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LITERATURA 1 EUGENE IVANOV / SHUTTERSTOCK

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Literatura 1

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Vejamos o emprego criativo que o poeta, crítico, ensaísta e professor Mário Chamie (1933-2011) deu às palavras, aos versos e às rimas no poema seguinte, cujo tema é uma crítica à televisão como veículo de comunicação que não colabora para o desenvolvimento de um pensamento crítico, ao contrário, promove o afastamento do senso crítico, massificando as ideias.

Veículos de massaTV

o vidro transparência / o olho cego consciênciaa consciência no vidro / a transparência do vidroo povo cego da praça / o olho negro da massaa praça de olho cego / a massa de olho negro.

o vidro transparênciao cego consciência

a massa diante do vidroa massa = olho de vidro

a praça de olho negroo povo = olho morcego

sem ver o povo com a vendaa câmara negra = sua tenda

sem ver / a venda no olho do povote vê / a câmara negra do sono.

chaMIE, Mário. Poesia moderna. São Paulo: Melhoramentos, 1967. p. 471.

este poema fez parte do movimento denominado “poesia práxis”, desenvolvido a partir de 1962, que teve o poeta Mário Chamie como seu principal representante. Nele, a linguagem forma um labirinto entre os versos, que podem ser lidos da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, de cima para baixo ou de baixo para cima; cada segmento pode ser lido com o seguinte ou com o de baixo, pois esse estilo buscava promover maior participação do leitor na construção do sentido. o tema é de ordem social, cultural e política; no entanto, o que torna o texto pertencente à categoria de “literário” são os recursos da linguagem.

exercíciOs

1. (UerN)

a palavra serve para comunicar e interagir. E também para criar literatura, isto é, criar arte, provocar emoções, produzir efeitos estéticos.

Português: linguagens – volume 1: ensino médio. cErEJa, William roberto; MagaLhÃES, thereza cochar. 5.ed. São Paulo: atual, 2005. p. 27.

a partir da definição anterior, pode-se afirmar que a linguagem literária; a) pressupõe objetividade e clareza diante da sua função utilitária. b) não permite que haja dupla interpretação a respeito do assunto tratado. c) é organizada de modo que a plurissignificação esteja presente no texto. d) tem por objetivo esclarecer acerca de um assunto relacionado à realidade.

2. (enem-MeC)

da sua memóriamilemuitosoutros

rostossoltospoucoa

poucoapagamomeu

antunES, a. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São Paulo: Perspectiva, 1998.

o texto literário não tEM função utilitária. trata-se de um texto mais artístico, de função estética, muitas vezes subjetivo, dando margem a diferentes interpretações por parte dos leitores.

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aula 1 Literatura

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Trabalhando com recursos formais inspirados no Concretismo, o poema atinge uma expressividade que se caracteriza pela:

a) interrupção da fluência verbal, para testar os limites da lógica racional.

b) reestruturação formal da palavra, para provocar o estranhamento no leitor.

c) dispersão das unidades verbais, para questionar o sentido das lembranças.

d) fragmentação da palavra, para representar o estrei-tamento das lembranças.

e) renovação das formas tradicionais, para propor uma nova vanguarda poética.

3. (enem-MeC)

Pérolas absolutas há, no seio de uma ostra, um movimento – ainda que

imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, uma partícula qualquer, diminuta e invisível. venceu as paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem medo de deixar escapar um segredo. venceu. E agora penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria substância. a ostra reage, imediatamente. E começa a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma tentativa de purificação contra a partícula invasora. com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando por anos a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É dessa solidificação que nascem as pérolas.

as pérolas são, assim, o resultado de uma contamina-ção. a arte por vezes também. a arte é quase sempre a transformação da dor. […] Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encon-trada e viva para sempre encerrada no fundo do mar. talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.

SEIXaS, h. Uma ilha chamada livro. rio de Janeiro: record, 2009 (fragmento).

Considerando os aspectos estéticos e semânticos presentes no texto, a imagem da pérola configura uma percepção que:

a) reforça o valor do sofrimento e do esquecimento para o processo criativo.

b) ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição ao elemento exótico.

c) concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.

d) expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e involuntária.

e) destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato com o inusitado e com o desconhecido.

