LEVEL - O Jacintinho e a estética
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O jacintinho
e a estética
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
2011
Eloísa LemosEverson MoraesLaissa BarrosLeilane MoraisVinícius Nicácio
O jacintinho
e a estética
sempre imitado, nunca igualado.
SUMÁRIO
Introdução...................................................
O Jacintinho e a estética...................................
O lixo extraordinário...........................................................
As espacializações..............................................
Representações gráficas ...................................
Conclusao....................... ...................................
Referências bibliográficas ...................................
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Video Making Off ................................... 27
Introdução
A dialética entre belo e feio é figura constante em discussões sobre
estética. O tema sempre foi interessante aos olhos humanos. A beleza é um
aspecto determinante na decisão por um ou outro produto, ou para qual dos
objetos destinar apreço.
O feio é um fenômeno cultural (ECO, U. 2007: 394). Da mesma maneira
que a beleza, a feiúra foi determinante na construção de uma sociedade
contemporânea, cheia de constrastes e paradigmas, semelhanças e
desigualdades.
Historicamente designar algo por feio é comum aos aristocratas. A vontade
de ridicularizar, de diminuir o outro, criou o feio. E, consequentemente, o belo. A
estética, por tanto, acompanhou o homem, o uniu e o separou.
Mas, afinal, o que é estética? O bonito ou o feio? Beleza e feiúra são
estéticas? Podemos considerar um feio esteticamente agradável?
Questões como essa foram surgindo durante o desenvolvimento do
trabalho, diante de situações nas quais não encontravá-mos resposta
Pollock e sua Action Paiting e uma simples barraca de cadarços na feira do Jacintinho
A vaca de porcelana, exemplo de kitsch.
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O Jacintinho e a estética
Dinamismo, cor, alegria. Elementos que atraem o olhar das pessoas, que
as fascinam, fazem-nas percorrer todo o objeto, numa ingênua curiosidade,
descobrindo (e se deliciando) com cada curva, cada traço, cada mancha instiga e,
assim, não deixa o frenesi do interesse se dissipar em calmaria.
O Jacintinho como o frenético organismo que é, exige ser representado
por um olhar diferente, uma visão que procure transpassar o superficial,
adentrando suas entranhas, escancarando o mais íntimo.
Britto, Romero A mistura das raças Giclêe 80cm X 170cm
Na obra de Romero Britto, as cores e as formas não fazem referência ao
real, nem ao visível. A essência da movimentação, da alegria e da fraternidade
são expostas através de formas que as sugerem. O movimento e a cor da foto
(como pura representação de uma verdade palpável) mostra-se insuficiente
perante a facilidade com que a interpretação de Britto contagia o espectador.
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A dança das cores é tão marcante, tão fantástica. Embebeda quem a
contempla.
“Uma invenção que tem lugar nas presumíveis profundidades do espírito,
e nada tem a ver com as provocações da realidade física concreta, é um bem
pálido fantasma: Beleza, verdade, invenção, criação não estão apenas do lado de
uma espiritualidade angélica, mas têm a ver também com o universo das coisas
que se tocam, que cheiram, quando caem fazem barulho, que tendem para baixo
por inetulável lei da gravidade, que estão sujeitas a desgaste, transformação,
decadência e desenvolvimento.”
(ECO, Umberto, 2004: 405)
O estético no Jacintinho é natural e também é forjado, é bonito e também é
feio. O dúbio corre o lugar o tempo inteiro. O contraste é elemento primordial do
bairro. Isso porque é dele que as coisas derivam. E as outras coisas derivam dele.
O constrate é dado pela quantidade - enorme - de pessoas (quase 1/4 da
população de Maceió num espaço tão pequeno.
A densidade demográfica alta força o contato, as pessoas esbarram umas
nas outras, os sons se sobrepoem, as lojas disputam todo e qualquer espaço. O
resultado é uma profusão constante de energia.
)²
mellybobemily007 explosion JPG, 1692x2189 pixels (fragmento)¹
Uma das principais caracacterísticas do sítio é contagiar. O dominado (o
bairro como marginal) se transforma em dominador no seu território. Há tanto
para onde direcionar o olhar, para onde se encantar. Há tanto de se ouvir, de se
sentir, de se provar. A confusão se mistura com o entorpecimento.
