WEBER, Anton. a Objetividade Nas Ciências Sociais

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A. "OBJETIVIDADE" DO CONHEOMENTO NA CIÊNCIA SOCIAL E NA CIÊNCIA POLÍTICA 1 - 1904 A primeira pergunta que se deve fazer a uma revista de àênàas sociais e de política social no momento em que fica sob a responsabilidade de uma nova redação, é, obviamente, a pergunta quanto às suas ''tendênàas". 2 Não podemos nos negar a respondê-la e, pretendemos aqui, dar uma resposta em consonânàa 1 Sempre cpe, na primeira parte das considerações cpe se seguem, se falar explicitamente em nome dos edira-es, oo cpando se delegar detenninadas tarefas ao Archiv for Sozialwissenschaft und Sazia/politik (Arq.llvo para a ciência social e política social) não tratar-se-á, naturalmente, de opiniões partirulares do autor, mas de formulações cpe foram expressamente autorizadas pelos co- edira-es. A responsabilidade da segunda parte recai, exclusivamente, sobre o autor, seja oo tocante à forma, oo oo cpe diz respeito ao CX>I'lláldo. O Arquivo jamais cairá no sectarisrrD de uma determinada opinião dogmática, o cpe será as- segurado pela diversidade dos pontos de vista, não apenas dos seus colaboradoces, mas também dos seus editoces, mesrrD oo que diz respeito a cpestões metodológicas. Naturalmente, certo con- senso com referêrria a determinadas concepções básicas era um pré-recpisito para se poder assumir urna direção coletiva. Este consenso consiste, em particular, na apreciação do valor do conhecimento teórico a partir de pontos de vista "unilaterais", bem como na exigência da formação de conceitos precisos e na rigorosa separação entre o "saber empírico" e os "juízos de valor'' - sem, com isso, se acreditar na existência de algo "essen:ialmente oovo". A ampliação da discussão (na segunda parte) e a freqüente repetição da mesma idéia servem ao fim exclusivo de alcan;ar, através de tais considerações, o máximo de "compreensibilidade geral". Em função deste interesse, sacrificoo-se - esperamos que não de maneira excessiva - o rigor nas expressões, e, em virtude do mesrrD interesse, deixamos de lado a tentativa de apresentar uma investigação sistemática para apresentar justaposições e exemplificações de alguns pontos de vista metodológicos. Uma abordagem sistemática implica a inclusão de uma multiplicidade de proolemas epistemológicos que, em parte, requerem uma diSOJSSão em um nível muito mais profundo. Não abocdamos aqui, de maneira direta, cpestões de lógica, mas apenas utilizamo-nos de alguns co- nhecidos resultados da lógica moderna Tambem não pretendemos solucionar problemas da lógica, mas tão-somente ilustrar o seu significado para os especialistas. Quem conhece os trabalhos dos lógicos modernos - serão mencionados aqui apenas os nomes de Wmdelbant, Simmel, e, com ênfase para os nossos fins, Heinrich Rickert - logo perceberá cpe, na sua essên::ia, são estas as linhas de pensamento presentes em nosso raciocínio. 2 Este ensaio foi. publicado no rrDmento em que a direção do Archiv for Sozialwissenschqft und Sozialpolitik (ArqUivo para ciência social e política social) foi. entregue aos editores Werner Sombart, Max Weber e Edgar Jaffé (rota de Marianne Weber). 107

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Un trabajo sobre la posibilidad de ser objetivo en la construcción del conocimiento social.(portugués)

Transcript of WEBER, Anton. a Objetividade Nas Ciências Sociais

A. "OBJETIVIDADE" D

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EN

TO

NA CIÊNCIA SOCIAL E NA CIÊNCIA PO

LÍTICA

1 -

1904

A prim

eira pergunta que se deve fazer a uma revista de àênàas sociais e

de política social no mom

ento em que fica sob a responsabilidade de um

a nova redação, é, obviam

ente, a pergunta quanto às suas ''tendênàas". 2 Não podem

os nos negar a respondê-la e, pretendem

os aqui, dar uma resposta em

consonânàa

1 Sempre cpe, na prim

eira parte das considerações cpe se seguem, se falar explicitam

ente em

nome dos edira-es, oo cpando se delegar detenninadas tarefas ao Archiv for Sozialw

issenschaft und Sazia/politik (A

rq.llvo para a ciência social e política social) não tratar-se-á, naturalmente, de

opiniões partirulares do autor, mas de form

ulações cpe foram expressam

ente autorizadas pelos co-edira-es. A

responsabilidade da segunda parte recai, exclusivamente, sobre o autor, seja oo tocante

à forma, oo oo cpe diz respeito ao CX>I'lláldo.

O Arquivo jam

ais cairá no sectarisrrD de um

a determinada opinião dogm

ática, o cpe será as-segurado pela diversidade dos pontos de vista, não apenas dos seus colaboradoces, m

as também

dos seus editoces, m

esrrD oo que diz respeito a cpestões m

etodológicas. Naturalm

ente, certo con-senso com

referêrria a determinadas concepções básicas era um

pré-recpisito para se poder assumir

urna direção coletiva. Este consenso consiste, em particular, na apreciação do valor do conhecim

ento teórico a partir de pontos de vista "unilaterais", bem

como na exigência da form

ação de conceitos precisos e na rigorosa separação entre o "saber em

pírico" e os "juízos de valor'' -sem

, com isso,

se acreditar na existência de algo "essen:ialmente oovo".

A am

pliação da discussão (na segunda parte) e a freqüente repetição da mesm

a idéia servem

ao fim exclusivo de alcan;ar, através de tais considerações, o m

áximo de "com

preensibilidade geral". Em

função deste interesse, sacrificoo-se -esperam

os que não de maneira excessiva -

o rigor nas expressões, e, em

virtude do mesrrD

interesse, deixamos de lado a tentativa de apresentar um

a investigação sistem

ática para apresentar justaposições e exemplificações de alguns pontos de vista

metodológicos. Um

a abordagem sistem

ática implica a inclusão de um

a multiplicidade de proolem

as epistem

ológicos que, em parte, requerem

uma diSOJSSão em

um nível m

uito mais profundo. N

ão abocdam

os aqui, de maneira direta, cpestões de lógica, m

as apenas utilizamo-nos de alguns co-

nhecidos resultados da lógica moderna Tam

bem não pretendem

os solucionar problemas da lógica,

mas tão-som

ente ilustrar o seu significado para os especialistas. Quem

conhece os trabalhos dos lógicos m

odernos -serão m

encionados aqui apenas os nomes de W

mdelbant, Sim

mel, e, com

ênfase para os nossos fins, H

einrich Rickert -logo perceberá cpe, na sua essên::ia, são estas as

linhas de pensamento presentes em

nosso raciocínio. 2 Este ensaio foi. publicado no rrD

mento em

que a direção do Archiv for Sozialwissenschqft

und Sozialpolitik (ArqUivo para ciência social e política social) foi. entregue aos editores Werner

Sombart, M

ax Weber e Edgar Jaffé (rota de M

arianne Weber).

107

com a nossa "nota intrcxlutória" segundo um

plano fundamental. Procedendo

desta maneira, se nas oferece a oportunidade de ilustrar, em

conformidade com

as diversas tendêndas, os trabalhos de pesquisa da "dênda social" na sua espe-dfiddade, que pode ter algum

a utilidade, senão para o espedalista, ao menos

para muitos leitores, m

esmo que se encontrem

um tanto afastados da prática

dentífica, para quem talvez se trate apenas de "coisas óbvias".

Foi explidtamente o propósito do A

rquiw, desde o seu surgim

ento, ao la-do da am

pliação do nosso saber sobre as "condições sociais de tcxlas os países", e, portanto, dos fatos da vida social, a fonnação do juízo sobre seus problem

as práticos, e, com

isso, -dentro das lim

itações que semelhante m

eta pode ser executada por estudiosas particulares -

a crítica da práxis sódo-política, in-clusive a da legislação. A

o mesm

o tempo, desde o inído, o A

rquiw defendeu

o ponto de vista de ser uma revista exclusivam

ente dentífica, trabalhando ex-clusivam

ente com as m

eios característicos da investigação dentífica. Destarte

surge indiscutivelmente um

a pergunta, qual seja: Com

o se haveria de condliar aquele fim

com esta lim

itação das meias; significaria tal fato que o A

rquiw

permitiria nas suas colunas a avaliação de regras e m

edidas sobre a legislação, a adm

inistração e propostas práticas? Quais poderiam

ser as normas para estes

juízas? Qual é a validade dos juízas de valor que um

determinado autor sugere

como estando corretas no que tange a projetos práticas? A

té que parte esta discussão fica no terreno das reflexões dentíficas, já que o elem

ento caracterís-tico do conhedm

ento dentífico consistiria na "validade" objetiva das resultados da pesquisa, que são tcxlas f>or "verdades"? A

presentaremos, em

primeiro lugar,

o nosso ponto de vista sobre esta questão, para, em seguida, abordar outra:

em que sentido há "verdades objetivam

ente válidas" na área das dêndas que se ocupam

da vida "cultural"? Esta pergunta não pode ser evitada tendo em

vista a contínua mudança e as acaloradas polêm

icas acerca das problemas apa-

rentemente elem

entares de nassa disdplina, do métcxlo de trabalho, da form

a-ção dos conceitos e da sua validade. N

ão queremos fornecer soluções m

as apontar problem

as, para conhecer aqueles aos quais nossa revista deve voltar sua atenção a fim

de cumprir suas tarefas atuais e futuras.

I.

Tcxlos sabemos que, com

o qualquer outra dênda que tenha por objeto as instituições e as processos da cultura hum

ana -com

exceção, talvez, da his-tória política -

também

a nassa partiu historicamente de perspectivas práticas.

Formular juízas de valor sobre determ

inadas medidas do Estado com

referênda ã econom

ia política constituiu o seu fim im

ediato e, no inído, até o seu fim

único. Ela foi uma "técnica", no sentido de que tam

bém o são as disdplinas

clínicas das dêndas médicas. É sabido que esta posição foi se transform

ando lentam

ente, sem que, no entanto, se intrcxluzisse um

a divisão de principias en-tre o conhedm

ento daquilo "que é" e daquilo que "deve ser". Contrária a esta divisão foi a opitrião de que, de um

a parte, as processos econômicas seriam

regidos por leis naturais e, de outra, de que haveria um

principio bem deter-

minado da evolução das processas econôm

icas, e que, conseqüentemente, o

108

"dever ser", ou coinddiria com o próprio ser na sua im

utabilidade -no pri-

meiro caso -

ou que o "dever ser" -no segundo caso -

Coinddiria com

aquilo que eternam

ente faz parte de um "devir". Com

o despertar do sentido histórico, passou a predom

inar na nassa dênda uma com

binação entre evolu-donism

o ético e relativismo histórico que procurava despojar das forças éticas

o seu caráter formal, e determ

iná-las com referênda ao seu conteúdo, intrcxlu-

zindo a totalidade das valores culturais no âmbito do "ético", e, além

disso, elevar a econom

ia política ã dignidade de uma "dênda ética" com

bases em-

píricas. Enquanto se atribuía ã totalidade de ideais culturais passíveis o título de "ético", esvaía-se a dignidade especifica do im

perativo moral, e, no entanto,

nada se lograva para a "objetividade" da validade daqueles ideais. Por ora, po-dem

os e devemos deixar de lado um

a discussão aprofundada sobre esta posi-ção: m

endonamas apenas de m

aneira simples o fato de que, ainda hoje, não

desapareceu a opinião impredsa -

mas, antes, continua a ser m

uito comum

entre as hom

ens de práxis -de que a econom

ia política deveria emitir juízos

de valor a partir de uma especifica

econômica".

Nossa revista, com

o representante de uma disdplina em

pírica, deve -gas-

taríamos de insistir nisso de antem

ão -rejeitar em

principio este ponto de vista, pois é nossa opinião de que jam

ais pode ser tarefa de uma dênda em

-pírica propordonar norm

as e ideais obrigatórios, das quais se passa derivar "re-ceitas" para a prática.

Porém, o que se depreende desta afinnação? Juízas de valor não deveriam

ser extraídas de m

aneira nenhuma da análise dentífica, devido ao fato de de-

rivarem, em

última instânda, de determ

inadas ideais, e de por isso terem ori-

gens "subjetivas". A práxis e o fim

de nossa revista desautorizará sempre se-

melhante afirm

ação. A crítica não se detém

em face dos juízas de valor. A

ques-tão é a seguinte: o que significa e o que se propõe a crítica dentífica das ideais e dos juízos de valor? Fsta questão m

erece considerações mais profundas.

Tcxla reflexão conceitual sobre as elementos últim

as da ação humana pre-

vista com sentido, prende-se, antes de tudo, ãs categorias de "fim

" e "meias".

Querem

os algo em concreto ou "em

virtude de seu próprio valor", ou, como

meio que está a serviço daquilo a que se aspira em

última instânda?. A

con-sideração dentífica pode ser subm

etida, incondidonalmente, a questão de se

determinadas m

eios são apropriadas para alcançar as objetivas pretendidas. Já que podem

os -dentro das lim

ites do nasso saber, diferindo de caso para caso -

estabelecer quais meios seriam

apropriados ou não aos determinadas fins

propostos, podemos tam

bém, seguindo este m

esmo procedim

ento, ponderar acerca da possibilidade de alcançar um

determinado fim

, considerando as res-pectivas m

eios disponíveis, e, a partir dela própria, criticar indiretamente a pro-

posta das fins, tendo em conta a situação historicam

ente dada, como sendo

prevista de sentido, ou, diferentemente, classificá-la com

o sendo sem sentido.

Podemos, além

disso, se a possibilidade de alcançar um fim

proposto parece com

o dada, comprovar e constatar as conseqüêndas que teria a aplicação do

meio requerido, e, tam

bém, do eventual lucro do fim

pretendido, levando em

consideração a interdependênda de todo o devir. Deste m

cxlo, oferecemos aos

atores a possibilidade de refletir sobre as conseqüêndas "não-intentadas", com-

109

parando-as com as "intentadas", para responder à pergunta seguinte: qual é o

"custo" do alcance do fim desejado em

termo; da perda previsível da realização

de outros valores, ou em com

paração a ela? Supondo que, na grande maioria

dos casao, qualquer fim a que se aspire, neste sentido, "custa" algum

a coisa ou "pode custar algo", a auto-reflexão dos hom

ens que agem com

responsabi-lidade não pode presdndir da ponderação entre fins e conseqüêndas de de-term

inada ação. Paosibilitar isto é, exatamente, um

a das funções mais im

por-tantes da critica técnica que até agora foi objeto de nossas reflexões. M

as tomar

uma determ

inada decisão em função daquelas ponderações já não é m

ais tarefa possível para a dênda. Ela é própria do hom

em da ação: ele pondera e escolhe,

entre os valores em questão, aqueles que estão de acordo com

sua própria consdênda e sua cosm

ovisão pessoal. A dênda pode propordonar-lhe a cons-

dênda de que toda a ação, e também

,· de modo natural, conform

e com as dr-

cunstândas, a "não-ação" implicam

, no que tange às suas conseqüêndas, uma

tomada de posição a favor de determ

inada; valores, e, deste modo, em

regra geral, "contra outra; valores" -

fato que, hoje em dia, é fadlm

ente esqueddo. D

ecidir-se por uma opção é exclusivam

ente "assunto pessoal". Entretanto, no que diz respeito a esta opção, podem

os oferecer algo a mais:

o conhedmento do significado daquilo que é o "objeto" da aspiração. Podem

os ensinar a alguém

o conhecimento da; fins que esse alguém

procura, e entre a; quais faz um

a seleção, num prim

eiro mom

ento, por meio da indicação e

conexão lógica das idéias qne talvez possam estar na base do fim

concreto. Pois, um

a das tarefas essendais de qualquer dênda da vida cultural dos homens

é, realmente, desde o inído, a apresentação clara e transparente de suas idéias,

para compreendê-las e para saber o porquê de se ter lutado por elas. Este pro-

cedimento, a nosso ver, não ultrapassa os lim

ites de uma dênda que pretende

elaborar "uma ordenação conceitual da realidade em

pírica", nem ao m

eia; que servem

a esta interpretação de valores espirituais que são apenas "induções", no sentido corrente deste term

o. Não obstante, pelo m

ena; em parte, esta tarefa

permanece fora da; quadros típicos da econom

ia política, entendida como dis-

ciplina espedalizada dentro da divisão costumeira das dêndas. Trata-se de

questões próprias da filaoofia sodal. Mas, devido à força histórica das idéias

que foi grande, e que ainda continua sendo importante para o desenvolvim

ento da vida sodal, a naosa revista não pode ab;ter-se de abordar estas questões que, indiscutivelm

ente, fazem parte de suas preocupações essendais.

Para uma abordagem

dentífica da; juíza> de valor não é sufidente apenas com

preender e reviver ao fins pretendidos e a; ideais que estão no seu fun-dam

ento, mas tam

bém e, adm

a de tudo, ensinar a "avaliá-la;" criticamente. Esta

critica, no entanto, só pode ter caráter dialético; isto significa que só pode con-sistir num

a avaliação lógico-formal do m

aterial que se apresenta nos juíza> de valor e nas idéias historicam

ente dadas, e num exam

e da; ideais, no que diz respeito ao postulado da ausênda de um

a contradição interna do desejado. En-quanto se propõe a este fim

, ela pode propordonar ao hom

em que quer a

consdênda da; últimos axiom

as, que estão na base do conteúdo do seu querer, a consdênda dos critério; últim

os de valor que se constituem de m

aneira in-consdente o ponto de partida -

dao quais, para ser conseqüente, deveria partir. Realm

ente, chegar à consdênda destes critério; últimos que se m

anifestam nos

110

juíza; de valor concretos é o máxim

o que ela pode fazer sem entrar no terreno

Se ? sujeito que emite juíza; de valor deve professar estes cri-

tenao ulttmao, tsso e um

problema pessoal, um

a questão de sua vontade e de sua consciência; não tem

nada a ver com o conhedm

ento empírico.

;-;ma dênda em

pírica ensinar a ninguém

o que deve fazer; só lhe e dado -

em certas arcunstandas -

o que quer fazer. É verdade que no setor das naosas atividades dentíficas, continuadam

ente são introduzidos m

enta; da caomovisão pessoal, bem

como na argum

entação científica. Eles sem-

pre causam problem

as, fazendo com que nó; atribuam

os pesao diferentes na elaboração de sim

ples relações causais entre fatos, na medida em

que 0 resul-aum

enta ou diminui a possibilidade da realização de nossas idéias pesso-

ats. No que tange a este fato, é óbvio que tam

bém aao editores e colaboradores

de naosa revista "nada que é humano lhes será estranho". M

as há muito ca-

minho a ser percorrido entre este reconhedm

ento das fraquezas humanas e a

crença numa dênda "ética" da econom

ia política, que poderia extrair do seu m

aterial ideais ou normas concretas por m

eio da aplicação de imperativos éticos

de valor universal. Sem dúvida, é verdade que exatam

ente aqueles elementos

mais

da "personalidade", ou seja, ao última; e suprem

os juízos de valor, que determ

mam

a nossa ação e conferem sentido e significado à naosa vida

são percebida; por nós como sendo objetivam

ente válida>. Podemos

la; apenas quando eles se apresentam com

o válida;, dependentes ou derivados dos nossa; juíza> de valor, de naosa vida, e, portanto, quando se desenvolvem

em

oposição aa; obstáculos. Sem dúvida, a dignidade de um

a "personalidade" reside no fato de que, para ela, existem

valores aos quais a sua própria vida diz respeito, m

esmo se estes -

em casao bem

particulares -residem

exclu-sivam

ente dentro da esfera da própria individualidade, do "viver plenamente"

ao interesses para ao quais se exige a validade enquanto valores, constitui para ela, exatam

ente, a idéia à qual ela se refere. Seja como for, som

ente a partir do pressuposto da fé em

valores tem sentido a intenção de defender certos

valores publicamente. Porém

emitir um

juízo sobre a validade de tais valores é assunto da fé, e talvez tam

bém seja tarefa de um

a consideração e interpre-tação especulativa da vida e do m

undo, no tocante ao seu sentido m

as cer-

, ,

tamente, não é tarefa de um

a dênda empírica, no sentido com

o nós a enten-dem

os. Com

referência a esta distinção, -o que é a opinião de m

uita; -não possui peso decisivo o fato, em

piricamente constatável, de aqueles últim

os firts variarem

muito e terem

sido questionada; historicamente. O

utrossim, o co-

nhecimento das proposições m

ais seguras do nosso conhecimento teórico -

o das dêndas naturais exatas e o da m

atemática -

é da m

esma m

aneira da

, ,

forma do refinam

ento e do aguçamento da consdênda; é apenas um

produto da cultura. Q

uando pensamos especificam

ente acerca dos problemas práticos

da política econômica e sodal (no sentido com

umente entendido deste term

o), percebem

os, com clareza, que há num

eraoas, e até mesm

o infinitas questões práticas particulares, para cuja análise, de com

um acordo, se com

eça a partir de certa; fins que parecem

óbvia; -com

o, por exemplo, a ajuda previdencial,

as tarefas concretas da saúde pública, o socorro aos pobres, as medidas tais

111

como inspeção das fábricas, a; tribunais industriais, oo atestada> de trabalho e

outras normas legais para a proteção doo operária> -

com referência a estas

questões, pelo mena> aparentem

ente, só são analisada; a> meios para se con-

seguir dinheiro. E, mesm

o se confundíssemo; -

coisa que a ciência nunca de-veria fazer im

punemente -

a aparência do óbvio com a verdade, e se quisés-

semos ver a; conflito; ao; quais, de im

ediato, conduz a tentativa da realização prática na form

a de questões puramente técnicas -

o que, pelo menos em

m

uita> casa>, seria errôneo -deveriam

a; constatar, sem dúvida, que tam

bém

esta aparência do caráter óbvio da; critérios que regulam a> valores desapare-

cem logo quando, a partir da; problem

as concretos do serviço de assistência e bem

-estar, mudam

o; de nível, para analisar questões gerais da política eco-nôm

ica e sodal. O que caracteriza o caráter político-sod.d de um

problema

consiste, precisamente, no fato de não se poder resolver a questão com

base em

meras considerações técnicas, a partir de fins preestabelecida> e de a> cri-

tério; reguladores de valor poderem e deverem

ser postas em discussão, pois

o problema faz parte de questões gerais de cultura. É opinião geral que há

disputas entre diferentes "interesses de classe", mas tam

bém entre casm

ovisões -

admitindo, entretanto, que seja verdade que a opção, por parte do indivíduo

de determinada casm

ovisão depende, entre outras fatores, e com elevado grau

de certeza, da afmidade que ela tem

com o seu "interesse de classe" e acei-

tando provisoriamente

conceito como unívoco. U

ma coisa, sem

dúvida, '

