Livro Didatico NLP2 Parte I

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Pró-Reitoria Acadêmica Diretoria Acadêmica Assessoria de Educação a Distância Nivelamento em Língua Portuguesa Tópicos gramaticais na produção textual

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Pró-Reitoria Acadêmica

Diretoria Acadêmica

Assessoria de Educação a Distância

Nivelamento em Língua Portuguesa Tópicos gramaticais na produção textual

Page 2: Livro Didatico NLP2 Parte I

Plano de Ensino

Nivelamento em Língua Portuguesa: tópicos gramaticais na produção textual

Ementa

Língua, linguagem, sociedade, ideologia e identidade. Leitura e produção

textual: funcionalidades de gêneros e tipos textuais.

Objetivo do Curso

Ampliar a competência linguística do aluno universitário para desempenhar

atividades sociais de leitura, escrita e oralidade.

Objetivos Específicos

Compreender a organização dos elementos lingüísticos necessários à produção

de textos diversificados.

Produzir textos orais e escritos diversificados de forma a demonstrar

conhecimentos linguísticos necessários à construção da argumentação, da

narração, da exposição, da descrição e da injunção.

Produzir textos demonstrando posicionamento crítico a respeito dos temas

relacionados ao exercício da profissão.

Produzir textos coesos e coerentes de maneira que selecione, relacione, organize

fatos e opiniões de forma a defender um ponto de vista.

Conteúdo Programático

i. Coesão: sequenciação e referenciação.

ii. O valor das escolhas vocabulares.

iii. Mudança e variação linguística.

iv. Constituição do parágrafo.

v. Reflexões linguísticas sobre regência e concordância na construção do texto.

vi. Pontuação.

vii. Análise linguística com base em gêneros textuais de tipologia predominantemente

expositiva e argumentativa

viii. Inter-relação entre gêneros e tipos textuais.

ix. Produção textual.

Page 3: Livro Didatico NLP2 Parte I

Bibliografia

Básica

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo:

Publifolha, 2008;

COSTA, Sergio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica

editora, 2008.

GOLDSTEIN, Norma, LOUZADA, Maria Silvia, IVAMOTO, Regina. O texto sem

mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009.

Complementar

ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola,

2005.

COSTA, Sergio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica,

2008.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley F. Nova gramática do português contemporâneo.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

GARCEZ, Lucília H. C. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem escrever.

São Paulo: Martins Fontes, 2004.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:

Objetiva, 2001.

KOCH, Ingedore V. e ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto.

São Paulo: Contexto, 2009.

MACHADO, Anna Rachel (coord.). Resumo. São Paulo: Parábola, 2004.

___. Resenha. São Paulo: Parábola, 2004.

___. Trabalho de pesquisa: diários de leitura para a revisão bibliográfica. São Paulo:

Parábola, 2007.

___. Leitura e produção de textos técnicos e acadêmicos. São Paulo: Parábola, 2005.

NEVES, M. H. M. Gramática de Usos do Português. 3. ed. São Paulo: Editora UNESP,

2011.

PERINI, Mario A. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial,

2010.

VILELA, M.; KOCH, I. V. Gramática da Língua Portuguesa: Gramática da Palavra –

Gramática da Frase – Gramática do Texto/Discurso. Livraria Almedina, Coimbra, 2009.

Page 4: Livro Didatico NLP2 Parte I

Olá, estudante!

Seja bem-vindo ao curso de Nivelamento em Língua Portuguesa: tópicos

gramaticais na produção textual. Cada módulo do nosso curso possui duas unidades

compostas por sequências didáticas com o objetivo de fazê-lo refletir sobre

determinados temas da atualidade e, também, de ampliar o seu conhecimento acerca

de textos diversificados, tanto na estrutura quanto na funcionalidade de cada texto.

Na primeira unidade, por meio de um percurso pelos gêneros textuais tira,

crônica, receita, e-mail, torpedo, carta de leitor e reportagem, exploraremos o tema

“Linguagem e profissão”.

Na segunda unidade, o tema “Linguagem e ideologia” será discutido por meio

da leitura e análise dos gêneros textuais cartum, letra de música, verbete, artigo de

opinião e resenha.

Nas duas unidades, abordaremos alguns tópicos gramaticais importantes para

produção textual:

Coesão: sequenciação e referenciação.

O valor das escolhas vocabulares.

Mudança e variação linguística.

Constituição do parágrafo.

Reflexões linguísticas sobre regência e concordância na construção do texto.

Pontuação: uso da vírgula

Análise linguística com base em gêneros textuais de tipologia

predominantemente expositiva e argumentativa

Inter-relação entre gêneros e tipos textuais.

A seleção desses tópicos foi guiada pelo papel que eles exercem na produção

textual ou pelas dificuldades que eles oferecem no processo da escrita de textos.

Durante nosso curso serão utilizados alguns recursos, tais como vídeo-aulas

exercícios de compreensão textual e gramatical, fórum de discussão e tarefas de

produção textual.

Bons estudos!

Sequências Didáticas

(SD): é estratégia de

seleção e organização

de diversos textos,

segundo a temática e

os gêneros textuais

pertinentes ao

objetivo do curso,

para desenvolver as

práticas de oralidade,

leitura, análise

linguística e produção

de textos.

Page 5: Livro Didatico NLP2 Parte I

UNIDADE 1: LINGUAGEM E PROFISSÃO

Tema: As relações entre linguagem e sociedade; linguagem e ambiente de trabalho.

Assuntos: Variação linguística; mudança linguística; competência linguística, seleção

lexical.

Gêneros textuais: Tira, crônica, receita, e-mail, torpedo ou sms, carta de leitor e

reportagem.

Objetivo geral: Ler e compreender textos em diversos gêneros, reconhecendo

recursos textuais de conexão e construção de sentidos, para produções textuais

que foquem o registro de informações para o ambiente de trabalho e acadêmico.

Objetivos específicos:

- Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.

- Inferir uma informação implícita em um texto.

- Refletir sobre a diversidade linguística e combater o preconceito linguístico .

- Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros

- Localizar informações explícitas em um texto

- Identificar o papel da vírgula na construção de sentidos do texto

- Reconhecer e aplicar as regras de concordância verbal e nominal nas produções textuais

- Compreender a estrutura do parágrafo para a organização das ideias no texto.

- Identificar o tema de um texto

- Produzir textos coesos e coerentes de maneira que selecione, relacione, organize fatos e opiniões de forma a defender um ponto de vista

- Elaborar carta de leitor

Análise linguística:

I. O valor das escolhas vocabulares.

II. Mudança e variação linguística.

III. Constituição do parágrafo.

IV. Reflexões linguísticas sobre concordância na construção do texto.

V. Pontuação: uso da vírgula.

VI. Coesão sequencial.

Produção textual final: Carta de leitor

Page 6: Livro Didatico NLP2 Parte I

UNIDADE 1- Linguagem e Profissão

Prezado estudante,

O tema desta nossa unidade 1 é linguagem e profissão. Vamos refletir um

pouco sobre a relação entre linguagem e sociedade, o fenômeno da variação

linguística e as diversas possibilidades de uso da língua, sobretudo no ambiente

profissional.Nosso percurso será guiado a partir de um conjunto de gêneros textuais:

tira, crônica, carta de leitor e reportagem.

Como nosso foco de trabalho é a linguagem, convém que definamos o que é

linguagem. Segundo Koch (2007:7-8), a linguagem, é o “lugar da interação que

possibilita, aos membros de uma sociedade, a prática dos mais diversos tipos de atos,

que vão exigir, dos semelhantes, reações e/ou comportamentos”. Sendo assim, a

linguagem humana é um fenômeno social, um bem coletivo, e a interação social é sua

razão de existir. Assim, as línguas naturais são sistemas abertos e dinâmicos de

constituição da realidade. Nesse sentido, as línguas variam e mudam.

Um fato incontestável em relação às línguas vivas é o de que elas estão

sempre mudando. A mudança linguística consiste no fenômeno de alteração das

línguas ao longo do tempo. Novas palavras, expressões, pronúncias, formas ou

estruturas gramaticais e significações são criadas, ao mesmo tempo em que outras

palavras, expressões, estruturas e significações caem em desuso (Trask, 2008).

Observe os exemplos a seguir (extraídos de Ilari & Basso, 2009: 27). No

primeiro quadro, tem-se uma carta escrita na segunda metade do século XIII (fase que

caracteriza o período da língua portuguesa conhecido como português arcaico),

destinada à chancelaria do rei de Portugal Afonso III, comunicando a intenção do

distrito (concelho) de Abrantes de reconstruir e inaugurar de um muro. Leia o texto até

o final sem deter-se nas dificuldades. Os parênteses marcam abreviações no texto

original.