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Energia que pode ser vista de diversas maneiras. Onde há vida há morte,
assim como há feiúra onde há beleza. Olhando para o bairro como um organismo
vivo, que adoece, que se recupera, que se mostra (mas também se esconde), é
um tanto comum se deparar com situações grotescas de tão chocantes.
É interessante como isso só contribui para uma análise estética. A
capacidade do Jacintinho de causar reação no transeunte o tempo inteiro é de se
destacar. Em qualquer ponto da feira, se percebe alguma sensação, algum
sentido é acessado ao extremo. Um cheiro muito forte, cores muito intensas,
muitos carrinhos de som... Uma ebulição de sentidos.
PICASSO, Pablo Guernica
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Tanto em Guernica, quanto nas imagens do porco e do rato, a crua
realidade salta aos olhos do espectador. As cores que o artista utiiza não copiam a
realidade, mas transmitem os sentimentos explícitos do momento vivido aos
tempos de sua concepção.
Se existem movimentos capazes de falar do Jacintinho (tal como ele exige)
esses são os movimentos de vanguarda. Um cheiro, uma cor, uma forma que
possa representar o bairro em seu âmago é até mais justo do que uma simples
fotografia documental, que não busca nada além de um olhar da superfície.
A pop-art, símbolo da mass media, com sua elevação do cotidiano,
carrega um pouco a idéia do Jacintinho. Um elemento que está sempre presente
na vida das pessoas é isolado, repetido e exagerado. O resultado - quase sempre
- nos remete a uma linha de pensamento que veio muito antes da avant-garde,
mas que sempre esteve presente na história da arte: o kitsch.
O camp aparece nesse contexto como uma tentativa de kitsch. O kitsch é
natural, enquanto o camp é teatral e, portanto, o exagero do exagero. Tanto um
quanto o outro podem ser vistos no bairro.
Andy Warhol e uma de suas montagens em cima de rostos conhecidos, como o de MarilynMonroe. É uma obra que explora as possibilidades que o artista dispunha à época.
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Britto, Romero Darth Vader - Aqui o artista representa um ícone pop mal e impiedoso comcores amistosas e convidativas. Esse é um exemplo tanto de pop-art quanto de kitschWahrol, Andy Campbell’s tomato soup can - E a charmosa cotidianidade de Wahrol, umapop-art é, de certa forma, kitsch. O que é feito pra ser cotidiano é exaltado como obra dearte..
Fachadas de lojas na feira do Jacintinho. Laranja, rosa, amarelo e azul, em uma linha só,mostrando a confusão, a mistura, o constraste.
Há um tanto de pop-art e de kitsch na feira do Jacintinho, na análise
estética do Jacintinho e nas pessoas do Jacintinho.
“Kitsch é mais uma direção do que um objetivo (...) Kitsch é uma injúria
artística. (...) ‘Saboreie, não devore!’. Pitada de bom gosto na falta de gosto,
pitada de arte na feiúra (...) flor artificial perdida em White Chapel (...) arte
adaptada à vida e cuja função adaptativa ultrapassa a função inovadora”.
(MOLES, Abraham, 1975: 100)
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“Assim, a obra de arte pareceu muitas vezes renunciar a qualquer forma
para permitir que o quadro ou a escultura se tornassem quase um fato natural, um
dom do acaso, como aquelas figuras que a água do mar desenha na areia ou as
gotas de chuva que incidem sobre o barro. Alguns pintores informais deram a
suas obras títulos que evocam a presença de um material bruto, preexistente a
qualquer intenção artística: macadame, asfaltos, calçamentos, brita, mofos,
impressões, terrenos, tessituras, aluviões, escorias, ferrugens, rebarbas,
cavacos...”
(ECO, Umberto, 2004: 405)
Sendo, portanto, da vontade do artista acrescer esse caráter espontâneo,
os movimentos de vanguarda se propõem a mostrar que forjar uma situação e
representá-la conforme parece é menos verdadeiro do que interpretar o
cotidiano. E é justamente nesse ponto que nosso trabalho se assemelha ao dos
artistas informais.