' é certa, em

qualquer circunstância: quanto mais "universal" for o problem

a em

questão, isto é, quanto mais am

plo for o seu significado cultural, quanto menos

for passível dar uma !espasta extraída do m

aterial do conhecimento em

pírico, tanto m

aior será o papel das axiomas últim

as e pessoais da fé e das idéias éticas. É sim

plesmente um

ato ingênuo, mesm

o que ele seja compartilhado por

certos especialistas, acreditar que é necessário, para a ciência social prática, esta-belecer, sobretudo, ''um

principio", demonstrado cientificam

ente como válido,

a partir do qual, em seguida, podem

ser deduzidas, de maneira unívoca, as

normas para a solução de problem

as práticas singulares. Por mais que, na ciên-

cia sodal, sejam necessárias explicações "de principias" sobre problem

as práti-cas, isto é, a referência a juízos de valor que se introduzem

de maneira não-

refletida, com referência ao conteúdo das idéias, e por m

ais que a nossa revista se proponha dedicar-se de m

aneira particular a tais explicações, certamente não

poderá ser sua tarefa -e, de m

aneira geral, de nenhuma ciência em

pírica -determ

inar um denom

inador comum

prático para as nossas problemas na form

a de idéias últim

as e universalmente válidas; um

a tal determinação não apenas

seria praticamente im

possível, como tam

bém não teria nenhum

sentido. Por m

ais que fosse possível interpretar o fundamento e o m

ooo de obrigatoriedade dos im

perativas éticoo, é certo que, a partir destes imperativas, enquanto nor-

mas para a ação das individuas condicionadas concretam

ente, é impossível de-

duzir, de maneira unívoca, conteúdos culturais que sejam

obrigatórias, e tanto m

enos quanto mais forem

abrangentes as conteúdos em questão. Som

ente as religiões positivas -

ou, para ser mais predso, as seitas ligadas por um

dogma

-podem

conferir ao conteúdo de valores culturais a dignidade de um m

anda-

112

:nento. ético válid?. D

eixando de lado religiões, as ideais tndivtduo pretende realtzar e oo deveres éticas que deve cum

prir tem

uma digrudade fundam

entalmente diferente. O

destino de uma época cul-

tural que da á:vore do

é ter de saber que podemoo

falar a respetto do sentido do devtr do mundo, não a partir do resultado de

uma investigação, por m

ais perfeita e acabada que seja, mas a partir de nós

próprias que temoo de ser capazes de criar este sentido. Tem

os de admitir que

"casmovisões" nunca podem

ser o resultado de um avanço do conhecim

ento em

pírico, e que, portanto, as ideais suprema; que nas m

ovem com

a máxim

a força passível, existem, em

t<Xias as épocas, na forma de um

a luta com ootras

ideais que são, para outras pessrns, tão sagradas como o são para nós as nossas.

Apenas um

sincretismo otim

ista, que às vezes surge do relativismo histó-

rico-evolutivo, é capaz de equivocar-se teoricamente acerca da extrem

a serie-dade deste estado de coisas, oo de evitar, na prática, as suas conseqüências. É óbvio que, em

casas particulares, pode ser até mesm

o um dever para o político

prático, querer conciliar opiniões opostas, ou tomar partido de um

a delas. Mas

isto não tem nada a ver com

a "objetividade" científica. A "linha m

édia" de m

ooo nenhum acerta a verdade científica m

ais do que as ideais das partida; extrem

as, que sejam de direita ou de esquerda. N

ada prejudicoo mais o inte-

resse da ciência do que não se querer ver as fatos incômooas e as realidades

da vida na sua dureza. O A

rquiw lutará incondicionalm

ente contra a grave ilu-são que acredita ser passível, por m

eio da síntese entre opiniões partidárias, ou seguindo um

a linha diagonal entre elas, obter efetivamente norm

as práticas de validade científica. Esta opinião, na realidade, já que pretenderia encobrir de m

aneira relativista seus próprias critérios de valor, são mais perigosas para

uma investigação im

parcial do que a velha e ingênua fé doo partidas que acre-ditam

na "demonstrabilidade" das seus dogm

as. A capacidade e diferença entre

conhecer e julgar, e o cumprim

ento, tanto do dever científico de ver a verdade doo fatos, com

o do dever prático de aderir aoo próprias ideais, é, realmente,

aquilo com que buscam

os nas familiarizar cada vez m

ais.

É certo que existe -e é isso que nas interessa -

, em qualquer época,

uma diferença intransponível, quando um

a argumentação se dirige ao nosso

sentimento e à capacidade que tem

as de nas entusiasmar por objetivas prática;

concretas e por formas e conteúdos culturais, ou quando se dirige à nossa cons-

ciência, no caso em que se trata da validade de certas norm

as éticas, ou, por ftm

, quando se dirige à nossa capacidade e necessidade de ordenar conceitual-m

ente a realidade empírica, de um

a maneira que insiste na pretensão de vali-

dade da verdade empírica. E esta afirm

ação continua correta mesm

o quando, com

o mastrarem

oo, aqueles ''valores" suprema; do interesse prático têm

impor-

tância decisiva, pois sempre a terão, no que diz respeito à orientação que a

atividade ordenadora do pensamento introduz, em

cada um das casas, no setor

das ciências da cultura. É certo que -e continuará a sê-lo -

se uma dem

ons-tração científica, m

etooologicamente correta no setor das ciências sociais, pre-

113

tende ter alcançado o seu fim, tem

de ser aceita como sendo correta.

por um chinês. Sendo m

ais preciso: deve aspirar, em

caso, esta

meta, m

esmo quando, talvez, não possa ser alcançada deV

Ido a m

aterial. Isto também

significa que a análise lógica de um ideal, com

ao seu conteúdo, aos seus axiom

as últimos e à indicação das consequenaas

que sua execução acarretará nos setores lógicos. e práticos, também

deve ter validade para um

chinês, se é que pode ser constderado como alcançado. M

as este m

esmo chinês talvez possa não ter a "sensibilidade" necessária aos nossos

imperativos éticos, enquanto rejeita -

pelo menos, m

uitas proce-

derá -o ideal e os julgam

entos concretos dele derivados, pots diSSo afeta o valor dentífico daquelas análises conceituais. A

nossa revista, de modo nenhum

ignorará as tentativas que sem

pre, e de maneira inevitável,

repetem, de de-

terminar univocam

ente o sentido da vida cultural. Pelo contrano, elas pertencem

ou constituem os m

ais importantes produtos desta m

esma vida cultural, e, em

certas drcunstândas, podem

ser uma força m

otriz das mais im

portantes. Por isso, acom

panharemos sem

pre com cuidado o percurso das análises da "filosofia

soda!". Porém, ainda m

ais: não compartilham

os, de modo nenhum

, do precon-ceito de que as reflexões sobre a vida cultural, que pr:tendem

.interpretar me-

tafisicamente 0 m

undo, indo portanto, além da ordenaçao concettual dos dados

empíricos, não poderiam

, por causa desta sua contribuir;

_al-gum

a forma, para o conhe<;im

ento. Em

possa esta contnbuiçao,

isso é uma problem

a da teoria do conheamento, CUJa

pa:a as nossas finalidades podem

os e devemos deixar de lado. N

o que diz ao

trabalho, queremos deixar bem

claro o seguinte: uma r.evista de aenaas soctats,

no sentido em que ná> a entendem

os, deve, na medtda em

que ser

dentífica, ser um lugar onde se busca a verdade do m

odo que um

-para lançar m

ão do nosso exemplo novam

ente -deva reconhecer a vahdade

de um certo ordenam

ento conceptual da realidade empírica.

Certamente, os editores não podem

, de uma vez por todas, proibir a si

próprios e aos seus colaboradores que os ideais

sustentam, in-

clusive os seus juízos de valor. Mas a parttr disso nascem

dots trnportantes de-veres. Em

primeiro lugar, o dever de tanto o_ autor .. com

_o c:' t.erem

a clara consdênda em

cada mom

ento, da questao de quats sao os cntenos em

-pregados para

a realidade, e para obter -partindo destes critérios -

0 juízo de valor. Defendem

os este procedimento em

vez de nos enganarmos

acerca do conflito entre os ideais, e de pretender "oferecer um pouco a cada

um"

como acontece com

demasiada freqüênda, devido a um

a estranha con-de valores da m

ais diversa espécie. Se este dever é ob;ervado estrita-m

ente, o posidonamento prático, em

função do puro interesse dentífico, dar resultados não só prejudidais, m

as até mesm

o diretamente de grande un-

lidade. na crítica dentífica de propostas legislativas e de outras propostas prá-ticas, a eluddação dos m

otivos do legislador e dos ideais do publidsta criti.cad? não pode m

uitas vezes, ser feita em todo o seu alcance em

outra forma tntut-

tivamente' com

preensível que não a da confrontação dos critérios axiológicos,

114

. ';

que estão na sua base, justamente com

os outros critérios, e, por certo e adma

de tudo, também

com os próprios. Cada valoração de um

a vontade alheia só pode ser um

a crítica a partir da própria "cosmovisão", num

combate ao ideal

alheio com base no ideal da própria pessoa. Portanto, se, no caso particular,

o axioma do valor últim

o, que está na base de uma vontade prática, deve ser

não somente com

provado e analisado dentificamente, m

as também

apresentado nas suas relações com

outros axiomas de valores, é inevitável um

a crítica "po-sitiva", que se faça por m

eio da exposição da conexão recíproca destas últimas.

Por isso, nas colunas da revista, se tratará -especificam

ente no tratamento

das leis -ao lado da dênda soda! -

que é o ordenamento conceitual dos

fatos -inevitavelm

ente, também

da política soda! -que é a exposição de

ideais. Mas não pretendem

os de modo nenhum

apresentar tais polêmicas com

o "dênda", e em

pregaremos os nossos m

elhores esforços em precaver-nos de não

confundir as coisas. De todo m

odo, não será mais a "dênda" quem

fala, neste caso, e, em

conseqüênda disso, existe um segundo im

perativo fundamental,

qual seja, o da impardalidade dentífica, que consiste no seguinte. em

tais casos, é necessário indicar aos leitores -

e digamos novam

ente a ná> mesm

os -em

que m

omento cessa a fala do pesquisador e com

eça a fala do homem

que está sujeito a intenções e a vontades, em

que mom

ento os argumentos se dirigem

ao intelecto, e em

qual se dirigem ao sentim

ento. A perm

anente confusão entre a eluddação dentífica dos fatos e a reflexão valorativa é um

a das características m

ais difundidas em nossas disdplinas, e tam

bém um

a das mais prejudidais.

Contra esta confusão, dirigem-se predsam

ente as considerações anteriores e, de m

aneira nenhuma, contra a introm

issão dos próprios ideais. A descaracterização

e a "objetividade" dentífica não têm nada em

comum

O nosso A

rquiw, pelo

menos de acordo com

os seus propósitos, jamais foi, e nunca deverá ser, um

lugar onde se polem

iza contra determinados políticos que têm

uma política so-

da! bem deftnida e, m

enos ainda, um lugar onde se faz proselitism

o em favor

ou contra determinados ideais sociais e políticos. Para tanto, existem

outros ór-gãos. O

que caracterizou a revista foi, e, sem dúvida, será, no futuro, no que

depender dos editores, conseguir a colaboração do trabalho dentífico dos opo-nentes políticos m

ais encarniçados que se encontrarem ao redor. A

té este mo-

mento, o A

rquiw não foi um

órgão "socialista", nem será futuram

ente um órgão

"burguês". Ninguém

será excluído do círculo de seus colaboradores, se ele con-tinuar no terreno da discussão dentífica. A

revista não pode ser uma arena na

qual existem "respostas", "réplicas" e "tréplicas", tam

pouco deve proteger os seus colaboradores, e, m

enos ainda, os seus editores quando, por acaso, estes são expostos à m

ais severa crítica, baseada em fatos dentificam

ente compro-

vados. Quem

não suporta este procedimento, ou quem

se encontra na situação de não querer colaborar nessas condições com

pessoas que estão a serviço de um

ideal que não o seu, ou seja, a serviço do ideal do conhedmento dentíftco,

pode, sem problem

a nenhum, ficar à parte de nossa revista.

Porém, infelizm

ente, com esta últim

a afirmação -

e não queremos nos

enganar sobre isto -dissem

os muito m

ais do que, talvez, possa parecer, num

primeiro m

omento. A

ntes de mais nada, com

o já mendonam

os anteriormente,

115

a pa>Sibilidade de colaborar políticos nw

n ter-reno neutro -

socialmente entendido, ou no ruvel das 1detas -

tem as suas

limitações psicológicas em

todas as partes, mas, sobretudo, nas condições so-

dais atuais da Alem

anha. Isso em si deveria ser com

batido, já que é wn sinal

da estreiteza fanática e do atraso em m

atéria de cultura política. E mais ainda:

este mom

ento adquire, para uma revista com

o a nossa, gravidade dedsiva, de-vido ao fato de, no âm

bito das dêndas, o impulso para o tratam

ento de pro-blem

as dentíficos advir, como regra geral, de "questionam

entos práticos", de m

odo que o mero reconhedm

ento da existênda de wn problem

a dentífico está em

estreita união "pessoal" com a respectiva e bem

determinada vontade hu-

mana. Por causa disso, nas colunas de um

a revista que nasceu sob a influênda de um

interesse geral por um problem

a concreto, normalm

ente deveriam se

reunir como colaboradores hom

ens que voltam o seu interesse pessoal a este

problema, pois estes considerariam

que certas circunstândas concretas estão em

contradição com os ideais em

que acreditam e que estariam

ameaçados. A

afi-nidade com

estes ideais reunirá, sem dúvida, este círculo de colaboradores, e

permitirá o recrutam

ento de outros "novos", fato que conferirá à revista, pelo m

enos no que diz respeito ao tratamento de problem

as político-sociais práticos, um

determinado "caráter", com

as inevitáveis conseqüêndas que sempre estarão

presentes tocia vez que homens com

sensibilidade procuram colaborar uns com

os outros, e cuja posição ''valorativa" não pode, obviam

ente, ser sufocada, nem

no caso de se tratar de um trabalho puram

ente teórico; homens que, aliás, se

manifestam

também

-e com

total legitimidade -

na critica de projetos e de m

edidas práticas, obviamente, dentre os pré-requisitos já m

endonados. O Ar-

quíw apareceu, sem

dúvida, numa época em

que determinados problem

as prá-ticos ocupavam

o primeiro plano das discussões nas dêndas, no que tange à

"questão dos operários", entendendo-se esta expressão num sentido bastante

tradidonal. Essas personalidades, para quem a revista buscará abordar a ques-

tão, estavam ligadas a suprem

os e decisivos ideais de valor, e, além disso, se

tomaram

seus colaboradores normais, passando a ser representantes e partidá-

rios de uma concepção de cultura que foi caracterizada -

não de wn m

odo totalm

ente idêntico mas, pelo m

enos, semelhante -

por estas mesm

as idéias de valor. Todos sabem

que esta revista rejeitou, de maneira explídta, toda e

qualquer "tendênda". Certam

ente possuía, no entanto, este determinado "cará-

ter", no sentido já aludido, apesar de sua limitação às discussões dentíficas e

do convite expresso aos "partidários de todas as posições políticas". Este caráter foi criado pelo círculo dos seus colaboradores regulares. Tratava-se, de um

a ma-

neira geral, de homens que, por m

ais que divergissem eventualm

ente em outros

setores, tinham por escopo a defesa da saúde física das m

assas operárias, e a sua crescente partidpação nos bens m

ateriais e nos bens espirituais da nossa cultura, para os quais, sem

dúvida, estavam convictos de que o m

eio mais apro-

priado seria o aumento da intervenção do Estado nas esferas dos interesses m

a-teriais com

o concomitante desenvolvim

ento posterior da ordem estatal e juri-

dica existente. E mais ainda: qualquer que fosse a sua opinião sobre a form

a da ordem

social no futuro remoto, defenderam

todos o ponto de vista de que,

116

para o mom

ento, seria certo o desenvolvimento do sistem

a capitalista, não por-que lhes parecesse, em

comparação com

formas m

ais antigas, o mais apropria-

do, mas por considerarem

que o capitalismo seria quase inevitável na prática,

e por pensarem que a tentativa de com

andar uma luta fundam

ental contra ele não significaria um

melhoram

ento, mas, antes, um

obstáculo à ascensão da clas-se operária à luz da cultura. N

as condições atualmente existentes na A

lemanha

-as quais não necessitam

aqui de um tratam

ento detalhado -isto era, e ainda

é, inevitável. Na realidade, este procedim

ento redundou no benefído da mais

ampla partidpação nas disciplinas dentíficas, contribuição que dá form

a à re-vista -

nas condições atuais -constitui um

dos títulos que justificam, exata-

mente, a sua existênda.

Não há dúvida de que o desenvolvim

ento de um "caráter", no sentido m

en-donado, pode constituir, no caso de um

a revista dentífica, um perigo para a

impardalidade do trabalho dentífico, e de fato significaria, fosse a seleção dos

colaboradores deliberadamente pardal. N

este caso, a formação daquele "caráter"

equivaleria a uma "tendênda". O

s editores têm plena consdênda da responsa-

bilidade que este estado de coisas lhes impõe. ,Eles não pretendem

modificar

deliberadamente o caráter do A

rquíw, nem

consetvá-lo de maneira artifidal,

por meio da restrição prem

editada do círculo dos seus colaboradores e espe-dalistas que sustentam

determinadas opiniões. A

ceitam-no com

o algo dado, e confiam

no seu "posterior" desenvolvimento. Q

ual será a configuração no fu-turo, e com

o serão as transformações em

conseqüênda da inevitável ampliação

do círculo dos nossos colaboradores, isso é algo que dependerá, em prim

eiro lugar, do caráter daquelas personalidades que, com

intenção de colocar-se a serviço do trabalho dentífico, entram

nesse círculo e começam

a se familiarizar

com ele -

continuam a se fam

iliarizar com ele -

e com as páginas da m

esma

revista. Mas dependerá tam

bém da am

pliação dos problemas, cuja indagação

é o objetivo da revista. C

om esta observação chegam

os ao problema que até agora não foi devi-

damente abordado, qual seja, o da lim

itação objetiva da nossa área de pesquisa. M

as não é possível respondê-lo sem levar em

consideração a natureza do fim

cognitivo da dênda soda!. Até agora, enquanto fizem

os uma distinção "de prin-

cípio" entre "juízos de valor" e "conhedmento em

pírico", pressupomos a exis-

tênda de um tipo de conhedm

ento incondidonalmente válido, isto é, o orde-

namento conceitual da realidade em

pírica na área das dêndas sociais. Agora,

este pressuposto se transforma num

problema, pois deveriam

os discutir o pas-sível significado da "validade" objetiva a que pretendem

os chegar nesta nossa área de saber. A

creditamos que este problem

a realmente existe, que não foi

criado artifidalmente, que é algo que não pode escapar a alguém

que ob>erva o com

bate que se trava ao redor de "métodos", de "conceitos básicos" e de

"pressupostos", bem com

o a contínua mudança dos "pontos de vista" e a cons-

tante "re-definição" dos "conceitos" utilizados, e a quem observa o abism

o, apa-rentem

ente intransponível, que separa a abordagem teórica da abordagem

his-tórica, chegando a tal ponto que, certa vez, um

examinando em

Viena, a la-

mentar-se, queixava-se de que haveria "duas econom

ias polfticas". O que sig-

nifica, aqui, "objetividade"? Esta é a única questão que pretendemos exam

inar nas considerações que se seguem

117

li

A revista 1 sem

pre abordou toda> a; objeta; de sua análise como sendo

de natureza sócio-econômica. Em

bora não seja esse o mom

ento para dedicar-m

o-na; a determinações de conceitos e delim

itações de ciências, impõe-se um

esclarecim

ento sumário acerca do sentido de tudo isso.

Todos a; fenômenos que, no sentido m

ais amplo, designam

os por "sócio-econôm

icos" vinculam-se ao fato básico de a nossa existência fisica, assim

como

a satisfação das nossas necessidades mais ideais, depararem

-se por todos a; la-dos com

a limitação quantitativa e com

a insuficiência qualitativa dos meios

externos, que demandam

a previsão planejada e o trabalho, a luta frente a na-tureza e a assodação com

os homens. Por sua vez, o caráter de fenôm

eno "só-do-econôm

ico" de um processo não é algo que lhe seja "objetivam

ente" ine-rente. Pelo contrário, ele está condicionado pela orientação do nosso interesse de conhecim

ento e essa orientação define-se em conform

idade com o signifi-

cado cultural que atribuímos ao evento em

questão, em cada caso particular.

