de se comparar o perfil das linhas, evidenciando a  contaminação de  H    por   [N  II].  O painel  de  baixo  mostra  as   linhas  menos  intensas, nota­se que 17 anos após a erupção ainda há linhas de alta ionização.  Figura adaptada de  Schmidtobreick et al. 2005. 38

Figura 13 Imagem de V842 Cen na luz de H+[N II] obtida em 1998 por Gill & O'Brien,  1998.  A   imagem da  esquerda  corresponde  a  do   remanescente,   a  da  direita,  a  imagem deconvoluida sem a fonte central. 43

Figura 14 Sistema   de   coordenadas   utilizado   pelo   código   RAINY3D   para   gerar   as  condensações e os elementos de ângulo sólido.   A área cinza corresponde a uma interação completa em para um elemento de resolução d. 49

Figura 15   Perfil   de   densidade   de   um   elemento   de   ângulo   sólido   sem   condensações   à  esquerda e com condensações, à direita. A unidade de densidade está normalizada pela densidade da componente sem condensações.  A unidade de dimensão está  normalizada pelo elemento de resolução espacial r e compreende a região entre  o raio interno e externo do envoltório. 51

Figura 16 Fluxograma do código RAINY3D no modo ajuste. A inicial K significa o índice da  lei de potência para a distribuição de densidades dos glóbulos, FW é o índice da  distribuição de tamanhos, fc a fração de massa nas condensações e a o índice da lei de potência da distribuição homogênea de matéria, que define o background. 53

Figura 17  Sistemas  de  coordenadas  para  o   envoltório  bipolar,   composto  de  duas   esferas  fundidas. A fonte central é posicionada e O e o eixo de simetria é . A região cinza no   interior   das   esferas   não   contém   matéria.   A   razão   axial     foi   obtida   das observações de HR Del. 56

Figura 18 Variação   da   luminosidade   total   da   linha   H  em   função   de   fc.   Os   outros  parâmetros foram mantidos constantes. 61

Figura 19 Variação da razão He II 4686/H em função da fração de massa condensada. O aumento de fc diminui significativamente a população de He++ do envoltório. 63

Figura 20 Variação da razão [O III]5007/H em função da fração de massa condensada. 64

Figura 21 Variação da razão [O II] 7325 / H em função da fração de massa condensada. 65

Figura 22 Variação da razão [N II]6584/H em função da fração de massa condensada. 66

Figura 23 Variação do conjunto de linhas de CIII e NIII em  4645 em função de fc. 67

Figura 24 Variação da temperatura na região de formação das linhas de [OIII] em função de  fc. 67

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Figura 25 Luminosidade na linha de H  nos modelos de envoltório k10­50 em função dos  parâmetros   livres  que descrevem a  distribuição de   tamanhos e  densidades  das  condensações. 70

Figura 26 Luminosidade na linha de H  nos modelos de envoltório k3­10 em função dos  parâmetros   livres  que descrevem a  distribuição de   tamanhos e  densidades  das  condensações. 70

Figura 27 Variação da razão de linha He II 4686/H em função do parâmetro que controla a  distribuição   de   densidades   na   população   de   condensações.   A   variação   nos  modelos de envoltório k3­10 é bem mais acentuada que nos modelos k10­50. 72

Figura 28 Variação da razão de linha He II 4686/H em função do parâmetro que controla a  distribuição   de   tamanhos   das   condensações.   A   variação   para   os   modelos   de  envoltório menos denso, k3­10 é bem mais acentuada que nos modelos k10­50. 73

Figura 29 Variação da razão [O III] 5007/H  em função dos parâmetros que descrevem a  distribuição de densidade e tamanho das condensações nos modelos de envoltório  de baixa densidade, k3­10. 75

Figura 30 Variação da razão [O III] 5007/H  em função dos parâmetros que descrevem a  distribuição de densidade e tamanho das condensações nos modelos de envoltório  de alta densidade, k10­50. 76

Figura 31 Variação   da   temperatura   da   ragião   emissora   da   linha   [O   III]   em   função   da  distribuição de tamanhos das condensações. 77

Figura 32 Variação   da   temperatura   da   ragião   emissora   da   linha   [O   III]   em   função   da  distribuição de tamanhos das condensações. 79

Figura 33 Variação da razão [N II] 6584/H  em função dos parâmetros que descrevem a  distribuição de densidades e tamanhos das condensações. 80

Figura 34 Mapas   de   linhas   no   comprimento   de   onda   de   H  e   [N   II]  6548,6584.   O primeiro quadro acima e a esquerda equivale a 6530­40 ou ­1500 km.s­1 de H. Os quadros seguintes são deslocados de 10 A até o quadro central na linha de baixo,  com entre 6600­6610 ou +2150km.s­1 de H. O último quadro representa a soma de todo o intervalo. A região central de diâmetro de 2” foi subtraída nos frames de A­H para melhorar o contraste da imagem. 86

Figura 35 Mapa de linhas na região de H, entre  4845 e 4885 Angstrons ou de ­1000 a + 1500   km.s­1  de   H  de   repouso.   Cada   quadro   representa   a   integração   em   um intervalo de 5 Angstrons. O quadro I representa a integração em todo o intervalo  da   linhas   de   4845   a   4885   Angstrons.   O   deslocamento   do   centro   da   emissão  máxima em relação a H  se deve a refração diferencial atmosférica. 87

Figura 36 Intensidade das linhas H+ [N II] em função da distância angular ao centro do sistema.   O   limiar   da   detecção     da   emissão   do   envoltório   foi   definido   pela  intensidade média do ruído sobre o fundo. 88

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Figura 37 Intensidade da linha H em função da distância ao centro do sistema. O limiar da detecção   da emissão do envoltório foi definido pela intensidade média do ruído  das regiões sem detecção. 89

Figura 38 Mapa das  linhas [O II]  7320,7330 com o contínuo local  subtraído.  Pode­se  observar que o envoltório consiste de um anel circular com muitos glóbulos de matéria.  92

Figura 39 Mapa de velocidades para a região do complexo [O II]7325, com intervalos de 5  Angstrons.   O   quadro   A   corresponde   ao   intervalo   7217­7322.   O   envoltório  apresenta   diversas   condensações   de   matéria,   que   aparecem   em   função   do intervalo  de   velocidade.  O  deslocamento  Doppler  parece  ocorrer   em  um eixo  perpendicular ao plano do céu. 94

Figura 40 Mapa da linha de He I  6678 com a fonte centra à esquerda e sem a fonte central,  à direita. Ambos com contínuo subtraído 95

Figura 41 Mapa   do   envoltório   na   linha   He   I   7065,   com   o   contínuo   local   subtraído   do  espectro. 95

Figura 42 Relação entre a massa da anã branca e sua rotação, com a curva de um envoltório prolato em 5%. As regiões abaixo da curva indicam envoltórios cada vez mais  prolatos e bipolar. Adaptado de Scott (2000). 96

Figura 43 Aspecto geral do espectro de V842 Cen na região de 4000 a 9400 Angstrons. Esse  espectro corresponde à somatória de todas as micro­lentes (~ 4500) e foi corrigido  do avermelhamento. 97

Figura 44 Espectro de V842 Cen, contendo somente a contribuição nebular. As micro­lentes  com um raio de 0,7 segundos de arco da fonte central (pico de emissão) não foram computadas.  O perfil  da  linha [O III] 5007 se destaca por apresentar as duas  componentes Doppler definidas. A unidade de fluxo é erg.s­1.cm­2. 98

Figura 45 Região azul do espectro de V842 Cen mostrando as emissões intensas em 4500 Angstrons   que   corresponde   às   linhas   de   Fe   II   e   [Fe   II].   Também   pode   ser  identificada a emissão de He II 4686 e do complexo CIII +NIII 4645. 99

Figura 46 Espectro da região nebular de V842 Cen que mostra as linhas [N II] 5755 e He I  5876. A linha de He I 5876 apresenta uma absorção na componente vermelha do  perfil, que é devido as linhas do Na I D. 100

Figura 47 Espectro  da   região nebular  de  V842  Cen,  a   linha  mais   larga  corresponde  ao complexo [O II] 7320,7330. 100

Figura 48 Espectro   da   região   nebular   de   V842   Cen,   com   as   linhas   de   [O   I]   e   [Fe   X]  indicadas. 101

Figura 49 Mapa de HR Del nas linhas de H+[NII] e [O III]5007. Os mapas compreendem toda a largura dessas linhas e estão apresentados com a mesma escala de cores.  No mapa de H+[NII] foi retirada a região de raio 1 arco­segundo centrada na  fonte mais brilhante a fim de se melhorar o contraste. 119

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Figura 50 Mapa de velocidades na região do espectro correspondente a linha [O III] 5007.  Os quadros representam um intervalo de velocidade correspondente a 2A ou 120 km.s­1. O quadro A corresponde a ­900 km.s­1 e o L a 540 km.s­1.As imagens foram geradas a partir do espectro com o contínuo subtraído. 121

Figura 51 Mapas de   linhas  na região H +[N II]  com  intervalo de 230 km.s­1,   sendo A deslocado de ­1510 km.s­1 e O deslocado de 1940 km.s­1 em relação a H. A fonte  central e as regiões circundantes foram removidas para aumentar o contraste da  imagem. Todas as imagens tiveram o contínuo subtraído. Escala logarítmica de 1 a  100. 124

Figura 52 Mapa obtido a partir de H somadas as contribuições de todas as componentes de  velocidade. A região central foi subtraída para melhor visualização. A linhas foi  integrada entre 4856 e 4866 Angstrons. 126

Figura 53 Mapa em He II 4686 com a região central e seus arredores subtraídos para melhor  visualização. O contínuo foi subtraído da linha.  127

Figura 54  Razão (H + [N II]) / [O III] 5007. As regiões azuis indicam os locais onde a  emissão do oxigênio é mais intensa. 128

Figura 55 Figura 55 – Relação entre a massa da anã branca e sua rotação com a função de  um envoltório prolato em 5%. As regiões abaixo da curva apresentam razão axial  crescente. Adaptado de Scott (2000). 129

Figura 56 Espectro gerado combinando todas as micro­lentes do IFU. 132

Figura 57 Espectro obtido a partir das micro­lentes correspondentes à região nebular de HR  Del. 133

Figura 58 Espectro da região correspondente às capas polares entre as linhas de CIII+NIII  4645 e [OIII]5007. 133

Figura 59  Perfil das linhas H e [O III] 5007 no espectro de segunda ordem. 134

Figura 60 Definição das regiões para análise espectral no envoltório de HR Del. 143

Figura 61 População de He++ ao longo dos eixos polar e equatorial. 144

Figura 62 Abundâncias de He+ (vermelho), He++ (preto) e nHe/nH (verde) para o eixo polar  (esquerda) e equatorial (direita) 145

Figura 63 População de O0  (verde), O+  (vermelho) e O++  (preto) ao longo dos eixos polar  (esquerda) e equatorial (direita).

146

Figura 64 Abundância de O++,O+,O0/H+ nos eixos polar (preto) e equatorial (vermelho). 147

Figura 65 Razão H + [N II]/Hao longo dos eixos polar (preto) e equatorial (vermelho) 149

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Figura 66 Distribuição do tamanho dos glóbulos e ajustes linear e lei de potência. 150

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I ­ Introdução

1 – Introdução

1.1– Variáveis Cataclísmicas

Variáveis Cataclísmicas (VC) são sistemas binários cerrados eruptivos onde uma anã branca (AB), 

dita primária, acreta material de uma estrela anã na sequência principal ou de uma já evoluída, dita 

secundária. A transferência de matéria ocorre através do extravazamento do lóbulo de Roche da 

secundária. Em sistemas não magnéticos a acresção se dá através de um disco de acréscimo.

Por definição, binárias serradas são aquelas em que ocorre uma interação significativa entre as 

componentes.  A   interação  pode   ser   radiativa,   a   exemplo  do  aquecimento  da   face  de  uma  das 

componentes,  por uma companheira muito quente,  ou pode ser por força de maré,  que distorce 

ambas componentes através da combinação dos efeitos gravitacionais e da força centrífuga. Nas 

VCs, as estrelas secundárias são geralmente distorcidas enquanto que as primárias, de raio pequeno 

tendem a não sofrer influência dos efeitos de maré,  exceto em circunstâncias especiais. Um dos 

efeitos da força de maré na secundária é fazê­la rotacionar em sincronia com o período orbital o que 

elimina alguma excentricidade inicial  da órbita.  A escala de tempo para essa condição é  muito 

pequena quando comparada ao tempo de vida da VC. Uma exceção a essa regra são sistemas com 

período orbital muito superiores a 1 dia. A figura 1 mostra um esquema de uma VC não magnética.

O sistema pode ser descrito através da generalização da terceira lei de Kepler feita por Newton:

  Porb2=

42 a3

G [M 1M 2]                      (1)

1

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I ­ Introdução

onde a é a separação entre os centros de massa das componentes da binária e M1 e M2 as massas da 

primária e secundária respectivamente.

Figura   1   –   Esquema   de   uma   variável   cataclísmica   não   magnética   e   o   potencial   de   Roche   de   suas  componentes. A matéria da secundária, estrela da sequência principal flui pelo ponto de Lagrange L1 e tem uma trajetória balística até atingir o disco de acréscimo.

Adotando­se coordenadas cartesianas, com o referencial girante na primária, o eixo X orientado na 

linha dos centros de massa das componentes do sistema e o eixo Z perpendicular ao plano da órbita, 

o potencial total em qualquer ponto é a soma do potencial gravitacional das componentes com o 

potencial  da   força   fictícia  centrífuga.  As   linhas   equipotenciais  desse  potencial   total   fornece  os 

lóbulos de Roche que dependem somente da razão de massas, q = M2/M1 e sua escala depende da 

separação do sistema.

R=−GM1

x2 y2

z2

1 /2−

GM 2

x−a2y2z2

1 /2−

12orb

2 [ x−a2 y2] , (2)

2

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I ­ Introdução

onde  =M 2/ M1M 2 e orb=2Porb

.

Os equipotenciais de Roche podem ser visualizados na figura 1. A forma da secundária é definida 

pela superfície equipotencial constante e depende de dois fatores: primeiro a rotação que achata a 

estrela  no   seu  eixo  de   rotação  e   segundo a   força  de  maré  que  alonga  a  estrela  na  direção  da 

companheira.  O gás  da   secundária  pode  escapar  de  sua  atmosfera  para  o   lóbulo  de  Roche  da 

primária através do ponto de Lagrange L1 e a velocidade do fluxo nesse ponto é aproximadamente a 

velocidade térmica do gás. Detalhes das linhas de fluxo de matéria nas vizinhanças de L1 são dados 

por Lubow & Shu (1975).

Em sistemas não magnéticos o jato de matéria que cai   na primária mas não tem energia cinética 

suficiente para sair de seu lóbulo de Roche e a trajetória fica sempre dentro do mesmo. O material 

acaba por entrar em órbita da primária e forma primeiramente um anel de matéria. Mas há rotação 

diferencial o que gera um atrito viscoso o que aquece o gás. O calor é irradiado e as partículas que 

perdem energia vão para órbitas mais baixas. Ao mesmo tempo algumas partículas se movem para 

órbitas mais exteriores conservando o momento angular total inicial. O espalhamento das partículas 

levam   a   formação   de   um   disco,   denominado   disco   de   acréscimo.   Em   VC   em   quiescência,   a 

luminosidade do disco representa a maior parte do brilho do sistema e tem seu pico de emissão no 

ultra­violeta (UV).

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I ­ Introdução

1.1.1 – Sistemas magnéticos

Em sistemas nos quais o campo magnético da primária (B) é muito intenso, o fluxo de matéria pode 

ser afetado pelas linhas de campo. A magnetosfera da anã branca é definida pela região na qual o 

campo magnético afeta fortemente o fluxo de matéria. Para uma acresção esférica, o raio rμ da 

magnetosfera é determinado pelo balanço entre a pressão magnética e a pressão de arrasto do gás 

que cai:

B2r

8=r i

2r   (3),   onde      é   a   densidade   e    a   velocidade   do   gás.   Para   um   dipolo 

Br =

r 3 onde  =BR3 que é o momento magnético da estrela.  Para uma acresção estável a 

taxa de perda de massa é:

M=4r ir r2   e  a velocidade de queda livre é   V ff= GM2

r  e o raio  de equilíbrio, 

também chamado de raio de Alfvén é dado por:

r=2−3 /7

4 /7GM

−1 /7 ˙M−2/7 e a acresção por um jato resulta em um balanço energético onde :

B2

8=2=

M

22   sendo   o raio do jato e  a velocidade do jato (Mukai, 1988).

Em sistemas onde o raio de Alfvén é maior que o ponto interno de Lagrange L1, a acresção se dá 

inteiramente pelas linhas de campo e não há a formação de disco de acréscimo. O campo magnético 

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I ­ Introdução

típico para esses sistemas é  entre 10 e 100 MG (Cropper, 1990). Esses sistemas tem o período 

orbital sincronizado com a rotação da anã branca e são denominados Polares. A figura 2a ilustra o 

esquema de uma polar. Uma evidência observacional de fortes campos magnéticos nesses sistemas é 

a detecção de luz   circularmente polarizada. Existem sistemas onde o campo magnético da anã 

branca não é forte suficiente para prevenir a formação de um disco de acréscimo e sincronizar a 

rotação   da   anã   branca   com   o   período   orbital.   Esses   sistemas   são   denominados   Polares 

Intermediárias. Na maioria desses sistemas o disco se forma em uma região entre 2/3 do lóbulo de 

Roche da primária e o raio de Alfvén, a partir de onde a matéria segue as linhas do campo. Temos 

assim   um   disco   truncado.   A   figura   2b   mostra   o   esquema   de   uma   Polar   Intermediária. 

Observacionalmente, esses sistemas não tem polarização circular detectável.

Figura 2 – Esquemas de uma variável cataclísmica polar, A e uma polar intermediária, B. As figuras foram  adaptadas de Cropper, 1990 e Ghosh & Lamb, 1978 respectivamente.

Acredita­se que nesses sistemas os discos tem órbitas próximas à Kepleriana. Dependendo do raio 

onde as linhas de campo se ancoram no material do disco e dependendo da rotação da anã branca, 

ocorrerá uma aceleração ou desaceleração da anã branca. O raio do disco onde a velocidade angular 

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I ­ Introdução

da anã branca e do disco se equivalem é denominado raio de corrotação (rco). As regiões de captura 

de  matéria   pelas   linhas  de  campo  onde  o   raio  é  maior   que  o   raio  de   co­rotação  agem   para 

desacelerar a anã  branca,  enquanto que as regiões onde o raio é  menor  tendem a acelerá­la.  A 

acresção estável pelas linhas de campo só pode ocorrer se o gás se ligar em um raio menor que o 

raio de co­rotação. Note que se a anã branca rotacionar muito devagar, e r < rco então todo o torque 

magnético age par acelerar a anã branca.

Algumas   Polares   Intermediárias   tem   anãs   brancas   com   rotação   elevada,   esses   sistemas   são 

conhecidos como estrelas tipo DQ Her. DQ Her é o progenitor da classe e tem uma anã branca com 

rotação   de   71   segundos   (Warner,   1995   e   referências   nele   contidas).   Os   sistemas   Polares 

Intermediários, onde há acresção em equilíbrio e o período de rotação da anã branca for menor que 

120 segundos são classificados como da subclasse DQ Her.

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I ­ Introdução

1.2 – Novas Clássicas e Recorrentes

Durante   a   evolução   das   variáveis   cataclísmicas   ocorrem   eventos   eruptivos.   Os   eventos   mais 

impressionantes são as erupções tipo nova, onde o sistema passa a ter uma luminosidade várias 

ordens de grandeza acima da luminosidade quiescente. Os sistemas mais brilhantes apresentaram 

uma diferença de 19 magnitudes no brilho (por exemplo V1500 Cyg). As erupções de novas são 

caracterizadas por sua curva de luz. Existem algumas novas que tem decaimento no brilho muito 

mais rápido que outras. Uma classificação baseada no decaimento do brilho a partir do máximo 

visual foi criada para classificar as diferentes curvas de luz observadas. O tempo para a nova decair 

seu brilho a partir do máximo visual em 3 magnitudes, t3  , é o mais utilizado. As observações de 

novas mostraram que há uma correlação entre t3  e a magnitude máxima da nova (Schmidt 1957, 

McLaughlin 1960, Pfau 1976, Cohen 1988 e Capaccioli et al 1989). Essa relação diz que quanto 

mais brilhante a erupção, mais rápido será o decaimento do brilho. Outra relação importante é que 

nas novas mais rápidas (menor t3) tem o material ejetado com velocidades de expansão maiores 

(McLaughlin 1960). Shara et al.  (1980), obteve uma explicação teórica para essas relações. Um 

resultado   importante   é   que   a   magnitude   no   máximo   visual   e   a   velocidade   de   ejeção   são 

proporcionais à massa da anã branca. 

O brilho dos eventos de nova variam de 104  a 105  Lʘ e durante a erupção são ejetados de 10­6  a 

~10­4Mʘ de material para o meio interestelar sendo um importante processo de enriquecimento. As 

abundâncias de Li7 nos envoltórios, por exemplo, seriam 103 vezes a abundância solar, o que fazem 

das novas uma importante fonte de  7Li para a galáxia (Starrfield, 1978 e Hernanz et al. 1996). A 

produção de 7Li pode ocorrer na erupção com a captura eletrônica pelo 7Be (Arnould & Norgaard, 

1975;  Starrfield   et   al.   1978 e  Hernanz  et   al.   1996).  O modo  de  produção  do  7Li  em novas  é 

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I ­ Introdução

semelhante ao das gigantes vermelhas. Os átomos de 7Be são levados às regiões superficiais  pela 

convecção que ocorre durante a erupção. Durante a erupção a convecção tem uma escala de tempo 

menor (103  segundos) que a meia vida do  7Be (77 dias), o que possibilita os isótopos atingirem 

regiões mais frias e menos densas próximas a superfície da anã branca. Assim,  os átomos de 7Be 

não serão destruídos pela reação 7Be(p,e+,)8B  o que possibilita que a reação de captura eletrônica 

7Be(e­,)7Li   ocorra.  A massa  total  de  7Li ejetado é   sensível às  condições   físicas  da erupção e 

portanto deve variar para cada evento eruptivo (Gehrz et al. 1998). Cálculos de   Starrfield et al. 

(1978)   e   Hernanz   et   al.   (1996)   mostram   que   as   erupções   de   nova   podem   produzir   um 

enriquecimento  de  7Li  de  pelo  menos  102  a   103  vezes   a   abundância   solar.  O  ponto  crítico  da 

produção de 7Li está no histórico de temperatura da matéria e nas características da convecção do 

envelope durante a erupção, fatores que dependem da classe de velocidade das novas. Outro fator 

importante é a concentração inicial de 3He no envelope, já que o 3He pode ser transformado em 7Be 

(3He()7Be).     Simulações   hidrodinâmicas   mais   recentes   confirmam   que   o   mecanismo   de 

transporte do 7Be é factível (José & Hernanz, 1998) e que em novas com anã branca do tipo CO, o 

processo de produção do 7Li é mais favorecido do que em novas com anã branca do tipo ONeMg. 

Os estudos também apontaram a importância do quase­equilíbrio entre o 7Be e o 8B acionado pela 

eficiência da  fotodesintegração do  8B (8B(,p)7Be) em favor  da sobrevivência  do  7Be durante a 

temperatura  de  pico.  Os  cálculos  mostraram que  uma  anã   branca  de  1,15  Mʘ  com envoltório 

acretado de 10­5 Mʘ produziria 10­10Mʘ de 7Be, mas a quantidade de 7Li produzido no processo ainda 

é incerta. Cálculos de Gehrz et al. (1998) mostram que as novas podem contribuir com pelo menos 

10 a 20 % do 7Li galáctico.

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I ­ Introdução

1.2.1 – Mecanismo de erupção

O   mecanismo   de   erupção   em   variáveis   cataclísmicas   responsável   pelo   fenômeno   das   novas   é 

razoavelmente   bem   conhecido.   A   anã   branca   acumula   em   sua   superfície   material   rico   em 

hidrogênio  da  secundária  em um fino  envelope.  Conforme esse  material  vai   se  acumulando,  a 

pressão na base do envelope aumenta até um ponto no qual a queima nuclear ocorre. Essa condição 

é   chamada   pressão   crítica,   Pcrit  ,   que   depende   da   massa   da   anã   branca,   de   sua   temperatura 

(luminosidade) e da taxa de acresção. Os estudos realizados por Shara et al.  (1980) e Fujimoto 

(1982) mostram que o valor de Pcrit é da ordem de 1018­19 dyn.cm­2. Devido a dependência de Pcrit às 

características de cada sistema as massas do envelope variam da ordem de 5 x 10­3   Mʘ para anãs 

branca de 0.6 Mʘ a 3 x 10­5   Mʘ para anãs brancas de 1 Mʘ (Starrfield 1989). Os primeiros estudos 

de erupções através de modelos hidrodinâmicos acoplados as cálculo de produção de energia foram 

realizados  por  Starrfield  et  al  1972,1974,1974b e Sparks,  1969 e  1976.  A  fonte  de  energia  que 

alimenta  a   erupção  vem de  uma detonação  termonuclear   (DTN) na  base  do  envelope   rico  em 

hidrogênio. A DNT ocorre através do ciclo CNO fora do equilíbrio em um gás degenerado (vide 

figura 3).  Os primeiros modelos calculados por Starrfield et al. 1972 mostraram que uma condição 

necessária para haver ejeção de matéria pela anã branca durante a erupção é o enriquecimento de 

CNO no envelope (a figura 4 mostra o enriquecimento para um modelo de nova com anã branca de 

CO de 1,15 M (José & Hernanz, 1998). Os modelos com abundância solar não geraram uma taxa de 

queima suficiente (nuc = 1016 erg.s­1.g­1)  para haver ejeção de matéria, como mostram as evidências 

observacionais de novas. Durante o pico da queima nuclear através do ciclo CNO a temperatura 

atinge mais de 108 K e a taxa de queima é de nuc > 1018 erg.s­1.g­1. 

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I ­ Introdução

Figura 3 – Esquema da queima nuclear do hidrogênio pelo ciclo CNO, adaptado de Hernanz 2004. 

A taxa de queima nuclear do ciclo CNO é limitada pelas meias vidas dos elementos +­instáveis, o 

que não depende das condições físicas do gás como a temperatura ou densidade. Isso significa que a 

energia produzida dependerá das abundâncias de CNO e das meias vidas dos elementos +­instáveis. 

As meias vidas desses elementos são da ordem de 103  segundos.  A energia  gerada na base do 

envelope não pode ser dissipada radiativamente e o grande gradiente de temperatura faz com que 

haja dissipação por convecção. A convecção leva os elementos +­instáveis para a superfície já que a 

escala de tempo convectivo é da mesma ordem das meia vidas desses átomos. Esse processo leva 

para a superfície 1013 erg.s­1g­1 (Starrfeild et al. 1974), o que faz as camadas externas aquecerem e se 

expandirem. O  aquecimento das camadas externas diminui o gradiente de temperatura o que faz 

cessar  a  convecção.  Como serão as  camadas  externas  que serão ejetadas,  as  abundâncias  nelas 

observadas  não  corresponderão  a  do  ciclo  CNO em equilíbrio  a  qualquer   temperatura.  Nesses 

modelos, a erupção e a ejeção de matéria podem ocorrer em sistemas onde a anã branca tiver massa 

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I ­ Introdução

maior que 0,5 Mʘ. Os cálculos mostraram que a erupção ejeta somente 10% do material acretado e 

que o material remanescente na anã branca, rico em hidrogênio, continuava a queimar em equilíbrio 

hidrostático a  uma  taxa de 108  erg.s­1g­1  .  Essa queima ocorre pela  reação próton­próton,  (p­p), 

corresponde  a   fase  de   luminosidade  bolométrica   constante  observada  em  todas   as  novas.  Esse 

resultado sugeriu que deveria haver uma fase de ejeção contínua após a erupção. A ejeção contínua 

por ventos seria mais importante nas novas com anãs brancas menos massivas, nas quais o envelope 

remanescente seria bem mais massivo e a queima do hidrogênio (p­p) pode durar mais tempo. Outro 

resultado importante obtido foi que os modelos com anãs brancas mais massivas ejetavam mais 

matéria, a velocidades maiores na fase inicial da erupção. 

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I ­ Introdução

Figura 4 – Variação da abundância no envelope de uma nova com anã  branca de CO, 1,15 Mʘ  e com mistura de 50% ­ figura adaptada de José & Hernanz, 1998.

O processo de ejeção de matéria tem duas fases principais, a ejeção inicial, dinâmica,   devido a 

expansão do gás que perde a degenerescência e a fase de ejeção constante por ventos radiativos. A 

importância   relativa   de   cada   processo   não   está   bem   esclarecida   ainda,   mas   os   modelos 

hidrodinâmicos indicam que para novas rápidas o processo dinâmico é mais importante enquanto 

que para as novas lentas, a ejeção por ventos parece ser mais importante.

Os primeiros cálculos de ejeção de matéria em erupções de novas foram feitos por Sparks, 1969. O 

modelo de Sparks, 1969 constitua de um modelo hidrodinâmico 1­D com dependência temporal e 

com transporte de energia por radiação e convecção. Seus cálculos foram realizados para uma anã 

branca de 1 Mʘ com um envelope de 10­3 Mʘ de composição solar enriquecida de CNO. A ejeção 

dependia   de   três   processos   físicos   e   suas   escalas   de   tempo.   A   escala   de   tempo   dinâmica   do 

envelope, dado pelo tempo  necessário para uma onda sonora atravessar o meio,  ts;  a escala de 

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I ­ Introdução

tempo radiativa, correspondente ao tempo necessário para a radiação atravessar o envelope, tr; e a 

escala  de  tempo da energia,  correspondente a  escala  de  tempo na qual  a  energia  é   injetada no 

envelope, te.  A ejeção ocorrerá por choque se te < ts . A ejeção ocorrerá por pressão se    ts< 

te < tr . A ejeção por choque se deve a uma onda de choque gerada na camada acima da camada 

que queima, durante o pico de temperatura da DTN. A onda de choque se move para as camadas 

externas   menos   densas   e   é   acelerada.   Quando   o   choque   atinge   a   superfície,   ele   aumenta   a 

velocidade dessas camadas chega até 7400 km.s­1. A ejeção por pressão ocorre devido ao efeito do 

aumento da temperatura e diminuição da opacidade que ocorre camada a camada, transportando 

energia para as camadas externas. Esse processo gera uma onda de pressão que ejeta as camadas 

externas.   As   diferenças   entre   a   ejeção   por   choque   e   por   pressão   podem   ser   observadas   nos 

envoltórios de novas. A ejeção por choque gera uma ejeção mais rápida e com maior dispersão de 

velocidades que a ejeção por pressão. Mais material é ejetado por choques, além disso a subida da 

curva de luz para a ejeção por pressão é bem mais lenta que a mesma por choque. Após essa fase 

inicial de ejeção, a DTN cessa e a queima continua hidrostaticamente na base do envelope. A queda 

de temperatura faz aumentar a opacidade, o que possibilita a ejeção por ventos espessos, ou ejeção 

contínua. Os primeiros estudos de ventos oticamente espessos foram feitos por Bath & Shaviv, 1976. 

Nesses primeiros modelos o material da base do envelope era acelerado pela pressão de radiação e a 

principal   fonte   de   opacidade   era   o   espalhamento.   Seus   resultados   mostram   que   a   pressão   de 

radiação é a força dominante no processo de ejeção e a energia associada a pressão de radiação é da 

mesma ordem de grandeza da energia cinética do material ejetado. Modelos posteriores de ejeção 

por ventos espessos foram obtidos por Kato & Hachisu, 1994. A principal diferença foi a introdução 

de novas opacidades, (OPAL, Rogers & Iglesias, 1992) que eram em média 3 vezes maiores que as 

opacidades utilizadas anteriormente. O efeito imediato da nova opacidade foi reduzir a duração da 

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I ­ Introdução

curva de luz e a massa do material ejetado (em 20x) e a aumentar velocidade do material ejetado 

(em 3x) (Starrfield et al. 1998, Hernanz & José 2004). Os modelos de vento espesso consistem de 

uma sequência de modelos estáticos. Os modelos são calculados em resolvendo as equações de 

movimento, transporte de energia, continuidade em simetria esférica e de conservação de energia. 

Modelos estáticos com massas de envelope cada vez menores são obtidos a fim de se obter uma 

curva de luz. As curvas de luz observadas no óptico e no ultravioleta são utilizadas como vínculo 

para  ajustar  as  curvas  de  luz  dos  modelos.  Os resultados  dos  cálculos  mostram que o pico  da 

opacidade  ocorre   em  logT =  5.2  e   corresponde  principalmente   a  opacidade  do   ferro.  Como a 

opacidade depende da abundância de metais, as novas com ventos mais velozes deveriam ter uma 

grande abundância de metais, mas este efeito não encontra suporte nas observações de novas. Os 

cálculos mais recentes foram feitos por Yaron et al. 2005 que utilizaram um código hidrodinâmico 

de evolução estelar, com uma rede completa de reações nucleares e um algorítimo de perda de 

massa Lagrangiano. A solução de vento encontrada é espacialmente uniforme (simetria esférica), 

supersônico e oticamente espesso. Além disso a solução é estável, ou seja a taxa de perda de massa 

é constante. Os seus modelos levam em conta os efeitos da pressão de radiação, aquecimento devido 

a acresção e   a convecção, que é desligada no momento que a aceleração pela radiação se torna 

importante. Yaron et al. 2005 obtiveram uma grade de modelos que reproduz a grande variedade de 

novas clássicas e recorrentes observadas com respeito a duração da erupção, ou curva de luz mas 

não reproduzem as relações entre a magnitude absoluta visual no máximo e o tempo de decaimento 

com a velocidade de expansão do envelope observadas em novas. Os cálculos  foram obtidos para 

anãs brancas de 0.4 a 1.4 Mʘ  , taxa de acresção média entre 10­7  a 10­12  Mʘ.ano­1  e temperatura 

central   (relacionada   a   luminosidade   da   anã   branca)   entre   1x107K   e   5x107K.   Esses   cálculos 

mostraram que em anãs brancas mais frias, o calor gerado na base do envelope é conduzido com 

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I ­ Introdução

mais eficiência para o centro e isso atrasa a ignição do hidrogênio, resultando em um tempo maior 

de acresção, levando a uma maior massa acretada no envelope. Outro resultado obtido foi de que 

nos modelos de anãs brancas com mesma massa, quanto maior a taxa de acresção média, menor foi 

a fração de elementos pesados no material ejetado. Esse fator está relacionado ao tempo que dura a 

acresção e o tempo disponível para o enriquecimento via difusão e abrasão causada pelo disco de 

acréscimo, (em sistemas não magnéticos). O mesmo se observou na amplitude da erupção, maiores 

amplitudes para taxas de acréscimo mais baixas. Esse fato se deve a temperatura máxima obtida 

durante a DTN, o que se  traduz na violência da erupção. A razão entre as massas acretadas e 

ejetadas > 1 nos modelos com a anã branca quentes ou frias e com taxas de acréscimo mais altas 

(10­8­10­7Mʘ .ano­1). Isso significa que a massa da anã branca pode aumentar, tornando­se então uma 

candidata a uma supernova tipo Ia.

