Lusíadas

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Lusíadas Luís Vaz de Camões

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Lusadas

LusadasLus Vaz de CamesCaractersticas da epopeiaPROPOSIO - em que o autor apresenta a matria do poema; INVOCAO pedido de inspirao s musas ou outras divindades e entidades mticas protetoras das artes;DEDICATRIA - em que o autor dedica o poema a algum, sendo esta facultativa;NARRAO - a ao narrada por ordem cronolgica dos acontecimentos, mas inicia-se j no decurso dos acontecimentos (in medias res), sendo a parte inicial narrada posteriormente num processo de retrospectiva, flash-back ou analepse; PRESENA DE MITOLOGIA GRECO-LATINA - contracenando heris mitolgicos e heris humanos.PlanosPlano da viagem - A viagem de Vasco da Gama de Lisboa at ndia. Sada de Belm, paragem em Melinde e chegada a Calecut Plano Mitolgico, em alternncia, ocupam uma posio importante. Plano da Histria de Portugal Quando Vasco da Gama ou outro narrador conta, por exemplo ao rei de Melinde, a Histria de Portugal. Est encaixada na viagem. Plano do Poeta ou as consideraes pessoais aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a viso crtica do poeta sobre o seu tempo. Proposio - IAs armas, e os bares assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda alm da Taprobana, Em perigos e guerras esforados Mais do que prometia a fora humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; Todos os homens ilustresQue, saram de Portugal E foram por mares desconhecidos navegadoresPassaram alm da j conhecida ilha de Ceilo Enfrentaram perigos enormes, Mesmo superiores ao seu estatuto de ser humano afasta-os do comum mortalConstruram um novo imprio em terras distantes. Um reino que tanto desejaram O sujeito potico comea por apresentar os destinatrios da epopeia, valorizando j os seus feitos e aproximando-os j de um estatuto acima do humano. Fazem-se referncias a factos histricos e locais concretos.SindoqueHiprboleProposio - IIE tambm as memrias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A F, o Imprio, e as terras viciosas De frica e de sia andaram devastando; E aqueles que por obras valerosasSe vo da lei da Morte libertando.Cantando espalharei por toda a parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arteE aqueles reis que estiveram envolvidos na reconquista crist /nas cruzadas contra os mouros/infiis em frica e na siaE aqueles que fazem obras com valor e que, por isso, no cairo no esquecimento se vo imortalizandoO sujeito potico compromete-se a exaltar, a louvar e a cantar os feitos daqueles que enumerou anteriormente. Usando a primeira pessoa plano do poeta.

Conjuno coordenativa copulativa enumerao de figuras a ser exaltadasEnumeraoGerndio processo de continuidade1 pessoa do singular envolvimento do poetaProposio - IIICessem do sbio Grego e do Troiano As navegaes grandes que fizeram; de Alexandro e de TrajanoA fama das vitrias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta,Que outro valor mais alto se alevanta.Num tom imperativo, de ordem manda suspender/cessar a fama dos gregos e romanosManda suspender a fama das vitrias de reis e imperadores clssicosPorque o poeta louva o povo lusitano ao qual pertence. Povo esse que dominou o mar (Neptuno)e a guerra (Marte).Continua em tom imperativo, ordenando que os clssicos suspendam a sua fama, porque agora h um novo povo que apresenta feitos ainda mais valerosos.