Sempre que um

processo da vida cultural se vincula direta ou indiretamente

àquele fato básico, através dos elementos da sua especificidade, nos quais re-

pousa, para nós, o seu significado próprio, ele contém, ou pelo m

ena; pode conter conform

e o caso, um problem

a de ciência soda!; ou seja, envolve uma

tarefa para uma disciplina que tom

a como objetivo elucidar o alcance do fato

básico apontado. Entre a; problem

as econômico-sodais podem

o; estabelecer distinções. Te-m

os, em prim

eiro lugar, eventos e complexa; e, deles, norm

as, instituições etc., cujo significado cultural reside, para nós, basicam

ente no seu aspecto econô-m

ico. Por exemplo, acontedm

entos da vida bancária e da bolsa, que desde logo nos interessam

essencialmente deste ponto de vista; norm

almente, m

as não ex-clusivam

ente, isso acontece quando se trata de instituições que foram criadas,

ou que são utilizadas consdentemente para fins econôm

icos. Estes objeta; do nosso conhecim

ento podem ser cham

ada>, em sentido restrito, de processos

ou instituições "econômicas". A

esses acrescentam-se outros, com

o, por exem-

plo, acontedmenta> da vida religia;a que não na; interessam

, ou que, pelo m

enos, não nos interessam em

primeiro lugar, do ângulo do seu significado

econômico e em

nome dele, m

as que, em determ

inadas, circunstâncias, podem

adquirir um significado econôm

ico desse ponto de vista, considerando-se que deles resultam

determinada; efeito; que nos interessam

em um

a perspectiva econôm

ica. São, portanto, fenômeno; "econom

icamente relevantes". E, por fim

, entre os fenôm

eno; que não são "econômicos", segundo o sentido que lhes

atribuímo;, encontram

-se outra> cuja; efeitos econômica; pouco ou nenhum

interesse oferecem

para nós, como, exem

plo, a orientação do gosto artístico de um

a determinada época. N

o entanto, tais fenômeno; revelam

, em determ

inados aspecto; significativos de seu caráter, um

a influência mais ou m

enos intensa de m

otivos econômica>. Em

nosso caso, talvez, por meio da com

posição sopa! do público interessado em

arte, são fenômenos econom

icamente condicionada>.

Assim

, o complexo de relações hum

anas, por exemplo, norm

as e condições

1 Trata-se da Revista Archiv für Sozia/vi.sseuschqft (A

rquivo para a Ciênda Social e Política

Social).

118

normativam

ente determinadas que designam

os por "Estado" é um fenôm

eno "econôm

ico" no que diz respeito às finanças públicas. Na m

edida em que in-

tervém na vida econôm

ica por vias legislativas, ou por qualquer outro modo

-m

esmo nos casa; em

que o seu comportam

ento é determinado consciente-

mente por pontos de vista com

pletamente diferentes dos econôm

ica; -é "eco-

nomicam

ente relevante". Finalmente, na m

edida em que a sua conduta e o seu

caráter são determinados por m

otivos econômica;, tam

bém em

outras relações, que não as "econôm

icas", é "economicam

ente condicionado". Compreende-se,

portanto, que, por um lado, o âm

bito das manifestações econôm

icas é fluido e não pode ser delim

itado com rigor e, por outro, que os aspectos "econôm

ica;" de um

fenômeno não são apenas "econom

icamente condicionados", nem

ape-nas "econom

icamente eficazes", e que um

fenômeno só conserva a sua quali-

dade de "econômico" na estrita m

edida em que o nosso interesse está exclu-

sivamente centrado no seu significado para a luta m

aterial pela existência. A

na;sa revista, tal como a ciência econôm

ico-soda! a partir de Marx e

Ra>cher, não se preocupou apenas com os fenôm

eno; "econômicos", m

as tam-

bém com

a; "economicam

ente condicionada;" e "economicam

ente relevantes". N

aturalmente, o âm

bito destes objeta; -que varia conform

e a orientação do nosso interesse em

cada caso -abrange a totalidade dos processa; culturais.

Os m

otivos especificamente econôm

icos -isto é, aqueles que, devido a suas

particularidades significativas para nós, estão ligados a este fato básico-atuam

sem

pre onde a satisfação de uma necessidade, por m

ais imaterial que seja, en-

volva a utilização de meios lim

itados. O seu ím

peto contribui, assim, em

todo lugar, para determ

inar e transformar não só a form

a da satisfação, mas tam

bém

o conteúdo das necessidades culturais, mesm

o as do tipo mais íntim

o. A in-

fluência indireta das relações sodais, das instituições e da; agrupamento; hu-

manos, subm

etida; à pressão de interesses "materiais", estende-se (m

uitas vezes de m

aneira indireta) por todos os domínio; da cultura, sem

exceção, até mesm

o nos m

ais delicada; matizes do sentim

ento religioso e estético. Tanto os acon-tedm

enta; da vida cotidiana como os fenôm

eno; "históricos" da alta política, tanto os fenôm

eno; coletivos ou de massa com

o as ações "individuais" da; esta-distas, ou as realizações literárias e artísticas, sofrem

a sua influência: são, por-tanto, econom

icamente "condicionada;". Por outro lado, o conjunto de todos

a; fenômeno; e condições de existência de um

a cultura historicamente dada

influi na configuração de existência de uma cultura historicam

ente dada, na con-figuração das necessidades m

ateriais, no modo de satisfazê-las, na form

ação dos grupo; de interesses m

ateriais, na natureza dos seus meios de poder, e, por

essa via, na natureza do curso do "desenvolvimento econôm

ico", tornando-se assim

, "economicam

ente relevantes". Na medida em

que na>sa ciência, por m

eio da regressão causal, atribui causas individuais -de caráter econôm

ico ou não -

a fenômenos culturais econôm

icos, ela está buscando um conheci-

mento "histórico". Na m

edida em que persegue um

elemento específico dos

fenômenos culturais -

neste caso, o elemento econôm

ico-através dos m

ais variada; com

plexa> culturais, no intuito de distinguir o seu significado cultural, ela está a buscar um

a interpretação histórica a partir de um ponto de vista espe-

cífico. Oferece, assim

, uma im

agem pardal, um

trabalho preliminar, para o co-

nhedmento histórico com

pleto da cultura.

119

Embora nem

sempre em

toda> os casos em que estão em

jogo mom

entos econôm

ico-sociais, como conseqüências de causas, exista um

problema econô-

mico-social -

pois este apenas surge quando o significado de tais mom

entos é problem

ático e só pode ser comprovado precisam

ente com a aplicação dos

métoda> da ciência econôm

ico-social -, o alcance do cam

po de trabalho do m

odo de consideração sócio-econômico não deixa de ser quase ilim

itado. C

om w

na deliberada autolimitação, a nossa revista sem

pre renunciou ao cultivo de um

a série de donúnia> específica; muito im

portantes da nossa dis-ciplina, tais com

o a economia descritiva, a história da econom

ia, stricto sensu, e a estatística. D

a mesm

a forma, deixou para outra> órgãa> o estudo dos pro-

blemas técnico-financeira> e técnico-econôm

icos da formação do m

ercado e dos preços, na m

oderna economia de troca. A

revista tem m

antido como cam

po de trabalho o significado atual e o desenvolvim

ento histórico de determinadas

constelações de interesse e de conflitos, nascidos na economia da> m

odernos países civilizados, com

base no papel preponderante que o capital deles de-sem

penhou em sua busca de valorização. N

isso, ela não se limitou aos proble-

mas práticos e do desenvolvim

ento histórico da chamada "questão social" em

sentido estrito, tais com

o as relações entre a moderna classe dos assalariados

e a ordem existente. Indubitavelm

ente, o aprofundamento científico do crescen-

te interesse que este problema teve em

na;so país no decorrer da década de 1800 fez com

que essa (asse wna das suas tarefas essenciais. N

o entanto, na m

edida em que o estudo prático das condições operárias se converteu, tam

bém

entre nós, em objeto constante da legislação e da discussão pública, o centro

de gravidade do trabalho científico foi obrigado a deslocar-se, no sentido de estabelecer as relações m

ais universais de que estes problemas fazem

parte. As-sim

, teve de desembocar na tarefa de analisar toda> os problem

as culturais mo-

derna>, criados pela natureza particular dos fundamentos econôm

icos da nossa cultura e, portanto, dela espeáfica>. Por isso, a revista logo se preocupou com

as m

ais diversas condições de vida, em parte "econom

icamente relevantes", em

parte "econom

icamente condicionadas", das classes das m

odernas nações civi-lizadas, bem

como com

examinar, de um

ponto de vista histórico, estatístico e teórico, as relações entre elas. Por isso, não farem

os agora outra coisa senão deduzir as conseqüências desta atitude, ao afirm

armos que o cam

po de trabalho característico da nossa revista é o da pesquisa científica do significado cultural geral da estrutura sócio-econôm

ica da vida social humana, e das suas form

as históricas de organização. É precisam

ente isto, e nada mais que isso, o que

queremos dizer ao dar à nossa revista o nom

e de Archiv für Sozialwissenschaft

(Arquivo para C

iência Social). Este nome abrange aqui o estudo histórico e teó-

rico dos mesm

os problemas cuja solução prática constitui o objeto da "política

social", no sentido lato da palavra. Procedendo desta maneira, fazem

os uso do direito de utilizar a expressão "social" no significado determ

inado pelos pro-blem

as concretos da atualidade. Quando se dá o nom

e de "ciências culturais" às disciplinas que estudam

a; acontecimentos da vida hum

ana a partir do seu significado cultural, a "ciência social", então, tal com

o ná> a entendemos aqui,

pertence a esta categoria. Em breve, verem

a> que conseqüências de prinápio daí decorrem

120

Não há dúvida de que acentuar o aspecto econôm

ico-social da vida cultural im

plica uma delim

itação muito sensível da; na;sos tem

as. Argum

entar sobre que o ponto de vista econôm

ico ou, como se dizer de m

aneira imprecisa,

"materialista", a partir do qual consideram

a; a vida cultural, revela-se como sen-

do algo "parcial". Isso é verdade, e essa parcialidade é intencional. A convicção

de que a tarefa do trabalho científico consiste em curar esta parcialidade da

perspectiva econômica m

ediante a sua ampliação, até se chegar a um

a ciência geral do social, tem

desde logo o defeito de o ponto de vista do "social" -isto é, o das relações sociais entre os hom

ens -possuir precisão suficiente

apenas para delimitar problem

as científicos quando estes são provida> de algum

predicado especial que determine o seu conteúdo. D

o contrário, considerado com

o objeto de uma ciência, abrangeria naturalm

ente tanto a filologia como a

história da igreja, e, em especial, todas as disciplinas que se ocupam

do mais

importante elem

ento constitutivo de qualquer vida normativa -

o Direito. D

a m

esma form

a com que o fato de a econom

ia social se ocupar dos fenômenos

da vida ou dos fenômenos de um

corpo celeste não nos obriga a considerá-la com

o parte da biologia ou de unia futura astronomia aperfeiçoada, tam

bém o

fato de ela tratar de relações "sociais" não constitui razão para que ela seja considerada com

o precedente necessária de wna "ciência social geral". O

do-núnio do trabalho científico não tem

por base as conexões "objetivas" entre as "coisas", m

as as conexões conceituais entre a> problemas. Só quando se estuda

um novo problem

a com o auxílio de um

método novo, e se descobrem

ver-dades que abrem

novas e importantes perspectivas, é que nasce um

a nova "ciência".

Não é por acaso que o conceito de "social", que parece ter um

sentido totalm

ente geral, adquire, logo que o seu emprego é subm

etido a um controle,

um significado m

uito particular e espeáfico, embora geralm

ente indefinido. O

que nele há de "geral" deve-se, com efeito, à sua indeterm

inação. Pois se for encarado no seu significado geral, não oferecerá nenhum

ponto de vista espe-áfico a partir do qual se possa ilum

inar o significado de determinados elem

en-ta> culturais.

livres do preconceito obsoleto de que a totalidade dos fenômena> culturais

pode ser deduzida como produto ou com

o função de determinadas constela-

ções de interesses "materiais", crem

a>, no entanto, que a análise da; fenômenos

sociais e da; processos culturais da perspectiva especial do seu condicionamen-

to e alcance econômico foi um

prindpio científico de fecundidade criadora, e continuará a sê-lo, enquanto dele se fizer uso prudente e livre de coibições dogm

áticas. Quanto à cham

ada "concepção materialista da história", é preciso

repeli-la com a m

aior ênfase, enquanto "concepção do mundo", ou quando en-

carada como denom

inador comum

da explicação causal da realidade histórica -

pois o cultivo de uma interpretação econôm

ica da história é um dos fins

essenciais da nossa revista. Isso exige uma explicação m

ais concreta. H

oje em dia, a cham

ada "concepção materialista da história", segundo, por

exemplo, o sentido genial e prim

itivo do Manifesto Com

unista,_ talvez apenas subsista nas m

entes de leiga> ou diletantes. Entre esses, com efetto, encontra-se

ainda muito difundido o singular fenôm

eno de que a necessidade de explicação causal de um

fenômeno histórico não fica satisfeita enquanto não se m

ostre

121

(mesm

o que só aparentemente) a intetvenção de causas econôm

icas. Feito isto, eles passam

a se contentar com as hipóteses m

ais frágeis e com as form

ulações m

ais genéricas, pois já foi satisfeita a sua necessidade dogmática, segundo a

qual as "forças" econômicas são as únicas causas "autênticas", "verdadeiras" e

"sempre determ

inantes em últim

a instância". Este fenômeno nada tem

de ex-traordinário. Q

uase todas as ciências, desde a filologia até a biologia, revelaram,

numa ocasião ou noutra, a pretensão de produzir não só a; seus conhecim

entos específica;, com

o até mesm

o "concepções de mundo". E, sob o im

pulso pro-duzido pelo enorm

e significado cultural das modernas transform

ações econô-m

icas, e principalmente por m

eio do alcance transcendente da "questão ope-rária", não é de adm

irar que também

viesse desembocar neste cam

inho a inex-tirpável tendência m

onista de todo o conhecimento refratário à autocritica. Esta

mesm

a tendência manifesta-se hoje na antropologia, exatam

ente no mom

ento em

que as nações se enfrentam com

crescente, num

a luta política e econôm

ica pelo dorrúnio do mundo. E hoje m

uito difundida a opinião de que "em

última análise", o decurso histórico não seria m

ais do que a resultante da rivalidade entre a ação recíproca de "qualidades raciais" inatas. A

mera des-

crição acrítica das "caracteristicas de um povo" foi substituída pela m

ontagem,

mena; crítica ainda, de "teorias da sociedade" supa;tam

ente baseadas nas "ciên-cias da natureza". Em

nossa revista, acompanharem

a; muito atentam

ente o de-senvolvim

ento da investigação antropológica, sempre que se m

a>trar importante

para a; nossos ponta; de vísta. É de se esperar que a situação de se ver na "raça" a essência da explicação causal -

o que era apenas um atestado de

nossa ignorância-pa;sa ser lentam

ente substituída mediante um

trabalho me-

todicamente orientado da form

a como, de m

odo semelhante, ocorreu tam

bém

em relação ao "am

biente' ou, anteriormente, em

relação às "circunstâncias da época". Se houve algo que, até neste m

omento, prejudicou esta investigação,

foram as idéias de diletantes fetvorosos, que acreditavam

poder fornecer ao co-nhecim

ento cultural algo de especificamente diferente e m

ais importante do que

a simples am

pliação da possibilidade de uma segura im

putação dos aconteci-m

enta> culturais concretos e individuais da realidade histórica a certas causas concretas e historicam

ente dadas, mediante a obtenção de um

material de ob-

setvação exato, com perspectivas específicas. Só na m

edida em que ela, a an-

tropologia, pode proporcionar-nos conhecimentos deste tipo, a; seus resultados

terão interesse para ná>, fazendo com que a "biologia racial" adquira um

a im-

portância que é superior ao fato de ser um m

ero produto da moderna febre

de fundamentação científica.

Não é outro o significado da interpretação econôm

ica da História. Se hoje

em d

ia-

depois de um período de desm

edida supetvalorização-quase existe

o perigo de se subestimar a sua capacidade de fornecer explicações científicas,

isso é apenas conseqüênda da inaudita ausênda de espírito crítico, no que diz respeito à interpretação da realidade, concebida com

o "método universal", no

sentido de uma dedução de todos os fenôm

enos culturais -isto é, de tudo

o que, para ná>, neles é essendal -a partir de condições que, em

última

instância, seriam "econom

icamente condicionadas". H

oje, a forma lógica sob a

qual se apresenta esta visão não é totalmente hom

ogênea. Quando a explicação

puramente econôm

ica se depara com dificuldades, dispõe-se de vários m

eios

122

1 ' %;: ,Z"

I

para manter a sua validade geral com

o fator causal decisivo. Às vezes, considera tudo aquilo que, na realidade histórica, não pode ser deduzido a partir de m

o-tivos econôm

icos como algo que, por isso m

esmo, seria "acidental'' e, portanto,

dentificamente insignificante. À

s vezes amplia o conceito de "econôm

ico" até o desfigurar, de m

odo que nele encontram lugar todos aqueles interesses hu-

manos que, de um

a ou de outra forma, são ligados aos m

eia; externos ou ao m

eio ambiente. N

o caso de haver a prova histórica de que, em face de duas

situaçê>es idênticas do ponto de vista econômico, houve reações diferentes -

em conseqüênda de diferenças nas determ

inantes políticas, religiosas, climáticas

ou em quaisquer outras determ

inantes não-econômicas -

todos estes fatores são então "rebaixados" ao nível de "condições" historicam

ente acidentais sob .

' as

a; motiva; econôm

icos atuam com

o "causas", visando preservar o pre-dom

ínio do econômico. É óbvio, contudo, que toda; estes aspectos "casuais"

para a perspectiva econômica seguem

as suas próprias leis, no mesm

o sentido em

que o fazem os aspecta; econôm

icos e que, para uma abordagem

que per-segue o seu significado específico, as respectivas "condições" econôm

icas são tão "historicam

ente addentais" quanto ocorre também

em casa; inversos. Por

fim,

muito .com

um para m

anter, apesar de tudo, a supremacia do

econom1co, constste em

mterpretar as constantes cooperações e interações dos

diferentes elementos da vida cultural com

o dependendo causal ou funcional-m

ente uns da; outros, ou melhor, de um

único elemento: o econôm

ico. Deste

modo, quando um

a determinada instituição não-econôm

ica realiza também

, his-toricam

ente, uma determ

inada "função" a serviço de quaisquer interesses eco-nôm

icos de classe -isto é, quando se converte em

instrumento desta, com

o no caso de determ

inadas instituições religiosas que se deixam utilizar com

o "po-lítica negra" -

, essa instituição é apresentada como expressam

ente criada para tal função, ou, em

sentido completam

ente metafísico, com

o tendo sido moldada

por uma "tendênda de desenvolvim

ento" de caráter econômico.

Hoje em

dia, não é preciso explicar a um especialista que esta interpretação

dos fins da análise econômica da cultura era resultante, em

parte, de uma de-

terminada conjuntura histórica que orientou o interesse científico para certos

problemas culturais "econom

icamente condicionadas", e, em

parte, também

, de um

forte apego à espedalidade dentífica. Acham

os que é necessário demonstrar

que esta interpretação, na; dias de hoje, está pelo mena; ultrapassada. Em

ne-nhum

setor da; fenômena; culturais se pode reduzir tudo a causas econôm

icas, nem

sequer no setor específico dos "fenômenos econôm

icos". Em princípio, a

história bancária de qualquer povo que pretendesse alegar a sua história a partir de m

otivos econômica; é tão im

pa;sível como, por exem

plo, a "explicação" da M

adona da Capela Sixtina a partir dos fundam

enta; sócio-econômicos da

vida cultural da época de sua criação, e de modo nenhum

é mais exaustiva

que, por exemplo, a explicação que faz derivar o capitalism

o de certas trans-form

ações dos conteúda; da consdênda religiosa que contribuíram para a gê-

nese do espírito capitalista, ou ainda, a que interpreta qualquer configuração política a partir de determ

inados condidonamentos geográficos. Em

todos estes casos, é decisivo, para a determ

inação da importânda a ser concedida aos con-

didonamentos "econôm

icos", a classe de causas que devemos atribuir àqueles

123

elemento; espeáfica; do fenôm

eno em questão que consideram

o; significativos em

cada caso particular. O direito à análise unilateral da realidade rultural a

partir de "perspectivas" espeáficas-em

nosso caso, a do seu condidonamento

econômico -

resulta, desde logo, e em term

a; puramente m

etodológica;, da drrunstânda de que o treino da atenção para se observar o efeito de determ

i-nadas categorias causais qualitativam

ente semelhantes, bem

como a constante

utilização do mesm

o aparelho metodológico-conceitual, oferece todas as van-

tagens da divisão do trabalho. Ela não é arbitrária enquanto há êxito no seu procedim

ento, isto é, enquanto oferece um conhecim

ento de relações que de-m

onstram ser valia;as para a im

putação de causas a determinada; aconted-

menta; histórica; concretos. M

as a "pardalidade" e a irrealidade da interpreta-ção puram

ente econômica apenas constituem

um caso espedal de um

prinápio de validade m

uito generalizada para o conhedmento dentífko da realidade cul-

tural. Todas as subseqüentes discussões terão como fim

essenc;:J.l esclarecer as bases lógicas e as conseqüêndas gerais de m

étodo do que a segwr é expa;to.

Não existe nenhum

a análise dentífica totalmente "obieti -.c!a" da vida cul-

tural, ou -o que pode significar algo m

ais limitado, 1nas seguram

ente não essendalm

ente diverso, para a; na;sa; propósitos -dos "fenôm

eno; sociais", que seja independente de determ

inadas perspectivas espedais e pardais, graças às quais estas m

anifestações possam se!', explidta ou im

plidtamente, consdente

ou inca;dentemente, selecionadas, analisadas e organizadas na exposição, en-

quanto objeto de pesquisa. Isso se deve ao caráter particular da meta do co-

nhecimento de qualquer trabalho das dêndas sodais que se proponha ir além

de um

estudo meram

ente formal das norm

as -legais ou convendonais -

da convivênda sodal.

