Lentidão do GDF agrava fome

16
C AMPUS Lentidão do GDF agrava fome Conselho para combater a falta de alimentos levou 13 anos para ser formado e é ineciente. Medo de não ter o que comer chega a 70% em famílias como os Pereira Páginas 8 e 9 universidade Segurança precária favorece aumento de furto de carros Página 3 parênteses vida rural [email protected] Ano 38 Edição 332, de 7 a 21 de novembro de 2008 cultura esporte Geografia de Brasília beneficia triatletas, mas não há estrutura Página 7 Flávio Silva Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília Grupos de ópera se esforçam para produzir espetáculos Página 10

description

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília Ano 38 Edição 332, de 7 a 21 de novembro de 2008

Transcript of Lentidão do GDF agrava fome

Page 1: Lentidão do GDF agrava fome

CAMPUS

Lentidão do GDF agrava fomeConselho para combater a falta de alimentos levou 13 anos para ser formado e é

inefi ciente. Medo de não ter o que comer chega a 70% em famílias como os Pereira Páginas 8 e 9

universidade Segurança precária favoreceaumento de furto de carrosPágina 3

parênteses vida rural

[email protected]

Ano 38 Edição 332, de 7 a 21 de novembro de 2008

culturaesporteGeografia de Brasília beneficia triatletas, mas não há estruturaPágina 7

Fláv

io S

ilva

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília

Grupos de ópera se esforçam para produzir espetáculos Página 10

Page 2: Lentidão do GDF agrava fome

editorial2

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

-Expediente-

Campus Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da

Universidade de Brasília

Editora-chefeCaroline Aguiar

Secretária de RedaçãoAmanda Sales

Diretor de ArteBruno Lacerda

EditoresAna Rita Cunha (Parênteses)

Camila Cortopassi (Opinião e Botafora)

Daniela Martins (Esporte e Cultura)Francisco Brasileiro (Universidade)

Mariana Curi (Fotografi a)Max Melo (Cidades)

FotógrafosFlávio Silva, Mariana Curi,

Nádia Medeiros

RepórteresAlex Lima, Ana Luisa Soares,

Felipe Néri, Fernanda Patrocício, Gabriela Abreu, Gisele Novais, Lu-

anne Batista, Marina de Sá, Nathália Mendes, Yvna Sousa

Diagramação

Cristiano Zaia, Fernanda Ros

Projeto Gráfi coAmanda Sales, Ana Luisa Soares,

Flávio Silva, Marina de Sá

Ilustradores Rafael Benjamin, Sharmaine

Caixeta

Professores ResponsáveisMárcia Marques, Rosa Pecorelli e

Solano Nascimento

Técnico de Fotografi aPedro França

Secretário da RedaçãoJosé Luiz Silva

EndereçoCampus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte, Caixa

Postal: 04660CEP: 70910-900

Contato(61) 3307.2464 - [email protected]

Tiragem 4 mil exemplares

Carta do editor

Depois de mostrar, na edição anterior, a história da corretora de imóveis que se tornou bilionária por um dia, o Campus traz a situação daqueles que gostariam de ter apenas uma ínfi ma parte do dinhei-ro que surpreendentemente apareceu na conta da trabalhadora. Preocupado em abrir os olhos do leitor para uma realida-de que nem todos querem ver, o Campus mostra em duas páginas como a burocra-cia inviabiliza políticas públicas para a se-gurança alimentar e acaba fazendo com que pessoas passem fome.

Distanciando-se do centro urbano da capital brasileira, nossa equipe abre Pa-rênteses para mostrar como é a vida dos moradores das áreas rurais do Distrito Federal. A quilômetros de distância do centro do poder, as comunidades conser-vam antigas tradições, criam seu próprio estilo de vida e procuram a prosperidade econômica.

Enquanto a cultura popular cerca Bra-sília, os eruditos tentam cavar um espaço em meio a um terreno bem arenoso. Na matéria Óperas ganham novo fôlego você vai ver como se dá a produção desses es-petáculos na capital e as difi culdades que

produtores e cantores enfrentam. Já os triatletas não podem reclamar das condi-ções físicas que o Planalto Central propicia aos treinos. A matéria Brasília desperdiça triatletas mostra que, apesar dos ventos soprarem a favor, o triathlon ainda não é forte no cenário esportivo candango.

Os alunos da UnB também reclamam da falta de espaço. Apesar dos 3.960.579 m² do campus do Plano Piloto, centros acadêmicos (CAs) são obrigados a invadir salas, corredo-res e até banheiros para conseguir espaço. Mas o que assola a comunidade acadêmica neste momento é a insegurança.

A matéria Cresce furto de carros na UnB motra o aumento no número de cri-mes na Universidade e o que a segurança do campus faz para garantir a integri-dade física dos alunos e do patrimônio. A falta de estrutura e o despreparo dos profissionais são alguns dos motivos pelos quais a UnB não é um lugar se-guro. O eterno empurra-empurra en-tre a segurança do campus e a Polícia Militar também contribui para que os bandidos se sintam em casa.

Caroline Aguiar, editora-chefe

Insegurança por todo ladoMemória

No primeiro semestre de 1990, o Campus se dedicou a mostrar, durante três edições, a onda de estupros que ocorria na UnB. Na edição n° 139, o tema foi destaque de-vido à revolta da comunidade acadêmica. O então reitor, Antônio Ibañez, pediu ajuda ao então governador do Distrito Federal, Wanderley Vallim. No entanto, ele negou, alegando que “a UnB sempre se compor-tou como uma área privada e sobre ela o governo não teria poder”.

Ombudsman*

Ruído nas informaçõesNa última edição do Campus, duas notícias chamaram a aten-ção da coluna. A matéria O cami-nho da desinformação, sobre a reprodução de reportagens sem checagem na mídia, traz uma de-claração atribuída a “uma jorna-lista do Clica”, portal de notícias do Jornal de Brasília. Em mensa-gem encaminhada a esta coluna, Silvia Pacheco afi rmou ser “a úni-ca mulher jornalista da equipe” e não ter sido entrevistada.

Camila Cortopassi, repórter da matéria, disse que ouviu ou-tra pessoa da redação e que, por decisão do professor Solano Nas-cimento, buscou resguardar a identidade da fonte com o uso do termo “uma jornalista do Clica”. Nascimento confi rma a decisão

de usar “jornalista” como concei-to estendido a estagiários, que em maioria estão nos veículos atuan-do como “jornalista, e não como (...) aprendiz”.

Além de precisão na cobertu-ra, o Código de Ética dos Jornalis-tas determina o dever de não se “colocar em risco a integridade das fontes”. A decisão tomada pelo Campus gerou uma informação distorcida, prejudicando indevi-damente a imagem da jornalista do Clica Brasília.

Para fazer a matéria Dou-lhe uma, duas, dou-lhe 27, o repórter Cristiano Zaia consultou fonte que provaria a tese de que a ven-da dos apartamentos da UnB é um mau negócio. Segundo o repórter, especialistas foram procurados,

mas a opinião deles não contri-buía “para a idéia pré-concebida da matéria de apontar o aluguel como alternativa para a UnB não se desfazer do patrimônio ”. Men-sagem de João Carlos Teatini, ex-decano de Administração da UnB, afi rma que quando foi procurado por Zaia havia manifestado sua apreensão ao perceber que “a ma-téria já tinha hipótese e tese bem defi nidas”.

O artigo 7º do Código deixa claro que o jornalista não pode “impedir a manifestação de opi-niões divergentes ou o livre deba-te de idéias”. No caso da matéria citada, o estudante omitiu o ar-gumento de alguns especialistas para dar mais peso à matéria de acordo com sua pré-concepção. A

*A missão do Ombudsman é criticar o jornal com a participação dos leitores. Envie sua crítica para [email protected].

ErramosNa edição 331, o ilustra-

dor do labirinto foi Henri-que Eira e não Teo Horta, como publicado.

prática de editorialização prévia das reportagens é comum a pro-fi ssionais que pretendem encon-trar um “furo de reportagem” a qualquer preço. Contudo, é pre-ciso ressaltar a importância da apuração sem pré-julgamentos que impeçam o debate eqüidis-tante de idéias.