Page 7: Livro Didatico NLP2 Parte I

Leia agora a tradução do texto para o português moderno.

Você pode verificar pelos textos que há muitas diferenças entre essas duas

fases do português. Tais diferenças ilustram algumas das mudanças ocorridas na

língua portuguesa no espaço de tempo entre o português arcaico e o português

moderno. As alterações registram mudanças, tais como, o desaparecimento das

formas “ata” (até) e “hu” (onde); a alteração do sentido do verbo “adubar”, ora com

sentido de inaugurar; mudanças de registro gráfico, em que o ‘u’, por exemplo,

representava a vogal ‘u’ e a consoante ‘v’; além de alterações em algumas estruturas,

tais como “entendemos a fazer” e “devemos a seer aparelhados”, dentre outros.

A variação linguística refere-se às diferenças observadas no modo como uma

língua é usada numa determinada comunidade de fala. A variação pode ocorrer por

Comunidade de

fala: é um grupo

de pessoas que

interagem

regularmente por

meio da fala. Uma

comunidade pode

ser grande,

pequena,

fortemente

homogênea ou

decididamente

heterogênea. Não

é preciso que

todos falem a

mesma variedade

linguística ou

mesma língua,

(Trask, 2008)

Page 8: Livro Didatico NLP2 Parte I

diversas razões. As línguas podem variar, por exemplo, entre regiões geográficas,

constituindo os regionalismos ou dialetos.

Observe o exemplo a seguir:

(Retirado de: http://profealedocespalavras.blogspot.com.br/2011_10_01_archive.html. Acesso em 20 de maio de 2012.)

Nesse exemplo, vemos um tipo de variação, a regional, que por meio de

elementos lingüísticos identifica a região de onde provém o falante: região rural de

minas gerais. Além disso, esse é um exemplo de fala, pois podemos detectar pistas

lingüísticas características dessa modalidade, como “ái”, “repói” e “cuié”, onde vemos

um fenômeno da transformação do som do lh em i. As expressões “den di ái”, “cabess

de repôi” exemplificam a perda de segmentos átonos em final de palavras, a sílaba “te”

em “dente” e o “a” em “cabeça”. Há também a perda de segmentos átonos em início

de palavras, como a perda do “dês” em “casca” e o “es” em “quenta”.

Além disso, fatores sociais também são fundamentais no processo de variação,

tais como, idade, sexo, escolaridade dos falantes, assim como o contexto

comunicativo.

Dependendo do contexto de interação, do espaço em que circulam os textos e

dos leitores a que se destinam, a linguagem se comporta de forma diferente. Cabe ao

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O capítulo “Português do Brasil: a variação que vemos e a variação que deixamos ver”, do livro O Português da Gente, de Rodolfo Ilari e Renato Basso é uma boa sugestão de leitura para aumentar seu conhecimento sobre as dimensões da variação linguística. Acesse o livro no site da nossa biblioteca virtual: http://www.uniceub.br/Biblioteca

produtor do texto adequar a linguagem às situações de forma apropriada para que

suas intenções textuais sejam alcançadas.

Texto 01

Aí, Galera

Jogadores de futebol podem ser vítimas de

estereotipação.

Por exemplo, você pode imaginar um jogador de

futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que

não?

-Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.

-Minha saudação aos aficionados do clube e aos

demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.

-Como é?

-Aí, galera.

-Quais são as instruções do técnico?

-Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com

energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de,

recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de

Sugestão de leitura

Page 10: Livro Didatico NLP2 Parte I

meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do

sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.

-Ahn?

-É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.

-Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?

-Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo

previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?

-Pode.

-Uma saudação para a minha genitora.

-Como é?

-Alô, mamãe!

-Estou vendo que você é um, um...

-Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa

de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim

sabota a estereotipação?

-Estereoquê?

-Um chato?

-Isso.

Publicado no Correio Brasiliense, em 13 de maio 1998

Retirado de: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=9821

Acesso em 23/01/2012

O gênero do texto 1 é a crônica. E como costuma ser comum nesse gênero

textual, sua leitura é leve e agradável. A crônica “Aí, galera” aborda de forma bem

humorada um fato cotidiano, uma entrevista a um jogador de futebol. O texto permite-

nos refletir sobre as expectativas sociais. Ao produzirmos um texto, há uma

expectativa dos interlocutores quanto ao nosso comportamento linguístico, que por

sua vez também é social. Tais expectativas podem estar pautadas em fatores, como

contexto de interação e papel social dos interlocutores. Quando essas expectativas

são frustradas, podemos sofrer algumas conseqüências, entre elas, constrangimento,

incompreensão ou até mesmo preconceito.

Gênero textual: Produções textuais que se modelam em formas padrões relativamente estáveis.

(Koch & Elias, 2009: 55).

Crônica: Texto curto, breve, simples, de interlocução direta com o leitor, com marcas típicas de oralidade, geralmente narrativa. Trata-se de gênero literário vinculado à imprensa.

(Costa, 2009: 71-72)

Page 11: Livro Didatico NLP2 Parte I

Quando uma pessoa sofre preconceito por conta de seu modo de falar, há um

episódio de preconceito linguístico. O preconceito linguístico está associado, na

realidade, ao preconceito social. Isso se dá porque, quando falamos, comunicamos

muito mais do que dizemos, pois a linguagem também é identidade. O modo de falar

de uma pessoa pode dizer muito sobre sua origem, sua escolaridade ou profissão.

Observe que o humor do texto 1 está relacionado à quebra de expectativas em

relação à fala do jogador entrevistado. A crônica registra um estranhamento por parte

do entrevistador que conclui que o jogador é, na realidade, um chato. Para

compreendermos melhor o estranhamento causado pela fala do entrevistado, vamos

tratar de variação de registro ou estilo de fala.

Conforme já comentamos, o contexto da interação social também determina

variação linguística. A opção de uma forma de falar mais formal ou informal, em

função do contexto comunicativo, configura o processo de variação de registro ou

estilo de linguagem.

Na crônica “Aí galera”, a fala do jogador apresenta dois estilos de linguagem,

que podem ser observados na tabela abaixo:

Excessivamente formal Informal

- Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares

- Aí, galera.

- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.

- Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?

- Uma saudação para a minha genitora.

- Alô, mamãe!

- Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?

-Um chato?

Quadro 01: Excesso de formalidade e informalidade.

Page 12: Livro Didatico NLP2 Parte I

O livro Preconceito Linguístico, de

Marcos Bagno, é uma boa leitura para

aqueles que desejam saber mais sobre

o preconceito lingüístico e variação

linguística.

Como podemos ver o estilo informal caracteriza-se pela presença de algumas marcas: 1. Uso da partícula “Aí” sem significação espacial, mas como interjeição com sentido de “oi” ou “olá”. 2. Uso de “pra”, forma reduzida da preposição “para”. 3. Queda do -r em final de verbos no infinitivo (pegar pegá). 4. Uso de expressões típicas da oralidade, como gírias (“galera” com sentido de pessoal ou turma). 5. Emprego de pronome do caso reto como objeto direto (“pegá eles”).

Dentre as diversas possibilidades de uso da língua, algumas variedades

linguísticas possuem mais prestígio social que outras. Geralmente tais variedades são

as utilizadas um grupo de pessoas que também possuem destaque na sociedade.

Chama-se variedade padrão da língua, aquela forma de se falar que é ensinada nas

gramáticas tradicionais e comumente tida como a variante de prestígio na nossa

sociedade.

É importante, no entanto, compreendermos que a língua é um fenômeno

heterogêneo e dinâmico, que oferece diversas possibilidades aos falantes. O fato de

uma variedade ser mais aceita socialmente não significa que seja melhor que outras

variedades linguísticas. Um falante competente no idioma não é aquele que utiliza

somente a variedade padrão, mas sim aquele que sabe se expressar nas diversas

situações comunicativas, utilizando-se das diversas possibilidades de seu idioma.

Em outras palavras, é importante que o falante desenvolva sua competência

comunicativa, que é a capacidade de adequação de sua fala aos diversos contextos

de interação. Conforme destaca Bortoni-Ricardo (2004: 74), “as pessoas vão

Sugestão de leitura

Page 13: Livro Didatico NLP2 Parte I

adquirindo recursos comunicativos à medida que vão ampliando suas experiências na

comunidade onde vivem e passam a assumir diferentes papéis sociais”.

