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PRIMEIRO ATOLIBRETO

MULHERES DE APENAS

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CENA I - MULHER É O MAL

Diante do júri, entra o coro dos acusadores apontando grosseiramente

para as mulheres, interrompendo suas orações.

A rezadeira Mônica Sol-Musa canta uma Ave-Maria, insinuando uma delicada defesa das mulheres.

1. AVE DOR MARIA

MÚSICA: Tom Zé/Gilberto AssisLETRA: Tom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00001

MÚSICA INCIDENTAL: Ave Maria, de J. S. Bach/Gounod Ed. DP

Por ordem de entradaCoro das rezadeiras: Rezadeira Dona Amália, Benzedeira Dona Marieta e Benzedeira Dona Eloísa. Casting por AugustinhaCoro dos acusadores: Tom Zé (barítono), Jair Oliveira (baixo)Rezadeira Mônica Sol-Musa: Suzana Salles (soprano) Coro das Mulheres: Suzana Salles (soprano), Jair Oliveira (contralto)

Coro das rezadeiras: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

Coro dos acusadores: Mulher é o mal Que Lúcifer bota fé. Quando achou Primeiro ovo do Cão Ela chocou.

Cru, Belzebu Do rabo fez um pirão Foi o pão Que o diabo amassou E ela assou.

É pão-de-ló No suco de caju Mas se ela enfurecer Pra ele é só Amor com Red BullManeco Tatit: Amar é só só só viverDiotima de Mantinéia: Tirando versos vaiManeco Tatit: Pra serDiotima de Mantinéia: Na velha lira, sua lira...Maneco Tatit: A casca pro outroDiotima de Mantinéia: No cio eterno seuManeco Tatit: ViverDiotima de Mantinéia: Delira, ele delira, ele deliraManeco Tatit: E ter e ter e ter

Teresa: Quanto maior romantismo Mais cruel se transfi gura

O carinho em tortura

Maneco Tatit: Amarguras mil sem terPor que nem pra que tecerE ser...

Teresa: Destruindo a mulherVai fi car sem o tripé,Sem panela e sem colher

Maneco Tatit: Como uma varinha de condão Pra quando riscar no chão Espalhar...

Maneco Tatit, Teresa e Diotima: Espalhar no céu Beatles a granel Em sonhos de papel Porque na vida Amar é fel e mel Amar é fel e mel

Teresa, RECITATIVO: Mel? Mel o quê, seu vagabundo! Quero lhe mostrar algumas das crueldades que caíram sobre a mulher nestes séculos. Então fi que aí escutando, vamos ver.

*Mírian Goldenberg, em “De Perto Ninguém é Normal” (Ed. Record) – leitura aconselhada.

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16. BEATLES A GRANELTom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00016

Por ordem de entradaManeco Tatit: Tom Zé (barítono)Coro da anima: Jair Oliveira (contralto e soprano)Diotima de Mantinéia: Suzana Salles (soprano)Teresa: Suzana Salles (soprano)

Maneco Tatit: Amar, amar, amarCoro da anima: Demais é sóManeco Tatit: Sofrer demais é sóCoro da anima: De nada háManeco Tatit: Sobrar de nada háCoro da anima: Faça melhorManeco Tatit: Que Deus faça melhorCoro da anima: Amar, amar

Maneco Tatit: AmarDiotima de Mantinéia: Olhe aí o macho a cantarManeco Tatit: Amar Diotima de Mantinéia: Mentiras a desfi arTatit e Diotima de Mantinéia: No seu tralalá Amar, amar, amar Se a mulher enternecer

CENA III - A MULHER NA UNE

Voltando ao júri, Maneco Tatit e Teresa levam Diotima de Mantinéia para testemunhar em juízo. Ela toma

a palavra e diz: “Olha, pessoal, se meu Platão tivesse uma Kehl dessa de vocês, eu estaria desempregada.

Mas vocês podem ouvir minha opinião também, no Oráculo Mírian*, aquela de “De Perto Ninguém

é Normal”. Sei que o machismo no ambiente universitário também é forte, mas quero hoje apresentar

a vocês uma banda de pagode, de parceria com uma banda de rock romântico. Vou cantar com eles

“Beatles a Granel”, porque, também, ninguém é de ferro e, afi nal, é preciso namorar.”