Jairo Faria é aluno do 7º semestre de Jornalismo

Page 3: Lentidão do GDF agrava fome

Em caso de furto ou roubo, ligue:

Segurança na UnB – 3307-2500Posto Policial PMDF – 3307-2870

Emergência Médica da UnB – 3307-2110

3

Cresce furto de carros na UnBuniversidadeCampus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

Flávio Silva

Enquanto furtos de carros diminuíram no DF, UnB sofre com aumento de casos. Segurança do campus e PM não se entendem

Gabriela Abreu

Foram 23 ocorrências até setembro, contra 13 em todo o ano de 2007. Prefeitura da Universidade e PM trocam críticas, enquanto novo reitor promete mudanças

O ano de 2008 ainda não termi-nou e o número de furtos de ve-ículos no campus Darcy Ribeiro já aumentou 77% em relação a 2007. Números ofi ciais da Coor-denadoria de Proteção ao Patri-mônio (CoPP), unidade da pre-feitura que zela pela segurança na Universidade, mostram que, de janeiro a setembro deste ano, houve 23 ocorrências des-se tipo. Em todo o ano passado, foram 13 furtos de veículos. O aumento contrasta com o que houve no restante do Distrito Federal, que no mesmo período registrou uma queda de 10,6% no volume desse delito.

Os locais mais visados pe-los criminosos na UnB são os estacionamentos do Instituto Central de Ciências (ICC), prin-cipalmente entre 18h e 20h. Para a aluna do 9º semestre de Jornalismo Thaíse Monteiro, a UnB dá uma idéia de falsa se-gurança. “Se eu fosse bandido, eu iria com certeza atuar na UnB, é um prato cheio.” Thaíse teve seu carro roubado no esta-cionamento da entrada da Ala Norte do ICC, no início de outubro. “Quando vi que roubaram meu carro, fui à se-gurança e avisei. Chamaram a cen-tral, pegaram meus dados e me levaram à delegacia. Que mais eles poderiam fazer?”, conta.

É função da prefeitura zelar pelo patrimônio da UnB e fi sca-lizar as áreas internas do campus Darcy Ribeiro. Há dez veículos (sete carros e quatro motos) para a segurança, mas sete estão que-brados. O patrulhamento da Uni-versidade é feito diariamente, 24 horas por dia, mas, segundo José Reis Lacerda, coordenador da CoPP, na prática os veículos aca-bam sendo usados para dar caro-

nas a quem esteja passando mal ou a algum professor que esteja sendo ameaçado. “Todo dia a pa-trulha é interrompida”, afi rma.

De acordo com Lacerda, não há muito que fa-zer quando um criminoso é fl a-grado. “A gente não tem estrutu-ra para enfrentar um bandido”, diz.

“Quando a gente vê um ladrão atuando, a gente chama os po-liciais. Quando eles chegam, o bandido já foi embora”.

A Universidade possuía um convênio com a PM que garan-tia o patrulhamento do campus. O acordo acabou em 2002 e não há previsão de renovação. En-tretanto, segundo o tenente Ge-rônimo Araújo, comandante da companhia da PM instalada no campus, mesmo sem a parce-ria, as patrulhas ainda são feitas diariamente. Lacerda discorda:

“Nunca tem patrulha. Nas ocor-rências, não temos apoio da PM. Falta entrosamento”.

O tenente Gerônimo acredi-ta que medidas administrativas podem ser tomadas pela prefei-tura para diminuir o risco em determinadas áreas. “É preciso aumentar a iluminação, cortar o mato, tirar entulho, cercar lo-cais abandonados, como aquela obra da Faculdade de Adminis-tração”, explica.

Para Lacerda, o ideal seria que houvesse ao menos mil se-guranças monitorando a Uni-versidade. A UnB possui 512 funcionários nessa área, 126 deles concursados. O último concurso público para seguran-ça foi realizado em 1992 e des-de então os funcionários con-tratados são terceirizados, mas a prefeitura só agora começa a checar se estes últimos pos-suem curso para vigilantes.

A UnB estima que hoje cir-

“Nas ocorrências, não

temos apoio da PM.”

José Reis Lacerda, da

prefeitura da UnB

culem 35 mil automóveis no campus. Com o Programa de Apoio a Planos de Reestrutu-ração e Expansão das Univer-sidades Federais (Reuni), a previsão é que 45 mil alunos ingressem na Universidade até 2012. “Quando fi zeram planos para aumentar o núme-ro de alunos, não pensaram na segurança”, afi rma Lacerda. Ele acredita que a solução seria, além da contratação de novos funcionários qualifica-dos, a instalação de câmeras nos campi. “A UnB precisa urgentemente fazer um pla-no de segurança eletrônica. Do contrário, isso aqui vai ferver”, afirma.

P r o c u r a d o pelo Campus, o novo reitor, José Geraldo, se mos-trou ciente da necessidade de aprimorar a se-

gurança. “Nas visitas e nas con-versas com os servidores da área, nos demos conta da precarieda-de das instalações”, afi rma. Ele pretende reequipar a segurança e investir na valorização e capa-citação dos funcionários da área.

Na noite de 3 de novembro, houve uma ocorrência mais grave que furto de veículo. Uma estudante foi abordada quando estava estacionando seu carro próximo ao prédio da Faculdade de Estudos So-ciais Aplicados. Ficou duas horas em poder dos crimino-sos e só foi liberada em So-bradinho, depois de sacar R$ 1 mil de caixas eletrônicos.

Page 4: Lentidão do GDF agrava fome

Falta espaço para os CAsCentros Acadêmicos funcionam em áreas pequenas e improvisadas. Locais sãoutilizados por alunos para divertimento e realização de reuniões e debates

A falta de salas obrigou os alunos de Arquivologia e Biblioteconomia a improvisarem um espaço para o CA

Fernanda PatrocínioAlunos dos cursos de Biblio-teconomia e Arquivologia fre-qüentam o mesmo centro aca-dêmico, que foi improvisado num vão entre paredes e fecha-do com um tapume de madeira. No próximo ano, esse espaço ainda deverá ser compartilhado com estudantes do novo curso de Museologia. “É complica-do porque nosso CA é muito pequeno e atrapalha as aulas por causa da sua localização’’, lamenta Isadora Freire, repre-sentante do CA.

O problema se repete em outros cursos. São freqüentes queixas de integrantes de cen-tros acadêmicos e outros alunos a respeito da es-cassez ou falta de espaço para fun-cionamento dos CAs, que servem para estudantes trocar idéias, re-laxar, fazer reu-niões, discutir e até jogar uma partida de truco entre uma aula e outra. Quando tentam conse-guir uma ampliação das áreas que ocupam, integrantes de CAs têm difi culdades para decidir a quem recorrer.

O Centro de Planejamen-to Oscar Niemeyer (Ceplan), responsável pela estrutura de prédios da UnB, não tem entre suas atribuições a reserva de espaço para CAs. “O planeja-mento do prédio é feito junto à direção do instituto”, explica a arquiteta do Ceplan Sônia Al-meida. “Quem define o que vai ter ou não é a própria institui-ção.” A Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA) é respon-sável pelo repasse de material para os CAs, mas não pela li-beração de espaços, como ex-plica a diretora, Glória Reis. Ela reforça a idéia de que fa-culdades, institutos e depar-tamentos são os encarrega-dos de cuidar desse assunto.

No caso dos cursos de Bi-blioteconomia e Arquivologia, o departamento demonstra boa vontade, mas pouca autonomia para resolver o problema da falta de espaço para o centro acadêmico. “Sei que o CA aqui é bem improvisado, mas real-mente não tem outro local”, diz a diretora do departamento dos dois cursos, Elmira Simeão. “Te-mos apenas seis salas de aula para alunos de dois cursos.” Ela diz que o problema só pode ser resolvido com a construção de um novo prédio, e explica que há tentativas para fazer isso.

Foi justamente por conta da previsão de um novo pré-dio para Ciência Política que o Centro Acadêmico do curso

se mobilizou em busca de um es-paço melhor para o CA. Depois de uma negociação com o instituto, os alunos conse-guiram um espa-

ço de 20m². “É pouco”, reclama Rafael Holanda, representante do CA. “As pessoas esquecem que estes lugares fazem parte da vivência na universidade e devem ser valorizados. São im-portantes espaços políticos.”

Os alunos de Química tam-bém contarão com um prédio novo, o que não garante um es-paço maior para o CA. É o que conta Renato Lauriano, do CA de Química: “No novo local tería-mos que dividir um espaço que é menor do que o atual, com o PET (Programa de Educação Tutorial) da Química. Preferimos fi car por aqui mesmo”.

Já os alunos de Psicologia foram obrigados, em 2007, a sair do CA que já possuíam para dar lugar à Secretaria de Pós-Graduação do Curso. Eles conseguiram outro espaço, só que menor que o anterior. Cláudio Teodoro, represen-tante do Centro Acadêmico de Química, diz que o novo lugar

“é muito apertado e quente”, o que compromete as atividades que realizam.