4. (enem-MeC)

Sem acessórios nem somEscrever só para me livrarde escrever.Escrever sem ver, com riscossentindo falta dos acompanhamentoscom as mesmas lesmase figuras sem força de expressão.Mas tudo desafina:o pensamento pesatanto quanto o corpoenquanto corto os conectivoscorto as palavras rentescom tesoura de jardimcega e brutacom facão de mato.Mas a marca deste cortetem que ficarnas palavras que sobraram.Qualquer coisa do que desapareceucontinuou nas margens, nos talosno atalho aberto a talhe de foiceno caminho de rato.

FrEItaS FILho, a. Máquina de escrever: poesia reunida e revista. rio de Janeiro: nova Fronteira, 2003.

Nesse texto, a reflexão sobre o modo criativo apon-ta para uma concepção de atividade poética que põe em evidência o (a):

a) angustiante necessidade de produção, presente em “escrever só para me livrar / de escrever”.

b) imprevisível percurso da composição, presente em “no atalho aberto a talhe de foice / no caminho de rato”.

c) agressivo trabalho de supressão, presente em “corto as palavras rentes / com tesoura de jardim / cega e bruta”.

d) inevitável frustração diante do poema, presente em “Mas tudo desafina: / o pensamento pesa / tanto quanto o corpo”.

e) conflituosa relação com a inspiração, presente em “sentindo falta dos acompanhamentos / e figuras sem força de expressão”.

4. no poema, os versos “corto as palavras rentes / com tesoura de jardim / cega e bruta” deixam clara a opção do poeta em produzir textos que excluam o supérfluo. Este supérfluo é definido ao longo do poema (“figuras sem força de expressão”, “conectivos”, “palavras rentes”), sem, con-tudo, descuidar do que deve ficar implícito nessas elipses.

2. a principal característica do concretismo é a ruptura do conceito tradicional do verso com a finalidade de definir o poema como conjunto de elementos que estruturam a mensagem por meio de signos verbivocovisuais (que conjugam o conteúdo verbal, sonoro e visual, Por MEIo do aproveitamento do espaço do papel), permitindo a possibilidade de diversas leituras EM diferentes ângulos. no poema, a fragmentação

de palavras dispostas na vertical dá origem a uma coluna estreita em que os termos precisam ser interligados para manterem o nexo semântico original. Se aliarmos essa disposição gráfica ao título do poema, poderemos perceber que o poema se caracteriza pela fragmentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças.

3. heloísa Seixas associa o ato de escrever ao processo de formação da pérola, já que ambos resultam de um trabalho progressivo: “com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando por anos a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando”. também na arte de escrever é necessária a paciência, metaforicamente associada à produção do texto: “Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita”. ao mesmo tempo, a autora estabelece paralelismo entre as estratégias de “encerramento” que acontece em ambos. Se a ostra se fecha em si mesma para produzir a pérola, também o escritor utiliza o espaço da introspecção (“esquecimento” do plano externo) para o fazer literário.

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exercíciOs

1. (enem-MeC / ppl)

Ai se sêsseSe um dia nois se gostasseSe um dia nois se queresseSe nois dois se empareasseSe juntim nois dois vivesseSe juntim nois dois morasseSe juntim nois dois drumisseSe juntim nois dois morresseSe pro céu nois assubisseMas porém se acontecesseDe São Pedro não abrissea porta do céu e fosse

te dizer qualquer tuliceE se eu me arriminasseE tu cum eu insistissePra que eu me arresolvesseE a minha faca puxasseE o bucho do céu furassetarvês que nois dois saíssetarvês que nois dois caísseE o céu furado arriasseE as virgi toda fugisse

ZÉ Da LuZ. Cordel do fogo encantado. recife: Álbum de Estúdio, 2001.

o poema foi construído com formas do português não padrão, tais como “juntim”, “nois”, “tarvês”. essas formas legitimam-se na construção do texto, pois:

a) revelam o bom humor do eu lírico do poema.b) estão presentes na língua e na identidade popular.c) revelam as escolhas de um poeta não escolarizado.d) tornam a leitura fácil de entender para a maioria dos brasileiros.e) compõem um conjunto de estruturas linguísticas inovadoras

2. (espcex/aman-rJ) leia o trecho a seguir e responda.

