MAIS SAÚDE, MAIS FUTURO DIA MUNDIAL DO SONO O … · Ao longo dos anos, os distúrbios do sono...

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Ao longo dos anos, os distúrbios do sono têm vindo a adquirir uma importância primordial, preocupando doentes e especialistas nestas áreas. É o caso da equipa do Hospital de Saint Louis que tem procurado acompanhar a evolução nesta área da medicina. Saiba como juntamente com Conceição Gomes, Médica Coordenadora da especialidade de Pneumologia do HSLouis, e Ana Sofia Oliveira, Médica Pneumologista especialista na área do sono. O SONO É FUNDAMENTAL À VIDA” D e acordo com um estudo realizado em 2014 pela Oficina da Psicologia, 54% dos Portugueses inquiridos disseram sentir-se cansados depois de uma noi- te de sono e cerca de 45% admitiram não dormir bem devido ao stress, à ansiedade ou a momen- tos de depressão. Estes dados devem deixar-nos preocupados? Sim. Devemos sensibilizar e sinalizar as pertur- bações do sono, quer sejam manifestadas com cansaço físico e mental, agitação noturna, irri- tabilidade, falta de memória, sonolência diurna, humor deprimido e desempenho comprometido (erro, acidentes). No domínio dos distúrbios do sono, o Hospital de Saint Louis disponibiliza uma consulta es- pecializada de patologia do sono e estudos do sono. Qual o acompanhamento que procuram fazer em cada caso? Os distúrbios do sono têm vindo a adquirir uma importância crescente nos últimos anos, englo- bando diferentes doenças do sono. O Hospital de Saint Louis e a sua equipa têm acompanhado a evolução nesta área da medicina. A consulta efetuada por profissionais da especialidade com experiência e a realização de exames específicos permitem um acompanhamento do doente de forma individualizada e planeada. A avaliação em Consulta de Patologia do Sono é funda- mental, englobando uma cuidadosa interpreta- ção dos sintomas dos doentes. Nesta consulta, a informação complementar transmitida pelo companheiro/a é importante, já que muitas das alterações no sono ocorrem sem o doente ter perceção das mesmas. O estudo poligráfico do sono, realizado em ambulatório, é um exame que permite a identificação de distúrbios que se manifestam durante o sono, sendo o método de referência, nomeadamente do diagnóstico da síndroma de apneia do sono. Quais são os principais fatores de risco e conse- quências associados à privação do sono? Muitas doenças do sono são multifatoriais, isto é, uma pessoa pode ter várias causas de insónia ou doenças de sono concomitantes. Os fatores de risco como a “má higiene do sono”, associada a horários tardios ou irregulares de sono, os pro- blemas psicológicos de depressão ou ansiedade, a síndroma de apneia do sono, os distúrbios de movimentos nas pernas que provocam “inquie- tude” durante o sono, os problemas cardíacos ou pulmonares como a “falta de ar” podem afetar o ritmo do sono, causando também privação cró- nica do sono. Estes fatores de risco associados à CONCEIÇÃO GOMES ANA SOFIA OLIVEIRA privação crónica de sono são a principal causa de hipersonolência. Acarretam como consequên- cia um maior risco cardiovascular, de distúrbios metabólicos (diabetes), de acidentes automóveis (mesmo superior aos acidentes por excesso de álcool), de acidentes laborais e uma redução de taxa de sucesso escolar. Há quem considere a síndroma de apneia do sono uma patologia subdiagnosticada e pouco valorizada nos currículos de medicina, mas a verdade é que cada vez mais doentes procuram ajuda. Quais são os primeiros sinais de alerta? Face aos riscos de saúde que acarreta e impor- tantes repercussões, esta patologia tem sido, nos últimos tempos, mais divulgada alertando-se para a necessidade do diagnóstico precoce, no entanto, encontra-se ainda subdiagnosticada. Os principais sintomas são a roncopatia (ressonar), as apneias (paragens respiratórias durante o sono), a sonolência diurna excessiva, o cansaço ao des- pertar, a dificuldade de concentração, o défice de memória e as perturbações sexuais como a im- potência sexual. Quem sofre de um distúrbio do sono tende a atribuir o cansaço que sente ao longo do dia ao excesso de trabalho, não encarando o problema como uma doença que deve ser tratada. Existe um momento certo para ir a uma consulta do sono? A consciencialização do diagnóstico ou da sus- peita deste é o primeiro passo para o momento certo. Devemos dirigir-nos ao nosso médico para avaliar sinais e sintomas. Há quem defenda que tem havido alguma des- valorização do sono ao longo dos últimos anos, chegando-se ao extremo de se elogiar quem admite que não precisa de dormir muito para se sentir bem. Já não se privilegia as sete a nove horas de sono? O que há de errado? Cada indivíduo tem o seu relógio circadiário. Na atualidade ainda se desconhece a função exata do sono, porém é conhecido o seu poder regu- lador do organismo bem como a capacidade de corrigir desequilíbrios homeostáticos. O sono é fundamental à vida. A propósito do Dia Mundial de Sono, que men- sagem importa ser deixada aos nossos leitores? Dentro deste segmento de saúde, qual continu- ará a ser a sua postura enquanto profissional? É fundamental alertar para a importância da qualidade do sono face às atuais exigências do dia-a-dia na sociedade contemporânea em que vivemos. As consequências geradas pelas altera- ções dos hábitos do sono e o aumento da pre- valência dos distúrbios do sono elevam a impor- tância da sensibilização para os sinais e sintomas manifestados pelo doente de forma a possibilita- rem um diagnóstico precoce. Como profissional, considero que o acompanhamento rigoroso e a avaliação multidisciplinar são fundamentais para a diminuição do risco no doente. MAIS SAÚDE, MAIS FUTURO » DIA MUNDIAL DO SONO 89 MARÇO 2016

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Ao longo dos anos, os distúrbios do sono têm vindo a adquirir uma importância primordial, preocupando doentes e especialistas nestas áreas. É o caso da equipa do Hospital de Saint Louis

que tem procurado acompanhar a evolução nesta área da medicina. Saiba como juntamente com Conceição Gomes, Médica Coordenadora da especialidade de Pneumologia do HSLouis, e Ana

Sofia Oliveira, Médica Pneumologista especialista na área do sono.