Mas no fi m, quando começa a fi car muito piegas, Teresa se aborrece.

Mônica Sol-Musa: Ave Maria! Aqui por nós, Maria, Vem levantar a voz. Tem misericórdia da mulher, Nas afl ições Que o homem cria contra nós.

Coro das mulheres: De giz Me cobris De tanta lama e ferida. Argüis O nada contra o nariz, Ó suicida,

Coro dos acusadores: Mulher é o mal... etc

Coro das mulheres: E vês Toda vez A tua morte plural Viuvez Procuras doce no sal, E nem me vês.

Coro dos acusadores: Cru, Belzebu... etc

Coro das mulheres: Essa mão, Tua senha Pela navalha da luz. E no credo A outra mão não te nego, Desce da cruz! Desce da cruz! Desce da cruz!

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2. ESTÚPIDO RAPAZTom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00002

Por ordem de entradaRebeca do Mato: Suzana Salles (soprano)Maneco Tatit: Tom Zé (barítono)Coro dos Homens: Tom Zé (barítono), Jair Oliveira (baixo), Jair Oliveira (tenor)Jegue: Luciana Paes de Barros

Rebeca do Mato: Rapaz, rapaz, rapaz Estúpido rapaz, Da mulher, mulher, mulher, Deixa de pegar no pé.

A saber, saber, saber Em que planeta irá você, Com tão pouco troco no bolso, Açúcar sugar nesse doce de coco.

Rebeca do Mato: Se você vem numa boaPode vir,

Também não tô à-toa. Eu te boto no colo, Te dou pão e mingau. Mas se você vem de cacete,

Pode vir Que eu vou de pedra e pau.

CENA II - O JEGUE

A advogada, sinhá Zélia Bamba, desenvolve um arrazoado e chama a baiana dona

Rebeca do Mato, que, pela mútua convivência das partes, argumenta.

Alguns homens concordam, mas um deles fi ca possesso e traz um jegue que relincha orgástico.

Na confusão estabelecida, as mulheres fogem.

Maneco Tatit: Eu sei que é Perder meu tempo Agir assim; É prolongar Inimizade velha que dói.

Se a mulher Deixar de Confi ar em mim Eu vou parar Onde não dá pra parar.

Coro dos personagens de Adoniran: Andar de trem.

Coro dos personagens de Adoniran: De ferro e bronze... etc.

Maneco Tatit: Frankfurt, Roma, Europa forte, É povo rico de toda sorte, Tudo barateia nesse transporte; Até Las Vegas, Ó trem, carregas pra Nova Iorque, Mas aqui o gringo tirou o trilho Pra não deixar trem passar.

Coro dos personagens de Adoniran: De ferro e bronze... etc.

Maneco Tatit, RECITATIVO: Arnesto! Tu tem que fazer um bilhete pra botar na porta e outro bilhete pra mandar proGoverno. É, Arnesto, faz um bilhete porque se não tiver uma estrada de ferro vai estrangular, estrangular o escoamento da produção desoja, milho, feijão, uva. E até a uva da Inês precisa de um trem pra carregar ela. Viu o quefi zeram com a Madeira-Mamoré? Construíram, desconstruíram, quebraram. De Feira deSantana pra Alagoinhas tinha uma estrada de ferro quando eu era pequeno, Arnesto, que era uma coisa. Todo o dia fazia de novo, fazia de novo e nunca passou um trem. Ai, Arnesto, a soja, o milho, a produção... E as verbas prasestradas de ferro, Arnesto, tão sendo desviadas pra outros setores. Faz um bilhete pro governo, Arnesto. Deixa debaixo da porta do presidente, deixa debaixo da porta do Senado, deixa debaixo da porta do contra-senado, dos deputado, dos vereador, deixa debaixo da porta até do banheiro.