A principal  dificuldade dos  modelos  de vento espesso está  em reproduzir  a  massa de material 

ejetado medido nas novas. Os modelos obtém uma massa ejetada de uma fator de 10 a 100 vezes 

menor  que o observado. Além disso, existem muitas incertezas nos processos que ocorrem antes e 

durante a erupção. Por exemplo, o crescimento da convecção da região de queima e sua subsequente 

retração em massa enquanto o envelope relaxa do pico da erupção implica que deve haver uma 

variação considerável nas abundâncias dos elementos e isótopos através das camadas do envelope 

(Starrfield et  al. 2000). A observação de gradientes de abundância radial em envoltórios de nova 

pode dar novas  informações sobre a convecção durante a DTN. Os modelos evolucionários que 

usam a opacidade OPAL (Rogers & Iglesias, 1992), fazem com que a energia das reações nucleares 

seja capturada mais efetivamente pelo material do envelope causando um aumento mais efetivo da 

temperatura para uma dada taxa de acréscimo de matéria. Nessas condições a DTN irá ocorrer mais 

cedo,   com  menos  material   acumulado  no   envelope   e   consequentemente  menor   massa   ejetada. 

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I ­ Introdução

Starrfield  et  al.  1999 propôs  que  a  mistura  do  material   rico  em hidrogênio  acretado com uma 

camada rica em hélio remanescente da erupção anterior reduziria a opacidade e permitiria mais 

massa   ser   acretada   antes   da   erupção.   Além   desse   efeito,   essa   mistura   reduziria   a   fração   de 

hidrogênio, fazendo com que a fase de queima pelo processo p­p que ocorre antes da erupção seja 

menos intensa,  o que prolongaria a fase de aquecimento da base do envelope até  o ciclo CNO 

predominar. Outro fator que também afeta os resultados dos atuais  modelos de vento espesso é a 

eficiência do transporte convectivo. Um transporte mais eficiente acarretaria em um aquecimento 

maior  das camadas  superiores e  consequentemente uma maior  ejeção de massa.  Além  disso,  o 

material seria ejetado a velocidades maiores. Por exemplo, se dobrarmos a eficiência do transporte 

convectivo   teremos  um aumento  de   fator  10  na  massa  ejetada  e  um  fator  3  na  velocidade  de 

expansão do envelope (Starrfield et al. 2000). A luminosidade da anã branca também tem efeito nos 

resultados  da  quantidade  de  massa  ejetada  pelos  modelos  de  vento  espesso.  Por   exemplo  se   a 

luminosidade da anã branca for reduzida por um fator 3, acarretaria em uma erupção com ejeção de 

7 vezes mais material  e com velocidades 4 vezes maiores (Starrfield et al. 2000). 

Outra dificuldade é explicar como ocorre o enriquecimento de CNO do envelope, necessário para 

ocorrer  a erupção e a ejeção de matéria.  Os últimos estudos  dos  processos  de mistura entre  o 

material rico em CNO da anã branca com o material rico em hidrogênio do envelope mostram que 

há   quatro  mecanismos  possíveis   (Sparks   et   al.   1990,  Livio  1994,  Truran,   1997).  Existem dois 

processos difusivos  e dois processos abrasivos. Dois deles ocorrem durante a fase de acresção de 

matéria, a difusão e a abrasão pelo disco de acréscimo. A abrasão pelo disco de acréscimo pode 

gerar um gradiente de abundâncias entre as regiões polares e equatorial dos remanescentes de nova. 

A difusão pode gerar um grande enriquecimento quando a taxa média de acréscimo de matéria é 

baixa,   10­10  Mʘ.ano­1  ou   menos   (Livio   1994).   As   outras   duas   ocorrem   quando   a   convecção   é 

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I ­ Introdução

importante.  Uma  é   o   “convective  undershooting”  que  ocorre   durante   a   propagação  da  queima 

durante o pico das reações nucleares (Woosley 1986). Esse processo é descrito como a penetração 

de elementos convectivos abaixo da interface da superfície da anã branca e a base do envelope. Os 

estudos com modelos 2­D de Hurlburt et al. 1994 mostraram que o “convective undershooting” é 

um processo importante na erupção das novas.  Cálculos hidrodinâmicos em 2­D mostram que o 

“convective undershooting” (Glasner et al.  1997 e Kercec et al.  1997) ocorre somente quando a 

DTN está próxima do pico e que pode enriquecer o envelope em CNO em mais de 30%.  Se a anã 

branca   tem   rotação   significativa,   a   quantidade   de  “undershooting”   deve   variar   em   camadas 

cilíndricas e portanto deve­se esperar que haja  diferença nas abundâncias das  regiões  polares e 

equatoriais, que seriam observadas nos envoltórios de novas. O outro processo é   a “convective­

driven   shear  mixing”  ou  mistura   por   cisalhamento   convectivo   (Kutter  &   Sparks   1989).   Nesse 

processo   as   células   convectivas   que   descem   da   superfície   transportam   momento   angular   das 

camadas mais externas, que giram mais rápido, para as camadas profundas do envelope, o que faz as 

camadas da base do envelope acelerarem sua rotação. Essa aceleração pode gerar uma abrasão das 

camadas da anã branca o que leva à mistura. Mais recentemente, Rosner et al. 2001 e Alexakis et al. 

2001   conseguiram   reproduzir   as   abundâncias   observadas   nos   envoltórios   de   novas  através   da 

mistura por “convective undershooting” entre as camadas do envelope e da anã branca através do 

fluxo convectivo, calculando as instabilidades em regimes não lineares.

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I ­ Introdução

1.2.2– As DTNs e as propriedades do envoltório

Os modelos de erupção de nova são frequentemente esféricos, mas as nebulosas de novas são, na 

sua maior parte, elípticas ou bipolares. Também se observam estruturas como capas polares, anéis 

equatoriais  e  condensações.  Para  se  explicar  essas  diferenças  alguns  autores  propuseram que o 

material ejetado interagia com a secundária através do movimento da órbita. Outros fatores, tais 

como a rotação da anã branca e do envelope também afetariam a ejeção. Cálculos hidrodinâmicos 

em 2.5­D que mostram o efeito do movimento da secundária no material ejetado foram feitos por 

Lloyd et al. 1997. Cálculos que avaliam o efeito da rotação do envelope foram realizados por Porter 

et al. 1998. O efeito da rotação da anã branca na erupção e ejeção de matéria foram obtidos por 

Scott, 2000. O efeito do movimento da secundária dentro de um envelope comum que ocorre na fase 

de ejeção contínua se dá através de uma força de arrasto, que transfere momento angular para o 

material em expansão. Os modelos obtidos reproduziram as capas polares, anéis equatoriais e halos 

difusos observados em novas. Apesar disso, os envoltórios obtidos tinham a forma oblata, enquanto 

que os remanescentes observados tem uma forma prolata (Porter et al. 1998). O grau de assimetria 

do remanescente dos modelos varia de acordo com a classe de velocidade da nova, novas rápidas 

tendem a ter um envoltório mais esférico enquanto nas novas lentas, a razão axial é maior. Esse 

resultado está relacionado a velocidade de expansão do material ejetado, maior nas novas rápidas, 

onde a interação com a secundária tem menor intensidade. A relação entre classe de velocidade e 

assimetria  do remanescente observado no óptico é  verificada empiricamente nos  envoltórios  de 

novas (Slavin et al. 1995). O problema dos remanescente oblatos foi resolvido quando se adicionou 

a influência da rotação do envelope nos cálculos hidrodinâmicos (Porter et al. 1998). A combinação 

entre  o  movimento  orbital  e   a   rotação  do  envelope  produz  remanescentes  prolatos,  com capas 

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I ­ Introdução

polares e anéis equatoriais. A rotação do envelope se deve ao disco de acréscimo, em atrito com 

suas  camadas   superiores.  O outro  parâmetro  que   influencia  a   forma do  envoltório   ejetado é   a 

rotação da anã  branca. Podem, são poucos sistemas que possuem essa grandeza conhecida. Nas 

Polares Intermediárias, em particular nas DQ Her, as anãs brancas tem velocidades de rotação muito 

altas, com períodos da ordem de dezenas de segundos. Essas velocidades de rotação tornam anã 

branca prolata, o que gera gradientes latitudinais da gravidade efetiva. A DTN é fortemente afetada 

pela gravidade efetiva local, ou seja a DTN será mais intensa nas regiões onde a gravidade efetiva 

for maior. Envoltórios prolatos foram observados em sistemas com períodos orbitais muito maiores 

que a escala de tempo de expansão do material ejetado, como em novas recorrentes (RS Oph). RS 

Oph mostrou um envoltório bipolar poucos dias após as erupções de 1985 e de 2006 (Taylor et al. 

1989, O'Brien et al. 2006 e Bode et al. 2007), indicando que a forma do envoltório está relacionada 

as características intrínsecas da anã branca. Os cálculos de Scott (2000) mostram que o raio nos 

polos é menor que nas regiões equatoriais e que a taxa de produção de energia nuclear varia com nuc 

  R­13.6. Por exemplo, uma diferença de 1,8% no raio acarretaria uma produção de energia 27% 

maior.  Assim, as regiões polares  teriam reações mais  intensas e alcançariam temperaturas  mais 

extremas. O efeito disso seriam velocidades de expansão maiores nas regiões polares e uma possível 

diferença de abundâncias entre carbono e oxigênio, (C/O), entre as regiões polares e equatoriais. A 

temperaturas   mais   altas   a   abundância   de   C/O   aumenta   pois   mais   oxigênio   é   convertido   em 

nitrogênio.  Dependendo da diferença de temperatura entre as regiões polares e equatoriais  e da 

temperatura máxima nos polos, poderemos ter C/O > 1 nos polos e C/O < 1 no equador. Como o 

tipo de grãos de poeira formado no envoltório depende da abundância relativa de C/O, poderíamos 

observar grãos de silicato (C/O <1) nas regiões polares e grãos de carbonato (C/O >1) nas regiões 

equatoriais. Por exemplo, uma diferença de 1,5% a mais na temperatura de Fermi nos polos, irá 

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I ­ Introdução

acarretar um aumento de 32% da razão C/O quando comparado com as regiões do equador (Scott, 

2000). As observações no infravermelho mostram que a escala de tempo de formação de grãos de 

poeira para os dois tipos de grãos é diferente (Gehrz, 1992), o que poderia indicar uma diferença nas 

abundâncias de C/O nas diferentes direções do envoltório da nova, como observados em RR Pic 

(Evans  et   al.   1992).  Mas  deve­se   considerar  que   em novas  onde  o   remanescente  é   uma  fonte 

ionizante muito quente,  a  estabilidade da molécula de CO depende das  condições   locais  como 

mostram as observações das emissões de CO em 5m e 2,4m em algumas novas (Rawlings, 1988). 

Portanto,   em   um   envoltório   heterogêneo   poderia   haver   regiões   favoráveis     a   estabilidade   da 

molécula de CO, onde o tipo de poeira formado seria dependente da razão C/O. Outras regiões 

poderiam ser desfavoráveis a estabilidade da molécula de CO o que possibilitaria a formação de 

grãos de poeira de silicato e de carbonato simultaneamente. Os modelos de Scott (2000) mostram 

que em novas cujas anã branca tem velocidade de rotação pequena, o envoltório será esférico, em 

novas com anãs brancas com período de rotação da ordem de 100 segundos, os envoltórios serão 

prolatos e em anãs brancas com rotação elevada, da ordem de dezenas de segundos, a geometria do 

envoltório será bipolar. Este autor obteve uma relação entre a razão axial (razão de velocidades) e o 

período de rotação da anã branca que depende da massa da anã branca. A figura 5, modificada de 

Scott   (2000),  mostra  as   regiões  onde se deve  ter  envoltórios  esféricos,  prolatos  e  bipolares  em 

função da massa da anã branca e do seu período de rotação.

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I ­ Introdução

Figura 5 – Relação entre a massa da anã branca e o período de rotação. A linha significa uma razão axial  maior que 5% e as regiões acima são de envoltório circular (GK Per e V1500 Cyg), abaixo as regiões de  envoltórios prolatos (DQ Her) e bipolar (RS Oph).

Outra  característica observada nos  remanescentes  de novas  são a presença  de  condensações  de 

matéria ou glóbulos. Algumas poucas novas tem seu envoltório observado com resolução espacial. 

Imagens   do   telescópio   espacial   Hubble   de   HR   Del   (Harman   &   O'Brien,   2003)   mostram   um 

envoltório   assimétrico   com   condensações   de   matéria.   Estudos   espectrais   de   Williams   (1994) 

mostraram que a intensidade do dubleto [O I] 6300,6364 nas novas só pode ser explicada com a 

presença de regiões neutras em condensações de matéria. Além disso, a razão dessas linhas indicam 

um grande opacidade ( ~1­2), o que não poderia ser obtido em um envoltório homogêneo.  Além 

da   pouca   informação   que   se   tem   das   condensações,   pouco   se   sabe   sobe   a   sua   formação   e 

sobrevivência  durante  a  evolução da  nova.  Os glóbulos  ou condensações  podem se formar nos 

estágios iniciais da erupção. Anisotropias nas condições da DTN devido aos gradientes de gravidade 

efetiva geram anisotropias térmicas (Shara, 1994). A estabilidade do remanescente depende da taxa 

de resfriamento (radiativo) e da presença de choques (se observa várias velocidades características 

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I ­ Introdução

para a expansão do envoltório em diversas fases da evolução). Se o resfriamento for muito intenso, o 

envoltório   se   tornará   instável   (Rayleigh­Taylor)   e   irá   se   fragmentar.   Quanto   maior   a   escala 

característica do resfriamento, menor será o tamanho das condensações (Lloyd et al. 1997).   Para 

fluidos compressíveis o tamanho máximo da condensação está relacionado à escala característica de 

resfriamento   e   ao   índice   adiabático  .     A   evolução   do   raio   do   envoltório   está   relacionada   a 

velocidade de expansão e portanto ao tempo de decaimento t3. Com isso pode­se obter uma relação 

na qual as novas rápidas com t3 < 12,4 dias, o tamanho máximo da condensação será da ordem da 

metade do raio do envoltório. Para t3 > 12,4 dias, o tamanho máximo das condensações diminui com 

o aumento de t3, como mostra a figura 6, obtida por Lloyd et al. 1997. Apesar do tamanho máximo 

das   condensações   poder   ser   estimado,   a   distribuição   de   tamanhos   e   densidades   não   pode   ser 

determinada.  Pouco   se   conhece   também sobre  a   influência  da  presença  das   condensações  nos 

espectros   nos   modelos   de   envoltórios   de   novas.   Diaz,   (2001)   mostrou   que   a   presença   de 

condensações afeta a distribuição e abundâncias dos diversos íons no envoltório, afetando o espectro 

total observado.

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I ­ Introdução

Figura 6 – No gráfico da esquerda temos o tamanho máximo da condensação  máx  em função da escala  característica de resfriamento rc, ambos em função do raio do envoltório. Na figura da direita o mesmo tamanho máximo da condensação relativo ao raio do envoltório L/r em função da classe de velocidade da  nova, dada por t3.

A escala de tempo de sobrevivência dos glóbulos nos envoltórios de novas é  desconhecida. No 

cenário   de   nebulosas   planetárias   (NP),   cálculos   de   Mellema   et   al.   (1998)   mostraram   que   as 

condensações podem sobreviver 250 anos até perderem 50% de sua massa por foto­evaporação e 

todo o processo   duraria da ordem de 1000 anos. Mas em seus cálculos, as condensações eram 

maiores (2 x 1016 cm), mais massivas (2,3 x 10­5 Mʘ) e mais distantes da fonte ionizante central (1018 

cm) quando comparado ao cenário das novas. Bertoldi & McKee (1990) deduziram que a pressão de 

foto­evaporação é  proporcional a raiz quadrada da razão entre o fluxo ionizante e o produto da 

distância   da   fonte   central   com   o   tamanho   da   condensação.   Utilizando   essa   relação   entre   os 

parâmetros físicos pode se fazer um escalonamento para as condições médias dos envoltórios de 

novas. O resultado obtido é de que a pressão de evaporação pode ser 40 vezes maior em novas 

quando comparadas com as NP. Como a taxa de perda de massa da condensação é proporcional a 

pressão de foto­evaporação, a sobrevivência dos glóbulos de matéria em novas pode ser bem mais 

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I ­ Introdução

curta.  Mas  há   outros   fatores  que   influenciam essa   estimativa,   como o  caminho  que  os   fótons 

percorrem   até   interagir   com   os   glóbulos.   Pode   haver,   por   exemplo,   ocultação   parcial   de   uma 

condensação por outra e isso pode aumentar a sobrevida em ~ 30% (Lim & Millema, 2003). Além 

disso imagens de GK Per mostram a existência de condensações de matéria mais de 100 anos após a 

erupção da nova (Slavin et al.  1995 e Bode, 2004). São necessários mais estudos a respeito da 

sobrevivência das condensações em novas a fim de se esclarecer o que ocorre nos seus envoltórios.

Do ponto  de  vista  observacional,  os  espectros  dos  envoltórios  de  novas  sofrem uma evolução, 

conforme   as   condições   físicas   se   modificam.   Essa   evolução   evidencia   a   presença   de 

heterogeneidades   no   envoltório.   No   início   da   erupção,   antes   do   máximo   visual,   o   espectro   é 

característico de um meio oticamente espesso que esfria, ou seja há linhas de absorção desviadas 

para o azul com ocasional perfil P Cygni. Na fase seguinte, após o máximo, se desenvolvem linhas 

de emissão permitidas, como as de H, CaII, NaI, FeII e OI no visível e infravermelho próximo. 

Durante o declínio as componentes de absorção tornam­se mais fracas até desaparecerem no fim do 

declínio. Durante essa fase surgem algumas linhas proibidas, como por exemplo [OI]  6300,6364 

e [N II] 5755. No espectro nebular, as linhas de emissão proibidas como por exemplo [O III] 

4959,5007  são  mais   intensas  que  as   linhas  permitidas  não  Balmer.  Nessa   fase  podem aparece 

simultaneamente linhas de elementos altamente ionizados, como FeVII. Na fase nebular o gás é 

oticamente fino e os diagnósticos físicos e de abundância podem ser obtidos (vide item 1.2.3 a 

seguir).

Com   base   na   grande   cobertura   espectral   disponível,   Williams   et   al.   (1991)   popuseram   uma 

classificação espectroscópica (sistema de classificação de Tololo) para os espectros de emissão de 

novas. Essa classificação leva em conta as mudanças na fotoionização causada pela fonte central a 

medida que sua radiação endurece e a densidade do gás ejetado diminui. A classificação é dividida 

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I ­ Introdução

em quatro fases, como mostra a tabela 1. 

Fase [C] Se [FeX] 6375 está presente e for mais intenso que [Fe VII]  6087

Fase [P] Se não [C], é [P] se a linha mais intensa não Balmer for transição permitida.

Fase [A] Se não [C], é [A] se nenhuma linha   proibida for mais intensa que a linha não Balmer permitida mais intensa.

Fase [N] Se não [C] ou [A] é [N] se a linha mais intensa não Balmer for uma transição proibida.

Tabela 1 – Classificação espectroscópica de novas em erupção, sendo C a fase coronal, P, principal, A,  auroral e N, nebular.

Cada uma dessas fases  tem subclasses que dependem da intensidade das  linhas não Balmer do 

espectro. A maior parte das novas são classificadas em duas classes espectrais: as FeII e as He/N, 

dependendo se o espectro próximo do máximo tem as linhas permitidas intensas de FeII ou de 

HeI,II   e  NII,III.  As  novas  cujo   espectro  mostram velocidades  mais   baixas   são  do   tipo  FeII   e 

normalmente evoluem para um espectro auroral com nitrogênio ou oxigênio dominante. Novas com 

velocidades de expansão acima de 2500 km.s­1, normalmente do tipo He/N, tendem a evoluir para o 

tipo neônio e/ou coronal. As observações espectroscópicas de envoltórios de novas fornecem os 

principais vínculos para os modelos de fotoionização que serão tratados em detalhe na próxima 

seção.

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I ­ Introdução

1.2.3 – Modelos de fotoionização do envoltório de novas

Uma enfoque  diferente  para   analisar   as   propriedades  dos  envoltórios   de  novas   e  de   sua   fonte 

ionizante   consiste   em utilizar  modelos  de   fotoionização.  Os  modelos   consistem em uma   fonte 

ionizante que pode ser a anã  branca quente pós erupção e uma região nebular constituída pelo 

material ejetado durante a erupção. O contínuo em raios­X e UV e as linhas observadas servem 

como vínculos físicos aos modelos. Medidas independentes de abundância, temperatura da fonte 

central   e   geometria   (tamanho   e   densidade)   também podem   ser   utilizadas  para   a   restrição  dos 

modelos. Os primeiros códigos para o cálculo de modelos de fotoionização, utilizados para modelar 

regiões HII e nebulosas planetárias, foram obtidos por Flower (1968), Harrington (1968) e Rubin 

(1968). Esses primeiros códigos incluíam os processos básicos de ionização e recombinação do 

hidrogênio e do hélio, balanço térmico e tinham simetria esférica (unidimensional). Entretanto o 

sucesso desses códigos era limitado pela falta de dados atômicos, além da falta de processos físicos 

importantes,   como   o   efeito   da   troca   de   carga   e   da   recombinação   dieletrônica   (Aldrovandi   & 

Péquignot 73, Storey, 1981) que não eram considerados. A evolução dos modelos de fotoionização 

se deu gradualmente, com avanços na física atômica e na tecnologia dos computadores. O uso de 

uma gama maior de íons nos modelos de fotoionização foi possível com o trabalho de Reilman & 

Manson (1979) e posteriormente por Hummer et al. (1993) que obtiveram os valores da seção de 

choque de fotoionização para novos íons. A maior parte dos códigos de fotoionização incluem as 

taxas  de   recombinação   em  função  da   temperatura.    Uma questão   importante   para   as   soluções 

encontradas pelos modelos, ou seja o espectro emergente da nebulosa, é a condição física do local 

onde são feitos os cálculos. Os primeiros modelos unidimensionais (1D) utilizavam o plasma em 

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I ­ Introdução

equilíbrio termodinâmico local (ETL), nessas condições, a população de velocidades dos elementos 

seguem a distribuição de Maxwell e a estatística dos níveis eletrônicos e de ionização seguem a 

distribuição de Boltzmann e Saha. Ou seja a população dos níveis vai ser determinada diretamente 

pelo campo de radiação e pela pressão do gás (colisões). Com as relações termodinâmicas de um 

gás perfeito chega­se a uma relação na qual a estatística das populações dos níveis eletrônicos é 

definida pela temperatura e densidade do gás. Assim tem­se que a distribuição de velocidades, a 

população de níveis de energia eletrônica e a intensidade do campo de radiação são funções da 

temperatura. Uma condição para se assumir o ELT está no fato da nebulosa ser oticamente espessa 

para   o   contínuo   e   a   contribuição   colisional   for   muito   mais   importante   que   a   radiativa   (alta 

densidade) neste caso o campo de radiação se aproxima de uma distribuição de Planck. Mas essa 

aproximação não é  válida para envoltórios de novas, que são oticamente finos e pouco densos, 

condições   em   que   a   contribuição   radiativa   para   excitação­desexcitação   é   mais   importante. 

Hauschildt et al. (1997) mostrou que a complexa formação de linhas em atmosferas de novas só 

pode ser descrita adequadamente através de um modelo detalhado em não equilíbrio termodinâmico 

local   (NETL).   Além   disso,   as   principais   linhas   no   espectro   óptico   são   NETL   e   as   linhas 

provenientes do ETL não tem efeito no espectro óptico em seus modelos. A condição de NETL 

afeta as intensidades das linhas nos espectro de novas, em todas os comprimentos de onda, como 

mostram os cálculos de Hauschildt et al (1997). Apesar do avanço no tratamento das condições 

físicas do plasma, a geometria desses modelos era esférica (1D). Modelos   tridimensionais (3D) 

foram propostos por Baessgen et al. (1990), Gruenwald et al (1997) e Ercolano et al. (2003), mas o 

tratamento estatístico é em ETL. Ercolano et al. (2003) comparou seu código (MOCASSIN), que é 

baseado no método Monte Carlo, com outros códigos, como o CLOUDY (Ferland 2005), que é 

NETL. Os modelos de uma nebulosa planetária padrão oticamente fina com temperatura da fonte 

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I ­ Introdução

central   de   75000K   mostraram   diferenças   significativas   nos   fluxos   das   linhas   de   emissão.   A 

diferença em H foi da ordem de 10%, enquanto que as linhas de oxigênio proibidas, como [O III] 

5007   a   diferença   foi   de   ~30%.   Algumas   linhas   tiveram   diferenças   de   até   70%   no   fluxo.   A 

comparação foi feita entre a versão 1D do MOCASSIN, que tem tratamento da radiação difusa 

utiliza   a   aproximação   “on­the­spot”,   ou   seja   a   radiação   difusa   tem   direção   radial   saindo   da 

nebulosa,   como   faz   a   versão   do   CLOUDY.   Esses   resultados   evidenciam   a   necessidade   de   os 

modelos de fotoionização de novas tenham por princípio um tratamento NETL. A geometria da 

região emissora pode ser  de dois   tipos fundamentais,  ou limitada pela  matéria  ou  limitada por 

radiação. No caso de uma geometria limitada pela matéria, o limite externo da região de emissão de 

linhas   coincide   com   a   região   externa   do   envoltório.   Neste   caso   ela   é   totalmente   ionizada   e 

oticamente fina ao contínuo incidente. Nos envoltórios nesta condição, a luminosidade das linhas de 

recombinação oticamente finas é definida pelo produto entre a densidade e o volume do gás e não 

está   relacionada  diretamente  com a   luminosidade  da   fonte   central.  Na geometria   limitada  pela 

radiação o limite externo da região de emissão coincide com a frente de ionização do hidrogênio. 

Portanto nesses envoltórios coexistem gás quente e ionizado com gás frio e neutro. A parte ionizada 

do  gás  é   oticamente   espessa   ao   contínuo   ionizante.  Neste   caso   a   luminosidade   das   linhas  de 

recombinação depende da luminosidade da fonte central, com menor dependência das propriedades 

do envoltório. Nas novas a geometria mais adequada para a fase nebular é a limitada pela matéria, o 

que   torna   importante   a  definição  das  propriedades  do  envoltório.  Assim os  modelos  de  novas 

utilizam um código de fotoionização NETL (por exemplo o CLOUDY,  Ferland 2005). Os modelos 

atuais  de  envoltórios  de  novas  usualmente  utilizam uma geometria   esférica,   com um perfil   de 

densidade que decai com o raio do envoltório. Mas as observações mostram que essa aproximação 

está longe da realidade das novas e ainda não se sabe exatamente o quanto as estruturas e a presença 

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I ­ Introdução

de condensações afetam os parâmetros obtidos pelos modelos. Os espectros gerados pelos modelos 

não conseguem reproduzir  algumas características dos espectros observados, como a presença e 

intensidade de linhas de íons de baixa e alta ionização simultaneamente durante toda a evolução do 

envoltório. Alguns autores utilizaram modelos esféricos (1­D) com a adição de um parâmetro extra 

como um perfil de densidade arbitrário a fim de  reproduzir algumas das características do espectro 

observado.  Mas  os  modelos  1­D não podem  reproduzir  qualquer   tipo  de  geometria,   como por 

exemplo uma estrutura bipolar ou a presença de condensações. Modelos pseudo­3D foram propostos 

por   Diaz   (2001)   e   Morisset   et   al.   (2005),   esses   modelos   consistem   em   vários   modelos   1D 

combinados através de uma soma ponderada pelo volume. Esses modelos tem a vantagem de tratar 

de forma mais realista a geometria e de ser muito mais rápido de ser calculado do que modelos 

totalmente tridimensionais. A desvantagem é de não tratar as interações não radiais, como o efeito 

da radiação difusa com auto­consistência. Os modelos totalmente tridimensionais atuais (Ercolano 

et al. 2003) são baseados no método de Monte Carlo e podem tratar até a componente difusa da 

radiação. Mas esses códigos exigem grande capacidade computacional e tem um vasto espaço de 

parâmetros,   além   dos   cálculos   serem   em     ETL.   O   esforço   de   cálculo   nesse   caso   aumenta 

consideravelmente com a estruturação do envoltório. Os parâmetros necessários para os cálculos são 

geralmente   grandezas   físicas   que   não   são   bem   conhecidas   ou   indetermináveis   através   das 

observações, o que pode significar obter modelos não realísticos. 

O   esforço   em   se   determinar   as   geometrias   dos   envoltórios   de   novas   através   de   modelos 

hidrodinâmicos, combinados a efeitos de rotação do sistema e da anã branca além da presença de 

condensações de matéria é fundamental para se obter modelos de fotoionização mais realísticos. 

Quando   se   combinam   essas   informações   dos   modelos   de   fotoionização   com   observações 

espectroscópicas com resolução espacial, os modelos de envoltório podem ser melhor restringidos e 

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I ­ Introdução

os fenômenos físicos que acontecem durante o evento nova podem ser melhor entendidos.

Alguns objetos podem ter uma contribuição significativa da excitação eletrônica dos íons através de 

choques. Um estudo realizado por Contini & Prialnik (1997) na nova recorrente T Pyx mostrou que 

os choques contribuíam com os fluxos de linhas de baixa ionização, como [O I] 6300,6363 e [S 

II]  6717,6731. Essa nova recorrente possui sistemas com diversas velocidades coexistindo e alta 

taxa de acréscimo (ventos do disco de acréscimo) com uma luminosidade UV de 120Lʘ. O modelo 

de ionização de T Pyx   de Contini & Prialnik (1997) é composto por duas regiões importantes, uma 

onde os  processos  radiativos  dominam a excitação e  outra,  mais  distante,  na  qual  o  efeito  dos 

choques é dominante. Na região de excitação por choques, as linhas de [N II] 6548 são 500 vezes 

mais  intensas.  As  linhas  de [O I]  e  [S II]  são 1 x 106  vezes  mais   intensas  do que nas  regiões 

radiativas,  o  que mostra  a   importância desse  processo na  emissão de algumas  linhas.  Mas seu 

modelo é 1D e não foi considerado o efeito da presença de condensações, (como são observadas no 

envoltório de T Pyx).

      

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I ­ Introdução

 1.3 – Nova HR Delphinis

A nova clássica HR Del teve sua erupção em 1967 e mostrou uma curva de luz com decaimento 

muito lento (t3 = 230 dias), sendo classificada como uma nova muito lenta. A curva de luz, mostrada 

na figura 7, publicada por Rosino e Rafanelli (1978), mostrou que houveram pelo menos quatro 

episódios de aumento de luminosidade.

Figura 7 – Curva de luz de HR Del no óptico obtida por Rosino e Rafanelli (1978). A curva mostra que a  subida inicial apresenta diversos picos antes do máximo em dezembro de 1967. Há ainda um pico intenso em  maio de 1968.

Na subida para o máximo, a velocidade média obtida dos espectros de absorção foi de 635(35) 

km.s­1 (medida no dia 10 de julho de 1967). O primeiro máximo ocorreu dia 29 de agosto de 1967 e 

atingiu magnitude visual 4,8. O pico principal ocorreu no dia 14 de dezembro de 1967 e atingiu 

magnitude visual de 3,85. A evolução espectral da nova mostrou emissões nebulares um ano após o 

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I ­ Introdução

pico da erupção ao mesmo tempo que as linhas em absorção desapareciam (veja os espectros no 

óptico na figura 8). Em 1975 somente as linhas de Balmer, [O III] 4959,5007, CIII+NIII4646 e 

HeII  4686 eram detectadas. 

Figura 8 – Espectro óptico de HR Del na fase nebular. As linhas proibidas, como o [O III]  4959,5007 ficam importantes. Observa­se também linhas de elementos neutros, como [O I].

Observações do satélite IUE entre 1979 e 1992 (vide figura 9) mostraram que o contínuo no ultra­

violeta (UV) foi reduzido em 20% enquanto que as intensidades das principais linhas de emissão foi 

reduzida em 35% nesse período (Freidjung et al 1982 e Selvelli & Friedjubg, 2003). A luminosidade 

UV   de   HR   Del   nesse   período   de   poś   noca   era   de   56   Lʘ,   o   maior   valor   entre   as   variáveis 

cataclísmicas em quiescência. Selvelli & Friedjung, 2003 obtiveram que a taxa de acréscimo está 

próxima de 10­7  Mʘ.ano­1  para uma distância de 850 pc. Esses autores obtiveram que o disco de 

acréscimo ocupava quase todo o lóbulo de Roche da primária e tinha uma temperatura máxima de 

108000 K. Além disso, esses autores determinaram que o avermelhamento é pequeno (EB­V = 0,16) e 

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I ­ Introdução

que   os   perfis   de   linha   P­Cygni   no   UV   mostram   velocidades   elevadas   de   até   5000   km.s­1. 

Observações feitas pelo satélite de raios­X Einstein em 1980 mostraram um objeto brilhante na 

banda entre 0,5 a 3 keV (Hutchings, 1980). A magnitude visual no mínimo é de 12,16 mag o que 

corresponde a uma magnitude absoluta no mínimo de 1,8 mag já  corrigida do avermelhamento, 

sendo portanto uma das mais brilhantes variáveis cataclísmicas na fase de acresção ao lado de DK 

Lac e BT Mon.

Figura 9 – Espectro de HR Del no ultra violeta, obtido dos dados públicos do satélite IUE de 1979 e 1992.

O período orbital de 5,14 horas  e inclinação da órbita de 40(2)º foram obtidos por Bruch (1982). As 

massas das componentes são estimadas, sendo uma a anã branca com M1 = 0,67 Mʘ e a secundária 

M2 = 0,55 Mʘ (Ritter & Kolb 2003). A velocidade de expansão do envelope foi obtida de estudos 

espectrais de alta resolução por Solf (1983) e foi medida como sendo de 560(50) km.s­1 nas direções 

polares e de 190(50) km.s­1 para as regiões equatoriais. Solf também determinou que o envoltório 

teria uma forma bipolar. O estudo espectral de alta resolução de Solf (1983) mostrou que haviam 

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I ­ Introdução

componentes do envoltório com velocidades variadas. A figura 10 apresenta o perfil da linha [O III] 

5007 obtido por esse trabalho e mostra a existência de componentes de alta e baixa velocidades. 

As primeiras observações do envoltório com resolução espacial (Slavin et al. 1994) mostraram uma 

nebulosa   elipsoidal   nas   imagens   feitas   nas   bandas   das   linhas   de   H  +   [NII]6548,6584   A. 