Integrantes do Centro Acadê-mico de Engenharia de Redes resolveram usar a criatividade para lutar por um espaço no superlotado prédio da Faculdade de Tecnologia. Primeiro, usaram

“Fizemos um barraco

e colocamos a placa

do CARedes”

Roberto Mascarenhas

Marian

a Curi

o material de uma obra para fa-zer uma barraca, na qual coloca-ram uma placa com a inscrição “CaRedes”. Depois, mudaram a ‘sede’ do CA para o banheiro feminino. “Aqui não há muitas mulheres mesmo”, diz Roberto Mascarenhas, representante da gestão passada do Centro Acadê-

mico de Engenharia de Redes.As brincadeiras foram uma

maneira de chamar atenção para uma questão mais séria. “Nosso CA é um espaço cedido pelos pro-fessores do Laboratório de Enge-nharia de Redes”, afi rma Masca-renhas. “É muito pequeno e quase não dá para fazer reuniões.”

w

universidade4

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

Page 5: Lentidão do GDF agrava fome

universidade

Solidariedade em mililitrosCampanha para cadastro no banco de medula óssea mobiliza a UnB em bus-ca de doadores para pacientes com leucemia, como o estudante Bruno Bukvic

Nathália Mendes

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

“Não sei o que esperar do

futuro. A felicidade tem

que ser agora”

Bruno Bukvic

Voluntários da Universidade de Brasília (UnB) passaram a manhã do dia 30 de outubro bus-cando vida e esperança em seu próprio sangue. Um total de 543 pessoas aderiu à campanha iné-dita para cadastro voluntário de doadores de medula óssea para pacientes com leucemia, como Bruno Bukvic, que precisou tran-car os estudos na UnB por causa da doença. “Você pensa que é um atestado de morte, mas, na ver-dade, tem cura”, ressalta ele.

A ação foi coordenada pela Fundação Hemocentro de Bra-sília e pelo Decanato de Assun-tos Comunitários (DAC) e idea-lizada por amigos de Bukvic. A estudante de Biblioteconomia Jaqueline Mendonça chegou quando os quatro postos de cole-ta de sangue ainda estavam sen-

do montados no ICC Sul. Ela fez questão de ser a primeira volun-tária cadastrada na UnB. “Ações como essa são muito importan-tes para conscientizar o jovem”, acredita. Kelly Fermino, enfer-meira responsável pela coleta, reforça que a presença do jovem nos bancos de doação é ideal. “Os jovens podem fi car cadastrados por muito tempo, até atingirem a idade-limite”, aponta.

Mesmo tendo trancado seu curso, Rafael Moreira voltou à UnB para participar da ação. “Re-cebi um e-mail avisando e resol-vi vir. É um gesto importante e ajuda a salvar a vida de alguém.” Moreira foi o centésimo doador cadastrado. Juliana Andrade, que cursa Ciência Política, foi a 300ª pessoa a se cadastrar. Para ela, tornar-se doadora era natural. A estudante possui uma família sensível à causa. “Minha mãe já

doou medula óssea. Quero seguir o exemplo dela”, afi rma.

Para a decana de Assuntos Comunitários, Dóris Naves, este gesto relaciona a comunidade UnB com a sociedade. “Temos um enorme potencial humano aqui dentro”, assegura. Isso foi constatado por uma estudante que assistiu à movimentação de quem abriu mão do intervalo en-tre aulas para ajudar. “A UnB tem um povo muito solidário, acho isso massa”, disse ela.

Busca difícilO segundo semestre de 2008

seria o décimo e último na UnB para Bruno Bukvic. Faltava ape-nas entregar o projeto fi nal para ele se tornar engenheiro mecâni-co. O diagnóstico pesou na vida do universitário, e agora a prio-ridade é a cura total. “Não sei o que esperar do futuro, parei de

5

Neste tubo podem estar genes compatíveis com os de pacientes com leucemia, como Bukvic (esq.)

me preocupar com isso”, diz. “A felicidade tem que ser agora.”

Célia Yamagushi, da Cen-tral de Notifi cação, Captação e Distribuição de Órgãos no Dis-trito Federal, conta que antes da campanha de Bukvic 50 vo-luntários eram cadastrados por semana. “Hoje, esse número subiu para 300”, festeja.

No Brasil, existem 900 pa-cientes esperando por trans-plante de me-dula óssea. O Registro Brasi-leiro de Doado-res Voluntários de Medula Ós-sea (Redome) conta com 822 mil pessoas ca-dastradas. As chances, no en-tanto, de encontrar um doador compatível é uma em 100 mil.

O ponto de partida é a coleta de sangue para que sejam feitos os testes de tipagem do código genético. Se houver algum re-ceptor compatível, o voluntário faz os exames necessários à do-ação. Somente 10% da medula óssea são extraídos da bacia do

doador, que se regenera rapida-mente. Para a doação basta que o candidato tenha entre 18 e 55 anos e goze de boa saúde.

As amostras coletadas no dia 30 foram levadas para análise. Independente do resultado, uma nova campanha foi marcada para o dia 11 de novembro. Bukvic re-jeita a idéia de que a campanha seja somente em prol dele mes-mo. “Eu não quero que ninguém

esteja aqui por minha causa. Quero que es-tejam aqui para aumentar o ban-co e ajudar mui-tas pessoas”, res-

salta. Ele afirma que cedeu sua imagem à campanha para que a causa se tornasse pal-pável e sensibilizasse o máxi-mo de pessoas possível.

A preocupação de Bruno Bukvic é evidenciada até mesmo quando ele descobre o tipo san-guíneo da repórter do Campus. “Você é O negativo? Tem que doar, seu sangue é muito raro e muita gente precisa”, incentiva.

Foto

s: Marian

a Curi

Page 6: Lentidão do GDF agrava fome

esporte

Jogos internos não empolgamCom menos esportes e pouca divulgação, os JIUnB’s de 2008 não chamaram a atenção da maioria dos alunos. Atlética da UnB tenta fortalecer a competição

Yvna Sousa

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

“A gente preferiu fazer algo

menor e mais organizado”

Filipe Fonseca, vice-presidente

da Atlética da UnB

Desde o início de outubro e até o dia 6 de dezembro, 128 times e dois mil alunos participam dos Jogos Internos da Universidade de Brasília (JIUnB´s), que este ano passou despercebido por muita gente e se dividiu em ape-nas seis modalidades esportivas. Para uma atividade que chegou a reunir mais de quatro mil alu-nos em 20 modalidades, não se trata de um grande resultado.

Segundo Filipe Fonseca, orga-nizador-geral do evento e vice-presidente da Associação Atlética de Alunos da UnB – responsável pela promoção de atividades desportivas na universidade – a desorganização da entidade é um dos principais motivos para o enfraquecimento dos jogos. “A Atlética está sem estrutura, não tem diretoria organizada, está caída. Tudo acaba nas costas de dois ou três”, desabafa. Assim, nesta versão mais compacta da competição, só participam fut-sal, basquete, vôlei, handebol, atletismo e vôlei de areia.

“A gente preferiu fazer algo menor e mais organizado, mes-mo que as pessoas reclamem”, explica Fonseca. A experiência de 2006, por exemplo, mostrou que é melhor diminuir o ta-manho do que desorganizar. A idéia era reu-nir 26 moda-lidades, entre elas, algumas menos tradicionais como kart, escalada, e aquatlon (natação e corrida). Ao fim, só foram disputados 20 esportes. Em 2007, tentou-se repetir o número, mas novamente por falta de planejamento, houve somente 12 modalidades. Outro problema é o calendário dos jogos, que se estende por um longo período: os estudantes simplesmente se esquecem de

acompanhar as equipes. “A gen-te até assiste a um ou outro no começo, mas nem fi ca saben-do dos últimos jogos, porque é tudo muito espalhado”, recla-ma Izabela Soares, do 5º semes-tre de Letras. Izabela nem sabia que os jogos deste ano tinham começado e sugere que, nos próximos anos, a UnB dê mais apoio e suspenda as aulas por uma semana para aumentar a participação dos alunos. “Isso acontece em outras universida-des”, afi rma.

Marcos Paulo Silva, repre-sentante do Centro Acadêmico (CA) de Desenho Industrial, fi -cou sabendo do JIUnB’s por um amigo que faz Educação Físi-ca. “Tem um pessoal que joga futebol toda sexta-feira e com certeza gostaria de participar”, lamenta Marcos Paulo, expli-cando que eles só tomaram co-nhecimento dois dias antes do prazo fi nal das inscrições. Por isso, o curso não conseguiu ins-crever times na competição.

Apesar da baixa participação dos estudantes, Filipe Fonseca acredita que ainda vale a pena promover os jogos. “O JIUnB’s foi mal-organizado no passado, mas nunca vai deixar de ser po-pular”, garante Filipe.