A dênda soda! que pretendem

o; exerdtar é urna dênda da realidade. Pro-curam

os entender na realidade que está ao nosso redor, e na qual na; encon-tram

o; situados, aquilo que ela tem de espeáfico; por um

lado, as conexões e a significação cultural das nossas diversas m

anifestações na sua configuração atual e, por outro, as causas pelas quais ela se desenvolveu historicam

ente de urna form

a e não de outra. Acontece que, tão logo tentam

o; tornar consdênda do m

odo como se nos apresenta im

ediatamente a vida, verificam

o; que ela se nos m

anifesta "dentro" e "fora" de nós, sob urna quase infinita diversidade de evento; que aparecem

e desaparecem sucessiva e sim

ultaneamente. E a absoluta

infinitude dessa diversidade subsiste, sem qualquer atenuante do seu caráter in-

tensivo, mesm

o quando voltamo; a nossa atenção, isoladam

ente, a um único

"objeto" -por exem

plo, urna transação concreta -e isso tão logo tentam

os descrever de form

a exaustiva essa "singularidade" em toda; a; com

ponentes individuais, e, ainda m

uito mais, quando tentam

o; captá-la naquilo que tem de

causalmente determ

inado. Assim

, todo o conhedmento da realidade infinita,

realizado pelo espírito humano finito, baseia-se na prem

issa tádta de que ape-nas um

fragmento lim

itado dessa realidade poderá constituir de cada vez o ob-jeto da com

preensão dentífica e de que só ele será "essendal" no sentido de "digno de ser conheddo". E segundo que prinápia; se isola esse fragm

ento? R

epetidas vezes acreditou-se poder encontrar o critério dedsivo também

nas dêndas da cultura, na repetição regular, "conform

e leis", de determinadas co-

124

nexões causais. Segundo esta concepção, o conteúdo das "leis" que somos ca-

pazes de reconhecer na inesgotável diversidade do curso da; fenômenos deverá

ser o único fator considerado dentificamente "essendal". Logo que tenham

os dem

onstrado a "regularidade" de urna conexão causal, seja mediante urna am

pla indução histórica ou por m

eio de estabeledmento para a experiênda íntim

a da sua evidênda im

ediatamente intuitiva, adm

ite-se que toda; a; casa; semelhan-

tes -por m

ui numera;a; que sejam

-ficam

subordinada; à fórmula assim

encontrada. Tudo o que na realidade individual continue a resistir à seleção feita a partir desta regularidade, ou é considerado com

o um rem

anescente ainda não elaborado dentificam

ente (mas que, m

ediante aperfeiçoamento; contínua;,

deverá ser integrado no sistema das "leis"), ou é deixado de lado. O

u seja, é considerado "casual" e dentificam

ente serundário precisamente porque se re-

vela "ininteligível em face das leis" e não se integra ao processo ''típico", de

modo que se tornará objeto de urna "curia;idade oda;a". D

este modo, m

esmo

entre os representantes da escola histórica, reaparece constantemente a concep-

ção de que o ideal para o qual te9de ou pode tender todo o conhedmento,

mesm

o o das dêndas da cultura -ainda que seja num

futuro longínquo -consistirá num

sistema de proposições das quais seria pa;sível "deduzir'' a rea-

lidade. Sabe-se que um da; porta-vozes das dêndas da natureza julgou m

esmo

poder caracterizar o ideal -praticam

ente inalcançável -dessa elaboração da

realidade cultural como conhedm

ento "astronômico" dos fenôm

eno:; da vida. Por m

uito debatida que seja esta questão, não medim

o; esforça; para um exa-

me m

ais profundo do terna. Em prim

eiro lugar, salta aos olha; que esse co-nhecim

ento "astronômico", pensando no caso dtado, não é de m

odo nenhum

um conhedm

ento de leis, mas, pelo contrário, extrái de outras disdplinas, com

o a m

ecânica, as "leis" com as quais trabalha, à m

aneira de premissas. Q

uanto à própria astronom

ia, interessa-lhe saber qual o efeito individual produzido pela ação dessas leis sobre um

a constelação individual, dado que estas constelações têm

irnportânda para nós. Com

o é natural, toda a constelação individual que a astronom

ia nos "explica" ou prediz só poderá ser causalmente explicável co-

mo urna seqüênda de outra constelação, igualm

ente individual, que a precede. E, por m

uito que reruema; na obsruridade do m

ais longínquo passado, a rea-lidade para a qual tais leis são válidas perm

anece também

individual e igual-m

ente refratária a urna dedução a partir de leis. Com

preende-se que um "estado

original" cósmico que não possuísse um

caráter individual, ou que o tivesse em

menor grau que a realidade cósm

ica atual, seria evidentemente um

pensa-m

ento sem nenhum

sentido. No entanto, não sobrevive, em

nossa especialida-de, um

resquído de representações semelhantes, quando se supõem

"estados prim

itiva;" sódo-econômica; sem

qualquer "causalidade" histórica, quer inferi-dos do direito natural, quer verificados m

ediante a observação dos "pova; pri-m

itiva;"? Seria o caso, por exemplo, do "com

unismo agrário prim

itivo", da "pro-m

iscuidade sexual", etc. dos quais nasceria, mediante urna espécie de "queda

pecamina;a" no concreto, o desenvolvim

ento histórico individual? N

ão há qualquer dúvida de que o ponto de partida do interesse pelas dên-das sodais reside na configuração real e, portanto, individual da vida sódo-rultural que na; rodeia, quando querem

o; apreendê-la no seu contexto uni-versal, nem

por isso menos individual, e no seu desenvolvim

ento a partir de

125

outros estados sóci<rCUlturais, naturalm

ente individuais também

Fica evidente que tam

bém ná> nos

perante a acabam

os de expor no caso da A

stronomta (e que os logtcos tam

bém utthzam

regular-m

ente) e até de um m

odo especificamente acentuado. Enquanto 9ue, no cam

po da A

stronomia, os aspectos celestes apenas despertam

o nosso A

suas relações suscetíveis de

exatas, no das aenaas

sociais, pelo contrário, o que nos interessa e o aspecto dos !atos.

Devem

os ainda acrescentar que, nas dêndas sociais, se trata da tntervençao de fenôm

enos espirituais, cuja por "revivênda" constitui

tarefa espedficam

ente diferente da que poderiam, ou quereri.am

as

do conhedmento exato da natureza. A

pesar de tudo tsso, tats diferenças nao são categóricas, com

o nos poderia parecer à primeira

Exceto _o caso da m

ecânica pura, nenhwna dênda da natureza pode presandrr da noçao

qua-lidade. A

lém disso, deparam

o-nos em nosso próprio cam

po, com a optrua?-:-

errônea -de que o fenôm

eno, fundamental para a nossa

do financeiro

é suscetível de quantificação e, portanto, cognosctvel, medtante

"leis". Por 'fim, dependeria da definição m

ais ou_ menos

do conceito de "l:_i'' que nele se pudesse incluir, as regularidades.

urna e::crressao num

érica devido ao fato de não serem quanttftcávets. N

o que diz respetto espe-à intervenção de m

otivos "espirituais", esta, de modo algum

, exclui 0 estabeledm

ento de regras para uma atuação radonal. M

as, sobretudo, acon-tece que, ainda hoje, não

a de <;Jlle é .tarefa

da psicologia desempenhar, para as diversas

do chaften), um

papel comparável ao das m

aternattcas as

aenaas. da nat_U-reza". Para tal

ela deveria decompor os com

plexos fenomenos da vtda soaal

nas suas concllções e efeitos psíquicos, reduzi-los a fatores. psíquicos mais

ples, e, enfim, . classificar. estes

gêne:os e A

a:' relaçQ

es fundonais. A

sstm, ter-se-ta consegutdo cnar, senao urna

mecaruca , ao

wna "quím

ica" da vida soda! nas suas bases psíquicas. Não nos cabe. deadir

aqui se tais análises poderão algum dia

com

parttculares que sejam

valiosos e -o que é diferente -

utets aenaas da

No entanto isso não afeta de m

odo nenhum a posstbihdade de se atm

gtr a m

eta do sócio-econôm

ico, tal como o entendem

os aqui -ou

seja, 0 conhedm

ento da realidade concreta segundo. <:_ seu significado cultural e suas relações causais -

mediante a busca da repettçao regular. Supondo que

alguma vez, quer por m

eio da psicologia, quer de qualquer outro_ modo,

conseguisse decompor em

fatores últimos e sim

ples todas as conexoes causats im

agináveis da coexistênda humana, tanto as que já foram

observadas como

as que um tl.ia será possível estabelecer, e supondo que se conseguisse abran-

gê-las de modo exaustivo num

a imensa casuística de conceitos e de regras

a rigorosa validade das leis, o que significaria este resultado para o m

ento, quer do mundo cultural historicam

ente dado, quer de particular, com

o o do capitalismo na sua evolução ou no

stgruftcado cul-tural? C

omo m

eio de conhedmento, não significa nem

rnats nem m

enos que aquilo que um

didonário das combinações da quím

ica orgânica significa para o conhedm

ento biogenético dos reinos animal e vegetal.

num caso com

o noutro ter-se-á realizado um

importante e útil trabalho prehm

tnar. Todavta, e,

126

tanto num caso com

o noutro, tornar-se-ia impossível chegar algum

dia a deduzir a realidade da vida a partir destas "leis" e "fatores". N

ão por sul:x>istirem ainda, nos fenôm

enos vitais, determinadas "forças" superiores e misteriosas ("dom

inantes", "entelequias" ou ootras)-

o que já constitui outro problema-

mas sim

plesmente

porque, para o reconhedmento da realidade, só nos interessa a constelação em

que esses "fatores" (hipotéticos) se agrupam

, formando um

fenômeno cultural

historicamente significativo para ná>; e tam

bém porque, se pretendem

os "ex-plicar causalm

ente" esses agrupamentos individuais, teríam

os de nos reportar constantem

ente a outros agrupamentos igualm

ente individuais, a partir dos quais os "explicássem

os", embora utilizando, naturalm

ente, os dtados (hipoté-ticos) conceitos denom

inados "leis". O estabeledm

ento de tais "leis" e "fatores" (hipotéticos) apenas constituiria, para ná>, a prim

eira das várias operações às quais o conhedm

ento a que aspiramos nos conduziria. A

segunda operação, com

pletamente nova e independente, apesar de se basear nessa tarefa prelim

i-nar, seria a análise e a exposição ordenada do agrupam

ento individual desses "fatores" historicam

ente dados e da combinação concreta e significativa dele re-

sultante. Mas adm

a de tudo consistiria em tom

ar inteligível a causa e a natureza deste significado. A

terceira operação seria remontar o m

áximo possível ao pas-

sado e observar como se desenvolveram

as diferentes características individuais dos agrupam

entos de importânda para o presente, e propordonar um

a expli-cação histórica a partir destas constelações anteriores, igualm

ente individuais. Por fim

, uma quarta operação possível consistiria na avaliação das constelações

possíveis no futuro. Para todas essas finalidades, seria m

uito útil, e quase indispensável, a exis-tênda de conceitos claros e o conhedm

ento destas "leis" (hipotéticas), como

meios heuristicos -

mas unicam

ente como tais. Porém

, mesm

o com esta fun-

ção, há um ponto dedsivo que dem

onstra o limite do seu alcance, com

o que som

os conduzidos à peculiaridade decisiva do método das dêndas da cultura,

ou seja, nas disdplinas que aspiram a conhecer os fenôm

enos da vida segundo a sua significação cultural. A

significação da configuração de um fenôm

eno cul-tural e a causa dessa significação não podem

contudo deduzir-se de qualquer sistem

a de conceitos de leis, por mais perfeito que seja, com

o também

não podem

ser justificados nem explicados por ele, tendo em

vista que pressupõe a relação dos fenôm

enos culturais com idéias de valor. O

conceito de cultura é um

conceito de valor. A realidade em

pírica é "cultura" para ná> porque e na m

edida em que a reladonam

os com idéias de valor. Ela abrange aqueles e so-

mente aqueles com

ponentes da realidade que através desta relação tomam

-se significativos para ná>. U

rna parcela ínfima da re::Jlidade individual que obser-

vamos em

cada caso é matizada pela ação do nosso interesse condidonado

por essas idéias de valor; apenas ela tem significado para nós, predsam

ente porque revela relações tom

adas importantes graças à sua vinculação a idéias

de valor. E somente por isso, e na m

edida em que isso ocorre, interessa-nos

conhecer a sua caractetística individual. Entretanto, o que se reveste de signi-ficação não poderá ser deduzido de um

estudo "isento de pressupostos" do em

piricamente dado. Pelo contrário, é a com

provação desta significação que constitui a prem

issa para que algo se converta em objeto de análise. N

atural-m

ente, o significativo, como tal, não coindde com

qualquer lei como tal, e isto

127

tanto menos quanto m

ais geral for a validade dessa lei. Porque a significação que tem

um fragm

ento realidade

não se e?contra evidentemente

nas relações que comparulha com

o ma1or num

ero pa;s1vel de outros tos. A

redução de realidade com idéias de valor que lhe

S!gru-ficação, assim

como o sublinhar e ordenar. os. elem

_:ntos do real por

esta relação sob o ponto de vista de sua s1gruficaçao cultural, constituem pers-

pectivas completam

ente diferentes e distintas análise de

levada. a cabo para conhecer as suas leis e para ordena-las segundo conceitO

S gerais. A

mbas as m

odalidades de pensamento ordenador do real não m

antêm entre si

nenhuma lógica necessária. Poderá acontecer que, num

caso concreto, venha.m

alguma vez a coincidir, m

as, se essa coincidênda causal nos ocultar a crepância de prinápios, isso poderá acarretar as m

ais funestas consequenaas. o significado cultural de um

fenômeno-

r:x'r exemplo, o :to com

ércio mo-

netário -pode consistir no fato de se m

arufestar como fenom

eno de massa,

como um

dos elementos fundam

entais da cultura contemporânea. M

as, ato con-tínuo o fato histórico de desem

penhar esse papel é que constitui o que deverá ser

do ponto de vista de seu significado cultural e explicado cau-salm

ente da perspectiva da sua origem histórica. A

análise da geral ?a

troca e da técnica do tráfico comercial constituem

uma tarefa

mw

to em

bora extremam

ente importante e indispensável. M

as não fica assim resolvida

a questão de como a troca chegou

a a

fun-dam

ental que hoje pa;sui, nem a que, em

ultima analise, nos m

teressa: a de qual é a significação cult1o1ral da econom

ia monetária. Pois é por causa dela

que nos interessamos pela descrição da técnica de circulação e por sua causa

também

que existe hoje uma ciência que trata desta técnica. D

e qualquer modo,

não se deduz de nenhuma destas leis. A

s caracteristicas genéricas da troca, da com

pra etc. interessam ao jurista. M

as o que a nós interessa de

lisar a significação cultural do fato histórico de a troca constituir, hoje em d1a,

um fenôm

eno de massa. Q

uando este fato precisa ser explicado, quando pre-tendem

os compreender a diferença entre a nossa cultura sócio-econôm

ica e a da A

ntigüidade -onde a troca apresentava exatam

ente as n:esmas

genéricas de hoje -, quando

sabe: .em q.ue_

a s1grufic:açao da "econom

ia monetária", surgem

entao na análiSe pnnap1os logtcos de ongem

claramente heterogênea. Por certo que, enquanto contiverem

elementos signi-

ficativos da nossa cultura, utilizaremos os conceitos que a análise dos elem

entos genéricos dos fenôm

enos econômicos de m

assa nos oferece como m

eios de exposição. Porém

, por muito exata que seja a distinção desses conceitos e

leis não só não terem

os alcançado o alvo da nossa tarefa, como a questao

sob-e qual deve ser o objeto da formação . de conceito_:

ficará "livre de pressupostos", dado que foi dedd1da em

funçao da. possuem

para a cultura determinados elem

entos dessa que cham

amos "drculação". Procuram

os conhecer um fenom

eno histonco, 1sto é, significativo na sua especificidade. E o que há de decisivo é o _fato

a idéia de um

conhedmento dos fenôm

enos individuais só adquirir sentido lógiCO m

ediante a premissa de que apenas um

a parte finita da infinita diversidade de fenôm

enos é significativa. Mesm

o com o m

ais amplo conhedm

ento_ de as "leis" do devir ficariam

os perplexos diante do problema de com

o e poss!Vel,

128

em geral, a explicação causal de um

fato individual, posto que nem sequer se

a mera descrição exaustiva do m

ais finito fragmento da realidade.

? num<:o e a natu:eza. das causas que determ

inam qualquer acontedm

ento m

diVIdual. sao sem

pre 1nfirutos, e não existe nas próprias coisas critério algum

que escolher

elas uma fração que possa entrar isoladam

ente em

A

de conhedm

ento da realidade "livre de pressu-postos

so consegwna produZir um

caos de "juízos existendais" acerca de inú-m

eras concepções ou percepções particulares. E, o mesm

o resultado só seria possível

.aparênda, já que a de cada um

a das percepções, expostas a um

a analise detalhada, oferecena um sem

-número de elem

entos particulares que nunca poderão ser expressos de m

odo exaustivo nos juízos de percepção. Este caos só pode ser ordenado pelo fato de que, em

qualquer caso, unica-m

ente um segm

ento da realidade individual possui interesse e significado para nós, posto que só ele se encontre em

relação com as idéias culturais de valor

com que abordam

os a realidade. Portanto, só alguns aspectos dos fenômenos

particulares infinitamente diversos,. e precisam

ente aqueles a que conferimos

uma significação geral para a cultura, m

erecem ser conhecidos, pois apenas eles

são objeto de explicação causal. Também

esta explicação causal oferece, por sua vez, o m

esmo caráter, pois um

a regressão causal exaustiva a partir de qual-quer fenôm

eno concreto para captar a sua plena realidade não só resulta pra-ticam

ente impa;sível com

o é pura e simplesm

ente um absurdo. A

penas colo-cam

os em relevo as causas a que se podem

atribuir, num caso concreto, os

elementos "essendais" de um

acontedmento. Q

uando se trata da individuali-dade de um

fenômeno, o problem

a da causalidade não incide sobre as leis, m

as sobre conexões causais concretas. Não se trata de saber a que fórm

ula se deve subordinar o fenôm

eno a título de exemplar, m

as sim a que constelação

deve ser imputado com

o resultado. Trata-se, portanto, de um problem

a de im-

putação causal. Onde quer que se trate de explicação causal de um

fenômeno

cultural -ou de um

a "individualidade histórica", expressão já utilizada relati-vam

ente à metodologia da nossa disciplina e agora habitual na lógica, com

o um

a formulação m

ais predsa -, o conhecim

ento das leis da causalidade não poderá constituir o fim

, mas apenas o m

eio na investigação. Ele apenas fadlita a im

putação causal que leva em consideração aqueles elem

entos nos aconte-<;im

entos que ficaram im

portantes causalmente para a singular evolução cultural.

E apenas na medida em

que presta este serviço que poderá ter valor para o conhecim

ento das conexões individuais. E, quanto mais "gerais", isto é, abstra-

tas, são as leis, tanto menos contribuem

para as necessidades da imputação cau-

sal dos fenômenos individuais e, indiretam

ente, para a compreensão da signi-

ficação dos acontecimentos culturais.

O que se conclui de tudo isso?