“O SONO É FUNDAMENTAL À VIDA”

De acordo com um estudo realizado em 2014 pela Oficina da Psicologia, 54% dos Portugueses inquiridos disseram sentir-se cansados depois de uma noi-

te de sono e cerca de 45% admitiram não dormir bem devido ao stress, à ansiedade ou a momen-tos de depressão. Estes dados devem deixar-nos preocupados?Sim. Devemos sensibilizar e sinalizar as pertur-

bações do sono, quer sejam manifestadas com cansaço físico e mental, agitação noturna, irri-tabilidade, falta de memória, sonolência diurna, humor deprimido e desempenho comprometido (erro, acidentes).

No domínio dos distúrbios do sono, o Hospital de Saint Louis disponibiliza uma consulta es-pecializada de patologia do sono e estudos do sono. Qual o acompanhamento que procuram fazer em cada caso?Os distúrbios do sono têm vindo a adquirir uma

importância crescente nos últimos anos, englo-bando diferentes doenças do sono. O Hospital de Saint Louis e a sua equipa têm acompanhado a evolução nesta área da medicina. A consulta efetuada por profissionais da especialidade com experiência e a realização de exames específicos permitem um acompanhamento do doente de

forma individualizada e planeada. A avaliação em Consulta de Patologia do Sono é funda-mental, englobando uma cuidadosa interpreta-ção dos sintomas dos doentes. Nesta consulta, a informação complementar transmitida pelo companheiro/a é importante, já que muitas das alterações no sono ocorrem sem o doente ter perceção das mesmas. O estudo poligráfico do sono, realizado em ambulatório, é um exame que permite a identificação de distúrbios que se manifestam durante o sono, sendo o método de referência, nomeadamente do diagnóstico da síndroma de apneia do sono.

Quais são os principais fatores de risco e conse-quências associados à privação do sono?Muitas doenças do sono são multifatoriais, isto

é, uma pessoa pode ter várias causas de insónia ou doenças de sono concomitantes. Os fatores de risco como a “má higiene do sono”, associada a horários tardios ou irregulares de sono, os pro-blemas psicológicos de depressão ou ansiedade, a síndroma de apneia do sono, os distúrbios de movimentos nas pernas que provocam “inquie-tude” durante o sono, os problemas cardíacos ou pulmonares como a “falta de ar” podem afetar o ritmo do sono, causando também privação cró-nica do sono. Estes fatores de risco associados à

CONCEIÇÃO GOMES ANA SOFIA OLIVEIRA

privação crónica de sono são a principal causa de hipersonolência. Acarretam como consequên-cia um maior risco cardiovascular, de distúrbios metabólicos (diabetes), de acidentes automóveis (mesmo superior aos acidentes por excesso de álcool), de acidentes laborais e uma redução de taxa de sucesso escolar.

Há quem considere a síndroma de apneia do sono uma patologia subdiagnosticada e pouco valorizada nos currículos de medicina, mas a verdade é que cada vez mais doentes procuram ajuda. Quais são os primeiros sinais de alerta?Face aos riscos de saúde que acarreta e impor-

tantes repercussões, esta patologia tem sido, nos últimos tempos, mais divulgada alertando-se para a necessidade do diagnóstico precoce, no entanto, encontra-se ainda subdiagnosticada. Os principais sintomas são a roncopatia (ressonar), as apneias (paragens respiratórias durante o sono), a sonolência diurna excessiva, o cansaço ao des-pertar, a dificuldade de concentração, o défice de memória e as perturbações sexuais como a im-potência sexual.

Quem sofre de um distúrbio do sono tende a atribuir o cansaço que sente ao longo do dia ao excesso de trabalho, não encarando o problema como uma doença que deve ser tratada. Existe um momento certo para ir a uma consulta do sono?A consciencialização do diagnóstico ou da sus-

peita deste é o primeiro passo para o momento certo. Devemos dirigir-nos ao nosso médico para avaliar sinais e sintomas.

Há quem defenda que tem havido alguma des-valorização do sono ao longo dos últimos anos, chegando-se ao extremo de se elogiar quem admite que não precisa de dormir muito para se sentir bem. Já não se privilegia as sete a nove horas de sono? O que há de errado?Cada indivíduo tem o seu relógio circadiário. Na

atualidade ainda se desconhece a função exata do sono, porém é conhecido o seu poder regu-lador do organismo bem como a capacidade de corrigir desequilíbrios homeostáticos. O sono é fundamental à vida.

A propósito do Dia Mundial de Sono, que men-sagem importa ser deixada aos nossos leitores? Dentro deste segmento de saúde, qual continu-ará a ser a sua postura enquanto profissional? É fundamental alertar para a importância da

qualidade do sono face às atuais exigências do dia-a-dia na sociedade contemporânea em que vivemos. As consequências geradas pelas altera-ções dos hábitos do sono e o aumento da pre-valência dos distúrbios do sono elevam a impor-tância da sensibilização para os sinais e sintomas manifestados pelo doente de forma a possibilita-rem um diagnóstico precoce. Como profissional, considero que o acompanhamento rigoroso e a avaliação multidisciplinar são fundamentais para a diminuição do risco no doente. ▪

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