[…] o senhor tolere, isto é o sertão. uns querem que não seja! que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do urucúia. toleima. Para os de corinto e do curvelo, então, o aqui não é dito sertão? ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. o urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fa-zendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. os gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães… o sertão está em toda parte.

Quanto ao trecho, é correto afirmar que: a) não há ponto de vista do narrador, que apenas relata as impressões alheias.b) apresenta alguns neologismos, como “toleima”, “almargem”, “opiniães” e “oestes”.c) não há abordagem universal, a passagem constitui apenas uma descrição do sertão.d) o trecho transpõe os limites do regional, alcançando a dimensão universal.e) transparece todo misticismo sertanejo, baseado apenas nos dois extremos: o bem e o mal.

caro(a) professor(a), a ideia deste exercício é mostrar como a poesia lírica atualmente aceita formas populares, coloquiais, que são consideradas tão legítimas como as formas mais formais e eruditas do passado.

Severino de andrade Silva, mais conhecido como Zé da Luz, foi um al-faiate de profissão e poeta brasileiro que publicava suas obras em forma de literatura de cordel. Esse gênero literário popular cultivava, frequen-temente, a forma rimada de versos redondilhos, cujo tema tinha origem em relatos orais para depois ser impresso em folhetos. Expressões como “juntim”, “nois”, “tarvês” estão presentes na língua e na identidade popular, como se afirma em b.

neste texto, o narrador descreve o sertão numa linguagem quase mística ou filosófica, falando do espaço onde vive, sem se prender à pura descrição, ao mesmo tempo que vai tecendo reflexões sobre os mistérios da condição humana, por isso a resposta para a questão é a letra d.

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13. as opções a, b, c, d são incorretas, pois [a] no poema de cabral, o eu lírico critica a hipocrisia da aristocracia rural, no de Bandeira, exprime indignação pela vida miserável na realidade

urbana e no de Drummond, manifesta o tédio pela vida monótona do interior; [b] no poema de Drummond, a apóstrofe “meu Deus” não transmite preocupação religiosa, exprime o desabafo do eu lírico, cansado da rotina; [c] nem os poemas citados expressam tédio da vida

nas cidades grandes, nem a efemeridade do tempo é temática predominante na poesia de Bandeira, Drummond e João cabral de Melo neto; [d] em “arquitetura da cana-de-açúcar”, o poeta denuncia a hipocrisia da aristocracia rural, que aparenta ser muito bem intencionada, mas só age de acordo com seus próprios interesses.

3. (Upe) Textos para esta questão.

A arquitetura da cana-de-açúcaros alpendres das casas-grandesde par em par abertos, anchos,cordiais como a hora do almoço,apesar disso não são francos.

o aberto alpendre acolhedorno casarão sem acolhimentotira a expressão amiga, amáveldo que é fora e não dentro:

dos lençóis de cana, tendidos,postos ao sol até onde a vista,e que lhe dão o sorriso abertoque disfarça o que dentro é urtiga.

João cabral de Melo neto

O bichovi ontem um bichona imundície do pátiocatando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,não examinava nem cheirava:Engolia com voracidade.

o bicho não era um cão,não era um gato,não era um rato.

o bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

Cidadezinha qualquercasas entre bananeirasmulheres entre laranjeiraspomar amor cantar.

um homem vai devagar.um cachorro vai devagar.um burro vai devagar.