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15. A VOLTA DO TREM DAS ONZE (8,5 MILHÕES DE KM²)Tom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00015

Por ordem de entradaManeco Tatit: Tom Zé (barítono)Coro dos personagens de Adoniran: Jair Oliveira (baixo, tenor e contralto)

Maneco Tatit: Pra Iracema em Jaçanã A esperança parece vã Mas na maloca, Adoniran Já se reforça, com tapioca, caldo de rã, E convoca Joca pra derrotar Leviatã e Tio Sam.

Coro dos personagens de Adoniran: De ferro e bronze O trem das onze Voltará, Em Jaçanã bem de manhã Apitará. Comemoremos Mato Grosso eu e Joca Com Iracema e o Arnesto na maloca.

Maneco Tatit: Soja disse que este ano vemCoro dos personagens de Adoniran: Andar de trem,Maneco Tatit: E o milho vai querer tambémCoro dos personagens de Adoniran: Andar de trem,Maneco Tatit: Feijão disse que ninguém vai fi car semCoro dos personagens de Adoniran: Andar de trem.Maneco Tatit: Inês e todo o pessoal da Mooca e do Belém

CENA II - PARA O PAÍS

Depois de três anos, uma noite sem espetáculo! Na porta do teatro foi ponhado um bilhete:

“O elenco foi assistir à reinauguração da Estrada de Ferro de Jaçanã, que fi nalmente

se uniu à Belém-Brasília”.

3. PROPOSTA DE AMOR

MÚSICA: Tom Zé/Gilberto AssisLETRA: Tom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00003

Por ordem de entradaFada Adriana Bem-Ciel: Mônica Fuchs (mezzo-soprano)Maneco Tatit: Tom Zé (barítono)

Maneco Tatit: Ó garota, Eu te convido para um novo tipo de amor, Menos novela, muito mais solidário será, A renovada confi ança de ser Que a mulher há de ter Quando a senha do mistério digitar. Assim será!

Ó garota, Eu contra ti já inventei os deuses, a lei, E pela carne do pecado te condenei Tô convencido de que essa guerra suja Foi longe demais E te ofereço um acordo de paz. Assim será!

Em muitos países do mundo a garota Também não tem o direito de ser. Alguns até costumam fazer Aquela cruel clitorectomia.

CENA III - NOVO AMOR

No jardim de Afrodite, a fada Adriana Bem-Ciel rege uma banda imaginária de pagode que, num passe

de mágica, aparece realmente tocando. Maneco Tatit se destaca entre os homens, e, enquanto a fada retoca

a maquiagem das mulheres, ele dedica ao eterno feminino uma proposta de amor.

Mas no Brasil ocidental civilizado Não extraímos uma unha sequerPorém na psique da mulherDestruímos a mulher.

Agora estou a esperarUma resposta de amor e afeto.Você de saia, eu de calça,E o luar será nosso teto.

Uma cartinha de amorPoliticamente corretaVocê de saia, eu de calça,Felicidade será nossa meta.Assim será!

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4. QUERO PENSAR (A MULHER DE BATH)Tom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00004

Por ordem de entradaMãe Jussara Saveira: Luciana Mello (contralto)Maneco Tatit: Tom Zé (barítono)Bete Calla-os-Mares: Luciana Mello (contralto)

Mãe Jussara Saveira: Assim será o quê, seu vagabundo?! Primeiramente esse seu tititi de politicamente pro eleitorado: E que diabo de cachaça Tem a saia com a calça? Parece até que o velho algoz Quer pegar nós Cochilando e apertar o cós.

Maneco Tatit: Tira a meleca do narizPra não borrar tudo que diz:Dizia meu avô,Mulher assim é o diabo, é o demônio, é o pecado

Mãe Jussara Saveira: Dizia minha avóQue mentiroso torce o raboE deixa o galo encurralado.

Maneco Tatit: Ora, vá lamber sabãoE chupar dedo com limão,Porque no jogo que tu tás

Quer botá fogo sem ter gás E dar um golpe no rapaz.

Mãe Jussara Saveira: Mas eu não vou fi carCozendo sapo nesse trato:Amarre o sacoNum contrato mais sensatoE a nossa pazAssim virá de fato,

CENA IV - A MULHER DE BATH

A rezadeira Mãe Jussara Saveira sai do coro das mulheres e, depois de aconselhar que sejam precavidas,

vira-se para Maneco Tatit e o contradiz duramente.