Observações   posteriores  utilizando­se  o   telescópio   espacial  Hubble   (Harman  & O'Brien  2003) 

mostraram um envoltório  com razão axial  de 1.75 e  a  presença de  condensações  Estes  autores 

propuseram   um   modelo   de   envoltório   que   consiste   em   duas   esferas   polares   com   morfologia 

semelhante a uma ampulheta, como mostra a figura 11.

Figura 10 – Perfil da linha [O III]5007 obtida por espectroscopia de fenda longa por Solf, 1983. Observa­se componentes deslocadas para o vermelho (R) e para o azul (B).

Também foi observado uma diferença morfológica do envoltório nas imagens na banda de H e [O 

III]  5007, sendo que a imagem obtida pela linha de [O III] apresentou uma razão axial maior (2 

para essa linha e 1.6 para as linhas H+[N II]), fato também observado em outros remanescentes de 

nova. O valor mais recente de distância da nova foi obtido pelo método de paralaxe de expansão por 

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I ­ Introdução

Harman & O'Brien (2003) e é de 970(70) pc. Estimativas da distância por outros autores colocam a 

distância na faixa de 750 a 1100 pc (Solf, 1983; Della Valle & Livio, 1995; Downes & Duerbeck, 

2000). 

A   presença   de   um   envoltório   bipolar   também   foi   observado   na   nova   recorrente   RS   Oph   nos 

primeiros instantes das erupções de 1985 e 2006 (Taylor et al. 1989, O'Brien et al. 2006 e Bode et al. 

2007). RS Oph e HR Del são extremos de uma classe de objetos, a primeira é classificada como 

uma nova muito rápida t3 = 10 dias (Barry et al. 2008) e tem uma anã branca muito massiva (M1 = 

1,35 Mʘ  ,  O'Brien et al. 2006) enquanto que HR Del é uma nova muito lenta, t3 = 230 dias e tem 

uma anã branca pouco massiva (M1 = 0,67 Mʘ). Em RS Oph a secundária é uma gigante e o período 

orbital é de 456 dias, o que significa que a escala de tempo da expansão é muito menor que a escala 

de tempo da órbita e a interação do envoltório com o movimento da secundária não é capaz de 

afetar o material ejetado. A morfologia do envoltório pode ser explicada por uma alta velocidade de 

rotação da anã  branca como mostrado por Scott (2000). Uma alta velocidade de rotação da anã 

branca pode ser um fator comum entre as erupções de HR Del e RS Oph.

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I ­ Introdução

Figura 11 – Modelo do envoltório de HR Del proposto por Harman e O'Brein 2003 a partir de observações realizadas com o  telescópio Hubble e por  espectros em fenda longa.  O envoltório é  bipolar,  com duas  componentes esféricas.

Análises de abundância revelaram um material ejetado com enriquecimento em CNO e He (Tylenda 

1978). Especificamente mostrou ter log(O/H) = ­2,35 ou 23 vezes a solar, log(C/H) = ­3,4 ou 7 

vezes a solar, log(N/H) = ­2,5 ou 30 vezes a solar,  log(He/H) = ­0,67 ou 1,5 vezes a solar e Z = 0,08 

(abundância em massa) ou 3 vezes a solar. A massa do envoltório utilizando a emissão total das 

linhas Balmer (H) foi estimada por Malakpur (1973) em 2,5 x 10­4 Mʘ e por Anderson & Gallegher 

(1977) com 9 x 10­5 Mʘ.  

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I ­ Introdução

1.4 – A nova V842 Centaurus

A nova V842 Cen teve seu máximo visual (mv = 4.6 e Mv = ­7,4 para d = 1,1 kpc) em 24 de 

novembro de 1986 (Sekiguchi et al 1989), evoluindo como uma nova moderadamente rápida, com t3 

= 48(5) dias. Observações no UV mostraram que o término da fase de queima nuclear em equilíbrio 

hidrostático ocorreu 3,5 anos após a erupção. A luminosidade no UV após essa fase era de 5,8 x 1034 

erg.s­1 e se reduziu para 3 x 1034 erg.s­1 nos anos subsequentes. O avermelhamento foi estimado em 

E(B­V)  = 0,55 (Sekiguchi et al 1989). Observações em raios­X pelo satélite ROSAT mostraram que o 

objeto era pouco luminoso em raios­X moles e foi obtido que o limite superior para a luminosidade 

nessa banda era de 1038 erg.s­1 (Orio et al. 1992). A magnitude visual 15 anos antes da erupção era 

de 15.8 mag (Downes & Duerbeck, 2000), mesmo 22 anos após a erupção o brilho continuava 2 

magnitudes acima dos valores do progenitor da nova (> 18). A figura 12 mostra o espectro no óptico 

da nova em 2003 obtido por Schmidtobreick et al. 2005.

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I ­ Introdução

Figura 12 – Espectro de V842 Cen no óptico obtido em 2003 com fenda de 1” e tempo de exposição de 9300  segundos. Os quadros em destaque mostram as linhas de Balmer mais intensas a fim de se comparar o perfil  das linhas, evidenciando a contaminação de H   por [N II]. O painel de baixo mostra as linhas menos  intensas,  nota­se  que  17  anos  após  a  erupção ainda há   linhas  de  alta   ionização.  Figura  adaptada de  Schmidtobreick et al. 2005.

Gill e O'Brien (1998) obtiveram as primeiras imagens do envoltório com diâmetro de 1,6” na luz de 

H+[N II]  com observações   feitas  em 1995 (figura 13).  Downes e Duerbeck (2000)  obtiveram 

imagens do envoltório posteriormente, suas dimensões em 1999 eram de 5,6 x 6,0 arcsec2. O brilho 

superficial em H+[N II] era de 1,1 x 10­12 erg.s­1.cm­2.arcsec­2 e de  1,2 x 10­13 erg.s­1.cm­2.arcsec­2 

em [O III]5007.  Os estudos das linhas de emissão de  [O III] mostraram picos em ­500 km.s ­1 e 

550 km.s­1 (Andrea et al. 1994). A velocidade de expansão das partes mais densas do envoltório era 

de 525 km.s­1  enquanto que os sistemas de baixa densidade tinham velocidades de 2000 km.s­1. 

Baseados na velocidade de expansão de 525 km.s­1 Gill & O'Brien (1998) obtiveram uma distância 

de 1,3(5) kpc enquanto as distâncias baseadas no avermelhamento sugerem uma distância de 920 pc 

(Sekiguchi et al 1989). Se o valor da distância está correto, a velocidade de expansão média seria de 

1600 km.s­1 valor que está de acordo com a velocidade do material observada nos primeiros anos da 

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I ­ Introdução

erupção. De Freitas Pacheco et al. (1990) obtiveram uma medida independente para a velocidade de 

expansão de 1400 km.s­1 e um valor de 1200(200) pc para a distância da nova.

Figura 13 – Imagem de V842 Cen na luz de H+[N II] obtida em 1998 por Gill & O'Brien, 1998. A imagem  da esquerda corresponde a do remanescente, a da direita, a imagem deconvoluida sem a fonte central.

As abundâncias do envoltório foram obtidas por Andrea et al. (1994) utilizando dados em UV e por 

De Freitas Pacheco (1989) utilizando espectros no óptico. A abundância de hélio é log(He/H) = 

­0,85 ou 40% maior que a abundância solar. As abundâncias de CNO são log(C/H) = ­1,62 ou seja 

52 vezes a solar; log(N/H) = ­1,44 ou seja 380 vezes a solar e log(O/H) = ­2,44 ou seja 6 vezes a 

solar. A fração em massa de metais é Z = 0,36 ou 18 vezes a solar.

Observações através da técnica de fotometria rápida (Woudt et al. 2009) mostraram que a curva de 

luz tem uma modulação coerente de 56,8 s. Essa característica se mantem desde as observações de 

2000. Os autores propuseram que essa modulação é causada pela rotação da anã branca, e que V842 

Cen é um novo membro da classe das novas magnéticas, na subclasse das DQ Her. Observações em 

raios­X realizadas pelo satélite Swift mostraram que a luminosidade desse objeto em raios­X moles 

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I ­ Introdução

parece ser bem menor que outras Polares Intermediárias nas quais a região de acresção é visível 

diretamente; a luminosidade nos raios­X (0,3­10 KeV) é de 5­8 x 1031 erg.s­1. O seu período orbital 

foi determinado em 3,94 h (Woudt et al. 2009).

V842 Cen foi observada no infravermelho (IV) na fixa de 8 a 13m por 2,5 anos por Smith et al. 

1994 nos dias 146 e 883 após a erupção. O espectro no IV mostrou evidências de 3 componentes de 

poeiras, grãos com base em carbono tipo quente, comumente observado em novas com formação de 

poeira, grãos de silicato e grãos pequenos ou moléculas grandes com hidrocarbonetos policíclicos 

aromáticos (HPA) ou ainda grãos de carbono amorfo hidrogenados (CAH). A presença de grãos de 

silício e carbono no envoltório   implica em condições  químicas e/ou espaciais  heterogêneas.  As 

novas com anãs brancas do tipo O­Ne­Mg tem preferencialmente a formação de grãos de poeira 

com silicatos enquanto que anãs brancas do tipo C­O tem preferencialmente poeira com grãos de 

carbonatos (Starfield et al. 1986). De Freitas Pacheco et al. (1990) observaram que a abundância de 

oxigênio no envoltório de V842 Cen diminuiu entre os dias 142 e 561. A coexistência de grãos com 

base em silicatos e carbonatos nessa nova pode ser explicado por uma assimetria na DTN que 

produziria   diferentes   composições   em diferentes  direções  do  envoltório.  O   envoltório  deve   ser 

heterogêneo com condensações ou camadas ricas em carbono ou oxigênio. A mudança da fração de 

grãos de silicato em relação aos de carbonato no tempo observado em V842 Cen pode ser reflexo 

das mudanças da distribuição de energia da fonte central. A massa de poeira obtida a partir dos 

espectros no IV foi de 2(1) x 10­7 Mʘ para os grãos de Si e 5(3) x 10­8 Mʘ para os grãos de C.

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I ­ Introdução

1.5 – Objetivos do trabalho

O objetivo final deste trabalho é estudar um modelo de envoltório para as novas HR Del e V842 

Cen que reproduza as principais características dos espectros ópticos observados. Entretanto esse 

objetivo só pode ser atingido se formos capazes de entender a geometria, a distribuição de matéria, 

detalhes da fonte ionizante e da distribuição dos elementos químicos no envoltório.

A   geometria   e   a   cinemática   dos   envoltórios   pode   ser   estudada   através   das   observações 

espectroscópicas com resolução espacial a partir de dados colhidos por um espectrógrafo de campo 

integral no telescópio Gemini.  Esses dados também forneceram vínculos para a distribuição de 

matéria,   já   que   a   presença   de   condensações   pode   ser   observada   nas   imagens.   A   análise   da 

distribuição   de   tamanho   e   densidade   das   condensações   foi   realizada   através   de   modelos   de 

fotoionização. Estudos sobre o gradientes de abundâncias também foram possíveis de se obter dos 

dados da nova HR Del, o que forneceu informações importantes sobre os processos de mistura e 

enriquecimento no envelope. O fluxo ionizante foi limitado pelas observações do satélite IUE, mas 

fizemos estudos para verificar se a geometria dessa fonte nos modelos, pontual ou em forma de 

disco,   poderia   explicar   algumas   características   dos   espectros   observados   ou   da   morfologia   do 

envoltório.  Todas as informações obtidas das observações foram utilizadas para a construção de 

modelos   de   envoltório   em   três   dimensões   com   condensações   para   ambas   as   novas.   Há   ainda 

algumas questões sobre o fenômeno nova que podem ser melhor esclarecidos. O enriquecimento do 

envelope é uma questão ainda em aberto, os dados espectroscópicos  forneceram melhores vínculos 

ao processo de mistura. A questão do mecanismo de ejeção e a influência da secundária, do disco de 

acréscimo e da rotação da anã branca  esclareceram por que os envoltórios de HR Del e RS Oph tem 

morfologias semelhantes, apesar de serem objetos de classes diferentes. V842 Cen foi classificada 

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I ­ Introdução

como uma DQ Her, com um período de rotação de 57 segundos, para o qual se espera observar um 

envoltório prolato ou bipolar, mas as imagens até agora obtidas mostram um envoltório circular. A 

análise do seu envoltório neste trabalho sugere algumas hipóteses para solucionar esta questão. A 

diferente  morfologia  do  envoltório   em diferentes   linhas  de  emissão pode ser   esclarecida  ao  se 

comparar os dados de HR Del, que tem um disco significativamente grande e quente, com os dados 

de V842 Cen onde o disco é truncado devido ao forte campo magnético.

A tese se estrutura através de itens que correspondem a cada etapa da análise, como descrito a 

seguir:

No próximo capítulo,  (2),  as  observações das novas,  os métodos de análise e o  tratamento das 

condensações serão detalhados. Em seguida, no capítulo 3. serão analisados, através dos modelos de 

fotoionização, os efeitos da presença de condensações de matéria na análise de fotoionização, assim 

como a distribuição de tamanhos e densidades dessas condensações. No capítulo 4. propomos um 

modelo de envoltório com condensações em 3 dimensões para a nova V842 Cen. O envoltório da 

nova HR Del é analisado no capítulo 5. também com um modelo em três dimensões que considera a 

geometria bipolar, a presença de estruturas, como capas polares e ainda condensações de matéria no 

envoltório. No capítulo 6. os resultados obtidos para ambas as novas são discutidos no cenário atual 

das  erupções  de  novas  e  no  âmbito  dos  modelos  de   fotoionização.  Por   fim as   conclusões  são 

apresentadas no capítulo 7.

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I ­ Introdução

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II – Dados observacionais e métodos

2.1 – Dados espectroscópicos de HR Del e V842 Cen

As observações dos envoltórios foram realizadas utilizando­se o espectrógrafo de objetos múltiplos 

(GMOS sigla em inglês) e a unidade de campo integral (IFU na sigla em inglês) do telescópio 

Gemini Norte (HR Del nos dias 14 a 16 de junho de 2002) e Sul (V842 Cen nos dias 1 a 3 de junho 

de 2005). A configuração instrumental utilizadas nas observações foi semelhante. As observações 

cobriram a faixa espectral  do visível  e   infravermelho próximo,  de 4000 a  10000 Angstrons.  A 

resolução   espacial   foi   de   aproximadamente   0,5   arco­segundos   (FWHM   medido)   para   ambas 

observações. O IFU consiste de um conjunto de 500 micro­lentes e fibras ópticas, com amostragem 

de 0,2 segundos de arco. O campo visual do IFU, no modo fenda única, consiste de um campo de 

5”x3,5” para o objeto e um campo de 5”x1,75” (250 micro­lentes) para o fundo de céu, que fica 

distante 60” do campo do objeto. Para cobrir todo o envoltório de HR Del foram necessárias 12 

exposições, que formam um mosaico do campo de 13”x14” . O tempo de cada exposição foi de 600 

segundos.   Para   V842   foram   necessárias   9   exposições   de   1425   segundos   para   cobrir   todo   o 

envoltório,   formando   um   mosaico   de   9,5”x12,5”.   Um   problema   crítico   nessa   configuração 

instrumental é a refração diferencial atmosférica, (RDA). Isso ocorre pois as distâncias angulares 

entre   as   micro­lentes   em   cada   frame   observado   é   da   mesma   ordem   de   grandeza   da   refração 

diferencial entre os comprimentos de onda mais distantes no espectro. Por isso as observações são 

preferencialmente realizadas com uma massa de ar baixa. No caso de HR Del as observações foram 

feitas com massa de ar entre 1 e 1,16 e não houve RDA detectável. Já as observações de V842 Cen, 

devido a problemas de operação do telescópio, foi realizada com massa de ar entre 1,35 e 1,6 e a 

RDA foi severa, este fato associado a degradação de sinal impossibilita análises mais detalhadas da 

cinemática   e   morfologia   do   envoltório.   A   transparência   do   céu   durante   as   noites   permitiram 

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II – Dados observacionais e métodos

calibrações   espectrofotométricas.  O  seeing  médio  na  banda  V  foi  de  0,5”.  A  rede  de  difração 

utilizada foi a R150+G5306, centrada em 5070 Å, o que forneceu uma amostragem de 1,7  Å por 

pixel, equivalente a 70 km.s­1  por pixel na região de H. O perfil  instrumental (FWHM) foi de 

aproximadamente 300 km.s­1.

A   redução   dos   dados   foi   realizada   utilizando­se   as   rotinas   padrão   do   IRAF   versão   12.2.   Foi 

realizada a correção de BIAS e os frames de flat field foram utilizados para normalizar a resposta 

de cada micro­lente. O espectro do céu foi subtraído para cada micro­lente. Como cada micro­lente 

fornece um espectro, temos para HR Del um total de aproximadamente 6000 espectros e 4500 para 

V842 Cen. O espectro de cada micro­lente foi extraído por um algorítimo ótimo e a calibração em 

comprimento de onda foi feita através das imagens da lâmpada de CuAr. A função de sensibilidade 

obtida de estrelas padrões  foi  aplicada a   todas  as micro­lentes do campo observado.  Na região 

nebular, a relação sinal/ruído (S/R) típico para cada espectro de uma micro­lente é da ordem de 10 

no contínuo da região de H. Os frames individuais foram manipulados através das rotinas do IRAF 

e  programas  Fortran  especialmente  produzidos  para  compor  o  mosaico  e  as   imagens  em cada 

intervalo de comprimento de onda. A amostragem espacial do IFU (0,2”) foi mantida, mas os mapas 

e   imagens   foram   geradas   utilizando­se   uma   convolução   Gaussiana   a   fim   de   se   controlar   o 

compromisso entre o S/R e a resolução espacial. Os mapas das linhas de emissão foram gerados 

com o contínuo local subtraído.

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II – Dados observacionais e métodos

2.2 – Métodos de análise

As   observações   espectroscópicas   com   resolução   espacial   forneceram   um   conjunto   de   dados 

denominado “cubo de dados”. O cubo de dados contém em cada elemento de resolução espacial do 

objeto (acensão reta e declinação) um espectro completo. As observações das novas HR Del e V842 

Cen necessitaram múltiplas  exposições  para  cobrir   toda  a  extensão dos  envoltórios.  Portanto o 

conjunto de cubos de dados de cada exposição foi montado formando um mosaico para cada uma 

das novas. Desses dados foi possível obter espectros combinados de diversas regiões do envoltório. 

Para isso foi criado um programa simples em Fortran, que a partir de um intervalo de coordenadas 

na   imagem,   soma   a   contribuição  das  micro­lentes   da  área   considerada   a   fim  de   se   obter   um 

espectro. Essa estratégia é fundamental para se obter espectros de regiões importantes do envoltório, 

como as capas polares e condensações. O tamanho da região a partir da qual o espectro era gerado 

foi limitada pela razão sinal – ruído das principais linhas de emissão necessárias para uma análise 

confiável. Para a identificação de linhas de emissão do envoltório e posterior diagnóstico de suas 

condições físicas,  foi  possível separar um espectro que considera somente as regiões nebulares, 

diminuindo assim a influência da fonte central nos fluxos das linhas. Todos os espectros obtidos 

foram corrigidos do avermelhamento através dos valores de extinção da literatura, o que foi feito 

para as duas novas. Com as ferramentas de manipulação do cubo de dados é possível obter mapas 

do envoltório nos intervalos de comprimento de onda desejados. Esses mapas foram utilizados na 

análise cinemática e estrutural dos envoltórios.

Para os cálculos dos primeiros modelos de fotoionização foi  utilizado o código CLOUDY 6.02 

(Ferland 2005). Esse código calcula e resolve as equações de equilíbrio de fotoionização, equilíbrio 

térmico   e   de   equilíbrio   estatístico   em   NETL.   O   código   trabalha   em   uma   dimensão,   mas   foi 

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II – Dados observacionais e métodos

modificado, a fim de poder se possível tratar um modelo   de   envoltório   tridimensional.   Uma 

rotina   chamada   RAINY3D  (Diaz, 2001) utiliza o CLOUDY como sub­rotina a fim de tratar os 

envoltórios 3­D. Os detalhes dessa modificação estão no item 2.3. 

2.3 – Envoltório 3­D com condensações – código RAINY3D

Os modelos  de  envoltório  possíveis  de  se obter  com o  código CLOUDY são  limitados  a  uma 

estrutura unidimensional ou radial. Esses modelos estão distantes das geometrias de envoltórios de 

novas   observados.   Os   modelos   de   envoltório   tridimensionais   são   fundamentais   para   se   obter 

informações de como as assimetrias e condensações afetam os o diagnóstico físico e químico. O 

código RAINY3D surgiu primeiramente com o objetivo de gerar um envoltório 3­D com simetria 

esférica com condensações.  Para descrever o envoltório, o primeiro passo foi criar as variáveis que 

descrevessem   as   suas   características   físicas,   assim   como   as   das   condensações.   Uma   variável 

importante que caracteriza o envoltório é a fração de massa condensada,  fc, definida pela razão 

entre a massa de matéria presente nas condensações e a massa total do envoltório. Portanto 0 < fc < 

1 e diz quanto do envoltório está condensado. O envoltório é então descrito pelas suas dimensões, 

ou seja  o  raio   interno e  o  externo,    pela  sua massa e pela   fração de massa condensada,  fc.  A 

componente simétrica da distribuição de massa do envoltório, ou perfil de densidade, é dada por 

uma lei de potência do tipo r­, sendo o valor de    é  ajustado conforme os dados de cada nova. 

Assim, tem­se que nos modelos de envoltório sem condensações, o perfil de densidade será uma lei 

de potência. Para os modelos com condensações essa componente será a base sobre a qual serão 

adicionados   os   glóbulos.   Sem   uma   modelagem   física   das   condensações,   são   adotados   alguns 

parâmetros que descrevem algumas de suas características físicas. As condensações são descritas 

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II – Dados observacionais e métodos

por um perfil de densidade Gaussiano, pela sua dimensão, ou FWHM, e por sua densidade máxima. 

Como o envoltório como um todo acaba por ter muitas condensações, mesmo quando fc é pequeno, 

utilizam­se funções de probabilidade para descrever as distribuições de tamanho e densidade. A 

densidade máxima e mínima das condensações são definidas em relação à componente simétrica 

(com perfil de  densidade em lei de potência). Estes são os parâmetros de entrada do modelo, assim 

como os tamanhos máximo e mínimo. As distribuições de tamanho e densidade são dadas por leis 

de potência. As leis de potência são definidas por uma distribuição do tipo log(f) x log(N) (por 

exemplo o número de glóbulos em função dos seus  tamanhos ou densidades) e o parâmetro de 

entrada do modelo é o coeficiente angular dessa distribuição. Por exemplo se o coeficiente da lei de 

dimensões for ­2, teremos uma distribuição onde os glóbulos pequenos são bem mais numerosos do 

que os glóbulos grandes. Com a massa, dimensão do envoltório e fc definidos, o código RAINY3D 

passa a construir e adicionar as condensações ao perfil de lei de potência definido anteriormente. O 

envoltório é subdividido em um grid de coordenadas esféricas com resolução d, d e dr, que serão 

os passos de incremento durante os cálculos, essa geometria está esquematizada na figura 14. A 

resolução do grade é definida em função do tamanho das condensações e do raio interno e externo 

do envoltório, de forma que, um envoltório, com condensações pequenas terá maior resolução que 

um envoltório, com condensações grandes. 

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II – Dados observacionais e métodos

Figura 14 – Sistema de coordenadas utilizado pelo código RAINY3D para gerar  as  condensações e  os  elementos de ângulo sólido.  A área cinza corresponde a uma interação completa em para um elemento de resolução d.

As condensações    são   adicionadas    em     posições   ( ,   r)  aleatórias,  obedecendo as   leis  de 

distribuição   de   tamanho   e   densidade   definidas   anteriormente.   A   adição   de   condensações   no 

envoltório acontece até que a massa total das condensações obedeça à relação descrita por  fc. Os 

elementos de resolução d e d mais o raio interno e o externo do envoltório formam um ângulo 

sólido   que   será   o   elemento   “unidimensional”   que   será   calculado   pelo   código   CLOUDY.   O 

RAINY3D varre o  envoltório  3D em    e    enviando cada elemento de ângulo sólido para ser 

processado   pelo   CLOUDY   como   sub­rotina   com   passo   radial   máximo  dr.   Os   resultados   dos 

cálculos são combinados tendo como parâmetro ponderador o volume definido pelo ângulo sólido 

1D e pelo raio  interno e  externo do envoltório.  Os elementos  unidimensionais  são combinados 

utilizando a expressão:

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II – Dados observacionais e métodos

f total=∑i=1

i= n

∑j=1

j=n

d 4

∗ f j∗di∗sin i   onde  d  é   definido  por  2/n   que  é  o   elemento  de 

resolução em  para cada e n é definido por 2sin(i)/d, d é definido por /m, m o número de 

elementos de resolução em  Os elementos dr, d e d permitem amostrar o menor dos glóbulos 

do envoltório.      fj    é  o   fluxo de cada elemento de  resolução unidimensional.  Essa  combinação 

ponderada é realizada para todas as linhas de emissão incluídas na entrada do programa. O cálculo é 

simplificado devido a componente esférica destes modelos.

O código RAINY3D varre portanto  entre  e para completar todo o envoltório. Este modo de 

construção de envoltório aleatório tendo como parâmetros suas dimensões, massa e fc foi utilizado 

nos estudos da  influência das  condensações  nos modelos  de fotoionização e especialmente nos 

espectros medidos, mostrados no capítulo 3 e 4. Para estudos de envoltórios com geometria pré 

determinada (ver  item 2.4),  o código RAINY3D sofreu alterações. Um dos produtos do código 

RAINY3D é um arquivo de texto com o perfil de densidade de todos os elementos de ângulo sólido 

(um exemplo deste elemento é  mostrado na figura 15) que compõe o envoltório.   O código foi 

configurado para uma fonte ionizante na forma de uma fotosfera quente de alta gravidade obtida do 

catálogo de atmosferas estelares de Rauch (2003) com temperaturas entre 50000K e 190000K. 

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II – Dados observacionais e métodos

Figura 15 – Perfil  de densidade de um elemento de ângulo sólido sem condensações à  esquerda e com condensações,  à  direita.  A unidade de densidade está  normalizada pela densidade da componente  sem  condensações.   A   unidade   de   dimensão   está   normalizada   pelo   elemento   de   resolução   espacial  r   e compreende a região entre o raio interno e externo do envoltório.

O código RAINY3D tem dois modos de operação, um modo de simulação e um modo de ajuste de 

espectros. No modo de simulação o código calcula os fluxos de linhas de emissão para uma dada 

configuração  de  parâmetros  da   fonte   ionizante   e   envoltório.  As   linhas   a   serem calculadas   são 

definidas sem que haja necessidade de vínculos observacionais. No modo de ajuste as linhas tem 

seu   fluxo   e   incerteza   definidos   nos   parâmetros   de   entrada.   Os   valores   de   fluxo   obtidos   das 

observações são comparados aos obtidos pelos modelos através do  2  reduzido relativo,  onde a 

importância absoluta de cada linha no ajuste não depende da sua intensidade. Dessa forma, as linhas 

de   intensidade   fraca,   mas   importantes   no   contexto   dos   envoltórios   de   novas,   como   [O   I]

6300,6364   e   [O   II]  7219,7330,   podem   afetar   substancialmente   os   ajustes   dos   modelos.   A 

expressão a seguir mostra o cálculo de 2:

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II – Dados observacionais e métodos

2=1n ∑i=1

n

[ f oi− f mi∗scf

f oi∗e ]2

, onde n é o número de linhas observadas,  fo o fluxo observado,  fm o 

fluxo do modelo, scf o fator de escala scf = (fluxo total observado/fluxo total do modelo), e o valor 

em fluxo do erro adotado no fluxo observado.

Algumas linhas de emissão que não foram observadas nos dados das novas podem ser incluídas nos 

cálculos  por  um  limite   superior  de  sua   intensidade.  Como os  valores  de  fluxo dessas   linhas  é 

indeterminado, elas não entram nos cálculos do 2 do ajuste, a menos que o modelo exceda o limite 

superior. A comparação dos valores obtidos pelos modelos com o limite de detecção dos espectros 

das novas limita o espaço de parâmetros dos cálculos. 

A figura 16 mostra o esquema do algorítimo do código RAINY3D, que tem os “loops” principais 

em r, e os “loops” de procura de parâmetros para as características físicas da fonte central, como 

temperatura e luminosidade, características do envoltório e nas suas abundâncias químicas. A cada 

“loop” em raio (elemento angular 1D) o código escreve em um arquivo o fluxo das linhas para 

aquele elemento 1D e acumula a contribuição daquele elemento no fluxo total. No fim dos loops em 

 o código fornece o fluxo total para cada linha de emissão. O código também gera um arquivo com 

o valor da razão entre os resíduos em fluxo (a diferença dos fluxos observado e do modelo) e o 

fluxo observado. O 2 relativo para o modelo de melhor ajuste dos parâmetros da fonte ionizante e 

do   envoltório   é   atualizado   com   os   parâmetros   correspondentes.  Nas   tabelas   2   a   4   estão   os 

parâmetros de entrada para o RAINY3D. Os cálculos feitos pelo conjunto RAINY3D e CLOUDY 

no modo busca de parâmetros podem ser iterativos para uma ou várias grandezas. As tabelas 2 e 3 

mostram que existem parâmetros que indicam o número de pontos para massa do envoltório, fração 

de massa condensada, luminosidade e temperatura da fonte central. 

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II – Dados observacionais e métodos

Figura 16 – Fluxograma do código RAINY3D no modo ajuste.  A  inicial  K significa o  índice da  lei  de  potência para a distribuição de densidades dos glóbulos, FW é o índice da distribuição de tamanhos, fc a  fração de massa nas condensações e a o índice da lei de potência da distribuição homogênea de matéria,  que define o background.

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II – Dados observacionais e métodos

shellpars Parâmetros de entrada para o envoltório

dlaw Lei de densidades do CLOUDY – fator multiplicativo para obter massa total

rmáx Raio externo do envoltório

rmín Raio interno do envoltório

msmáx Massa máxima do envoltório

msmín Massa mínima do envoltório

nms Número de iterações em massa do envoltório

Índice da lei de potência do envoltório

fcmáx Fração de massa condensada máxima do envoltório

fcmín Fração de massa condensada mínima do envoltório

nfc Número de iterações em fc

fwmáx Dimensão máxima dos glóbulos do envoltório

fwmín Dimensão mínima dos glóbulos do envoltório

fw Índice da lei de potência da distribuição de tamanho dos glóbulos

Kmáx Densidade máxima dos glóbulos do envoltório

Kmín Densidade mínima dos glóbulos do envoltório

K Índice da lei de potência da distribuição de densidades dos glóbulos

Vturb Velocidade turbulenta em km/s

V wind Velocidade do vento, se maior que 100 km/s usa aproximação de Sobolev.Tabela 2 – Parâmetros de entrada para o envoltório 3D com condensações.

sourcepars Parâmetros da fonte ionizante

tmáx Temperatura máxima da fonte central

tmín Temperatura mínima da fonte central

nt Número de iterações em temperatura

Lmáx Lumisidade máxima da fonte central

Lmín Lumisidade mínima da fonte central

nL Número de iterações em luminosidade

BB Usar ou não espectro de corpo negro

logg Gravidade superficial da fonte ionizanteTabela 3 – Parâmetros da fonte ionizante. No caso da negativa em usar o espectro de corpo negro, se utiliza  uma atmosfera estelar de alta gravidade da tabela de Rauch.

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II – Dados observacionais e métodos

clpars Parâmetros complementares

distmáx Distância máxima da novadistmín Distância mínima da novandist Número de iterações em distânciadist Distância mais provávelage Tempo em dias após a erupçãoEBV avermelhamentolinelist Arquivo de linhas de emissão a terem os fluxos calculados

Tabela 4 – Parâmetros complementares para o cálculo dos fluxos das linhas de emissão.

2.4– Modelos de envoltório com geometria definida

A geometria tridimensional bipolar é observada em alguns envoltórios de novas, como por exemplo 

HR Del e RS Oph. Os modelos de envoltório para HR Del (capítulo 5) foram construídos conforme 

a geometria inferida das observações, sendo que o tamanho mínimo das condensações adicionadas 

foram limitadas pela resolução espacial dos dados, equivalente a 5% do tamanho do envoltório. 

Cada lóbulo é definido por uma casca esférica com dimensões (espessura e diâmetro) derivadas dos 

mapas de linhas de HR Del (figura 51).

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II – Dados observacionais e métodos

Figura 17 – Sistemas de coordenadas para o envoltório bipolar, composto de duas esferas fundidas. A fonte  central é  posicionada e O e o eixo de simetria é  .  A região cinza no interior das esferas não contém matéria. A razão axial   foi obtida das observações de HR Del.

As cascas esféricas estão unidas no plano orbital, levando o envoltório ter uma aparência de uma 

ampulheta.   Esse   modelo   foi   proposto   anteriormente   por   Gill   &   O'Brien   2003.   O   sistema   de 

coordenadas   utilizado   está   mostrado   na   figura   17.   As   imagens   de   HR   Del   mostraram   que   o 

envoltório tem uma razão axial de 1.65 nas linhas de Balmer, essa informação foi transferida para o 

sistema de coordenadas de forma a definir em que região da casca esférica as componentes estão 

unidas.  Os cálculos de  luminosidade das   linhas  de emissão  levam em conta essa geometria.  O 

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II – Dados observacionais e métodos

modelo do envoltório foi construído com uma grade de resolução em  e r definidos pelas escalas 

dos menores glóbulos de matéria observados. Cada casca esférica tem 10 elementos em  (d = 9o) 

e d é definido pelo ângulo , por exemplo, para 0 <  < 9 o número de elementos em , nd= 3 e 

para 81 <  < 90 esse número é de nd = 40, ou de forma geral (inteiro de) nd = 2sen()/d. 

Assim, se conhece a priori o volume de cada elemento de ângulo sólido (ou a fração do volume 

total)   que   é   enviado   para   cálculo   pelo   CLOUDY.   O   espaço   interior   das   cascas   esféricas   foi 

preenchido por uma componente de densidade de simétrica radial, com centro na fonte central e 

definida por uma lei de potência. Além disso, outras estruturas observadas nos mapas de linhas, 

como as capas polares e glóbulos foram adicionadas ao perfil de densidade em lei de potência. O 

posicionamento   no   modelo   3D   dessas   componentes   foi   inferida   dos   dados   cinemáticos   das 

estruturas obtidos dos mapas de linhas, principalmente [O III], H+[N II] e H. Devido ao pequeno 

número de glóbulos identificados nas imagens, a obtenção do perfil radial através da transformada 

inversa de Abel é   foi  possível para essa geometria.  Quando os glóbulos  tem dimensão espacial 

suficiente, ( ≳ 1”), o perfil de densidade das estruturas adicionadas reproduz a variação espacial 

da intensidade das linhas de emissão. Para estruturas com dimensões próximas à resolução espacial, 

(  ≲  0,5”),  o perfil  de densidade Gaussiano foi adotado. A fim de se otimizar os cálculos dos 

modelos,   foi   adotado   que   os   dois   lóbulos   apresentam   a   mesma   configuração   geométrica.   As 

densidades relativas entre as regiões foram obtidas a partir da razão dos fluxos de algumas linhas, 

como H  ou [O III]5007, entre as regiões com e sem condensações.