Assim, utilizamos, no nosso dia a dia, diversas variedades linguísticas. Em

contextos informais, como em casa ou num bar com amigos, utilizamos uma

linguagem mais coloquial, informal, com expressões típicas da oralidade. Assim como

em contextos mais formais, usamos uma linguagem igualmente formal, como em

ambientes de trabalho ou numa entrevista de emprego.

Para continuarmos nossa reflexão sobre linguagem e variação, observe o texto

2 a seguir:

Observe que o gênero do

texto 01 é a tira e o tipo textual

predominante é o expositivo.

A tira é um tipo de história em

quadrinhos, só que mais curta ou

sintética. Trata-se de um texto

multimodal, com interface visual e

verbal. A tira em questão foi retirada

de uma sequência maior que

apresenta, conforme assinala o título,

36 formas de se interpretar um

episódio, no caso, um mosquito

esmagado na parede. O humor da

tira consiste no fato de que cada

ponto de vista reflete, de forma

Texto 02

Imagem retirada de: http://screamyell.com.br/blog/wp-content/uploads/2011/08/mosquito3.jpg

Sítio acessado em 02/01/2012.

Tira: Segmento ou fragmentos de HQs, geralmente com três ou quatro quadrinhos, apresenta um texto sincrético que alia o verbal e o visual no mesmo enunciado e sob a mesma enunciação. Circula em jornais ou revistas.

(Costa, 2008)

Tipo textual: ou sequências textuais são esquemas linguísticos básicos que entram na constituição de diversos gêneros. São geralmente classificadas em: descritiva, narrativa, injuntiva, explicativa e argumentativa.

(Koch & Elias, 2009: 62-63)

Multimodalidade: Refere-se à junção de mais de um modo semiótico, ou seja de código para produção de sentidos, em um texto. São geralmente multimodais os gêneros: música, a tira, charge, propagandas.

Léxico: Repertório de palavras existentes numa determinada língua.

(Dicionário eletrônico Houaiss) Jean-Luc Godard: cineasta francês nascido na década de 30.

Page 14: Livro Didatico NLP2 Parte I

Para saber mais sobre gêneros textuais e tipologia textual (sequência textual), leia o capítulo 3 do livro Ler e escrever, de Ingedore Koch e Vanda Elias. Acesse o livro no site da nossa biblioteca virtual: http://www.uniceub.br/Biblioteca

.

estereotipada, um contexto específico. Contribui para manutenção da coerência ou

logicidade do texto a seleção lexical.

A seleção lexical pode ser vista como um tipo de variação condicionada pela

profissão ou contexto a que pertencem os personagens da tira. No primeiro quadrinho,

temos a palavra “conceito” e a expressão “composição orgânica” como pistas

lingüísticas que nos remetem ao discurso característico de artistas plásticos. No

segundo quadrinho, o universo dos cineastas é revelado pelas escolhas lexicais

“imagem” e “filme do Godard”. Por fim, no terceiro quadrinho, a palavra “sujeira” está

relacionada ao contexto social doméstico da dona de casa e suas demandas, como a

da limpeza.

Corra já para nosso Fórum!

Fórum de discussão 1

Que tal refletirmos um pouco acerca da variação linguística?

Nossa música brasileira é muito rica. É comum identificarmos nas canções a riqueza

de nossa cultura, geralmente marcada pela diversidade de ritmos, temas e variedades

linguísticas.

Localize uma canção em que seja possível identificar uma variedade regional, fala

característica de uma região do nosso país. Em seguida, identifique na música traços

característicos dessa variedade linguística.

Não se esqueça de colocar a fonte de onde retirou a letra da canção.

Boa pesquisa!

Sugestão de leitura

Page 15: Livro Didatico NLP2 Parte I

Exercícios de compreensão textual e gramatical

1. Releia a crônica “Aí, galera” e, em seguida, responda às questões.

I. Considerando o gênero textual crônica e suas funcionalidades. Assinale, a seguir, a

alternativa correta:

a) O texto tem a finalidade de registrar fato desportivo, com registro de diálogos.

b) A crônica aborda, de forma divertida, fatos do cotidiano, sendo texto literário

também veiculado à imprensa.

c) O gênero textual crônica tem como função principal a crítica social, geralmente

marcada pela ironia.

d) O diálogo no texto exemplifica o uso de tipologia descritiva, comum em crônicas.

II. Em relação aos sentidos produzidos no texto, assinale a alternativa correta:

a) A crônica permite compreender que jogadores de futebol geralmente são chatos em

entrevistas.

b) O humor da crônica consiste no fato de que o jogador de futebol entrevistado

utiliza-se de muitas gírias em sua fala.

c) O texto tem o objetivo de reforçar o preconceito linguístico, através da divulgação

de comportamentos linguísticos estereotipados.

d) O humor, característico das crônicas, é obtido por meio da quebra de expectativas

em relação à fala do jogador de futebol, que se utilizada, em primeiro momento de

uma fala muito rebuscada, incomum em seu contexto de fala.

2. Como vimos, em nossas leituras, a seleção lexical é um elemento importante para a

organização lógica dos textos. As escolhas que fazemos das palavras e expressões

em nosso dia a dia contribuem para a configuração das variedades linguísticas que

utilizamos. Na tira de 36 jeitos de ver um mosquito esmagado na parede, o cartunista

Caco Galhardo explora a seleção lexical para construir os sentidos do contexto

profissional dos personagens. Indique abaixo palavras ou expressões que remetem ao

discurso característico de cada profissional representado. É possível que haja mais de

uma alternativa correta.

Page 16: Livro Didatico NLP2 Parte I

Retirado de: http://screamyell.com.br/blog/wp-content/uploads/2011/08/mosquito3.jpg

I – Designer gráfico

a) usar

b) este mosquito

c) elemento gráfico

d) layout

II - Ecologista

a) desrespeito

b) forma de vida

c) Processar

d) ato desumano

III - Decorador

a) olha, proposta

b) super válido

c) precisamos ver

d) combina, cortina

III - Videomaker

a) trilha minimalista

b) isto

c) ótimo trabalho

d) vídeo-arte

3. O texto abaixo foi retirado do livro Educação em Língua Materna, de Stella Maris

Bortoni-Ricardo, e ilustra uma situação em que podemos verificar como a linguagem

reflete e constrói as relações sociais. Observe como, na conversa telefônica abaixo, o

estilo de linguagem é alterado a partir do instante em que os interlocutores se

reconhecem como amigos.

Gerente: - Gerência do Banco XXX. Em que eu posso ajudá-lo?

Cliente: - Estou interessado em financiamento para compra de

veículo. Gostaria de saber quais as modalidades de crédito que o

banco oferece.

Gerente: - Nós dispomos de várias modalidades. O Senhor é nosso

cliente? Com quem eu estou falando, por favor?

Cliente: - Eu sou o Júlio César Fontoura, também sou funcionário do

banco.

Gerente: - Julinho, é você, cara? Aqui é Helena! Cê tá em Brasília?

Page 17: Livro Didatico NLP2 Parte I

Pensei que você ainda estivesse na agência de Uberlândia! Passa

aqui pra gente conversá com calma. E vamu vê seu financiamento

Texto retirado de Bortoni-Ricardo (2004: 73-74)

Considerando os estilos presentes no diálogo, julgue as alternativas abaixo,

assinalando V para as verdadeiras e F para as falsas:

a) ( ) A oração “Em que posso ajudá-lo” é típica de falas formais em que o produtor do

texto coloca-se, de forma polida, à disposição para oferecer auxílio a um cliente,

comportamento típico de prestadores de serviço.

b) ( ) Na oração “Gostaria de saber quais as modalidades de crédito que o banco

oferece”, o termo destacado caracteriza uma fala informal, em que o falante expõe, de

forma coloquial, um desejo pessoal.

c) ( ) Em “- Nós dispomos de várias modalidades” a concordância entre os elementos

é típica de situações informais.

d) ( ) A oração “Com quem eu estou falando, por favor?” constitui uma maneira formal

de se solicitar identificação de interlocutor em contexto comunicativo que exige certo

distanciamento entre os participantes da interação.

e) ( ) Em “Julinho, é você, cara?”, o termo destacado é uma expressão típica da

oralidade, sendo uma gíria em que “cara” tem o sentido de “amigo”, “rapaz”, “homem”.

f) ( ) O uso de “pra”, forma reduzida da preposição “para” é uma marca de estilo

formal, típico das interações institucionais que exigem agilidade e polidez.

g) ( ) São marcas de oralidade os termos destacados em “passa aqui pra gente

conversá com calma. E vamu vê seu financiamento

No ambiente de trabalho, somos requisitados a produzir textos diversos. Boa

parte desses textos exige uma linguagem mais formal, sobretudo por conta da

natureza dos documentos que circulam no ambiente institucional. Dessa forma, uma

demanda do mercado de trabalho é o domínio da variedade padrão da língua,

caracterizada pela correção gramatical exigida pela gramática tradicional. Um dos

textos mais produzidos nas empresas e que possui espaço privilegiado na

comunicação corporativa é o e-mail ou correio eletrônico. Vamos falar sobre esse

gênero? Leia o texto a seguir:

Page 18: Livro Didatico NLP2 Parte I

Texto 3 – Email

Exemplo retirado de Gold, 2005: 101 (com adaptações)

O correio eletrônico ou e-mail, como já foi comentado é um dos gêneros

textuais mais utilizados na redação empresarial. Por seu caráter breve, agiliza os

processos sem muita burocracia, ao mesmo tempo em que possibilita a documentação

das correspondências.