De fato, os jogos certa-mente fariam falta aos alu-nos de Bio-logia, Direito e Estatística,

que mantêm times masculinos e femininos em todos os esportes disputados. João Teléforo Me-deiros, do Centro Acadêmico de Direito, diz que o CA incentiva a participação dos estudantes. “Nós divulgamos, colocamos no mural uma lista para que as pes-soas escrevam seus nomes nos times”, ensina ele. Além disso, o CA paga a inscrição dos times, que custa de R$ 80 a R$ 100.

No ano passado, o curso de Biologia ganhou o prêmio de cam-peão geral (dado a quem teve bom desempenho no maior número de esportes) e é o favorito ao título novamente. “Não somos uma po-tência, mas pontuamos em todos os esportes. A gente mantém a re-gularidade”, garante Phúblio Sil-va, do 6º semestre.

As eleições para a Associação Atlética de Alunos da Universida-de de Brasília só vão acontecer em 2009 e, até lá, Filipe Fonseca pensa em promover uma reestru-turação da entidade, com a ajuda da Diretoria de Esporte, Arte e Cultura da UnB (DEA). “A gente está tentando bolsa para quem é da diretoria, porque fi ca compli-cado cobrar de alguém que não ganha nada para ajudar”, explica o aluno de Estatística. A Atlética também tenta recuperar sua sala no Centro Olímpico.

6

A 7ª etapa do Campeonato

Brasiliense de Futevôlei masculino aconteceu no início

deste mês, no Parque

Page 7: Lentidão do GDF agrava fome

parê

nte

ses

Ed

ição

332

-A

Supl

emen

to d

o J

orn

al C

ampu

s D

e 7

a 21

de

nov

embr

o d

e 20

08

Alma do campo

Page 8: Lentidão do GDF agrava fome

“O sertão é do tamanho do mundo” anunciou Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. No DF, o “sertão” tem 3 mil km² com 90 mil habitantes. São centenas de comu-nidades rurais que antecedem a construção da capital. Nesta edição, o Parênteses se aventura pela DF 205, que corta a área norte da zona rural, e traz personagens intrigantes que representam a riqueza de uma região tão próxima e tão distante do ritmo metropolitano de Brasília.

2

terras, ou

“Quem faz os sapatos somos nós. Quem faz os carros e os metrôs somos nós. Então somos nós que devemos go-vernar este país.” O discurso, ouvido pelo rádio durante o programa A voz do Brasil, parecia distante da vida da-quele homem que sempre morara no campo. Nunca fizera sapato, carro ou metrô. Mas foi a manifestação do então líder sindical e atual presidente do Bra-sil que despertou o interesse de Mo-desto Pereira pela política.Eram meados da década de 1980, quando o morador da comunidade ru-

ral Palmeiras, a 65 km do centro de Brasília, começou a ouvir Lula e sentir a veia socialista. Aos 50 anos, Modesto é presidente da Associação de Produtores de Palmeiras desde 1995.Palmeiras possui cerca de 40 famílias. Os homens, em geral,trabalham em fazendas próximas e a maioria das mulheres é

empregada doméstica na zona urbana. Boa parte dos moradores vive como pos-seiros. É por isso que uma das tarefas de Modesto é buscar a desapropriação de uma área de 500 hec-tares. O objetivo da luta é ajudar as famílias carentes e incentivar a comunidade a voltar a produzir.

Em um pequeno ter-reno, Modesto vive com a esposa e três filhos. A casa fica no local onde fora construída a choupana de taipa que abrigava os avós, no final do século XIX. Na-quele tempo, a comunida-

de pertencia ao município de Planaltina de Goiás.

Quanto aos filhos meno-res, o líder comunitário não tem dúvidas de que aquele é o melhor lugar para eles viverem. O problema são as dificuldades enfrenta-das pelas escolas da zona rural. “Querem fechar o colégio local por falta de demanda, enquanto as es-colas urbanas estão todas

inchadas. Por que não in-verter as posições: trazer os meninos da cidade pra estudar aqui?”

Se para alguns a proposta é uma ilusão, para Modes-to significa mais um passo diante das 17 conquistas da Associação de Produtores de Palmeiras, que ele guar-da digitadas em um papel. As estradas da comunidade foram abertas, diferente do tempo em que se caminhava três horas e meia da BR 020 até lá. Além disso, o trans-porte público melhorou e fo-ram colocados energia elétri-ca e pontos de ônibus.

No carro de boiDe Palmeiras, seguin-

do no sentido oeste da DF 205,chega-se à comunida-de Ribeirão, em Sobradi-nho. É de lá que Valdemar da Silva, 64 anos, guarda a lembrança do pai dizendo: “Meus filhos, vai vir uma capital pra cá. Vocês não vendam isso, não”. Hoje é o único dos oito irmãos que permaneceu na fazen-

Modesto sonha na Associação, Valdemar enxerga beleza noquintal. Entre dificuldades econômicas, moradores

“Por que não trazer os meninos da cidade pra trabalhar aqui?”

Modesto Pereira, líder comunitário

“Acho bonito de-mais ver os bichos comendo.Dizem que cada doido tem a sua mania”,brinca Valdemar da Silva

Fláv

io S

ilva

Outras

Page 9: Lentidão do GDF agrava fome

3

utros

da herdada da família. É um dos primeiros morado-res da região.

“Fico aqui pela lembrança que tenho de tudo, dos meus pais. É aqui que eu pretendo continuar morando”, afirma o senhor que chegou à fa-zenda aos três anos de ida-de, vindo de Catalão, no sul de Goiás. Na época, ainda se gastava quatro dias de viagem no carro de boi para ir a Planaltina. Junto com a esposa e um dos cinco fi-lhos, forma uma das 17 famí-lias que atualmente vivem na comunidade de Ribeirão. Um pequeno comércio, 100 galinhas e 120 cabeças de gado são mantidos pelos três. “Ninguém mais por aqui quer mexer com esses serviços”, lamenta o produ-tor rural.

Mesmo com a criação de animais, a fazenda não é mais capaz de gerar lucros. Diariamente, as vacas pro-duzem 90 litros de leite, que são vendidos para uma em-presa de laticínios. No entan-to, por conta do gasto com alimentação e tratamento do gado em período de seca, Modesto afirma que a venda do leite só serve para ajudar a manter os animais.

Valdemar tem cerca de R$ 1,6 milhão em proprie-

dades rurais e urbanas. Todo esse dinheiro não permite um avanço da produção. Em 2006, Valdemar investiu R$ 40 mil na criação de frango, mas fracassou por falta de financiamento do banco. Coracir Silva, esposa de Valde-mar, não acredita que valha a pena en-frentar essas dificuldades. “Queria sair daqui. A roça dá trabalho e chega uma idade que não dá mais”, ref lete.

Passava das cinco horas quando Valde-mar chegou com o gado que fora buscar na estrada de volta para o curral. “Acho bonito demais ver os bichos comendo. Pra mim, é um prazer cuidar da vaca. Di-zem que cada doido tem a sua mania...”. Ele ga-rante: “Já aprendi a viver aqui. Mas fácil, não é?”

Os doces de Dona Josa

À direita de Ribeirão, a pouco mais de 20km da Fercal, está a colônia agrí-cola de Catingueiro. Com apenas uma escola de 1ª à 4ª série, um posto de saúde e cerca de 300 moradores espa-lhados em 44 propriedades, a região utiliza a maior parte das terras para cria-ção de gado, 530 dos 1.211 hectares.

Dona Josa, como é conhecida Josina Cardozo, vai em direção contrária. Bi-cho não é o forte daquela casa onde as prateleiras são cheias de potes colori-dos de doce e o quintal tem árvores de diversas frutas. Junto com o marido, a aposentada de 68 anos consegue cer-ca de R$ 200 por mês com a venda de frutas e doces na feira de Sobradinho

Todos os domingos, o casal se levanta às 3h30 da manhã, arruma frutas e quei-

os bichos e Dona Josa faz doce no cultivam os encantos do campo

Na década de 50, Valdemar viajava por oito dias com o pai para trocar mercadorias em Planaltina

jos em caixas, e segue rumo à feira. Maior cuidado, no entanto, Dona Josa dedica ao enfileirar os doces de leite, de banana, de caju, todos feitos no fogão à lenha.

Ela se orgulha por ter fundado a primeira agroindústria fa-miliar do Distrito Federal. Dona Josa conta que na época, em 1995, o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural em-prestou R$ 4 mil para que ela desse início à pequena fábrica de doces. “A primeira coisa que eu fiz foi construir a agroindústria aqui atrás de casa. Com um restinho do dinheiro ainda deu para comprar as máquinas e os equipamentos”, diz Dona Josa.