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II – Dados observacionais e métodos

2.5 – Fonte ionizante extensa

Nos modelos de HR Del foi simulada uma fonte ionizante extensa em forma de disco. O princípio 

básico desses modelos foi considerar que, conforme o ponto do envoltório considerado (em , a 

fonte  ionizante  tem aspecto efetivo que depende do ângulo  de visão.  Por  exemplo,  nas   regiões 

polares o disco é visto pelo topo, tem uma forma de disco e sua área aparente é máxima. Conforme 

a região considerada se aproxima do plano equatorial a forma aparente do disco fica mais achatada, 

até  o disco ser observado de perfil no plano equatorial.  Assim, nos modelos de fonte ionizante 

extensa, tem­se uma iluminação variável, conforme a distância angular no envoltório em relação ao 

plano da órbita da binária. A variação da luminosidade é definida pela variação da área aparente do 

disco em cada posição do envoltório (cos()). Isso simula o efeito de uma fonte extensa na forma de 

disco.  A  luminosidade   total  do  disco  é   a  mesma  luminosidade  dos  modelos  com fonte  central 

pontual, apenas o fluxo radiativo é redistribuído de forma não uniforme, sendo mais intenso nas 

regiões polares. A variação da iluminação entre as regiões polares, com maior fluxo e equatoriais, 

com menor fluxo é elevada (de pelo menos 2 ordens de grandeza).

2.6 – Limitações do método

Um problema nos cálculos da transferência radiativa nos modelos com condensações é a grande 

densidade   proporcionada   pelos   glóbulos,   como   mostra   a   figura   15   o   que   pode   aumentar   a 

profundidade óptica das linhas. O gradiente de densidade também constitui um problema para a 

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II – Dados observacionais e métodos

convergência dos modelos 1D. Esse problema é contornado pelo código CLOUDY pois este usa 

uma grade adaptativa que subdivide o valor do passo radial interpolando linearmente os valores de 

densidade de forma que haja convergência nos cálculos, evitando assim que as condições físicas 

mudem muito intensamente entre uma região e a seguinte.  O método de cálculo do modelo de 

fotoionização é pseudo­3D pois o campo difuso tem sua transferência calculada apenas na direção 

radial.   Nos   modelos   com   fonte   ionizante   extensa,   não   foram   considerados   os   efeitos   da   auto 

ocultação e o escurecimento de borda do disco.

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III – Simulações e análises

3  – Simulações e análises

As simulações  de envoltórios com condensações possibilitam a análise  de como a presença de 

glóbulos afeta o espectro observado. As simulações foram divididas em dois estudos. O primeiro 

estudo mostra o efeito do aumento da fração da massa condensada nas razões de linhas. O aumento 

de fc causa um aumento exponencial do número de glóbulos no envoltório, por exemplo para fc = 

0,05 tem­se de 50 a 100 glóbulos, e para  fc = 0,9 tem­se mais de 12000 glóbulos. O aumento no 

número  de  glóbulos   significa   um aumento  no  volume  emissor   em altas  densidades  no  qual   a 

radiação pode interagir com o gás. O segundo estudo  analisou como a distribuição de tamanhos e 

densidades das condensações influenciam as razões das linhas de emissão do envoltório. Para esse 

estudo   utilizou­se  um   envoltório   com   50%  da  massa   em   condensações,   ou   seja  fc  =   0,5.  Os 

tamanhos máximos e mínimos, assim como as densidades máximas e mínimas das condensações 

foram mantidas  constantes  nos  cálculos,  de  forma que apenas  o valor  do coeficiente  da  lei  de 

distribuição foi variado em cada simulação. Dessa forma, o que se pretende saber é se para um dado 

valor   de  fc  constante,   um   envoltório   com   condensações   majoritariamente   pequenas   tem 

propriedades muito diferentes de um envoltório com condensações majoritariamente grandes.  O 

mesmo pode­se perguntar sobre a distribuição de densidades, ou seja, se a emissão de um envoltório 

com   poucos   glóbulos   densos   é   diferente   daquela   produzida   por   muitos   glóbulos   de   menor 

densidade. A variação dos fluxos das linhas de emissão em modelos com condensações, quando não 

se conhecem as leis de distribuição de tamanho e densidade dos glóbulos, pode ser estimada através 

da análise dessas simulações. As configurações de abundância e dimensões do envoltório, assim 

como   os   parâmetros   da   fonte   ionizante   foram   mantidos   constantes.   As   abundancias   adotadas 

correspondem a um gás enriquecido em CNO assim como observado nos envoltórios de novas. A 

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III – Simulações e análises

fonte ionizante tem uma luminosidade de 1036  erg.s­1  com temperatura de 65000K. O contínuo é 

definido por uma atmosfera quente de alta gravidade, conforme os dados do catálogo de Rauch 

(2003). Os parâmetros dos modelos podem ser vistos na tabela 5.

3.1 ­  Efeito da fração de massa condensada no espectro dos modelos

A luminosidade total do envoltório ejetado na linha de H varia com a fração de massa condensada, 

fc,   como   mostra   a   figura   18.   Quando   compara­se   a   luminosidade   de   um   envoltório   sem 

condensações, o fator de ganho chega a mais de duas vezes (de fc = 0 para fc   = 0.9). Esse fator 

afetará determinações de massa do envoltório e algumas determinações de abundância.

Figura 18   – Variação da luminosidade total da linha H  em função de fc. Os outros parâmetros foram mantidos constantes.

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III – Simulações e análises

A variação da fração de massa condensada contribui significativamente para os valores de algumas 

razões de linha, já que o aumento de fc altera as condições de ionização no envoltório. A razão de 

linha He II 4686/H por exemplo, é fortemente afetada por fc. A figura 19 mostra o comportamento 

dessa razão com a fração de massa condensada. A presença dos glóbulos afeta a ionização do He+, 

fazendo com que a população de He++ diminua no interior das condensações. Portanto quanto mais 

material estiver nos glóbulos, menos numerosa será a população de He++. A variação foi de uma 

razão de 1,4 no envoltório sem condensações para uma razão de 0,14 em fc = 0,9, ou seja um fator 

10. Nesse mesmo intervalo a razão das linhas He I 5876/H  variou apenas 6 %. Essas razões de 

linha   são   normalmente   utilizadas   para   a   determinação   da   abundância   He/H.   A   presença   de 

condensações gera uma alteração significativa nas determinações de He++/H+  e portanto afetam as 

determinações de abundância. Nos envoltórios altamente condensados, a abundância He/H pode ser 

subestimada. Além disso, o fato da emissão das linhas de He I variarem pouco, significa que parte 

do  He+  foi  neutralizado.  Esse  efeito   foi  observado  no  estudo da  nova  HR Del,  que   indicaram 

abundâncias  He/H menores  nas  regiões com glóbulos mais  densos  (Moraes & Diaz,  2009).  Os 

cálculos   de   abundância   utilizando   as   razões   de   linha   obtidas   pelos   modelos   mostra   que   um 

envoltório com fc = 0,9 tem uma determinação de abundância 67% menor que um envoltório sem 

condensações.

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III – Simulações e análises

Figura 19  – Variação da razão He II 4686/H em função da fração de massa condensada. O aumento de fc  diminui significativamente a população de He++ do envoltório.

Outra linha intensa observada nos envoltórios de novas é a linha de oxigênio proibido [O III] 5007. 

A   figura   20   mostra   o   comportamento   da   razão   [O   III]   5007/H  com  fc.   Nas   dimensões   e 

configurações de um envoltório de nova de 10­4 Mʘ e com enriquecimento de CNO a linha [O III] 

5007 é  muito fraca para um   envoltório sem condensações, apenas 0,01. Com  fc  = 0,05 há  um 

aumento significativo na emissão dessa linha, de um fator 20. Com o progressivo aumento de fc, há 

um aumento da razão de [O III]5007/H por mais de um fator  10, (de fc = 0,05 até fc = 0,9). Esse 

resultado   indica   que   envoltórios   de   novas   com   emissão   intensa   nessa   linha,   tem   com   certeza 

condensações. As condensações não devem ser muito densas pois uma densidade maior que a crítica 

desexcitaria o nível 1D2, do OIII,  que dá origem à linha. Os glóbulos devem ter densidade suficiente 

para otimizar a excitação dos íons.

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III – Simulações e análises

Figura 20 – Variação da razão [O III]5007/H em função da fração de massa condensada. 

A determinação das abundâncias de oxigênio também serão diretamente afetadas pela presença dos 

glóbulos. Apesar da linha de [O III] ser muito afetada pela presença das condensações, as linhas de 

[O II] 7325 não são (vide figura 21). A variação de um envoltório sem condensações para um com 

fc = 0,9 foi de apenas 22 %. As linhas de [O II] 7325 são observadas em muitas novas, como HR 

Del e V842 Cen (Moraes & Diaz, 2009 e Andrea et al, 1994), mas a presença de condensações não 

é suficiente para explicar sua grande intensidade em relação à H. A linha de [O I] 6300 tem sua 

intensidade no envoltório sem condensações aumentada de um fator 104 pelas condensações. Apesar 

disso a razão [O I]/H nos modelos ainda é algumas ordens de grandeza menor do que o observado 

nos   envoltórios   de   novas,   principalmente   na   fase   nebular.   A   presença   das   condensações   é 

fundamental para que haja um aumento na população de O0, mas o mecanismo de excitação da linha 

durante a fase nebular ainda tem que ser melhor entendido. A presença de condensações diminui 

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III – Simulações e análises

drasticamente a temperatura eletrônica das regiões onde o [O III] é emitido. A figura 24 mostra o 

comportamento da temperatura dada pelas linhas de [O III] 4363, 4959 e 5007. O aumento de fc faz 

com que a energia proveniente do campo de radiação seja “gasta” na ionização do gás no interior 

das condensações. Em um envoltório sem condensações, onde a maior parte do gás já está ionizada, 

o   campo   de   radiação   gera   um   aumento   da   temperatura   eletrônica   do   gás.   Além   disso   as 

condensações criam condições para que a emissão das linhas que resfriam o gás, como o [O III] 

5007 seja mais eficiente.

Figura 21 – Variação da razão [O II] 7325 / H em função da fração de massa condensada. 

Assim como  as   linhas  de   [O   III],   a   linha  de   [N   II]  6584   também é   fortemente   afetada  pelas 

condensações. A figura 22 mostra o comportamento dessa linha em relação a H. O aumento na 

razão [N II] 6584/H é de 20 vezes de fc = 0,05 até fc = 0,9. De forma análoga à linha nebular [O 

III], a emissão em [N II] dessa linha em um envoltório sem condensações relativamente fraca. O 

que sugere que sua presença nos espectros de novas decorre da presença de condensações  nos 

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III – Simulações e análises

envoltórios   ejetados.  Consequentemente,   as  determinações   de   abundâncias  N/H  são   fortemente 

afetadas pelos glóbulos.

Uma das poucas linhas de carbono observadas no óptico em novas na fase nebular é o multipleto 

CIII 4645 que geralmente está combinado com o multipleto NIII 4650. A razão CIII+NIII/H em 

função de  fc  tem um comportamento similar  a  He II  4686, como mostra a  figura 23.  A razão 

diminui com o aumento da fração de massa condensada por um fator 3 (de fc = 0 a fc = 0,9). O que 

confirma que o aumento da fração condensada diminui  eficiência da ionização no envoltório.

Figura 22 – Variação da razão [N II]6584/H em função da fração de massa condensada.

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III – Simulações e análises

Figura 23 – Variação do conjunto de linhas de CIII e NIII em  4645 em função de fc.

Figura 24 – Variação da temperatura na região de formação das linhas de [OIII] em função de fc.

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III – Simulações e análises

3.2 – Efeito da população das condensações no espectro modelado

3.2.1 – Modelos e a intensidade de H

Os efeitos da distribuição de tamanhos (fw) e densidade   (k) das condensações foram estudados 

em envoltórios com glóbulos  de densidade baixa,  de 3  a  10 vezes  a  densidade da componente 

esférica   circundante,   denominados   modelos   k3­10   e   com   envoltórios   com   condensações   mais 

densas,   com   densidades   de   10   a   50   vezes   a   do   material   circundante   (modelos   k10­50).   Os 

parâmetros dos modelos estão na tabela 5. A luminosidade do envoltório nas linhas de Balmer, no 

caso H mostrou uma variação significativa nos cálculos. Para os modelos k3­10, a luminosidade 

total na linha H teve uma variação de 35% em função da variação da população de condensações. 

Quando   o   parâmetro   livre   do   envoltório   é   a   distribuição   de   tamanhos,   um   envoltório   com 

condensações predominantemente pequenas, apresentou uma maior luminosidade em H, quando 

comparado aos modelos com condensações grandes predominantes (como pode ser visto nas figuras 

25 e 26).  A variação da distribuição de densidades apresentou um efeito de mesma escala e o 

modelo com condensações mais densas apresentou maior luminosidade que os modelos com uma 

população de condensações menos densa. Para os modelos com glóbulos mais densos, k10­50, o 

efeito   foi   o  mesmo  dos  modelos   k3­10,   só   que  mais   intenso.  Apesar   dos  modelos   calculados 

apresentarem   uma   fração   de   massa   condensada   fixa,   a   distribuição   de   matéria   mostrou   ser 

importante nos cálculos da massa dos envoltórios de novas. O efeito da geometria é mais intenso 

quando o gradiente de densidades é maior, situação mais comum nos primeiros anos da erupção.

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III – Simulações e análises

Modelo k3­10 Modelo k10­50

Temperatura anã branca (K) 65000 65000

Luminosidade (log erg/s) 36 36

Massa do envoltório (Mʘ) 10­4 10­4

Fração de massa condensada 0,5 0,5

Gravidade anã branca (log g)  8 8

Forma do contínuo ionizante Atmosfera Rauch Atmosfera Rauch

Abundância He/H (log He/H) ­0,85 ­0,85

Abundância C/H (log C/H) ­2,5 ­2,5

Abundância N/H (log N/H) ­2 ­2

Abundância O/H (log O/H) ­2,5 ­2,5

Abundância outros elementos Solar Solar

Tamanho do envoltório (cm) 4x1016 4x1016

Tamanho máximo glóbulos (log cm) 16 16

Tamanho mínimo glóbulos (log cm) 14 14

Densidade máx glóbulos (relativa) 10 50

Densidade mín glóbulos (relativa) 3 10

Intervalo de fw ­2 a 4 ­2 a 4

Intervalo de k ­2 a 4 ­2 a 4Tabela 5 – Parâmetros dos modelos k3­10 e k10­50 no estudo dos efeitos da distribuição de densidades e de  tamanhos das condensações no espectro observado.

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III – Simulações e análises

Figura 25 – Luminosidade na linha de H  nos modelos de envoltório k10­50 em função dos parâmetros  livres que descrevem a distribuição de tamanhos e densidades das condensações.

Figura 26 – Luminosidade na linha de H nos modelos de envoltório k3­10 em função dos parâmetros livres  que descrevem a distribuição de tamanhos e densidades das condensações.

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III – Simulações e análises

3.2.2 – Linhas de hélio

As linhas de recombinação do hélio, como He I 5876 e He II 4686, junto com  H são  comumente 

utilizadas para se determinar as abundâncias de hélio nos envoltórios de novas. O material acretado 

da estrela secundária tem na maioria dos casos (sistemas com companheiras ainda na sequência 

principal) uma composição próxima da solar. A detonação nuclear que ocorre na camada externa da 

anã  branca queima parte  desse hidrogênio através  do ciclo CNO fora do equilíbrio e espera­se 

observar   um   enriquecimento   do   hélio   no   material   ejetado   pela   erupção.   Segundo   cálculos 

hidrodinâmicos de Yaron et al. (2005) o enriquecimento de He pode ser de 3% para novas onde a 

anã branca tem baixa massa (0,65 Mʘ) , 10 % em anãs brancas de 1 Mʘ e até 50 % para erupções 

que ocorreram em anãs brancas mais massivas (1,25 Mʘ). Assim, a determinação com acurácia da 

abundância de hélio pode trazer informações sobre a massa da anã branca desses sistemas eruptivos. 

O   cálculo   da   abundância   He/H   utiliza   como   um   dos   parâmetros   a   razão   dos   coeficientes   de 

recombinação das linhas utilizadas, que são dependentes da temperatura e densidade do gás. Nas 

condições de densidade dos envoltórios de novas na fase nebular, uma variação de temperatura de 

5000 K para 10000K altera somente em 10% a razão dos coeficientes de recombinação das linhas 

de hélio com He.g Osterbrock, 2006). Portanto, o efeito da temperatura nas determinações de 

abundância de He é pequeno. Nos cálculos dos modelos de envoltório com diferente populações de 

condensações, a razão He I 5876 / H teve uma variação mínima (da ordem de 2%), o que não afeta 

a determinação da abundância dos íons He+/H+. Mas a razão He II 4686/H teve um comportamento 

bem diferente. Nos modelos k3­10, houve uma variação de duas vezes na razão das linhas, sendo 

que nos modelos com uma população de condensações pequenas a razão das linhas foi maior do que 

nos modelos com uma população de condensações majoritariamente grande (veja figura 27). Os 

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III – Simulações e análises

cálculos das abundâncias utilizando as razões de linhas de He e H obtidas dos modelos mostra que 

há uma variação de 20% no valor da abundância  He/H entre esses modelos.

Figura 27 – Variação da razão de linha He II 4686/H em função do parâmetro que controla a  distribuição de densidades na população de condensações. A variação nos modelos de envoltório k3­10 é  bem mais  acentuada que nos modelos k10­50.

Nos modelos com condensações pequenas o número de glóbulos foi da ordem de 12000, enquanto 

nos envoltórios com condensações majoritariamente grandes o envelope tinha da  ordem de 800 a 

400 condensações. As condensações pequenas proporcionam um volume de gás maior que interage 

com a radiação ionizante, o que aumenta a luminosidade nas linhas de He++ do envoltório. A figura 

28 mostra  que existe  um plateau,  a  partir  de  fw  >  1,  onde o aumento do  tamanho médio das 

condensações não afeta a razão das linhas. O efeito da densidade dos glóbulos foi da mesma ordem, 

onde  os  modelos  com um envoltório  com uma população  de  glóbulos  majoritariamente  pouco 

densos mostraram uma maior razão He II 4686/H  (vide figura 27). O efeito da distribuição de 

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III – Simulações e análises

densidades também mostra um plateau, onde para para k > 2 a razão de linhas parece permanecer 

constante.

Figura 28 – Variação da razão de linha He II 4686/H em função do parâmetro que controla a distribuição de tamanhos das condensações. A variação para os modelos de envoltório menos denso, k3­10 é bem mais  acentuada que nos modelos k10­50.

Uma variação na determinação da abundância causada pelo efeito das condensações pode chegar no 

mínimo a 30%. A combinação dos efeitos de densidade e tamanho pode levar a variações ainda 

maiores. Os cálculos com os modelos k10­50 mostraram resultados com a mesma tendência, mas 

com algumas diferenças. A influência da distribuição de tamanhos foi menor, apenas 55%.  Já nos 

modelos com variação da distribuição de densidades, a influência foi um pouco maior, sendo a 

razão He II 4686/H  2,5 vezes maior  nos modelos com uma população de glóbulos menos densos. 

Apesar da variação relativa ter sido menor ou da mesma ordem quando comparadas aos modelos 

k3­10, a variação absoluta foi menor nos modelos k10­50 pois nesses modelos, deve haver uma 

população maior de átomos de He neutro que não emitem, já que a emissão das linhas de He I 

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III – Simulações e análises

permanece constante. O maior valor da razão HeII 4686/H foi 0,65, obtido no modelo k3­10, com 

a configuração fw = ­2 e a menor, 0,10 no modelo k10­50, com k = 2. Nesses mesmos modelos, a 

razão He I 5876/H variou apenas 3%. Esses resultados indicam que a somente a distribuição de 

matéria, independente da distância da fonte ionizante, da fração de massa condensada ou da massa 

do envoltório, pode afetar fortemente os cálculos de abundância do hélio nos envoltórios de novas, 

ou em qualquer outro tipo de objeto onde haja uma nuvem de gás fotoionizada heterogênea. 

3.2.3 – Linhas de oxigênio

Linhas de oxigênio proibido no óptico tais como [O III] 4959,5007, [O II] 7320,7330 e [O I]

6300,6364   são   comumente   utilizadas   para   a   determinação   das   abundâncias   de   oxigênio   nos 

envoltórios de novas, já que são linhas intensas. Além disso, as linhas de [O III] são utilizadas no 

diagnóstico de temperatura do ambiente onde elas são geradas. O estudo do efeito das características 

dos glóbulos do envoltório na razão [O III] 5007/H  foi realizado para os modelos de envoltório 

k3­10 e k10­50. A distribuição das densidades das condensações afeta a razão de linhas por um fator 

3 nos modelos k3­10 e por 60% nos modelos k10­50. A figura 29 mostra o comportamento dessa 

razão   de   linhas   com  k  para   os  modelos   k3­10   e   k10­50.  Nos   modelos   k3­10  o   aumento  da 

densidade favorece o aumento da razão de linhas, enquanto nos modelos k10­50 isso ocorre apenas 

até k = 0. A transição [O III] 5007 ocorre do nível 1D2 que tem uma densidade crítica de  7x 105 

cm­3 (10000 K, ver Osterbrock, 2006). Nos glóbulos mais densos, ocorre a desexcitação colisional 

do nível 1D2 , o que diminui a transição [O III] 5007. A abundância de O++/H+ é proporcional a razão 

de   fluxos  de   [O III]  5007/H,  observa­se  pela   figura  29 que a  distribuição de  densidades  dos 

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III – Simulações e análises

glóbulos pode afetar a determinação da abundância por um fator 3.

A distribuição de tamanhos das condensações também afeta a razão [O III] 5007/H. Nos modelos 

k3­10,   a   razão  é  maior  para   os   envoltórios   com uma  população  majoritariamente  de  glóbulos 

grandes,  com uma diferença de 70% do modelos com uma população de glóbulos de  tamanho 

menor. 

Figura 29 – Variação da razão [O III] 5007/H em função dos parâmetros que descrevem a distribuição de  densidade e tamanho das condensações nos modelos de envoltório de baixa densidade, k3­10.

Já nos modelos k10­50, ocorreu o contrário, (vide figura 30), os modelos com uma população de 

condensações majoritariamente pequenas tem uma razão de linhas maior (50%) do que os modelos 

com glóbulos com maior tamanho médio. Os glóbulos grandes tem mais material para absorver a 

radiação ionizante e a população O++  diminui, efeito semelhante foi observado na linha de HeII 

4686 nos modelos k10­50.  O potencial de ionização do He++ é de 54,4 eV, enquanto  o potencial de 

ionização do O+ é  35,2 eV e do O++ é  54,9 eV. Portanto, é nessas regiões que a população de O+3 e 

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III – Simulações e análises

He+2 diminui. Isso explica o comportamento diferente das razões  HeII 4686/H e [OIII] 5007/H, 

principalmente nos modelos k3­10, de menor densidade. Quando se compara o valor da razão [O 

III] 5007/H entre os modelos k3­10 e k10­50, se observa que ela é maior para os modelos k10­50. 

Por exemplo, a razão é 6,5 para fw = 0 e  k = 0 no modelo k10­50 enquanto que é 2 no modelo 

k3­10 com as mesmas configurações de fw e k. Um fator 3 a mais é devido a densidade  máxima 

das condensações.     Isso é  evidenciado quando observamos o diagnóstico de temperatura obtido 

pelas linhas de [O III]. 

Figura 30 – Variação da razão [O III] 5007/H em função dos parâmetros que descrevem a distribuição de  densidade e tamanho das condensações nos modelos de envoltório de alta densidade, k10­50.

Nos modelos k3­10, a temperatura varia de 6200 a 8000 K, enquanto que nos modelos k10­50, a 

temperatura varia apenas de 5900K a 6200K. As figuras 31 e 32 mostram o comportamento da 

temperatura em função fw e de k para os modelos k3­10 e k10­50.

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III – Simulações e análises

A razão das linhas [O II]  7320,7330/H  tem pequena variação com os modelos de envoltório 

calculados. O efeito das distribuições de tamanho e densidade na razão de linhas foi da ordem de 

5% para os modelos k3­10 e k10­50. A maior diferença ocorreu quando se comparam as razões de 

linha   extremos   dos   modelos   k3­10   com   os   modelos   k10­50,   que   são   de   0,0142   e   de   0,0164 

respectivamente   (apenas   15%   de   diferença).   Esses   resultados   mostram   que   em   modelos   de 

envoltório com condições físicas similares àquelas da fase nebular das novas, essa razão de linhas é 

pouco afetada pela distribuição de matéria. 

Figura 31 ­ Variação da temperatura da ragião emissora da linha [O III] em função da distribuição de  tamanhos das condensações.

A razão da linha [O I] 6300/H é bastante afetada pela distribuição de matéria e há uma diferença 

de uma ordem de grandeza entre os valores obtidos dos modelos. Entretanto, deve­se considerar que 

os  modelos  de   fotoionização   tem dificuldade  em explicar   as   intensidades  observadas  da   razão 

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III – Simulações e análises

[OI]6300/H,   que   é   em   alguns   casos   várias   ordens  de  grandeza   maiores   que   a   dos   modelos. 

Também deve­se considerar  que as  condensações são necessárias para a  existência do oxigênio 

neutro,  independentemente do mecanismo de excitação. Assim, os envelopes com condensações 

predominantemente  mais  densas   tendem a  ter  uma população maior  de oxigênio neutro,  o  que 

potencializa a emissão do [OI] 6300.

3.2.4 – Linhas de nitrogênio

As linhas de nitrogênio analisadas foram aquelas equivalentes as transições do [O III], ou seja [N II] 

5755 e [N II] 6548,6583. Os níveis excitados dessas transições tem densidades críticas menores 

(por exemplo,  1D2 =  x 102   cm­3, contra  7 x 105  cm  ­3  do oxigênio na mesma configuração), sendo 

portanto mais sensíveis à presença de glóbulos densos. 

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III – Simulações e análises

Figura 32 – Variação da temperatura da ragião emissora da linha [O III] em função da distribuição de  tamanhos das condensações.

Por outro lado, o potencial de ionização do nitrogênio é 14,5 eV e do N+ é de 29,6 eV, intervalo de 

energia onde o oxigênio pode ser ionizado para O+.  O comportamento da linha de [N II] 5755 foi 

semelhante   ao  das   linhas  de   [O  II]7325,   apenas  a  variação  da   razão   [N  II]  5755/H  foi  mais 

acentuada,  da  ordem de  50% entre  os  valores   extremos.  Apesar  disso,   as   linhas  de   [N II]  

6548,6583 apresentam uma variação elevada, como mostram a figura 33. Nos modelos k3­10, a 

variação da razão da linha em função do tamanho médio das condensações é de 5 vezes.  A variação 

com a densidade média é de 7 vezes, onde os maiores valores foram obtidos para os envoltórios com 

glóbulos majoritariamente densos. Como essas linhas são excitadas colisionalmente, o aumento da 

densidade gera um aumento da emissão. Nos envoltórios tipo k10­50, vide figura 33 a diferença foi 

menor; com 3 vezes para a variação do tamanho médio e 2 vezes para a variação da densidade das 

condensações. O comportamento da razão [N II]6583/H é como esperado semelhante ao da razão 

[O III] 5007/H para os modelos k3­10 e k10­50.

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III – Simulações e análises

Figura 33 – Variação da razão [N II] 6584/H em função dos parâmetros que descrevem a distribuição de  densidades e tamanhos das condensações.

3.2.5 – Razões invariantes

Algumas razões de linhas não sofreram variação em função das características da população de 

condensações. As linhas de He+   (He I 4922, He I 5876, He I 6678 e He I 7065) tiveram valores 

constantes  mesmo quando se comparam os  modelos    k3­10 e  k10­50.  As razões  das   linhas  de 

Balmer, como H/H e H/H  também não variaram nos cálculos dos diversos modelos. A razão 

H/H variou somente entre os modelos k3­10 e k10­50, mas a variação foi pequena, da ordem de 

10% para os valores mais extremos desses modelos. Esse resultado é importante, pois nos espectros 

de novas, geralmente a linha de H  está  sobreposta às linhas de [N II] devido à  velocidade de 

expansão do envoltório. Valores altos da razão H+[N II]/H são frequentemente devido à emissão 

de [N II], (no caso de um espectro já corrigido do avermelhamento).

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III – Simulações e análises

3.3 – Discussão sobre o efeito das condensações no espectro dos modelos

A   presença   de   condensações   em     novas   pode   ser   observada   em   envoltórios   espacialmente 

resolvidos, como HR Del,  GK Per e RR Pic. Muitas novas que não tem o envoltório resolvido 

apresentam características espectrais, como linhas intensas de elementos neutros, combinadas com 

emissões de elementos de alta ionização, que só são possíveis em envoltórios com distribuição de 

matéria heterogênea (Williams, 1994). 

Há  muitos  mecanismos  que  podem   formar   condensações   em novas.  A   instabilidade  Rayleigh­ 

Taylor   (IRT)   é   uma   possibilidade.   A   IRT   ocorre   nos   segundos   iniciais   da   erupção   devido   a 

distribuição de velocidades do envoltório que se propaga em um meio estratificado (Chevalier et al. 

1992). A IRT está relacionada à classe de velocidade das novas (Lloyd et al. 1997), sendo que para 

novas rápidas t3 < 12 dias, o tamanho das condensações é 0,4 vezes o raio do envoltório (Como 

observado   em   V1500   Cyg   (Slavin   et   al.   1995).   Em   novas   mais   lentas   há   possivelmente   uma 

diminuição do tamanho máximo das condensações em função do aumento do tempo de decaimento 

da curva de luz, até da ordem de 10­4 do raio do envelope no caso de novas muito lentas.

A expansão do envoltório   reduz a  densidade  e  este  se   torna oticamente fino  para as   linhas  de 

emissão. O resfriamento decorrente faz o envoltório se tornar termicamente instável (instabilidade 

Kelvin­Helmholtz), (Chevalier et al. 1992). Essa instabilidade foi estudada em detalhe por Pistinner 

e Shaviv (1995). Estes autores obtiveram que a escala dessa instabilidade é também de 10­4 vezes o 

raio do envoltório e o contraste de densidade máximo é de um fator 2. Apesar do baixo contraste de 

densidade,   são   formados   um   grande   número   de   pequenos   glóbulos   no   envoltório   por   esse 

mecanismo.

A ejeção  de  massa  é   afetada  pelo  movimento  orbital  da   secundária   e   foi   estudada   através  de 

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III – Simulações e análises

modelos hidrodinâmicos 2.5D por Livio et al. (1990) e Lloyd et al. (1997). O movimento orbital 

causa um acúmulo de matéria nas regiões polares do envoltório, com contraste de densidade ~70 

vezes a região difusa (Lloyd et al. 1997).

Se a anã branca tiver uma rotação elevada (da ordem de dezenas de segundos), a gravidade efetiva 

nas regiões equatoriais é menor que nas regiões polares. Como a temperatura máxima alcançada na 

detonação  nuclear  depende  da  gravidade   local   e   a  velocidade  de  ejeção  é   proporcional   a   essa 

temperatura, tem­se que a ejeção ocorre com velocidades maiores nas regiões polares, fazendo com 

que o envoltório seja prolato ou até bipolar (Scott, 2000). As novas HR Del (Moraes & Diaz, 2009) 

e RS Oph (Bode et al. 2007) são exemplos de envoltórios bipolares.

Todos esses efeitos combinados podem formar uma grande variedade de tamanho e densidade de 

glóbulos. Isso justifica o estudo de uma grande variedade de distribuição de tamanhos e densidades 

neste trabalho.

Um código totalmente 3­D, como por exemplo o MOCASSIM (Ercolano et al. 2003) demanda um 

tempo de CPU enorme, além de muitos parâmetros para descrever um envoltório de nova. O código 

pseudo­3D, como o RAINY3D pode tratar as condensações e possibilita a construção de algumas 

geometrias arbitrárias de envoltório. A transferência da radiação difusa é feita em 1­D e possibilita 

verificar   o   efeito   das   condensações   localmente   e   à   grandes   escalas   (efeitos   de   sombras)   As 

simulações mostram que os glóbulos realmente afetam a estrutura de ionização local e no espaço 

entre as inomogeneidades.

A análise da evolução espectral de novas realizada por Williams (1991) indicam que os cálculos das 

abundâncias  de metais  no  início da fase nebular  que utilizam linhas  proibidas  devem levar  em 

consideração o efeito das condensações (neste caso devido a desexcitação colisional no interior dos 

glóbulos). Os cálculos deste trabalho em envoltórios oticamente finos mostram que mesmo depois 

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III – Simulações e análises

de  décadas após a erupção, as condensações afetam os diagnósticos físicos e químicos.

As simulações de envoltórios com condensações possibilitam analisar como a emissão é afetada. 

Tanto a fração de massa condensada como a distribuição de tamanhos e densidades dos glóbulos 

afeta o espectro sintetizado. A luminosidade H por exemplo varia com fc como mostra a figura 18 

e também varia com as características da população de glóbulos. O efeito combinado desses fatores 

causa  uma emissão  5  vezes  maior  na   luminosidade  da   linha  quando  comparadas   aos  modelos 

homogêneos   de   mesma   configuração.   Como   na   estimativa   da   massa   do   envoltório   se   usa 

frequentemente   a   emissão   em   H,   essa   determinação   pode   ser   afetada   significativamente.   Os 

modelos homogêneos e aqueles com condensações tem um envoltório de mesma massa e volume 

total, portanto a mesma densidade média. Assim, a utilização de valores médios de densidade para a 

obtenção de parâmetros físicos pode gerar resultados incorretos.

Os cálculos mostram que as estimativas de abundância de He pode ser subestimada em envoltórios 

com condensações. Como as linhas de He I mostraram uma variação pequena, as condensações 

devem estar  aumentando a população de hélio  neutro.  O efeito  das  condensações  é  diminuir  a 

eficiência   da   ionização   local,   o   que   faz   variar   a   população   dos   íons  quando   comparados   aos 

modelos homogêneos. 

Os modelos homogêneos de envoltórios de novas durante a fase nebular não reproduzem a emissão 

de [O III] observada em novas.  A emissão de [O III] nesses modelos exige uma fonte central de alta 

temperatura e luminosidade, que é inconsistente com as observações UV de novas evoluídas durante 

a fase nebular. A abundância de oxigênio pode ser afetada (superestimada) se o envoltório tiver 

condensações e se a fração do íon O+2 for significativa. A determinação da abundância de nitrogênio 

tem o mesmo comportamento, mas o efeito das condensações é  maior na emissão [N II]. Essas 

linhas proibidas resfriam o gás, como mostra a figura 32 e linhas de diagnóstico que são afetadas 

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III – Simulações e análises

pela temperatura local podem levar à obtenção de parâmetros físicos incorretos.