Naturalm

ente não que, no setor das ciências da cultura, o conhedmento

do geral, a formação de conceitos genéricos abstratos, o conhecim

ento de re-gularidades e a tentativa de form

ulação de relações "regulares" não tenham um

a justificação científica. M

uito pelo contrário. Se o conhecimento causal do histo-

riador consiste na imputação de certos resultados concretos a determ

inadas cau-sas concretas, então é im

pa;sível uma im

putação válida de qualquer resultado individual sem

a utilização de um conhedm

ento "nomológico", isto é, de um

129

conhecimento das regularidades das conexões causais. Para saber se cabe atri-

buir a um elem

ento individual e singular de uma conexão, na realidade, um

a im

portânda causal para o resultado que se trata de explicar causalmente, só

existe a pa;sibilidade de proceder à avaliação das intluêndas que na; habitua-m

a> a esperar geralmente, tanto deste com

o de outra> elementO

> do mesm

o com

plexo, que sejam pertinentes à explicação. FBsas intluêndas constituem

, por conseguinte, a; efeita; "adequada;" da; elem

entos causais em questão. Saber

até que ponto o historiador (no sentido mais lato da palavra) é capaz de realizar

com segurança esta im

putação, com o auxílio de sua im

aginação metodicam

ente educada e alim

entada pela sua experiênda pessoal de vida, e até que ponto estará dependente do auxílio de determ

inadas dêndas espedalizadas pa;tas ao seu alcance, é algo que depende de cada situação particular. M

as, em qualquer

caso, e também

no setor da; fenômena; econôm

icos complexa;, a certeza da

imputação é, por isso, tanto m

aior quanto mais seguro e am

plo for o nosso conhedm

ento geral. O valor desta afirm

ação não é de modo nenhum

diminuído

pelo fato de que nunca, mesm

o nas chamadas "leis econôm

icas", se trata de conexões "regulares", no sentido estrito das dêndas da natureza, m

as sim de

conexões causais adequadas, expressas em regras, e, portanto, de um

a aplica-ção da categoria da "possibilidade objetiva", que não analisarem

a; aqui com

maiores detalhes. O

corre que o estabelecimento de tais regularidades não é a

finalidade, mas sim

um m

eio do conhedmento. E quanto a saber se tem

sentido form

ular como "lei" um

a regtJ!aridade de conexões causais observada na expe-riênda cotidiana, isso não é m

ais do que uma questão de conveniênda em

cada caso concreto. Para as dêndas exatas da natureza, as leis são tanto m

ais im

portantes e valiosas quanto mais geral é a sua validade. Para o conhedm

ento das condições concretas da; fenôm

ena; histórica;, as leis mais gerais são fre-

qüentemente as m

ena; valiosas, por serem as m

ais vazias de conteúdo. Isto porque, quanto m

ais vasto é o campo abrangido pela validade de um

conceito genérico -

isto é, quanto maior a sua extensão -

tanto mais na; afasta da

riqueza da realidade, pa;to que, para poder abranger o que existe de comum

no m

aior número pa;sível de fenôm

ena;, forçosamente deve ser o m

ais ab>trato e pobre de conteúdo. N

o campo das dêndas da cultura, o conhedm

ento do geral nunca tem

valor por si próprio. D

e tudo o que até aqui se disse, resulta que carece de razão de ser um

estudo "objetivo" dos acontedmenta; culturais, no sentido de que o fim

ideal do trabalho dentífico deverá consistir num

a redução da realidade empírica a

certas leis. Carece de razão de ser não porque -

como freqüentem

ente se sus-tentou -

os acontedmenta; culturais ou, se quiser, a; fenôm

ena; espirituais, evoluam

"objetivamente" de m

odo mena; sujeito a leis, m

as: a) porque o co-nhedm

ento de leis sodais não é um conhedm

ento do sodalmente real, m

as unicam

ente um da; diversos m

eia; auxiliares de que nosso pensamento se ser-

ve para esse efeito; e b) porque nenhum conhedm

ento da; acontedmentos cul-

turais poderá ser concebido senão com base na significação que a realidade

da vida, sempre configurada de m

odo individual, possui para nós em determ

i-nadas relações singulares. N

ão existe nenhuma lei que nos m

ostre em que sen-

tido e em que condições isso sucede, pois o dedsivo são as idéias de valor,

prisma sob o qual consideram

a; a "cultura" em cada caso. A "cultura" é um

130

segme?to finito e destituído de sentido próprio do m

undo, a que o pensamento

confenu -do ponto de vista do hom

em -

um sentido e um

a significação. E continua a ser assim

mesm

o para quem se opõe a um

a cultura concreta como

inimigo im

placável, preconizando o "regresso à natureza". Pois apenas pode adotar essa posição quando com

para esta cultura concreta às suas próprias idéias de

afigurando-se-lhe aquela como "dem

asiado superfidal". Referi-m

o-na; preasamente a esta circunstânda puram

ente lógica e formal quando

afirmam

a; que todo o indivíduo histórico está arraigado de modo logicam

ente necessário, em

"idéias de valor". A prem

issa transcendedtal de qualquer dênda da cultura reside não no fato de considerarm

a; valiosa uma "cultura" determ

i-nada, m

as na drcunstânda de sermos hom

ens de cultura, dotados da capad-dade e da vontade de assum

irmos um

a posição consdente em face do m

undo e de lhe conferirm

os um sentido. Seja qual for este sentido, ele influirá para

que, no decurso de nossa vida, extraiamos dele avaliações de determ

inados fe-da convivênda hum

ana e assumam

a;, perante eles, considerada; sig-ruflcatlvos, um

a posição (positiva ou negativa). Qualquer que seja o conteúdo

desta tomada de posição, esses fenôm

enos possuem para ná> um

a significação cultural que constitui a base única do seu interesse dentífico. C

onseqüentemen-

te, quando utilizamos aqui a term

inologia da; lógicos moderna; (Rickert) e di-

zema; que o conhedm

ento cultural é condidonado por determinadas idéias de

valor, esperamos que isso não seja suscetível a m

al-entendidos tão grosseiros com

o a opinião de que apenas se deve atribuir significação cultural aa; fenô-m

ena; valiosos. Pois tanto a pra>tituição como a religião ou o dinheiro são

fenômenos culturais. E toda; os três o são, única e exclusivam

ente, enquanto a sua existênda e a força que historicam

ente adotam correspondem

, direta ou indiretam

ente, aos nossa; interesses culturais, enquanto animam

o nosso desejo de conhedm

ento a partir de pontos de vista derivados das idéias de valor, as quais tom

am significativo para ná> o fragm

ento de realidade expresso naqueles conceitos.

Disso resulta que todo conhedm

ento da realidade cultural é sempre um

conhecim

ento subordinado a pontos de vista especificamente particulares.

Quando exigim

a; do historiador ou do sodólogo a premissa elem

entar de saber distinguir entre o essendal e o secundário, de possuir para esse fim

os pontos de vista necessária;, querem

a; unicamente dizer que ele deverá saber referir

-consdente ou inconsdentem

ente -os elem

entos da realidade a "valores culturais" universais, e destacar aquelas conexões que, para ná>, se revestem

de significado. E se é freqüente a opinião de que tais pontos de vista poderão ser "deduzidos da própria m

atéria", isto apenas se deve à ilusão ingênua do espedalista que não se dá conta de que -

desde o inído e em virtude das

idéias de valor com que inconsdentem

ente abordou o tema -

destacou da ab>oluta im

ensidade um fragm

ento ínfimo e, particularm

ente aquele cujo exame

lhe importava. A

propósito desta seleção de "aspectos" espedais e individuais do devir, que sem

pre e em todos os casos se realiza consdente ou inconsden-

temente, reina tam

bém essa concepção do trabalho dentífico-cultural que cons-

titui a base da tão repetida afirmação de que o elem

ento "pessoal" é o que verdadeiram

ente confere valor a uma obra dentífica. O

u seja, de que qualquer obra deverá exprim

ir uma "personalidade" paralelam

ente a outras qualidades.

131

Por certo que, sem as idéias de valor do investigador, não existiria nenhum

principio de seleção, nem

o conhecimento sensato do real singular, da m

esma

forma com

o sem a crença do pesquisador na significação de um

conteúdo cul-tural qualquer, resultaria com

pletamente desprovido de sentido todo o estudo

do conhecimento da realidade individual, pois tam

bém a orientação da sua con-

vicção pessoal e a difração de valores no espelho da sua alma conferem

ao seu trabalho um

a direção. E as valores a que o gênio dentífico refere as objetos da sua investigação poderão determ

inar a "concepção" que se fará de toda uma

época. Isto é, não só poderão ser decisivas para aquilo que, nas fenômenos,

se considera "valioso", mas ainda para o que passa por significativo ou insigni-

ficante, "importante" ou "secundário".

O conhecim

ento científico-cultural, tal como o entendem

os, encontra-se preso, portanto, a prem

issas "subjetivas", pelo fato de apenas se ocupar daque-les elem

entos da realidade que apresentam algum

a relação, por muito indireta

que seja, com o acontecim

ento a que conferimos um

a significação cultural. Ape-sar disso, continua naturalm

ente a ser um conhecim

ento puramente causal, da

mesm

a maneira com

o o conhedmento de eventos naturais individuais im

por-tantes, que têm

caráter qualitativo. Paralelamente às num

erosas confusões ori-ginadas pelo im

iscuir do pensamento jurídico form

alista na esfera das dêndas culturais, surgiu recentem

ente (em obra do jurista R Stam

mler, entre outras), a

tentativa de "refutar" a "concepção materialista da H

istória" através de uma série

de engenhosas sofismas. Pará tanto, argum

enta-se, já que toda a vida econômica

deveria evoluir dentro de determinadas form

as reguladas de modo legal ou con-

vendonal, qualquer "evolução" econômica deveria adotar o aspecto de aspira-

ções para a criação de novas formas jurídicas. Isto é, que apenas poderia ser

compreensível a partir de certas m

áximas m

orais, e por isso seria diferente, em

essênda, de qualquer "evolução natural". O conhedm

ento da evolução econô-m

ica teria, assim, um

a caráter "teleológico". Sem pretenderm

os discutir aqui o significado am

bíguo que o conceito de "evolução" comporta nas dêndas so-

dais, nem o conceito igualm

ente ambíguo, do ponto de vista lógico, de "te-

leológico", cabe deixar assente que a economia não é necessariam

ente "teleo-lógica", tal com

o pressupõe essa concepção. Mesm

o no caso de uma total iden-

tidade de forma das norm

as jurídicas vigentes, a significação cultural das rela-ções jurídicas de caráter norm

ativo pode mudar de m

odo radical e, conseqüen-tem

ente, as próprias normas. Pois, se nas perm

itíssemos um

mergulho em

di-vagações sobre o futuro, poder-se-ia im

aginar, por exemplo, com

o teoricamente

realizável, urna "sodalização das meias de produção", sem

que se houvesse produzido qualquer "aspiração" consdentem

ente dirigida para esse resultado e sem

que houvesse necessidade de se acrescentar ou suprimir qualquer artigo

na nossa atual legislação. Em com

pensação, a freqüênda estatística das diversas relações legalm

ente normalizadas seria sem

dúvida modificada de m

odo radical, e, em

numerosas casos, ficaria reduzida a zero urna grande parte das norm

as jurídicas, que perderiam

praticamente qualquer significado, e toda a sua signi-

ficação para a cultura se tornaria irreconhedvel. Por conseguinte, a "concepção m

aterialista da história" poderia, assim, elim

inar com razão as discussões de lege

ferenda (com referênda à legislação futura), visto que o seu ponto de vista

básico afirmava predsam

ente a inevitável mudança da significação das institui-

132

ções jurídicas .. Todo que ?'ê. que o m

odesto trabalho de compreensão

causal da realidade htstonca constttut urna tarefa inferior poderá desinteressar-se por ele, m

as é realmente im

passível substituí-lo por qualquer "teleologia". Na

nossa concepção, "fim" é a representação de um

resultado que se converte em

causa que contribua ou possa contribuir para o resultado significativo. A sua

significação especifica baseia-se unicamente em

que podemos e querem

os não só constatar a atividade hum

ana, mas tam

bém com

preendê-la. N

ão há dúvida de que as idéias de valor são "subjetivas". Entre o interesse pela evolução das m

aiores fenômenos im

agináveis, que durante longas perío-dos foram

, e continuam a ser, com

uns a uma nação ou a toda a hum

anidade existe um

a escala infinita de "significações" cujas graus se apresentarão, cada um

de nós, numa ordem

diferente. E, naturalmente, esta ordem

também

varia historicam

ente de acordo com o caráter da cultura e do pensam

ento que dom

ina as homens. É evidente, no entanto, que não devem

os deduzir de tudo isso que a investigação dentífico-cultural apenas conseguiria obter resultados "subjetivas", no sentido de serem

válidos para uns, mas não para outras. O

que varia é o grau de interesse que se m

anifesta por um ou por outro. Em

outras palavras: apenas as idéias de valor que dom

inam o investigador e um

a época podem

determinar o objeto do estudo e as lim

ites deste estudo. No que

concerne ao método da investigação, o "com

o" é o ponto de vista dominante

que determina a form

ação das conceitos auxiliares de que se utiliza. E quanto ao m

étodo de utilizá-las, o investigador encontra-se evidentemente ligado às

norma de nosso pensam

ento. Porque só é uma verdade dentífica aquilo que

pretende ser válido para todos os que querem a verdade.

Ora, daqui se deduz a total insensatez da crença que por vezes encontra-

mos m

esmo entre historiadores da nossa espedalidade, segundo a qual o alvo

das dêndas da cultura poderia ser a elaboração de um sistem

a fechado de con-ceitos que, de um

modo ou de outro, sintetizaria a realidade m

ediante uma

articulação definitiva, a partir da qual se poderia de novo deduzi-la. O fluxo

do devir incomensurável flui incessantem

ente ao encontro da eternidade. Os

problemas culturais que fazem

mover a hum

anidade renascem a cada instante,

sob um aspecto diferente, e perm

anecem variáveis: o âm

bito daquilo que, no fluxo eternam

ente infinito do individual, adquire para nós importânda e signi-

ficação e se converte em "individualidade histórica". M

udam tam

bém as relações

intelectuais, sob as quais são estudadas e dentificamente com

preendidas. Por conseguinte, os pontas de partida das dências da cultura continuarão a ser va-riáveis no im

enso futuro, enquanto uma espécie de im

obilidade chinesa da vida espiritual não desacostum

ar a humanidade de fazer perguntas à vida sem

pre inesgotável. U

m sistem

a das dêndas culturais, embora só o fosse no sentido

de uma fixação definitiva, objetivam

ente válida e sistematizadora das questões

e das campas dos quais se espera que tratem

, seria um ab;urdo em

si. Um

a tentativa deste tipo poderá apenas rem

atar por urna justaposição de diferentes pontos de vista, espedficam

ente particulares, e muitas vezes heterogêneos e dís-

pares entre si, sob os quais a realidade tem sido, e perm

anecerá para nós, "cul-tura", isto é, significativa na sua particularidade.

Depois desta prolongada discussão podem

os, finalmente, dedicarm

o-nos à questão que nos interessa m

etodologicamente, a propósito do estudo da

133

"objetividade" do conhecimento nas ciências da cultura. Q

ual é a função lógica e a estrutura da; conceitos com

os quais trabalha a nossa ciência, à semelhança

de qualquer outra? Ou, para dizê-lo de outra m

aneira e em função do problem

a decisivo: qual a significação da teoria e da form

ação teórica da; conceita; para o conhecim

ento da realidade cultural? C

omo já vim

a;, a economia política tinha sido originariam

ente urna "téc-nica", pelo m

ena; no que diz respeito ao núcleo da; seus estuda>, isto é, con-siderava a; fenôm

enos da realidade de urna perspectiva prática do valor, estável e unívoca pelo

na aparência: da perspectiva do crescimento da "riqueza"

da população num país. Por outro lado, desde o início em

que a economia

política não era apenas uma "técnica", tendo em

vista que se incorporou à po-dera;a unidade da concepção do m

undo do século XVIII, de caráter racionalista e orientada pelo direito natural. M

as a particularidade dessa concepção do mun-

do, com a sua fé otim

ista na racionalização teórica e prática do real, comportou

um efeito essencial ao evitar que fosse descoberto o caráter problem

ático da perspectiva que ele pressupunha evidente. D

o mesm

o mcx:lo que o estudo ra-

cional da realidade social havia nascido em estreita relação com

a evolução m

cx:lerna das ciências na natureza, continuou semelhante no m

odo de encarar o seu objeto. N

as disciplinas das ciências da natureza, a perspectiva prática do valor, relativa ao que é diretam

ente útil, encontra-se tecnicamente em

estreita relação com

a esperança -herdada da A

ntigüidade e desenvolvida pa;terior-m

ente-

de que, por meio do cam

inho generalizador da abstração e da análise do em

pírico, orientadas para as relações legais, seria possível chegar a um co-

nhecimento puram

ente "objetivo" -isto é, aqui, um

conhecimento sem

relação com

toda; a; valores -e, ao m

esmo tem

po, absolutamente racional -

ou seja, um

conhecimento m

onista de toda a realidade, livre de qualquer "contin-gência" individual, sob o aspecto de um

sistema conceitual de validade m

eta-física e form

a matem

ática. As disciplinas das ciências da natureza, que se en-contram

ligadas a pontos de vista axiológica>, tais como a m

edicina clínica, e, m

ais ainda, a chamada "tecnologia", converteram

-se em puras "artes" práticas.

Desde o prindpio estavam

determinada; a; valores a que deveriam

servir: a saúde do paciente, o aperfeiçoam

ento técnico de um processo de prcx:lução

etc ... Os m

eia; a que recorreram, eram

, e só podiam ser, a aplicação prática

dos conceita; de lei descoberta; pelas disciplinas teóricas. Qualquer progresso

de prindpio na formação das leis era tam

bém e pcx:lia sê-lo um

progresso na disciplina prática. Porque, quando a; fins perm

anecem inalteráveis, a redução

progressiva das questões práticas (um caso de doença, um

problema técnico)

a leis de validade geral e à conseqüente ampliação do conhecim

ento teórico, se liga à am

pliação das pa;sibilidades técnicas e práticas e se identifica com

ela. No m

omento em

que a biologia mcx:lem

a conseguiu englobar os elementos

da realidade que nos interessam historicam

ente (pelo fato de haverem ocorrido

precisamente assim

e não de qualquer outro mcx:lo) dentro do conceito de um

prindpio de evolução de validade geral, que, pelo m

enos na aparência-m

as não na realidade -

permitia ordenar todo o essencial daqueles objeta; dentro

de um esquem

a de leis com validade geral, dir-se-ia que sobre todas as ciências

pairava ameaçadoram

ente o crepúsculo dos deuses de todas as perspectivas axiológicas. V

isto que também

o chamado devir histórico era um

fragmento da

realidade total e que o prindpio da causalidade -prem

issa de qualquer tra-balho científico -

parecia exigir a redução de todo o devir a "leis" de validade

134

geral, e visto o descomunal êxito das ciências da natureza

que haviam incor-

f>?rado esse prindpio, parecia it_npossível. conceber um trabalho científico que

nao o da ?escoberta de le1s do deV!r em

geral. O elem

ento científico es-senaal da; fenom

enos apenas pcx:lia ser constituído pelo aspecto "legal" ao

passo que a; "acontecimentos individuais" só podiam

ser levada; em conta' co-

mo "til=?'": o que significa:

como representativos das leis. o interesse por

eles propna;, enquanto tais, nao era considerado um interesse "científico"

É impossível dar porm

enores aqui das importantes repercussões deste

do d:

repleto de ?o m

onismo naturalista sobre as disciplinas

econorrncas. Quando a cntlca soaalista e o trabalho da; historiadores com

eça-ram

a as perspectivas axiológicas originais, a grande

da mvestlgaçao

por um lado, e a influência do panlogism

o hegehano, por outro, im

pediram que a eçonom

ia política reconhecesse com

precisão toda a amplitude da relação entre o conceito e a realidade. O

resultado disso, . no

na; interessa aqui, é que, apesar do formidável dique erguido

fila;ofla idealista alemã desde Fichte, pelo êxito da Escola H

istórica do D1re1to e pela; trabalha; da Escola H

istórica Alem

ã de Economia Política contra

a infiltração da; dogmas naturalistas, não foram

ainda superados, em determ

i-aspecta; decisiva;, a; ponta; de vista do naturalism

o, e, em parte, essa

s1tuaçao por causa desse esforço. Entre eles, cabe citar a relação, ainda

problemática, que na nossa disciplina existe entre o trabalho "teórico" e o "his-

tórico". A

inda hoje, o método teórico e "abstrato" se opõe de m

aneira direta e apa-rentem

ente incontornável à investigação histórico-empírica. Ele reconhece com

toda a exatidão a im

pa;sibilidade metodológica de substituir o conhecim

ento histórico da realidade pela form

ulação de "leis", ou de, pelo contrário, chegar ao estabelecim

ento das "leis", no sentido estrito do termo, m

ediante a mera jus-

tapa;ição de observações históricas. Para conseguir estabelecer as leis -pois

há de que este é o fim

supremo da ciência -

parte do fato de que expenm

entamos constantem

ente as relações da atividade humana em

sua rea-lidade im

ediata. Em face disso, julga pcx:ler tornar esse curso dos eventa; di-

retamente inteligível com

evidência axiomática e assim

explorá-los nas suas "leis". A

única forma exata do conhecim

ento, a formulação de leis im

ediata e intuitivam

ente evidentes, seria, ao mesm

o tempo, a única que nos perm

itiria deduzir a; acontecim

enta; não diretamente observáveis. C

onseqüentemente,

0 estabelecim

ento de um sistem

a de propa;ições abstratas e puramente form

ais, em

analogia às propa;ições das ciências exatas, seria o único meio de dom

inar intelectualm

ente a diversidade social, pelo mena; no que diz respeito aa; fe-

nômena; fundam

entais da vida econômica. A

pesar de ter sido o criador desta teoria (H

. Gossen, precursor da teoria rnarginalista na Econom

ia, em 1854) o

primeiro e único a efetuar urna distinção m

etcxlológica de prindpio entre o co-legal e o hist?rico atribuiu urna validade em

pírica às propa;ições da teona abstrata, nc;> sentido de urna pa;sibilidade de dedução da realidade a partir destas "leis". E certo que o não fazia no sentido da validade em

pírica das propa;ições

abstratas por elas próprias, mas sim

no sentido de, urna vez alcançadas teonas "exatas" correspondentes a todos a; outra; ele-m

enta; que entram em

linha de conta, dever o conjunto de tcxlas estas teorias abstratas conter a verdadeira realidade das coisas, isto é, tudo aquilo que, da

135

realidade, fa;se digno de ser conhecido. A teoria "exata" da Econom

ia leceria a influência de um

motivo psicológico, ao passo que outras teonas te-

riam com

o tarefa desenvolver analogamente todos os m

otivos restantes num

conjunto de proposições de hipotética. C

om

ao resultado do trabalho teórico -

isto é das teonas abstratas da form

açao dos preços, dos juros, dos rendim

entos etc.' -houve quem

dissesse num

a analogia

com as proposições da física, seria possível em

prega-las para deduZir, de m

issas reais dadas, resultados quantitativamente determ

inados -portanto, le1s

em sentido restrito -

com validade para a realidade da vida, posto que em

face de fins dados a econom

ia humana ficasse claram

ente "determinada" com

relação aos m

eios. Não se levava em

consideração CJI:le, para tal re-

sultado, ainda que fa;se no mais sim

ples dos casos, previam

ente como "dada", e pressupor com

? a totalidade da reali-

dade histórica incluindo todas as suas relaçoes causaiS. E que, se alguma vez

o espírito conseguisse alcançar esse conhecim

ento, não se im

a-ginar qual o valor epistem

ológico de uma teoria abstrata. O

preconceito natu-ralista segllildo o qual se deveria, nesses conceitos, elaJ;x>rar algo às ciências exatas, havia precisam

ente levado a uma

erronea do sentido dessas form

ações teóricas do pensamento. A

creditava-se que se do isolam

ento psicológico do "impulso" específico d_o .hom

em, ?.

aquisição, ou então da observação isolada de uma

da atlVl-dade hum

ana, o chamado.princípio econôm

ico. A teona abstrata JUlgava poder

se apoiar em axiom

as psicológicos. Isto teve como conseqüência o fato de _os

historiadores exigirem urna psicologia em

pírica, de molde a com

provar a nao-validade desses axiom

as e a poder deduzir psicologicamente o curso dos pro-

cessos econômicos. N

ão é na;sa intenção criticar aqui pormenorizadam

ente a significação de urna ciência sistem

ática da "psicologia -

ainda não tituída -

como futura base das ciências culturais, espeaalm

ente da econoffila social. A

s tentativas de uma interpretação psicológica dos fenôm

enos econômi-

cos de que temos

até a.gora, parte

precisamente que esta se dá nao a partlf da

das 1nst1tu1ç.oes inversam

ente, que o esclarecimento das cc:ndiçoes .e

efe1tos das instituições pressupõe o exato

.destas e a

análise científica das suas relações. A anahse ps1colog1ca s1grufica, po1s, em

cada caso concreto, um

valioso aprofundar do conhecimento do seu condicionam

en-to histórico e da sua significação cultural. O

que nos interessa na conduta do hom

em, dentro do âm

bito das suas relações sociais, é especificamente particu-

larizado segundo a significação cultural específica da em

causa. de causas e de influências psíquicas extrem

amente heterogeneas entre s1 e ex-

tremam

ente concretas na sua composição. A

investigação sócio-psicológica sig-nifica um

exame aprofundado dos diversos gêneros particulares e díspares de

elementos culturais, tendo em

vista a sua acessibilidade para a na;sa revivência com

preensiva. Partindo do conhecimento das instituições parti<=0ares, esse exa-

me auxiliar-nos-á a com

preender intelectualmente e, em

medida crescente, o

seu condicionamento e significação culturais, m

as não nos ajudará a explicar as instituições a partir de leis psicológicas ou de fenôm

enos psicológicos ele-m

entares.