14. TEATRO (DOM QUIXOTE)

Tom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00014 Para a reinauguração do Teatro Vila Velha, por encomenda de Márcio Meirelles

Por ordem de entradaDom Quixote: Jair Oliveira (barítono)Sancho Pança: Tom Zé (barítono)

Dom Quixote: Tem teatro no canto do bode, Agora também no pagode.

...Que somente os dementes, os loucos, os teatros, Os corações, os quixotes, os palhaços, Podem vencer os dragões aliados Aos caminhões e aos supermercados.

E assim retornando a essa doce loucura Que o transe, o abandono e o delírio procura Pra devolver ao amor plenitude No êxtase ter-se outra vez a virtude.

Que a inocência, essência do sonho, devolva Os sais abissais do amor às alcovas. Desta casa onde casa e se cria Um degrau Da minha catedral O teatro do ator que recria Quixotes de Espanha La Mancha e Bahia.

E pelo arauto No alto do palco Onde o mito vomita uma história Que repete a estória da história

O canto do bode Espermatozóide E o pagode na prece Do samba-enredo reconhece

Sancho Pança: Que somente os dementes... etc

CENA I - TEATRO

Ano 2000. Teresa, Maneco Tatit e Dr. Burgone comparecem à reinauguração do

Teatro Vila Velha, na Bahia, onde se representa Dom Quixote, de Cervantes.

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TERCEIRO ATOLIBRETO

AMOR AMPLIADOPARA O TEATROE PARA O PAÍS

Meu caro rapaz, meu carrapato,Meu caro rapaz, meu carrapato.

A comadre Bete Calla-os-Mares argumenta que elas não podem recusar logo a proposta, afasta Mãe Jussara e, mais delicada,canta para Maneco Tatit.

ÁRIA

Bete Calla-os-Mares: Quero pensar, meu bom rapaz, Numa boa: Não se dá um “sim” assim à-toa. Quero pensar, meu bom rapaz, Numa boa, Talvez tocando no piano Da patroa. Finalmente sonhar...

Felicidade sim, sonhar, sonhar, Feliz se dar ao sonho No raio e na raiz, Se ao sonho contraponho Onde ponho meu nariz. Tristeza, não. Tristeza fi m, Tristeza bem longe de mim. Quero pensar... etc. E de chinela, De só de chinela, de só de chinela Vou pensar com meus anéis E adotar nessa novela Caldo de galinha com cautela. E de chinela De só de chinela, de só de chinela Vou contar de um a dez Pois quem tem calma assa o peru E o apressado come cru Finalmente sonhar...

Felicidade sim, sonhar, sonhar O eterno amor sonhar Em termos ancestrais. Não aquela eternidade De Vinicius de Moraes. Tristeza não, tristeza fi m, Tristeza bem longe de mim.

Bete Calla-os-Mares, RECITATIVO: Então tá, meu bom rapaz. Vou pensar no seu caso. Mas primeiro quero lhe mostrar algumas das crueldades que caíram sobre a mulher nestes séculos. Então fi que aí escutando, vamos ver.

Bete

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5. MULHER NAVIO NEGREIROTom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00005

Por ordem de entradaAdvogado das mulheres: Tom Zé (barítono)

Advogado das mulheres: Mulher – Divino Luxo – Navio Negreiro .......................................................... O macho pela vida Se valida A molestar a mulher Se diverte. Apavorada, Ela, que se péla, Pouco pára de pé, E padece.

Quando ele pia, pia, pia, Pra inibir na mulher o animal, Talvez eu ria, ria, ria, Vendo ele transar uma boneca de pau, Com seu incubado, Calado, colado, pirado pavor Do segredo sagrado.

Por isto existe no mundo Um escravo chamado

CENA V - AÇOUGUE INFORMAL

Bete Calla-os-Mares convoca o advogado das mulheres e pede que ele enumere as principais

agressões que a mulher tem sofrido, principalmente a segregação que vem disfarçada em luzes e honras.