A iniciativa foi tão bem aceita que, no mesmo ano da inau-guração, ela foi convidada, pelo governo do Distrito Federal, a participar de uma feira de exposição na Alemanha. Dona Josa, no entanto, não conseguiu arcar com as despesas pro-venientes da agroindústria. “Eram muitos impostos e acabou não compensando”, afirma. Hoje, ela continua usando as instalações da pequena fábrica para fazer os doces, agora, em menor quantidade, mas não com menor aceitação por parte dos consumidores.

Dona Josa faz sucesso com doces, mas ganha apenas R$ 200 por mês na feira

Gisele Novais

Felipe Néri

Flávio Silvasonhos

Page 10: Lentidão do GDF agrava fome

4

divina

Não muito distante da capital, comunidades rurais organizam a tradicional Folia do Divino, que reúne jovens, velhos, lenços vermelhos e a dança da catira

A 38 km de Bra-sília, ao no-roeste de So-bradinho, na comunidade

Córrego do Ouro, está a chácara do casal aposen-tado Almerindo Felipe dos Santos, 78, e Teodora Fran-cisca dos Santos, 78. Eles chegaram à região nos anos 60, empurrados pela seca da Bahia. Hoje, têm 11 filhos, casa cheirando a caju e são conhecidos nas redonde-zas pela presença na tradi-cional festa da região: a Fo-lia do Divino Espírito Santo.

A Folia é uma festa cató-lica para pagar promessas, típica do Centro-Oeste. Nela um grupo de pesso-as, os foliões, viaja a ca-valo de cidade em cida-de, o chamado giro. Eles cantam, dançam, rezam e carregam a bandeira do Divino. A comemoração pode durar até 10 dias se-guidos e acontece pelo menos três vezes ao ano. As casas que recebem os participantes são conheci-das como os pousos e tem

uma cruz branca enfeita-da com f lores, o cruzeiro.

Almerindo participou de Folias em Barreiras, Brazlândia e Planaltina, nessa última por 20 anos seguidos. Sempre com a função de regente, uma espécie de guardião da festa, ganhou troféus e medalhas. Ele se orgulha de sua função nas festas:-Eu sempre gostei de or-ganizar a folia. Ver se ti-nha folião namorando.-E não pode namorar na folia?-Não. Nem levar mulher na garupa do cavalo, sujeito a pagar uma multa e ficar ajoe-lhado em frente ao cruzeiro.

O aposentado já passou semanas fora, junto com o cavalo Hollywood, compra-do especialmente para girar folia. Dona Teodora prefere ficar em casa à espera do marido. “Eu nunca me im-portei que ele ficasse dias longe porque eu sei que é o que ele gosta”, diz. Ela foi apenas a uma folia, mas duas vezes a casa foi pouso.

Apesar de não participar mais do giro completo por causa da idade, Almerindo ainda acompanha os foliões nos pousos. Segundo ele, hoje a festa anda um pouco distante do propósito ini-cial, mas ainda consegue proporcionar bons frutos

aos que participam dela. “A melhor coisa que exis-te no mundo é a amizade e isso é tradição até hoje.”

A última folia foi no iní-cio de setembro. A Alvo-rada, abertura da festa, na qual todos são abençoa-dos, foi na comu-nidade Boa Vista, no dia três. Dois dias depois, cer-ca de 1.500 pes-soas, incluindo foliões de Brazlândia, Planaltina do DF, Planaltina de Goiás e Formosa, se acomoda-vam em Córrego do Ouro, na residência da dona de casa Ivonete Francisca Pedrina dos Santos, 52.

No pouso, enquanto al-guns foliões dormem, os ou-tros passam a noite ao som dos violeiros e dos caixeiros (tocadores de percussão), pulando a catira, dança tí-pica da região. De acordo com a tradição, o dono da

casa é quem fornece o jan-tar e as bebidas. Somente no pouso da casa de Ivone-te foram consumidos mais de 45 kg de arroz, além de uma vaca inteira. “Cada folião doa o que pode: um dá o feijão, outro, o açú-

car e assim todo mundo sai satisfeito”, ela explica.

Uma das filhas de Ivo-nete, a estudante Adirlene Pedrina dos Santos Feirão, 21, participa de folias des-de pequena. Sempre que pode, ela freqüenta festa em

outras comunida-des. “Os amigos se juntam, paga-mos uma carre-ta para levar os

cavalos e vamos”, conta. Adirlene, junto com outras 17 garotas, integra o grupo As Favoritas da Catira, fazendo apresentações em festas e shows na região. “Se você girar uma vez na folia, você quer girar todo ano”, garante.

“Se você girar uma vez, vai querer girar todo ano”

Adilerne Pedrina, estudante

festa Gisele Novais

Almerindo e o cavalo Hollywood, companheiros de mais de 20 anos de folia

Marian

a Curi

Page 11: Lentidão do GDF agrava fome

esporte

Brasília desperdiça triatletasCondições favoráveis podem transformar a cidade na capital nacional dotriathlon. Esportistas reivindicam incentivo fi nanceiro e estrutura para treinar

Ana Luisa Soares

Nád

ia Med

eiros

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

As condições climáticas e ur-banísticas de Brasília são ideais para atletas que sonham em tornar-se profi ssionais do tria-thlon, uma modalidade esporti-va que reúne corrida, ciclismo e natação em provas sem interva-los. Apesar de formar triatletas reconhecidos mundialmente, como Mariana Ohata e Leandro Macedo, a cidade possui ape-nas quatro grandes equipes que treinam o esporte.

Atletas e treinadores elegem Brasília como um dos melhores locais para praticar o triathlon no país. As ruas largas benefi -ciam os corredores já que, na maioria das vezes, o asfalto das vias de alta velocidade onde os ciclistas também pedalam está em bom estado de conservação. Além disso, o lago Paranoá, que banha a cidade, é outra vanta-gem para os nadadores. Por ser mais denso do que o mar, o lago exige mais e o desempenho dos atletas tende a ser maior.

João Carlos de Almeida, pra-ticante do esporte há 20 anos, atualmente é treinador da equi-pe Zero Meia Um. Para ele, a predominância do clima seco grande parte do ano é o maior atrativo para triatletas. “Por ser um esporte outdoor, a época de seca é muito tranqüila para se treinar triathlon”, garante Al-meida.

As vantagens climáticas, no

entanto, são esquecidas quando os triatletas começam a treinar nas ruas de Brasília. Apesar de as vias serem consideravel-mente largas, os treinadores reclamam da falta de respeito no trânsito da cidade. “Os moto-ristas pensam que estamos pas-seando nas ruas”, reclama Al-meida. “Eu recomendo para os atletas só pedalarem e correrem em equipe, pois é mais fácil ser notado quando se está em grupo e não treinando sozinho.”

Uma solução seria construir

7

O triatleta Leandro Barbosa (dir.) treina equipe no Iate Clube. Atletas reclamam da falta de patrocínio

ciclovias. No entanto, essa pro-messa está longe de ser cumpri-da. Rayana Bezerra, professora de triathlon infantil no Iate Clu-be, só treina nas pistas de alta velocidade, como Eixão e L4. “O governo poderia começar melhorando os acostamentos”, sugere Rayana.

Outra possibilidade seria praticar as modalidades de cor-rida e ciclismo em lugares re-servados para esses esportes. Os corredores podem usufruir dos parques e até mesmo do autódromo Nelson Piquet pelas manhãs. Mas os ciclistas ainda esperam do governo uma pista de ciclismo de qualidade.

O velódromo, localizado no Complexo Esportivo Mané Garrincha, tem cercas enfer-rujadas e a pista está em más condições. As obras de reestru-turação prometidas em 2007 pela Secretaria de Esportes e Lazer do Distrito Federal (SEL) não foram realizadas, e a asses-

O triathlon é um esporte recente, se comparado ao atletismo e tiro ao alvo. Surgiu na década de 70, quando o clube americano de atletismo San Diego Track Club começou a fazer treinamentos que integravam ciclismo e natação. Sete anos depois, uma aposta no bairro de Waikiki, em Honolulu, capital do Havaí, pretendia reconhecer o maior atleta de todos ao propor um desaf io de nado, corrida e ciclismo. A primeira competição of icial de Triathlon deno-minada Iron Man – ou Homem de Ferro - foi realizada no Havaí, em 1978. O vencedor? O atleta amador e motorista de táxi Gordon Haller.

O surgimento do esporte

soria da Secretaria ainda não têm previsão para o início das reformas na pista.