136

Por conseguinte, bem pouco fecunda tem

sido a polêmica desencadeada

ao redor da questão da legitimidade psicológica das construções teóricas e abs-

tratas, bem com

o do alcance do "instinto de aquisição", do "princípio econô-m

ico" etc. A

s construções da teoria abstrata só aparentemente são "deduções" a partir

de motivos psicológicos fundam

entais. Na realidade, trata-se antes do caso espe-cial de urna form

a da construção de conceitos, próprios das ciências da cultura hum

ana e, em certo grau, indispensáveis. V

ale a pena compreender a sua ca-

racterização m

ais profunda, visto que, assim, aproxim

ar-nos-emas da questão

lógica sobre a significação da teoria das ciências sociais. Para tanto, passaremos

por alto e de urna vez por todas, pela questão de saber se as construções teó-ricas que utilizam

os como exem

plos ou a que faremos referência correspondem

, tal com

o são, ao flfn a que se destinam Isto é, se foram

formadas praticam

ente de m

aneira apropriada. Afm

al, a questão de saber até onde se deve levar a atual "teoria abstrata" é tam

bém urna questão da econom

ia do trabalho cientí-fico, que com

porta ainda outros problemas. Tam

bém a "teoria da utilidade m

ar-ginal" está subordinada à "lei da utilidade m

arginal".

Na teoria econôm

ica abstrata, temos um

exemplo dessas sínteses a que se

costuma cham

ar de "idéias" dos fenômenos históricos. O

ferece-nos um quadro

ideal dos eventos no mercado dos bens de consum

o, no caso de urna sociedade organizada segundo o princípio da troca, da livre concorrência e de urna ação estritam

ente racional. Este quadro de pensamento reúne determ

inadas relações e acontecim

entos da vida histórica para formar um

cosmo não contraditório de

relações pensadas. Pelo seu conteúdo, essa construção reveste-se do caráter de um

a utopia, obtida mediante a acentuação m

ental de determinados elem

entos da realidade. A

sua relação com os fatos em

piricamente dados consiste apenas

em que, onde quer que se com

prove ou se suspeite que determinadas relações

-do tipo das representadas de m

odo abstrato na citada construção, a saber dos acontecim

entos dependentes do mercado -

chegaram a atuar, em

algum

grau, sobre a realidade, podemos representar e tom

ar compreensível pragm

a-ticam

ente a natureza particular dessas relações mediante um

tipo ideal. Esta pos-sibilidade pode ser valiosa, e m

esmo indispensável, tanto para a investigação

como para a exposição. N

o que diz respeito à investigação, o conceito de tipo ideal propõe-se a form

ar o juízo de atribuição. Não é um

a "hipótese", mas pre-

tende apontar o caminho para a form

ação de hipóteses. Embora não constitua

uma exposição da realidade, pretende conferir a ela m

eios expressivos unívo-cos. E, portanto, a "idéia" da organização m

oderna e historicamente dada da

sociedade numa econom

ia de mercado, idéia essa que evolui de acordo com

os m

esmos princípios lógicos que serviram

, por exemplo, para form

ar a idéia da "econom

ia urbana" da Idade Média à m

aneira de um conceito "genético".

Não é pelo estabelecim

ento de urna média dos princípios econôm

icos quere-alm

ente existiram em

todas as cidades examinadas, m

as, antes, pela construção de um

tipo ideal que, neste último caso, se form

a o conceito de "economia

urbana". Obtém

-se um tipo ideal m

ediante a acentuação unilateral de um ou

de vários pontos de vista e mediante o encadeam

ento de grande quantidade de fenôm

enos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem

dar em

137

maior ou m

enor número ou m

esmo faltar por com

pleto, e que se ordenam

segundo os pontos de vista unilateralmente

a fim de

formar um

quadro hom

ogêneo de pensamento. É im

posstvel encontrar empm

camente na

realidade este quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia.

A atividade historiográfica defronta-se com

a tarefa de determinar, em

cada caso particular, a proxim

idade ou o afastamento entre a realidade e o quadro ideal,

na medida, portanto, o caráter econôm

ico das condições de determinada cidade

poderá ser qualificada como "econom

ia urbana", no sentido conceitual. Este conceito, desde que cuidadosam

ente aplicado, cumpre as funções específicas

que dele se esperam, em

benefício da investigação e da representação. Para analisarm

os ainda outro exemplo, pode-se traçar igualm

ente a "idéia" do "ar-tesanato" sob a form

a de uma utopia, para o que se procede à reunião de de-

terminados traços que se m

anifestam de m

odo difuso entre os artesãos das mais

diversas épocas e países, acentuando de modo unilateral as conseqüências des-

sa atividade num quadro não contraditório, e referindo-a a um

a expressão do pensam

ento que nela se manifesta. A

lém disso, pode-se tentar

w:na sociedade na qual os ram

os da atividade econômica e m

esmo a ativtdade in-

telectual se encontram dom

inados por máxim

as que nos parecem ser aplicações

do mesm

o princípio que caracteriza o "artesanato" elevado ao nível do tipo ideal. E a este tipo ideal do artesanato pode ainda opor-se, por antítese, um

tipo ideal correspondente a um

a estrutura capitalista da indústria, obtido a partir da ab>tração de determ

inados traços da grande indústria moderna para, com

base nisso, se tentar traçar a utopia de um

a cultura "capitalista", isto é, domi-

nada unicamente pelo interesse de valorização dos capitais privados. Ela acen-

tuaria diferentes traços difusos da vida cultural, material e espiritual m

oderna e os reuniria num

quadro ideal não contraditório, para efeito de investigação. Este quadro constituiria, então, um

a tentativa de traçar uma "idéia" da cultura

capitalista -m

as não analisaremos agora se isso é possível, e de que m

odo. O

corre que é possível e deve se considerar como certo, form

ular muitas e m

es-m

o inúmeras utopias deste tipo, das quais nenhum

a se pareceria com outra,

nenhuma poderia ser observada na realidade em

pírica como ordem

realmente

válida numa sociedade, m

as cada uma pretenderia ser um

a representação da "idéia" na cultura capitalista, e cada um

a poderia realmente pretender, na m

e-dida em

que solucionou características da nossa cultura, significativas na sua especificidade, reuni-las num

quadro ideal homogêneo. Pois os

que nos interessam

como m

anifestações culturais, em geral, derivam

o seu mteresse

-a sua significação cultural -

de idéias de valor muito diferentes, com

as quais podem

os relacioná-las. Da m

esma form

a que existem "pontos de vista"

os mais diferentes, a partir dos quais podem

os considerar como significativos

os fenômenos citados, é possível se fazer uso dos m

ais diferentes princípios de seleção para as relações suscetíveis de ser integradas no tipo ideal de de-term

inada cultura. Qual é a significação desses conceitos de tipo ideal para um

a ciência em-

pírica, tal como ná6 pretendem

os praticá-la? Q.Ierem

os sublinhar desde logo a necessidade de que os quadros de pensam

ento que aqui abordamos, "ideais"

em sentido puram

ente lógico, sejam rigorosam

ente separados da noção do de-ver ser, do "exem

plar". Trata-se da construção de relações que parecem sufi-

138

cientemente m

otivadas para a nossa imaginação e, conseqüentem

ente, "objeti-vam

ente possíveis", e que parecem adequadas ao nosso saber nom

ológico. Q

uem for da opinião de que o conhecim

ento da realidade histórica deveria, ou poderia ser um

a cópia "sem pressupa>ições" de fatos

negar-lhes-á qualquer valor. E m

esmo aquele que tiver reconhecim

ento que, no âmbito da

realidade, nada está isento de pressuposições em sentido lógico, e que 0 m

ais sim

ples extrato de atas ou documentos apenas poderá ter algum

sentido cien-tífico com

relação a "significações" e, assim, em

última análise, em

relação à idéia de valor, considerará, no entanto, a construção de qualquer espécie de "utopia" histórica com

o um m

eio representativo perigoso para a objetividade do trabalho científico, e, com

mais freqüência, com

o um sim

ples jogo. E, de fato, nunca poderá se decidir a priori se se trata de m

ero jogo mental, ou de

uma construção conceitual fecunda para a ciência. Tam

bém existe apenas um

critério, o da eficácia, para o conhecim

ento de fenômenos culturais concretos,

tanto nas suas conexões como no seu condicionam

ento causal e na sua signi-ficação. Portanto, a construção de tipos ideais ab>tratos não interessa com

o fim, m

as única e exclusivamente com

o meio de conhecim

ento. Qualquer exam

e atento dos elem

entos conceituais da exposição histórica demonstra, no entanto,

que o historiador -logo que tentar ir além

da mera com

provação de relações concretas, para determ

inar a significação cultural de um evento individual, por

mais sim

ples que seja, isto, é, para "caracterizá-lo" -trabalha, e tem

de tra-balhar com

conceitos que, via de regra, apenas podem ser determ

inados de m

odo preciso e unívoco sob a forma de tipo> ideais. O

u será que o conteúdo de conceitos tais com

o "individualismo", "im

perialismo", "feudalism

o", "mercan-

tilismo", "convencional", bem

como as inúm

eras construções conceituais deste tipo, m

ediante as quais procuramos dom

inar a realidade por meio da reflexão

e da compreensão, deverá ser determ

inado mediante a descrição, "sem

pressu-postos", de um

fenômeno concreto, ou então m

ediante a síntese, por ab>tração, daquilo que é com

um a vários fenôm

enos concretos? A linguagem

utilizada pelo historiador contém

centenas de palavras que comportam

semelhantes quadros

mentais e que são im

precisas porque escolhidas segundo as necessidades de expressão no vocabulário corrente, não elaborado pela reflexão, e cuja signifi-cação inicialm

ente só é intuída sem ser pensada com

clareza. Em inúm

eros ca-sos, e, sobretudo no cam

po da história política descritiva, o caráter impreciso

do conteúdo dos conceitos não prejudica de modo nenhum

a clareza da ex-posição. N

estes casos, basta que sintamos aquilo de que o historiador tem

uma

vaga concepção, ou, então que nos contentemos com

a presença difusa de uma

especificação particular do conteúdo conceitual, no caso singular que ele cogita. M

as quanto mais clara consciência se pretende ter do caráter significativo de

um fenôm

eno cultural, tanto mais im

periosa se toma a necessidade de trabalhar

com conceitos claros, que não tenham

sido determinados segundo um

só aspec-to particular, m

as segundo todos. Ora, será ab>urdo conferir a essa síntese do

pensamento histórico um

a "definição" segundo o esquema genus proxim

um,

differentia speci:fzca; que se tire a prova. Este modo de com

provação da signi-ficação das palavras apenas existe no cam

po das disciplinas dogmáticas, que

139

trabalham com

silogismos. Tam

bém não existe, pelo m

enos aparentemente, um

a era "decom

posição descritiva" desses conceitos nos seus elementos, posto que

importa é saber quais desses elem

entos deverão ser essen-

ciais. Se quisermos tentar urna definição genética do

do conceito, .res-tar-nos-á apenas a form

a do tipo ideal, no sentido antenormente estabeleado.

Trata-se de um quadro de pensam

ento, não da realidade histórica, e nos da realidade "autêntica"; não serve de esquem

a em que se

mclw

r a realidade à m

aneira de exemplar. Tem

, antes, o significado de um conceito-li-

mite, puram

ente ideal, em relação ao qual se m

ede a realidade a fim de escla-

recer o conteúdo empírico de alguns dos seus elem

entos importantes, e com

0

qual esta é comparada. Tais conceitos são cor:H

gurações. quais

truímos relações, por m

eio da utilização da categona de objetiva,

que a nossa imaginação, form

ada e orientada segundo a realidade, julga ade-quadas.

Nesta função, o tipo ideal é, acim

a de tudo, uma tentativa . de apre:?der

os indivíduos históricos ou os seus diversos elementos em

conceitos genéticos. Tom

emos com

o exemplos os conceitos "igreja" e "seita". M

ediante classificação pura, podem

os analisá-los num com

plexo de características, com o

só. o lim

ite entre ambos os conceitos, com

o o seu conteúdo, permanecerao IndiS-

tintos. Pelo contrário, se quisermos com

preender o conceito de "seita" de modo

genético, isto é, com referência a certos significados culturais

que 0 "espírito sectário" teve para a civilização m

oderna, aparecem entao certas ca-

racterísticas essenciais e precisas de ambos, visto que se encontram

numa re-

lação causal adequada relativamente àqueles efeitos. O

ra, os conceitos se tor-nam

, então, tipos ideais, isto é, não se manifestam

na sua plena pureza con-ceitual, ou apenas de form

a esporádica o fazem A

qui, como em

qualquer outro cam

po, qualquer conceito que não seja puramente

nos da

realidade. Mas a natureza discursiva do nosso conheam

ento, a arcunstanaa de apenas captarm

os a realidade através de uma cadeia de transform

ações na or-dem

da representação, postula este tipo de taquigrafia conceitual. É certo que a nossa im

aginação pode, com freqüência, prescindir da sua form

ulação con-ceitual explícita, no nível dos m

eios de investigação, mas, em

numerosos casos,

torna-se imprescindível a sua utilização no cam

po da análise cultural quando se trata da exposição, e enquanto esta pretende ser unívoca. Q

uem dela pres-

cinde completam

ente, forçosamente deverá se lim

itar ao aspecto formal dos fe-

nômenos culturais, com

o, por exemplo, o histórico-jurídico. O

universo das nor-m

as jurídicas pode ser claramente determ

inado a partir do ponto de vista ceitual e

ao mesm

o tempo, é válido para a realidade histórica (no sentido JU-

rídico). Mas é da sua significação prática que se ocupa o trabalho das ciências sociais tal com

o as entendemos. É m

uito freqüente, porém, se tom

ar apenas esta significação, em

se tratando do empiricam

ente dado a um

caso-limite ideal. Se o historiador (no sentido m

ais lato da palavra) rejeita a tentativa de form

ular um tipo ideal com

o esse, sob o pretexto de constituir uma

"construção teórica", ou seja, algo inútil ou desnecessário o ?m

do conhecim

ento, resulta, então, em regra geral, que este histonador utiliza,

140

I :

' lí I

consdente ou inconsdentemente, outras construções análogas sem

as formular

explidtamente e sem

elaboração lógica, ou então fica encalhado na esfera do vagam

ente "sentido''. D

ecerto, nada há de mais perigoso que a confusão entre teoria e história,

nascida dos preconceitos naturalistas. Esta confusão pode apresentar-se sob a form

a da crença na fixação de quadros conceituais e teóricos do conteúdo "pro-priam

ente dito", ou da sua utilização à maneira de leito de Procusto, no qual

a História deverá ser introduzida à força, e hipa;tasiando ainda as "idéias" com

o se fossem

a realidade "propriamente dita", ou as "forças reais" que, por trás do

fluxo dos acontecimentos, m

anifestam-se na H

istória. Este último perigo é tanto

mais constante quanto m

ais habituados estamos a entender por "idéias" de um

a época, os pensam

entos e ideais que governaram a m

assa ou uma parte histo-

ricamente decisiva dos hom

ens dessa época, e que, por esse mesm

o motivo,

constituíram elem

entos significativos para o aspecto particular da cultura citada. A

tudo isso convém acrescentar duas coisas. Em

primeiro lugar, o fato de

que entre a "idéia", no sentido de tendência do pensamento prático e teórico

de uma época, e a "idéia", no sentido de tipo ideal desta época, por nós cons-

truído como um

meio conceitual auxiliar, existem

, via de regra, determinadas

relações. Um

tipo ideal de condições sociais determinadas, obtido através da

abstração de determinadas m

anifestações sociais características de uma época,

pcxie ser efetivamente considerado aos olhos dos nossos contem

porâneos como

um ideal a ser alcançado na prática ou, pelo m

enos, como m

áxima para are-

gulação de certas relações sociais. Assim

acontece com a "idéia" da "proteção

dos bens de substância" e de outras teorias dos Canônicos, especialm

ente de São Tom

ás de Aquino, com

relação ao já citado conceito típico-ideal de "eco-nom

ia urbana" medieval, utilizado atualm

ente. E, com m

aior razão, assim su-

cede com o fam

igerado "conceito fundamental" da econom

ia política: o do "va-lor" econôm

ico. Desde a escolástica até a teoria m

arxista, duas noções se en-trecruzam

, a do "objetivamente" válido, isto é, a de um

"dever-ser", e a de uma

abstração a partir do processo empírico da form

ação de preços. A idéia de que

o "valor" dos bens deve ser regulado segundo determinados princípios do "di-

reito natural" teve um significado incom

ensurável para o desenvolvimento da

nossa civilização -não apenas na Idade M

édia -e, ainda hoje, o tem

Em

espedal, influi intensamente no processo em

pírico da formação dos preços.

Ora, é apenas m

ediante uma construção rigorosa dos conceitos, ou seja, graças

ao tipo ideal, que se torna expor de form

a unívoca o que se entende e se pode entender pelo conceito teórico do valor. Era isso que o sarcasm

o acerca das "robinsonadas" da teoria abstrata deveria ter em

conta, pelo menos

enquanto não for capaz de nos oferecer algo melhor, o que, aqui, significa algo

mais claro.

A relação de causalidade entre a idéia historicam

ente comprovável que do-

mina os hom

ens e os elementos da realidade histórica dos quais se pode fazer

a abstração do tipo ideal correspondente pode adotar formas extrem

amente va-

riáveis. Em princípio, devem

os apenas recordar que ambas são coisas funda-

mentalm

ente diferentes. E aqui surge a nossa segunda observação. As "idéias"

que dominaram

os homens de urna época, isto é, as que neles atuaram

de for-

141

ma difusa, só fXXIerão ser com

preendidas sempre que form

arem um

quadro de pensam

ento complexo, com

rigor conceitual, de

ideal, pois, em

piricamente, elas habitam

as mentes de um

a e m

u-tável de indivíduo:;, na; quais estavam

expostas aa; mats diversa; m

attzes, se-gundo a form

a e o conteúdo, a clareza e o sentido. Os elem

ento:; da vida espi-ritual da; diversos indivíduo:; em

determinada época da Idade M

édia, por exem-

plo, que fXX

Ieriama; designar pelo term

o de "cristianismo" da; indivíduo:; em

questão, continuariam

, caso fâssema; capazes de expô-los por com

pleto, um

caa; de relações intelectuais e de sentimento:; de toda sorte, infinitam

ente di-ferenciados e extrem

amente contraditória;, se bem

que a igreja da Idade Média

tenha sido capaz de impor, em

elevado grau, a unidade da fé e da; ca;tumes.