Mulher – Divino Luxo – Navio NegreiroGraal – Puro Cristal – DesesperoRosa-robô – Cachorrinho – Tesouro,Ninguém suspeita a dor neste ideal,A dor ninguém suspeita imperial.

Eucaristia – Ascensão – Desgraça,Filé-mignon – Púbis, Traseiro – Alcatra,Banca de Revista – Açougue Informal – Plena Praça,Ninguém suspeita a dor neste ideal,A dor ninguém suspeita imperial.

Arrebenta o cais E arrebenta mais, Pois o amor É a coisa mais linda Quando o vento traz. Pois o amor É a coisa mais linda Quando o vento traz.

Maneco Tatit: Se a mulher cultiva essa vibração Até Se no casamento da paixão, Será desvairada, possessa e meretriz, Uma louca varrida e sem juiz.

Céu, tão grande o céu Estrelas que são de ninguém Mas que são minhas E de você também Sobre você também

Rebeca do Mato e Maneco Tatit: Mas apesar de toda essa vergonha Com ele ainda a alma sonha Fiar a renda cuja lenda Deus há de cifrar. Fiar a renda, lenda, Será deus quem decifrar.

Rebeca do Mato e Maneco Tatit: Pois o amor É a coisa mais linda Quando o vento traz. Pois o amor É a coisa mais linda Quando o vento traz.

FIM DO SEGUNDO ATO

Rebe

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13. PRAZER CARNAL

Tom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00013 MÚSICAS INCIDENTAIS: Ária da Quarta Corda, de J. S. Bach Ed. DP; Dindi, de Tom Jobim/Aloysio de Oliveira Ed. Jobim; Amor em

Paz, de Tom Jobim/Vinicius de Moraes Ed. Jobim/BMG Music

Por ordem de entradaRebeca do Mato: Patrícia Marx (soprano)Maneco Tatit: Jair Oliveira (tenor)Coroinha: Tom Zé (barítono)

Rebeca do Mato: Prazer carnal, Querem te afastar do amor; Como sinal De chama e chuva, enxofre e sal Sacode a fera em fúria animal. Mas apesar de toda essa vergonha Com ele ainda a alma sonha Fiar a renda, cuja lenda Deus há de cifrar, Fiar a renda, lenda, Será deus quem decifrar.

É quase um vintém; Quando a faísca vem, Só depois a tempestade

CENA VII - O ARCANJO XXI

A direção do congresso WASP chega à ONU para expulsar as mulheres do recinto.

Maneco Tatit argumenta com a tese de que um ser humano integral só existe quando estão juntos

um homem e uma mulher. No que Rebeca do Mato acrescenta que o Arcanjo XXI, chegada a sua

hora de tomar posse da administração espiritual da humanidade, exigiu que fi casse sob sua

responsabilidade o desenvolvimento simultâneo das complexidades do sexo e da razão. Dizendo isso,

ela canta para o Conselho de Segurança. 6. PAGODE-ENREDO DOS TEMPOS DO MEDOTom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00006

Por ordem de entradaAdvogado das mulheres: Tom Zé (barítono)Coro do Cinema Novo: Tom Zé (barítono), Suzana Salles (soprano), Suzana Salles (contralto), Jair Oliveira (tenor)Coro da Semana de 22: Tom Zé (barítono), Suzana Salles (soprano), Suzana Salles (contralto), Jair Oliveira (tenor)Coro da Poesia Concreta: Tom Zé (barítono), Suzana Salles (soprano), Suzana Salles (contralto), Jair Oliveira (tenor)

Vinicius de Moraes, Baden Powell, Comissão de frenteAntonio Carlos Jobim, Menescal, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão,Carlos Lira, Miéle e o feminino João.

Doutor, você é bom de colarinho Ala Coluna Prestes Mas não fez a bossa-nova sozinho.

O que te ilude é Roliúde, Ala Cinema NovoRoliúde-ude,A Cinderela bugue-ugue,Bugue-ugue bugue, Prefi ro meu pagode-wood,God me sacode,Te deixo com teu rock-bode.

Doutor, este teu papo não cola: Ala Semana de 22Você vaiou a bossa-nova n´O Pato. A gente, além de não ter escola,Essa cultura de massa é um saco-de-gato.