Chris Poh
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A idéia de união foi sempre presente no objetivo final desse trabalho. A
junção de fragmentos distintos que dão razão a uma totalidade, ideal do
construtivismo russo, está escancarado no bairro.
As obras dão uma impressão de acessibilidade, de coisa fácil. Fala
simples, aumentando o alcance da mensagem. É um tipo de linguagem
semelhante a do próprio lugar. A mensagem do Jacintinho é fácil de ser entendida,
mas choca por fugir dos padrões. É tosca como The Builders, é forte como o
cartaz de Rodchenko.
A união que faz a força é um grito do lugar. O elemento estruturante surgiu
dessa interpretação: a tenda.
“Os membros das classes ‘altas’ sempre considerarm desagradáveis ou
ridículos os gostos das classes ‘baixas’.”
(ECO, Umberto, 2007: 394)
Feio e belo... Sempre se contrapondo, sempre se assemelhando.
Leger, Fernando The BuildersStenberg, Georgi e Vladimar Cartaz de Filme
Rodchenko Cartaz em Leningrado
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O muito, o pouco, o
seco, o molhado, o cheio, o
v a z i o , o h u m a n o , o
desumano, felicidade e
tristeza, explosão de cor e
sobriedade. A feira do
Jacintinho é complexa, mas
é simples.
Uma enorme obra
de arte, inmutável em sua
mutabilidade.
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“Todavia, não podemos ignorar que o artista não nos convida
(suponhamos, com uma mensagem escrita) a ir observar por conta própria
calçamentos e ferrugens, piches e tecidos de saco abandonadosem um sotão,
mas usa tais ferramentas para fazer uma obra e ao fazê-lo seleciona, destaca e
confere uma forma ao informe, impondo-lhe seu estilo.”
(ECO, Umberto, 2004: 405)
A Action Paiting de Pollock é um modo muito bom de representar o
Jacintinho. Uma mistura visivelmente aleatória, mas sensivelmente arranjada. O
próprio Pollock tem um quê do bairro. Diz-se que, certa vez, ao ser perguntado
como ele sabia que uma pintura estava pronta, ele teria respondido: “Como você
sabe que terminou de fazer amor?”.4
Pollock, Jackson Convergence Intensidade e Saturação alteradas
A pintura de Pollock sugere muitas coisas, mas pode não ser coisa alguma.
Ainda, não parece precisar de um sentido pra existir. Respingar os sentimentos
num plano que os intercepte. É isso que Pollock faz e é isso que o assemelha ao
Jacintinho. Se não houver plano de interceptação, os sentimentos fogem, sem
destino.
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Pollock, Jackson 97
“Só depois de ter visto uma obra de arte informal é que podemos nos sentir
encorajados a explorar com olhar mais sensível também as marcas realmente
casuais, a disposição natural de certos pedregulhos, o desdobrar-se de alguns
tecidos carcomidos ou perfurados.”
(ECO, Umberto, 2004: 405)
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“ Gritam-nos: ‘Sua literatura não será bonita! Não mais teremos a sintonia
verbal, com seus harmoniosos balanceios e com suas cadências
tranquilizadoras!’. Mas claro! Ainda bem! Nós, no lugar disso, utilizamos todos os
sons brutais, todos os gritos expressivos da vida violenta que nos circunda.
Fazemos corajosamente o ‘feio’ em literatura e matamos em todos os
lugares a solenidade.
(ECO, Umberto, 2007: 340)
Representar o movimento é uma boa forma de enxergar a feira do
Jacintinho. Em nossas idas a campo um homem - quando perguntado sobre o que
tinha de bom no lugar - nos disse: “São as cores, que se mexem direto”. Não é
bem a essência, mas é importante para enxergar. O movimento é parte integrante
da feira. É importante representá-lo.