Pa;ta a questão do que correspondia, no meio daquele caos, ao "cristianism

o m

edieval", temos de trabalhar continuam

ente com um

quadro mental puro por

nós criado. Trata-se de urna combinação de artigo:; de fé, de norm

as éticas e de direito canônico, de m

áximas para o com

portamento na vida e de inúm

eras relações particulares que nós com

binamos num

a sô "idéia", numa síntese que

seríama; incapazes de estabelecer de m

odo não contraditório, senão recorrês-sem

os, a conceito:; típico-ideais. Claro que, tanto a estrutura lógica da; sistem

as conceituais em que expo-

ma; essas "idéias" com

o a sua relação com o im

ediatamente dado na realidade

empírica são, evidentem

ente, muito diferentes. A

s coisas apresentam-se, no en-

tanto, de forma bastante sim

ples, sempre que se trata de casa; em

que um ou

alguns rara; principia; diretores teóricos, facilmente traduzíveis em

fórmulas-

como a fé de Calvino na predestinação -

ou, então, certa; pa;tulada; morais

passíveis de formulação clara, tenham

governado os homens e produzido de-

terminada; efeita; histórica;, de m

odo que na; seja possível introduzir a "idéia" num

a hierarquia de pensamenta; inferida; logicam

ente desses principia; dire-tores. Então facilm

ente se perde de vista por mais im

portante que tenha sido o poder construtivo, puram

ente lógico, do pensamento na H

istória -de que

o marxism

o é um exem

plo notável-o processo em

pírico-histórico que se de-senvolveu na m

ente das pessoas deve ser geralmente com

preendido como um

processo condicionado psicologicam

ente, e não logicamente. O

caráter típico-ideal dessas sínteses de idéias que tiveram

urna ação histórica manifesta-se de

forma ainda m

ais clara se esses principia; diretores e postulada; fundamentais

já não subsistem nas m

entes dos indivíduos, ainda que estes continuem dom

i-nada; por pensam

ento:; que são conseqüência lógica destes principia;, ou que deles saíram

por associação -quer porque a "idéia" historicam

ente original que lhes servia de base se extinguiu, quer porque apenas conseguiu exercer influência atráves das suas conseqüências. E essas sínteses incorporam

ainda m

ais o caráter de "idéias" por nós construídas quando, de início, esses princi-pia; diretores fundam

entais não foram captados, ou apenas de m

odo incom-

pleto, pela consciência da; homens, ou, ainda, quando não adotaram

a forma

de um conjunto claro e coerente de pensam

entO>. A

ssim, se na; em

penhamos

neste procedimento, com

o tantas vezes acontece e deverá acontecer, "idéia" que form

amos -

como a do "liberalism

o" de um determ

inado período, a do "me-

todismo", ou a de qualquer variante em

brionária do socialismo -

não é mais

do que um tipo ideal puro com

o mesm

o caráter que as sínteses da; "priná-

142

pia;" de uma época econôm

ica, de que falamo:; acim

a. Quanto m

ais vastas são as relações que se devem

expor, e quanto mais variada tiver sido a sua signi-

ficação cultural, tanto mais a sua apresentação sistem

ática e global num sistem

a conceitual e m

ental se aproximará do tipo ideal e tanto m

ena; se tornará pos-sível ficar com

um único conceito deste gênero. E daí resulta ser tanto m

ais natural e necessário repetir a tentativa de cortstruir nova; conceito:; de tipo ide-al, com

a finalidade de tomar consciência de sem

pre nova; aspecto:; significa-tiva; das relações. A

ssim, por exem

plo, toda; a; enunciada; de urna "essência" do cristianism

o constituem tipos ideais que, constante e necessariam

ente, ape-nas têm

uma validade m

uito relativa e problemática, se reivindicarem

a quali-dade de enunciado histórico em

piricamente dado. Por outro lado, pa;suem

um

elevado valor heurístico para a investigação e um enorm

e valor sistemático para

a exposição, se apenas forem utilizada; com

o meia; conceituais para com

parar e m

edir, com relação a eles, a realidade. Com

esta função, tornam-se m

esmo

indispensáveis. Tais exposições típico-ideais, contudo, comportam

normalm

ente ainda um

outro aspecto que toma ainda m

ais complexa a sua signiftcação. G

e-ralm

ente elas pretendem ser, ou inconscientem

ente o são, tipos ideais, não so-m

ente no sentido lógico, mas tam

bém no sentido prático. O

u seja, são tipos exem

plares que -seguindo o na;so exem

plo -contêm

aquilo que o cristia-nism

o deveria ser segundo o ponto de vista do cientista; aquilo que, na sua opinião, é "essencial" nesta religião, porque representa um

valor permanente

para ele. Ora, no caso em

que isso ocorrer, de forma consciente ou -

como

acontece mais

inconsciente, tais descrições contêm determ

i-nada; ideais aa; quais o pesquisador refere o cristianism

o avaliando-o, isto é, as tarefas e as finalidades segundo as quais orienta a sua "idéia" de cristianism

o. Claro que tais ideais podem

ser, e sem dúvida o serão sem

pre, completam

ente diferentes da; valores com

que, por exemplo, a; contem

porâneos da; primiti-

va; cristão:; compararam

o cristianismo. N

este caso, as "idéias" já não são meios

auxiliares puramente lógica;, nem

conceito:; relativamente aa; quais se m

ede a realidade de m

odo comparativo, m

as, antes, são ideais a partir da; quais se julga a realidade, avaliando-a. Já não se trata, aqui, do processo puram

ente teórico da relação do em

pírico com determ

inada; valores, mas sim

de juíza; adotados no "conceito" do "cristianism

o". Dado que o tipo ideal reivindica aqui um

a va-lidade em

pírica, ele penetra na região da interpretação avaliadora do cristianis-m

o: abandonou-se o campo da ciência experim

ental para se fazer uma profissão

de fé pessoal, não uma construção conceitual típico-ideal. Por m

uito notável que seja esta diferença quanto aa; principia;, a confusão entre estas duas sig-nificações, fundam

entalmente diferentes da noção de "idéia", dá-se com

extra-ordinária freqüência no decorrer do trabalho histórico. O

corre sempre que o

historiador começa a desenvolver a sua própria "apreensão" de um

a persona-lidade ou de um

a época. Contrariam

ente aa; padrões ética; constantes que Schla;ser estabeleceu segundo o espírito do racionalism

o, o historiador moder-

no, de espírito relativista, que, por um lado, se propõe "com

preender por si própria" a época de que fala, e que, por outro, tam

bém quer "avaliá-la", sente

a necessidade de obter a; padrões da; seus juíza; a partir da "própria matéria"

do seu estudo. Isto é, deixa que a "idéia", no sentido de ideal, nasça da "idéia", no sentido de "tipo-ideal". E o atrativo estético deste procedim

ento constante-

143

mente 0 incita a esquecer a linha que as separa -

daí esta situação interme-

diária que, por um lado, não pode reprim

ir o juíz? .de valor, e, outro, tende

a declinar a responsabilidade da; juíza>. É necessano opor a tudo isto um dever

elementar do autocontrole científico, único suscetível de evitar surpresas, e

nos convida a fazer uma distinção estrita entre a relação que com

para a reah-dade com

tipos ideais no sentido lógico, e a apredaçã.o avaliadora rea-

lidade a partir de ideais. Devem

o:; repetir que, no sentl?o Nque lhe. um

"tipo ideal" é algo completam

ente diferente da avahaçao pois

nada tem em

comum

com qualquer "perfeição", salvo com

a de carater pura-m

ente lógico. Existem tanta> tipos ideais de bordéis com

o de E,

a; primeira>, tanto existem

alguns que, segundo a atual perspectlva da etlca policial, poderiam

parecer tecnicamente "oportunos", com

o outros em que

aconteceria justamente o contrário.

Vem

o-na> obrigada> a passar por alto a discussão do caso

que é, em m

uitos aspecta>, o mais com

plexo e interessante: a questao da estru-tura lógica do conceito de Estado. A

este respeito, faze;,

notar aqui que, quando perguntamos o que corresponde a

de na realidade em

pírica, deparamo-nos com

urna infinitude de açoes e hum

anas difusas e discretas, de relações reais e juridicamente ordenadas, sm

-gulares ou regularm

ente repetidas, e por um

a a crença em

nor-m

as que se encontram efetivam

ente em vtgor ou que devenam

estar, bem com

? em

determinadas relações· de dom

ínio do homem

pelo homem

Esta crença. e, em

parte, urna pa:;se espiritual desenvolvida pelo. pensamento, em

. parte sentida confusam

ente, e em parte aceita de m

odo passivo, que se rnarufesta com os

mais diferentes m

atizes nas mentes da; indivíduo:;. Se a> hom

ens chegassem

a conceber com toda a clareza esta "idéia", não predsariam

da ''teoria geral do Estado" que se propõe esclarecê-la. O

conceito científico do Estado, que seja a form

a pela qual se formula, constitui sem

pre urna síntese que nos realizam

os para determinada> fins do conhecim

ento. Mas, por outro lado, ob-

temo-lo tam

bém por abstração das sínteses obsruras

encontramos nas me_?-

tes da> homens histórica>. A

pesar de tudo, o conceito concreto a noçao

histórica de "Estado" adota poderá ser apreendido com clareza m

ediante uma

orientação segundo a; conceito:; de tipo E, além

não

a menor

dúvida de que a maneira com

o a; contemporanea> reahzam

essas smteses, de

uma form

a lógica sempre im

perfeita, ou seja, as "idéias" .que eles Ntêm do

-por exem

plo, a idéia "orgânica" de Estado da metafísica

à concepção "comercial" da> am

ericana> -:: tem

ente prática. Em

outras palavras, também

aqui a ideta pratica, em

va-lidade se crê )Jem

como o tipo ideal teórico construído para as necessidades

da investigaçio, correm paralela> e m

ostram um

a tendência constante de mu-

tuamente se confundirem

M

ais acima encaram

os intencionalmente o "tipo ideal" com

o uma constru-

ção intelectual destinada à medição e à caracterização

das individuais, isto é, significativa> pela sua especificidade, talS com

o o cnstianlS-m

o, 0 capitalismo etc. Isso se deu

eliminar a

.corrente no

domínio da; fenôm

enos culturais, o típico ab5trato e identlco ao genenco abs-trato. Esse não é o caso.

144

Se procuramos analisar aqui logicam

ente o conceito de "típico", tão discu-tido e tão desacreditado pelo abuso que dele se faz, podem

o:; já deduzir dos nossa> estuda> precedentes que a form

ação de conceito:; típica> no sentido da elim

inação do "acidental", também

, e sobretudo, tem lugar no estudo das in-

dividualidades históricas. C

omo é natural, tam

bém podem

o:; conferir a> conceito:; genérica> que en-contram

o:; continuamente sob a form

a de elemento:; constitutiva; dos enuncia-

dos históricos, e dos conceito:; histórica> concreta> a forma de tipo ideal com

a auxílio da abstração e da acentuação de determ

inados da; seus elemento:;

conceitualmente essenciais. Trata-se m

esmo de um

da; moda; prática; m

ais fre-qüentes e im

portantes de aplicar a> conceitos de tipo ideal, pois cada tipo ideal individual é com

posto de elemento:; conceituais que têm

um caráter genérico,

e que foram elaborada; à m

aneira de tipos ideais. Também

neste caso exibe-se a função lógica específica da> conceito:; de tipo ideal. O

conceito de "troca", por exem

plo, é um sim

ples conceito genérico, no sentido de um com

plexo de características que são com

uns a vária> fenômeno:;, sem

pre que deixamo:; de

considerar a significação da; elemento:; conceituais e, portanto, lim

itamo-na> a

analisá-lo em term

o:; da linguagem cotidiana. Se este conceito, contudo, é pa:;to

em relação com

a "lei da utilidade marginal" e se form

a o conceito de ''troca econôm

ica" à maneira de um

processo econômico racional, este conceito -

como qualquer outro integralm

ente elaborado de forma lógica -

conterá um

juízo sobre as condições "típicas" da troca. Assum

e então um caráter genético

e converte-se em típico-ideal, no sentido lógico, isto é, afasta-se da realidade

empírica, que apenas se pode com

parar e referir a ele. Algo de sem

elhante podem

os dizer acerca de toda> os suposta> "conceito:; fundamentais" da eco-

nomia política: só é pa:;sível desenvolvê-los de form

a genética enquanto tipos ideais. A

diferença entre conceitos genérica> simples, que apenas reúnem

as características com

uns a diversos fenômeno:; em

pírica>, e a; tipos ideais gené-rica>, com

o, por exemplo, um

conceito de tipo ideal da "essência" do artesa-nato, naturalm

ente é fluida nos pormenores. M

as nenhum conceito genérico

possui, enquanto tal, um caráter "típico", com

o também

não existe um tipo "m

é-dio" puram

ente genérico. Sempre que falam

o:; de grandezas "típicas" -com

o na estatística, por exem

plo -encontram

o:; algo que é mais do que um

mero

termo m

édio. Quanto m

ais se tratar de classificações de processa> que se ma-

nifestam na realidade de um

a forma m

aciça, tanto mais se tratará de conceitos

genérica>. Pelo contrário, quanto mais se atribui um

a forma conceitual ao:; ele-

menta> que constituem

o fundamento da significação cultural específica das re-

lações históricas complexas, tanto m

ais o conceito, ou o sistema de conceitos

adquirirá o caráter de tipo ideal. Porque a finalidade da formação de conceitos

de tipo ideal consiste sempre em

tomar rigorosam

ente consciência não do que é genérico, màs, m

uito pelo contrário, do que é específico a fenômeno:; cul-

turais. O fato de poderem

ser utilizada; os tipos ideais, incluída> a> de caráter genérico, e de efetivam

ente o serem, apenas oferecem

um interesse m

etodoló-gico com

relação a outra circunstância. A

té este mom

ento, temos na> ocupado principalm

ente com os tipos ideais

no seu aspecto essencial de conceito:; abstratos de relações, que concebemos

como relações estáveis no. fluxo do devir, com

o indivíduo:; histórica; na> quais

145

se processam desenvolvim

ento:;. Mas se na> apresenta agora

que é 0 preconceito naturalista, segundo o qual a meta das

.sC>?ats de-verá ser a redução da realidade a "leis", introduzido na na>sa disapltna com

grande facilidade, por m

eio do conceito de "típico". É que :ambém

é pa>sível construir tipa> ideais de desenvolvim

enta; e estas construçoes um

valor heurístico considerável. N

o entanto, surge neste caso o pengo tmm

ente de se confundir o tipo ideal e a realidade. A

ssim, por exem

plo, é pa>Sível che-gar ao resultado teórico de que num

a sociedade se-

gundo normas "artesanais", a única fonte de

de capttal a renda

da terra. A partir daqui talvez se pudesse

-nao cabe exam

t_nar agora a exatidão dessa construção-

um quadro tdeal puro da

da for-m

a econômica artesanal na capitalista, com

base apenas em determ

tnados fa-tores sim

ples, tais como a escassez do solo, o crescim

ento da. população, a abundância de m

etais precia>os e a racionalização do modo de vtda. Para saber

se o curso empírico do desenvolvim

ento foi efetivamente o m

esmo que o cons-

truído é necessário comprová-lo com

o auxílio desta construção tomada com

o m

eio heurístico, procedendo-se a uma com

paração entre o tipo ideal e a> ·:fa-ta>". Se o tipo ideal tiver sido construído de form

a "correta" e o decurso efettvo não corresponder ao decurso de tipo ideal, teríam

a> a prova de que,. em de-

terminadas relações, a sociedade m

edieval não foi uma sociedade

"artesanal". E no caso de o tipo ideal ter sido construído de modo "heunsllca-

mente" "ideal" -

não interessa saber aqui se e como, no presente exem

plo, este caso poderia dar-se -·então, orientaria a

para ? conduz a um

estudo mais profundo da natureza parllcular e da stgruftcaçao his-

tórica da> elementos na sociedade m

edieval que não têm caráter artesanal. Se

conduzir a esse resultado, terá cumprido o seu papel lógico, precisam

ente ao tom

ar manifesta a sua própria irrealidade. Constitui, nesse caso, a prova de um

a hipótese. O

processo não desperta m

etodológica, se tiver presente que a H

istória e a construçao do desenvol_vunento

devem ser rigorosam

ente diferenciadas, e que a construçao apenas m

eio para realizar metodicam

ente a atribuição válida de um processo

às suas causas reais, entre as passíveis na situação dada do na;so conheamento.

Tal como m

a>tra a experiência, torna-se extremam

ente difícil manter com

rigor essa diferença e isto por um

a precisa .. N

o .interesse da dem

onstração clara do tipo ideal ou desenv'?lvtm

ento ela de-

verá ser ilustrada mediante um

matenal da reahdade em

pmco-histonca. O

pe-rigo deste procedim

ento, legítimo em

si, reside em que o

rece como servidor da teoria, em

vez de suceder o contrano. O teonco factl-

mente se vê tentado a considerar com

o normal esta relação, ou então, o que

é pior ainda, misturar a teoria e a história ao ponto .de confundi-las. Esse

é ainda mais am

eaçador quando se chega a combtr:ar, dentro de um

a cação genética, a construção ideal de um

desenvolVIm

ento cor_n a dasstficaçao conceitual de tipos ideal de determ

inadas configurações culturats (por exemplo,

as formas da em

presa industrial a partir da "economia

ou a> conceitos religia>os a partir da> "deuses" do m

omento). A

seCJl:Ienaa de ttpos que resulta das características conceituais selecionadas corre o nsco de ser to-m

ada como um

a sucessão histórica de tipos que obedecem à necessidade de

146

I ): I ..

uma lei. A

ordem lógica da> conceitos, por um

lado, e a distribuição empírica

daquilo que é conceitualizado no espaço, no tempo e na conexão causal, por

outro, aparecem então de tal m

odo ligado:; entre si, que quase chega a ser irresistível a tentação de "forçar" a realidade para consolidar a validade efetiva da construção da realidade.

Intencionalmente, não dem

onstramos a na>sa concepção no exem

plo de M

arx: de longe o mais im

portante nas construções de tipo ideal. E isso para não com

plicar a expa>ição com a introdução das interpretações de M

arx e tam-

bém para não antecipar as futuras discussões de na>sa revista, nas quais sub-

meterem

a> a uma análise crítica as obras escritas sobre este grande pensador,

ou inspiradas nas suas doutrinas. limita-na> a constatar aqui que todas as "leis"

e construções do desenvolvimento histórico especificam

ente marxistas, natural-

mente possuem

um caráter de tipo ideal, na m

edida em que sejam

teoricamente

corretas. Quem

quer que tenha trabalhado com a> conceitos m

arxistas conhece a em

inente e inigualável importância heurística destes tipos ideais, quando uti-

lizada> para sua comparação com

::t realidade, mas conhece igualm

ente o seu perigo, logo que apresentada> com

o construção com validade em

pírica ou, até m

esmo, com

o tendências ou "forças ativas" reais (o que quer dizer, na verdade, "m

etafísicas"). Conceito:; genérica>, tipo ideal, conceito:; genérica> de estrutura típico-ide-

ais, idéias no sentido de combinações de pensam

ento que influem em

pírica-m

ente na> homens histórica>, tipa> ideais dessas idéias, ideais que dom

inam

a> homens, tipa> ideais desses ideais, ideais a que o historiador refere a H

is-tória, construções teóricas com

utilização ilustrativa do empírico, investigação

histórica com utilização de conceito:; teóriCa> com

o casos-limite ideais, enfim

, as m

ais diversas complicações passíveis, que apenas pudem

o:; aqui assinalar -

tudo são construções ideais cuja relação com a realidade em

pírica do ime-

diatamente dado é, em

cada caso particular, problemática. Esta lista dim

inuta dem

onstra já o constante entrelaçamento dos problem

as metodológica; e con-

ceituais que continuamente se encontram

no campo das ciências da cultura. E

visto que na; limitam

o:; aqui a na; referir aa; problemas, vim

o-na; obrigada; a renunciar ao aprofundam

ento das questões de metodologia e a discutir com

porm

enores as relações entre o conhecimento de tipo ideal e o obtido por

"leis", entre a; conceitos de tipo ideal e a; conceito:; coletivos etc. D

epois de todas estas abordagens, o historiador talvez continue, no entan-to, a insistir em

que a preponderância da forma típico-ideal na form

ação e na construção dos conceito:; não é m

ais que um sintom

a específico da juventude de um

a disciplina científica. E, em certa m

edida devemos dar-lhe razão, em

bora com

conseqüências muito diferentes das que ele deduzirá. Tom

emo:; alguns

exemplo:; de outras disciplinas. N

ão há dúvida de que, tanto o aluno atormen-

tado do curso elementar com

o a; ftlóloga; antiga; imaginam

, em principio, que

a língua é algo "orgânico", isto é, uma totalidade supra-em

pírica regida por nor-m

as, atribuindo à ciência a tarefa de estabelecer o que deve ter validade como

normas lingüísticas. A

primeira tarefa, a que geralm

ente se lança qualquer "fi-lologia", é a de elaborar de form

a lógica a "língua" escrita, tal como, por exem

-plo, o faz a A

cademia della Crusca, reduzindo o seu conteúdo a determ

inadas

147

regras. E se, em face disso um

da. prindpais filósofa. da atualidade proclama

que o objeto da filologia é a "fala de cada indivíduo", a instituição de um tal

programa só parece

depois de já existir, na linguagem escrita, um

tipo ideal relativam

ente ftxo, com o qual a análise

trabalhar, ainda que im-

plidtamente, no interior da infinita diversidade da fala, sem

o que se encontraria com

pletamente desprovida de qualquer direção e delim

itação. Este mesm

o pa-pel foi representado pelas construções das teorias do Estado com

base no Di-

reito Natural e na concepção orgânica, ou para evocarm

o. também

um tipo

ideal na na.sa acepção, pela Teoria do Estado Antigo, segundo B

enjamin Cons-

tant São, por assim dizer, portao que servem

de abrigo à espera de que se consiga um

a orientação no mar im

enso dos fato. empírica.. N

a verdade, a dên-da am

adurecida signiftca sempre um

a superação do tipo ideal, enquanto se lhe atribui um

a validade empírica ou o valor de um

conceito genérico. Ora, hoje

em dia, não só se torna com

pletamente legítim

a a utilização da brilhante cons-trução de C

onstant para demonstrar determ

inada. aspecto. e particularidades históricas da vida política antiga, na condição de se m

anter cuidada.amente o

seu caráter de tipo ideal, como ainda, e prindpalm

ente, existem dêndas dota-

das de eterna juventude. É o caso, por exemplo, de tcx:las as disdplinas histó-

ricas, de tcx:las aquelas para as quais o fluxo constantemente progressivo da

cultura continuamente susdta novao problem

as. Na essênda de sua tarefa está

o caráter transitório de todas as construções típico-ideais, mas tam

bém o fato

de serem inevitáveis construções típico-ideais sem

pre novas. C

ontinuadamente se repetem

as tentativas para determinar o sentido "au-

têntico" e ''verdadeiro" da. conceitos histórica., sem jam

ais alcançarem o seu

flm. A

ssim, é norm

al que as sínteses com as quais a H

istória constantemente

trabalha não sejam m

ais do que conceito. determinados relativam

ente, ou logo que se exige para o conteúdo um

caráter unívoco, tipos ideais ab>tratos. Neste

último caso, o conceito revela um

ponto de vista teórico e, portanto, "unilateral", que, em

bora esclareça a realidade, demonstra ser im

próprio para se tomar um

esquem

a no qual essa realidade pudesse ser completam

ente incluída. Porque nenhum

destes sistemas de pensam

ento, que são imprescindíveis para a com

-preensão da. elem

entos significativa. da realidade, pode esgotar a sua infinita riqueza. Todos não passam

de tentativas para conferir urna ordem ao caa. dos

fatos que incluímos no âm

bito do nosso interesse, e que são realizadas com

base no estado atual dos nossos conhedmenta. e nas estruturas conceituais de

que dispomo.. O

aparelho intelectual que se desenvolveu no passado, mediante

uma elaboração reflexiva ou, a rigor, um

a transformação reflexiva da realidade

imediatam

ente dada, e ainda através da sua integração nos conceitos que cor-respondiam

ao estado do conhedmento e à orientação assum

ida pelos interes-ses, encontra-se em

contínuo confronto com tudo o que podem

os e queremos

adquirir quanto ao conhedmento novo da realidade. É nessa luta que se realiza

o progresso do trabalho dentíftco no domínio cultural. O

seu resultado é um

constante processo de transformação da. conceitos através dos quais tentam

os apreender a realidade. Por conseguinte, a história das dêndas da vida social é, e continuará a ser, um

a alternânda constante entre a tentativa de ordenar

148

i I

teoricamente os fatos m

ediante uma construção de conceito. e a decom

posição dos quadros m

entais assim obtidos, devido a um

a ampliação e a um

desloca-m

ento do horizonte dentíftco, e à construção de novao conceitos sobre a base assim

modificada. N

isto, de modo nenhum

, se expressa um caráter errôneo da

intenção de criar sistemas conceituais, pois qualquer dênda -

mesm

o a sim-

ples história descritiva -trabalha o repertório conceitual de sua época. A

ntes, aqui se exprim

e o fato de que, nas dêndas da cultura humana, a construção

de conceitos depende do modo de propor ao problem

as, e de que este último

varia de acordo com o conteúdo da cultura. A

relação entre o conceito e o concebido com

porta, nas dêndas da cultura, o caráter transitório de qualquer dessas sínteses. N

o campo da na.sa dênda, grandes tentativas de construções

conceituais deveram o seu valor exatam

ente ao fato de pôr a descoberto os lim

ites da significação, do ponto de vista que lhes servia de alicerce. Os m

aiores progressos no cam

po das dêndas sociais estão ligados sub>tandalmente aos

deslocamentos dos problem

as da cj.vilização e assumem

a forma de um

crítica da construção dos conceitos. U

rna das prindpais tarefas da na.sa revista con-sistirá, pois, em

servir às finalidades da dtada crítica e, por conseguinte, ao exam

e da. prinápios da síntese no campo das dêndas sociais.