Devagar… as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus!

carlos Drummond de andrade

em relação aos três poemas, assinale a alternativa correta.

a) os poemas de Cabral, bandeira e Drummond apre-sentam temas característicos de ambientes sociais diferentes. No primeiro poema, o eu lírico faz uma crítica ao ambiente rural, enquanto os outros dois refletem a realidade urbana própria da metrópole, na qual o homem e os animais são inconfundíveis.

b) só os poemas dos autores pernambucanos tratam de uma temática social, enquanto o poeta minei-ro menciona Deus, revelando uma preocupação religiosa intensa, própria do imaginário da região onde nasceu.

c) o primeiro e o terceiro poema revelam preocu-pação com o homem contemporâneo, quando este vive o tédio dos grandes centros urbanos. Também neles, o eu poético fala da efemeridade do tempo, tema próprio da poética de Manuel bandeira, Carlos Drummond de andrade e João Cabral de Melo Neto.

d) João Cabral, em “arquitetura da cana-de-açúcar”, revela preocupação com o retirante nordestino, que busca na capital uma vida melhor. Tal fato se apre-senta no primeiro texto, cuja temática é a mesma de Morte e vida severina, auto de natal pernambucano.

e) os três poemas apresentam comportamentos e situações inerentes à existência de seres humanos pertencentes a classes e ambientes sociais distintos: a casa-grande e a hipocrisia de seus habitantes, a cidade grande e a vida animalesca de alguns que nela vivem e a cidade do interior com seus mexericos.

4. (pUC-rJ)

VagabundoEu durmo e vivo ao sol como um cigano,Fumando meu cigarro vaporoso;nas noites de verão namoro estrelas;Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso!

ando roto, sem bolsos nem dinheiro;Mas tenho na viola uma riqueza:canto à lua de noite serenatas,E quem vive de amor não tem pobreza.

não invejo ninguém, nem ouço a raivanas cavernas do peito, sufocante,Quando à noite na treva em mim se entornamos reflexos do baile fascinante.

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namoro e sou feliz nos meus amores;Sou garboso e rapaz… uma criadaabrasada de amor por um sonetoJá um beijo me deu subindo a escada…

oito dias lá vão que ando cismadona donzela que ali defronte mora.Ela ao ver-me sorri tão docemente!Desconfio que a moça me namora!…

tenho por meu palácio as longas ruas;Passeio a gosto e durmo sem temores;Quando bebo, sou rei como um poeta,E o vinho faz sonhar com os amores.

o degrau das igrejas é meu trono,Minha pátria é o vento que respiro,Minha mãe é a lua macilenta,E a preguiça a mulher por quem suspiro.

Escrevo na parede as minhas rimas,De painéis a carvão adorno a rua;como as aves do céu e as flores purasabro meu peito ao sol e durmo à lua.

Sinto-me um coração de lazzaroni;Sou filho do calor, odeio o frio;não creio no diabo nem nos santos…rezo a nossa Senhora, e sou vadio!

ora, se por aí alguma belaBem doirada e amante da preguiçaQuiser a nívea mão unir à minhahá de achar-me na Sé, domingo, à Missa.

aZEvEDo, Álvares de. In raMoS, Frederico José da Silva (org.). Grandes poetas românticos do Brasil. tomo I. São Paulo: LEP, 1959. p. 266.

a) o estudo da literatura aponta para a existência de diferentes gêneros literários, que podem aparecer em um texto separadamente ou misturados, dependendo da intenção do autor, da abordagem temática e da construção linguística empregada. Determine o gênero literário predominante no texto.

b) Transcreva do poema “Vagabundo” um verso que cumpre uma função metapoética.

o gênero predominante no texto é o lírico.

“canto à lua de noite serenatas” ou “Escrevo na parede as minhas rimas”.

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aula 3 Literatura

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tantas caras tristesquerendo chegarem algum destinoem algum lugar

trem sujo da Leopoldinacorrendo correndoparece dizertem gente com fometem gente com fometem gente com fome

Só nas estaçõesquando vai parandolentamente começa a dizerse tem gente com fomedá de comerse tem gente com fomedá de comerse tem gente com fomedá de comer

Mas o freio do artodo autoritáriomanda o trem calarPsiuuuuuuuuuu

Solano trindade. Disponível em: <http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/pernambuco/ solano_trindade.html>. acesso em: 13 out. 2017.