Para demonstrar a superioridade e a legitimidade da realizao desta epopeia, o poeta compara os feitos dos Portugueses aos de Ulisses, heri da Odisseia de Homero e aos de Eneias, o troiano que, na Eneida de Virglio, chegou ao Lcio e fundou Roma, ou seja compara o seu heri com os heris das epopeias de referncia.Conjuno subordinativa causal (= porque) . Apresenta a causa da desvalorizao dos clssicos Patriotismo, valores nacionais1 pessoa do singular envolvimento do poeta ImperativoNeptuno deus do mar Marte deus da guerraHeri de Odisseia - Ulisses Heri de Eneida - Eneias ProposioCanto I, est. 1-3, Cames proclama ir cantar as grandes vitrias e os homens ilustres as armas e os bares assinalados; as conquistas e navegaes no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. Joo III); as vitrias em frica e na sia desde D. Joo a D. Manuel, que dilataram a f e o imprio; e, por ltimo, todos aqueles que pelas suas obras valorosas se vo da lei da morte libertando, todos aqueles que mereceram e merecem a imortalidade na memria dos homens.A proposio aponta tambm para os ingredientes que constituram os quatro planos do poema:Plano da Viagem - celebrao de uma viagem: "...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca dantes navegados / Passaram alm da Tapobrana..."; Plano da Histria - vai contar-se a histria de um povo: "...o peito ilustre lusitano..."."...as memrias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A F, o imprio e as terras viciosas / De frica e de sia..."; Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) aos quais os Portugueses se equiparam: "... esforados / Mais do que prometia a fora humana..."."A quem Neptuno e Marte obedeceram..."; Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa: "...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".Funcionamento da lngua Identificao de oraes subordinadas relativasIAs armas, e os bares assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda alm da Taprobana, Em perigos e guerras esforados Mais do que prometia a fora humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; Funcionamento da lngua Identificao de oraes subordinadas causais / relativas IIICessem do sbio Grego e do Troiano As navegaes grandes que fizeram; de Alexandro e de Trajano A fama das vitrias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta.

PorquePorqueNarraoComea no Canto I, est. 19 constitui a ao principal que, maneira clssica, se inicia in medias res, isto , quando a viagem j vai a meio, J no largo oceano navegavam, encontrando-se j os portugueses em pleno Oceano ndico.Este comeo da aco central, a viagem da descoberta do caminho martimo para a ndia, quando os portugueses se encontram j a meio do percurso do canal de Moambique vai permitir:A narrao do percurso at Melinde (narrador heterodiegtico); A narrao da Histria de Portugal at viagem (por Vasco da Gama); A incluso da narrao da primeira parte da viagem; A apresentao do ltimo troo da viagem (narrador heterodiegtico).Conslio dos Deuses - plano mitolgicoOs Deuses renem-se para decidir se ajudam ou no os portugueses a chegar ndia. Esta reunio foi presidida por Jpiter, tendo estado presentes todos os Deuses convocados. Os Deuses sentem a necessidade de reunir face aos feitos gloriosos conseguido at ao momento. Jpiter decide ajud-los, pois considera que os portugueses, pelos seus feitos passados, so dignos de tal ajuda. Baco, pelo contrrio, no queria que os portugueses fossem para a ndia, com medo de perder a sua fama no Oriente. Vnus apoia Jpiter, pois v refletida nos portugueses a fora e a coragem do seu filho Eneias e dos seus descendentes, os romanos. Vnus defende os portugueses no s por se tratar de uma gente muito semelhante do seu amado povo latino e com uma lngua derivada do Latim, como tambm por terem demonstrado grande valentia no norte de frica. Marte - deus defensor desta gente lusitana, porque o amor antigo que o ligava a Vnus o leva a tomar essa posio e porque reconhece a bravura deste povo. Marte consegue convencer Jpiter a no abdicar da sua deciso e assim, os portugueses sero recebidos num porto amigo. Pede a Mercrio - o Deus mensageiro - que colha informaes sobre a ndia, pois comea a desconfiar da posio tomada por Baco.Este conslio termina com a deciso favorvel aos portugueses e cada um dos deuses regressa ao seu domnio celeste.Conslio dos Deuses - plano mitolgico J no largo Oceano navegavam, As inquietas ondas apartando; Os ventos brandamente respiravam,Das naus as velas cncavas inchando; Da branca escuma os mares se mostravam Cobertos, onde as proas vo cortando As martimas guas consagradas, Que do gado de Prteu so cortadas, Quando os Deuses no Olimpo luminoso, Onde o governo est da humana gente, Se ajuntam em conslio glorioso, Sobre as cousas futuras do Oriente. Pisando o cristalino Cu fermoso, Vm pela Via Lctea juntamente, Convocados, da parte de Tonante, Pelo neto gentil do velho AtlanteA narrao comea in mdia res. J no oceano Pacfico. Faz-se referncia ao domnio da tcnica da navegao, dominada pelos portugueses.Apresenta-se ento: - o local da reunio - Olimpo; - o objetivo da reunio deciso sobre as coisas do Oriente. Indicao da forma como os deuses foram convocados: foi Mercrio que avisou todos os deuses cumprindo a vontade de Jpiter.PerfraseConjuno subordinativa temporal Perfrase