Bala, Giacommo Street Light
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Bala, Giacommo Mercúrio Passa Diante do Sol
As cores ficam meio borradas, como se elas não tivessem massa, apesar
da composição ser pesada. Mas, ainda assim, é possível de se perceber um certo
movimento. A incidência de uma luz que está cada vez mais distante. Apesar de o
artista ter utlizado cores bem diferentes, elas parecem conversar entre si,
parecem estar onde deviam estar. Mas logo mais não estarão mais no mesmo
canto. É um dinamismo constante.
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O lixo extraordinário
Jardim Gramacho é um aterro sanitário situado no Rio de Janeiro. Lá,
vivem muitos catadores de lixo, pessoas que separam o que pode ser
reaproveitado da grande massa de porcaria que chega. São pessoas para as
quais - geralmente - não se dá atenção. Mas há nesse tipo de gente um potencial
enorme a ser explorado.
Vik Muniz, renomado artista plástico brasileiro, resolveu tentar. Conhecido
por usar materiais não tão convencionais em seus trabalhos, dessa vez ele não
fez diferente. Para representar alguns catadores que elegeu, Vik Muniz utilizou-
se de lixo, o material do cotidiano daquelas pessoas.
Depois de feito, soa até óbvio. A melhor maneira de representar as
pessoas é com aquilo que elas fazem diariamente (nesse caso, o lixo). É tão
simples, mas é incrível como parece tão romântico, tão sonhador.
Representando-os desse jeito, fica mais fácil para eles se reconhecerem nos
retratos.
Uma das coisas da obra de Muniz que nos chamou a atenção foram as
cenas em que ele retratou os catadores. Todos eles em posições muito diferentes,
muito montadas. Não eram cenas cotidianas. Pessoas comuns, materiais
cotidianos, mas cenas imponentes. Cenas com um impacto que aquelas pessoas
não aparentam ter.
Foi, então, uma interpretação do artista? Representá-los dessa forma foi
ler seus interiores? Dentro daquele homem marginalizado existe um que
transimte força e liderança mesmo quando está caído? Dentro daquela mulher
existe uma mãe de deus?
Talvez mostrá-los em níveis tão superiores tenha sido uma maneira de
dizer: eles também podem. Ou ainda: eles são melhores do que vocês, mais
fortes do que vocês. O apelo social é encoberto pelo apelo estético.
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A quantidade de lixo é assustadora. As pessoas se perdem na paisagem,
montanhas de toneladas de sacos plásticos cheios de lixo. É uma terra morta.
Vik Muniz procura, primeiro, quem não pense assim por lá. Que pense o
lugar como um ambiente fértil, cheio de vida e cheio de esperança de melhorar.
Assim, ele entra em contato com pessoas que tem uma história de vida
interessante, pessoas que acham que o lugar, realmente, tem algo a mais pra
oferecer pra sociedade além do que está oferecendo.
E aí os retratos do lixo aparecem, com suas cenas heróicas:
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Tião é o líder caído que deixa uma última mensagem para o seu povo. Uma
mensagem da qual todos precisam.
Aqui a moça está com seus filhos numa posição de divina maternidade.
Apesar de todos os horrores que os envolve ela mantém a seriedade e tranquiliza
seus filhos, pois com sua presença no local, nada há de acontecer. Transofrmou-
se numa mãe ainda mais forte do que uma mãe comum.
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Zumbi, nesta imagem, está diante de situação estéril. Cercado de lixo, de
um lugar morto, sem vida. Mas ele está semeando. Semeando no lixo. E, da
forma como o faz, parece saber que vai dar frutos, parece saber que, apesar da
infertilidade do lugar, há algo pra colher lá.
Todas as imagens carregam esse sobre-humano consigo, todas tem um
certo ar de épico, um exagero proposto pelo artista que, mais que resaltar cada
um dos catadores, transforma-os em heróis que merecem muito mais do que o
que lhes é oferecido.
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O épico aparece nesse contexto do exagero. Outras palavras que também
cairiam bem nesse conceito seriam barroco e kitsch. Pondo tudo sempre em
grande quantidade, o filme beirou os limites do mau gosto. Heroicizar os
catadores em suas atividades do cotidiano foi necessário para o apelo estético da
obra, pois parece que - sem isso - as reações a ela seriam diferentes. Quantos
conseguem semear no lixo? Quantos conseguem manter a serenidade diante de
tantas adversidades? Isso gera um respeito em torno do personagem também.