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IV – O envoltório de V842 Cen

4 .1 – Estudo do envoltório de V842 Centauri

4.1.1 – O cubo de dados

O envoltório remanescente de sua erupção foi observado com a unidade de campo integral (IFU) – 

GMOS do telescópio Gemini Sul em julho de 2005. O cubo de dados foi manipulado por rotinas do 

pacote IRAF para se obter os mapas de linhas. Os mapas de linhas  representam o fluxo integrado 

de uma linha de emissão em um dado intervalo de comprimento de onda. As cores de cada mapa 

denotam a intensidade desse fluxo integrado em cada região do campo observado. Os espectros 

utilizados para a obtenção dos mapas de linhas foram corrigidos do avermelhamento e tiveram o 

contínuo subtraído na região da linha para qual o mapa é gerado. A figura 34 mostra o resultado 

obtido para o complexo de linhas H  + [N II].  Cada quadro corresponde a um intervalo de 10 

Angstrons com início em 6540­50 A, o último quadro, (I), corresponde à integração de 6540 a 6610. 

Nos quadros de A até H foi subtraída a região central, com raio de 1 segundo de arco, a fim de se 

otimizar o contraste da imagem e de possibilitar a obervação de estruturas. Pode­se notar que os 

envoltórios dos quadros A e H tem menor dimensão que o restante. O mapa do quadro (A) tem 

como [N II] 6548 principal linha que contribui para o fluxo total  e sua menor dimensão em relação 

aos demais (ver tabela 6) representa o alcance da ionização para onde há o íon N+. O mapa (H) 

corresponde a uma maior contribuição da emissão da outra linha do nitrogênio, [N II] 6584. O 

mesmo precedimento foi realizado para a linha H, com intervalos de 5 Angstrons de 4845 até 4885 

Angstrons,   como   mostra   a   figura   35.   As   tabelas   6   e   7   mostram   as   dimensões   angulares   dos 

envoltórios de V842 Cen em cada intervalo de comprimento de onda. As dimensões foram obtidas 

através de medidas nos mapas de linhas. Uma medição mais precisa da dimensão do envoltório em 

H + [N II] e em H foi obtida através da medição do ruído médio nas imagens. O ruído médio foi 

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IV – O envoltório de V842 Cen

utilizado   como   limite   inferior   das   intensidades   das   linhas.   As   figuras   36   e   37   mostram   o 

comportamento  da   intensidade  dessas   linhas   em  função  do   raio  do   envoltório   até   o   limite  de 

detecção   determinado   pelo   ruído   médio.   Nesses   gráficos,   o   ponto   de   maior   intensidade   foi 

considerado   o   centro   do   envoltório   e   portanto   a   origem   do   eixo   de   medida.   A   dimensão   do 

envoltório no eixo y foi obtido da mesma maneira. A dimensão do envoltório na linha H+[N II] foi 

de  11,0  x 11,5 arcsec2 e na linha de H de 8,6 x 8,6 arcsec2.

Figura 34 – Mapas de linhas no comprimento de onda de H  e [N II]  6548,6584. O primeiro quadro acima e a esquerda equivale a 6530­40 ou ­1500 km.s­1 de H. Os quadros seguintes são deslocados de 10 A  até o quadro central na linha de baixo, com   entre 6600­6610 ou +2150km.s­1  de H. O último quadro representa a soma de todo o intervalo. A região central de diâmetro de 2” foi subtraída nos frames de A­H  para melhorar o contraste da imagem.

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IV – O envoltório de V842 Cen

Frame Dimensão X (arcosegundos) Dimensão Y (arcosegundos)

A 6,9 7,2

B 8,7 9,0

C 9,3 9,7

D 9,7 9,8

E 9,6 9,6

F 9,7 9,7

G 8,7 8,9

H 6,2 6,5

I 9,8 10,0Tabela 6 – Dimensões dos envoltórios em cada intervalo de 10 angstrons dos mapas de linhas de A a I na região H + [N II].

Figura 35  – Mapa de linhas na região de H, entre  4845 e 4885 Angstrons ou de ­1000 a + 1500 km.s­1 

de H  de  repouso.  Cada quadro representa a  integração em um intervalo de 5 Angstrons.  O quadro I  representa a integração em todo o intervalo da linhas de 4845 a 4885 Angstrons. O deslocamento do centro da emissão máxima em relação a H  se deve a refração diferencial atmosférica.

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IV – O envoltório de V842 Cen

Frame Dimensão X (arcosegundos)

Dimensão Y (arcosegundos)

A 6,6 6,7

B 7,1 7,4

C 7,2 7,4

D 7,6 7,9

E 7,7 8,0

F 7,2 7,5

G 6,8 7,0

H 6,5 6,5

I 7,8 8,0Tabela 7 – Dimensões dos envoltórios em cada intervalo de 10 angstrons dos mapas de linhas de A a I na região H .

Figura 36 – Intensidade das linhas H+ [N II] em função da distância angular ao centro do sistema. O  limiar da detecção  da emissão do envoltório foi definido pela intensidade média do ruído sobre o fundo.

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IV – O envoltório de V842 Cen

Figura 37 – Intensidade da linha H em função da distância ao centro do sistema. O limiar da detecção  da  emissão do envoltório foi definido pela intensidade média do ruído das regiões sem detecção.

A menor dimensão obtida através da linha H  se deve ao menor fluxo dessa linha em relação ao 

complexo H+[N II], já que o limite de detecção acima do ruído é próximo para as duas linhas. 

Esses resultados mostram que o envoltório tem uma projeção circular no plano do céu. Através das 

dimensões  do   envoltório  é   possível  obter  um valor  da  distância  para  V842  Cen.  Mas  antes  é 

necessário conhecer a velocidade de expansão do envoltório, já que os valores da literatura mostram 

que um sistema denso tem velocidade de expansão de 525 km.s­1  e outro menos denso, de 2000 

km.s­1. Assim necessita­se saber qual das componentes fornece as imagens mostradas nas figuras 34 

e 35 e qual das velocidades é mais adequada para o cálculo da distância. As figuras 36 e 37 mostram 

que o decaimento da intensidade das linhas é suave com o aumento do raio, indicando que não há 

um grande gradiente de densidade nessa direção. O espectro da região nebular mostra que a largura 

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IV – O envoltório de V842 Cen

da linha de H é de 20 Angstrons, (FWHM) o que corresponde a uma velocidade de 1300 km.s­1 na 

direção de visada. Devido à simetria circular da projeção, o envoltório pode ser esférico ou, caso o 

ângulo de visada seja o mesmo do eixo polar, o envoltório pode ter uma geometria prolata ou até 

bipolar. De Freitas Pacheco et al.  (1990) obtiveram o valor de 1400 km.s­1  para a velocidade de 

expansão. As linhas de [O III] 5007 apresentam 2 picos, se estes representam a emissão das regiões 

densas se afastando da nova, a velocidade média dessas componentes é  de 450 km.s­1  .  Andrea 

(1991) obteve um valor de 525 km.s­1 para as regiões de [O III]. Com essas informações, podemos 

estimar um valor de distância e utilizando a linha de H obtém­se 900(80) pc, o que está dentro do 

intervalo de valores obtido por outros autores e métodos. O erro na determinação corresponde à 

qualidade da imagem (FWHM). Gill & O' Brien (1998) obtiveram 1,3(5)kpc, através da paralaxe de 

expansão da região de alta densidade, as distâncias obtidas pelo avermelhamento através do espectro 

UV   são  de  920  pc   (Sekigushi   et   al.   1989)   e   de  1000  pc   (Andrea   et   al.   1994),   outra  medida 

independente foi de 1200(200) pc por De Freitas Pacheco (1990). Pode­se observar que os valores 

das velocidades para os dois sistemas do envoltório são menores que os obtidos anteriormente. Esse 

fenômeno já foi observado por Williams et al. (1991) que constataram que o perfil das linhas fica 

mais estreito com o passar do tempo. Os dados aqui utilizados foram obtidos 18,53 anos depois da 

erupção e é possível que o envoltório tenha sido desacelerado pelo meio circundante da nova. Mas 

também deve­se considerar  que o envoltório   tem uma dimensão angular  maior  nos  dados mais 

recentes, o que reduz os erros relativos das estimativas de suas dimensões. Além disso, a utilização 

de um telescópio de 8 metros, (comparado a de 0,9 metro utilizado por Downes & Duerbeck em 

1998), aprofunda o limite de detecção, o que tende a diminuir as estimativas de distância.

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IV – O envoltório de V842 Cen

4.1.2 – Estimativas da massa do envoltório

Com a  estimativa  da  distância  disponível,  pode­se   calcular  um valor   aproximado  da  massa  do 

envoltório utilizando­se o fluxo em H. O fluxo total da região nebular, em H, já corrigido do 

avermelhamento é de 5,90 x 10­13 erg.s­1.cm­2. A temperatura e densidade eletrônica foram obtidas 

por Andrea et al.   (1994) com dados de 1987 e 1990. A temperatura eletrônica obtida por esses 

autores foi de 10200(400)K em 1987 e 7200(970) K em 1990 a partir dos íons C+2. A densidade 

eletrônica em 1991 era de aproximadamente 104,6 cm­3, obtida das linhas de [OIII] e [N II]. Andrea et 

al. (1994) também obtiveram a evolução temporal da densidade eletrônica para V842 Cen, como 

uma  lei  de  potência  do   tipo  Ne    t­.  O  valor  de    obtido   foi  de  2,2,   sendo que  um valor  2 

corresponde a uma expansão livre de um envoltório esférico de espessura constante. Assim, na data 

da observação em 2005, a densidade média estimada pela lei de potência é logNe = 2,9 cm­3. Com 

essas estimativas de densidade eletrônica e temperatura, podemos estimar a massa de hidrogênio e a 

massa total, sabendo que Z = 0,36 e Y = 0,14, (Andrea et al. 1994). Para um envoltório oticamente 

fino a massa total é de 5 x10­4  Mʘ para 7000K, se a temperatura eletrônica estivesse em 5000 K no 

momento das observações, a massa total seria de 3,5 x 10­4 Mʘ  . Esses valores são compatíveis a 

massa necessária para a ocorrência da erupção em uma anã  branca pouco massiva. Segundo os 

cálculos dos modelos teóricos de Yaron et al. (2005) somente anãs brancas com M < 0,7 Mʘ e de 

baixa luminosidade ejetam a quantidade de matéria estimada em V842 Cen. 

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IV – O envoltório de V842 Cen

4.1.3 – Um envoltório bipolar?

Os  dados   também  forneceram  um  mapa   do   envoltório   no   complexo   [O   II]  7320,7330,   que 

corresponde às regiões de alta densidade e de menor velocidade de expansão. A figura 38 mostra a 

imagem do envoltório no intervalo de comprimento de onda de 7320 a 7330 Angstrons. Essa região 

do espectro é menos afetada pelo contínuo, que pode ser melhor subtraído. A projeção do envoltório 

no plano do céu continua a ter um aspecto circular, como obtido pelas linhas de Balmer, mas nesta 

imagem pode­se observar que o envoltório tem uma geometria em forma de anel. A estimativa de 

distância utilizando os dados de velocidade de expansão obtida das linhas de [O III]5007 e das 

dimensões obtidas dos mapas de [O II]7325 fornece um valor de 850(90) pc, que é compatível com 

o valor obtido da linha H de maior velocidade.

Figura 38 – Mapa das linhas [O II] 7320,7330 com o contínuo local subtraído. Pode­se observar que o  envoltório consiste de um anel circular com muitos glóbulos de matéria. 

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IV – O envoltório de V842 Cen

Diferentemente das imagens obtidas com as linhas de Balmer, observa­se que há diversas estruturas 

e condensações de matéria. O envoltório tem dimensão aparente de ~ 5,5 arco­segundos nos dois 

eixos   principais   da   imagem.   O   deslocamento   Doppler   dessas   linhas   devido   à   velocidade   de 

expansão não fica evidente nos mapas de linhas, como também ocorre nas linhas de Balmer, que 

mostram as regiões de menor densidade. Isso pode indicar que o deslocamento Doppler ocorre em 

um eixo perpendicular ao plano do céu. A figura 39 mostra os mapas de velocidade na região do 

complexo do [O II] 7325. O primeiro quadro (A) corresponde ao intervalo 7317­7322 Angstrons e os 

demais correspondem aos intervalos de 5 Angstrons subsequentes,  até  7342 Angstrons.  Pode­se 

observar que há algumas diferenças entre os mapas, principalmente nos glóbulos de matéria, mas a 

estrutura de anel se mantém em todo intervalo de velocidades e não há  nenhuma região que se 

caracterize pela emissão desviada para o azul ou para o vermelho,  o que pode caracterizar um 

envoltório esférico. Mas se o deslocamento Doppler ocorrer na direção de visada, pode­se ter um 

envoltório prolato ou bipolar. Os dados também permitiram obter mapas das linhas de hélio, como 

mostram as figuras 40 e 41. O mapa da linha He I 6678 foi construído com e sem a fonte central, 

como mostrado na figura 40. 

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IV – O envoltório de V842 Cen

Figura 39 – Mapa de velocidades para a região do complexo [O II]7325, com intervalos de 5 Angstrons. O  quadro A corresponde ao intervalo 7217­7322. O envoltório apresenta diversas condensações de matéria,  que aparecem em função do intervalo de velocidade. O deslocamento Doppler parece ocorrer em um eixo  perpendicular ao plano do céu.

 A menor dimensão do envoltório se deve principalmente à menor intensidade das linhas He I 6678 

e 7065 e ao limite de detecção do instrumento. A dimensão do envoltório é similar as duas linhas. 

As figuras mostram que há anisotropias na distribuição de matéria que coincidem em posição nos 

dois comprimentos de onda. Os mapas de linhas na região mais azul do espectro foram prejudicados 

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IV – O envoltório de V842 Cen

pela maior contaminação do contínuo e pela difração diferencial atmosférica, o que torna inviável a 

subtração do contínuo sem afetar as emissões das linhas em dada região do envoltório.

Figura 40 – Mapa da linha de He I  6678 com a fonte centra à esquerda e sem a fonte central, à direita.  Ambos com contínuo subtraído.

Figura 41 – Mapa do envoltório na linha He I 7065, com o contínuo local subtraído do espectro.

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IV – O envoltório de V842 Cen

O sistema V842 Cen mostrou que a anã branca tem um campo magnético intenso e seu período de 

rotação é de 57 segundos. Segundo cálculos de Scott (2000) essa rotação produziria uma assimetria 

nas condições da erupção entre as regiões polares e equatoriais. O material das regiões polares seria 

ejetado com velocidades maiores que o material  da região equatorial  gerando um remanescente 

assimétrico. Supondo que a anã branca de V842 Cen seja pouco massiva, com M ~ 0,7 Mʘ e com 

rotação de 57 segundos, a razão entre as velocidades das regiões polares e equatoriais  seria de 

aproximadamente 1.5 . Uma razão axial semelhante a HR Del, que tem uma simetria bipolar. A 

figura 42 mostra a região para a razão axial do envoltório dada que a rotação da anã branca é 57 

segundos.

 

Figura 42 – Relação entre a massa da anã branca e sua rotação, com a curva de um envoltório prolato em  5%. As regiões abaixo da curva indicam envoltórios cada vez mais prolatos e bipolar. Adaptado de Scott  (2000).

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IV – O envoltório de V842 Cen

4.2 – Identificação das linhas do espectro nebular.

O espectro nebular foi obtido através da soma dos espectros das micro­lentes da região de 0,7 a 3,5 

arco­segundos de raio. A região central foi excluída para se diminuir o efeito das linhas da fonte 

central nas razões de linhas utilizadas para os diagnósticos químicos e físicos do envoltório. Alguma 

contaminação   é   inevitável   devido   à   contribuição   difusa   da   fonte   central   causada   pela   própria 

nebulosa. As linhas estão dispostas na tabela 8 e a sua possível identificação foi realizada tendo 

como base as linhas já observadas em outros envoltórios de nova (Meinel et al. 1975). A figura 43 

mostra o espectro da região nebular de V842 Cen.

Figura – 43 – Aspecto geral do espectro de V842 Cen na região de 4000 a 9400 Angstrons. Esse espectro  corresponde à somatória de todas as micro­lentes (~ 4500) e foi corrigido do avermelhamento.

A partir do cubo de dados foi possível gerar espectros de regiões específicas, como por exemplo a 

região nebular. A figura 44 mostra a região das linhas H  e [O III] 5007. A linha de oxigênio 

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IV – O envoltório de V842 Cen

apresenta um perfil de duplo pico e representa a emissão das regiões de maior densidade e menor 

velocidade de expansão. A componente azul mostra ainda que há duas componentes que formam o 

perfil da linha, além disso, este parece ter maior fluxo do que a componente vermelha da linha.

Figura 44 – Espectro de V842 Cen, contendo somente a contribuição nebular. As micro­lentes com um raio  de 0,7 segundos de arco da fonte central (pico de emissão) não foram computadas. O perfil da linha [O III]  5007 se destaca por apresentar as duas componentes Doppler definidas. A unidade de fluxo é erg.s­1.cm­2.

A intensidade das linhas proibidas de oxigênio são menores que H, bem diferente do espectro 

obtido por Andrea e al. (1994). Isso pode ser efeito do decaimento do fluxo ionizante acima de 35 

eV.

A região azul do espectro apresenta muitas linhas intensas de ferro, como mostra a figura 44. Essas 

linhas não aparecem no espectro de fenda (1”) obtido em 2003 por Schidtobreick et al. (2005), já 

que esse espectro corresponde principalmente a emissão da fonte central. No espectro da figura 45 

aparecem as linhas de He II  4686 e o complexo de linhas CIII + NIII 4645, ambos com intensidade 

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IV – O envoltório de V842 Cen

muito menor que as linhas de ferro. A linha de He I 5876 apresenta uma absorção na asa vermelha, 

causada pelo dubleto do Na I D 5890­5896 Angstrons, como mostra a figura 46. A figura 47 mostra 

o perfil do complexo [O II] 7325, que pode ter contribuição das linhas Fe II (73) 7321 e [Ca II](1F) 

7324. Mas como não é observada a linha de [Ca II] 7291, a contribuição para o complexo de linhas 

em 7325 deve ser das transições do oxigênio. A alta razão das linhas de [O II]7325/H em V842 

Cen pode ser um indicativo da diminuição do campo de radiação ionizante incidente no envoltório. 

O espectro da figura 48 mostra que ainda há emissão na linha [O I], além disso, há emissão coronal 

do [Fe X] 6375 e  também foi  detectado a   linha coronal  de    [Fe XI] 7890. Essas  linhas foram 

observadas simultaneamente em outras novas, como V745 Sco e V443 Scuti (Williams et al. 1991).

Figura 45 – Região azul do espectro de V842 Cen mostrando as emissões intensas em 4500 Angstrons que corresponde às linhas de Fe II  e [Fe II].  Também pode ser identificada a emissão de He II 4686 e do complexo CIII +NIII 4645.

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IV – O envoltório de V842 Cen

Figura 46 – Espectro da região nebular de V842 Cen que mostra as linhas [N II] 5755 e He I 5876. A linha  de He I 5876 apresenta uma absorção na componente vermelha do perfil, que é devido as linhas do Na I D.

 

Figura 47 – Espectro da região nebular de V842 Cen, a linha mais larga corresponde ao complexo [O II]  7320,7330.

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IV – O envoltório de V842 Cen

Figura 48 – Espectro da região nebular de V842 Cen, com as linhas de [O I] e [Fe X] indicadas.

As linhas de [O I] eram bem intensas no espectro de 1994, já na fase nebular, mas é a primeira vez 

que se detecta as linhas coronais nessa nova. As linhas coronais estão relacionadas a um campo de 

radiação duro e são formadas em uma região pouco densa. A emissão coronal já foi observada em 

outras novas, principalmente em novas muito rápidas como V1500 Cyg e novas recorrentes, como 

V3890 Sgr, que mostram também uma fase de alto grau de ionização nas outras linhas. Mas sempre 

os sistemas coronais são acompanhados da emissão de OI, FeII ou NII, que são linhas de baixo grau 

de ionização. Mas curiosamente essa fase de alta ionização e de linhas coronais não é acompanhada 

de uma emissão forte de He II 4686 comparada a emissão H. Essa característica heterogênea do 

envoltório no início da fase nebular parece se manter por vários anos, como mostra o espectro de 

V842 Cen, 19 anos após a erupção. O espectro de V842 Cen ainda mostra algumas linhas aurorais 

intensas, como [N II]5755, [O III] 4363 e [O II] 7325, que tem densidades críticas maiores que suas 

contra­partes nebulares.  Isso pode indicar que ainda há   regiões com densidade maior  do que a 

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IV – O envoltório de V842 Cen

crítica para as emissões nebulares. O mapa de linhas da região mais densa foi obtido apenas na linha 

[O II] 7325, enquanto a emissão nas linhas de [O III] 4959,5007 não mostraram essas estruturas, 

devido à dificuldade de se obter as suas contribuições sem o contínuo. Mas o perfil dessas linhas 

nebulares  mostram  dois   picos  que   são   compatíveis   com  uma  baixa  velocidade  de   expansão   e 

portanto com a região mais densa do envoltório. Entretanto, os artefatos no espectro enas imagens 

causados pela observação com uma massa de ar elevada limitam as possibilidades de análise do 

envoltório e de sua geometria e cinemática.

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IV – O envoltório de V842 Cen

Tabela 8 – Identificação das linhas de emissão da região nebular da nova V842 Cen região de 0,7 a 3,5  arcsec da fonte central.

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lambda (A) Identificação fluxo4047 OII(50)4048 1,90E­013 0,3224055 CIII(24)4056, CrII(19)4054 3,06E­013 0,5194069 CII(16)4069, [SII]1F 4068.6 3,77E­013 0,6394074 OII(10)B4076 (5 linhas) 2,50E­013 0,4244079 OII(10)B4076 (5 linhas) 3,96E­013 0,6714094 OII(10)B4093 (2 linhas) 5,63E­013 0,9544103 Hd 4101, HeII (3) 4100 8,22E­013 1,3934122 B HeI(16)4121, FeII(28)4122, [KV]1F4125, FeII(27) 4129, SiII(3)4128 2,02E­012 3,4244137 NI(6) 4137, HeI(53) 4144 7,11E­014 0,1214163 S II (44)(55) 4163, Ti II(105) 4164 7,73E­014 0,1314184 OII(36) 4186 2,37E­013 0,4024198 OII(36) 4198 2,17E­013 0,3684207 CaII 4207?, NIII 4200 2,49E­014 0,0424223 CaII 4220?, NeIII 4224 2,41E­013 0,4084238 NII(48) 4237 7,45E­014 0,1264245 [FeII]21F 4245 4,41E­013 0,7474251 OII(10)4254, NeII 4251(52) 1,08E­012 1,8314263 NeIII4262 OIV 4260, CII 4267 3,44E­013 0,5834272 Ti III 4270, SII 4270, OIV 4269 5,16E­014 0,0874281 [FeII]21F 4277, OII(54)4281 3,14E­014 0,0534296 FeII(28) 4297 5,00E­014 0,0854302 FeII(27)4303, [FeII]21F 4306 4,90E­014 0,0834313 FeII(32)4314, OII(78)4313 3,44E­013 0,5834321 OII(2)4317,4320 7,27E­014 0,1234330 OII(41)4331, NIII(10) 4330 1,21E­013 0,2054340 HI 4340 3,30E­013 0,5594347 [FeII]21F 4347, OII(2) 4349 2,10E­013 0,3564357 [FeII]7F 4359, [FeII] 21F 4348 2,44E­014 0,0414366 OII(2)4369, [OIII]4363 2F 2,45E­014 0,0424376 NIII(17)4379 3,59E­014 0,0614393 SII(43) 4392 2,13E­014 0,0364403 FeII 4403, ScII(14) 4400 8,84E­014 0,1504414 [FeII]7F 4414, [FeII]6F 4415, OII(5) 4415 4,03E­014 0,0684424 NII(56)4427 4,34E­014 0,0744438 HeI(50)4438 1,24E­013 0,2104448 NII(15)4447, OII(35)4448, [FeII]7F4452 1,71E­013 0,2904472 HeI 4472, [FeII]7F 4475, OIV 4474 3,94E­014 0,0674488 [FeII]6F 4488, FeII(37)4489 2,65E­013 0,4494495 [FeII]6F 4493 5,55E­013 0,9414511 [FeII]6F 4510, 4515, NIII(3) 4511, FeII(37)4515 2,54E­013 0,4314520 NIII(3)4518, FeII(37)4520 2,55E­013 0,4324531 NIII(3)4524,4531,4535, [FeII]6F4528, 4533 9,32E­013 1,5804550 NIII(3)4547, FeII(38)4550, [FeII]6F4551, Si III(2)4553, FeII(37)4556 8,39E­013 1,4224591 OII(15)4591 4,37E­014 0,0744611 [FeIII]3F 4607, NII(5)4607,4614, OII(92)4610 2,25E­014 0,0384621 NII(5)4621, FeII(38)4621, NV(1) 4619 2,05E­014 0,0354627 [ArV] 4626B 2,72E­014 0,0464632 FeII(37)4629, NII(5)4631, Si IV 4631 1,20E­013 0,2034640 NIII(2)4640, 4642, [FeII]4F 4640 4,89E­014 0,083

fluxo/H

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IV – O envoltório de V842 Cen

Tabela 8 continuação – Identificação das linhas de emissão da região nebular da nova V842 Cen região de  0,7 a 3,5 arco­segundos da fonte central.

104

lambda (A) Identificação fluxo4646 CIII(1)4647, NII(5)4643, NV 4645 4,84E­014 0,0824652 OII(1)4649, CIII(1)4651 5,32E­014 0,0904664 CIII(5)4664, 4666, [FeIII]3F4667 1,22E­013 0,2074687 He II 4686 1,91E­013 0,3244703 [FeIII]3F 4702,  OII(40)4703, OII(25)4705 5,14E­014 0,0874732 [FeIII]3F 4734, [FeII]4F4728, FeII(43)4731 4,61E­014 0,0784753 [FeIII]3F 4755,  6,90E­014 0,1174783 NII(20)4781 O IV(9) 4783 4,60E­014 0,0784792 NII(20)4788, C IV(5)4789, SII(46)4792 3,99E­014 0,0684805 NII(20) 4803, SII(8) 4804 8,51E­014 0,1444816 [FeII]21F 4815, NII(20)4810, [FeIII]3F 4814 2,33E­014 0,0394864 Hb 4861 5,90E­013 1,0004901 [FeII]20F 4905, OIV 4902 7,39E­014 0,1254930 5,50E­014 0,0934936 [FeIII]1F 4936, [CaVII] 4938 2,62E­014 0,0444949 [FeII]20F 4951 NV 4945 4,40E­014 0,0754961 [OIII]1F 4959 1,04E­013 0,1765008 [OIII]1F 5007 1,91E­013 0,3245202 [NI]1F 5199,5202 3,88E­014 0,0665234 FeII(39) 5234, [FeVI] 5236 2,20E­014 0,0375283 FeII(41) 5284, [Fe VII] 5278 2,35E­014 0,0405419 Cl II 5423?, OIV 5426? 2,18E­014 0,0375452 SII(6)5454?, Si III 5452 NII 5452, OIV 5453 3,74E­014 0,0635466 NII(29)5463, FeII? 1,89E­014 0,0325486 NII(29)5480, [FeVI]1F 5486, Li II 5484 3,64E­014 0,0625549 [Cr III]2F 5550 1,97E­014 0,0335600 [FeII]33F 5601 1,98E­014 0,0345678 NII(3)5676,5680, [FeII]33F 5684, [Fe VI]1F 5677 4,94E­014 0,0845754 [NII]3F 5755 5,74E­014 0,0975769 CIII 5772? 2,58E­014 0,0445876 HeI 5876 1,31E­013 0,2225993 FeII(46)5991 1,90E­014 0,0326130 CrII(105)6129, FeII(46)6130 3,01E­014 0,0516187 FeII(46)6185,  [FeII]44F 6189 4,97E­014 0,0846269 [Ni XVII] 6268? 1,78E­014 0,0306570 Ha 6563, [NII]6548,6584 3,12E­012 5,2886680 HeI 6876 3,99E­014 0,0686723 OII(4) 6721, NI(31)6723, 2,25E­013 0,3817068 He I 7065 2,25E­014 0,0387228 CIV 7226 2,17E­014 0,0377325 [OII]2F 7319,7331, FeII(73) 7321, [CaII]1F 7324 1,01E­013 0,1717496 [VII]3F 7498 1,88E­014 0,0328116 Ar I 8115, Mg II 8115 2,17E­014 0,0378661 CaII(2) 8662, HI(P9) 8665, NI(8) 8656 2,10E­014 0,0368767 Ne I 8771 1,90E­014 0,0328781 Ne I 8783 5,62E­014 0,0958830 [FeIII]8F 8831 2,78E­014 0,0479472 OIII 9475 2,26E­014 0,038

fluxo/H

[FeIII]3F 4930, [OIII]1F 4932

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IV – O envoltório de V842 Cen

4.3 – Estimativas de abundância

As razões das linhas de hélio podem fornecer uma estimativa da abundância He/H no envoltório de 

V842 Cen. Essa estimativa tende a ser mais precisa que as obtidas anteriormente pois o efeito das 

condensações de matéria tendem a diminuir com a expansão do envoltório (Williams et al. 1991). 

As razões das linhas de He I indicam que a temperatura eletrônica do gás é menor que 5000 K. A 

razão He I 5876/He I 4471 média para a região nebular é de 3,3 e para o caso B (com Ne ente 10­2 e 

10­4  cm­3) esse valor é maior que 3 para temperaturas próximas e inferiores a 5000K (Osterbrock 

2006). A razão He I 6678/ He I 4471 indica a mesma temperatura. A presença de condensações 

tende a gerar um valor subestimado da abundância de hélio,  como mostrado no capítulo 3.  Os 

cálculos foram realizados utilizando uma temperatura eletrônica de 5000K e densidade eletrônica 

média de 103 cm­3. Os dados indicam que nHe++/nH+ = 0,023 e nHe+/nH+ = 0,187, o que resulta nHe/

nH = 0,21,  que é  significativamente maior  aos  valores  obtidos  anteriormente por Andrea et  al. 

(1994)  de  0,14  e  De  Freitas  Pacheco  et   al.   (1989),  de  0,16.  Os  cálculos   feitos   com envelopes 

sintéticos com condensações mostraram que os glóbulos afetam mais a razão HeII 4686/H Em 

envoltórios com condensações pouco densas (modelos k3­10) o erro na determinação de He++ pode 

chegar a mais de 100 %, o que reflete em uma diferença de  30­40 % no valor da abundância de He/

H.  Nos modelos com condensações mais densas (k10­50), há uma diferença da ordem de 40­50%. 

Em ambos os casos a determinação é subestimada. A fração de massa condensada também afeta a 

determinação da abundância de He, sendo que um envoltório com fc = 0,9 pode ter uma abundância 

de   He   determinada   pelas   razões   das   linhas   de   He   e   H   70%   menor   que   um   envoltório   sem 

condensações.   A   combinação   desses   fatores   pode   gerar   erros   elevados   na   determinação   das 

abundâncias de hélio. Além disso, os valores obtidos com dados espectroscópicos obtidos com a 

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IV – O envoltório de V842 Cen

fonte ionizante ainda quente devido a erupção tende a apresentar uma maior contribuição do He II, 

o que torna essas determinações menos seguras.  As linhas observadas  também possibilitaram o 

cálculo das abundâncias de oxigênio e nitrogênio. A abundância total do oxigênio, considerando 

apenas as contribuições de O0, O+ e O++ foi nO/nH = 0,083. A abundância de nitrogênio foi obtida a 

partir dos íons N0 e N+ e tem como limite inferior nN/nH = 0,019. Esses valores foram obtidos para 

a   mesma   configuração   de   temperatura   e   densidade   utilizados   no   cálculo   do   hélio.   Deve­se 

considerar que as determinações de nO+/nH+ são sensíveis à temperatura eletrônica do gás e pouco 

sensível a densidade. Se a temperatura eletrônica for 6500 K, a abundância de oxigênio é  5,3 x 10­3 , 

valor que seria um limite inferior para a abundância. As determinações anteriores são de nO/nH = 

4,6 x 10­3  e nN/nH = 3.6 x 10­2  (Andrea et al.  1994). Os cálculos desses autores foram obtidos 

através  do espectro ultra­violeta  de V842 Cen,  obtidos  142 dias  após  a  erupção,  que  tem uma 

contribuição significativa do espectro da fonte central. Além disso espera­se que as abundâncias 

variem de acordo com as camadas ejetadas, já que parte da ejeção ocorre durante a fase de queima 

hidrostática (o que aumenta He/H) e que camadas mais profundas podem ter uma mistura mais 

eficiente com o material enriquecido da anã branca. As abundâncias de nitrogênio são compatíveis 

com as determinações do espectro UV, mas as abundâncias de oxigênio diferem por um fator 20. Os 

íons de O++ e O+3 são os dominantes (96%) na população do oxigênio determinada por Andrea et al. 

(1994), assim como os íons N++ e N+3. Na determinação obtida pelo espectro nebular neste trabalho, 

a população dominante é do íon O+  (99%). A contribuição do íon N+  também é significativa nos 

dados   obtidos   no   óptico,   99%,   apesar   de   não   ser   possível   obter   a   fração   de   N++,   mas   uma 

comparação com a população de O+ e O++ indica que nN++ << nN+. Além disso, as linhas de hélio 

indicam   que   ~88%   deste   elemento   está   na   forma   do   íon   He+,   apenas   ~12%   está   duplamente 

ionizado. Estes são sinais de que o grau de ionização do envoltório decaiu significativamente desde 

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IV – O envoltório de V842 Cen

a observação feita na década de 1990.

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IV – O envoltório de V842 Cen

4.4 – Modelos de fotoionização para o envoltório de V842 Cen

Apesar da baixa resolução espacial e baixo S/R dos dados foi possível determinar que o envoltório 

tem uma componente de baixa densidade, com maior velocidade de expansão e uma componente de 

maior   densidade,   com velocidade  de   expansão  menor.  O   envoltório   aparenta   ter   uma   simetria 

esférica nas duas componentes, apesar do que a componente mais densa apresente estruturas ou 

condensações. Foram calculados dois modelos; um com condensações em todo o envoltório, (uma 

componente) e outro com condensações apenas na região de baixa velocidade que é acompanhada 

de uma região difusa de baixa densidade e alta velocidade sem condensações, denominado de duas 

componentes. Ambos os modelos tem uma geometria esférica para o envoltório, com condensações 

em uma distribuição angular aleatória. Apenas nos modelos de duas componentes as condensações 

ficam restritas à região mais próxima a fonte ionizante. A fonte ionizante foi adotada como sendo 

uma atmosfera de alta gravidade, conforme as tabelas de Rauch (2003). A composição química do 

envoltório utilizada nos modelos foi aquela determinada por Andrea et al. (1994). A tabela 9 mostra 

todos os parâmetros utilizados. A distribuição de tamanhos e densidades das condensações foram 

fixadas a priori, como mostram os valores dos índices das leis de probabilidade da tabela 9. Por ser 

uma nova moderadamente rápida, foi adotado um tamanho máximo de acordo com a fórmula de 

Lloyd et al. 1997. Mas o envoltório tem estruturas em expansão com velocidades distintas, assim é 

possível  que  a  população  de  glóbulos   seja  diferente  nas  duas   componentes.  Devido  à   falta  de 

vínculos   sobre   as   características   das   condensações,   seria   necessário   utilizar   os   índices   de 

probabilidade como um parâmetro livre nos cálculos. Mas esse procedimento leva a obtenção de 

soluções degeneradas nas características físicas  da fonte central e do envoltório. Assim, os índices 

de probabilidade foram fixados em valores intermediários a fim de limitar o conjunto de soluções. 