Nesse poema, os versos livres, a ausência de rimas regulares, o uso de onomatopeias, as repetições e a sonoridade das palavras têm como finalidade representar um trem em viagem, ao mesmo tempo que faz uma crítica de um problema social – a fome –, presente em uma das principais capitais do país, a cidade do rio de Janeiro. podemos observar que a forma e a distribuição dos versos, a sonoridade e os sentidos das palavras refletem um período em que a velocidade da vida nas grandes cidades é assimilada pela forma de expressão das pessoas e pela maneira como escrevem: com frases curtas, justapostas, sem uma preocupação em estabelecer uma coesão sintática. além disso, a linguagem coloquial e as escolhas de palavras, presentes no poema, caracterizam uma literatura que procura representar o modo de expressão das camadas populares da sociedade.

exercíciOs

1. (UeCe)

Pedro américo, pintor brasileiro nascido na Paraíba, foi um grande cultivador da arte acadêmica. viveu sob a proteção de D. Pedro II, que lhe financiou cursos na Europa. o imperador brasileiro foi um verdadeiro mecenas (indivíduo rico que protege artistas, homens de letras ou de ciências, proporcionando-lhes recursos financeiros para que possam dedicar-se, sem preocupações outras, às artes e às ciências). Foi por encomenda de D. Pedro II que ele pintou, em 1888, o quadro que homenageia D. Pedro I, pelo ato de proclamar a independência política do Brasil. a pintura recebeu o nome de Independência ou morte, sendo mais conhecida, no entanto, como O grito do Ipiranga. É um quadro que todo estudante brasileiro reconhece.

O grito

um tranquilo riacho suburbano, uma choupana embaixo de um coqueiro, uma junta de bois e um carreteiro: Eis o pano de fundo e, contra o pano,

Figurantes – cavalos e cavaleiros, ressaltando o motivo soberano, a quem foi reservado o meio plano onde avulta solene e sobranceiro.

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complete-se a figura mentalmente com o grito famoso, postergando Qualquer simbologia irreverente.

nem se indague do artista, casto obreiro, Fiel ao mecenato e ao seu comando, Quem o povo, se os bois, se o carreteiro.

PaES, José Paulo. Poesia completa. São Paulo: companhia das Letras, 2008. p. 105.

os poemas podem variar no número de sílabas mé-tricas. os versos que têm de 1 a 12 sílabas recebem nomes diferentes. a partir de 13 sílabas, deixam de receber nomes específicos. em relação ao poema “o grito”, é correto afirmar que:

a) foi feito com versos de 5 sílabas métricas chamados pentassílabos ou redondilhas menores.

b) apresenta versos de 7 sílabas métricas, a medida ou o metro das quadras e da poesia popular de maneira geral como ocorre em cantigas de roda e desafios.

c) tem versos de 8 sílabas métricas, denominados octossílabos, usados nas baladas (composições poéticas populares antigas, acompanhadas ou não de música).

d) foi estruturado em versos de 10 sílabas métricas, decassílabos, que são versos longos, de difícil feitura, adequados aos poemas heroicos e épicos.

2. (Cefet-rJ)

Descrição de gravura Eu vejo uma gravura, grande e rasa. no primeiro plano, uma casa. À direita da casa, outra casa. À esquerda da casa, outra casa. Lá no fundo da casa, outra casa. Em frente da casa, uma vala: onde corre a lama, doutra casa. E no chão da casa, outra vala onde corre o esgoto doutra casa.

Esta casa que eu vejo, não se casa com o que chamamos de uma casa. Pois as paredes são esburacadas, onde passam aranhas e baratas. E os telhados são folhas de zinco. E podem cair a qualquer vento E matar a mulher que mora dentro

1. o poema “o grito”, de José Paulo Paes, é constituído de versos decassílabos, adequados aos poemas heroicos e épicos como se afirma em d.Exemplo de escansão: um-tran-qui-lo-ri-a-cho-su-bur-ba (no) / u-ma-chou-pa-naem-bai-xo-deum-co-quei (ro)

3. o poema de raul Bopp apresenta, em imagens fragmentadas e versos livres, a técnica telegráfica de representar a experiência moderna de adentrar no país através de uma autoestrada. a alternância de versos curtos com longos reproduz o movimento do automóvel no qual se fez a viagem, demonstrando a preocupação em anotar, de forma inovadora, os fatos e acontecimentos que presenciou ou vivenciou na sua época. assim, é correta a opção e.