Se deduzirmos as conseqüêndas do que foi dito, chegarem

os a um ponto

em que as na.sas opiniões talvez se diferendem

, num ou noutro aspecto, das

opiniões de muitos representantes em

inentes da escola histórica a que também

pertencem

o.. Pois estes últimos persistem

, quer de forma expressa, quer im

pli-dtam

ente, na opinião de que a finalidade e o alvo último de qualquer dênda

consistem em

ordenar toda a sua matéria de estudo num

sistema de conceito.,

cujo conteúdo deveria ser estabeleddo e progressivamente aperfeiçoado m

e-diante a observação de regularidades em

píricas, construção de hipóteses e ve-rificação das m

esmas, até que um

dia daí nascesse uma dênda "perfeita" e,

conseqüentemente, dedutiva. Para isso, o trabalho histórico e indutivo contem

-porâneo consistiria apenas num

a tarefa preliminar, condidonada pela im

perfei-ção da nossa disdplina. Segundo o ponto de vista desta concepção, nada, pois, poderia existir de m

ais grave do que a construção e a aplicação de conceitos rigorosos que pudessem

vir a antedpar de forma prem

atura essa meta, a ser

atingida apenas num futuro long!nquo. Esta concepção seria, em

prinápio, in-contestável no cam

po da teoria do conhedmento antigo e escolástico, que per-

dura, profundamente viva, na m

assa dos espedalistas da escola histórica, cujo pressuposto é que os conceitos são cópias representativas da realidade "obje-tiva". Por causa disto, há urna constante alusão à irrealidade de todos os con-ceito. rigora.os. Para aquele que desenvolve, levando às últim

as conseqüêndas, a idéia fundam

ental da moderna teoria do conhedm

ento -baseada em

Kant,

segundo a qual os conceitos são e só podem ser m

eios intelectuais para o do-m

ínio espiritual do. empiricam

ente dado -o fato de os conceito. genéticos

rigorosos serem tipos ideais não constitui razão para se opor à sua construção.

Para ele, dever-se-ia inverter a relação entre conceito e trabalho historiográfico: m

eta final adma dtada

logicamente im

possível, e os conceito. não constituem

meta, m

as meios para o conhedm

ento das relações significativas,

149

de pontos de vista individuais. Precisamente porque o conteúdo da> conceitos

histórica> é variável, é preciso formulá-la> de cada vez com

maior predsão.

Ele exigirá apenas que, ao utilizar tais conceita>, se mantenha cuidadrnam

ente o seu caráter de tipo ideal e que não se confunda o tipo ideal e a H

istória. D

ado que, devido à inevitável variação das idéias de valor básicas, não há con-ceita> histórica> verdadeiram

ente definitivos, passíveis de ser considerada> m

o fim últim

o geral, ele admitirá que, predsam

ente por se formarem

conceitos rigora>as e unívoca> para o ponto de vista singular que orienta o trabalho, será prnsível dar-se conta claram

ente da> limites da sua validade.

Não deixarem

a> de dar a entender, e, aliás, já o admitim

os, que, num caso

particular, é possível que o desenvolvimento de urna relação histórica concreta

pa>Sa ser exposto com clareza sem

reladoná-lo constantemente com

conceitos definidos. E, conseqüentem

ente, poder-se-á reivindicar para o historiador da nossa disdplina o m

esmo direito concedido ao historiador político, isto é, "falar

a linguagem da vida". D

ecerto. Mas, quanto a isso, cabe dizer que é neste

cedimento, em

grande escala addental, que o ponto de vista, a partir do qual o evento tratado ganha significação, torna-se claram

ente consdente. Em regra

geral, não na> encontrama> na situação favorável do historiador político, para

quem a> conteúda> culturais a que sua descrição se refere são norm

almente

unívocos, ou, pelo mena>, parecem

sê-lo. Qualquer descrição m

eramente in-

tuitiva faz-se acompanhar do fenôm

eno particular da importânda assum

ida pelo enundado estético: "cada um

sabe o que tem no coração". O

s juízos válidos pressupõem

sempre, pelo contrário, a elaboração lógica do intuitivo, isto é, a

utilização de conceitos. E embora se torne pa>Sível, e m

uitas vezes agradável, do ponto de vista estético, conservá-los in petto, há no entanto o perigo de se com

prometer a segurança da orientação do leitor e, freqüentem

ente, do próprio escritor, quanto ao conteúdo e ao alcance da> seus juíza>.

Porém a om

issão da construção de conceita> rigorosos pode ser extrema-

mente perigosa, no caso das discussões práticas de política econôm

ica e sodal. A

ssim, um

leigo não pode imaginar a confusão que susdta, por exem

plo, o em

prego do termo ''valor", torm

ento da economia política, ao qual apenas se

pode conferir um sentido unívoco através do tipo ideal; ou, então, a confusão

susdtada por expressões como "produtivo", "o ponto de vista econôm

ico" etc., que não resistem

a urna análise conceitualmente clara. São sobretudo os con-

ceitos coletivos, tornados à linguagem cotidiana, que provocam

mais danos.

me-se, pois, a título de exem

plo, o conceito de "agricultura", tal como aparece

na expressão "interesses agrários". Considerem

os, em prim

eiro lugar, estes "in-teresses agrários" com

o representações subjetivas mais ou m

enos claras e veri-ficáveis em

piricamente, que a> diferentes agentes econôm

icos individuais têm

dos seus interesses, sem levar em

consideração os inúmeros conflitos de inte-

resses da> agricultores, quer se dediquem à criação de anim

ais, quer à engorda do gado, quer à cultura do trigo, ou à sua transform

ação em forragem

ou à sua destilação. Q

.lalquer espedalista, e talvez até mesm

o a> leigos, conhecem

o monum

ental entrelaçamento de relações de valor opostas e contraditórias que

a dtada expressão pode representar. Q.lerem

a> apenas expor alguns: os inte-

150

resses dos agricultores que desejam vender as suas terras, pelo que apenas lhes

interessa urna rápida elevação do preço do terrenos; o interesse diametralm

ente oposto daqueles que querem

comprar terras, aum

entá-las, ou tomá-las por ar-

rendamento; o interesse dos que estão em

penhados em conservar um

a priedade para cbt:er vantagens sodais para os seus descendentes, pela> que estão interessados num

a estabilização da propriedade; o interesse contrário desses ou-tros que, com

vistas a si própria>, ou a seus filhos, desejam urna redistribuição

das terras, em benefído do que m

elhor as explora ou -o que não é o m

esmo

-do com

prador com m

ais capital; o interesse puramente econôm

ico que o "explorador m

ais eficaz", no sentido da economia privada, encontra na liber-

dade econômica da troca de propriedades; o interesse oposto de certas cam

adas dom

inantes da sodedade em conservar a prnição soda! política tradicional do

seu "testamento" e da> seus descendentes; o interesse soda! das cam

adas sodais não dom

inantes pela supressão dessas camadas elevadas, que, para elas, signi-

ficam urna opressão; o interesse, por vezes oposto, que se tem

de considerar, de dirigentes políticos das cam

adaS superiores capazes de proteger a> interesses das classes inferiores. Poderíam

os prolongar indefinidamente a lista, em

bora tenham

a> procedido de modo m

uito impredso e sum

ário. Outrossim

, passare-m

a> por alto os interesses "egoístas" que, ocasionalmente, se m

isturam com

os m

ais diversos valores puramente ideais, pode desviá-los ou reprim

i-los. Recor-dam

os ainda que, sempre que falam

os dos "interesses agrários", via de regra, pensam

rn não só nesses valores materiais e ideais a que os agricultores referem

os seus "interesses", m

as também

nas idéias de valor, em parte totalm

ente he-terogêneas, às quais nós própria> referim

os a agricultura. Assim

, por exemplo,

a> interesses da produção, que tanto decorrem do interesse em

proporcionar à população produta> baratos, com

o do interesse, nem sem

pre coinddente, em

lhe fornecer produta> de qualidade. Neste ponto, os interesses w

banos podem

apresentar as mais variadas divergêndas em

relação aos interesses agrários, as-sim

como a> interesses presentes podem

colidir com os interesses prováveis

das gerações vindouras. Há ainda os interesses dem

ográfica>, como o de um

país em

pa>Suir urna população rural numerrna, quer derive dos "interesses do

Estado", por razões de política interna ou externa, quer de outros interesses ideais m

uito diferentes, como, por exem

plo, o que se espera da influênda de urna num

errna população rural sobre as peculiaridades culturais de um país.

Esse interesse demográfico pode, por sua vez, colidir com

os mais variados in-

teresses da economia privada de toda> os setores da população rural de um

país, e, talvez m

esmo, com

todos os interesses presentes da população em

co. Podemos considerar ainda o interesse por determ

inado tipo de estrutura soda! da população rural, devido à natureza das influêndas políticas ou cultu-rais que daí derivam

Este último é capaz de colidir, segundo a sua ótica, com

todos os interesses im

agináveis, presentes e futuros, tanto dos agricultores como

do Estado. Mas o que vem

complicar m

ais a questão é que o "Estado", a cujo "interesse" referim

os com tanta fadlidade os interesses particulares deste tipo,

é, para nós, apenas urna expressão que envolve um enredam

ento ob;curo de idéias de valor, às quais o reportam

a> nos casos particulares. Tais idéias de valor

151

podem ser: a pura segurança m

ilitar, com relação ao exterior; a m

anutenção do predom

ínio de uma dinastia ou de determ

inadas classes, internamente; o

interesse pela manutenção e o fortaledm

ento da unidade formal do Estado,

quer por ele próprio, quer para conservar determinadas valores culturais obje-

tivas e diferendadas entre si, que nós acreditamos devem

os defender em nossa

qualidade de povo unificado no seio de um Estado; ou a transform

ação do caráter soda! do Estado, no sentido de determ

inadas ideais culturais, por sua vez m

uito variadas. Enfim, m

esmo a m

era enumeração de tudo quanto está

envolvido na expressão "interesses do Estado", a que podemos referir a agri-

cultura, nas levaria demasiado longe. Tanto o exem

plo escolhido, como a nossa

análise sumária, são tascas e sim

ples. Por isso, convido o leigo a analisar de m

odo semelhante (e com

mais profundidade) o conceito de "interesses da clas-

se operária", para que veja, por si próprio, que emaranhado contraditório essa

expressão encerra, compondo-se de interesses e ideais da classe operária, tanto

quanto de interesses a partir das quais nós próprias consideramos as trabalha-

dores. Torna-se impossível superar os slogans susdtadas pela luta de interesses

mediante um

a acentuação puramente em

pírica do seu caráter "relativo". O único

caminho que nas perm

ite superar a vacuidade retórica é o da determinação

clara, rigorosa e conceitual dos diferentes pontos de vista possíveis. O argu-

mento da "livre-troca" com

o concepção do mundo, ou com

o norma em

pirica-m

ente válida, é ridículo. Contudo, seja qual for a natureza das ideais que cada

indivíduo se propõe defender, o fato de haver subestimado o valor heurístico

da velha sabedoria das maiores com

erdantes do mundo, expressas nessas fór-

mulas típico-ideais, causou grandes prejuízos aos nossas estudas sobre a política

comercial. Só m

ediante fórmulas conceituais típico-ideais é que se chega a com

-preender realm

ente a natureza particular das pontas de vista que interessam

no caso particular, graças a um confronto entre o em

pírico e o tipo ideal. A

utilização de conceitos coletivas não diferenciadas, com os quais trabalha a lin-

guagem cotidiana, m

uitas vezes é um instrum

ento de perigosas ilusões, e sem-

pre é um m

eio de inibir o desenvolvimento do enunciado correto das problem

as. C

hegamos ao final da nossa discussão, que teve com

o único propósito des-tacar a linha quase im

perceptível que separa a ciência da crença, e pôr a des-coberto o sentido do esforço do conhecim

ento sódo-econômico. A

validade ob-jetiva de todo saber em

pírico baseia-se única e exclusivamente na ordenação

da realidade dada segundo categorias que são subjetivas, no sentido especifico de representarem

o pressuposto do nosso conhecimento e de associarem

, ao pressuposto de que é valiosa, aquela verdade que só o conhecim

ento empírico

nos pode propordonar. Com

as meias da nossa dênda, nada poderem

os ofe-recer àquele que considere que essa verdade não tem

valor, visto que a crença no valor da verdade dentífica é produto de determ

inadas culturas, e não um

dado da natureza. Mas o certo é que buscará em

vão outra verdade que subs-titua a dênda naquilo que som

ente ela pode fornecer, isto é, nas conceitos e juízas que não constituem

a realidade empírica, nem

a podem reproduzir, m

as que perm

item ordená-la de m

odo válido por meio do pensam

ento. Já vimos

que, no campo das dêndas sociais em

píricas da cultura, a possibilidade de um

152

conhecimento dotado de sentido daquilo que, para nós, é essendal na infinita

riqueza do devir, liga-se à utilização ininterrupta de pontas de vista de caráter espedficam

ente particular que, em últim

a instânda, são orientadas por idéias de valor. Estas, por sua vez, podem

ser comprovadas e vividas em

piricamente

como elem

entos de qualquer ação humana significativa, m

as o fundamento da

sua validade não deriva da própria matéria em

pírica. A "objetividade" do co-

nhecimento no cam

po das dêndas sociais depende antes do fato de o empi-

ricamente dado estar constantem

ente orientado por idéias de valor, que são as únicas e conferir-lhe valor de conhedm

ento; e ainda que a significação desta objetividade apenas se com

preenda a partir de tais idéias de valor, não se trata de converter isso no pedestal de um

a prova empiricam

ente impassível da sua

validade. E a crença -que todas nós alim

entamos de um

a forma ou de outra

-na validade supra-em

pírica de idéias de valor últimas e suprem

as, em que

fundamentam

os o sentido da nossa existênda não exclui m

as pelo contrário '

' '

inclui a variabilidade incessante das pontas de vista concretas, a partir dos quais a realidade em

pírica adquire signifieado. A realidade irradonal da vida e o seu

conteúdo de passíveis significações são inesgotáveis, e a configuração concreta das relações valorativas m

antém-se flutuante, subm

etida às variações do futuro obscuro da cultura hum

ana; a luz propagada por essas idéias supremas de valor

ilumina, de cada vez, um

a parte finita e continuamente m

odificada do curso caótico de eventos que fluem

através do tempo.

É predso não darmos a tudo isso um

a falsa interpretação no sentido de considerarm

os que a autêntica tarefa das dêndas sociais consiste numa perpé-

tua caça a novas pontas de vista e construções conceituais. Pelo contrário, con-vém

insistir mais do que nunca no seguinte: servir o conhedm

ento da signifi-cação cultural de com

plexas históricas e concretos constitui o fim últim

o e ex-clusivo ao qual, juntam

ente com outras m

eias, é dedicado também

o trabalho da construção e crítica de conceitos. U

tilizando as termas de Friedrich Theodor

Vischer, concluirem

os que, em nossa disdplina, tam

bém existem

dentistas que "cultivam

a matéria" e outros que "cultivam

o espírito". O apetite das prim

eiras, ávidas de fatos, apenas se sada com

grandes volumes de docum

entas, com

tabelas estatísticas e sondagens, mas revela-se insensível aos delicadas m

anjares da idéia nova. O

requinte gustativo das segundas chega a perder o sabor dos fatos através de constantes destilações de novas pensam

entos. O virtuosism

o legítim

o que, entre as historiadores, Ranke possuía em

tão elevado grau, cos-tum

a manifestar-se predsam

ente pelo poder de criar algo de novo através da referênda de certas fatos conheddas a determ

inadas pontas de vista, igualmen-

te conheddas. N

uma época de espedalização, qualquer trabalho nas dêndas da cultura,

depois de ter se orientado para determinada m

atéria através do seu modo de-

terminado de apresentar os problem

as, e uma vez adquiridas as seus prindpios

metodológicos, verá na elaboração dessa m

atéria um fim

em si próprio, sem

controlar continuam

ente e de forma consdente o valor cognitivo das fatos iso-

ladas, para referênda sua às idéias de valor e mesm

o sem tom

ar consdênda da sua ligação com

essas idéias de valor. E é bom que assim

seja. Mas um

dia

153

0 significado das pontos de vista adotadas irrefletidamente se tom

a e

0 caminho se perde no crepúsculo. A

luz das grandes problemas culturais des-

loca-se para mais além

Então, a dênda também

muda o seu cenário e o seu

aparelho conceitual e fita o fluxo do devir das alturas do pensamento. Segue

a rota dos astros que unicamente podem

dar sentido e rumo ao seu trabalho:

"( ... ) desperta o novo impulso;

lanço-me para sorver sua luz eterna;

diante de mim

o dia, atrás a noite, A

dma de m

im o céu, abaixo as ondas." (Fausto, de G

oethe)

154

III. ESTIJDO

S CRÍTICOS SO

BRE A LÓ

GICA

DAS O

ÊN

OA

S DA

CULTU

RA (1906)

I. A polêm

ica com Eduard .M

eyer -li. Possibilidade objetiva e causação adequada na C

onsideração causal de H

istória.

I. A PO

LÊMICA

CO

M ED

UA

RD

O M

EYER

O fato de que um

dos nossas mais renom

ados historiadores se vê na obri-gação de prestar contas a si m

esmo e aos seus colegas sobre os fins e os m

eios do seu trabalho deve, indiscutivelm

ente, despertar interesse fora do âmbito do

círculo dos especialistas, pois ele, com este procedim

ento, ultrapassa os limites

da sua disdplina específica para entrar no campo de consideração epistem

oló-gica. N

um prim

eiro mom

ento, certamente, pode parecer que este procedim

ento tem

conseqüências negativas. Um

a abordagem realm

ente segura das categorias da lógica que, no estado atual do seu desenvolvim

ento, se apresenta como um

a disdplina tão especializada com

o qualquer outra, requer sem dúvida um

exer-cido cotidiano com

o, aliás, também

é o caso de qualquer outra disdplina cien-tífica. E, a nosso ver, é óbvio que Eduard M

eyer, a cujo livro Zur 1heorie und M

ethodik der Geschichte (Sobre teoria e m

etodologia da História) nós nos re-

ferimos, nem

pode, nem deseja reclam

ar para si tal exercido cotidiano e fami-

liarização com os problem

as da lógica, tampouco com

o o autor deste ensaio. Eu diria que as observações de crítica do conhecim

ento que se encontram na-

quela obra, por assim dizer, representam

um relatório clínico elaborado pelo

próprio padente e não elaborado pelo médico, devendo ser entendidas e va-

lorizadas dentro deste panorama. M

uitas das observações de Eduard Meyer cer-

tamente escandalizam

os especialistas em lógica e em

teoria do conhecimento,

e muito desses especialistas acreditaria não ter encontrado, essencialm

ente, nada de novo que pudesse ser relevante para os seus interesses epistem

ológicos. Po-rém

este fato em nada dim

inui a importância da obra de M

eyer, sobretudo no

155