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IV – O envoltório de V842 Cen

Outro  problema é   definir   as  dimensões  do  envoltório.  Os  modelos  de  uma componente   foram 

calculados com várias velocidades máximas e mínimas do material ejetado, respeitando os limites 

obtidos das determinações da velocidade de expansão. Os modelos de duas componentes foram 

construídos com uma região de baixa velocidade combinada a uma região de velocidade maior, 

como se houvessem duas cascas esféricas, uma dentro da outra.

Parâmetros V842 Cen

Temperatura anã branca (K) 50000 ­ 190000

Luminosidade (log erg/s) 34,5 ­ 36,5

Massa do envoltório (Mʘ) 1­5 x10­4

Fração de massa condensada 0 ­ 0,6

Gravidade anã branca (log g)  8

Forma do contínuo ionizante Atmosfera Rauch

Abundância He/H (log He/H) ­0,68

Abundância C/H (log C/H) ­1,3

Abundância N/H (log N/H) ­1,7

Abundância O/H (log O/H) ­2,3

Abundância outros elementos Solar

Tamanho máximo glóbulos (log cm) 16

Tamanho mínimo glóbulos (log cm) 14

Densidade máx glóbulos (relativa) 16

Densidade mín glóbulos (relativa) 3

fw ­1

k ­1Tabela 9 – Parâmetros para os modelos de V842 Cen utilizando o código RAINY3D.

Os espectros sintéticos foram comparados com o observado e o critério de melhor ajuste utilizado 

foi o 2 reduzido relativo ponderado com as incertezas instrumentais, no qual é considerado o erro 

relativo de cada linha. Neste método de comparação, as linhas utilizadas tem igual peso no resultado 

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IV – O envoltório de V842 Cen

final  do 2  (ver detalhes no capítulo (2) de métodos).

V842 Cen foi observada no UV pelo satélite IUE de 1987 a 1994 e esses espectros foram utilizados 

para se limitar a luminosidade da fonte central. Os espectros obtidos pelo IUE mostram a evolução 

temporal de diversas linhas de emissão, como por exemplo He II 1640. O espectro de 1987 mostra 

que essa linha tem um fluxo de 1,25 x 10­11  erg.s­1.cm­2  e que em 1990 o fluxo era de 1,7 x 10­13 

erg.s­1.cm­2, isto significa uma diminuição de quase duas ordens de grandeza. Mas o decaimento nas 

linhas entre 1991 e 1994 foi muito pequeno, (apenas ~6% nessa linha).  Uma extrapolação desse 

decaimento para a data de observação significa um fluxo de 7,8 x 10­14 erg.s­1.cm­2. Esse valor foi 

considerado   como  um  limite   superior   para   o   fluxo  dessa   linha,   já   que  os   valores   observados 

correspondem à emissão do envoltório e do material acretado combinadas. Essa intensidade em He 

II 1640 limita a luminosidade da fonte central a valores inferiores a log L = 35,8 erg.s ­1 nos modelos 

de uma componente e a 35,5 erg.s­1 nos modelos de duas componentes. Modelos com luminosidade 

de logL = 35, tiveram o fluxo de He II 1640 da ordem do observado somente para temperaturas da 

fonte ionizante acima de 70000 K nos modelos de duas componentes e de 80000 K para os modelos 

de uma componente.  Esses  limites,  combinados ao fluxo  total  em H  eliminaram algumas das 

possíveis soluções encontradas nos ajustes de razões de linha. Também foram investigados modelos 

com fonte ionizante extensa, onde a luminosidade varia em função da distancia angular do ponto do 

envoltório em relação ao plano da órbita.

As simulações mostraram que existem diversos conjuntos de parâmetros que ajustam o espectro 

observado com valor de 2 similar. Para o modelo de uma componente, o melhor ajuste foi obtido 

para uma fonte central de 80000 K e luminosidade  log L = 35,5 erg.s ­1 e fc = 0,1, identificado como 

modelo A na  tabela 10.  Para o modelo de duas componentes o ajuste dos parâmetros obtém a 

mesma temperatura, mas com luminosidade menor, log L = 35 erg.s­1 e fc = 0,2, identificado como o 

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IV – O envoltório de V842 Cen

modelo  B na   tabela  10.  Outra  diferença  está  nas  dimensões  do envoltório,  no  modelo  de  uma 

componente, a dispersão de velocidades é menor, entre 1200 e 1400 km.s­1, enquanto que no modelo 

de duas  componente  tem­se uma   dispersão de velocidade entre  500 e 1200 km.s­1  .  Os dados 

espectrais corroboram o segundo modelo, já  que somente os modelos de uma componente com 

baixa dispersão de velocidades obtiveram um ajuste razoável. A dificuldade de se obter uma solução 

única   é   evidenciada   pela   pequena   diferença   no   valor   do  2  obtida   para   modelos   com   outras 

configurações,  como por exemplo o modelo com T = 91500 K, log L = 35 erg.s­1  e  fc  = 0,05, 

(modelo C na tabela 10) que teve um valor apenas 10% maior no  2. Este foi o modelo de uma 

componente de melhor ajuste e com dispersão de velocidade compatível com as observações. 

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IV – O envoltório de V842 Cen

Tabela 10– Razão de linhas de V842 Cen e melhores ajustes dos modelos de 1, (A e C) e 2(B) componentes –  ver texto para detalhes.

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Line ratio V842 Cen Modelo A Modelo B Modelo C5,10 6,69 4,62 9,240,32 0,38 0,32 0,29

[OIII]5007+4959/4363 ­­­ 628 1620 6200,08 0,08 0,05 0,080,32 0,29 0,34 0,290,22 0,20 0,19 0,190,07 0,06 0,05 0,05

HeII4686/HeI5876 1,55 1,48 1,78 1,470,02 0,02 0,02 0,02

HeI6678/4922 3,56 2,69 2,69 2,680,07 0,03 0,03 0,03

[OI]6300/6364 2,90 3,14 3,14 3,140,02 1,8E­4 5,7E­5 3,4E­40,17 0,016 0,017 0,010,56 0,48 0,47 0,471,39 0,25 0,25 0,250,37 0,02 0,01 0,010,06 0,00 0,00 0,000,07 0,003 0,005 0,0040,04 0,00 0,00 0,000,042 1,9E­4 4,0E­5 5,7E­40,013 0,00 0,00 0,000,006 0,00 0,00 0,000,009 5,0E­5 4,2E­5 3,9E­3

HeI5876/7065  5,84 7,27 7,39 7,183,7 3,57 3,62 3,331,05 2,34 0,75 3,22

­­ 0,004 0,001 0,015­­ 0,004 0,002 0,003­­ 0,01 0,003 0,02

0,066 0,03 0,01 0,140,03 0,00 0,00 0,000,08 0,02 0,01 0,010,02 2,1E­5 8,2E­6 1,0E­5

­­ 0,20 0,14 0,16­­ 0,04 0,04 0,04

0,005 3,2E­6 5,4E­6 1,8E­6T WD (K) 80000 80000 91500log L WD (erg/s) 35,5 35 35M shell (Msun) 3,5E­4 3,0E­4 3,7E­4Te Shell (K) 7600 6200 7600fc 0,1 0,2 0,05

H+[NII]/H[OIII]5007/H

[NII]5755/HHeII4686/HHeI5876/HHeI6678/H

HeI4922/H

HeI7065/H

OI 8447/H[OII]7325b/HH/HH/HCIII+NIII/H[FeVII]4943/HHeII5412/H[FeVII]5720/H[OI]6300/H[FeX]/H[FeXI]/H[S  III] 6312/H

H/H[NII] 6584/HCa 2  7306/HN  2  5495/H[S  II]  6720/H[N  I]  5200/H[Ar IV]  4711/HC  3  4649/HC  4  7726/HN 2 5005/HHe I 5016/HO  3 5592/H

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IV – O envoltório de V842 Cen

Porém, algumas razões de linha não foram reproduzidas por nenhum dos modelos de baixo 2. As 

linhas de ions de alta ionização, como CIV, Fe VII e Fe X ou tiveram intensidade muito menor do 

que o observado, ou, intensidade nula, quando a intensidade foi menor que 10­10 vezes o observado. 

As linhas de CIII + NIII 4645 tiveram nos modelos uma intensidade de 50 vezes menor do que o 

observado.   Apenas   os   modelos   homogêneos   e   de   alta   temperatura   (T   >   100000   K)   ou   alta 

luminosidade   (log   L   =   36­36,5   erg.s­1)   e   baixa   densidade   obtiveram   a   razão   CIII+NIII/H

observada. Mas nesses modelos as demais linhas estão muito distantes dos valores observados. Uma 

possível explicação para esse resultado é que a emissão de CIII+NIII tenha uma componente intensa 

da fonte central, que pode sofrer espalhamento na nebulosa ejetada. A linha de [Fe VII] 4943 só 

aparece com intensidade da ordem da observada nos modelos com luminosidade maior que 1035,5 

erg.s­1  e   temperatura  maior  que 130000 K.  Da mesma forma que algumas  linhas  de elementos 

altamente  ionizados não são reproduzidos pelos modelos,  existem linhas de elementos de baixa 

ionização que não são reproduzidas por nenhum dos modelos. As linhas de OI e OII são exemplos. 

A intensidade das linhas de [O I] 6300,6364 nos modelos foi de duas a três ordens de grandeza 

inferior ao observado. Mesmo com o aumento da densidade das condensações e da fração de massa 

condensada não é possível atingir as intensidades observadas. Isso pode significar que, apesar das 

condensações propiciarem um aumento na população de oxigênio neutro, há a necessidade de um 

mecanismo de excitação mais eficiente para explicar a intensidade observada. Nas linhas de [O II] 

7325, os modelos prevem uma intensidade de uma ordem de grandeza inferior ao observado. Essas 

linhas se mostraram pouco sensíveis às características das condensações. Essa discrepância pode ser 

explicada pela diferença entre abundância de oxigênio utilizada nos modelos e aquela derivada dos 

espectros de 2005, que é de aproximadamente uma ordem de grandeza maior. As linhas de NI são 

razoavelmente bem reproduzidas pelos melhores modelos, corroborando com o valor de abundancia 

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IV – O envoltório de V842 Cen

encontrado para o nitrogênio. Os modelos com fonte ionizante extensa fornecem um  ajuste pior que 

os equivalentes de fonte pontual. Esse resultado é coerente com uma fonte ionizante central. 

4.5 – Discussão dos resultados de V842 Cen

Os dados espectroscópicos de 2005 infelizmente foram obtidos com massa de ar elevada devido a 

problemas   operacionais.   Para   a   configuração   instrumental   utilizada   seria   necessário   que   a 

observação fosse feita  com baixa massa de ar  a  fim de reduzir  o efeito da difração diferencial 

atmosférica (DDA) e melhorar a razão sinal/ruído do espectro. A DDA entre 4000 e 6000 Angstrons 

é  da ordem de 1 segundo de arco nos nossos dados. Assim os mapas de imagens em H  e H

apresentam um deslocamento dessa magnitude, como pode ser observado nas figuras 34 e 35.

Ainda assim foi possível observar que o envoltório de V842 Cen tem duas componentes distintas. 

Há uma componente de alta velocidade, caracterizada pela emissão Balmer e uma componente de 

baixa velocidade, caracterizada pela emissão de oxigênio. Ambas componentes tem uma geometria 

aparentemente esférica.  A questão é  por que há  componentes com velocidades tão distintas em 

função do comprimento de onda observado? Haveriam dois processos distintos de ejeção? Ou a 

estratificação se deve à alta dispersão de velocidades, sendo as regiões mais lentas e próximas a 

fonte central mais ionizadas? Considerando­se a primeira hipótese, poderia ter ocorrido uma ejeção 

inicial das camadas mais externas do envelope através de ondas de choque ou ondas de pressão 

(Sparks, 1969) e o material restante do envelope seria ejetado por ventos espessos na fase de ejeção 

constante (Bath & Shaviv, 1976 e Kato & Hachisu, 1994). O material ejetado por ondas de pressão 

apresenta   uma   grande   dispersão   de   velocidades,   sendo   que   sua   espessura   atinge   uma   fração 

significativa da dimensão do envoltório (Sparks, 1969). Os mapas de [O II] de V842 Cen mostram 

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IV – O envoltório de V842 Cen

que a  espessura  é   aproximadamente  30% do  raio  do  envoltório.  Os modelos  de  vento  espesso 

indicam que a velocidade de expansão do envoltório está relacionada aos parâmetros do sistema, 

como massa e luminosidade da anã branca, e abundâncias de metais no envelope que por sua vez 

está relacionada a taxa de transferência de matéria via tempo de recorrência das erupções (Yaron et 

al 2005). Os modelos desses autores indicam que uma velocidade de expansão máxima de 1300 

km.s­1 (média de 700 km.s­1) para um sistema com anã branca de 0,65 Mʘ , temperatura central de 

1x 107 K e taxa de acresção de 10­11 Mʘ .ano­1. Este modelo apresentou um envoltório ejetado de 2,4 

x 10­4 Mʘ com Y=0,25 e Z = 0,19. Apesar de V842 Cen apresentar alguns valores semelhantes, tais 

como a massa do envoltório e as velocidades de expansão, outros parâmetros, como amplitude da 

erupção (18 magnitudes no modelo x 11 observado), tempo de decaimento da curva de luz (t3 = 48 

dias – moderadamente rápida x nova lenta nos modelos) e abundância de metais no envoltório (0,36 

observada   x  0,19  nos   modelos)   são  diferentes.   Os   parâmetros  observacionais   fornecidos   pelos 

modelos são sensíveis aos parâmetros do sistema binário, como por exemplo a taxa de acréscimo de 

massa. Um modelo com as mesmas configurações do anterior, mas com uma taxa de acréscimo de 

10­12 Mʘ.ano­1  resultaria em um envoltório de 6,6 x 10­4  Mʘ e uma abundância em metais de 0,44. 

Mas as velocidades de expansão teriam valores muito diferentes do observado (Vmáx = 700 km.s­1 e 

Vmédia  = 220 km.s­1) e uma amplitude de 20 magnitudes. As discrepâncias entre os modelos e os 

dados observacionais sugerem que somente a ejeção contínua não é capaz de explicar a erupção 

desta nova.

A massa do envoltório obtida a partir da emissão nebular de H  (3,5 x 10­4 Mʘ  ) é equivalente à 

obtida  pelos  modelos  de  erupção de  Yaron et  al.   (2005)   (2,4  x  10­4  Mʘ  )   e  pelos  modelos  de 

fotoionização com condensações (3­4 x 10­4Mʘ ).

A determinação de abundância de hélio deste trabalho, (0,20) foi significativamente maior que o 

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IV – O envoltório de V842 Cen

obtido anteriormente por Andrea et al. (1994), (0,14). Existem dois fatores que podem explicar essa 

discrepância.   Primeiro   que   neste   trabalho   utilizou­se   somente   o   espectro   da   região   nebular, 

diminuindo a contaminação da emissão da fonte central. Segundo que os dados deste trabalho foram 

obtidos 10 anos após os dados de Andrea et al. (2004) e portanto houve uma redução significativa 

da   densidade   média.   Como   as   determinações   de   abundância   são   afetadas   pela   presença   de 

condensações   e   seu   contraste   de  densidade,   um envoltório  mais   denso  poderia   afetar  mais   os 

cálculos de abundância, como foi mostrado no capítulo 3.

Embora o envoltório aparente ter uma geometria esférica em todos os mapas de linhas gerados, há a 

possibilidade dessa simetria  ocorrer  devido a  projeção no plano do céu de  um envoltório  com 

simetria axial. Neste caso, o eixo de assimetria teria que estar próximo da direção de visada. Wouldt 

et al. (2009) obtiveram que a anã branca tem uma rotação elevada, de 57 segundos. Segundo Scott 

(2000) a ejeção de matéria em uma anã branca com essa velocidade de rotação gera um envoltório 

assimétrico (prolato ou bipolar) (ver figura 42). Por outro lado, as observações no infra­vermelho 

(IV) de V842 Cen mostram que existem grãos de poeira de diferentes tipos no envoltório (Smith et 

al.   1994).   De   Freitas   Pacheco   (1990)   observou   que   a   abundância   de   oxigênio   aparentemente 

diminuiu entre os dias 142 e 561 após a erupção, período no qual se observou a formação de poeira. 

A assimetria nas condições da detonação termonuclear, que gera diferentes valores de temperatura 

máxima, altera a abundância relativa de C e O . Os grãos de silicato se formam em regiões onde O > 

C em número e o carbono está na forma da molécula de CO. Quando O < C, formam­se os grãos 

baseados em carbono. 

Os modelos de detonação termonuclear indicam que o material ejetado na erupção tem O > C em 

número, a menos que a anã branca seja muito massiva. Os cálculos mostram que se a anã bramca for 

pouco massiva só há formação de grãos de silicato, enquanto que  grãos de carbono se formarão se 

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IV – O envoltório de V842 Cen

massa da anã branca for maior que 1,2 Mʘ  (Starrfield et al. 1992). A erupção em anãs brancas mais 

massivas   alcançam   maiores   temperaturas   e   parte   do   carbono   é   transformado   em  oxigênio   via 

captura de partículas   . Há alguma evidência observacional de gradientes de abundância, sendo 

algumas regiões com C < O e outras com C > O (Evans et al. 1992). Isto poderia estar associado à 

heterogeneidade na detonação termonuclear, como por exemplo aquela provocada pela velocidade 

de rotação elevada da anã branca. O efeito do campo magnético intenso nas condições do envoltório 

pré erupção são desconhecidos. Campos magnéticos intensos, assim como o modo de acresção pode 

gerar   heterogeneidades   locais   na   detonação   termonuclear.   Observações   espectroscópicas   com 

resolução espacial de envoltórios de novas podem trazer novas evidências para essa questão.

O fato de V842 ser uma polar intermediária indica que o disco de acréscimo está truncado e não 

apresenta a região mais quente. A acresção na anã branca se dá por cortinas de acréscimo pois o 

plasma é conduzido através das linhas de campo magnético. Nossos mapas de linhas não mostram 

evidências de uma iluminação asférica. Os modelos de fotoionização mostram que a utilização de 

uma fonte central extensa na forma de disco piora o ajuste quando comparado com os modelos de 

fonte pontual equivalentes.

As linhas coronais de [Fe X] e [Fe XI] são observadas simultaneamente com linhas de elementos 

neutros como [O I]. O espectro nebular indica que o nível de ionização decaiu significativamente 

entre 1994 (Andrea et al.  1994) e 2005. Os dados mais recentes indicam temperatura eletrônica 

média de 5000 K e que a razão He++/He+  é de 0,1. As emissões de elementos de alta ionização 

devem vir   de   regiões   distintas,  muito  mais   próximas   a   fonte   ionizante.  A   acresção  magnética 

comprime o gás de forma que essa região emite raios­X duros (T ~108K) que são reprocessados pela 

superfície da anã branca e pelas camadas externas do disco de acréscimo em raios­X moles e ultra 

violeta.  As linhas de [Fe X] e [Fe XI] são excitadas pela radiação UV ~ 300 Angstrons. Os eletrons 

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IV – O envoltório de V842 Cen

são excitados do nível fundamental para o 2S1/2 (345 A) que decai subsequentemente para 2P1/2 (365 

A) populando o nível excitado da transição    6375 (Diaz et al.  1995). Obviamente é  necessário 

haver uma população de Fe X e Fe XI presente no gás, que é produzida por fotoionização do plasma 

frio.

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V – O envoltório de HR Del

5 .1 – Estudo do envoltório de HR Delphinis

5.1.1  – O cubo de dados

O envoltório de HR Del foi observado pelo conjunto IFU­GMOS do telescópio Gemini Norte e 

foram em julho de 2002 e foram necessários expor 12 campos para cobrir todo o envoltório. O cubo 

de dados foi manipulado de forma análoga à de V842 Cen. Os espectros de HR Del foram obtidos 

em baixa massa de ar o que minimizou os efeitos da difração diferencial atmosférica.

Figura   49 ­   Mapa de HR Del nas linhas de H +[NII] e [O III]5007. Os mapas compreendem toda a largura dessas  linhas e estão apresentados com a mesma escala de cores.  No mapa de H +[NII]  foi  retirada a região de raio 1 arco­segundo centrada na fonte mais brilhante a fim de se melhorar o contraste.

HR Del tem alguns parâmetros do sistema conhecidos, como foi exposto no item 1.3 da introdução. 

A boa qualidade dos dados possibilitou a obtenção de mapas e diversas linhas de emissão e em 

pequenos   intervalos   de   comprimento   de   onda.   A   figura   49   mostra   os   mapas   nas   linhas   H

combinada com as linhas de [N II] 6548,6584 do lado esquerdo e um mapa na linha de [O III]

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V – O envoltório de HR Del

5007 do lado direito. A primeira característica que se pode observar é a diferente morfologia do 

envoltório  em função da  região espectral  considerada.  O mapa na   linha  de  Balmer  mostra  um 

envoltório prolato com dimensões de 10 x 16 arcosegundos2 e uma razão axial de 1,6 , enquanto que 

o envoltório obtido na linha de [O III]5007 tem dimensões de  13,7 x 7,2   arcosegundos2  e razão 

axial  de 1.95.  As dimensões   foram obtidas a  partir  da emissão com 1  acima do ruído.  Esses 

resultados   estão   de   acordo   com   o   obtido   por   Slavin   et   al.   (1995),   que   obtiveram   1,5   e   2,0 

respectivamente. Esse comportamento morfológico já foi observado em outras novas, como DQ Her 

(Baade 1940) e está relacionado com a classe de velocidade das novas. As novas mais lentas tendem 

a apresentar uma maior razão axial (Slavin et al. 1995), o que é observado em HR Del. O eixo 

principal (maior) em ambos os mapas tem uma inclinação de aproximadamente 45 graus e define as 

regiões polares. O eixo perpendicular define as regiões equatoriais. A abertura do cone centrado na 

fonte ionizante e que delimita a emissão em [OIII]5007 tem 90 graus, aparentando uma geometria 

bipolar. Os mapas mostram várias estruturas e condensações e essas estruturas serão detalhadas 

posteriormente.  As regiões mais brilhantes nos mapas tem uma intensidade em média 10 vezes 

maior que suas regiões circundantes menos intensas. Isso pode ser explicado pela distribuição de 

matéria,  onde as   regiões  de  maior   fluxo  tem uma maior  densidade de matéria.  A emissão das 

regiões polares (capas polares) correspondem à 68% da emissão de H+[N II] e a 91 % da emissão 

em [O III]. Outro aspecto interessante é uma emissão de maior intensidade observada na borda da 

região equatorial do mapa de H+[N II] que não está presente no mapa de [O III]5007. Isso pode 

ser explicado por uma diferença na ionização/abundância entre as regiões polares e equatoriais. A 

emissão equatorial vista no mapa de H+[N II] pode ser devido à linha de Balmer. Esse aspecto 

será mais detalhado nos itens subsequentes.

Através do espectro da região nebular foi possível obter as velocidades de expansão em diversas 

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V – O envoltório de HR Del

regiões do envoltório e utilizando diferentes linhas de emissão. A região polar (eixo maior) tem 

velocidade de 560(60) km.s­1  obtida das linhas de oxigênio e 630(60)km.s­1  através de H.  Nas 

regiões equatoriais, a velocidade obtida foi de 300(60)km.s­1 para ambas linhas. Esses valores são 

compatíveis   com   os   obtidos   por   Harman   &   O'Brien   (2003)   que   observaram   HR   Del   com   o 

telescópio espacial Hubble (HST + WFPC2), que foram 600 km.s­1  e 320 km.s­1  respectivamente 

(ver ítem 1.3 para detalhes da literatura para os valores de velocidade).

Figura 50 – Mapa de velocidades na região do espectro correspondente a linha [O III] 5007. Os quadros  representam um intervalo de velocidade correspondente a 2A ou 120 km.s­1. O quadro A corresponde a ­900 km.s­1 e o L a 540 km.s­1.As imagens foram geradas a partir do espectro com o contínuo subtraído. Escala de  1 a 100.

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V – O envoltório de HR Del

A obtenção das velocidades de expansão e das dimensões do envoltório possibilitam obter uma 

estimativa de distância da nova. Utilizando as linhas e os mapas da figura 49, foi encontrado uma 

distância de 850(90) pc através da paralaxe de expansão. Esse valor é compatível com os valores de 

literatura (770­1100 pc) obtidos por diversos métodos e autores (Solf, 1983; Della Valle & Livio, 

1995; Downes & Duerbeck, 2000).

Outro aspecto interessante dos mapas apresentados na figura 49 é a presença de duas condensações 

que aparentam estar em regiões externas ao envoltório. O glóbulo mais próximo ao eixo polar pode 

ser visto em ambas linhas, mas o glóbulo mais próximo da região equatorial é bem mais intenso no 

mapa H+[N II].  A presença  desses  glóbulos  aparentemente externos  ao  envoltório  podem ser 

observados na figura 50 entre os quadros H a L. Pode se questionar se esses glóbulos são artefatos 

instrumentais ou se existem realmente. Em primeiro lugar ambos os glóbulos são observados em 

mapas com diferentes linhas intensas e não são observados nas linhas mais tênues, o que elimina a 

possibilidade de ser uma contaminação por raio cósmico por exemplo. Em segundo lugar, o glóbulo 

mais  próximo da região equatorial  não apresenta  emissão  intensa em [O III],  como as   regiões 

próximas circundantes. Em terceiro lugar, o glóbulo mais próximo da região polar tem as linhas 

desviadas  para o  vermelho,  da mesma forma que a   região polar  próxima.  E quarto,  Harman e 

O'Brien (2003) mostraram que nas observações de 1997, existiam componentes ou glóbulos com 

velocidades  maiores  que  a  do envoltório,  apesar  de  que não  foi  possível  na  época observá­los 

diretamente. Os dados sugerem portanto que esses glóbulos são reais e que estão aparentemente em 

regiões externas ao envoltório.

O envoltório   tem componentes  com deslocamento para o azul  e  para o vermelho.  A figura 50 

mostra o envoltório dividido em fatias, que correspondem a intervalos de velocidade de 120 km.s­1 e 

varre todo a largura da linha [O III]5007. Os quadros de A a G correspondem a região deslocada 

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V – O envoltório de HR Del

para o azul em relação a [O III]5007 as demais regiões (H­L) correspondem à região deslocada para 

o vermelho.  O envoltório apresenta claramente duas componentes de expansão, compatível com 

uma geometria bipolar. Uma estrutura semelhante às capas polares são observadas na figura 51, nos 

painéis  A­B e N­O. Os mapas da figura 51 correspondem a região entre 6500­6610 Angstrons e as 

linhas de [N II] estão combinadas à H. Nessa figura, os painéis A e B correspondem a região da 

linha [N II]6548 que estão deslocadas para o azul e há pouca emissão Balmer, enquanto que os 

mapas N­O correspondem a emissão [N II]6584 deslocadas para o vermelho, onde a emissão H

também é menos intensa. Há uma correspondência entre as regiões que emitem [O III] e [N II] 

intensamente. Além disso, os painéis F a H correspondem a região próxima do comprimento de 

onda de H, sendo que o painel G corresponde ao intervalo 6560­6565. Nesse painel, a emissão 

equatorial é mais intensa. Os painéis F e H apresentam uma estrutura em forma de anel com a 

mesma dimensão e espessura. Essas estruturas correspondem às regiões deslocadas para o vermelho 

e para o azul de H. A decomposição do envoltório em seções de velocidades diferentes possibilitou 

revelar o caráter bipolar do envoltório observado nos mapas de [O III].

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V – O envoltório de HR Del

Figura 51 – Mapas de linhas na região H+[N II] com intervalo de 230 km.s­1, sendo A deslocado de ­1510 km.s­1  e  O deslocado de 1940 km.s­1  em relação a H.  A fonte central e as regiões circundantes foram removidas para aumentar o contraste da imagem. Todas as imagens tiveram o contínuo subtraído. Escala  logarítmica de 1 a 100.

A   estrutura   em   forma   de   anel   obtida   das   imagens   em   H  não   tem   aparentemente   uma 

correspondente nas linhas de [N II] e [O III]. Os anéis tem um diâmetro de 8,0 arco­segundos e uma 

espessura de  1,7 arco­segundos (ou 6.45 x 1016 cm e 1.31 x 1016 cm à 850 pc). Essa estrutura pode 

ser observada com menos clareza no painel L, que corresponde a emissão [N II] 6584. A estrutura 

dos anéis é formada por algumas condensações e o envoltório como um todo apresenta uma grande 

estruturação. A presença desses anéis pode ser explicada se o envoltório for composto por duas 

regiões   esféricas   com   uma   distribuição   semelhante   à   uma   ampulheta.   Essa   configuração   foi 

proposta inicialmente pelos estudos cinemáticos de Harman e O'Brien's (2003). Como o envoltório 

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V – O envoltório de HR Del

está incluído 40 graus em relação ao ângulo de visada, a região equatorial com emissão intensa, 

observada nos painel G  corresponde à sobreposição das regiões das duas cascas esféricas. A forma 

esférica de cada lóbulo indica que de alguma forma a erupção preservou a geometria da anã branca. 

Esse é um aspecto importante quando se discute os efeitos do sistema binário e das características 

da erupção na geometria dos envoltórios.

A comparação entre as figuras 50 e 51 também mostra que as capas polares observadas nas linhas 

de   [N  II]  e   [O   III]  aparentam estar  contidas  nos   lóbulos  esféricos  observados  em H.   Isso  é 

compatível com o fato de que a capacidade de ionização decai com a distância à fonte central, assim 

as estruturas observadas em linhas de elementos mais ionizados tendem a estar mais próximas. Isso 

também pode explicar  por que não se observa emissão  intensa de [O III]  e  [N II]  nas  regiões 

equatoriais, apesar da emissão Balmer não apresentar o mesmo comportamento. A diferença das 

condições de ionização nas regiões polares e equatoriais aparentemente afetam pouco a população 

de  H+  nessas   regiões,  ao contrário  da  população de O++.  Esse efeito  pode ser  causado por  um 

sombreamento da região equatorial pelo disco de acréscimo ou pelo fato de que a fonte ionizante 

mais importante ser o próprio disco de acréscimo.

Os mapas apresentados nas figuras 50 e  51 foram utilizados para se determinar as estruturas e 

condensações   que   formam   o   envoltório.   Os   modelos   de   fotoionização   para   HR   Del   foram 

construídos utilizando uma geometria bipolar e a distribuição das estruturas como as capas polares e 

as condensações foram estimadas a partir dos mapas apresentados.

Os mapas obtidos a partir de H e He II 4686 não apresentam as capas polares vistas em [O III] e 

[N II].  As  linhas  proibidas  são excitadas colisionalmente e um aumento da densidade gera um 

correspondente aumento da emissão. As linhas de H e He II são linhas de recombinação e o efeito 

do aumento da densidade gera um aumento quadrático da intensidade das linhas. Como as capas 

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V – O envoltório de HR Del

polares não são observadas tão claramente nos mapas de He II 4686 e H(figuras 52 e 53) conclui­

se que essas estruturas ficam evidenciadas devido a uma combinação dos efeitos de ionização local, 

(região onde a fração de O++ e N+ é maior) e distribuição de matéria não homogênea.

O   mapa   apresentado   na   figura   52   mostra   que   nas   bordas   das   regiões   equatoriais   emite   mais 

intensamente   em   H.   Essa   região   corresponde   à   sobreposição   no   ângulo   de   visada   das   duas 

componentes   esféricas   identificadas  nos  mapas  de  H.  Na   figura   estão  desenhadas   as   regiões 

polares à esquerda e os anéis à direita.

Figura 52 – Mapa obtido a partir de H somadas as contribuições de todas as componentes de velocidade.  A região central foi subtraída para melhor visualização. A linhas foi integrada entre 4856 e 4866 Angstrons.

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V – O envoltório de HR Del

Figura   53   –   Mapa   em   He   II   4686   com   a   região   central   e   seus   arredores   subtraídos   para   melhor  visualização. O contínuo foi subtraído da linha. 

A maior parte da emissão em He II 4686 vem das regiões mais próximas da fonte ionizante, como 

mostra a figura 53. Também pode­se observar que o envoltório tem uma alta razão axial, indicando 

novamente uma iluminação com maior intensidade na direção polar.

Além dos mapas de linhas, podem ser obtidos mapas de razões de linha, calculadas em cada micro­

lente ou um grupo delas que representam uma região espacial do envoltório. A figura 54 mostra que 

nas capas polares a emissão [O III] é  a linha mais intensa do espectro. Também pode se observar 

que a emissão em H+[N II] se estende mais que a emissão em oxigênio. O mesmo procedimento 

foi realizado por Harman e O'Brien (2003) com as imagens do telescópio espacial Hubble e uma 

figura semelhante foi obtida.

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V – O envoltório de HR Del

Figura 54 – Razão (H  + [N II]) / [O III] 5007. As regiões azuis indicam os locais onde a emissão do  oxigênio é mais intensa.

A  geometria   bipolar   do   envoltório   tem  uma   razão   axial   de  1,6   e   cada   lóbulo   e   formado  por 

componentes esféricas. Segundo Scott (2000), a assimetria é causada pela rotação da anã branca, 

que gera uma gravidade efetiva menor nas regiões equatoriais. Isso leva a ejeções com velocidades 

maiores nas regiões polares do que nas regiões mais equatoriais. Em uma anã branca de 0,67(8) Mʘ

(Kolb & Ritter, 2003) a rotação necessária para se obter um envoltório bipolar está entre 20 e 30 

segundos, como está indicado na figura 54, adaptada de Scott (2000). Observações com a técnica de 

fotometria rápida pode verificar se existe alguma variação nesta frequência.

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V – O envoltório de HR Del

Figura 55 – Relação entre a massa da anã branca e sua rotação com a função de um envoltório prolato em  5%. As regiões abaixo da curva apresentam razão axial crescente. Adaptado de Scott (2000).