Saco-de-gato, saco-de-gato Ala Poesia ConcretaSaco-de-gato, saco-de-gato.

FIM DO PRIMEIRO ATO

CENA VI - SEGREGAÇÃO GÊMEA

Júri reunido outra vez. Aparece um grupo de pagodeiros que se dizem tão segregados quanto

as mulheres. O juiz passa a palavra ao advogado defensor do pagode.

O desentendimento se torna tal queo planeta explode em desacordo, guerra e confusão, dando fi m a

uma era da vida humana.

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12. PARA LÁ DO PARÁTom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00012

Por ordem de entradaMulher: Tom Zé (contralto)

Mulher: O que você pensa Eu sei que você pensa Que a mulher não pensa Mas pensa

O que você quer Eu sei que você quer Que a mulher não quer Mas quer

E quer muito mais para lá Dessa nossa disputa imbecil Quero, ali na fronteira Do Tato e do Tempo, Estar nua no vazio, Para que Deus me assalte o salto Além do sentimento. Porém, depois dali, só me conduz Quem viaja nos braços do ano-luz, Para tomar a três vidas daqui O trem atrasado do esmo, Que vai parar Agora mesmo, Exatamente aqui. Exatamente aqui:

Para lá do Pará,Para lá do pensar,Para lá do pensar.

Para lá do Pará,Para lá do pensar,Para lá do pensar.

O que você pensa... etc.

Para lá do Pará,Para lá do pensar,Para lá do pensar.

Para lá do Pará,Para lá do pensar.E Pasárgada vem pra Maracangalha.

CENA VI - ESPELHO PARADOXAL DO TEMPO

Tom Zé, representando o feminino do homem no congresso WASP (white anglo-saxon protestant),

discorre sobre a sutileza da mulher diante do espelho paradoxal do Tempo.

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11. VIBRAÇÃO DA CARNETom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00011

Por ordem de entradaCoro das mulheres: Tom Zé (contralto), Jair Oliveira (soprano)Maneco Tatit: Tom Zé (barítono)Orgasmo feminino: Luciana Paes de Barros (incontida)

Coro das mulheres: Tortura que ela atura com fartura No viver social, Então leve uma banana, também social.

Toda vez pela primeira vez Que o cara sai com a garota, logo ali No bar tem um rali de tititi, Amigos dele com ele – com ele, por ele. De repente, cara, ela encara Um desaforo inocente – sente só, Que sai no subliminar do papo Com alho pelo soalho.

Tortura que ela atura... etc

Maneco Tatit: Desde criança a mulher Enfrenta aquela Dissimulada agressão: Eram descarados provérbios maldosos, E duros, naquele tom brincalhão. E na dureza do escárnio Se o amor-próprio se parte...

CENA V - NA ONU

Em Nova Iorque, Teresa, Bete Calla-os-Mares, Maneco Tatit e os advogados discutem

na ONU aspectos da segregação da mulher e do pagode. Aqui e ali, frases de Maria Rita Kehl

aparecem nos argumentos de Teresa: “...Meninos e meninas aprendem a equivalência entre os corpos

femininos e as mercadorias.”; “...Segundo a lógica da masculinidade acuada, do homem inseguro diante

do enigma da diferença sexual, as mulheres não seriam diferentes dos homens, seriam inferiores.”

....................................... Pode interromper no corpo Aquela natural vibração da carne, Gozo da mulher, que se o cara Não doar atenção – é tarde.

Coro das mulheres: Porque a dois, não dá pra viver, Se somos dois, que seja a valer. Baião-de-dois não dá, não dá pra fazer Sem dividir a bênção do prazer.

Maneco Tatit: Mas o castigo pior, a porrada Que agora o homem sofreu, Foi daquele tipo de mulher Que no seu desespero aprendeu E tentando imitar Em atitude vulgar Repete o idiota do machão No que ele faz de pior – agora Por exemplo, ela no volante A debulhar palavrão – ó senhora!