Representação brasilienseO triathlon só foi introduzido

como modalidade olímpica nos Jogos de Sydney, em 2000. Des-de a primeira Olimpíada em que o país competiu na modalidade, Brasília tem uma representan-te, a triatleta Mariana Ohata. Na primeira participação, em Sydney, ela não completou a prova. Em Atenas, fi cou na 37ª colocação. Este ano, apesar de alcançar somente o 39º lugar, a triatleta foi a única brasileira a conseguir uma vaga para os jo-gos de Pequim.

O exemplo de Mariana con-tagia outros esportistas. Le-andro de Souza é treinador de triathlon no Iate Clube. Duran-te a apuração desta matéria, o atleta ainda comemorava os títulos recém-conquistados: a Copa Pedacinho e o Campeo-

nato Brasiliense. Souza acredi-ta que Brasília tem tudo para ser a capital do triathlon. “Mas, com a federação quase parada e pouco patrocínio, não tem quem agüente”, critica.

Souza fala da Federação Bra-siliense de Triathlon (FBTri), que busca se reerguer depois de um período de difi culdades fi nanceiras. Para participar de competições nacionais, os atle-tas profi ssionais precisam se fi liar à federação. Dos 1.273 atletas profi ssionais registra-dos, 81 representam o Distrito Federal.

Segundo Eliete Araújo, pre-sidente da FBTri, os atletas precisam se cadastrar para in-centivar o esporte. “Só pode-mos trazer competições para Brasília se tivermos o dinheiro da fi liação”, revela Eliete. O treinador João Carlos de Almei-da não acredita que a situação possa mudar. “Eu já desisti há muitos anos.”

Page 12: Lentidão do GDF agrava fome

Marina de Sá

w

cidades

Burocracia que esvazia o pratoColegiado do GDF responsável pelo combate à fome demora mais de dez anos para funcionar. Falta estrutura e as reuniões dos conselheiros são escassas

8

Ivanilde Gomes: “Eu nem sei se a gente vai jantar hoje. Ninguém ajudou”

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

A situação do Conselho de Se-gurança Alimentar e Nutricio-nal do Distrito Federal (Consea-DF) não satisfaz quem precisa. Apesar de ter sido criado de maneira formal há 13 anos, o órgão que deveria ter um pa-pel fundamental no combate à fome ainda não funciona de for-ma efetiva.

A legislação atribui ao Con-sea-DF a missão de propor as diretrizes gerais do Programa de Segurança Alimentar e Nu-tricional do Governo do Distrito Federal. Dividido em 12 fren-tes, esse objetivo inclui a elabo-ração de um plano de combate à fome e outras ações a serem implementadas pelo Governo do Distrito Federal para ameni-zar a falta de alimentos à mesa de moradores do DF.

O Consea-DF foi criado no papel em 1995. Três anos depois, foi extinto e recriado apenas em 2003, no segundo mandato con-secutivo do g o v e r n a d o r Joaquim Ro-riz (PMDB). Um estudo do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (Opsan) da UnB conclui que entre 2003 e 2006 o Consea-DF “não exer-ceu uma das suas principais atribuições enquanto conselho: controle democrático sobre os programas sociais relacionados à segurança alimentar”.

Como grande parte do con-selho é composto por secretários de governo e pelo governador, na mudança de gestão do GDF, em janeiro de 2007, os mem-bros do Consea-DF deixaram o conselho. Em março de 2007, o governador José Roberto Arruda (DEM) nomeou novos integran-tes para o colegiado.

O órgão é presidido pelo go-vernador e composto por nove

secretários de governo, além do diretor do Banco de Brasília (BRB), do presidente da Compa-nhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), de um representante da Câmara Legislativa e até 24 representan-tes da sociedade civil. A primeira reunião do grupo só ocorreu em 2008, depois de um ano da no-meação. Até hoje, houve apenas cinco encontros, como confi rma a Secretaria de Desenvolvimen-to Social e Transferência de Ren-da do DF (Sedest).

Além de se reunir pouco, o conselho está incompleto. A re-gulamentação do Consea-DF prevê o funcionamento de até três câmaras temáticas, mas essa estrutura ainda não existe. Uma dessas câmaras deve ter sua primeira reunião neste mês e outra sequer foi criada.

Também está esquecido o Plano de Segurança Alimentar e Nutricional. Em julho do ano passado, a secretária de Desen-volvimento Social, Eliana Pedro-

sa, anunciou em uma so-lenidade que apresentaria o plano durante a 3ª Conferên-cia Nacional de Segurança

Alimentar. O evento ocorreu em maio deste ano, e o plano ainda não existe.

Enquanto o conselho que de-veria combater a fome se arras-ta, um casal de idosos que está freqüentemente na plataforma superior da rodoviária passa o dia à espera de ajuda. Ivanilde Gomes e o marido, Wellington Gomes, não recebem benefícios do governo. Para conseguir algu-mas moedas, ele toca acordeão e ela segura um guarda-chuva para protegê-lo do sol. “Eu nem sei se a gente vai jantar hoje. Ninguém ajudou, olha a bacia vazia”, mostrava Ivanilde ao fi m de uma manhã de outubro.

Todos os dias, eles chegam

ao mesmo local às 8h. Os dois di-videm uma marmita no almoço. “É prato de pobre mesmo. Arroz e feijão. Carne é quando o dinheiro dá”, conta Ivanilde. “Eu sou que nem lagarta, gosto muito de fruta e folha, mas é mais caro.”

BurocraciaO GDF atribui a demora no

funcionamento do Consea-DF à polêmica para a composição

dos conselheiros. “Antes que todos chegassem a um acordo sobre a composição, se seria meio a meio ou dois terços, o Consea-DF fi cou parado”, ex-plica Aline Pozzi, gerente de Educação Nutricional da Se-dest. Ela confi rma que o Plano de Segurança Alimentar e Nu-tricional não saiu. “Na verdade, é atribuição dos conselheiros fazer isso”, ressalta.

Nina Amorim participa do colegiado como uma das re-presentantes da sociedade civil e afi rma que uma das grandes difi culdades é aumentar a par-ticipação popular. “Foi uma luta conseguir que houvesse espaço para 24 representantes”, con-ta. “É importante que haja essa participação para a sociedade se inteirar do que a lei fala e fi scali-zar se ela está sendo cumprida.”

O governo atribui a demora

no funcionamento do

Consea-DF à polêmica sobre

a composição do colegiado

Flávio Silva

Page 13: Lentidão do GDF agrava fome

A cada dez moradores do Para-noá, sete não sabem se terão di-nheiro para fazer pelo menos três refeições diárias. Lá, 67,8% en-frentam a chamada insegurança alimentar, um conceito que, além da falta de comida, engloba tam-bém o medo de não conseguir alimentos. No Recanto das Emas, em 7,5% das famílias há adultos e crianças passando fome.

Esses são alguns dos dados do estudo Insegurança Alimen-tar no DF/2007, que foi con-cluído no começo deste ano e ainda não foi divulgado pela imprensa. A pesquisa revela que, de maneira geral, a in-segurança alimentar caiu no Distrito Federal em relação ao levantamento anterior, do ano de 2003. Bai-xou de 60,1% para 40,7%.

“Sem dú-vida, o Brasil melhorou de forma geral, porém o DF pede um olhar mais particular”, analisa Muriel Gu-bert, chefe do Departamento de Nutrição da Universidade Cató-lica de Brasília e coordenadora da pesquisa.

O porquê desse olhar parti-cular sobre o DF é compreendi-do nos números, que apontam uma situação de grande dese-quilíbrio. O Lago Sul, por deter um dos melhores níveis eco-nômicos da capital, apresentou um baixo índice de insegurança alimentar (10,4%).

No outro extremo, depois do Paranoá, aparece a maior cidade-satélite da capital, Cei-lândia, com um índice de 64%. Quando considerados apenas os casos de insegurança seve-ra, ou seja, crianças com fome, os piores índices também estão nas satélites. Após o Recanto das Emas, o recorde fica com São Sebastião, vizinho do Lago Sul, onde o índice é de 5,5%.

cidades

Em satélite, 70% temem fome

Marina de Sá

Índice foi registrado no Paranoá em estudo sobre insegurança alimentar noDF. No Recanto das Emas, crianças e adultos passam fome em 7,5% das casas

9

cidades

O Distrito Federal possui uma situação privilegiada em relação às outras unidades da federação, a começar pela ren-da per capita, que é a maior do Brasil (R$ 1.119,02), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “De um modo geral, realmen-te melhorou, mas é preciso se deslocar para as cidades-saté-lites e até o Entorno”, alerta Muriel. “Melhorar de forma geral não significa que está tudo bem.”