Observe a estrutura do e-mail: campo formulário “Para” em que são inseridos

os endereços eletrônicos dos destinatários, com possibilidade de envio com cópia

(CC); campo formulário “Assunto” em que deve ser expresso o teor da

correspondência, cuja objetividade aumenta as chances de agilização da leitura; e o

campo de texto, em que é inserida a mensagem: com vocativo (chamamento), corpo

do texto, desfecho e nome do produtor da mensagem.

Por ser uma correspondência rápida, é comum que os e-mails apresentem uma

linguagem mais informal. No entanto, devemos nos atentar para adequação da

linguagem, em e-mails, ao ambiente de trabalho. Isso porque o correio eletrônico, por

ser um instrumento eficiente de comunicação na empresa, deve ser adaptado ao estilo

do contexto institucional, que demanda uma comunicação objetiva, concisa, clara e

formal (Gold 2005).

Correio eletrônico ou e-mail: o termo e-

mail (eletronic mail) pode ser usado para o sistema de transmissão, para o endereço eletrônico dos usuários, por metonímia, para o próprio texto (mensagem eletrônica). (Costa, 2009: 70-71)

Page 19: Livro Didatico NLP2 Parte I

A característica da objetividade de um texto está relacionada às idéias que

são expressas. Refere-se à habilidade de se definir quais são as informações

relevantes que desejamos transmitir e priorizar em determinado texto. Dessa forma, é

imprescindível, antes da produção de correspondências em ambiente de trabalho, que

se defina quais informações devem ser contempladas, atentando-se para a eliminação

de ideias acessórias que pouco ou nada contribuem para a compreensão das ideias

principais.

Assim, um texto objetivo é um texto sem subterfúgios, redundâncias ou

excesso de palavras ou ideias. A produção de um esquema que antecipe a elaboração

do texto pode ser muito eficiente para se assegurar sua objetividade.

Para definição das ideias a serem contempladas no texto, tente responder:

a) O que eu quero dizer ao meu leitor?

b) Que outras ideias podem ajudar o leitor na compreensão da mensagem?

c) Quais informações podem ser suprimidas do texto sem prejuízos às ideias

principais?

Observe o esquema inicial do texto 3, a seguir, e analise as escolhas feitas:

Quadro 2: Objetividade na seleção de ideias de um texto.

Seleção de ideias

Perguntas Informações

Ideias principais

a) O que eu quero dizer ao meu leitor?

- Confirmar e convocar para reunião de quinta, às 14h.

- Indicar que vários assuntos serão tratados.

- Solicitar que tragam os assuntos tratados anteriormente.

Ideias secundárias

b) Que outras ideias podem ajudar

o leitor na boa assimilação da mensagem?

- Ressaltar a pontualidade.

- Informar que as conclusões serão repassadas à diretoria na próxima

segunda-feira.

Ideias acessórias

c) Quais informações podem ser suprimidas do

texto sem prejuízos às ideias principais?

- Especificar os assuntos: novos projetos, problemas na operacionalidade de sistema, proposta de definição de plano de trabalho específico para o setor técnico da empresa.

Page 20: Livro Didatico NLP2 Parte I

A concisão é uma qualidade que determina a transmissão de informações em

poucas palavras, evitando-se excessos que podem enfadar o leitor com a falsa

sabedoria expressa pelo vocabulário prolixo. A prolixidade é, por sua vez, o oposto da

concisão e consiste na utilização de vocabulário excessivamente rebuscado e de

períodos muito extensos que deixam o texto confuso e entediante.

A seleção lexical é de suma importância para se conferir concisão ao texto.

Deve-se observar, assim, o emprego de palavras exatas e necessárias ao contexto. É

importante também evitar a utilização de vocabulário muito rebuscado,

excessivamente formal e orações muito extensas (Veja exemplos no quadro 01).

Dessa forma, é fundamental maximizar a informação com um número mínimo

de palavras. Observe o exemplo:

Venho por meio deste e-mail confirmar Confirmo

Outra forma de se conferir concisão ao texto é eliminar o excesso de “que”,

evento conhecido como queísmo. Verique no quadro abaixo as possibilidades de

substituição do pronome “que”, nas orações:

Forma reduzida Escolha gramatical

que me respondas resposta substantivo

que se esclareçam esclarecer verbo

que dizem respeito sobre/ a respeito preposição e locuções

prepositivas

que foi discutido discutido particípio passado

Quadro 3: Redução do excesso de “que” (adaptado de Gold, 2005: 48)

Verifique o exemplo:

Escrevi o e-mail que foi enviado à equipe para tratar da reunião que

será realizada na quinta com aqueles que participaram da análise

anterior de assuntos pertinentes à repartição.

Escrevi o e-mail enviado à equipe para tratar da reunião a ser realizada

na quinta com os participantes da análise anterior de assuntos pertinentes

à repartição.

Page 21: Livro Didatico NLP2 Parte I

Evitar formas como gerundismo também é uma maneira de se colaborar para

manutenção da concisão no texto. O gerundismo é o uso de uma locução verbal,

apresenta-se na forma: verbo auxiliar + verbo no infinitivo + verbo no gerúndio.

Observe o exemplo:

Vou estar enviando o e-mail sobre a reunião de quinta-feira.

Embora o gerundismo possa agregar sentidos diferentes ao texto, sendo

produtivo em algumas situações, não é bem aceito em textos que exigem objetividade

e concisão, como os que circulam no ambiente de trabalho. Sendo assim, é melhor

evitar esse tipo de construção. Verifique abaixo uma possibilidade de substituição da

oração anterior:

Enviarei o e-mail sobre a reunião de quinta-feira.

A clareza está relacionada à compreensão do texto, é a qualidade que permite

o entendimento das ideias no texto. Um texto claro é aquele que se faz compreender

facilmente, que apresenta um vocabulário simples e não dá margens a ambigüidades.

Contribuem para manter a clareza de um texto: o uso de vocabulário simples,

embora formal; uso de parágrafos menores, com divisão explícita de ideias principais e

secundárias e orações curtas, geralmente em ordem direta: sujeito + verbo+

complementos. Observe a ordem direta na oração abaixo:

Sujeito + Verbo + complementos

Estou confirmando nossa reunião de quinta-feira, às 14h.

Sujeito oculto: Eu

Verbo (locução verbal): estou confirmando

Complementos: nossa reunião de quinta-feira, às 14h.

.

Vocabulário simples não significa vocabulário pobre. É importante salientar que

a escolha de palavras facilmente compreendidas tende a enriquecer o texto, ao invés

de obscurecê-lo, efeito geralmente produzido pelo uso de palavras difíceis ou pouco

conhecidas.

Por fim, vale ressaltar a importância da revisão do texto para a constatação

de eventuais problemas, tais como a ambigüidade. Verifique o exemplo abaixo:

Havia um funcionário na reunião que não trouxe resultados

produtivos.

Page 22: Livro Didatico NLP2 Parte I

Observe a ambiguidade gerada pelo pronome relativo que, possibilitando dois

entendimentos do texto:

1. Um funcionário não trouxe resultados produtivos.

2. A reunião não trouxe resultados positivos.

Constatado o problema, deve-se efetuar alterações na oração, tais como

deslocamento de termos ou substituição do pronome:

Havia um funcionário que não trouxe resultados produtivos na

reunião.

Havia, na reunião que não trouxe resultados positivos, um

funcionário.

Havia um funcionário na reunião, o qual não trouxe resultados

positivos.

Havia um funcionário na reunião, a qual não trouxe resultados

positivos.