5.1.2 – Estimativa da massa do envoltório

É possível estimar a quantidade de matéria acretada pela anã branca antes da erupção de nova. O 

trabalho analítico de Shara (1981) mostrou que a pressão crítica na base do envelope acretado para 

detonar as reações nucleares depende da luminosidade da anã branca a uma potência 5/8, de sua 

massa e da taxa de acréscimo. Entretanto, a massa ejetada durante a erupção está relacionada ao 

tempo de decaimento da curva de luz, t3 e a velocidade de expansão da nova, que são parâmetros 

observáveis. Simulações detalhadas feitas por Yaron et al. (2005) com base nos parâmetros massa e 

luminosidade da anã branca e taxa de acréscimo de matéria obtiveram um conjunto de soluções para 

erupções que forneceram   t3, a velocidade de expansão e outros parâmetros. Considerando que a 

erupção de HR Del ocorreu em uma anã branca pouco massiva, M = 0,67(8) Mʘ  (Kolb & Ritter, 

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V – O envoltório de HR Del

2003),   t3  = 230 dias e velocidade de expansão de 550 km/s, a massa acretada nos modelos que 

forneceram esses parâmetros foi de 1 x 10­4 Mʘ . Além disso, as erupções com envoltório massivo 

só ocorrem em anãs brancas pouco massivas e pouco luminosas, com taxa de acréscimo da ordem 

de 10­10 Mʘ /ano.

Por outro lado, pode­se estimar a massa observada no envoltório de HR Del utilizando­se o fluxo 

em H e a distância da nova. Adotando um valor de distância de 850 pc, temperatura eletrônica de 

6000 K e densidade eletrônica média de 103 cm­3 se obtém um valor de 1,2 x 10­3 Mʘ para a massa 

total do envoltório. Esse valor é maior que a massa acretada necessária para detonar uma erupção. 

Mas essa estimativa deve ser considerada como um limite superior para a massa do envoltório, dada 

a contaminação da fonte central no fluxo de H. A massa de oxigênio neutro também pode ser 

estimada, sendo apenas 0,01% da massa total de oxigênio. Segundo Gehrz et al. (1993) 15 % da 

massa dos envoltórios de novas corresponde ao oxigênio. Estes autores e Williams (1994) também 

obtiveram que as massas dos envoltórios de novas foram subestimados por estimativas anteriores e 

que as massas dos envoltório geralmente excedem 3 x 10­4 Mʘ  . Os valores obtidos para HR Del 

para a fração de oxigênio neutro indicam também que o envoltório é massivo (M > 3 x 10­4 Mʘ).

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V – O envoltório de HR Del

5.1.3 – Identificação das linhas e diagnóstico das condições físicas do         

    envoltório

A partir do cubo de dados foi possível obter o espectro combinado de diversas regiões do campo 

observado. O espectro nebular foi obtido somando­se as micro­lentes da região delimitada pela 

emissão H+[N II] mostrada na figura 49. A região central definida por um raio de 2 segundos de 

arco a partir do local de emissão máxima (onde provavelmente está a fonte central) foi retirada para 

que apenas o espectro nebular fosse contabilizado. Esse procedimento tem como objetivo diminuir a 

influência do espectro da fonte  ionizante nos cálculos  de razões  de  linhas e  de diagnóstico do 

envoltório,   o   que   somente   a   espectroscopia   com  resolução   espacial  obtida  com o   IFU­GMOS 

possibilita. Alguma contaminação é inevitável devido à contribuição difusa da fonte central causada 

pela própria nebulosa, por exemplo foi medida alguma emissão de CIV 5802 (3% do total medido), 

linha que deve ser originada no disco de acréscimo e/ou em regiões próximas da fonte ionizante. As 

figuras 56 e 57 mostram o espectro total e somente da região nebular de HR Del. O espectro foi 

obtido sem filtro corta ordem e portanto observa­se linhas em segunda ordem a partir de 8000 

Angstrons, mais evidentes no espectro nebular, como por exemplo as linhas HI da série de Paschen. 

O espectro total está fortemente contaminado pela fonte central, como mostra a inclinação da região 

azul. No espectro nebular, a região azul tem muito ruído, o que prejudica a análise das linhas com 

comprimento de onda menor que ~ 4500 Angstrons.

O espectro das regiões correspondentes às capas polares pode ser visto na figura 58. Nota­se que as 

linhas de oxigênio tem picos duplos, enquanto que o perfil das linhas de He II 4686 e H apresenta 

apenas  um pico.  As  linhas  do  complexo CIII  +  NIII  em  4645  também estão presentes  nesse 

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V – O envoltório de HR Del

espectro. Os perfis de linha de segunda ordem, obtidos da região nebular, mostram que o perfil de 

H é composto por pelo menos quatro componentes. A figura 59 mostra uma comparação entre o 

perfil de H e [O III]5007. Devido à iluminação não esférica e à geometria bipolar do envoltório as 

regiões que emitem [O III] estão limitadas às capas polares, enquanto que a emissão Balmer, menos 

afetada pelo gradiente do campo de radiação, emite de praticamente todas as regiões do envoltório.

Figura 56 – Espectro gerado combinando todas as micro­lentes do IFU.

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V – O envoltório de HR Del

Figura 57 – Espectro obtido a partir das micro­lentes correspondentes à região nebular de HR Del.

Figura 58 – Espectro da região correspondente  às  capas polares  entre  as   linhas de CIII+NIII  4645 e  [OIII]5007.

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V – O envoltório de HR Del

Figura 59 – Perfil das linhas H e [O III] 5007 no espectro de segunda ordem.

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V – O envoltório de HR Del

Tabela 11 – Identificação das linhas do envoltório de HR Del para as regiões central e nebular – ver texto.

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line ID total central nebular central-T nebular-T36,97 34,54 2,52 64,02 5,49

FeII(7F) 4416 10,50 8,40 15,58FeII(7F) 4452 4,15 1,58 2,93FeII(37) 4491 7,52 3,16 5,86

OII(15) 4591-96 8,00 2,35 5,65 4,36 12,31NII(5) 4602-07 3,44 7,49FeII(38) 4620 2,21 4,82FeII(38) 4629 0,47 1,03

NII(5) 4631 0,81 1,76NII(5) 4643 0,99 2,16OII(1) 4662 0,92 2,01

CIII+NIII 4649 75,23 67,65 7,72 125,39 16,83HeII 4686 136,97 90,76 46,39 168,22 101,1

FeIII(3F) 4702 3,77 8,22NeIV(IF) 4714-20 4,32 9,41

FeII(4F) 4728 1,67 3,64FeIII(3F) 4734 1,1 2,4FeIII(3F) 4755 2,87 6,26NII(20) 4780 0,87 1,90FeII(4F) 4798 3,44 0,68 2,66 1,26 5,79

NII(20) 4803-10 3,75 0,85 1,85FeIII(3F) 4821 1,59 0,50 1,09 0,92 2,34FeII(30) 4838 4,83 2,87 6,26

100,00 53,95 45,88 100,00 100,00FeVII(2F) 4894 6,45 1,98 4,32FeII(20F) 4905 7,83 3,45 7,53

HeI 4922 8,91 5,27 3,67 9,77 8,00FeIII(1F) b 4936 B 0,82 0,24 0,53FeVII(2F) 4941 B 2,94 1,48 3,22

OIII(1F) 4959 36,58 8,10 28,74 15,12 62,64OIII(1F) 5007 113,45 29,2 84,87 54,52 184,98

3,68 0,76 2,82 1,36 6,08FeII(4F) 5036: 0,74 0,60 1,3

SiII(5) 5041 2,21 1,51 3,3HeI(47) 5047 1,92 1,01 2,2

FeVI(2F) 5147 4,82 0,80 1,74FeII(42) 5169 1,98 1,53 3,33NII(66) 5180 1,35 0,84 1,83

1,65 0,75 1,63NI(1F) 5200 1,76 0,66 1,43

FeII(49) 5235, FeVI(1F)5237 5,36 3,52 1,86 10,16 3,66FeIII(1F) 5270 1,23 0,57 0,63 1,05 1,37

FeVI(1F) 5279, FeII(41)5284 1,66 1,60 4,48CaV(1F) 5309 2,66 0,92 2,00FeVI(1F) 5336 1,63 1,68 3,66

Ti II B 5395 1,68 0,89HeII 5411 10,42 6,46 4,08 11,96 8,88

FeVI(1F)5429 0,75 0,78 1,70NII(29) 5463 2,27 1,28 2,78

Hγ 4341

Hβ 4861

λ 5029? NIII

λ 5187 ?

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V – O envoltório de HR Del

Tabela 11­ continuação.

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line ID total central nebular central-T nebular-TNII(29) 5480 0,90 0,84 1,83NII(29) 5496 2,04 1,58 3,44

OI(3F) 5577, [FeII](2F)5582 4,82 1,46 3,36 2,27 7,33OIII(5) 5592 1,68 3,12

CaVII(1F) 5620 5,03 0,74 3,92 1,36 8,53CaVII(2F) 5631, FeVI(1F) 5632 2,85 0,52 2,28 0,97 5,84

NII(3) 5676 1,53 1,02 0,51 1,88 1,12FeII(33F) 5684, NII(3) 5686 1,96 1,44 3,13

NII(3) 5711 0,82 0,18 0,40FeVII(1F) 5721, [FeII]33F 1,04 0,83 1,80

NII(3F) 5755 0,20 0,20 0,47CIV 5802-12 13,98 13,53 0,46 25,08 3,83

HeI 5876 12,93 4,55 8,49 8,43 15,63NII(28) 5932 0,76 1,41NII(28) 5942 0,76 1,41NII(28) 5952 0,50 0,91NII(28) 5961 0,53 0,98SiII(4) 5979 1,05 1,93

FeVII(1F) 6086, CaV(1F) 0,84 0,60 1,10FeII(46) 6130 0,80 0,64 1,18FeII(74) 6149 1,29 0,64 0,71 1,19 1,55FeII(74) 6240 0,82 0,47 0,88FeII(74) 6248 0,29 0,17 0,29

OI(1F) 6300 2,72 0,59 1,4 1,09 2,59SiII(2) 6347 1,06 0,44 0,4 0,81 0,74OI(1F) 6364 1,32 0,18 1,15 0,34 2,12SiII(2) 6372 0,39 0,21 0,15 0,39 0,28

FeII(74) 6457 0,37 2,18 3,83Ha+NII 6565 387,39 154,75 232,65 286,60 492,67

FeII(210) 6626 LiII 6627 1,41 0,42 0,92L 6658 ? 0,57HeI 6678 10,24 9,50 0,75 17,60 1,63

SII(2F) 6717 0,32 0,35 0,76OII(4) 6721 1,13 0,86 1,87

SII(2F) 6731 0,80 0,43 0,94HeI(10) 7065 2,61 2,39 0,46 4,42 1,01

HeI 7281 1,39 1,67 0,06 3,10 0,14OII(2F) 7320+7331 3,78 2,02 1,49 3,74 3,24

NI(3) 7424 0,50NI(3) 7442 1,08NI(3) 7468 1,24

CIII 7485 0,561,24 2,69

CIV 7705-08-26 8,92 4,50 2,80 8,35 6,10MgII(8) 7877 0,80 0,35 0,50 0,65 1,10

1,43 2,65OI(19) 7982 0,66 0,35 0,77OI(19) 7995 0,52 0,27 0,59

λ 7680 ?

λ 7942 ? CIV 7946

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V – O envoltório de HR Del

Tabela 12 – Razão de linhas para as regiões central e nebular de HR Del.

As linhas estão dispostas na tabela 12 e a sua possível identificação foi realizada tendo como base as 

linhas   já   observadas   em   outros   envoltórios   de   nova   (Meinel   et   al.   1975).   Na   tabela   12   estão 

mostradas as intensidades das linhas relativas à intensidade de H para as regiões central e nebular, 

além da medida obtida do espectro total. O espectro foi corrigido do avermelhamento de E(B­V) = 

0,16 (Selvelli  & Friedjung, 2003). As três primeiras colunas apresentam a contribuição de cada 

região para o total  medido para cada linha, ou seja a contribuição central  + nebular = total,  as 

colunas 4 e 5 apresentam a razão das intensidades das linhas e função da emissão H da região 

considerada.   As   linhas   foram   medidas   independentemente   em   cada   região.   A   soma   das 

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line ratio total central-T nebular-T

3,87 2,87 4,93

1,37 1,68 1,01

1,13 0,55 1,85

0,13 0,08 0,16HeII4686/He5876 10,59 19,96 6,47HeI5876/6678 1,26 0,48 9,59HeI5876/7065 4,95 1,9 15,52HeI6678/4922 1,15 1,8 0,20

0,04 0,04 0,03OII7325/OIII5007 0,03 0,07 0,02OI6300/OII7325 0,72 0,29 0,80OI6300/OI5577 0,57 0,48 0,35OI6300/OI6364 2,07 3,18 1,22

36,97 64,02 5,49HeI6678/7065 3,92 3,98 1,62

38,01 43,32 28,61147,39 180,19 109,980,258 0,240 0,260

Soma OI 8,86 3,71 12,03Soma OII 3,78 3,74 3,24Soma OIII 150,03 72,76 247,62OI/OII 2,34 0,99 3,71OII/OIII 0,03 0,05 0,01

1,02 0,4 2,25

H+NII/HHeII4686/HOIII5007/HHeI5876/H

OII7325/H

H/H

Soma HeI linesSoma HeII linesHeI/HeII ratio

OIII/HeII

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V – O envoltório de HR Del

contribuições central e nebular  quando equivalentes à emissão total para dada linha é uma forma de 

verificação da consistência das medidas. As razões de linha utilizadas para os cálculos dos modelos 

correspondem à emissão somente da região nebular de HR Del.

Há   linhas   de   espécies   altamente   ionizadas   como   Fe   VII,  Ca   VII   e   CIV  e   também   linhas   de 

elementos neutros   ou de baixa ionização como HI, HeI e OI. As linhas permitidas tem a maior 

parte do fluxo vindo da região central (0­2”), como por exemplo, CIII+NIII e HeI 6678 que tem 

90% do fluxo vindo da região central. As linhas proibidas tem a maior parte do fluxo vindo das 

regiões nebulares, como por exemplo [OI} 6300 e [O III] 5007 que tem 90% do fluxo vindo da 

região nebular.

Algumas razões de linhas previstas pela teoria atômica não foram observadas. A intensidade relativa 

de [O I]6300 / [O I]6364 é esperada ser 3:1 para um gás oticamente fino, mas se observa uma razão 

média   de   2:1,   chegando   até   1,2:1   em   algumas   regiões.   Williams   (1994)   observou   que 

particularmente em novas do tipo Fe II  essas  linhas aparecem de forma não usual  na evolução 

espectral   e   sua   intensidade   é   difícil   de   explicar.   Ele   sugeriu   que   o   envoltório   ejetado   não   é 

homogêneo e que a emissão de [O I] em de glóbulos densos onde o gás é neutro. É surpreendente 

que o envoltório de HR Del ainda mostre essas linhas 12000 dias após a erupção. Isso pode ser uma 

evidência que os glóbulos podem sobreviver por longos períodos após a erupção.

Utilizando a razão de linhas [O I]6300/[O I]5577, [O I]6300/[O I]6364 e uma expressão dada por 

Williams (1994) pode­se obter a profundidade óptica na linha de [O I] e se estimar a temperatura 

eletrônica da região emissora. Foi obtido uma temperatura média de Te = 6500(500) para6300 = 2,6. 

Esse cálculo foi obtido para diversas regiões do envoltório,  o que forneceu a incerteza. 

A   razão   H/H  nas   condições   físicas   das   novas   velhas   é   esperada   ser   próximo   ao   valor   de 

recombinação, mas devido a expansão do envoltório, H  está combinada com as linhas [N II]

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V – O envoltório de HR Del

6548,6584. Assim observa­se que nas regiões centrais a razão é de 2,9, (onde não se espera haver 

linhas proibidas) enquanto que chega a 10 nas capas polares (onde a emissão [N II] é intensa). A 

razão He I 5876/H varia de 0,1 para a região central e 0,2 para a região nebular. 

A razão entre as linhas de hélio He I 5876/ He I 7065 observada, considerando­se uma aproximação 

para o caso B para a recombinação, foi 15, o que corresponderia a uma temperatura eletrônica de 

aproximadamente  5000 K (Ne  =  104  cm­3)   (Osterbrock & Ferland 2006).  O efeito  da  excitação 

colisional tende a diminuir essa razão, já que a transição 7065 tem uma razão entre os coeficientes 

de excitação colisional com o coeficiente de recombinação 10 vezes maior que 5876 sendo assim 

mais afetada pela densidade (Clegg, 1987).   Outras razões entre as linhas de He I estão longe do 

esperado  para   o   caso  B.  A   razão  He   I   5876/  He   I   6678,   que   tem pouca  dependência   com a 

temperatura eletrônica, é 9,6, enquanto que se espera um valor de 4. Não se pode explicar esse valor 

por  uma contribuição  de  outras   linhas   intensas  na   região  próxima à   5876 Angstrons.  Deve  se 

considerar que a excitação colisional afeta a linha He I 5876 (tripleto) duas vezes mais que a linha 

He I 6678 (singleto) para uma dada temperatura (Ferland, 1986). A razão observada é mais uma 

indicação que o envoltório é altamente estruturado e apresenta condensações.

5.1.4 – Estimativas de abundância no envoltório

A abundância de He relativa ao hidrogênio pode ser obtida considerando­se valores médios de 

temperatura e densidade para o envoltório. Utilizando uma densidade eletrônica Ne  = 103  cm­3  e 

temperatura   de   7500   K,   obtém­se   uma   abundância   de   0,20.   Os   valores   dos   coeficientes   de 

recombinação   das   transições   utilizadas   foram   interpolados   dos   valores   para   5000K   e   10000K 

apresentados por Osterbrock & Ferland, (2006). O efeito da excitação colisional para o estado meta­

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V – O envoltório de HR Del

estável 2s 3S do He I 5876 foi corrigida utilizando­se um fator (C/R) = 0,03 dado por Clegg (1987). 

Esse valor de abundância pode ser comparado ao obtido pelos modelos de Tylenda (1978) de 0,17. O 

valor   da   abundância   de  He  por   esse  método  não  é  muito   sensível   a   temperatura   e   densidade 

eletrônica assumidos, já  que a razão entre os coeficientes de recombinação das linhas utilizadas 

varia pouco com Te e Ne. Na região nebular, a razão nHe+/nHe++ é de 1,8, ou seja 70% é He+.

A fim de se obter as abundâncias iônicas de oxigênio, utilizou­se uma ferramenta de análise nebular 

clássica. A rotina IONIC do pacote IRAF utiliza um modelo de íon de 8 níveis eletrônicos e calcula 

a população de cada nível e abundância de um dado íon a partir da razão de fluxos entre uma linha 

proibida desse íon e H para uma dada temperatura e densidade, (De Robertis et al. 1987 e Shaw & 

Dufour, 1994). A razão [O III]5007/H foi utilizada para obter nO++/nH+, a razão [O II]7320,7330/

H para estimar nO+/nH+ e a razão [O I]6300/H para estimar nO0/nH+. A emissividade de H foi 

calculada   através   da   fórmula   de   Aller   (1994)   que   tem   uma   acurácia   de   4%   para   densidades 

inferiores a 106 cm­3. A abundância nO/nH depende da densidade eletrônica no local de formação 

das linhas. Como o envoltório de HR Del é altamente estruturado com uma grande variação no 

perfil   de   densidade,  é   necessário   considerar   essa   variação.  Mas  para   as   densidades   típicas   de 

remanescentes de novas antigos (102­104 cm­3), somente a determinação de nO+/nH+ é afetada pela 

densidade local.  Para uma dada temperatura e razão de linhas uma densidade menor implica na 

obtenção de  uma abundância  de  O+  maior.  Na estimativa  de  nO+/nH+  utilizou­se  um perfil   de 

densidade conforme um modelo bipolar, onde as condensações tem densidade média de 2000 cm­3 e 

as regiões circundantes tem densidades entre 500 e 300 cm­3. O espectro de HR Del apresentou 

algumas linhas de recombinação como OIII 5592 e OIII 7713, o que indica a presença de O+3, mas 

não   foi   possível   obter   sua   abundância.   O   valor   obtido   portanto   é   um   limite   inferior   para   a 

abundância de oxigênio. Obteve­se log(O/H) = ­2,52 o que está próximo dos valores obtidos por 

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V – O envoltório de HR Del

Tylenda (1978), log(O/H) = ­2,35 e Samyal (1972), log (O/H) = ­2,4. 

As abundâncias de nitrogênio e carbono não puderam ser obtidas a partir dos dados disponíveis.

5.1.5 – Glóbulos externos ao envoltório

Há diversos glóbulos de matéria que podem ser observados na figura 51 e o que aparece nos painéis 

G e H aparenta também estar nas regiões externas do envoltório. A condensação mais próxima ao 

eixo polar, na região do espectro deslocada para o vermelho começa a aparecer no painel L, fica 

mais intensa nos dois painéis subsequentes e depois desaparece no painel O . O deslocamento das 

linhas nessa região sugere uma velocidade de 500 km.s­1, mas como não se pode subtrair os efeitos 

de projeção, esse valor é apenas um limite inferior. O glóbulo mais próximo à região equatorial 

aparece nos painéis F­H da figura 51 e depois, com o deslocamento para o vermelho nos painéis 

subsequentes desaparece. Ele surge novamente nos painéis K­M da figura 51 que correspondem a 

emissão de [N II] 6584 de menor velocidade. O fato das linhas apresentarem uma velocidade baixa 

significa que esse glóbulo está provavelmente se deslocando em um plano próximo ao do céu. Neste 

glóbulo, a razão [OIII]5007/H é menor que no glóbulo próximo ao eixo polar. Ela é ainda menos 

significativa quando comparada com a razão obtida das capas polares. Ambos glóbulos apresentam 

uma razão [O I]/H maior que outras regiões do envoltório (fator 5). A emissão em [O II] também é 

um fator 5 maior que a observada nas capas polares. A emissão [N II] 5755 é muito mais intensa 

nesses   glóbulos,   o   que   pode   significar   uma   região   de   maior   densidade,   já   que   essa   linha   é 

colisionalmente excitada. Como já foi sugerido por Williams (1994), as condições no interior das 

condensações são favoráveis às emissões de elementos neutros ou de baixo grau de ionização. O 

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V – O envoltório de HR Del

glóbulo observado nos painéis G e H da figura 51 apresenta as mesmas razões de linha. Há um 

outro glóbulo que aparenta estar em regiões externas ao envoltório no painel K da figura 51 .

5.2 – Análise espectral do envoltório resolvido

HR Del tem uma distribuição de matéria heterogênea como já foi evidenciado anteriormente. Com 

o objetivo de se verificar gradientes de abundância e de outros parâmetros físicos nas diferentes 

regiões do envoltório foram selecionadas regiões ao longo dos eixos polar e equatorial, como mostra 

a figura 60. A distância de cada   região até a fonte central foi estimada baseada em um modelo 

bipolar, onde cada lóbulo é uma esfera. Devido aos efeitos de projeção há contaminação de regiões 

mais ou menos distantes no volume considerado que não podem ser mensurados. Em cada região 

foram combinados os espectros das micro­lentes correspondentes e o espectro total foi utilizado nas 

análises. O sinal/ruído dos espectros combinados é maior que 20.

As regiões mais distantes da fonte central recebem um fluxo ionizante menor, já que o número de 

fótons decai com pelo menos r­2. Esse efeito pode ser visto na figura 61, que mostra a abundância de 

He++/H+ em função da distância à fonte ionizante. O decaimento no eixo polar é próximo a r­2  até 2 x 

1016 cm do centro. 

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V – O envoltório de HR Del

Figura 60 – Definição das regiões para análise espectral no envoltório de HR Del.

O decaimento no eixo equatorial é mais intenso, mostrando que essa região é menos ionizada. As 

barras de erro foram obtidas a partir da variação da razão dos coeficientes de recombinação para a 

transição H e He II 4686 em função da faixa de temperaturas e densidades do envoltório.

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V – O envoltório de HR Del

Figura 61 – População de He++ ao longo dos eixos polar e equatorial.

Para as regiões com distância maior que 2 x 1016 cm a fração de He++ parece permanecer constante 

até as bordas do envoltório. A diluição do campo de radiação com a distância é acompanhada por 

uma diminuição da densidade. A diminuição da população de He++ com a distância indica que as 

estimativas de distância das regiões escolhidas na figura 60 são razoáveis. A constância de He++/H 

tamém pode ser explicada pelo valor equivalente de distância das 3 regiões mais externas do eixo 

polar. A figura 62 mostra a abundância de He+, He++ e He/H nos dois eixos principais do envoltório.

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V – O envoltório de HR Del

Figura 62 – Abundâncias de He+ (vermelho), He++ (preto) e nHe/nH (verde) para o eixo polar (esquerda) e  equatorial (direita)

No   eixo   equatorial   a   abundância   de   He   correspondente   à   região   azul   do   espectro   tem   um 

comportamento   uniforme,   oscilando   dentro   das   incertezas   ao   redor   de   0,21.   Na   região 

correspondente ao espectro desviado para o vermelho, a abundância obtida entre 2x1016 cm e 4x1016 

cm é   ligeiramente menor (0,17). No eixo polar, as regiões correspondentes às capas polares em 

ambos lóbulos do envoltório apresentam uma estimativa menor para a abundância de He (0,15). 

Como as simulações do capítulo 3 demonstraram, a presença de condensações pode causar uma 

determinação de abundância subestimada para o caso de hélio. No interior das condensações pode 

haver   hélio neutro que não emite. Esses resultados indicam que estas regiões, como mostram os 

mapas de linhas, tem muitas condensações. Caso as densidades nessas regiões foram muito maiores, 

a correção devido a excitação colisional levaria a valores de abundância ainda menores. O efeito da 

temperatura   eletrônica   local   nos   coeficientes  de   recombinação  das   linhas  de    HeII,  HeI   e  H

utilizadas nas estimativas é pequeno, menor que 5% entre 5000K e 10000K. Como nos cálculos 

para cada íon de hélio utiliza­se a razão dos coeficientes, a variação causada pela temperatura nos 

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V – O envoltório de HR Del

coeficientes   fica  diluída,  mantendo  o  quociente  aproximadamente  constante.  Assim,  a  variação 

obtida nos valores de He/H ao longo dos eixos do envoltório (~30%) pode significar que o efeito das 

condensações nas estimativas é mais intenso nas regiões com mais glóbulos, ou alternativamente 

que há um gradiente de abundâncias na direção radial. Modelos teóricos de erupção preveem que 

após a erupção há queima de H hidrostática que pode durar anos no caso de anãs brancas pouco 

massivas (Yaron et al.  2005). O material ejetado inicialmente devido à  erupção deve ser menos 

enriquecido (camadas mais externas do envelope) que o ejetado posteriormente durante a fase de 

ejeção contínua. Neste caso as regiões centrais teriam uma abundância ligeiramente maior que as 

regiões  mais   externas.  Os   resultados  parecem  ter   essa   tendência,  apesar  de  que  a  presença  de 

condensações pode causar o mesmo efeito.

A abundância de oxigênio e seus íons também foi analisada ao longo dos eixos do envoltório. A 

figura 63 mostra a variação das populações de O++, O+ e O0 ao longo dos eixos polar e equatorial.

Figura 63 – População de O0  (verde), O+  (vermelho) e O++  (preto) ao longo dos eixos polar (esquerda) e  equatorial (direita).

Pode­se observar que a fração da população de O+ nas regiões equatoriais é de 90 %, enquanto que 

nas regiões polares é  50%. Esta é  mais uma evidência de que as regiões equatoriais são menos 

ionizadas que as polares. A população de O0  é muito pequena em todo o envoltório. As regiões 

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V – O envoltório de HR Del

centrais parecem mostrar uma diminuição da população de O+ e O++ e como se observaram linhas de 

OIII de recombinação, as regiões mais internas a 2 x 1016 cm devem ter uma população crescente de 

O+3. Além disso, na distância de 2 x 1016  cm, a população de He++  também decai, o potencial de 

ionização do He+ é de 54,9 eV, quase idêntico ao potencial de ionização do O+2 ,indicando que essa 

distância é um limite de ionização nessa faixa de energia. A figura 64 mostra a comparação entre as 

abundâncias somadas dos íons obtidos nos dois eixos principais.

Figura 64 – Abundância de O++,O+,O0/H+ nos eixos polar (preto) e equatorial (vermelho). 

Apesar das diferenças de iluminação entre as duas regiões, a abundância parece ser equivalente. A 

uma distância de aproximadamente 3 x 1016 cm tem­se o valor máximo para ambos os eixos. Esse 

valor foi o estimado como o valor da abundância de oxigênio para o envoltório. A diminuição dos 

valores de abundância nas regiões centrais   (d < 2x 1016 cm) nos dois eixos evidenciam que deve 

haver uma população de íons O+3. O fato do pico dos valores de abundância coincidirem com as 

regiões com mais condensações não deve ser casual. Os cálculos de modelos com condensações 

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V – O envoltório de HR Del

mostrados no capítulo 3 indicam que as estimativas de abundância de oxigênio são superestimadas 

na presença dos glóbulos. O decaimento da abundância nas regiões mais distantes no eixo polar é 

curiosa, o que pode indicar uma dimimuição da abundância na direção radial. Além disso o pico da 

população de O+ também ocorre nas regiões das condensações. Não há um aumento correspondente 

das emissões em OI nas regiões externas de forma que a abundância se mantenha constante. Mas há 

a possibilidade de no caso das linhas de [OI] que são excitadas colisionalmente, os elétrons das 

regiões mais externas não terem energia suficiente para excitar os átomos de oxigênio neutro.

Hummer & Stoney (1987) obtiveram a razão H/H  para uma grande grade de temperaturas e 

densidades.   Para   as   condições   típicas   em   novas   antigas,   considerando­se   um   intervalo   de 

temperatura de 1000K a 12500K e densidades entre 102­105 cm­3 a razão H/H varia de 2,9 a 3,7 

onde os valores maiores correspondem à regiões de menor densidade. No espectro de HR Del a 

linha de H está combinada com as linhas de [N II] devido ao deslocamento Doppler causado pelo 

envoltório em expansão. A figura 65 mostra o comportamento da razão H+ [N II]/H nos eixos 

do envoltório.

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V – O envoltório de HR Del

Figura 65 – Razão H + [N II]/Hao longo dos eixos polar (preto) e equatorial (vermelho).

A razão das linhas na região central é de ~ 3 enquanto que nas regiões das condensações das regiões 

equatoriais está entre 4 e 6. Nas regiões polares a razão dessas linhas chega a 10 nas capas polares. 

O comportamento das linhas de [N II] parece ser similar ao das linhas nebulares de [O III], com 

uma emissão muito mais intensa na direção polar e nas condensações. Pelo fato de não ser possível 

isolar com precisão as contribuições do nitrogênio, não foram calculados as abundâncias dos íons de 

nitrogênio. O decaimento da emissão [N II] com a distância não é acompanhado por um aumento 

correspondente na emissão de linhas de NI, como por exemplo [NI] 5200, caso a abundância seja 

constante. Como no caso da linha [O I], a emissão [N I] depende de uma excitação do átomo neutro, 

que pode não ser eficiente.

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V – O envoltório de HR Del

5.3 – Modelos de fotoionização do envoltório de HR Del

5.3.1 – Modelos esféricos  sem condensações e parâmetros básicos

Modelos simples com simetria esférica e sem condensações foram calculados com o objetivo de se 

explorar as condições físicas da nebulosa e parâmetros da fonte ionizante. Todos os cálculos foram 

realizados através do código CLOUDY 6.02 (Ferland,  2005).  Os parâmetros da fonte  ionizante 

foram delimitados pelas observações no UV feitas pelo satélite IUE entre 1979 e 1992. O espectro 

UV obtido em 1979 e 1992 estão na figura 11.

A partir desses dados, Selvelli e Friedjung (2003) obtiveram que o contínuo teve um decaimento de 

20% enquanto o fluxo das linhas decaíram de 35% (He II 1640) a 55% (CIV 1549) no intervalo das 

observações. Utilizando essa taxa de decaimento para as linhas, o fluxo delas foi escalonado para a 

data de observação em junho de 2002. Os valores obtidos foram utilizados como limites superiores 

para   os   fluxos   nas   linhas  dos   modelos   calculados.  A   partir   disso   foi   possível   limitar   o   valor 

máximos de luminosidade para a fonte central, log L < 36,3 erg.s­1,   utilizando como distância o 

valor obtido da análise espectral, 850 pc. A forma do contínuo ionizante adotada nos cálculos foi de 

uma atmosfera de alta gravidade (log g = 7­8), a partir das tabelas de Rauch (2003) em uma faixa de 

temperatura de 50000K a 190000K.

Alguns parâmetros do envoltório foram obtidos da análise espectral apresentada nos itens 5.1 e seus 

sub­itens e no item 5.2. As abundâncias de nitrogênio e carbono utilizadas nos cálculos são aquelas 

obtidas por Tylenda (1978) e Sanyal (1972). Os parâmetros de entrada dos modelos estão na tabela 

13. As abundâncias foram mantidas constantes nos cálculos, assim como a geometria do envoltório. 

Os  parâmetros   livres   são a   temperatura  e  a   luminosidade  da   fonte  central  e    fc  e  a  massa  do 

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V – O envoltório de HR Del

envoltório.  Nos modelos homogêneos, as dimensões do envelope esférico foram definidas pelas 

velocidades de expansão  mínimas e máximas obtidas  dos dados espectrais (entre 300 e 560 km.s­1). 

O parâmetro , (0,9) que descreve o perfil de densidade da componente difusa, foi obtido a partir do 

mapa de linha de H e seu decaimento em função da distância aproximada à fonte central. Os fluxos 

das linhas mais intensas medidas na região nebular foram utilizadas como vínculo para a estimativa 

do ajuste dos modelos. Em um primeiro momento o ajuste foi comparado com os dados através do 

2, descrito no item 2.3. Os modelos com 2 semelhantes foram analisados utilizando como critério 

o ajuste das linhas de hélio I e II, linhas de íons de baixa ionização, como [OI], [NI], e [O II] e o 

ajuste da razão HeII 4686/[O III]5007.

Tabela 13 – Parâmetros de entrada dos modelos de fotoionização do envoltório de HR Del.