Entre as 1.151 famílias uti-lizadas na amostra da pesqui-sa, 14,3% ganhavam quatro ou mais salários mínimos e 57% re-cebiam até um salário. Cerca de 80% das famílias possuíam en-tre três a cinco moradores e so-mente uma criança com menos

de cinco anos. A pesquisa revelou a im-portância de uma família estrutura. Os índices de in-

segurança alimentar encontra-dos foram maiores quando a chefe de família era uma mu-lher, ou seja, quando não havia um casal para dividir as despe-sas. O estudo mostrou também a relação entre escolaridade e fome. O risco de falta de ali-mento encontrado foi superior entre famílias chefiadas por uma pessoa com até o ensino fundamental.

Só café no caféOs olhos claros dos onze fi -

lhos de Vilma e Raimundo Pe-reira não escondem a realidade alimentar da família. A preocu-pação sobre o que vão comer está presente no dia-a-dia.

“Eu ganho R$ 430 para sus-tentar esta casa sozinho. É im-possível não me preocupar com isso”, confessa Pereira, que tra-balha no Serviço de Limpeza Ur-bano (SLU). Para complementar a renda, eles recebem a ajuda de

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

“Melhorar de forma

geral não significa

que está tudo bem”

Muriel Gubert, pesquisadora

R$ 200 mensais de um programa social do GDF.

Antigos moradores do Var-jão e há três anos em Itapoã, os Pereira conhecem muito bem o problema da insegurança ali-mentar. O café da manhã se re-sume a café. “Às vezes dá para comprar pão, mas é bem difícil ter para todo mundo”, conta Vil-ma. E o almoço segue o mesmo caminho: arroz e feijão, so-mente. Carne, fruta e verdura são itens de luxo.

“A carne está muito cara, não dá para ter todo dia na

mesa. Verdura e fruta, então, é mais raro ainda”, revela Vil-ma. Quando moravam no Var-jão, ainda havia uma pequena horta em casa, mas em Itapoã o quintal divide espaço com poeira, três cachorros e codor-nas. Aliás, os ovos dessas aves ajudam a variar e melhorar um pouco o cardápio.

A cozinha é simples: um fogão velho entre uma ge-ladeira e uma estante com três prateleiras de madeira que guardam panelas vazias. A despensa fica ali mesmo,

em um carrinho de mercado. Uma pia improvisada agüen-ta a pouca louça do almoço. Tudo isso rodeado pelas pa-redes de tijolo à mostra.

No Natal, a situação não é diferente. “Sorte que a gente é bem caseiro e não gosta de sair muito”, diz Pereira. Vilma ca-pricha com o que tem e conta o segredo para fazer o jantar natalino. “Não dá para abusar muito, mas a gente compra umas lembrancinhas para os meninos e eu cozinho uma jan-ta um pouquinho melhor.”

Sharm

aine C

aixeta

Page 14: Lentidão do GDF agrava fome

cultura

Óperas ganham novo fôlegoPequenos grupos se esforçam para dar vida ao gênero musical no Distrito Federal e encenam espetáculos históricos como La Bohème e O Barbeiro de Sevilha

10

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

Alunos da Escola de Música deBrasília ensaiam La Bohème: dedicação ajuda a superar falta de dinheiro

Marian

a Curi

“Os teatros querem

cantores prontos”

Francisco Frias,

professor e diretor

Dedicação, paixão e até dispo-sição de tirar do próprio bolso o dinheiro para as produções. Só assim é possível montar na cidade algumas das mais importantes óperas mundiais. É com esse trabalho que, nos dias 9 e 10 de novembro, os alunos da Escola de Música de Brasília (EMB) poderão apre-sentar a obra La Bohème, de Puccini. Além do esforço vocal para dar vida à obra-prima do autor italiano, os alunos se organi-zaram para criar os cenários e fi -gurinos.

Enquanto as grandes produ-ções, no Brasil, podem chegar ao custo de R$ 600 mil, os pequenos grupos se desdobram para produzir com qualidade. O professor de canto e diretor do espetáculo dos alu-nos da EMB, Francisco Frias, investiu R$ 3 mil do próprio bol-so na montagem, além de ser o

responsável pela iluminação. “Se não fi zesse isso, não poderíamos tocar o projeto”, explica.

Este ano o Fundo de Incen-tivo à Cultura (FAC), do Minis-tério da Cultura, deu R$ 30 mil para duas óperas do projeto Ópera Estúdio, do Instituto de Música da Universidade de Bra-sília. “Isso funciona como um estímulo”, explica Irene Ben-tley, coordenadora e professora de canto do projeto. Uma dessas obras, O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, será apresentada nos

dias 21 e 22 de no-vembro na Sala de Cultura, no Teatro de Águas Claras.

A disciplina Ópera Estúdio, criada em 1999 por Irene, se transfor-

mou em um projeto de extensão, e conta com pessoas de dentro e fora da UnB. “Para os alunos de Música, a disciplina é a oportu-nidade de fazer um personagem inteiro de uma ópera, experiência cobrada pelas instituições interna-cionais”, explica Irene Bentley.

A importância de incentivar a produção no Distrito Federal não se restringe ao prazer de levá-las ao público. Como não há um circuito periódico de óperas em Brasília, os cantores sofrem com a falta de trabalho. “Os grandes teatros exigem ato-res prontos, mas falta trabalho e espaço para preparação. Eles precisam sair do Brasil para se-guir carreira”, lamenta Frias.

Além da falta da vivência profi ssional que abate músicos, a maioria das pessoas acaba não criando o hábito de assistir a óperas. Ou seja, falta platéia. “Precisamos de um público permanente para termos com quem dialogar”, acredita Asta Rose, presidente da Associação Ópera Brasília.

Para estimular apresentações e criação de público, o projeto Ópera Estúdio promove high-lights. Tais apresentações são montagens das principais partes da ópera, em geral as árias. Can-tadas por um solista, são uma das partes mais emocionantes.

Nos high-lights, o diretor ex-

plica a história e os persona-gens, os solistas cantam e a cena é mostrada sem os cenários e fi gurinos. “O cantor deve con-seguir só com a expressão cor-poral e o canto induzir o público a imaginar a cena”, diz Raphael Freitas, aluno da Faculdade de Música e integrante do projeto há três anos.

Vida dedicada à ópera Participar de uma ópera

requer obstinação. “Os alunos que fazem parte do projeto não vivem só para a ópera. Eles es-tudam e trabalham também”, lembra Irene Bentley. E se a luta for por um bom resultado a de-dicação aumenta. “Essa ópera (O Barbeiro de Sevilha) é muito difícil, exige muita técnica vo-cal e respiratória que os alunos estão aprendendo ainda”, com-plementa a professora.

Freitas se enquadra nesse perfi l. Há cinco anos, trocou os cursos de Economia e Letras pela música. Hoje, além de can-tar, assumiu atividades parale-las no projeto Ópera Estúdio.

“Também estou encarregado pela produção, preciso correr atrás de recursos, checar fi gu-rinos, cenários e agendar en-saios”, descreve.

Apesar de conhecer as di-ficuldades de ser cantor lírico no Brasil, Freitas se espelha em outros brasilienses que conseguiram projeção depois de muito esforço. O exemplo mais recente é o de Saulo Vas-concelos – que largou o curso de Economia da UnB para se tornar cantor e hoje participa de grandes musicais, como A Noviça Rebelde, em cartaz no Rio de Janeiro, onde ganhou o principal papel masculino.

Além de buscar seu próprio lugar ao sol, Raphael Freitas se empenha em conquistar es-paço para a ópera. “Com cer-teza os cantores de ópera pre-cisam sair do país. Mas quero dar continuidade ao projeto, pegar a bagagem que estou construindo e fazer a ópera acontecer em Brasília”, afirma Freitas. “Quero criar uma es-trutura fixa.”

Luanne Batista

Page 15: Lentidão do GDF agrava fome

O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) aprovou no começo de outubro uma nova re-solução sobre a obrigatoriedade, por parte de fabricantes, de reco-lherem baterias e pilhas descar-táveis. O texto substitui a antiga resolução 257/99, que já previa essa obrigação, mas que em gran-de parte era desres-peitada.

O Brasil pro-duz 240 mil tone-ladas de lixo urba-no por dia, e quem gera esse lixo joga fora pilha descartável na lixeira de casa. A coleta seletiva não é muito praticada em boa parte dos esta-dos brasileiros, e grande parte do armazenamento do lixo, quando não ocorre em lixões a céu aberto, se dá em aterros sem licença am-biental. O grande problema do ar-

opinião11

O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) apresentou um projeto de lei que in-clui os templos religiosos entre os benef iciários da Lei Rouanet de incentivo à cultura. Se for aprovado, templos poderão ser reformados com verbas doadas por empresas, que abaterão as doações no imposto de renda.

espaço do leitor

mazenamento das baterias e pilhas é o vazamento de chumbo, mercú-rio e cádmio, substâncias presen-tes na composição desses produtos que, com o passar do tempo, va-zam da cápsula e atingem lençóis freáticos e o solo também.