Como já dissemos, o e-mail geralmente é escrito em estilo mais informal. No

entanto, no ambiente de trabalho, é fundamental que esse gênero textual esteja de

acordo com as regras da escrita, atendendo ao estilo formal da empresa, uma vez que

esse tipo de texto também possui caráter documental.

Dessa forma, é imprescindível que o e-mail institucional e demais documentos

da empresa estejam de acordo com as regras da escrita, com a norma padrão. Para

manter a correção gramatical, é essencial que se observe, dentre outros aspectos, a

concordância nominal e verbal e o uso adequado da pontuação.

A concordância pode ser nominal ou verbal. A concordância nominal se

verifica em gênero e número entre palavras determinantes (adjetivo, pronome

adjetivo, artigos, numeral ou particípio) e as palavras determinadas (substantivo ou

pronome) a que se referem. As palavras determinantes concordam em gênero e

número com as palavras determinadas.

Ex.: - A empresária solitária pediu atenção aos funcionários.

- Os nossos gerente e diretor chegaram.

- Sobressaltados, os funcionários receberam a notícia do evento.

Observe no quadro a seguir orientações sobre concordância verbal:

Page 23: Livro Didatico NLP2 Parte I

Concordância verbal

Regra geral

O verbo flexiona em concordância com o número e a pessoa do sujeito (1ª, 2ª e 3ª pessoas do singular ou plural).

Ex.: [...] as conclusões serão apresentadas à diretoria na próxima segunda-feira.

Verifique que o verbo “ser” está flexionado na 3ª pessoa do plural em concordância com o sujeito “as conclusões”, que está na 3ª pessoa plural.

Casos especiais

Sujeitos ligados por nem e ou:

O verbo vai para o plural.

O verbo vai para o singular, quando há semelhança entre os núcleos dos sujeitos ou noção de exclusão.

Ex.: Nem você nem Joana foram convocadas para a reunião.

Ex.: Trabalhar até tarde ou chegar mais cedo ao trabalho são atitudes que dos mais esforçados da repartição.

Ex.: A funcionária mais antiga ou a primeira contratada da repartição será homenageada durante evento do dia do trabalhador.

Ex.: A funcionária mais antiga ou a mais competente será homenageada durante evento do dia do trabalhador.

Sujeitos formados por expressão partitiva:

O verbo pode concordar com o núcleo do sujeito ou com o adjunto.

Ex.: Metade dos funcionários saiu mais cedo ontem.

Ex.: Um terço dos empregados chegaram atrasados à reunião.

Sujeito posposto:

O verbo concorda com o sujeito mesmo posposto.

Ex.: Chegaram atrasados os processos enviados pela diretoria.

Ex.: Analisou os processos o jovem estagiário.

Ex.: Foram entregues todos os documentos.

Verbos impessoais – o verbo assume a 3ª pessoa do singular.

Verbos haver, fazer e ir indicando tempo

Verbo tratar-se

Verbo haver no sentido de existir.

Verbos que expressão fenômenos da natureza.

Ex.: Havia três dias que a reunião foi marcada.

Ex.: A reunião acabou não faz cinco minutos.

Ex.: Já vai para vinte dias que a empresa fechou as portas.

Ex.: Tratava-se de um assunto de máxima urgência

Ex. Havia cinco estagiárias na reunião.

Ex. Choveu o dia todo, enquanto trabalhávamos.

Quadro 4: Concordância verbal.

Outro aspecto da língua escrita que merece atenção do produtor do texto é a

pontuação. A pontuação consiste em um conjunto de sinais gráficos que contribuem

para a articulação dos sentidos no texto escrito. Compõem esse conjunto: o ponto final

[ . ], a vírgula [ , ], os dois pontos[ : ], o ponto e vírgula [ ; ], o travessão[ - ], o

travessão duplo [- -]as aspas [“”], os parênteses [( )], dentre outros.

Um sinal gráfico que gera muitas dúvidas entre os produtores de texto é a

vírgula, cuja função costuma ser equivocadamente atribuída à marcação de pausas

Page 24: Livro Didatico NLP2 Parte I

típicas da fala. Na realidade, a vírgula possui um valor sintático, colaborando para

articulação de elementos na oração. Observe, no diagrama a seguir, os principais usos

da vírgula.

Page 25: Livro Didatico NLP2 Parte I

Imagem extraída (adaptada) de www.gettyimages.com. Acesso em 25/05/12

O texto 4 foi retirado de uma edição da revista Veja, edição 2178 de agosto de

2010, e refere-se à edição anterior. Trata-se da carta de uma leitora sobre uma

matéria publicada anteriormente. Abaixo, você pode visualizar a página da revista, que

apresenta a sessão de cartas do leitor, intitulada “Leitor”.

Carta de leitor: gênero opinativo da mídia impressa ou digital. Trata-se do lugar em que se trava um lugar de diálogo dos leitores com a publicação. Caracteriza-se pelo distanciamento físico entre os interlocutores e pela defasagem entre o surgimento do acontecimento e o momento em que o leitor, escreve para expressar sua opinião. Costuma ser assinada com identificação de quem a fez.

(Costa, 2009: 50)

Torpedo ou SMS: Do inglês short message service, o SMS ou torpedo é serviço disponível na maioria dos telefone celulares (e em outros dipositivos móveis como PCs de bolso ou até computadores de mesa) que permite o envio de mensagens curtas (também conhecidas como mensagens de texto) entre telefones celulares e outros dispositivos portáteis.

(Costa, 2009: 173)

[U1] Comentário: Exerícicio de compreensão textual e gramatical Explorar o texto do SMS ou torpedo.

Page 26: Livro Didatico NLP2 Parte I

Selecionamos abaixo uma das cartas de leitor da edição que faz referência à

matéria de capa da edição anterior da revista, que trazia uma reportagem sobre língua

portuguesa na campanha eleitoral de 2010.

Texto 4

Retirado de Veja, edição 2178 de 18 de agosto de 2010, seção “Leitor”.

Page 27: Livro Didatico NLP2 Parte I

Observe que a carta da leitora expressa sua opinião a respeito da matéria

especial de linguagem em apenas um parágrafo.

Parágrafo

“é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia centra, ou nuclear; a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela” (Garcia, 2006: 219).

O parágrafo facilita o trabalho do escritor, uma vez que lhe permite o isolamento, a organização e o ajustamento das ideias principais na composição textual, o que possibilita ao leitor melhor compreensão da articulação das informações no texto.

Garcia (2006) destaca que o parágrafo-padrão, que apresenta uma estrutura mais comum e eficaz, apresenta a estrutura: introdução, representada por períodos curtos que expressa a ideia-núcleo ou tópico frasal; o desenvolvimento, com explanação do da ideia-núcleo; e a conclusão, rara em parágrafos curtos, com desfecho do bloco textual.

O tópico-frasal é geralmente composto pelos períodos inicias do parágrafo, apesar de que pode ocorrer em outros momentos da composição. Ele apresenta a ideia-núcleo, em torno da qual o parágrafo se desenvolverá.

Vale ressaltar que os parágrafos geralmente são identificados por um recuo junto à margem esquerda dos textos. Além do mais, sua extensão pode variar, embora haja uma tendência de se utilizar parágrafos curtos e de se manter certa proporção de tamanho entre eles.

Verifique que na carta de leitor que estamos analisando, podemos verificar uma

organização interna das ideias no parágrafo. Observe:

Introdução com tópico frasal

Comecei bem a semana ao

deparar com a capa de VEJA: “Falar e escrever bem: rumo à

vitória” (11 de agosto).

A leitora expõe sua satisfação diante da

matéria da capa da edição da revista.

Desenvolvimento

Senti-me motivada para dar

continuidade ao meu trabalho. Sou professora de português e

“luto” diariamente para “provar” a importância de dominar a nossa

língua. O enfoque dado à reportagem e a contextualização,

usando o debate dos presidenciáveis, foram pontos-chave para torná-la uma leitura

agradável.

A autora apresenta argumentos para o

embasamento de sua opinião:

- é professora de português e identificou-se com o

tema. - elogia o enfoque e a contextualização do

assunto.

Conclusão ou desfecho

Com certeza usarei o texto em minhas aulas.

A leitora finaliza o

parágrafo, reforçando sua satisfação, ao demonstrar a

utilidade da reportagem comentada.