E matar a criança, que está dentro Da mulher que mora nessa casa. ou da mulher que mora noutra casa. É preciso pintar outra gravura com casa de argamassa na paisagem crianças cantando a segurança da vida construída

[à sua imagem.

reinaldo Jardim

o texto é marcado pelo recurso da repetição, que se verifica em diferentes níveis: fonético, sintático, rítmico e vocabular. Nos versos de 2 a 11, a repeti-ção vocabular produz um efeito semântico que:

a) torna mais vívida a imagem construída no poema. b) cria uma imagem confusa das construções descritas. c) intensifica gradativamente o efeito de aglomeração. d) evidencia o sofrimento cotidiano dos moradores.

3. (enem-MeC / ppl)

Como se vai de São Paulo a Curitiba (1928)os tempos mudaram.o mundo contemporâneo pulsa em ritmos acelerados.

novos fatores revelam conveniência de outros métodos.Surgem, no decurso dos nossos dias, motivos que

nos convencem de que cada município deve levar a sério o problema da circulação rodoviária.

Para facilitar a ação administrativa.Para uma revisão das suas possibilidades econômicas.ritmo de ruralização.costurar o país com estradas alegres, desligadas de

horários. Livres e cheias de sol como um verso moderno!

BoPP, r. Poesia completa de Raul Bopp. rio de Janeiro: J. olympio; São Paulo:

Edusp, 1998 (fragmento).

Nos anos de 1920, a necessidade de modernizar o brasil refletiu-se na proposta de renovação estética defendida por artistas modernistas como raul bopp. No poema, o posicionamento favorável às transfor-mações da sociedade brasileira aparece diretamente relacionado à experimentação na poesia. a relação direta entre modernização e procedimento estético no poema deve-se à correspondência entre:

a) a discussão de tema técnico e a fragmentação da linguagem.

b) a afirmação da mudança dos tempos e a inovação vocabular.

2. a repetição do termo “casa” sugere a concentração de habitações que diferem, pela ausência de infraestruturas básicas, do que normalmente se designa de “lar”: “Esta casa que eu vejo, não se casa / com o que chamamos de uma casa”. assim, é correta a alternativa c.

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c) a oposição à realidade rural do país e a simplificação da sintaxe. d) a adesão ao ritmo de vida urbano e a subjetividade da linguagem. e) a exortação à ampla difusão das estradas e a liberdade dos versos.

4. (enem-MeC)

L.J.C.– 5 tiros?– É.– Brincando de pegador?– É. o PM pensou que…– hoje?– cedinho.

coELho, M. ln: FrEIrE, M. (org). Os cem menores contos brasileiros do século.

São Paulo: ateliê Editorial, 2004.

os sinais de pontuação são elementos com importantes funções para a progressão temática. Nesse miniconto, as reticências foram utilizadas para indicar:

a) uma fala hesitante. b) uma informação implícita. c) uma situação incoerente.

d) a eliminação de uma ideia. e) a interrupção de uma ação.

estudO OrientadO

exercíciOs

1. (Unicamp-sp)

Pobre alimáriao cavalo e a carroçaEstavam atravancados no trilhoE como o motorneiro se impacientassePorque levava os advogados para os escritóriosDesatravancaram o veículoE o animal disparouMas o lesto carroceirotrepou na boleiaE castigou o fugitivo atreladocom um grandioso chicote

anDraDE, oswald de. Pau-Brasil. São Paulo: globo. 2003, p. 159.

a imagem e o poema revelam a dinâmica do espaço na cidade de são paulo na primeira metade do século XX.Qual alternativa formula corretamente essa dinâmica?

4. o miniconto caracteriza-se por ser uma narração com o mínimo de palavras possíveis, de maneira a que todo o contexto seja mais sugerido do que narrado. as elipses deixam ao leitor a tarefa de “preencher” essas sugestões e entender a história por trás da história escrita. no texto de Marcelo coelho, as reticências indicam uma informação de conhecimento do contexto social e das personagens, o que explicaria a ação do policial ao desferir os cinco tiros que mataram o menino que brincava de “pega-ladrão”: o policial pensou que L.J.c. era um bandido, estava armado e oferecia perigo. assim, é correta a opção b.