Tabela 13  – Observações(a) – Fração de massa condensada(b) – Abundâncias de He, CNO e Ne são diferentes da solar(c)  ­ A partir da análise dos mapas de linhas(d)  – Densitdade relativa à componente difusa com perfil r­ (e) – Velocidade máxima e mínima considerando i = 40o (f) – Índice obtido dos mapas de linhas para a componente difusa

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Model – entradasParameter Intervalo Unidade obs.

fc 0 – 0.9 (a)massa envoltório 0.01 – 30

He -0,67 log(He/H) (b)C -3.4 – -3.0 log(C/H)N -2.5 – -2.0 log(N/H)O -4.5 – -2.5 log(O/H)

tamanho glóbulos 14 – 16 log d (cm) (c)densidade glóbulo 2 – 100 (d)

raio interno 1 – 4raio externo 4 – 6

velocidade envoltório 550-300 km/s (e)índice radial -0,9 bkg (f)

Central SourceLuminosidade 35 – 37Temperatura 50 – 190

Gravidade 7 – 8

10-4 Msun

1016 cm 1016 cm

log erg.s-1

104 Klog(g) cm.s-2

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V – O envoltório de HR Del

Os modelos homogêneos falharam em reproduzir  simultaneamente algumas razões,  como   HeII 

4686/[O III]5007, He I 5876/ H e [O II]7325/H. O modelo de melhor ajuste tem como parâmetros 

da fonte central uma temperatura de 61000K e log L = 36 erg.s­1. A massa total do envoltório foi de 

1,7  x  10­3  Mʘ  e  a   faixa  de  densidades  está   entre  400 e  1500 cm­3.  Esse  modelo   foi  capaz  de 

reproduzir as razões [O III]5007/H e HeI 5876/H observadas, mas não conseguiu reproduzir  He 

II4686/H, [O II]7325/H  e [O I] 6300/H. A razão [O II]7325/H  observada é duas ordens de 

grandeza maior que a obtida pelos modelos, a razão [O I]6300/H  tem uma discrepância ainda 

maior.  Esses  modelos  homogêneos  servem de  parâmetro  de  comparação para  os  modelos  com 

condensações apresentados a seguir. A tabela 14 mostram as razões de linhas obtidas pelos modelos.

5.3.2 – Modelos com condensações e geometria bipolar do envoltório

Os mapas de linhas mostram um envoltório bipolar e muito estruturado. Há várias regiões onde há 

condensações de matéria. O espectro de HR Del apresenta emissão em [O I] 6300,6364 e a razão 

dessas linhas indica que a profundidade óptica na linha é ~1. A razão de linha [OIII]5007/4959 é 

próxima de 3:1 que é  a   razão entre  as  probabilidades  de  transição.  Assim,  a  existência de um 

emissão   oticamente   espessa   de   [OI]   e   oticamente   fina   em   [O   III]   indica   uma   grande 

heterogeneidade do envoltório.

Para se calcular um modelo de fotoionização para HR Del mais realista é preciso uma descrição 3­D 

do   envoltório.   Os   modelos   utilizam   a   geometria   bipolar,   como   descrita   no   capítulo   2,   com 

parâmetros geométricos obtidos dos mapas de linhas apresentados nas figuras 50 e 51. O código 

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V – O envoltório de HR Del

RAINY3D foi utilizado para administrar os cálculos 1­D do código CLOUDY. 

Os parâmetros que descrevem as condensações foram  foram estimados a partir dos mapas de linhas 

e  da expressão analítica  de Shara (1981).  Apesar  da  limitação na resolução espacial  dos dados 

(0,5”), foi possível obter uma distribuição de tamanhos e densidades relativas das condensações. A 

expressão de Shara indica que o tamanho máximo das condensações (devido ao efeito Rayleigh­ 

Taylor)  para  uma nova   lenta  é   da  ordem de  1% do   raio  do  envoltório.  A  figura  66  mostra   a 

distribuição de tamanhos obtida a partir dos mapas de linha e um ajuste linear e em lei de potência.

Figura 66 – Distribuição do tamanho dos glóbulos e ajustes linear e lei de potência.

A distribuição de tamanhos utilizada é  uma primeira aproximação,  já  que há  uma limitação da 

resolução espacial  e  um glóbulo considerado grande pode na verdade ser  composto por  outros 

menores  não  resolvidos.  Além disso,   se  os  parâmetros  que descrevem as  condensações   fossem 

deixados livres, haveriam problemas nos tempos necessários para completar os cálculos, já que o 

tempo de CPU para apenas um modelo com condensações varia de 24 até 96 horas.

A partir  dos mapas da figura 51 foi obtido que o contraste de densidade entre as regiões mais 

brilhantes em H e suas redondezas é de 10. A deconvolução por uma PSF gaussiana instrumental 

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V – O envoltório de HR Del

sugere que o contraste de densidade pode ser 16 com a região difusa. Os cálculos hidrodinâmicos de 

Porter et al. (1998) mostra que o contraste de densidade no início da ejeção em um dado raio é da 

ordem   de   20,   enquanto   que   pode   chegar   a   64   quando   comparado   com   as   regiões   difusas.   A 

sobrevivência dos glóbulos em envoltórios de novas não é conhecida, mas estudos em nebulosas 

planetárias (Millema et al. 2005) mostram que as condensações podem sobreviver por dezenas de 

anos. A própria imagem do envoltório de HR Del e de outros envoltórios de novas, como GK Per, 

que tem mais de 100 anos comprovam que as condensações podem sobreviver por longos períodos. 

O modelos do envoltório é composto por dois lóbulos em forma de cascas esferas, unidos de forma 

que a razão axial  seja  a mesma que a observada (veja  figura 17 no capítulo 2).  A espessura e 

dimensão foram definidas utilizando a distância de 850 pc para a nova. As estruturas observadas em 

[O   III]   e   [N   II]   foram   adicionadas   no   interior   de   cada   lóbulo   esférico.   A   distribuição   das 

condensações foi definida pelo deslocamento Doppler no espectro de cada estrutura. Por exemplo, 

no lóbulo deslocado para o azul haviam glóbulos com maior deslocamento que foram posicionados 

na região mais  próxima do observador,  enquanto que as condensações  com deslocamento mais 

próximo do comprimento de onda de repouso da linha considerada foi posicionado do lado mais 

distante do observador do respectivo lóbulo. Além disso, a emissão em [O III] é maximizada em 

uma faia de distância entre 2­4 x 1016 cm da fonte central e a distribuição dos glóbulos respeitou esse 

intervalo de distância.  O interior dos lóbulos foi ainda preenchido por uma componente difusa, 

obedecendo uma lei de potência do tipo r­. Com a geometria fixada, foram variadas a massa total 

do envoltório (1 x 10­4 M ʘ a 3 x 10­3M ʘ) e a fração de massa condensada (0,1 – 0,7).

Com isso o contraste de densidade média das condensações variou de 3 a 50 vezes a componente 

difusa. Nesse modelo o tamanho das condensações variou de 1014.5 cm  a 1016 cm.

O modelo de melhor ajuste obteve uma   fonte central de 63000K e log L = 35,5 erg.s­1. A massa 

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V – O envoltório de HR Del

total do envoltório é de 9 x 10­4 Mʘ  ,   a temperatura eletrônica média de 5900K,   densidade entre 

400­6000 cm­3  e fc = 0,56 (ver tabela 14). A presença de condensações no envoltório melhorou 

significativamente as razões de linha proveniente dos elementos de baixa ionização. A linha de [N 

II]   teve um comportamento  adequado,  com intensidade  comparável  a  H,  muito melhor  que o 

obtido pelo modelo homogêneo. Mesmo para valores de fc menores, as intensidades de [N II]

6548,6584 foram da ordem da observada. Em um modelo com condensações mais densas, (20­50 

vezes a componente difusa), e  fc  alto resulta uma emissão menor de [N II] já que o aumento na 

densidade (até 10000 cm­3) pode causar a desexcitação colisional e/ou  diminuir a população de N+. 

Modelos  com condensações  menos densas,   (3­15 vezes  a  componente difusa),  produziram uma 

emissão [N II] maior. O aumento da massa total do envoltório também produziu um aumento da 

emissão [N II], já que com a geometria fixa, isso implica em um aumento da densidade.

Os glóbulos também aumentaram a emissão total de H em relação aos modelos homogêneos com 

os mesmos parâmetros. Um aumento da emissão por um fator ~3 foi obtido. Isso resulta em um 

envoltório menos massivo para reproduzir o fluxo H observado (M = 9 x 10­4 Mʘ). 

Os modelos com condensações  também conseguiram reproduzir  a   razão [O II]  7325  /H,  com 

intensidades entre 60 e 100% do observado. A razão [O I] 6300/H é muito mais próxima, com 

10% da intensidade observada em HR Del. Mas os modelos de fotoionização sozinho não consegue 

explicar as intensidades observadas.

O problema do ajuste da razão [O III]5007/HeII 4686 persiste nos modelos com condensações, 

sendo que o ajuste da emissão de uma das linhas acarreta em parâmetros distintos para a fonte 

central.  Por exemplo, se a razão He II 4686/H  for ajustada, os parâmetros da fonte central são 

temperatura de 92000K e luminosidade de log L = 35,5. Mas para essa configuração a emissão [O 

III] 5007 é 10 vezes a observada e seu ajuste fica inconsistente com as abundâncias de oxigênio 

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V – O envoltório de HR Del

observadas. Uma família de soluções foi obtida para log (O/H) = ­4.3 mas essa abundância é  2 

ordens   de   grandeza   menor   que   o   medido.   As   abundâncias   maiores   de   oxigênio   produzem 

envoltórios com menor temperatura eletrônica.

O comportamento da razão He II 4686/ He I 5876 também foi observado na grade de modelos a fim 

de se obter alguns parâmetros físicos relevantes. Como esperado, essa razão de linhas tem forte 

dependência com a temperatura e a luminosidade da fonte central e também com fc. Temperaturas 

e/ou   luminosidades   mais   altas   aumentam   o   valor   da   razão   das   linhas   devido   ao   aumento   da 

ionização do He+. Um aumento de fc ou da densidade diminui a população de He++ devido a menor 

eficiência da ionização. Por exemplo para fc = 0,3 a razão He II 4686/ He I 5876 é 50% menor que 

nos modelos homogêneos com as mesmas configurações. 

5.3.3 – Modelos com fonte ionizante extensa com geometria de disco.

A ionização não esférica de remanescentes de novas foi primeiramente sugerido por Petitjean et al. 

(1990) e Gill & O'Brien (2000) para explicar algumas características do envoltório de DQ Her e FH 

Ser. Neste trabalho, foi simulada uma iluminação não esférica sendo a fonte ionizante um disco 

plano. Se ao menos parte da radiação ionizante vir da camada mais interna do disco de acréscimo, 

as regiões polares devem receber um fluxo radiativo maior que as regiões equatoriais. Esse efeito foi 

simulado considerando que a área aparente do disco varia conforme a posição angular no envoltório 

em relação ao plano do disco. Assim, nesses modelos a luminosidade da fonte ionizante varia de 

acordo   com   a   posição   do   envoltório   considerada,   mas   temperatura   permaneceu   constante.   A 

luminosidade total do disco é equivalente ao das fontes pontuais, apenas o fluxo foi redistribuído de 

forma a ser mais intenso nas regiões polares. A geometria e outros parâmetros do modelo foram os 

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V – O envoltório de HR Del

mesmos dos modelos de fonte pontual e geometria bipolar.

Os cálculos mostram que esses modelos obtém uma descrição melhor da razão [O III]5007/ He II 

4686. O melhor ajuste foi obtido para uma temperatura de 65000K e log L = 36 erg.s­1. As regiões 

polares tem um fluxo de fótons aproximadamente 20 vezes maior que as regiões equatoriais. Por 

causa disso, a maior contribuição para o fluxo de He II 4686 vem dessas regiões, o que está de 

acordo com o mapa dessa linha visto na figura 53.  As emissões [O III]5007 também são mais 

intensas (5x) nas regiões polares, como observado nos dados de HR Del. A linha de [O II] 7325 e 

[OI] 6300 não mostraram variações significativas quando comparadas aos modelos de fonte pontual. 

O melhor modelo com fonte extensa tem uma componente difusa com densidade média de 400 cm­3 

e uma componente de glóbulos com densidade média de 2000 cm­3.  A densidade do envoltório 

variou de 200 a 6000 cm­3.  A região de menor densidade deve contribuir com a emissão He II 

enquanto que os glóbulos devem contribuir com a emissão [O III] e [N II]. 

O fluxo total em H não apresenta diferenças comparado ao modelo de fonte pontual. A fração de 

massa condensada do modelo foi de 0,7 que representa uma solução mais condensada que o modelo 

de fonte pontual.

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V – O envoltório de HR Del

Tabela 14 – Razões de linha observadas e dos modelos esférico e homogêneo (3a  coluna); com condensações e fonte ionizante pontual (4a coluna); com condensações e fonte extensa tipo disco  (5a coluna).

  * ­ Ambas linhas CIII e NIII .

** ­ Limites superiores para  [OIII]4363.

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Line ratio HR Del Esférico Pontual DiscoH I 6563/H I 4861 4,93 3,21 3,54 3,57

[OIII] 5007/H I 4861 1,85 1,82 1,91 1,5He II 4686/H I 4861 1,01 0,01 0,06 1,2He I 5876/H I 4861 0,18 0,22 0,19 0,18He I 5876/He I 7065 15,5 8,91 5,48 6,2He I 6678/He I 4922 0,2 3,54 3,54 3,55[OII] 7325/H I 4861 0,03 0,001 0,01 0,02[OI] 6300/H I 4861 0,03 0 0 0[NII] 6584/H I 4861 --- 0,03 1,25 1,45[NII] 6548/H I 4861 --- 0,01 0,42 0,48[NII] 5755/H I 4861 0,03 0,006 0,02 0,02C III 4649/H I 4861 0 0,002 0,005N III 4641/H 4861 0.17* 0 0,001 0,001

[OIII](4959+5007)/4363 4000** 2000 2280 2380He I 4922/ H I 4861 0,08 0,02 0,02 0,02

Temp WD (K) 61000 62000 6500035,5 35,5 36

Mean Te Shell (K) 6000 5900 5800fc shell 0 0,56 0,7

M shell (Msun) 1,75E-3 9,00E-4 9,00E-4

log (L) WD erg.s-1

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V – O envoltório de HR Del

5.4 – Discussão dos resultados para HR Del

5.4.1 – Morfologia do envoltório.

A espectroscopia 2D do envoltório de HR Del mostra muitas estruturas e duas componentes em 

forma   de   anel,   simétricas   em   relação   ao   deslocamento   Doppler   e   ao   centro   geométrico   do 

envoltório.  Esses  anéis   tem mesma dimensão e espessura  e  preservam a geometria  esférica  do 

envelope que estava na superfície da anã branca. Um modelo em forma de ampulheta foi proposto 

por Harman & O'brien (2003). A figura 51, painéis C e L mostram que há um anel de dimensão 

menor formado pela emissão [N II]. A forma esférica dos lóbulos indica que a ejeção inicial pode 

ter sido devido a ondas de pressão ou ondas de choque (Sparks, 1969). Mas a espessura da dessa 

estrutura indica uma baixa dispersão de velocidades, o que favorece uma ejeção inicial devido à 

ondas de pressão (Sparks, 1969). Esse tipo de ejeção seria afetada pela rotação da anã branca, dando 

uma forma bipolar ao envoltório. A ejeção contínua subsequente também é afetada pela rotação da 

anã branca, mas preenche uma região menor dos lóbulos. A curva de luz da erupção de HR Del 

apresentou dois picos principais, um em dezembro de 1967 e outro em maio de 1968 (Rafanelli & 

Rossini, 1978) o que pode indicar duas fases da ejeção.

A diferença na razão axial obtida nos mapas de H+[N II] (1,6) e de [O III] 5007 (1,95) já foi 

observada em HR Del (Harman & O'Brien, 2003) e outros envoltórios de novas, como DQ Her 

(Baade,   1940).  A   iluminação   não   esférica   pode   explicar   esse   comportamento   morfológico   em 

função da linha considerada, já que a emissão Balmer é menos afetada pela variação da ionização. A 

razão axial parece estar relacionada à classe de velocidade das novas, onde novas rápidas tem uma 

razão axial ~1 e novas lentas parecem ter uma razão axial maior. O que parece ser um efeito da 

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V – O envoltório de HR Del

interação da binária com o material ejetado, já que novas rápidas apresentam velocidades de ejeção 

maior que as novas lentas, minimizando o tempo de interação do material ejetado com a secundária.

Por outro lado, as abundâncias de nitrogênio nas regiões polares parecem equivalentes às da região 

equatorial, assim como as abundâncias em He. As altas emissões em [O III] e [N II] observadas nas 

capas polares sugerem também uma iluminação não esférica, onde o fluxo ionizante na direção 

polar é maior que na direção equatorial. A emissão He II decai mais rapidamente com a distância na 

direção equatorial. Todas as razões de linha observadas também indicam que há uma diferença na 

iluminação entre as regiões polares e equatoriais. Esse efeito aparentemente não está relacionado a 

classe de velocidade da nova e sim à presença de um disco de acréscimo (e provavelmente à altas 

taxas de acréscimo de matéria).

O efeito da orbita da secundária e da rotação do envelope acretado foi modelado por Porter et al. 

(1998) e os resultados dos cálculos mostra que em novas lentas há a formação de capas polares e 

que o envoltório pode ter geometria prolata­bipolar em função da rotação do envelope. O envoltório 

de HR Del mostra ambas estruturas, mas os modelos não são capazes de reproduzir  os lóbulos 

esféricos.  Além  disso  o   envoltório   de  HR Del   não   apresenta   os   anéis   tropicais   presentes   nos 

modelos.   A   emissão   mais   intensa   que   aparece   nas   regiões   equatoriais   estão   relacionadas   a 

superposição   na   linha   de   visada   das   componentes   dos   dois   lóbulos.   Talvez,   simulações 

hidrodinâmicas 3­D possam reproduzir melhor o envoltório de HR Del. Ou se forem consideradas 

ejeções distintas, uma devido a expansão inicial do envelope (Sparks, 1969) e outra devido a ejeção 

acelerada pela opacidade de Fe II (Bath & Shaviv, 1976 e Kato & Hachisu, 1994). Gill & O'Brien 

utilizaram os modelos de Porter et al. (1998) para gerar perfis de linha em função da geometria e da 

inclinação do envoltório em relação ao ângulo de visada. Nenhum perfil de linha obtido desses 

modelos se assemelha ao perfil de H de HR Del. O perfil de [O III]4363 obtido em outubro de 

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V – O envoltório de HR Del

1969 (Rafanelli & Rossino 1978) é semelhante ao perfil H  obtido do espectro de nossos dados, 

com 4 picos de mesma intensidade.  O perfil   [O III]   teve uma evolução com o tempo, onde as 

componentes   de   baixa   velocidade   tiveram   sua   intensidade   diminuída   entre   as   observações   de 

1978­1980 (Küster & Barwing, 1988). As observações posteriores de Solf (1983) confirmam que a 

intensidade das componentes de baixa velocidade diminuíram em relação às medidas anteriores. Em 

nossos dados não observamos a emissão da componente de baixa velocidade, apenas um perfil de 

pico duplo. Isso indica que a medida que a anã branca foi esfriando, o disco de acréscimo foi se 

tornando a principal fonte ionizante.

A região das capas polares parece estar contida na estrutura dos lóbulos e está mais ionizada. As 

estimativas   de   velocidade   de   expansão   sugerem   que   as   estruturas   externas   tem   velocidade 

ligeiramente maior que as capas polares. 

Observações recentes da última erupção da nova recorrente RS Oph (2006) de 13 a 155 dias após o 

máximo visual indicam que o material ejetado tem geometria bipolar (O'Brien et al. 2006 e Bode et 

al. 2007). Os modelos para o envoltório de RS Oph desses autores é surpreendentemente similar ao 

de HR Del (figura 2 de Bode et al. 2007). A geometria do envoltório é semelhante apesar desses 

dois sistemas apresentarem muitas diferenças, como a curva de luz (nova muito lenta x nova muito 

rápida), a natureza da secundária (anã na sequência principal x gigante), massa ejetada (102 mais 

massa   na   nova   lenta)   velocidade   de   ejeção   (~10   vezes   mais   veloz   na   nova   rápida).   A   única 

semelhança nos dois sistemas pode ser a rotação da anã branca elevada.  Observações do envoltório 

de RS Oph com a técnica de espectroscopia 2D pode revelar se existem capas polares e outras 

estruturas como observadas no envoltório de HR Del.

Porter et al. (1998) sugerem que o momento angular do material acretado, quando cai na superfície 

da anã branca, cause uma mistura induzida pelo atrito ou “shear­induced mixing” nas regiões do 

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V – O envoltório de HR Del

plano orbital. Se esse processo for mais importante que a difusão de partículas como mecanismo de 

mistura, deveria haver gradientes de abundância entre as regiões polares e equatoriais do envoltório. 

Os  dados  da   espectroscopia  2D de  HR Del  mostram que  não  há   evidências   de  gradientes  de 

abundância entre as regiões polares e equatoriais, como esperado pelo shear­induced mixing. Uma 

anã branca com rotação alta, a uma fração significativa da velocidade Kepleriana na superfície da 

anã branca pode inibir o shear­induced mixing. Gradientes de abundância na direção radial, como 

indicam os  dados,   se  deve   a  maior   eficiência   da  mistura   e   enriquecimento  nas   camadas  mais 

interiores do envelope. As camadas mais externas e superficiais do envelope são ejetadas primeiro, 

na  primeira   etapa  da   erupção.  Na   ejeção   contínua   subsequente,   o  material   das   camadas  mais 

profundas do envelope são ejetadas. O material remanescente na anã branca continua a queima de 

hidrogênio e o enriquecimento de hélio pode ser de até 5 a 10% para anãs brancas de 0,65 Mʘ até 

50% em anãs brancas de 1,4 Mʘ (Yaron et al. 2005). 

5.4.2 – Modelos de fotoionização

Os modelos de fotoionização com envoltórios homogêneos e simetria esférica não foram capazes de 

reproduzir   o   espectro  do   envoltório   de  HR Del.  O  maior   problema   foi   ajustar   a   emissão  dos 

elementos de baixa ionização e neutros, como as linhas de [O I], [O II] e [N II]. Essa linhas são 

emitidas   de   regiões   mais   densas   e   neutras   que   só   podem   existir   em   um   envoltório   com 

condensações. Como esperado, os modelos com condensações foram capazes de obter um ajuste 

muito  melhor  para   essas   linhas.  A  presença  de  condensações  o   envoltório   também aumenta   a 

emissão H comparado aos modelos homogêneos de mesmos parâmetros. Com isso a estimativa da 

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V – O envoltório de HR Del

massa do envoltório nos modelos com condensações é 50% menor do que os modelos homogêneos. 

Outro efeito das condensações é  diminuir  a razão He II 4686/ H,  por causa da diminuição da 

eficiência da ionização do He+. A emissão He II vem das regiões menos densas do envoltório, pois 

como mostra a figura 53, essa emissão não está correlacionada às capas polares observadas em [O 

III]   e   [N   II]   ou   à   outras   condensações.  Apesar   disso,   a   emissão  He   II   gera   uma   imagem de 

envoltório alongada, como a de [O III],  consistente com uma iluminação não esférica.

Os  envoltórios   com condensações   falham em  reproduzir  a   razão   [O  III]5007/    He  II  4686.  A 

presença das condensações diminui a emissão de He II e aumenta a emissão [O III] nas condições 

de densidade do envoltório de HR Del. A dificuldade de se ajustar a razão [O III]5007/  He II 4686 

já ocorreu com outas novas, como V1974 Cyg (Vanlandingham et al. 2005). Esses autores também 

utilizaram o código CLOUDY e o melhor ajuste foi obtido com um modelo de duas componentes, 

uma de baixa e uma de alta densidade combinadas, mas essa razão de linhas não foi ajustada.

Os modelos com fonte ionizante extensa na forma de disco obteve um ajuste melhor para a razão 

[OIII]5007/He II 4686. A linha de [O III] é menos afetada pela variação de luminosidade do que a 

linha de He II. Nos modelos e melhor juste,  a maior contribuição dessas linhas para seu fluxo total 

vem das regiões polares. Os modelos não levam em consideração os efeitos de escurecimento de 

bordo do disco, que pose ser significativo no UV (Diaz et al. 2005). Os flares do disco e o efeito de 

seu   sombreamento  nas   regiões   equatoriais   também não   são   considerados  pelos  modelos.  Essa 

aproximação está ligada a falte de transferência não radial da radiação difusa no envoltório.

Embora os modelos de fotoionização possam explicar a maior parte das características espectrais, há 

outros mecanismos que podem contribuir  para o espectro observado. Contini & Prialnik (1997) 

mostraram que algumas características espectrais da nova recorrente T Pyx podem ser explicadas 

pelo mecanismo de excitação por choques. Esses autores obtiveram que a interação por choque das 

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V – O envoltório de HR Del

diversas componentes do envoltório podem excitar as regiões neutras e pouco ionizadas que podem 

aumentar a emissão de  [O I], [O II] e [S II] por exemplo. O envoltório de HR Del mostra que há 

componentes com diferentes velocidades, além de uma componente difusa que parece se estender 

além do envoltório em imagens obtidas pelo telescópio espacial Hubble (Harman & O'Brien 2003). 

Além disso, Selvelli e Friedjung observaram perfis P­Cygni no UV que indicam velocidades de até 

5000 km.s­1. Modelos de ventos em disco de  acréscimo obtidos por Puebla et al. (submetido ApJ), 

requerem que de 2 a 10% da matéria acretada seja perdida por ventos.

As observações UV indicam que a taxa de acresção de HR Del é alta ~10­8 Mʘ .ano­1 e que o disco 

de acréscimo desse sistema ocupa uma boa fração do lóbulo de Roche da primária (Selvelli  & 

Friedjung, 2003). Além disso, o espectro de HR Del tem emissões significativas de [OI] e [S II] que 

não são explicadas pelos modelos de fotoionização. Um modelo detalhado que inclua a excitação 

por  choques  exige  a  obtenção de um espectro de  bom sinal/ruído para  as   linhas  excitadas  por 

choques   combinada   com   uma   medição   precisa   das   velocidades   das   diversas   componentes   do 

envoltório.

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VI ­ Conclusões

6 ­ Conclusões 

6.1 – RAINY3D e o efeito das condensações nos modelos de fotoionização

O código RAINY3D é  capaz  de  construir  envoltórios  de  novas  com condensações  e  combinar 

cálculos   1D   do   código   CLOUDY   para   obter   um   modelo   de   fotoionização   pseudo­3D   de 

remanescentes de novas. O método de combinação das contribuições de cada ângulo sólido, devido 

à  geometria utilizada na construção do envoltório, limita a aplicação do método ao diagnóstico de 

transições oticamente finas. 

Os   mecanismos   de   formação   e   sobrevivência   das   condensações   não   são   compreendidos   e 

simulações feitas com o código RAINY3D trazem informações importantes sobre a influência das 

condensações no espectro dos remanescentes. A fração de massa condensada e a distribuição de 

tamanhos e densidades dos glóbulos afeta as razões de linha e podem gerar diagnósticos físicos e 

químicos imprecisos. Williams (1991) mostrou que os disgnósticos são mais precisos durante a fase 

nebular das novas, mas os cálculos deste estudo mostraram que mesmo em envoltórios de baixa 

densidade as condensações afetam as análises espectrais significativamente.

A formação de condensações no envoltório das novas envolve fenômenos relacionados à erupção, 

interação na binária  e  propriedades  da  anã  branca.  As condensações  podem ser  uma forma de 

restringir os modelos de detonação termonuclear e expansão do envoltório. O esforço para observar 

envoltórios de novas resolvidos através de grandes telescópios e espectroscopia 2D pode elucidar a 

distribuição de tamanhos e densidade das condensações.

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VI ­ Conclusões

6.2 – Envoltório de V842 Cen

As observações  espectroscópicas  de V842 Cen são  limitadas.  Ainda assim obteve­se mapas  de 

linhas   que   mostram   um  envoltório   aparentemente   esférico   e   com   duas   componentes.   Há   uma 

componente rápida observada nas linhas de Balmer (v = 1300 km.s­1) e uma lenta (v = 450 km.s­1), 

observada nas linhas de oxigênio. A partir das linhas de Balmer se obteve uma distância de 900(80) 

pc para a nova, uma distância compatível foi obtida a partir das linhas de oxigênio (850(80) pc). 

A componente de baixa velocidade aparenta ser mais estruturada e heterogênea que a componente 

rápida. A ejeção em duas fases pode explicar essa característica do envoltório. A ejeção inicial por 

ondas  de  pressão   tem grande  dispersão  de  velocidades,   gerando  um envoltório   com espessura 

significativa,  como observado em V842 Cen. O material  remanescente na anã  branca é  ejetado 

como ventos acelerados por linhas. Os modelos de vento espesso de Yaron et al. (2005) indicam 

uma erupção com características semelhantes à de V842 Cen pode ocorrer em uma anã branca de 

0,65 Mʘ  .  Entretanto, os modelos não reproduzem a amplitude da erupção e as abundâncias de 

metais observados. As determinações de massa através da luminosidade de H, modelos de erupção 

e por modelos de fotoionização são compatíveis (2­4 x 10­4 Mʘ). 

A geometria esférica do envoltório tem como possíveis contrapartidas a alta rotação da anã branca e 

a presença de grãos de poeira de dois  tipos simultaneamente.  Essas evidências apontam para a 

existência   de   condições   heterogêneas  na  detonação   termonuclear,   o   que  geraria   um envoltório 

assimétrico.  Mas deve­se considerar  que os  modelos  de detonação  termonuclear  não  levam em 

conta os efeitos de um campo magnético intenso na geração de heterogeneidades no envelope. Um 

eventual envoltório axissimétrico deveria ter seu eixo próximo da direção de visada.

As estimativas de abundância de hélio neste trabalho são superiores aquelas presentes na literatura. 

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VI ­ Conclusões

A utilização do espectro nebular com  contaminação da fonte central, dos trabalhos  anteriores pode 

subestimar os cálculos. Além disso, a influência das condensações também causa uma determinação 

subestimada da abundância He/H.

As linhas coronais de [Fe X] e [Fe XI] presentes no espectro são excitadas pelo contínuo UV e tais 

espécies   são   fotoionizadas   pelo   mesmo   contínuo.   A   presença   dessas   linhas   em   uma   nova 

“desligada” pode estar associada à acresção magnética.

6.3 – O envoltório de HR Del

A nova HR Del também foi observada com a técnica de espectroscopia 2D. Os mapas de linha e 

dados espectroscópicos forneceram uma distância de 850 pc para a nova. A velocidade de expansão 

das componentes polares é  de 560 km.s­1  enquanto as componentes equatoriais  apresentam 300 

km.s­1.   A   componente   mais   externa   do   envoltório,   obtida   a   partir   da   linha   H  mostra   uma 

velocidade de 630 km.s­1. 

A aparência oblata do remanescente, de razão axial 1,6, se mostrou na verdade ser bipolar. A análise 

cinemática indica que o envoltório é formado por dois lóbulos esféricos de mesmas dimensões e 

com deslocamento Doppler simétrico. A emissão mais intensa observada nas regiões equatoriais em 

H  se deve à superposição das componentes dos lóbulos na linha de visada. Os mapas de linhas 

revelam ainda que o envoltório é altamente estruturado, com a presença de capas polares. As capas 

polares são visualizadas nos mapas de [O III] e [N II] e aparentam estar em regiões mais próximas a 

fonte ionizante e portanto contidas na estrutura dos lóbulos esféricos. As condensações tem um 

contraste de densidade entre 3 e 16 vezes a emissão difusa circundante e sua população contem 

majoritariamente condensações pequenas.

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VI ­ Conclusões

O perfil das linhas de Balmer, com quatro picos de intensidade equivalente, é diferente do perfil de 

[O III],  com apenas dois picos. As observações anteriores mostram que o perfil [O III] teve as 

componentes de baixa velocidade diminuídas ao longo do tempo. As mesmas não foram detectadas 

nos   nossos   dados.   Isso   é   uma   indicação   que   a   ionização   nas   regiões   de   baixa   velocidade 

(equatoriais) tem uma diminuição substancial.  Esse cenário é  compatível com a iluminação não 

pontual do disco de acréscimo, que   se torna mais significativa à medida que a anã branca esfria. 

Todas as razões de linha obtidas corroboram com o cenário de um gradiente de iluminação entre as 

regiões polares e equatoriais.

Os gradientes de abundância esperados pelo modelo de shear­mixing não foram observados. Por 

outro lado, há evidência de uma diminuição das abundâncias de oxigênio e nitrogênio na direção 

radial. Essa diferença é esperada se observar quando a eficiência da mistura na base do envelope é 

maior do que nas camadas de sua superfície e como as camadas superficiais são ejetadas primeiro, o 

gradiente de mistura se preserva.

Os modelos de fotoionização foram construídos com geometria bipolar e as dimensões observadas 

nos mapas de linha. Somente os modelos bipolares e com condensações conseguiram reproduzir as 

linhas de elementos neutros ou de baixa ionização. Os modelos com fonte ionizante extensa na 

forma de disco obtiveram um melhor ajuste para a razão [O III]/He II, nesses modelos, a fração de 

massa condensada foi de 0,5­0,7. A massa do envoltório obtida com modelos com condensações foi 

de 9 x 10­4  Mʘ  ,  enquanto que os modelos teóricos de Yaron et al.  (2005) indicam uma ejeção 

máxima de 6 x 10­4 Mʘ para toda a grade de modelos. A massa obtida a partir da emissão H foi de 

1,2 x 10­3 Mʘ , mas pode ter sido afetada pela presença das condensações.  

A   exemplo  de  outras   novas,   os  modelos   de   fotoionização   sozinhos  não   conseguem explicar   a 

emissão de algumas linhas, como  por exemplo [O I]6300. Embora as condensações proporcionam a 

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VI ­ Conclusões

existência de regiões neutras, há a necessidade de outros mecanismos de excitação para essa linha. 

O choque entre as diversas componentes do envoltório e um vento proveniente ponto externo de 

Lagrange ou da secundária pode ser responsável pela excitação dessa linha.

O   fenômeno   nova   é   um   ótimo   laboratório   para   se   aprimorar   modelos   de   fotoionização.   As 

assimetrias na iluminação e na geometria dos envoltórios também estão presentes em outros objetos 

astrofísicos. O efeito dessas assimetrias nos diagnósticos físicos e químicos deve variar conforme o 

tipo de objeto, mas  torna evidente a necessidade de um estudo mais detalhado, tanto em relação às 

observações , quanto em relação aos modelos. 

6.4 – Perspectivas

As perspectivas de trabalho futuras seguem em duas frentes principais. A primeira frente se refere 

ao código RAINY3D. A atualização do código à nova versão do código CLOUDY é necessária para 

a disponibilização do código para a comunidade. Além disso, a disponibilização do código implica 

na construção de um website e de manuais de instalação e utilização voltados para o usuário final. A 

segunda   frente   está   relacionada  à   observações   com a   técnica  de  espectroscopia  bidimensional. 

Foram obtidos espectros bidimensionais de V842 Cen e RS Oph no primeiro semestre de 2010 no 

telescópio Gemini Sul com o IFU­GMOS. Os dados já estão disponíveis para tratamento e análise. 

Os dados de V842 Cen foram obtidos com baixa massa de ar, o que deve possibilitar uma análise 

melhor do envoltório. Ainda pode­se comparar os dados obtidos e 2010 com os obtidos em 2005 e 

se obter novos vínculos aos modelos de fotoionização. RS Oph tem um envoltório aparentemente 

similar ao de HR Del e estruturas semelhantes podem ser observadas com os dados. Os dados no 

óptico e observações em raios­X (colaboração) fornecerão os vínculos dos modelos. 

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