Page 28: Livro Didatico NLP2 Parte I

Observe que a carta de leitor é um texto argumentativo. A leitora em questão

expõe-se de forma favorável à reportagem e apresenta argumentos que sustentam a

tese (ideia principal) em torno de sua satisfação com a matéria comentada. Em textos

argumentativos, geralmente, tem-se a apresentação de três posições possíveis em

relação a uma tese. De acordo com Goldstein (2009: 92-93), são elas:

Já que estamos falando sobre matérias e reportagens jornalística e sobre

língua portuguesa, leia o texto 5, uma reportagem da revista Língua Portuguesa sobre

a importância da língua no mercado de trabalho.

O quadro abaixo apresenta as características do gênero textual reportagem,

observe-o:

Posturas argumentativas

Sustentação: defesa ou embasamento de uma

tese.

Negociação: enfraquecimento de uma tese.

Concorda-se em parte com determinada ideia.

Refutação: oposição ou posicionamento

contrário à determinada ideia.

Reportagem: texto

jornalístico que

apresenta detalhes e

diversos pontos de vista

sobre determinado

assunto. De certa forma,

pode-se dizer que a

reportagem

complementa o relato

dos fatos com um

convite indireto à

reflexão sobre os vários

modos de ver o assunto. Geralmente aprofunda-se mais em um tema que é atual. (Goldstein, Louzada &

Ivamoto, 2009: 59)

Page 29: Livro Didatico NLP2 Parte I

Texto 5

A carreira nas alturas

Dificuldades com o idioma passam a incomodar cada vez mais os profissionais do mercado, que lotam cursos de reciclagem em português e comunicação

Adriana Natali

A água está no joelho dos profissionais do mercado. As debilidades na formação em língua portuguesa têm alimentado um campo de reciclagem em português nas escolas de idiomas e nos cursos de graduação para pessoas oriundas do mundo dos negócios. A disciplina de Português Instrumental emerge na graduação de cursos da área de negócios. Várias escolas de idiomas têm ampliado o número de cursos de língua portuguesa para brasileiros que percebem a necessidade de atualização.

O que antes era restrito a profissionais de educação e comunicação, agora já faz parte da rotina de profissionais de várias áreas. Para eles, a língua portuguesa começa a ser assimilada como uma ferramenta para o desempenho estável. Sem ela, o conhecimento técnico fica restrito à própria pessoa, que não sabe comunicá-lo. - Embora algumas atuações exijam uma produção oral ou escrita mais frequente, como docência e advocacia, muitos profissionais precisam escrever relatório, carta, comunicado, circular. Na linguagem oral, todos têm de expressar-se de forma convincente nas reuniões, para ganhar respeito e credibilidade. Isso vale para todos os cargos da hierarquia profissional - explica Maria Helena Nóbrega, professora de língua portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da USP.

Indicadores A crescente valorização do domínio do idioma no mercado de trabalho vem sendo apontada por diferentes indicadores. Em 2007, uma pesquisa realizada pela Johnson O' Connor Research Foundation em conjunto com um doutor em linguística, Paul Nation, professor da Victoria University of Wellington, na Nova Zelândia, comprovou que o uso eficiente da língua influi na carreira profissional. Segundo o estudo, feito em 39 empresas americanas, a chance de ascensão profissional está diretamente ligada ao vocabulário que a pessoa domina. Quanto maior seu repertório, mais competência e segurança ela terá para absorver ideias e falar em público.

- Ou seja, hoje em dia, saber um segundo ou terceiro idioma é pré-requisito para se conseguir bom emprego ou promoção, mas muita gente se esquece de que o domínio da língua materna pode ser o diferencial para a sua valorização - diz a coordenadora pedagógica do Centro de Ensino Fisk, Vera Laurenti Bianchini.

A competência comunicativa garantiria potencial para ampliar a "empregabilidade" de

Page 30: Livro Didatico NLP2 Parte I

um profissional. Desde o processo de seleção, as empresas buscam pessoas que saibam comunicar-se com clareza e poder persuasivo. Nas dinâmicas de grupo, além de habilidades de relacionamento e liderança, os selecionadores verificam a capacidade comunicativa do candidato. - Pequenos deslizes (evitar contato visual com os ouvintes, gesticular em excesso, apresentar problemas de dicção ou vocabulário limitado) podem ser fatais e pretexto para a pessoa não ser contratada. Algumas empresas solicitam redação e, pelo texto, avaliam a argumentação daqueles que pretendem representá-las no mercado - diz a professora da USP.

Procura O fraco domínio da língua pode ser uma barreira, ao manter contato com clientes por telefone ou e-mail; ao escrever relatórios e fazer apresentações no trabalho; na preparação para concursos e vestibulares. Mas pode ser resultado direto da mera vontade de retomar os estudos, compreender melhor o que lê e escrever com mais clareza.

A percepção de que a deficiência do idioma é crescente parte do próprio mercado, que enche as salas de aula de português para brasileiros. A escola de idiomas Fisk oferece o curso "Português sem Tropeços" desde o segundo semestre de 2008 e hoje atende a mais de 5 mil alunos em todo o país. Foi a valorização da língua materna por empregadores o que levou a escola a identificar a necessidade da criação desse curso.

- Embora os empresários busquem quem fala idiomas estrangeiros, o profissional não pode descuidar da própria língua. Quem não tem o domínio dela não vai dominar outros idiomas e será malvisto nas entrevistas de trabalho - explica a professora Vera Bianchini.

O foco do curso de Vera é o esclarecimento de dúvidas comuns aos falantes brasileiros e, consequentemente, o aprimoramento das habilidades de escrita e de expressão oral. De acordo com a coordenadora pedagógica do Centro de Ensino Fisk, o curso não se restringe nem à redação nem à gramática. A gramática é explicada de modo contextualizado dentro do panorama profissional para que os alunos pratiquem a língua culta oralmente e, desse modo, tornem-se mais confiantes ao se expressarem. Além disso, exercícios de leitura e de vocabulário possibilitam a expansão do conhecimento lexical dos alunos, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade de escrita deles.

Dúvidas Outra escola, a Companhia de Idiomas, oferece, há dez anos, cursos em empresas, atendendo a demandas detectadas pelos departamentos de Recursos Humanos (RH) ou solicitações de profissionais. O antigo curso de reciclagem hoje é chamado oficina de comunicação. - Quando a solicitação vem da direção ou do RH da empresa, muitos alunos não querem dispor do tempo que têm para estudar português. Se dermos o nome de curso de português, eles não enxergam como algo importante para a carreira. Lembram-se das aulas de português da escola, da gramática complexa do idioma. Há muitos alunos que não gostam de estudar gramática. Por isso, é importante explicar tudo com clareza e envolver a equipe que precisa desse tipo de treinamento para que comprem a ideia, e vejam as vantagens que conquistarão - afirma Lígia Velozo Crispino, professora da Companhia de Idiomas, que atende a cerca de 150 alunos no curso.

O público de Lígia é formado, principalmente, por profissionais da área de vendas,

Page 31: Livro Didatico NLP2 Parte I

compras, marketing e gestores em geral, em que a interação com pessoas é maior. Língua pediu a ela que listasse os problemas com o idioma típicos de profissionais do mercado (as indicações, detalhadas pelo colunista e consultor de Língua Josué Machado, compõem os quadros desta página).

Aprimoramento As aulas são focadas nas necessidades do aluno. Se o aluno quiser melhorar sua comunicação oral, o foco maior das aulas será para esta habilidade. Caso o desafio seja a comunicação escrita, ele deverá fazer exercícios extraclasse. As apostilas são exclusivas, com base nas informações coletadas em reunião para mapeamento de necessidades e expectativas do cliente, aliado ao resultado detectado no teste inicial para diagnóstico das áreas de atenção. Em casos em que a comunicação oral é crucial, são desenvolvidos vídeos para que o aluno possa observar o próprio desempenho.

Erros de grafia e concordância, vícios de linguagem e uso inadequado de vocabulário são comuns. Mas isso não é justificativa que desfaça a má impressão causada por falha cometida num atendimento a cliente, em uma entrevista de emprego ou em quaisquer outras situações.

- No geral, notamos grande dificuldade em concatenar ideias e construir um texto coerente e coeso. Alguns alunos tendem a repetir palavras e expressões, demonstrando falta de vocabulário; outros constroem parágrafos muito curtos ou muito longos (sem que isso seja questão de estilo, mas falta de conhecimento da estrutura do texto). Em termos gramaticais, são comuns dúvidas sobre crase, pontuação, concordância verbal e nominal. É grande também a confusão causada pelas novas regras do Acordo Ortográfico - explica Vanessa Prata, professora da Companhia de Idiomas.