Olhar para a imagem e sentir-se entorpecido diante de uma coisa que
parecia ruim a primeira vista. As fotografias apresentadas no documentário
passam essa impressão de alcoólico. A mudança de opinião é objetivo também
em relação aos personagens enquanto pessoas. Os marginais heróis, que não
mereciam - ou não deveriam - estar a parte da sociedade. Eles também têm a
oferecer, não precisam de pena.
E o choque que isso causa é imenso. Perceber que toda a arte é feita em
uma escala enorme, para que não fique na cara que o material é incomumente
cotidiano. É se surpreender com cada pedaço, com cada nuance da imagem.
A fragmentação das imagens (e de próprio filme) nos fez escolher como
forma estruturante a tenda. Um conjunto de apoios interdependetes que dá forma
e que sustenta um todo. No caso do filme, a trama. No caso das fotos, a imagem.
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Uma edificação capaz de representar a feira precisava de tudo isso que até
agora falamos. Uma estrutura que lembre união, fragmentos, o todo feito por um.
A Torre Tatlin não foi sequer construída, mas suas formas são muito
interessantes. A impressão de unidade que ela apresenta foi fundamental para
analisarmos a possibilidade de escolhê-la para a representação do lugar. Além do
quê, é parte do construtivismo russo, já citado nesse trabalho.
Outro exemplo do construtivismo russo que pode ser citado é a Torre
Shukov. Nas duas a busca pela altura é outro aspecto que merece destaque.
Percebe-se que a estrutura não alcançaria tudo isso sem a ajuda de cada uma
das partes. É de uma grandiosidade literal e abstrata também. Quantas pessoas
não foram necessárias para construí-las? E o sentimento empregado na hora de
concebê-las?
As espacializações
À esquerda e acima: Vista iterna da Torre Shukhov que mostra bem o interrelacionamento entre as partes integrantes da estrutura.
A esquerda e abaixo: Comparativo entre as alturas das torres Shukhov e Eiffel. A torre de Paris parecia austera demais pra dar conta de representar o Jacintinho.
A direita e acima: Modelo da Torre Tatlin, que jamais foi construída. O todo como um.
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Mais pela forma do que pelo contexto, o Hotel Star Wood de Frank Gehry
ousa na forma e brinca com as possibilidades de cores metálicas que dispunha. A
sobreposição das disformes placas dá a impressão de uma aglomeração
enorme, um ajuntamento de partes. Apesar disso eles parecem conversar entre
si. Um aparente caos que representa o cotidiano.
Já o carregado de história anfiteatro romano (a.k.a Coliseu) apresenta
tanto na forma quanto no contexto essas características de Jacintinho. Repetição
de formas e o pão e circo. Os pórticos seguram toda a grandiosidade do grandioso
estádio que é formado por eles. As pessoas entorpeciam-se durante os
espetáculos, esquecendo de seus problemas no mundo de fora (apesar de o
lugar ser um grande problema).
Tanto o épico (e por quê não o kitsch?) estão presentes aqui, com seus
traços grosseiros, porém rebuscados.
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A fachada, como representação de uma vista primeira do lugar, tenta
mostrar a explosão por trás da barreira que as tenta encobrir. As cores são
diversas, representam as pessoas que transpassam o esconderijo e se mostram
para o mundo. Umas mais outras menos. É como se mesmo no solo sóbrio de
arestas as pessoas são capazes de brotar, de dar forma à toda sua criatividade e
capacidade.
O corte é como uma representação do interior do lugar. É sentir a si
mesmo, implodir. Essa representação (criada em jacksonpollock.org) encaixa
nessa idéia. É um conflito interno que dá razão a existência do Jacintinho, o
mostrar o que se é ou o que se pretende ser. Agir como o Jacintinho para o
Jacintinho ou como um Jacintinho para os outros? As pesoas agora são
representadas por essas linhas, decorrentes de um impacto imaginário dos
blocos de tinta da imagem anterior.