A contaminação de pessoas pode se dar tanto pela ingestão da

água proveniente do lençol freático, quanto por ali-mentos cultivados em áreas contami-nadas. Um exem-plo é Bauru, cidade

no interior de São Paulo, onde uma indústria de baterias, a Ajax, con-taminou com cádmio o solo e o ar. A partir daí, 20 mil pessoas foram contaminadas e apresentaram sin-tomas como defi ciência da capaci-dade mental, osteoporose, câncer no pulmão e insufi ciência renal.

Menos pilhas e baterias

debate

artigo

A quantidade de cádmio, chum-bo e mercúrio presentes em uma pilha não se compara às tonela-das de cádmio que contaminaram Bauru por 39 anos, mas está longe de ser desprezível. Ainda mais por serem metais que se acumulam com facilidade no solo e na água.

Não existe cura para a contami-nação. Quando a pessoa já foi ex-posta aos metais pesados, os efeitos no organismo diminuem depen-dendo da redução da exposição. Danos causados ao Sistema Ner-voso pela exposição ao mercúrio e falência do funcionamento do rim são irreversíveis. Espera-se que agora a nova resolução não seja só uma recomendação e esse proble-ma do descarte seja resolvido.

Camila Cortopassi é aluna do 6º semestre de Jornalismo

“A Lei Rouanet apóia a manifestação religio-sa conhecida pela tradição cultural brasileira, como a de lavar as escadarias do Senhor do Bonfim. O que o senador Crivella pretende é permitir que toda manifestação promovi-da pela Igreja seja considerada como uma atividade cultural. Há uma interseção muito delicada entre o que é cultura e o que é re-ligião dentro da proposta do senador. Pro-jeto cultural é uma coisa, projeto religioso é outra.”

Beatriz Salles Professora do Departamento de Música da UnB

Marcelo CrivellaSenador (PRB-RJ)

Agên

cia Senad

o

UnB A

gên

cia/Cláu

dio

Reis

Escreva-nos: [email protected]

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

Apartamentos da UnB

A matéria de capa do Campus n.331 (Patrimônio da UnB em jogo) é um exemplo pre-

ocupante de jornalismo, especialmente por se tratar de um jornal-laboratório de nossa

universidade. Explico-me: ainda Decano de Administração da UnB, concedi entrevista a

Cristiano Zaia, repórter-estudante do Campus, sobre a venda de 27 apartamentos da FUB.

Manifestei-lhe, na ocasião, minha apreensão ao perceber que a matéria já tinha hipótese

e tese bem definidas: não era bom negócio! Informei-lhe que a venda de 30 apartamen-

tos tinha sido iniciada em 2007, aprovada pelo Conselho Diretor da FUB, com os recur-

sos destinados à conclusão da etapa 2002-06 do Plano de Obras Prioritárias UnB XXI.

Desses 30 apartamentos, apenas cinco foram vendidos à época e seriam necessários

mais R$ 15 milhões, no mínimo, apenas para concluir o Instituto de Ciências Biológi-

cas, razão maior da venda atual. Tudo isso tudo foi explicado, pacientemente, ao re-

pórter, não sendo, portanto, verdade que a UnB “não recebeu verba prometida do go-

verno” para fazer a obra: desde o início ela foi prevista com recursos próprios da FUB.

Outro argumento da matéria, de que em 33 anos a UnB poderia receber com aluguéis o

montante previsto com a venda, é de uma infantilidade (ou má fé) gritante, pois sequer

considera a possibilidade de ganhos, no mesmo período, com qualquer aplicação da

quantia arrecadada. De nada adiantou, também, descrever ao estudante a longa discussão

desta gestão pró-tempore com a equipe técnica da Caixa Econômica Federal, de notória

experiência em transações imobiliárias, que se manifestou amplamente favorável à venda.

Como fecho de ouro da matéria, entrevistou-se o candidato derrotado à eleição para

reitor, que entre seus méritos não consta ser especialista em tais assuntos. Como pro-

fessor de Estruturas, do curso de Engenharia Civil, atuando em área experimental, em

que tentamos primar pelo rigor técnico-científico, é preocupante, no mínimo, esse mau

exemplo de prática acadêmica, por um jornal-laboratório de tão alto custo para a UnB.

João Carlos Teatini, PhD, MSc, Eng.Civil

Decano de Administração da UnB, Abril/ Outubro 2008

“Meu propósito na elaboração dessa emenda foi de cunho essencialmente cultural. Minha intenção é assegurar a possibilidade de re-cursos incentivados para a restauração e conservação de templos históricos, autênticas manifestações da cultura do nosso povo. Há múltiplas igrejas católicas, presbiterianas, me-todistas, congregacionais e batistas. São igre-jas históricas que precisam de restauração, sob o risco de desabarem. A restauração de uma Igreja não ‘compete’ com um fi lme.”

Nota da Redação

É verdade que a obra do Instituto de Ciências Biológicas não recebeu verba prometi-

da pelo governo. Isso pode ser comprovado com uma consulta ao item Construção

do Instituto de Ciências Biológicas da Fundação Universidade de Brasília (programa

1073, subprojeto 7321) da Lei do Orçamento da União de 2008. O mesmo pode ser

feito nas leis orçamentárias dos anos anteriores.Sobre a possibilidade de ganhos da

UnB com a aplicação dos recursos da venda dos imóveis, é preciso consultar a nota

oficial da reitoria sobre o leilão, que deixa claro que o dinheiro será utilizado em

reformas e obras, não em aplicações no mercado financeiro.

É correta a afirmação de que Márcio Pimentel não é especialista em mercado imobi-

liário. Isso se aplica também ao novo reitor, José Geraldo, e ao reitor pró-tempore,

Roberto Aguiar, que defendem a venda e igualmente aparecem na matéria, sem

incomodarem ao missivista.

E-mail falso

Na edição 331 do Campus, foi publicada uma matéria de título “O caminho da de-

sinformação”. Nela, a estudante colocou uma aspa equivocada referente ao Portal

Clicabrasilia.com.br. As aspas citam uma jornalista como fonte, mas não diz o nome.

Quero esclarecer que a única mulher jornalista do Portal sou eu, Silvia Pacheco, além

de outros dois jornalistas. Nenhum dos três foi consultado pela estudante. Ressalta-

mos que o Clicabrasilia é um portal de notícias e, como todo portal, divulga notícias

de outros veículos, citando sempre a fonte da informação.

Nota da Redação

Há mais de uma mulher atuando como jornalista no Clicabrasília. Ela não foi iden-

tificada porque a intenção era denunciar erros do processo, e não de pessoas.

Silvia Pacheco

Subeditora do Portal Clicabrasilia.com.br

O Brasil produz 240

mil toneladas de lixo

urbano por dia

Page 16: Lentidão do GDF agrava fome

No RU, o espaço

reservado para estudantes com hipertensão, diabetes e

obesidade não tem apenas co-mida especial. Os tradicionais feijão, arroz e carne também

são servidos lá. E você aí enfrentando f ila!

Físi-ca é o curso que

menos oferece matérias optativas na UnB, dadas por professores substitutos. Os

cortes de orçamento da reitoria reduziram de oito para duas as

disciplinas optativas.

Nem presidente,

nem diretores. O CA de Filosof ia adotou a anarquia.

Estudantes se reúnem para tomar as decisões e todos respondem pelo Centro Acadêmico. A pre-feitura do campus reconhece

um responsável pelo CA.

Marian

a Cap

elo

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008botafora

12

Todo Centro Acadêmico tem

direito a uma limpeza rea-lizada pela prefeitura uma vez

por mês, quando solicitada pelo diretor ou presidente do CA. Po-deria ser mais vezes. O dono do Natural que o diga. Já limpou o

CA de História.

Rafael Ben

jamin

TORTO

Procuram-se tirinhasNão é só sua mãe que acha você engraçado!

Querido leitor,

Você acaba de ser convidado pelo Campus a desenhar a tirinha da última edição. A historinha deve ser contada em três quadrinhos, ambientar-se na UnB e, é claro, ser hilária. As sugestões devem ser enviadas para o e-mail [email protected] até o dia 20 de novembro, no formato PSD, em alta resolução. A tira deve ter medidas totais de 230 mm (largura) e 53 mm (altura). As historinhas serão submetidas ao humor refi nado de nossa equipe, até ser criteriosa-mente sorteada a melhor. A tirinha escolhida estampará a última página dos 4 mil exemplares da nossa próxima edição. Não se esqueça de enviar nome completo e número de telefone.

Boa sorte