Dificuldades Já Vera Bianchini, da Fisk, afirma que, na escola, há pessoas que se antecipam e decidem fazer o curso espontaneamente. Há outras que só tomam consciência de suas dificuldades quando passam por uma experiência negativa e comprometem sua imagem ao não conseguir se expressar adequadamente.

Para Maria Helena da Nóbrega, da USP, embora a divulgação de questões idiomáticas ainda esteja restrita à gramática normativa, analisada só como manual de etiqueta para situações formais de uso da língua, as maiores dificuldades situam-se na organização textual: falta de clareza, coesão e coerência, impossibilidade de defender a posição com argumentação convincente.

- Tropeços redacionais revelam pouca familiaridade com a estrutura do texto escrito e no geral decorrem de pouca leitura. Afinal, como se aprende a escrever? Tudo indica que a leitura é uma fonte que não pode ser desprezada: ler, ler, ler. Além disso, praticar a escrita é importante. Finalmente, exercitar o que escritores experientes nos ensinam: escrever é reescrever. Sem releitura atenta há grande chance de insucesso na produção textual - conclui.

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Erro 1 - Falta de clareza

Clareza é a qualidade essencial do texto, principalmente o informativo, seja comunicado, relatório, carta, e-mail. Claro é o texto cuja mensagem pode ser apreendida sem dificuldade pelo leitor comum. Sempre se deve levar em conta o destinatário da mensagem e o nível de informação dele: diretor, acionista, subordinado. Obtém-se em geral a clareza por meio da disposição das orações em ordem direta, sempre que possível: sujeito, verbo e complementos, nessa ordem. Devem-se evitar orações intercaladas, mais ainda se longas, e palavras técnicas, a não ser as essenciais, cujo significado deve ser esclarecido se necessário. Nem por isso o texto deve deslizar para o primarismo.

Erro 2 - Prolixidade

No texto empresarial, a linguagem não pode ser obstáculo para a fluência da mensagem; tem de ser veículo. Mas não pode ser encaroçada, dura, cheia de orações intercaladas e ordens inversas. Deve ser correta, clara, fluente, precisa, objetiva, concisa, sem repetição de palavras e, se possível, elegante, harmoniosa, sem ecos, cacófatos e asperezas.

Erro 3 - Queísmo

"Que" tem muitas funções morfológicas e sintáticas, mas mesmo autores cuidadosos evitam usá-lo na mesma frase, pois o excesso de "quês" tende a tornar o texto duro e desarmonioso. Quando se atravessa um texto com muitos "quês" tem-se a impressão de rodar numa carroça em paralelepípedos desalinhados.

Erro 4 - Gerundismo

É um estranho encadeamento de verbos: "Vamos estar mandando isso na semana que vem" é algo que deveria ser traduzido como "mandaremos ou vamos mandar...". Em geral a gerundite se compõe de um verbo qualquer no presente do indicativo, c om frequência "ir" (vou ou vamos), seguido de "estar" no infinitivo - e do gerúndio. Há quem diga que, pela imprecisão da fórmula, representa um modo talvez inconsciente do falante de não se comprometer. Por enquanto, concentra-se na fala. Mas já se notam sinais da praga em escritos de toda espécie. Nestes exemplos, a forma conveniente aparece entre parênteses: "Vou estar transferindo o senhor para o vendedor." (Vou transferir.) "Ninguém sabe quando ele vai estar voltando." (Vai voltar, voltará.) "Vamos estar marcando aquela reunião..." (Vamos marcar.) "Vou poder estar passando..." (Vou passar, posso passar.)

Erro 5 - Tropeços ao usar a crase

O "à" acentuado consiste na fusão ou contração de um "a" com outro. O primeiro "a" é uma preposição, palavra que serve para relacionar duas outras. O segundo "a" pode ser o artigo definido feminino "a" ou o pronome feminino "a" ou o "a" inicial dos demonstrativos aquele, aquela, aquilo. Exemplos de palavras que exigem a preposição "a": Obedecer a: obedece à mulher. Dedicação a: dedicação à mulher. Útil a: útil à mulher. Ele foi a redação. ou Ele foi à redação? Na dúvida, troca-se a palavra feminina diante do "a" por equivalente masculino. Ele foi ao escritório. Portanto: Ele foi à redação. Com horas determinadas: Morreu às duas horas. À moda de: Gosta de buchada à FHC. Em locuções adverbiais, conjuntivas e prepositivas com palavras femininas: às vezes, à moda de, à espera, à medida que, à custa de, à prova de etc.

Acento jamais: Antes de palavras masculinas: Vai a São Paulo. Em "a" seguido de plural: Ela não vai a missas. Antes de verbos: A partir de hoje, irei ao clube. Antes de pronomes de tratamento: Disse a Vossa Senhoria. Recorri a ela.

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Erro 6 - Falta de concordância de verbo antes do sujeito

A forma adequada está entre parênteses: "Chama-me a atenção os desdobramentos..." (Chamam-me ... os) "Falta dez minutos para terminar a sessão."(Faltam dez) "Basta alguns votos para concluir a contagem." (Bastam alguns votos) "Existe, que se saiba, bons motivos..." (Existem ... bons motivos) O verbo concorda com o sujeito, mesmo posposto.

Erro7 - Problemas de regência

Não: O Senador entrou e saiu do Congresso rapidamente. Entrar em, sair de. Sim: O senador entrou no Congresso e saiu rapidamente. Não: Olhei e simpatizei com Raimunda. "Olhar" é verbo transitivo direto, rejeita preposição. "Simpatizar" é transitivo indireto, exige preposição. Sim: Olhei Raimunda e simpatizei com ela. Não: Assisti e gostei do jogo. Assistir ao jogo. Gostar do jogo. Sim: Assisti ao jogo e gostei dele. Melhor: Gostei do jogo. (Se gostou é porque viu.) Há quem defenda a mistura de regências porque o resultado é sintético. Mas o texto informativo deve evitar usos polêmicos.

Erro 8 - Dificuldade com "haver"

Costuma-se confundir a concordância de "existir" com a de "haver". "Haver" é impessoal e fica na 3ª pessoa quando significa "existir": há seguros, há bons motivos. "Haver" impessoal: Com sentido de existir, ocorrer, decorrer, fazer (tempo), haver é usado como impessoal e na 3ª pessoa do singular. Também fica na 3ª pessoa do singular o auxiliar do haver impessoal. Há bons redatores na editora. Com a queda das bolsas, houve pessoas que se mataram.É preciso que haja roupas para todos.

Se o ponto de referência é uma data passada, e não hoje, deve-se usar o pretérito imperfeito (havia) e não o presente (há). A troca por "fazer" torna clara a necessidade de correspondência de tempos passados: Lenise estava naquela escola fazia (não "faz") dez meses.

Erro 9 - Mau uso do "fazer" para indicar tempo

"Fazer" é pessoal em seu sentido próprio, com sujeito e complementos. Ela fez tudo.Eles fazem anos no mesmo dia. É impessoal quando: a) expressa tempo decorrido (forma correta entre parênteses): "Fazem dez anos que a conheci." (Faz dez anos) "Vão fazer três anos que o governo ..." (Vai fazer) Quando se expressa tempo decorrido, usa-se "fazer", sem sujeito, na 3ª pessoa do singular. O auxiliar de "fazer" também fica no singular. b) expressa fenômeno climático: Faz calor. Fazia muito frio.

Erro 10 - Dúvidas de ortografia

Quando se fala em norma culta a que o texto deve ser subordinado, fala-se em concordância, regência, colocação pronominal e ortografia. Estará desqualificado um texto em que aparecerem coisas como "Homem que é homem gostam de mulher", "Eles vão ir a Brasília amanhã", "Chamarei-a de musa", "O Brasil é nós", "caxorro", "trânzito", "gazolina", "obceção" e outras barbaridades.

Erro 11 - Escrever como fala

Comunicação escrita e oral são muito diferentes. A linguagem escrita tem de ser mais elaborada, mais clara, mais definida, mais contida do que a oral. Ela não conta com os

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recursos do gesto, do tom, da mímica, das pausas, das repetições comuns à linguagem oral, é claro. Claro também que quem fala tem o ouvinte à frente e se dirige a um público definido num contexto determinado. Por tudo isso não se deve escrever como se fala, com as repetições e as ênfases naturais à expressão oral. Pelo menos do ponto de vista da norma culta. O fato é que escrever e falar bem e agradar ao público ou destinatário certo constituem quase sempre um trabalho difícil, que exige empenho permanente.