As representações gráficas
Consideramos as representções reais insuficientes para mostrar a feira do
Jacintinho. A realidade precisa de um outro ângulo, uma outra visão para ser
compreendida. As fotografias servem como background para o entendimento do
que acontece na feira, mostrado por nós na forma dos desenhos que seguem a
página:
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Já a planta baixa tenta mostrar o todo. A idéia de união. As pessoas estão
representadas pelas linhas e vão em direção a um objetivo comum, dão forma e
razão a uma única coisa apesar de serem todas diferentes. O dinamismo estático
da imagem sugere que a efemeridade da forma. A feira é um lugar que muda
muito rápido. Por isso, suas representações também deviam transmitir essa
idéia.
As artes informais, de vanguarda, foram de importância extrema na
idealização das formas. A estética dessas obras, com toda certeza, é a estética do
Jacintinho.
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A intenção do vídeo foi transparecer todo o sentimento latente no bairro.
Começamos com uma ida a campo para coletar informações.
Entrevistamos alguns moradores e visitantes do Jacintinho que encontramos
pelas ruas do mercado. Visávamos a perspectiva das pessoas que convivem com
o lugar e que fazem dele sua morada ou sustento.
“O Jacintinho é movimento, um monte de cores em agitação.”; “Se eu
ficasse rica eu não sairia daqui. Comprava uma casa maior aqui.”; As pessoas
que encontramos por lá compartilhavam esse sentimento: uma explosão de
acontecimentos e um apreço pelo lugar em que vivem, confirmando nossas
expectativas sobre o que se pensava de lá.
Logo em seguida, fomos ao bairro de novo. Com a intenção de registrar o
que acontecia no espaço. Entretanto as fotos estavam documentais demais, um
olhar muito comum. O Jacintinho exigia um olhar mais apurado, um olhar estético,
que mostrasse o que estava por trás do banal através do banal. Retornamos às
suas ruas e procuramos exagerar o que víamos: a interação, as cores, a sujeira, a
confusão, a profusão de vida.
As fotos foram importantes para ampliar o nosso entendimento do
Jacintinho. Sem a experiência de conviver com o bairro, o trabalho seria outro.
Antes de partir para as filmagens, tínhamos concebido um pequeno esboço do
roteiro, uma ideia de como o vídeo deveria ser. Mas o lugar acabou gerando para
si o próprio direcionamento, um próprio ritmo que acabou dando forma ao
trabalho final.
O bêbado cantor que aparece no começo do vídeo simplesmente surgiu na
nossa frente às 6 da manhã, enquanto todos ainda preparavam suas lojas e
barraquinhas. Daí por diante foi como se o bairro estivesse falando como o vídeo
seria desenvolvido. Sentimos o ritmo e esse ritmo nos motivou a procurar outras
formas de arte que também tivessem essa batida, essa evolução. Todas as obras
de arte apresentadas nesse trabalho foram frutos dessas observações.
Mesmo com os problemas técnicos com os programas de edição, o vídeo
foi acontecendo e tomando partido de eventuais problemas na execução. Umas
travadas reforçavam esse frenesi alternado, com umas pausas para respirar, mas
sempre mostrando o que se encontra no Jacintinho. Uma verdadeira reunião de
tudo ao mesmo tempo.
Video Making-Off
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O belo e o feio são estéticos, afinal. Cada qual a sua forma (e cada um em
seu lugar). O apelo estético pode pender para o agradável ou o desagradável.
Transimitir qualquer tipo de sensação. E é nesse pincípio que - provavelmente - a
estética está fundamentada.
A partir do momento que certa coisa provoca alguma reação, ela é estética.
Então, tudo que tem um sentido, uma razão de estar onde está é estético. O que
agrada e o que desagrada. Anima e desanima. Alegra e entristece. Porque não só
de coisas boas é feita a existência, os arredores.
Conclusão
28
Referências Bibliográficas
ECO, Umberto. História da Feiúra. Rio de Janeiro: Record, 2007. ECO, Umberto. História da Beleza. Rio de Janeiro: Record, 2004. MOLES, A. O Kitsch: a arte da felicidade. São Paulo, Ed. Perspectivas, 2001
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