Literatura - CAMÕES II

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Luis Vaz de Camões (1524 – 1580)

Camões: cantor de uma época e de um povo

Luíz Vaz de Camões é considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa. Em sua vasta obra, imortalizou as glórias de seu povo, registrou de modo sublime os sofrimentos amorosos, indagou sobre as inconstâncias do amor e incertezas da vida.

Soneto

Transforma-se o amador na

[cousa amada,

Por virtude do muito imaginar;

Não tenho logo mais que desejar,

Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma

[ transformada,

Que mais deseja o corpo de

[ alcançar?

Em si somente pode descansar,

Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,

Que, como o acidente em seu sujeito,

Assim com a minha alma se conforma,

Está no pensamento como ideia;

E o vivo e puro amor de que sou feito,

Como a matéria simples busca

[a forma.

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Os lusíadas: reinvenção épica da História de Portugal

Os lusíadas são uma epopeia de imitação, porque seguem o modelo estabelecido, na Antiguidade, pelos poemas homéricos. Quando Camões publicou sua epopeia, cumpriu a função de relembrar a grandiosidade portuguesa, já em decadência naquele momento.

Como homem de seu tempo, Camões faz em Os lusíadas uma crítica explícita à cobiça e à tirania no episódio do Velho do Restelo (Canto IV). O velho, ao protestar contra as grandes navegações no momento da partida da esquadra de Vasco da Gama, deixa claro que povo é quem navega e morre, enquanto o rei e a burguesia dividem entre si os lucros.

A estrutura de Os lusíadas

A estrutura: dividido em dez Cantos que apresentam, no total, 1.102 estrofes organizadas em oitava rima (ABABABCC) – também conhecida como oitava real – e que perfazem 8.816 versos, todos decassílabos.

O tema: cantar “ a glória do povo navegador português” e a memória dos reis que “foram dilatando a Fé, o Império”.

O herói: o navegador Vasco da Gama. A leitura do poema, porém, revela também o caráter heróico do povo lusitano (português).

Lírica camonianaConsiderada como excelência poética do século XVI, a lírica camoniana concilia a tradição lírica medieval portuguesae a tradição moderna da lírica italiana. Os textos provenientes dessa orientação poética de Camões são identificados como integrantes da medida velha (inspirada na lírica medieval) e da medida nova (inspirada no humanismo e no Renascimento italiano). Continuadora da poesia palaciana, a medida velha apresenta versos em redondilhas maior e menor. Conforme a medida nova italiana, o verso camoniano utilizado é o decassílabo. Destacam-se os sonetos.

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor? (LUÍS DE CAMÕES)

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O desconcerto do mundoCamões estabelece espécie de lírica filosófica, nomeada pela crítica como desconcerto do mundo. Atualíssima, tal orientação poética expressa aordem do mundo em oposição à realização do ser que nele habita.

Ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passarNo mundo graves tormentos;E para mais me espantar,Os maus vi sempre nadarE mar de contentamentos.Cuidando alcançar assimO bem tão mal ordenado,Fui mal, mas fui castigado.Assim que só para mimAnda o mundo concertado. (LUÍS DE CAMÕES)