Erro 12 - Má colocação de pronomes

Uma das falhas mais comuns no texto é a má colocação dos pronomes oblíquos. Nos exemplos seguintes, a boa colocação aparece entre parênteses. "Não ficarão órfãs porque deixei-as já adultas..." (porque as deixei) "... quando transferiu-se para..." ( quando se transferiu) "... havia formado-se..." (havia-se formado ou havia se formado) "... há os que acham que deve-se implantar..". (que se deve) "... chamarei-a de a descoberta da..." (chamá-la-ei [evitar] ou a chamarei) "... como manda-o..." (como o manda) "... assim é que nós colocamos-lhe..." (que nós lhe colocamos) Nesses casos, os pronomes oblíquos átonos são atraídos na oração para antes do verbo por palavras negativas e advérbios (não, nem, ainda, bastante, talvez, tanto...); conjunções (quando, enquanto, se...); pronomes relativos (que, quem, cujo...); pronomes pessoais (eu, tu...) em muitos casos. Nada muito rígido. O bom ouvido pode resolver.

Jamais o pronome vem depois de verbos no particípio passado (formado,partido), no futuro do indicativo (caberá) ou do futuro do pretérito, o velho condicional (caberia). Nos casos em que não houver atração, será "havia-se formado", "caber-lhe-ia".

Erro 13 - Infinitivo flexionado?

Convém limitar a flexão do infinitivo aos casos em que for importante identificar o sujeito a que se refere. Mas não se flexiona o infinitivo quando:

1 forma locução verbal (dois verbos funcionando como um; o verbo auxiliar - grifado - já indica o plural): Estavam impedidos de estender a ajuda a todos. (Não: "estenderem".)

2 o sujeito é o mesmo da oração principal: Alguns políticos acham que têm direito de enganar. (Não: "enganarem").

3 a oração infinitiva completa o sentido de substantivo e adjetivo - grifados - (o sujeito também é o mesmo): Não tiveram tempo de terminar a prova. (Não: "terminarem.")

4 o infinitivo depender dos verbos deixar, fazer, mandar, ouvir, sentir e ver - e tiver por sujeito um pronome oblíquo (o, a, os, as): Deixei-os esperar. Sentiu-as puxar-lhe a perna.

Flexiona-se o infinitivo quando ele tiver sujeito próprio, diferente do sujeito da oração principal, ou quando for preciso deixar claro tal sujeito: Era comum deitarem-se na mesma cama três pessoas. Lula disse existirem grandes problemas no país.

Erro 14 - Problemas de pontuação, principalmente da vírgula

É comum encontrar o sujeito separado do verbo, ou o verbo separado do complemento, pelo uso de vírgula. Duas normas são essenciais:

1 Jamais se separa o sujeito da predicado (verbo), mesmo que ambos estejam distantes. "Todos os empregados que precisem viajar para fora do país, devem comparecer ao serviço de medicina..." A vírgula depois de "país" separa o sujeito (empregados) de seu verbo (devem comparecer). 2 Jamais se separa o verbo de seus complementos. Mesmo que o verbo esteja longe deles. "A Bolsa do Rio garantia, a bancos e corretoras, o pagamento da compra de

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ações feita..." "A bancos e corretoras" é objeto indireto; não pode aparecer entre vírgulas. Separam-se por vírgulas orações intercaladas ou adjuntos adverbiais deslocados, no começo da frase (deslocados porque a ordem natural dos adjuntos é no fim da frase). O presidente, enquanto viajou, foi informado de tudo. Enquanto viajou, o presidente foi informado de tudo.

Erro 15 - Falta de revisão do que escreve

A leitura e a releitura do texto são fundamentais para evitar a divulgação de impropriedades, incoerências e repetições. A revisão contribui para obter a concisão, essencial no texto preciso e enxuto, expurgado de palavras desnecessárias, principalmente adjetivos e advérbios. A revisão é sobretudo um recurso para adequar o texto à norma culta, sempre com cuidado para preservar as informações fundamentais. Se as pessoas fizessem uma rápida leitura do que escrevem, eliminariam vários dos problemas detectados. Muitas pessoas têm bom português, mas fazem tudo com um senso de urgência que nem sempre se justifica. Acabam enviando mensagens com erros de digitação e de gramática.

Texto adaptado de: http://revistalingua.uol.com.br/textos/63/artigo249013-1.asp. Acessado em 01/11/2011

Se atentarmos para o texto 5, veremos que ele progride tematicamente. O

autor o faz por meio da organização das informações em encadeamentos que podem

ser marcados pelo uso de palavras ou expressões conectivas. Vejamos alguns

exemplos:

Exemplo Comentário

- Embora algumas atuações exijam uma produção oral ou escrita mais frequente, como docência e advocacia, muitos profissionais precisam escrever relatório, carta, comunicado, circular.

O conectivo embora introduz a ideia 1 que será questionada pela ideia 2, estabelecendo o sentido de oposição.

Ideia 1: Embora algumas atuações exijam uma produção oral ou escrita mais frequente, como docência e advocacia,

Ideia 2: (que contrasta à ideia 1): muitos profissionais precisam escrever relatório, carta, comunicado, circular.

Outros conectivos que estabelecem oposição de ideias ou contrajunção: mas, apesar de, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto, posto que.

- A gramática é explicada de modo contextualizado dentro do panorama profissional para que os alunos pratiquem a língua culta oralmente e, desse modo, tornem-se mais confiantes ao se

O conectivo além disso agrega uma informação ao conjunto das informações já apresentadas.

Informação apresentada 1: A gramática

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expressarem. Além disso, exercícios de leitura e de vocabulário possibilitam a expansão do conhecimento lexical dos alunos, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade de escrita deles.

é explicada de modo contextualizado dentro do panorama profissional para que os alunos pratiquem a língua culta oralmente e, desse modo, tornem-se mais confiantes ao se expressarem

Informação agregada 2: Além disso, exercícios de leitura e de vocabulário possibilitam a expansão do conhecimento lexical dos alunos, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade de escrita deles

Outros conectivos que tem o papel de adicionar informações ao fluxo do texto: não só, como também, e.

Quando a solicitação vem da direção ou do RH da empresa, muitos alunos não querem dispor do tempo que têm para estudar português.

Muitos conectivos têm o papel de organizar as informações do ponto de vista temporal. O conectivo quando estabelece o sentido de “no momento em que”.

Outros conectivos com função de temporalidade: Assim que, antes de, logo que, durante, no momento em que, enquanto, à proporção que.

Há muitos alunos que não gostam de estudar gramática. Por isso, é importante explicar tudo com clareza e envolver a equipe que precisa desse tipo de treinamento para que comprem a ideia [...]

O conectivo por isso tem o papel de concluir uma argumentação.

Argumento 1: Há muitos alunos que não gostam de estudar gramática.

Conclusão: Por isso, é importante explicar tudo com clareza e envolver a equipe que precisa desse tipo de treinamento para que comprem a ideia.

Outros conectivos que apresentam função de estabelecer conclusão: logo, portanto, destarte, assim sendo, assim, dessa forma, sendo assim, desse modo.

As aulas são focadas nas necessidades do aluno. Se o aluno quiser melhorar sua comunicação oral, o foco maior das aulas será para esta habilidade. Caso o desafio seja a comunicação escrita, ele deverá fazer exercícios extraclasse.

Os conectivos se e caso expressam a ideia de condicionalidade.

Outros conectivos que expressam condição: desde que, contanto que, a menos que.

Os conectivos vistos e muitos outros colaboram para o encadeamento das

ideias no texto, a esse encadeamento denominamos coesão sequencial. A coesão

sequencial relaciona as partes do texto, utilizando um conjunto de termos, conhecidos

como organizadores textuais ou conectivos. Alguns deles dão indicação de espaço,

de tempo, de oposição entre orações, explicação, causa, entre outros.

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Para saber mais sobre os variados papéis que os organizadores textuais/conectivos assumem na composição do texto, leia o capítulo 8 do livro Ler e compreender, de Ingedore Koch e Vanda Elias. Acesse o livro no site da nossa biblioteca virtual: http://www.uniceub.br/Biblioteca

Produção textual

Vimos que a carta de leitor é um instrumento utilizado para o leitor expressar

sua opinião acerca de alguma matéria ou do tratamento dado a algum tema no meio

jornalístico. Ela serve como um índice de avaliação da receptividade das matérias

publicadas.

Sua tarefa agora é elaborar uma carta de leitor em dois parágrafos, tomando

como base a publicação da reportagem “Carreira nas alturas” publicada na revista

Língua Portuguesa. Lembre-se de endereçar sua carta ao editor da revista.

Sugestão de leitura