Coro das mulheres: Porque a dois não dá pra viver... etc

SEGUNDO ATOLIBRETO

LATIFUNDIÁRIOSDO PRAZER

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7. CANÇÃO DE NORA (CASA DE BONECAS)Tom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00007

Por ordem de entradaHomem do Gênesis: Tom Zé (barítono)Coro de Ibsen: Jair Oliveira (baixo), Jair Oliveira (tenor), Suzana Salles (soprano)

Homem do Gênesis: Sobre o abismo pairava Deus: O homem era um dos aliados Seus. Era de se ver, Era de se ver.

Mas Nora ignora os poderes Reais, O chicote, a espada e suas leis Morais. Era de se ver, Era de se ver.

E quando decide escrever O seu próprio roteiro, Quebrar as correntes Do secular cativeiro,

Então ela pede Às forças do sangue Valia E logo a sala se torna, Da sua pessoa, Vazia.

Coro de Ibsen: Na hora em que Nora Sai, bate a porta, Abre-se um vão. O céu quase aborta, A lei que era morta Cai no porão.

CENA I - GÊNESIS

Esperava-se que, com tudo que se investiu em liberdade sexual nos anos 60 e durante os

últimos séculos da era da cultura de massa, o novo universo prenunciado no novo Gênesis

seria habitado por verdadeiros latifundiários do prazer. Mas, logo na elaboração dos novos

evangelhos, a mulher sente-se subjugada por leis morais ainda mais arbitrárias.

O novo universo começa com uma revolta das mulheres, conforme o Evangelho Segundo São Jõao

ibseniano, que descreve a gesta de Nora-Madalena, cujo ato de abandonar o casamento

e sair batendo a porta se converte num amplo debate e num grande escândalo.

10. ELAEUTom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00010

Por ordem de entradaHomossexual A: Edson Cordeiro (barítono e soprano)Homossexual B: Tom Zé (barítono)

Gueis A e B: Elaeu ela ela ela Ela elaeu Elaeu ela ela ela Ela elaeu

Guei A: Ela A coisa medonha Vive se orgulhando Do que me envergonha.

Ela Sendo meu avesso Usa do meu corpo Como endereço E, presa de fraqueza, Minha vontade ainda Duela Com ela.

Gueis A e B: Elaela ela ela Ela elaeu Elaeu ela ela ela Ela elaeu.

Guei B: Ela Este meu oposto Que a contragosto Tanto me fascina.

Ouso Mesmo receoso Procurar seu rosto E louco e sem conselho Pela sua face Me vejo no espelho.

Gueis A e B: Elaeu ela ela ela Ela elaeu Elaeu ela ela ela Ela elaeu

CENA IV - PARADA GUEI-LS

Num congresso que encerra a Parada do Orgulho Guei-LS, no Vaticano, o homossexual A

discute com o homossexual B sobre a anima e o animus.

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Zélia Bamba: Ri... Ri... Ridículo chorar, Patético viver, Paradoxal prazer, Apologia do sofrer. Meu bem, chora por mim, Meu bem chora por ti, Soluço pra te ver chorar Cantando venho soluçar.

Recitativo-fuxico de Maneco Tatit: Mas meninas, vocês souberam? Foi o pagode, foi o pagode. Foi o pagode, esse alcoviteiro sem-vergonha, lascivo, que foi perverter, desviar, desatinar a cabeça de um rei da Inglaterra, que largou a coroa, largou tudo por causa desse pagode. Esse facilitador de namoro! E não respeita uma potência como a Inglaterra! Que sujeito subvertedor da ordem, do respeito, da lei! Até na Inglaterra...

Zélia Bamba: Até na Inglaterra Ele destronou Um rei Que por sua paixão Abandonou o trono E a lei. Até Santo Agostinho Por amor Foi sua presa E Deus, para esperá-lo Assistiu muita proeza. No pagode, Decoro Não tem lugar; É useiro Vezeiro

Zélia Bamba e Mônica Sol-Musa: Em mal ma ma ma ma ma maltratar.

Mônica Sol-Musa: Ôô Aquele Da sedução Ôô A corte Deixou de mão Ôô Viveu Pecado só Sentiu Em si Carne e pó É carne Senhor, tem dó De ter em si Pecado e pó

8. O AMOR É UM ROCKTom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00008

MÚSICA INCIDENTAL: Meu Primeiro Amor, de Hermínio Gimenez, versão de José Fortuna e Pinheirinho Ed. Addaf/Fermata

Por ordem de entradaDr. Burgone: Tom Zé (barítono)Jasão: Tom Zé (barítono)Coro de Medéia: Suzana Salles (soprano), Jair Oliveira (contralto)Medéia, Ariadne e Electra: Suzana Salles (soprano), Jair Oliveira (contralto)Ofélia: Suzana Salles (contralto)Maneco Tatit: Rodrigo Sanchez (mudo)

(Dr. Burgone, chorando)

Jasão chora os fi lhos mortos: Se você tá procurando amorDeixe a gratidão de lado:O que que amor tem que verCom gratidão, menino,Que bobagem é essa?

Dr. Burgone: O amor é egoísta,Coro de Medéia: Sim – sim – sim,

Tem que ser assim.

Dr. Burgone: O amor, ele só cuidaCoro de Medéia: Si – si – si

Só cuida de si.

CENA II - CENA DO PESADELO

“A escola do machismo é a casa ou a casa do machismo é a escola?”*

De tanto pensar no livro de Maria Rita Kehl, o professor Burgone, enquanto espera o elenco

para o ensaio, adormece no palco do Tuca, teatro da PUC, e tem um pesadelo conturbado em que Teresa

lhe aparece como Medéia, Ofélia e outras; e Maneco Tatit, como Jasão e outros personagens trágicos.

No fi m do sonho, uma Teresa-Medéia arma um barraco pra cima dele e de Tatit,

xingando e acusando o amor burguês de mistifi cação.

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Dr. Burgone: Então quer dizer que o amor é mesmo sem caráter?Coro de Medéia: Sim – sim – sim – sim

Tem que ser assim,

Dr. Burgone: E sem caráter, de quem é que ele cuida?Coro de Medéia: Si – si – si Só cuida de si.

Medéia, Ariadne e Electra: Sem alma, cruel, cretino,Descarado, fi lho da mãe,O amor é um rockE a personalidade dele é um pagode.

Canto de Ofélia: Meu primeiro amorTão cedo acabouSó a dor deixouNeste peito meu.

Meu primeiro amorFoi como uma fl orQue desabrochouE logo morreu.Nesta solidão,Sem ter alegriaO que me aliviaSão meus tristes ais.

São prantos de dorQue dos olhos saemPois que eu bem seiQuem eu tanto ameiNão verei jamais.

*Maria Rita Kehl é psicanalista, autora de “A Mínima Diferença - O Masculino e o Feminino na Cultura”, “Videologias” e “Ressentimento” (Casa do Psicólogo) – leituras aconselhadas.

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9. DUAS OPINIÕESTom Zé Ed. Irará (Trama)/BR-TPA-05-00009

Por ordem de entradaZélia Bamba: Zélia Duncan (contralto)Mônica Sol-Musa: Suzana Salles (soprano)Maneco Tatit: Tom Zé (barítono)

Zélia Bamba: Ridículo chorar,Patético viver,Paradoxal prazer,Apologia do sofrer.

Mônica Sol-Musa: Leal, fi el, Ilusão Não sabe quem não quer Saber Inocente mulher É só Paixão

Zélia Bamba e Mônica Sol-Musa: Porém no laço dos martírios teus Ou nos lírios e delírios meus Somos a multidão, Um simples coração Só, Só, Gritando no porão.

CENA III - RIDÍCULO CHORAR

Ano 3. No Jardim do Éden, a advogada, Sinhá Zélia Bamba, discute com a rezadeira

Mônica Sol-Musa sobre a choradeira de Dr. Burgone e de Jasão. Maneco Tatit

interrompe as duas, contando excitado um fuxico da corte dos anjos.

Mônica Sol-Musa: Chorar é coisa do amor Amor, coisa do coração,

O coração é do sonharChorar este chorinho, chorar.

Zélia Bamba: O pagode, tão doce, É enganador:Sincero, se fosse,Teria mais pudor,Mas rasga o coraçãoE gosta de sofrer,Lascivo, ele exaltaA dor como prazer.

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